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Nº 79   JULHO/2009




                Reconquistar a UNE!
                51º Congresso em Brasília, de 15 a 19 de julho págs. 3 a 5




                                            Iriny presidente
                                            Uma mulher na direção do PT págs. 6 a 8
                  NESTA EDIÇÃO
                O diploma dos jornalistas pág. 9
                Saúde tem que ser para todos págs. 10 e 11
                Lula cria o Ministério da Pesca e Aquicultura pág. 12
                 ENCARTE ELETRÔNICO
                 Resoluções da XI Conferência Nacional da AE
                 http://www.pagina13.com.br


pagina13_julho2009.indd 1                                                             29/6/2009 12:59:16
EDITORIAL
                                                                                              Wladimir Pomar lança novo
                               P                                                                  livro sobre a China
                                      ágina 13 reservou as páginas centrais
                                      desta edição para apresentar Iriny
                                      Lopes, nossa candidata à presidência
                               nacional do Partido dos Trabalhadores, no                     O jornalista e escritor Wla-                                            O AUTOR
                               processo de eleição das direções partidárias,            dimir Pomar lança seu novo livro                                              Wladimir Pomar, militante
                               marcado para novembro deste ano.                         China desfazendo mitos, pela Edi-                                            político desde 1949, ajudou a
                                   As tendências da esquerda petista estão              tora Página 13 e Publisher Brasil.                                           fundar o PcdoB (1962), foi pre-
                                                                                             A obra é uma coletânea de                                               so político, nos anos 1970 viveu
                               fazendo um esforço para se unificar, em uma
                                                                                        diversos artigos veiculados em                                               na clandestinidade, integrou
                               só chapa e em uma só candidatura a presi-                jornais e revistas nos últimos anos,                                         a executiva nacional do PT
                               dência nacional. E estão tentando, também,               grande parte deles no Correio da                                             (1984-1990), foi coordenador-
                               reproduzir a mesma unidade nos estados e                 Cidadania, que ganha uma edição                                              geral da campanha Lula presi-
                               nos municípios.                                          organizada em grandes temas que                                              dente (1989). Colabora regu-
                                   Nós da Articulação de Esquerda acredi-               tratam desde as razões do acele-                                             larmente com o jornal Correio
                                                                                        rado crescimento às distorções                                               da Cidadania e a revista Teoria
                               tamos que a chapa da esquerda e a candida-
                                                                                        difundidas pela mídia internacio-                                            e Debate. É autor de diversos
                               tura presidencial de Iriny Lopes devem ter               nal, apresentando um pouco da                                                estudos e livros sobre a China
                               duas metas principais:                                   sua história, as características do                                          entre os quais O enigma chinês:
                                   a) por um lado, defender o programa de-              socialismo chinês, o papel desse                                              capitalismo ou socialismo (Alfa-
                               mocrático-popular e socialista                           país no mundo globalizado e as                                                ômega); China, o dragão do
                                   b) por outro lado, defender o protagonis-            relações Brasil-China, entre outros                                           século XXI (Ática); A revolução
                                                                                        assuntos.                                                                     chinesa (Unesp).
                               mo do Partido, agora, durante a campanha e
                               durante o futuro governo Dilma.                          COMO ADQUIRIR: O preço da obra em livrarias é de R$ 39,00, na Editora Página13 é de R$ 30,00 já com
                                   Esta defesa do programa e do Partido                 o custo de envio. Para adquirir o livro com desconto, os interessados devem fazer o pagamento através de
                               têm um significado muito especial neste                   depósito bancário no Banco do Brasil, agencia 3321-9, conta corrente 34297-1 em nome de Rubens Alves da
                               momento que estamos vivendo no mundo,                    Silva e confirmar o depósito e pedido (com dados para o envio), através do e-mail: chaves.sirlei@gmail.com
                               na América Latina e no Brasil. Os governos
                               de esquerda e progressistas atuaram, desde
                               1998 até 2008, num cenário internacional
                               que tornou possível combinar, com os limi-                                                                         Cupom de Assinatura
                               tes conhecidos, o que parecia impossível:
                               uma política que beneficiava os de baixo,                   Nome:
                               sem fazer ruptura com os de cima.
                                   A crise internacional reduziu a margem                 Endereço:
                               de manobra destes governos. Nesta nova                                                             Bairro:
                               conjuntura, precisamos de mais alianças
                               com o povo, mais vontade política para me-                 Cidade:                                            Estado:            CEP:
                               xer em temas como a democratização da co-
                               municação e a reforma política; precisamos,
                                                                                          Telefone: (         )                                Celular: (        )
                               também, de mais unidade das esquerdas e                    E-Mail:
                               protagonismo do PT.
                                                                                          Profissão:
                                  AE na direção da CUT RS                                 Data: ____/____/____                              Vencimento:____/____/____
                                   A Articulação de Esquerda está na direção              CPF:
                               da CUT estadual com o eletricitário Rodrigo
                               Schley e com o professor Derlan Trombetta,                 Enviar o cupom a/c de: Sirlei Augusta Chaves - Associação de Estudos Página 13
    — Edição 79 — JULHO/2009




                               que vão ocupar, respectivamente, vaga na Di-               Rua Silveira Martins, 147, cj. 11, Centro - São Paulo-SP CEP 01019-000
                               reção Executiva e na Direção Ampliada, no                  ou para o e-mail:chaves.sirlei@gmail.com
                                                                                                                                                    Assinatura de Apoio: R$ 75,00
                               triênio 2009-2011. A decisão foi tomada no
                                                                                          Pagamento através de depósito na conta do
                               12º Congresso Estadual da CUT ocorrido de                  Banco do Brasil Agência: 3321-9 Conta-corrente: 34.297-1 Rubens Alves da Silva
                               19 a 21 de junho, em Imbé, RS.

                                                                                                     EXPEDIENTE
                                Página 13 é um jornal publicado sob responsabilidade da direção nacional da Articulação de Esquerda, tendência interna do Partido dos Trabalhadores.
                                Direção Nacional da AE: Adriano Oliveira (RS), Altemir Viana (AM), Angélica Fernandes (SP), Bruno Elias (TO), Beto Aguiar (RS), José Correia Neto(SE),
                                Célio Antonio (SC), Expedito Solaney (PE), Fernando Nascimento (PE), Geraldo Cândido (RJ), Iole Iliada (SP), Ivan Alex (BA),Iriny Lopes (ES),Isaias Dias (SP),
                                Jairo Rocha (MT), Janete da Costa Godinho (SC), Jonas Valente (DF), Larissa Sousa Campos (MG), Laudicéia Schuaba Andrade (ES), Lício Lobo (SP), Mário
                                Cândido de Oliveira (PR), Marcel Frison (RS), Marcelino Gallo (BA), Marcelo Mascarenha (PI), Múcio Magalhães (PE), Pere Petit (PA), Rafael Pops (GO), Ra-
                                fael Pinto (SP), Rosana Ramos (DF), Rosana Tenroller (RS), Rodrigo César (RJ), Rubens Alves (MS), Saulo Campos (MG), Thalita Coelho (PA), Valter Pomar (SP)

                                Edição: Valter Pomar Diagramação: Cláudio Gonzalez (Mtb 28961) Secretaria Gráfica: Edma Valquer Assinaturas: Sirlei Augusta Chaves e-mail:
                                chaves.sirlei@gmail.com Endereço para correspondência: R. Silveira Martins,147 conj. 11- São Paulo/SP CEP 01019-000
            2



pagina13_julho2009.indd 2                                                                                                                                                                        29/6/2009 12:59:22
JUVENTUDE



                Reconquistar a UNE, para a luta e para
                as/os estudantes                                                             Contribuição aos debates do 51º Congresso da
                                                                                             UNE, em Brasília, de 15 a 19 de julho de 2009



                 O
                          ano de 2008 foi marcado pelo pro-
                          cesso de construção de uma estraté-
                          gia, unitária entre os campos que par-
                 ticipam da UNE, de apresentar uma proposta
                 de reforma universitária dos estudantes. No
                 CONUNE de 2007 dizíamos que o movimen-
                 to estudantil estava “perdendo a iniciativa de
                 elaborar a sua proposta de transformação da
                 universidade brasileira, e efetivamente dis-
                 putá-la, buscando incidir sobre as decisões
                 governamentais”.
                     Fruto do acerto desta posição, o presen-
                 te ano iniciou com a aprovação da proposta
                 de Reforma Universitária da UNE no 12º             saírem mais rápido e em melhores condições         o que foi feito como alavanca para avançar,
                 Conselho Nacional de Entidades de Base da          estarão mais bem posicionados para influen-         especialmente em direção à mudanças estru-
                 UNE, dos dias 17 a 20 de janeiro, em Salva-        ciar o novo sistema de poder mundial e o seu       turais.
                 dor. Ocorre, porém, que os estudantes brasi-       caráter.                                               Para enfrentar a crise e disputar os rumos
                 leiros não conhecem esta proposta, uma vez             Em nosso continente vivemos uma mu-            do país e do mundo, propomos:
                 que foi elaborada por poucas mãos e não foi        dança de época. Estamos nos distanciando               *Nenhuma ajuda aos capitalistas: eles que
                 alvo de discussões nas universidades.              da agenda imperialista para o continente e         paguem pela crise deles! Manutenção do em-
                     No CONEB, já dizíamos: “Sem luta polí-         construindo alternativas à hegemonia neoli-        prego e dos salários; redução da jornada de
                 tica e gente na rua, nosso programa não irá        beral. Hoje, a América Latina ocupa posição        trabalho sem redução dos salários; aprovação
                 além de um mero conjunto de intenções”. E          estratégica no cenário mundial e está melhor       de uma medida provisória no Congresso na-
                                                                    preparada para enfrentar a crise justamente        cional para proibir as demissões.
                 de fato, a UNE encontra-se extremamente
                                                                    por essa guinada.                                      *Fim imediato do bloqueio à Cuba; todo
                 enferrujada para travar a luta política nas uni-       O governo Lula reagiu à crise com mais
                 versidades em torno de seu projeto.                                                                   apoio à integração soberana da América Lati-
                                                                    investimento público, mais investimento so-
                                                                    cial, mais mercado interno, mais Estado, mais      na; pelo fortalecimento da Unasul, Mercosul,
                      Um olhar sobre o mundo e o Brasil             integração continental. O rumo geral destas        Alba, Conselho de Defesa da América do Sul
                                                                    medidas é correto, mas é preciso ir além, es-      e Banco do Sul; fortalecimento das relações
                     Seria muito fácil culpar a ganância dos in-    pecialmente se queremos, sobre os escom-           sul-sul; diminuir a dependência econômica
                 vetidores, a farra e o parasitismo especulativo,   bros do neoliberalismo, construir outra            do continente em relação aos países centrais.
                 pela crise atual, mas isto é apenas uma parte      ordem.                                                 *Ampliação dos investimentos públicos
                 do problema. Trata-se de uma crise sistêmi-            A crise econômica nos países centrais do       estatais; ampliação dos programas sociais e
                 ca do capitalismo, não apenas do mercado           capitalismo reforça as possibilidades de que       de distribuição de renda; diminuição da tribu-
                 financeiro. Muito se produz e poucos podem          o Brasil vivencie um novo ciclo de desenvol-       tação da população de baixa renda.
                                                                    vimento. A natureza deste novo ciclo está em           *Não à ditadura do capital financeiro!
                 consumir. É a contradição fundamental que
                                                                    disputa e passa, desde já, pelo enfrentamento
                 não se resolve, daí as recorrentes crises.                                                            Fim da autonomia de fato do Banco Central:
                                                                    à crise. Portanto, não nos basta recuperar a
                     O capitalismo tem inúmeras formas de           soberania nacional, ampliar a democracia e         Fora Meireles! Imediata e rápida redução da
                 contornar suas crises. Quando não consegue         fortalecer o Estado. Devemos pressionar            taxa de juros e do superávit primário; forte

                                                                                                                                                                            — Edição 79 — JULHO/2009
                 elas estouram, como ocorre hoje.                   para que se realize reformas estruturais,          controle do fluxo de capitais e regulamenta-
                     Esta crise, gerada no centro do capitalis-     colaborando para a abertura de um novo ciclo       ção do mercado financeiro.
                 mo mundial (EUA) desmascara a idéia de             histórico, que deixe para trás as décadas per-         *Ampla democratização da mídia: fora
                 que o Estado não deve regular a economia,          didas, o neoliberalismo e o desenvolvimen-         Hélio Costa do Ministério das Comunica-
                 martelada nas últimas décadas. Porém, ela          tismo conservador.                                 ções! Fim à ditadura dos monopólios da co-
                 também evidencia que o capitalismo é um                Esta disputa terá as eleições de 2010          municação; todos à Conferência Nacional de
                 sistema “crísico” e sua vigência é resultado       como palco principal. Estas eleições serão         Comunicação!
                 de uma opção política e social, e justamente       polarizadas pelos dois campos que disputam             *Reforma política já: pela participação
                 por isso pode ser transformado.                    os rumos do país: de um lado, as forças de         popular; fidelidade partidária, voto em lista e
                     Os desdobramentos para esta crise depen-       esquerda e progressistas, o bloco nacional,        orçamento público de campanhas eleitorais.
                 derão da luta social em cada país: quanto          democrático e popular, encabeçado pelo PT;             *Reformas agrária e urbana: conter a es-
                 mais massiva, intensa e radical for a rea-         de outro lado, as forças neoliberais e de direi-   peculação imobiliária; garantir a mobilidade
                 ção do povo, mais avançado será o desenho          ta, o bloco conservador, dependente e mono-        urbana combater a concentração fundiária e
                 do mundo pós-crise. Mas também depende-            polista, capitaneado pelo PSDB. Por isso, a        o agronegócio, aumentar os índices de pro-
                 rão do confronto de interesses entre diferen-      UNE não pode vacilar e deve deixar claro que       dutividade da terra, alterar a legislação para
                 tes Estados e blocos de países – aqueles que       não quer o mero continuísmo, mas sim tomar         facilitar as desapropriações.                               3



pagina13_julho2009.indd 3                                                                                                                                           29/6/2009 12:59:23
JUVENTUDE

                               Educação: do que temos ao que queremos                                                                  *Regulamentação do ensino privado: não
                                                                                                                                   à abertura indiscriminada de cursos, apro-
                                   Em nossa sociedade, os sistemas de en-                                                          priação comercial do conhecimento, mé-
                               sino foram concebidos para reproduzir a or-                                                         todos pedagógicos alienantes, proliferação
                               dem social dominante, seus valores, “visão                                                          de taxas e cursos pagos e aumento abusivo
                               de mundo” e ideologia. Portanto, a luta por                                                         de mensalidades; pela aprovação do PL de
                               uma alternativa educacional significativa-                                                           mensalidades da UNE; fiscalização rigorosa
                               mente diferente, contra-hegemônica, orien-                                                          das universidades que aderirem ao ProUni;
                               tando a produção de conhecimento para o                                                             não ao ensino à distância como forma de ex-
                               interesse das maiorias está diretamente vin-
                                                                                 ções, seminários, comitês, plenárias, aulas       pansão desregulada do ensino privado; pelo
                               culada a disputa mais geral da sociedade.
                                   A principal luta histórica dos estudantes é   públicas em torno do projeto de reforma           fim da lista de inadimplentes; abertura das
                               por uma reforma universitária que substitua       universitária da UNE.                             planilhas das instituições privadas.
                               o modelo tutelado pelas oligarquias e cons-
                               trua uma instituição intimamente vinculada           Propostas:                                     Os estudantes nos trilhos da transformação
                               aos interesses populares, orientada para con-
                               tribuir para resolver os problemas sociais.            *Autonomia: pela garantia do direito da          O 51º CONUNE é o fórum ideal para
                                   Porém, um dos pilares do avanço neoli-        universidade de estabelecer sua organização       apresentarmos uma alternativa para o pro-
                               beral era a abertura de setores, historicamen-    interna, suas instâncias, gestão, estatutos e     blema da organização do movimento estu-
                               te de competência do Estado, à exploração         regimentos; vinculação orçamentária das           dantil, de sua estrutura, pois esse é um dos
                               direta do capital. Isso ocorreu a educação.       verbas e mecanismos democráticos para             principais fatores que impossibilitam que a
                               São tempos difíceis para a universidade pú-       definir os investimentos; pelo fim das fun-         UNE tenha uma relação democrática com
                               blica.                                            dações privadas nas universidades públicas;       o conjunto do ME e possibilite uma partici-
                                   Diante das medidas do governo Lula para       fora PM das universidades para oprimir os         pação decisiva dos estudantes no cotidiano.
                               a educação, as divergências legítimas e mes-      estudantes e a livre manifestação!                Mas para não cairmos no voluntarismo, no
                               mo necessárias acabaram dando lugar a uma              *Gestão democrática: paridade entre es-      espontaneísmo nem no vanguardismo é im-
                               profunda divisão e dispersão do movimen-          tudantes, professores e técnico-administrati-     prescindível fazermos um diagnóstico mais
                               to de educação. A ausência de uma propos-         vos e participação dos movimentos sociais         profundo sobre o ME.
                               ta consolidada do movimento de educação           em todos os órgãos colegiados da institui-            O ME, portanto, embora seja ainda o
                               impediram uma intervenção que debatesse e         ção; instrumentos de elaboração coletiva          movimento juvenil mais organizado do país
                               mobilizasse a sociedade brasileira em torno       dos planos político-pedagógicos, avaliação        está longe de ser a única expressão organi-
                               de nossas propostas, de nossa Universidade.       e orçamentos participativos.                      zada da diversidade da juventude brasileira.
                                   Para superarmos esses limites temos uma            *Revolução pedagógica: extinção dos de-      Temas como emprego e trabalho ganham
                               tarefa desafiadora: promover um processo           partamentos; constituir estruturas acadêmicas     mais centralidade em um ambiente de altos
                               de retomada das lutas e debates em torno          permeáveis à participação democrática da          índices de precarização e difícil entrada no
                               do projeto de universidade do movimento           comunidade e à interdisciplinaridade; incor-      mundo de trabalho.
                               estudantil aprovado no 12º CONEB, impul-          porar a diversidade social e cultural dos edu-        A falácia de que o problema do desem-
                               sionar, junto com os demais movimentos            candos e da comunidade; mudança radical           prego entre os jovens é um problema de qua-
                               sociais a luta por uma Universidade De-           dos atuais currículos eurocêntricos, sexistas     lificação (e não de falta de vagas) aumenta
                               mocrática e Popular.                              e heteronormativos das nossas universidades.      da corrida por diplomas e a procura dos ban-
                                   Em um cenário em que o neoliberalismo              *Financiamento: derrubada dos vetos de       cos acadêmicos em busca de profissionali-
                               é duramente questionado e encontra-se en-         FHC ao Plano Nacional de Educação; 10%            zação e realização profissional – expectativa
                               fraquecido, é fundamental concentrar esfor-       do PIB para educação; pelo fim da DRU              que geralmente é frustrada.
                               ços para desfazer o movimento que protago-        (Desvinculação das Receitas da União) na              Imersos nesta realidade, fatores como...
                               nizou ao longo da década de 1990 no Brasil.       educação; recurso público somente para a              *a reserva de vagas para estudantes ne-
                               Ou seja, o atual período exige transferir os      universidade pública.                             gros, oriundos das escolas públicas e de bai-
                               setores que passaram a ser alvo da explo-              *Democratização do acesso: universali-       xa renda;
    — Edição 79 — JULHO/2009




                               ração visando a acumulação de capital             zação e livre acesso à educação pública em            *o Programa Universidade para Todos
                               para espaços públicos não-mercantis, sob          todos os níveis; imediata expansão da rede        (ProUni);
                               a orientação e gestão do Estado.                  pública e a adoção de políticas de ação afir-          *a expansão dos setores público e pri-
                                   Portanto, o sentido estratégico da luta da    mativa; fim da meritocracia como base da           vado em municípios e regiões distantes dos
                               UNE e do conjunto do movimento de educa-          seleção para o ingresso; por métodos seleti-      centros urbanos;
                               ção deve estar orientado para uma, mobili-        vos com base no combate às desigualdades.             *o surgimento de nichos de mercado
                               zando intensa ofensiva político-ideológica             *Assistência estudantil: rubrica espe-       educacional voltados à população de baixa
                               em favor de uma forte regulamentação do           cífica de R$ 400 milhões para Assistência          renda; e
                               ensino privado e do fortalecimento do se-         Estudantil; concepção universalizante de              *o aumento da oferta de cursos notur-
                               tor público estatal da educação os setores        política pública que afaste qualquer viés as-     nos...
                               populares, principais afetados pelos impac-       sistencialista na sua implementação; fortale-         ...transformaram o perfil do estudante,
                               tos da crise nos setores público e privado da     cer institucionalmente as ações e políticas de    tornando-o mais popular e menos elitista e,
                               educação.                                         permanência; criação de órgãos específicos         portanto, mais impactado por fatores objeti-
                                   É imprescindível o amplo envolvimen-          como Pró-Reitorias de Assistência Estudan-        vos do lado de fora dos muros universitários.
                               to da rede do movimento estudantil numa           til; garantia de assistência estudantil para os       Feito este diagnóstico, torna-se evidente
                               grande campanha, que agregue mobiliza-            estudantes do ProUni.                             que a incapacidade de dialogar com esta
            4



pagina13_julho2009.indd 4                                                                                                                                                      29/6/2009 12:59:24
JUVENTUDE                                                                                        INTERNACIONAL

                nova realidade entre os estudantes contri-        Fortalecer a rede do ME:
                bui para aprofundar os problemas de le-
                gitimidade e representatividade da UNE.               *Formação política: criação da Coorde-
                    Portanto são essencialmente 3 os desa-        nadoria de Formação Política na diretoria da
                fios que a UNE precisa enfrentar para supe-        UNE e da Escola Nacional Honestino Gui-
                rar esta condição e ampliar sua capacidade        marães; Formulação de um Plano Nacional
                de mobilização e transformação:                   de Formação Política da UNE.
                    1)Democratizar sua estrutura e funciona-          *Entidades gerais: realizar, durante os
                mento;                                            CONEGs, fóruns de UEEs, fóruns de DCEs e
                    2)Incidir no fortalecimento da rede do        fóruns de Executivas e Federações Nacionais
                movimento estudantil;                             de Cursos; inserir os links dos sites e blogs                                   Acima,
                    3)Estreitar os laços do movimento estu-       das entidades gerais no site da UNE.                                            manifestantes
                dantil com os movimentos sociais.                     *Entidades de base: organizar uma car-                                      protestam contra
                                                                  tilha sobre o funcionamento e a gestão dos                                      o golpe militar
                Democratizar a UNE:                               Centros e Diretórios Acadêmicos; realizar,                                      de direita que
                                                                                                                                                  tirou do poder
                                                                  durante os CONEBs, atividades de formação                                       o presidente de
                    *Organização colegiada da entidade:           sobre entidades de base e movimento estu-                                       Honduras, Manuel
                transformar as diretorias em coordenadorias,      dantil; envio permanente de boletins específi-                                   Zelaya (foto ao
                criar as coordenações estaduais da UNE e os       cos e orientações às entidades de base.                                         lado).
                Núcleos de Trabalho Permanentes (NTPs) te-            *Produção científica: organizar o I Encon-
                máticos envolvendo mais pessoas nas formu-        tro de Ciência e Tecnologia da UNE; envol-
                lações e construção das ações.                    ver os jovens cientistas e pesquisadores na
                    *Potencializar e democratizar a comu-
                nicação: pelo funcionamento do Conselho
                                                                  rede do movimento estudantil e na construção
                                                                  de uma educação contra-hegemônica.               Fora, golpistas!!
                                                                                                                   E
                Editorial, criar o boletim nacional da UNE,
                divulgação das teses aos fóruns da UNE            Aproximar o ME e os movimentos sociais:                  nquanto fechávamos esta edição de
                no site, listas de discussões temáticas dos                                                                Página 13, estava em curso um gol-
                NTPs, orientar as entidades estudantis a in-         *Colóquios: que os DCEs e entidades de                pe militar em Honduras. O presidente
                vestir e produzir seus próprios meios de co-      base realizem, em cada universidade, coló-       eleito, de origem conservadora, vinha assu-
                municação.                                        quios sobre o papel dos estudantes e dos mo-     mindo posições cada vez mais progressistas,
                    *Finanças transparentes e participativas:     vimentos sociais na disputa de rumos do país     entre as quais a defesa intransigente do fim
                criação do Conselho Fiscal da UNE; obriga-        e da educação brasileira.                        do bloqueio contra Cuba. Sua atitude mais
                toriedade de planejamento financeiro cole-            *Fóruns: pela criação de espaços perma-       recente havia sido respaldar a realização de
                tivo; tirar Regimento Nacional de Carteiras       nentes de diálogo na universidade entre os di-   uma consulta ao povo de Honduras, acerca da
                do papel; pela descentralização da emissão        versos movimentos sociais que atuam em seu       convocação de uma Assembléia Constituinte.
                através das entidades estudantis mantendo o       entorno e o movimento estudantil.                    A consulta popular estava marcada para
                caráter nacional através do “Selo da UNE.            *Movimentos nos conselhos: participação       o dia 28 de junho. Pouco antes da consulta
                    *Democratizar os CUCA da UNE: pre-            das entidades da sociedade civil nos órgãos      acontecer, a Justiça (Gilmar Mendes estaria
                sença proporcional e plural da diretoria na sua   colegiados das universidades.                    por lá???) decretou sua ilegalidade e mandou
                coordenação nacional; construção de um Se-           *CMS: que as UEEs priorizem a constru-        os militares recolherem as urnas. O presiden-
                minário Nacional sobre Cultura com todos os       ção da Coordenação dos Movimentos Sociais        te Zelaya convocou o povo para ir com ele até
                DCEs interessados para definir as diretrizes       nos estados, com foco na elaboração e defesa     o quartel onde estavam as urnas, garantindo
                da Bienal de Cultura da UNE e para dissemi-       de uma plataforma dos movimentos para a re-      assim as condições para o povo votar.
                nar a construção de CUCA.                         gião e o país.                                       A reação dos golpistas foi prender e de-
                                                                                                                   portar o presidente. Alegando a existência de
                                                                                                                   uma carta de renúncia, o Parlamento —de
                                                                                                                   maioria conservadora— reuniu-se e elegeu

                                                                                                                                                                       — Edição 78 — JUNHO/2009
                                                                                                                   um novo “presidente” para Honduras. O
                                                                                                                   script lembra o ocorrido recentemente na Ve-
                                                                                                                   nezuela e em muitos outros locais.
                                                                                                                       A novidade é o repúdio generalizado, vin-
                                                                                                                   do dos países latino-americanos e de outras
                                                                                                                   regiões do mundo. A exigência de todos, a
                                                                                                                   começar pelo governo brasileiro, é o retorno
                                                                                                                   à normalidade constitucional, com a volta de
                                                                                                                   Zelaya ao posto que é seu, por mandato popu-
                                                                                                                   lar: o de presidente de Honduras.
                                                                                                                       Seja qual for o desfecho, o ensinamento é
                                                                                                                   claro: a direita, os reacionários, os conserva-
                                                                                                                   dores, continuam aí. Havendo oportunidade,
                                                                                                                   farão o que sempre fizeram: impedir que os
                                                                                                                   governos sejam colocados a serviço da maio-
                                                                                                                   ria do povo.                                               5



pagina13_julho2009.indd 5                                                                                                                                      29/6/2009 12:59:26
PED 2009


                               Mulher, petista, de esquerda e socialista
                                             Lena Azevedo*                     Iriny Lopes, atualmente deputada federal em segundo mandato
                                                                               e uma das fundadoras do PT do Espírito Santo, tem história

                               Q
                                        uando desembarcou no Brasil no
                                        início da década de 50, Nicolas Ge-    para contar. E ela começa muito antes da criação do Partido dos
                                        orges Korres fugia do desemprego e     Trabalhadores e em terras capixabas.
                               da ascensão de forças de direita na Grécia.
                               O monarca George II abrigou o conjunto
                               da extrema-direita, apoiada pelos Estados                         Foto: Rossana Lana
                               Unidos, dando início, a partir de 1949, às                                             digna, que desenvolveu com moradores da
                               perseguições políticas, seqüestros e torturas                                          região de São Pedro, na época uma das mais
                               contra os comunistas.                                                                  carentes de Vitória, o projeto “Minha Casa,
                                   Nicolas desembarca no país extrema-                                                Minha Vida” (título que o governo Lula deu
                               mente debilitado. Internado em um hospital                                             ao programa habitacional implantado recen-
                               em Minas Gerais, ele conhece Wanda Vito-                                               temente).
                               rino, uma voluntária com quem iria se casar                                                Iriny, em função da luta pela moradia,
                               tempos depois e ter cinco filhos. Um deles,                                             se tornou presidente da entidade em 1982,
                               Iriny Nicolau Corres Lopes, nascida em 12                                              cargo que ocupou por mais dois mandatos.
                               de fevereiro de 1956, herdaria dele essa in-                                           A Ascam, para além das questões habitacio-
                               quietação com o mundo e a veia de esquerda                                             nais, iniciou um amplo debate sobre a utili-
                               do velho comunista grego.                                                              zação de recursos públicos, do FGTS, entre
                                   Os pais de Iriny já estavam em Vila Velha                                          outros temas. O reajuste das prestações da
                               (Espírito Santo), quando ela chegou ao anti-                                           casa própria em 56% em meados de 80, fez o
                               go bairro do município, chamado de Paul.                                               número de mutuários inadimplentes aumen-
                               Com 19 anos, ela se juntou aos habitantes da                                           tar sensivelmente e engrossou o coro dos
                               região que iniciavam um movimento contra                                               que reivindicavam habitação digna.
                               a poluição do pó de minério, que para além                                                 O bairro Jardim da Penha, na época de
                               de sujar as casas, causava doenças respirató-                                          classe média e com ocupação razoável de
                               rias na população local. O barulho aumentou                                            bancários, se mobilizou contra os aumentos
                               e Iriny e outros acabaram criando a Associa-                                           extorsivos do sistema habitacional. Na épo-
                               ção de Moradores de Paul.                                                              ca, Otaviano de Carvalho, que vivia no bair-
                                   Tempos depois, a luta foi pelo transpor-                                           ro e viria a se transformar numa grande lide-
                               te. Em Vitória e outros municípios da região                                           rança também dentro do PT, iniciou um pro-
                               metropolitana, assim como em todo país,                                                cesso de mobilização no bairro e Iriny, como
                               começavam a vislumbrar o final da ditadura                                              presidente da ASCAM, apoiou a fundação
                               militar. Foi um período de participação po-                                            da Associação de Moradores de Jardim da
                               pular intensa e no Espírito Santo, a primeira                                          Penha (Amjap), que até hoje é símbolo de
                               bandeira de luta foi o transporte público, na                                          luta por qualidade de vida neste bairro na
                               qual Iriny se integrou. Vieram depois as ma-                                           área norte da capital.
                               nifestações de mulheres contra a carestia, o                                               A mobilização desses vários movimen-
                               direito à água, entre outras.                                                          tos resultou na Articulação Nacional de Solo
                                   Nesse processo crescente de manifesta-                                             Urbano (Ansur), em nível nacional, da qual
                               ções, Iriny Lopes ajudou a retomar uma arti-                                           Iriny fez parte. A entidade debateu ampla-
    — Edição 79 — JULHO/2009




                               culação que resultou na criação do Conselho                                            mente a reforma urbana e foi parte importan-
                               Popular de Vitória, que surgiu após o fórum                                            te na elaboração do capítulo sobre o tema na
                               de moradores de Vila Velha.                                                            Constituinte de 1988. Pode-se afirmar que o
                                   Era fim dos anos 70, início dos 80. Tra-                                            Estatuto das Cidades, implantado no primei-
                               balhando no Sindicato dos Engenheiros,                                                 ro mandato do presidente Lula, é fruto dessa
                               Iriny e outros companheiros discutiam o                                                ampla discussão.
                               alto índice de desemprego desta categoria.                                                 Todo o debate nacional não se restringia
                               Foi assim que ela e os engenheiros Silvio                                              às áreas urbanas. Já se discutia a formação
                               Ramos e Margareth Saraiva decidiram fun-                                               do Movimento dos Sem Terra e Iriny não
                               dar a Cooperativa de Engenheiros do Espí-                                              só participou da primeira plenária do MST,
                               rito Santo. O sindicato foi o primeiro a ser                                           como se mantém até hoje parceira na luta
                               retomado pela esquerda em terras capixabas,                                            pela reforma agrária.
                               ainda sob a ditadura militar.                                                              Paralelamente ao ativismo social, Iriny
                                   Coincidência à parte, foi essa coopera-                                            se juntou aos que achavam que o país deve-
                               tiva, junto com a Ascam (Associação dos                                                ria ter uma alternativa à esquerda no cenário
                               Mutuários do Sistema Financeiro de Ha-                                                 partidário, que representasse a voz que sur-
           6                   bitação), entidade que defendia a moradia                                              gia das ruas.




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PED 2009
                      Fundadora do PT no ES                              Fotos:
                                                                         Arquivo
                     Em 1979, com a “abertura lenta e gra-               Lena
                dual”, sindicalistas, políticos, intelectuais, li-
                deranças religiosas e dos movimentos sociais
                começaram um movimento para formação do
                Partido dos Trabalhadores, mas foi preciso
                contornar os entraves impostos pela nova le-
                gislação, que ao mesmo tempo que acabava
                com o bipartidarismo (na ditadura militar, ha-
                                                                                                                                   Foto: Linhares
                via somente Arena e MDB), impunha dificul-
                dades para a formação de partidos.
                     Para transpor os entraves burocráticos, foi
                idealizada uma comissão provisória para a
                criação do PT. A primeira reunião para cons-
                tituir a comissão capixaba aconteceu no dia
                28 de janeiro de 1980, na Ilha de Santa Maria.
                Os diretores da comissão deveriam percorrer
                o Espírito Santo para construir o partido em
                no mínimo 14 municípios. A despeito das
                dificuldades, Iriny recorda que os petistas
                conseguiram formar comissões em 18 muni-
                cípios, incluindo Grande Vitória e do interior,
                como São Mateus, Barra de São Francisco,
                Colatina, Linhares, Cachoeiro de Itapemirim,
                Ecoporanga, Muniz Freire, Castelo, Guarapa-
                ri, entre outros.
                     Foi assim que, em 10 de fevereiro de 1980,
                foi oficializado nacionalmente o Partido dos          No sentido
                Trabalhadores. Uma das primeiras filiadas no          horário: Iriny com
                Espírito Santo, Iriny e outros companheiros          a sambista Dona
                iniciaram a dura trajetória que 30 anos depois       Ivone Lara; com o
                transformou o PT num dos mais importantes            ativista GLBT, Cláu-
                                                                     dio Nascimento; com
                partidos de esquerda da América Latina.
                                                                     o arcebispo de Vitória,
                     O final da década de 70 e os anos 80 foram       Dom Luiz Mancilha, durante
                períodos de efervescência de idéias, de mani-        caminhada a Campanha da
                festações de massa, greves geral em torno das        Fraternidade,; com o sambista
                melhorias salariais, movimentos em que Iriny         Monarco e com o presidente Lula.
                participou, como militante dos movimentos
                sociais e liderança petista.                         que protagonizou a grande virada no movi-           Direitos civis
                     O desejo de restabelecer a democracia           mento dos trabalhadores do Espírito Santo, e,
                plena no país, com o direito de os brasilei-         em Vila Velha, chegou a ser secretária geral         A defesa dos direitos civis, em especial
                ros escolherem seu presidente da República           do Conselho Comunitário.                         a proteção à pessoa, marcou a vida de Iriny
                depois de quase duas décadas de regime mili-             No Partido dos Trabalhadores do Espíri-      Lopes, especialmente nos últimos anos. O
                tar, desembocou num dos maiores movimen-             to Santo, Iriny fez parte, desde 1984, da di-    combate à violência e à impunidade a fez
                tos do país, iniciado em 1983, que foi o das         reção estadual, já tendo sido presidente por     amiga do advogado e jornalista Ewerton
                Diretas Já. No Brasil, as manifestações iam          três mandatos e ocupando as secretarias de       Montenegro Guimarães que, juntamente

                                                                                                                                                                         — Edição 79 — JULHO/2009
                cada dia mais ganhando adesão até chegar a           Formação Política, de Movimentos Popula-         com outros aguerridos companheiros, cria-
                um milhão de pessoas na Praça da Sé, em São          res, entre outras, e também integra, há muitos   ram o Fórum Reage/ES no final dos anos 90.
                Paulo.                                               anos, o diretório nacional, tendo composto a     A defesa da vida os levou ao combate à cor-
                                                                     executiva nacional por quatro vezes.             rupção e ao enfrentamento das organizações
                      Movimentos populares                               O descenso dos movimentos populares de       criminosas que até hoje atuam no Espírito
                                                                     massa nos anos 90 não significou o abando-        Santo. Essa luta a colocou em situação de
                     No Espírito Santo, os militantes do PT,         no da luta. O processo de democratização do      risco de morte, motivo da proteção da Po-
                dentre eles Iriny Lopes, que já era da dire-         país levou os movimentos sociais a rever suas    lícia Federal, desde 1999, amparada até em
                ção estadual, conseguiram realizar o maior           formas de luta, sobretudo a partir da eleição    determinação da Comissão Interamericana
                comício da história capixaba, que reuniu 30          de presidentes da República com perfil ne-        de Direitos Humanos.
                mil pessoas na Praça Oito, na região central         oliberal, como Fernando Collor e Fernando            Decorrente do seu compromisso com a
                de Vitória.                                          Henrique Cardoso. Iriny manteve a militân-       defesa dos direitos humanos, ela foi eleita
                     Antes mesmo das Diretas Já, Iriny havia         cia e contribuiu significativamente na luta das   deputada federal em 2002, com expressiva
                sido membro do Comitê Brasileiro de Anis-            mulheres, crianças e adolescentes, idosos,       votação, e reeleita em 2006. Como parla-
                tia. No campo sindical, ajudou no processo de        índios, quilombolas e negros, pela reforma       mentar, integra a Comissão de Direitos Hu-
                discussão no Sindicato da Construção Civil,          agrária e por um Brasil sem homofobia.           manos e Minorias (CDHM) da Câmara des-                     7



pagina13_julho2009.indd 7                                                                                                                                        29/6/2009 12:59:27
PED 2009
                                                                                                                                                                 Foto: Rossana Lana




                                                                                                                     Iriny Lopes fala durante reunião do Diretório Nacional do PT

                               de o início do mandato e foi indicada, em            Iriny tem marcado sua trajetória com duas       Flávio toca no Samba a Trinta --isso sem falar
                               março de 2005, a primeira mulher a presidir      linhas de ação, que no seu entender são com-        Banda Boa, que ele e Iriny criaram em Lima
                               a comissão, com amplo apoio dos movimen-         plementares: o desenvolvimento econômico e          Duarte e que até hoje desfila no carnaval de lá.
                               tos sociais.                                     a defesa dos direitos humanos. A perspectiva            Iriny mantém uma relação de amizade e
                                   Iriny integrou o Conselho de Ética da Câ-    de desenvolvimento, para a parlamentar, está        apoio incondicional ao samba capixaba, tan-
                               mara e relatou o processo que culminou com       pautada pela criação de emprego e renda e na        to nas agremiações como na velha guarda. É
                               a cassação do mandato do deputado André          redução das desigualdades sociais. Assim, or-       dela uma emenda parlamentar que além de
                               Luiz, por tentativa de extorsão a um empre-      ganizou seminários para debater a questão de        destinar há vários anos recursos para o Car-
                               sário carioca. Na Comissão Mista que apurou      exploração do pré-sal, abordando as tecnolo-        naval de Vitória, propiciou, a partir de 2009,
                               evasão de divisas (a CPMI do Banestado),         gias e a qualificação necessária para inclusão       em parceria com a Companhia de Desenvol-
                               Iriny contribuiu com vasto material compro-      de trabalhadores locais na cadeia produtiva.        vimento de Vitória (CDV), oficinas minis-
                               batório de ilícitos cometidos por empresários                                                        tradas por nomes de expressão nacional em
    — Edição 79 — JULHO/2009




                               e políticos, mas o relatório acabou não sendo       Cultura em casa                                  vários quesitos para os integrantes de escola
                               votado devido à manipulação do presidente                                                            de samba. Do enredo, percussão, mestre-sala
                               da comissão, um parlamentar do PSDB.                  Mineira de Lima Duarte, Iriny escolheu o       e porta-bandeira, alegorias, entre outros as-
                                   Em 2009, Iriny foi indicada relatora da      Espírito Santo para viver. Como nas lutas po-       pectos, ficou a idéia de criar, num futuro uma
                               CPI das Escutas Telefônicas Clandestinas,        líticas, foi em terras capixabas que ela criou os   escola técnica para qualificar cada vez mais
                               em substituição ao deputado federal Nelson       três filhos que tem com Flávio Lopes: Caroli-        essa atividade que é expressão de um povo,
                               Pellegrino (PT-BA), que se licenciou para        na, casada e mãe de Cristal; Nicolas e Flávia.      mas também uma espécie de indústria criati-
                               assumir a Secretaria de Justiça do Estado da          A cultura é uma paixão em família. Iriny       va, capaz de gerar emprego, renda e mobilizar
                               Bahia. Dentre outras recomendações, Iriny        lembra que quando saiu de Lima Duarte, aos          o turismo regional.
                               pediu o indiciamento do banqueiro Daniel         19 anos de idade, adotou o teatro como forma            Candidata à presidência nacional do Parti-
                               Dantas, do Grupo Opportunity, que em dis-        de expressão e, com o passar dos anos, partici-     do dos Trabalhadores, Iriny vai priorizar dois
                               puta com a Telecom Itália pelo controle da       pou de todas grandes lutas da categoria. Che-       temas: o debate programático e o papel do
                               Brasil Telecom, utilizou métodos espúrios,       gou a atuar como radialista da Rádio Capixa-        partido. Mas isto fica para a próxima edição
                               dentre eles grampos ilegais (os representantes   ba. Hoje, a filha Carolina é produtora cultural.     de agosto do Página 13.
                               da Telecom Itália também foram indiciados        Nicolas, formado em Artes Cênicas, tem um
                               pelo mesmo motivo).                              grupo de teatro e dá aulas em escolas públicas.     *Lena Azevedo é jornalista
           8



pagina13_julho2009.indd 8                                                                                                                                                         29/6/2009 12:59:29
MUNDO DO TRABALHO



                Os barões estão felizes                                                                                    O diploma de jornalista
                                                                                                                           e a hipocrisia do STF
                       Pedro Estevam da Rocha Pomar*



                 O
                          s senhores togados do Supremo            tipo de manifestações que caracterizam a co-       de jornalismo desrespeita a Constituição, por
                          Tribunal Federal, à frente o ilibado     municação social, é algo muito mais amplo          restringir o direito à liberdade de expressão. É
                          ministro Gilmar Mendes, decidiram        do que a produção de informações de nature-        falsa essa idéia de que o jornalismo profissio-
                 derrubar a obrigatoriedade do diploma de jor-     za jornalística.                                   nal seja o repositório da liberdade opinativa.
                 nalista para o exercício da profissão. Como já         A mídia hegemônica tem sido um dos pi-         São inúmeros os meios de expressão de idéias
                 haviam feito no caso da Lei de Imprensa, não      lares da dominação burguesa neste país, es-        e opiniões. E, não menos significativo, a mui-
                 se preocuparam em preencher o vácuo criado        pecialmente em sua fase neoliberal. Mas não        to poucos, nos milhares de jornalistas, é dada
                 com a supressão do diploma.                       é o diploma de jornalismo que faz desta mí-        a oportunidade de expressar sua opinião, e a
                     Pretexto: garantir a “liberdade de expres-    dia um carrasco da liberdade de expressão, e       pouquíssimos a liberdade incondicional de
                 são”, conforme solicitou o Ministério Público     sim o caráter oligárquico de jornais, revistas e   escolha e tratamento dos seus temas”.
                 Federal (MPF), autor da ação judicial contra      emissoras (de rádio e TV) sempre preocupa-             “A matéria-prima essencial do jornalis-
                 o diploma. Verdadeiro motivo: atender aos         dos em perpetuar o capitalismo e o apartheid       mo contemporâneo”, continua Jânio, “não
                 interesses dos conglomerados de mídia, an-        social existentes no Brasil.                       é a opinião, é a notícia. Ou seja, a informa-
                 siosos em desregulamentar a profissão e au-            Os grupos de mídia, como Globo, Abril,         ção apresentada com técnicas jornalísticas
                 mentar seu já dilatado poder no processo de       SBT, Folha, já configuram um dos principais         e, ainda que a objetividade absoluta seja um
                 formação e contratação de jornalistas, varren-    setores da economia nacional, com receita          problema permanente, sem interferências de
                 do desse modo quaisquer veleidades de inde-       anual de bilhões de reais cada um e interes-       expressão conceitual do jornalista. A grande
                 pendência intelectual e pensamento crítico        ses em diversas áreas, inclusive a financeira       massa da produção dos jornalistas profissio-
                 que esses profissionais possam ter.                e a imobiliária. Tornaram-se importante ator       nais não se inclui, nem remotamente, no di-
                     Questionado sobre as iniciativas de vá-       político, participando ativamente da elabo-        reito à liberdade de expressão” (Folha de S.
                 rios parlamentares, que, no Senado e na Câ-       ração e execução dos projetos de dominação         Paulo, 21/6/09).
                 mara Federal, falam em apresentar projetos        de classe. Alguns jornalistas foram cooptados          O MPF ganhou um aliado na ação judi-
                 de lei com a finalidade de reabilitar o diplo-     por esse oligopólio e se tornaram porta-vozes      cial: o Sindicato das Empresas de Rádio e TV
                 ma, o presidente do STF advertiu: “Não há         desses projetos. Mas a massa dos jornalistas,      do Estado de S. Paulo (Sertesp), capitaneado
                 possibilidade de o Congresso regular isso,        que é assalariada, luta para manter a dignidade    pela Globo. Portanto, nada mais natural do
                 porque a matéria decorre de uma interpreta-       frente a condições de trabalho desfavoráveis.      que a Globo festejar publicamente a queda do
                 ção do texto constitucional” (Estadão, 24/6,          A esmagadora maioria desses jornalistas        diploma. A gloriosa Folha de S. Paulo fez a
                 A12). Tenta proibir a retomada da discussão       dispõe de reduzida autonomia na execução de        mesma coisa, em editorial. Estão felizes: gra-
                 e, para criar confusão, ameaça cassar o alva-     tarefas (e particularmente na elaboração de        ças ao STF, começaram a desmontar a regula-
                 rá de outras profissões.                           matérias). Como bem definiu o veterano jor-         mentação profissional dos jornalistas.
                     Muita gente, até mesmo na militância          nalista Jânio de Freitas: “É um argumento rús-
                 social e política de esquerda, é contrária à      tico a afirmação de que diploma obrigatório         *Pedro Estevam da Rocha Pomar é jornalista
                 exigência do diploma, por acreditar no pos-
                 tulado liberal de que tal exigência agride a
                 liberdade de expressão. Postulado esse de-
                 fendido pela Corte Interamericana de Direi-
                 tos Humanos, ligada à OEA, que desde 1985
                 condena a exigência do diploma. Outro mote
                 do ataque ao diploma é o fato de o Decreto-
                 Lei 972, que instituía sua obrigatoriedade,
                 ter sido obra da Junta Militar de 1969, em
                                                                                                                                                                             — Edição 79 — JULHO/2009
                 plena Ditadura portanto.
                     Ocorre que a exigência do diploma nada
                 tem a ver com a liberdade de expressão. O
                 jornalismo é uma profissão e, como tal, pres-
                 supõe: a) certos critérios para ser exercido, e
                 b) uma relação de trabalho, que condiciona-
                 rá seu exercício, bem como as condições de
                 vida do jornalista.
                     O jornalista profissional deve viver do seu
                 trabalho, que é o de produzir informações
                 relevantes (e, eventualmente, opinião) sobre
                 questões as mais variadas. A produção e o
                 consumo de informações jornalísticas são, no
                 entanto, apenas parte da esfera da comunica-
                 ção social. A expressão humana, ou seja, todo
                                                                                                                                                                                    9



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SAÚDE



                               Saúde: tem que ser para todos
                               O
                                      colapso do setor saúde não se consumou nos anos                      de modo geral não teve força política para regulamentar
                                      1990, em função de intensa luta política que tinha                   essa conquista.
                                      o PT como agente político coletivo, mobilizador                         Em 2008, uma Comissão Especial da Câmara dos De-
                               e organizador. Em 2000, manejando também as con-                            putados, presidida pelo deputado Antonio Palloci (PT-
                               tradições e interesses políticos do governo federal da ép-                  SP) e relatada pelo membro da base governista deputa-
                               oca, conseguimos inserir na Constituição a vinculação de                    do Sandro Mabel (PR-GO), aprovou a reforma tributária
                               percentuais orçamentários para as "ações e serviços públi-                  proposta pelos ministérios do Planejamento e da Fazen-
                               cos de saúde", nos planos municipal, estadual e federal.                    da, cuja essência é o retorno puro e simples ao estado
                               Mas, nessa ocasião, o movimento popular e progressista                      da arte anterior à Constituição Federal de 1988.




                                            Ricardo Menezes*



                               D
                                        ilma Rousseff terá uma dificuldade        ismo econômico desprovido de bom senso          era Fernando Henrique Cardoso e quando
                                        durante o processo eleitoral: discutir   político, chegaram até, na peça orçamentária    José Serra era o ministro da saúde. A emenda
                                        os problemas do setor saúde com o        proposta para 2004, a tentar retirar recursos   alterou pontos da Constituição de 1988, para
                               candidato da oposição, ex-ministro da saúde       da Saúde para o Programa Fome Zero, o que       tornar minimamente provido de recursos or-
                               do país. Isso porque em nenhum momento            ensejou a apresentação de reclamação ao         çamentários o Sistema de Saúde nacional.
                               da nossa história recente, depois da promul-      Ministério Púbico Federal por dois militantes   O projeto de lei complementar proposto por
                               gação da Constituição Federal de 1988, se         petistas. Na seqüência, o presidente Lula de-   Tião Viana:
                               tentou desfinanciar a área de proteção social      terminou ao Ministério da Fazenda que refiz-
                                                                                                                                    a) estabelece que, progressivamente, a
                               como agora, caso a reforma tributária --que       esse a peça orçamentária. O fundamentalismo
                                                                                                                                    União chegará ao patamar de 10% de suas
                               não incide de forma progressiva sobre renda       econômico expôs o presidente Lula, no início
                                                                                                                                    receitas correntes brutas alocadas, anual
                               e patrimônio, longe disso, mas ameaça des-        do seu primeiro mandato, a injustificável con-
                                                                                                                                    e obrigatoriamente, na saúde, ao invés do
                               montar o campo da proteção social-- seja          strangimento político.
    — Edição 79 — JULHO/2009




                                                                                                                                    cálculo atual que prevê que seja alocado
                               aprovada como está.                                   Dilma Rousseff se defrontará com outra
                                                                                                                                    o montante do ano anterior acrescido da
                                   A dita reforma tributária extingue as con-    dificuldade: desde 1980 a União, o ente fed-
                                                                                                                                    variação nominal do PIB;
                               tribuições sociais --sobre o lucro, o fatura-     erado que mais arrecada tributos, vem se re-
                               mento e outros--– estabelecidas na Constitu-      tirando progressivamente do financiamento           b) mantém o já disposto na Constituição:
                               ição. Necessário enfatizar: as contribuições      do Sistema de Saúde nacional. Além disso,          estados e municípios são obrigados a alo-
                               sociais destinam-se à saúde, previdência so-      o projeto de lei complementar proposto pelo        car na saúde, anual e obrigatoriamente,
                               cial e assistência social (seguridade social),    senador Tião Viana (PT-AC), aprovado no Se-        respectivamente, 12% e 15% de seus or-
                               educação e trabalho.                              nado Federal por unanimidade, encontra-se          çamentos;
                                   Dilma Rousseff se defrontará com outro        tramitando na Câmara dos Deputados desde           c) define o que vem a ser despesas com
                               empecilho, ao discutir os problemas do setor      maio de 2008.                                      ações e serviços públicos de saúde, a
                               saúde durante o processo eleitoral: ministros         Esse projeto regulamenta a Emenda Con-         fim de evitar fenômenos semelhantes à
                               da Fazenda e do Planejamento do governo           stitucional nº 29, de 13 de setembro de 2000       já mencionada tentativa de retirar do or-
                               Lula (2003-2009), não só se opuseram --e até      (EC nº 29/2000), que resultou de proposições       çamento da saúde recursos para o Pro-
                               agora continuam se opondo-- à regulamen-          dos então deputados federais Waldir Pires          grama Fome Zero e a prática de estados
                               tação do financiamento da saúde no Brasil;         (PT-BA) e Eduardo Jorge (PT-SP), sendo             e grandes municipalidades de considerar
       10                      como também, revelando um fundamental-            aprovada quando o presidente da República




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SAÚDE

                     “despesa com ações e serviços públicos         plexidade --nessas circunstâncias, a depender    para 18,5% da população, que tem direito a
                     de saúde” o pagamento de funcionários          do procedimento, via de regra essas pessoas      serviços ligados a planos ou seguros de saúde,
                     aposentados, entre outros. O que alegam        utilizarão os serviços do SUS, mesmo que         cuja parcela ponderável também utiliza os
                     estados e grandes municipalidades para         tenham formalmente direito a planos ou se-       seguintes serviços no SUS: assistência de alto
                     considerar funcionários inativos como          guros de saúde.                                  custo e de alta complexidade, assistência em
                     “despesas com ações e serviços públicos            Já setores das camadas médias, não sin-      urgência e emergência, assistência ao câncer,
                     de saúde”? Ausência de regulamentação          dicalizados, pagam planos ou seguros de          assistência às pessoas com HIV/AIDS e cer-
                     da Constituição de 1988 ou, mais precisa-      saúde. Registre-se que são altos os valores      tas enfermidades infecciosas, assistência aos
                     mente, do que foi inserido na mesma pela       das mensalidades e que as pessoas realizam       transplantados (a legislação, acertadamente,
                     Emenda Constitucional 29/2000;                 esses dispêndios não porque querem, mas          delimita esses serviços como atributo do pod-
                                                                    porque o acesso --ambulatórios e outros re-      er público), dentre outros.
                     d) estabelece normas de fiscalização, aval-
                                                                    cursos-- ao SUS não foi concebido, a partir          Renúncia fiscal é algo que se faz porque
                     iação e controle dos três entes federados,
                                                                    dos anos 1990, para absorver essa parcela da     desta forma, no limite, o poder público con-
                     quanto à alocação de recursos orçamen-
                                                                    população.                                       tribuiria para garantir direitos sociais - e a
                     tários, anuais e obrigatórios, na saúde. Se-
                                                                        O fato: a renúncia fiscal se faz presente     saúde é um deles, melhores condições de vida
                     gundo estudo do Ministério da Saúde rela-
                                                                    até que dificuldades diversas levem essas pes-    e talvez um pouco mais de felicidade aos ci-
                     tivo ao exercício de 2006, de 27 estados
                                                                    soas a não poder contratar mais tais planos ou   dadãos e às cidadãs, sem grandes perdas de
                     da federação, dezoito alocavam menos do
                                                                    seguros (perda do emprego, dentre outros).       arrecadação. Mas esse não é caso da saúde,
                     que 12% na saúde, ou seja, descumpriam
                                                                    Reiteramos: inscritos em planos ou seguros       porque a renúncia é grande, estimando-se que
                     o que está disposto na Constituição. Den-
                                                                    de saúde, caso precisem de assistência de alto   traduza um patamar elevado em relação ao to-
                     tre eles, os estados mais prósperos: Rio
                                                                    custo ou de alta complexidade, a depender do     tal do investimento privado na saúde.
                     Grande do Sul (4,41%), Minas Gerais
                                                                    procedimento, via de regra utilizarão os ser-        Ou seja, a União, nesses termos, é uma
                     (6,04%), Rio de Janeiro (10,27%), Bahia
                                                                    viços do SUS.                                    espécie de co-financiadora indireta de empre-
                     (11,44%), São Paulo (11,63%) e assim
                                                                        Observe-se, ainda, que os serviços de        sas de planos e seguros saúde. Informação de
                     por diante.
                                                                    saúde de natureza coletiva somente são pres-     técnico do IPEA, atualmente no Ministério da
                                                                    tados à população brasileira pelo SUS.           Saúde, aponta a complexidade da mensuração
                    Dilma Rousseff se defrontará com um                 Segundo dados do IBGE (2008), em rela-       do volume da renúncia fiscal --pessoa física
                empecilho adicional, em meio ao processo            ção aos serviços assistenciais 81,5% da popu-    e jurídica--, ao passo que Nelson Rodrigues
                eleitoral, ao discutir os problemas do setor        lação utilizam os serviços do SUS e não são      dos Santos, professor da UNICAMP, estimou
                saúde: certas vertentes políticas e até parcela     beneficiários ou pagam planos ou seguros de       algo em torno de 12 bilhões de reais por ano.
                do PT parecem convencidos de que as cama-           saúde, enquanto 18,5% são beneficiários ou            Por que não se prioriza politicamente im-
                das médias querem, ou têm a expectativa de          pagam planos ou seguros de saúde, o que não      plantar de vez no nosso país um Sistema de
                pagar planos ou seguros de saúde para aces-         quer dizer que não utilizem também serviços      Saúde nacional para todos, regulamentando-
                sar serviços assistenciais (assistência médica,     vinculados ao SUS.                               se já o financiamento da saúde e garantindo-
                odontológica, entre outros). Isto é um enorme           É sabidamente pequeno o investimento         se, assim, fontes estáveis municipais, estadu-
                equívoco político e, de outro lado, constitui       per capita de recursos públicos na saúde,        ais, do Distrito Federal e da União, o que
                uma análise que não incorpora o fato de que o       considerando o padrão de desenvolvimento         propiciaria com o tempo eliminar a renúncia
                Sistema de Saúde nacional não se resume ao          econômico do Brasil, para atender a esmaga-      fiscal na saúde e, ainda, agregar recursos ad-
                edifício assistencial. Isso tem conseqüências       dora maioria da população brasileira que não     vindos da implementação de arrojado pro-
                políticas negativas e, em outra dimensão, gera      tem direito a serviços assistenciais ligados     cesso de ressarcimento ao SUS, previsto na
                iniqüidade e agrava a desigualdade social.          a planos ou seguros de saúde, junto com os       Lei 9.656, de 3 de junho de 1998, e que, hoje,
                    A gigantesca renúncia fiscal --pessoa físi-      serviços de saúde de natureza coletiva que       não vem sendo executado com a abrangên-
                ca e jurídica—que a União vem estimulando           somente são prestados pelo SUS;                  cia devida pela Agência Nacional de Saúde
                desde 1990, se deveu à existência de fortes             É daquele pequeno investimento per capi-     Suplementar?
                interesses econômicos e políticos contrários à      ta de recursos públicos na saúde, alocados no
                organização de um Sistema de Saúde nacional         SUS, que se originam os recursos do custeio      Ricardo Menezes é sanitarista e militante do PT

                                                                                                                                                                          — Edição 79 — JULHO/2009
                para todos os brasileiros e todas as brasileiras.
                    Na prática, sindicatos poderosos, que rep-
                resentam a minoria da população brasileira,                                                                    A gigantesca renún-
                negociam planos ou seguros de saúde com o
                patronato, processo no qual se encontra pre-
                                                                                                                               cia fiscal que a União
                sente a renúncia fiscal da União. Nas dimen-                                                                    vem estimulando desde
                sões política e ideológica, objetivamente se                                                                   1990, se deveu à existên-
                dá a retirada de segmento pujante e organiza-
                do da classe trabalhadora, da frente em defesa
                                                                                                                               cia de fortes interesses
                do Sistema de Saúde nacional para todos.                                                                       econômicos e políticos
                    Isso caminha até que os trabalhadores                                                                      contrários à organização
                percam o emprego ou se aposentem --nessas
                duas circunstâncias os trabalhadores deixam
                                                                                                                               de um Sistema de Saúde
                de ser alvo do negociado entre dirigentes sin-                                                                 nacional para todos os
                dicais e o patronato; ou, ainda que precisem                                                                   brasileiros.
                de assistência de alto custo ou de alta com-                                                                                                                  11



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PESCA E AQUICULTURA


                               Ministério na área                                                                                  Lula cumpre compromisso
                                                                                                                                   assumido em 2002
                                    Altemir Viana e Rosana Ramos*




                               O
                                         presidente Lula sancionou no dia 26
                                         de junho a lei que cria o Ministério
                                         da Pesca e Aqüicultura e a nova lei
                               da pesca e aqüicultura. As duas novas leis
                               representam uma importante vitória para o
                               setor.
                                   A nova lei, que tramitava há 14 anos no
                               Congresso Nacional, define as regras para
                               o exercício da pesca e os instrumentos de
                               apoio ao seu desenvolvimento; reconhece os
                               pescadores e aqüicultores como produtores
                               rurais e beneficiários da política agrícola; in-
                                                                                 José Fritsch, primeiro titular da Seap             Altemir Gregolin, ministro
                               troduz a preocupação com a sustentabilidade
                               dos recursos pesqueiros; e reconhece como             O orçamento do Ministério da Pesca e           “As duas leis – a da pesca e a que cria
                               trabalhadoras da pesca as mulheres que de-        Aqüicultura para desenvolver as políticas pú-      o Ministério da Pesca e Aquicultura
                               sempenham atividades complementares à             blicas do setor terá que chegar a pelo menos 1
                                                                                                                                    - são extremamente importantes para
                               pesca artesanal, como conserto de rede, be-       bilhão de reais anuais para permitir a efetiva-
                               neficiamento e comercialização da produção.        ção dos programas necessários ao desenvolvi-       o desenvolvimento do setor. A criação
                                   A criação do Ministério da Pesca e Aqüi-      mento do setor. Nos primeiros cinco anos da        do Ministério vai significar a con-
                               cultura representa mais poder de decisão e        Seap, a dotação orçamentária variou de manei-      solidação das políticas de estado de
                               mais recursos para apoiar o desenvolvimento       ra crescente de 90 a 130 milhões. Neste ano,       longo prazo para o potencial aquícola
                               do setor. A nova estrutura do Governo Fede-       orçamento previsto é de 464 milhões de reais.      e pesqueiro brasileiro, além de ser
                               ral atende aos compromissos da Carta aos              O Brasil poderá triplicar o emprego,           uma demonstração do compromisso
                               Pescadores, assinada pelo presidente Lula         a renda e a produção de pescado, no curto
                                                                                                                                    do governo com essa atividade”.
                               em agosto de 2002.                                prazo, desenvolvendo o mercado interno e
                                   Já como resposta à carta, o presidente        se tornando um dos maiores fornecedores            Altemir Gregolin – ministro de
                               assinou em 2003 uma Medida Provisória             mundiais do produto. Para isso, precisamos         Estado da Pesca e Aquicultura
                               criando a Secretaria Especial de Aqüicultura      vencer alguns desafios.
                               e Pesca (Seap), ligada à Presidência da Re-           Um deles é a implementação de um mo-           dios para os países ricos.
                               pública e com status de Ministério.               delo de produção que tenha como fundamen-              Por fim, um importante desafio é o forta-
                                   A transformação da Seap em Ministério         to a sustentabilidade ambiental e a inclusão       lecimento das organizações do setor, para que
                               da Pesca e Aqüicultura garante maior estabili-    social. O modelo produtivo deve ainda ser          aprofundar a democracia e garantir o controle
                               dade institucional e perenidade das políticas;    gerador de trabalho, emprego e renda, além         social do Estado. É preciso interlocutores for-
                               põe fim às descontinuidades que caracteriza-       de ser capaz de garantir a cidadania às popu-      tes junto aos pescadores e aqüicultores. Nes-
                               vam a intervenção dos governos nas últimas        lações que vivem da pesca e aqüicultura.           te sentido, é necessário garantir a realização
                               quatro décadas; permite a resolução dos pro-          Outro desafio é o desenvolvimento da ca-        das Conferências Nacionais de Aqüicultura
                               blemas das competências, atualmente disper-       deia produtiva em seu conjunto. É necessário       e Pesca, bem como, fortalecer e aperfeiçoar
                               sas em vários órgãos do governo federal.          encurtar o seu tamanho, aproximar mais o           o Conselho Nacional de Aquicultura e Pes-
    — Edição 79 — JULHO/2009




                                   A nova estrutura garantirá um corpo           pescador e o produtor do consumidor, redu-         ca (Conape). Além de estimular os governos
                               técnico permanente por meio de concursos,         zir custos e melhorar a qualidade. É de fun-       estaduais e as prefeituras a criarem espaços
                               saindo da situação de dependência de cessão       damental importância ampliar o associativis-       colegiados e instâncias coletivas, como os
                               de servidores de outros órgãos, política esta     mo e o cooperativismo pesqueiro e aqüícola;        conselhos estaduais e municipais para defini-
                               que deixava a Secretaria numa situação mui-       aprofundar as políticas de crédito, assistência    ção de políticas de desenvolvimento do setor.
                               to frágil e com grande rotatividade de servi-     técnica e extensão, comercialização e infra-           Estas mudanças ampliarão as disputas
                               dores gerando instabilidade funcional.            estrutura; criar o Banco Nacional de Dados         pelo controle e pela orientação política do
                                                                                 Pesqueiros, capaz de subsidiar a construção e      novo Ministério. Enfrentaremos essas dis-
                                  Desafios do próximo período                     implementação das políticas públicas.              putas qualificando nossa linha, ampliando as
                                                                                     No plano internacional, há a necessidade       relações com o partido, organizando a base
                                   O próximo período exigirá investimentos       de garantir os interesses brasileiros no mer-      social e ampliando os mecanismos de contro-
                               significativos em infra-estrutura, demarca-        cado europeu e aprovar da proposta brasi-          le social, participação popular e gestão com-
                               ção de parques aqüícolas, estruturação das        leira na Organização Mundial do Comércio           partilhada.
                               comunidades pesqueiras e políticas de crédi-      (OMC), permitindo a aplicação de subsídios
                               to, construção da frota nacional, assistência     para a pesca no Brasil e nos países do eixo        *Altemir Viana e Rosana Ramos são
       12                      técnica e capacitação.                            Sul-Sul, e restringindo esses mesmos subsí-        militantes do PT




pagina13_julho2009.indd 12                                                                                                                                                        29/6/2009 12:59:31

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Jornal Reconquistar a UNE/pagina13 - 51-CONUNE

  • 1. Nº 79 JULHO/2009 Reconquistar a UNE! 51º Congresso em Brasília, de 15 a 19 de julho págs. 3 a 5 Iriny presidente Uma mulher na direção do PT págs. 6 a 8 NESTA EDIÇÃO O diploma dos jornalistas pág. 9 Saúde tem que ser para todos págs. 10 e 11 Lula cria o Ministério da Pesca e Aquicultura pág. 12 ENCARTE ELETRÔNICO Resoluções da XI Conferência Nacional da AE http://www.pagina13.com.br pagina13_julho2009.indd 1 29/6/2009 12:59:16
  • 2. EDITORIAL Wladimir Pomar lança novo P livro sobre a China ágina 13 reservou as páginas centrais desta edição para apresentar Iriny Lopes, nossa candidata à presidência nacional do Partido dos Trabalhadores, no O jornalista e escritor Wla- O AUTOR processo de eleição das direções partidárias, dimir Pomar lança seu novo livro Wladimir Pomar, militante marcado para novembro deste ano. China desfazendo mitos, pela Edi- político desde 1949, ajudou a As tendências da esquerda petista estão tora Página 13 e Publisher Brasil. fundar o PcdoB (1962), foi pre- A obra é uma coletânea de so político, nos anos 1970 viveu fazendo um esforço para se unificar, em uma diversos artigos veiculados em na clandestinidade, integrou só chapa e em uma só candidatura a presi- jornais e revistas nos últimos anos, a executiva nacional do PT dência nacional. E estão tentando, também, grande parte deles no Correio da (1984-1990), foi coordenador- reproduzir a mesma unidade nos estados e Cidadania, que ganha uma edição geral da campanha Lula presi- nos municípios. organizada em grandes temas que dente (1989). Colabora regu- Nós da Articulação de Esquerda acredi- tratam desde as razões do acele- larmente com o jornal Correio rado crescimento às distorções da Cidadania e a revista Teoria tamos que a chapa da esquerda e a candida- difundidas pela mídia internacio- e Debate. É autor de diversos tura presidencial de Iriny Lopes devem ter nal, apresentando um pouco da estudos e livros sobre a China duas metas principais: sua história, as características do entre os quais O enigma chinês: a) por um lado, defender o programa de- socialismo chinês, o papel desse capitalismo ou socialismo (Alfa- mocrático-popular e socialista país no mundo globalizado e as ômega); China, o dragão do b) por outro lado, defender o protagonis- relações Brasil-China, entre outros século XXI (Ática); A revolução assuntos. chinesa (Unesp). mo do Partido, agora, durante a campanha e durante o futuro governo Dilma. COMO ADQUIRIR: O preço da obra em livrarias é de R$ 39,00, na Editora Página13 é de R$ 30,00 já com Esta defesa do programa e do Partido o custo de envio. Para adquirir o livro com desconto, os interessados devem fazer o pagamento através de têm um significado muito especial neste depósito bancário no Banco do Brasil, agencia 3321-9, conta corrente 34297-1 em nome de Rubens Alves da momento que estamos vivendo no mundo, Silva e confirmar o depósito e pedido (com dados para o envio), através do e-mail: chaves.sirlei@gmail.com na América Latina e no Brasil. Os governos de esquerda e progressistas atuaram, desde 1998 até 2008, num cenário internacional que tornou possível combinar, com os limi- Cupom de Assinatura tes conhecidos, o que parecia impossível: uma política que beneficiava os de baixo, Nome: sem fazer ruptura com os de cima. A crise internacional reduziu a margem Endereço: de manobra destes governos. Nesta nova Bairro: conjuntura, precisamos de mais alianças com o povo, mais vontade política para me- Cidade: Estado: CEP: xer em temas como a democratização da co- municação e a reforma política; precisamos, Telefone: ( ) Celular: ( ) também, de mais unidade das esquerdas e E-Mail: protagonismo do PT. Profissão: AE na direção da CUT RS Data: ____/____/____ Vencimento:____/____/____ A Articulação de Esquerda está na direção CPF: da CUT estadual com o eletricitário Rodrigo Schley e com o professor Derlan Trombetta, Enviar o cupom a/c de: Sirlei Augusta Chaves - Associação de Estudos Página 13 — Edição 79 — JULHO/2009 que vão ocupar, respectivamente, vaga na Di- Rua Silveira Martins, 147, cj. 11, Centro - São Paulo-SP CEP 01019-000 reção Executiva e na Direção Ampliada, no ou para o e-mail:chaves.sirlei@gmail.com Assinatura de Apoio: R$ 75,00 triênio 2009-2011. A decisão foi tomada no Pagamento através de depósito na conta do 12º Congresso Estadual da CUT ocorrido de Banco do Brasil Agência: 3321-9 Conta-corrente: 34.297-1 Rubens Alves da Silva 19 a 21 de junho, em Imbé, RS. EXPEDIENTE Página 13 é um jornal publicado sob responsabilidade da direção nacional da Articulação de Esquerda, tendência interna do Partido dos Trabalhadores. Direção Nacional da AE: Adriano Oliveira (RS), Altemir Viana (AM), Angélica Fernandes (SP), Bruno Elias (TO), Beto Aguiar (RS), José Correia Neto(SE), Célio Antonio (SC), Expedito Solaney (PE), Fernando Nascimento (PE), Geraldo Cândido (RJ), Iole Iliada (SP), Ivan Alex (BA),Iriny Lopes (ES),Isaias Dias (SP), Jairo Rocha (MT), Janete da Costa Godinho (SC), Jonas Valente (DF), Larissa Sousa Campos (MG), Laudicéia Schuaba Andrade (ES), Lício Lobo (SP), Mário Cândido de Oliveira (PR), Marcel Frison (RS), Marcelino Gallo (BA), Marcelo Mascarenha (PI), Múcio Magalhães (PE), Pere Petit (PA), Rafael Pops (GO), Ra- fael Pinto (SP), Rosana Ramos (DF), Rosana Tenroller (RS), Rodrigo César (RJ), Rubens Alves (MS), Saulo Campos (MG), Thalita Coelho (PA), Valter Pomar (SP) Edição: Valter Pomar Diagramação: Cláudio Gonzalez (Mtb 28961) Secretaria Gráfica: Edma Valquer Assinaturas: Sirlei Augusta Chaves e-mail: chaves.sirlei@gmail.com Endereço para correspondência: R. Silveira Martins,147 conj. 11- São Paulo/SP CEP 01019-000 2 pagina13_julho2009.indd 2 29/6/2009 12:59:22
  • 3. JUVENTUDE Reconquistar a UNE, para a luta e para as/os estudantes Contribuição aos debates do 51º Congresso da UNE, em Brasília, de 15 a 19 de julho de 2009 O ano de 2008 foi marcado pelo pro- cesso de construção de uma estraté- gia, unitária entre os campos que par- ticipam da UNE, de apresentar uma proposta de reforma universitária dos estudantes. No CONUNE de 2007 dizíamos que o movimen- to estudantil estava “perdendo a iniciativa de elaborar a sua proposta de transformação da universidade brasileira, e efetivamente dis- putá-la, buscando incidir sobre as decisões governamentais”. Fruto do acerto desta posição, o presen- te ano iniciou com a aprovação da proposta de Reforma Universitária da UNE no 12º saírem mais rápido e em melhores condições o que foi feito como alavanca para avançar, Conselho Nacional de Entidades de Base da estarão mais bem posicionados para influen- especialmente em direção à mudanças estru- UNE, dos dias 17 a 20 de janeiro, em Salva- ciar o novo sistema de poder mundial e o seu turais. dor. Ocorre, porém, que os estudantes brasi- caráter. Para enfrentar a crise e disputar os rumos leiros não conhecem esta proposta, uma vez Em nosso continente vivemos uma mu- do país e do mundo, propomos: que foi elaborada por poucas mãos e não foi dança de época. Estamos nos distanciando *Nenhuma ajuda aos capitalistas: eles que alvo de discussões nas universidades. da agenda imperialista para o continente e paguem pela crise deles! Manutenção do em- No CONEB, já dizíamos: “Sem luta polí- construindo alternativas à hegemonia neoli- prego e dos salários; redução da jornada de tica e gente na rua, nosso programa não irá beral. Hoje, a América Latina ocupa posição trabalho sem redução dos salários; aprovação além de um mero conjunto de intenções”. E estratégica no cenário mundial e está melhor de uma medida provisória no Congresso na- preparada para enfrentar a crise justamente cional para proibir as demissões. de fato, a UNE encontra-se extremamente por essa guinada. *Fim imediato do bloqueio à Cuba; todo enferrujada para travar a luta política nas uni- O governo Lula reagiu à crise com mais versidades em torno de seu projeto. apoio à integração soberana da América Lati- investimento público, mais investimento so- cial, mais mercado interno, mais Estado, mais na; pelo fortalecimento da Unasul, Mercosul, Um olhar sobre o mundo e o Brasil integração continental. O rumo geral destas Alba, Conselho de Defesa da América do Sul medidas é correto, mas é preciso ir além, es- e Banco do Sul; fortalecimento das relações Seria muito fácil culpar a ganância dos in- pecialmente se queremos, sobre os escom- sul-sul; diminuir a dependência econômica vetidores, a farra e o parasitismo especulativo, bros do neoliberalismo, construir outra do continente em relação aos países centrais. pela crise atual, mas isto é apenas uma parte ordem. *Ampliação dos investimentos públicos do problema. Trata-se de uma crise sistêmi- A crise econômica nos países centrais do estatais; ampliação dos programas sociais e ca do capitalismo, não apenas do mercado capitalismo reforça as possibilidades de que de distribuição de renda; diminuição da tribu- financeiro. Muito se produz e poucos podem o Brasil vivencie um novo ciclo de desenvol- tação da população de baixa renda. vimento. A natureza deste novo ciclo está em *Não à ditadura do capital financeiro! consumir. É a contradição fundamental que disputa e passa, desde já, pelo enfrentamento não se resolve, daí as recorrentes crises. Fim da autonomia de fato do Banco Central: à crise. Portanto, não nos basta recuperar a O capitalismo tem inúmeras formas de soberania nacional, ampliar a democracia e Fora Meireles! Imediata e rápida redução da contornar suas crises. Quando não consegue fortalecer o Estado. Devemos pressionar taxa de juros e do superávit primário; forte — Edição 79 — JULHO/2009 elas estouram, como ocorre hoje. para que se realize reformas estruturais, controle do fluxo de capitais e regulamenta- Esta crise, gerada no centro do capitalis- colaborando para a abertura de um novo ciclo ção do mercado financeiro. mo mundial (EUA) desmascara a idéia de histórico, que deixe para trás as décadas per- *Ampla democratização da mídia: fora que o Estado não deve regular a economia, didas, o neoliberalismo e o desenvolvimen- Hélio Costa do Ministério das Comunica- martelada nas últimas décadas. Porém, ela tismo conservador. ções! Fim à ditadura dos monopólios da co- também evidencia que o capitalismo é um Esta disputa terá as eleições de 2010 municação; todos à Conferência Nacional de sistema “crísico” e sua vigência é resultado como palco principal. Estas eleições serão Comunicação! de uma opção política e social, e justamente polarizadas pelos dois campos que disputam *Reforma política já: pela participação por isso pode ser transformado. os rumos do país: de um lado, as forças de popular; fidelidade partidária, voto em lista e Os desdobramentos para esta crise depen- esquerda e progressistas, o bloco nacional, orçamento público de campanhas eleitorais. derão da luta social em cada país: quanto democrático e popular, encabeçado pelo PT; *Reformas agrária e urbana: conter a es- mais massiva, intensa e radical for a rea- de outro lado, as forças neoliberais e de direi- peculação imobiliária; garantir a mobilidade ção do povo, mais avançado será o desenho ta, o bloco conservador, dependente e mono- urbana combater a concentração fundiária e do mundo pós-crise. Mas também depende- polista, capitaneado pelo PSDB. Por isso, a o agronegócio, aumentar os índices de pro- rão do confronto de interesses entre diferen- UNE não pode vacilar e deve deixar claro que dutividade da terra, alterar a legislação para tes Estados e blocos de países – aqueles que não quer o mero continuísmo, mas sim tomar facilitar as desapropriações. 3 pagina13_julho2009.indd 3 29/6/2009 12:59:23
  • 4. JUVENTUDE Educação: do que temos ao que queremos *Regulamentação do ensino privado: não à abertura indiscriminada de cursos, apro- Em nossa sociedade, os sistemas de en- priação comercial do conhecimento, mé- sino foram concebidos para reproduzir a or- todos pedagógicos alienantes, proliferação dem social dominante, seus valores, “visão de taxas e cursos pagos e aumento abusivo de mundo” e ideologia. Portanto, a luta por de mensalidades; pela aprovação do PL de uma alternativa educacional significativa- mensalidades da UNE; fiscalização rigorosa mente diferente, contra-hegemônica, orien- das universidades que aderirem ao ProUni; tando a produção de conhecimento para o não ao ensino à distância como forma de ex- interesse das maiorias está diretamente vin- ções, seminários, comitês, plenárias, aulas pansão desregulada do ensino privado; pelo culada a disputa mais geral da sociedade. A principal luta histórica dos estudantes é públicas em torno do projeto de reforma fim da lista de inadimplentes; abertura das por uma reforma universitária que substitua universitária da UNE. planilhas das instituições privadas. o modelo tutelado pelas oligarquias e cons- trua uma instituição intimamente vinculada Propostas: Os estudantes nos trilhos da transformação aos interesses populares, orientada para con- tribuir para resolver os problemas sociais. *Autonomia: pela garantia do direito da O 51º CONUNE é o fórum ideal para Porém, um dos pilares do avanço neoli- universidade de estabelecer sua organização apresentarmos uma alternativa para o pro- beral era a abertura de setores, historicamen- interna, suas instâncias, gestão, estatutos e blema da organização do movimento estu- te de competência do Estado, à exploração regimentos; vinculação orçamentária das dantil, de sua estrutura, pois esse é um dos direta do capital. Isso ocorreu a educação. verbas e mecanismos democráticos para principais fatores que impossibilitam que a São tempos difíceis para a universidade pú- definir os investimentos; pelo fim das fun- UNE tenha uma relação democrática com blica. dações privadas nas universidades públicas; o conjunto do ME e possibilite uma partici- Diante das medidas do governo Lula para fora PM das universidades para oprimir os pação decisiva dos estudantes no cotidiano. a educação, as divergências legítimas e mes- estudantes e a livre manifestação! Mas para não cairmos no voluntarismo, no mo necessárias acabaram dando lugar a uma *Gestão democrática: paridade entre es- espontaneísmo nem no vanguardismo é im- profunda divisão e dispersão do movimen- tudantes, professores e técnico-administrati- prescindível fazermos um diagnóstico mais to de educação. A ausência de uma propos- vos e participação dos movimentos sociais profundo sobre o ME. ta consolidada do movimento de educação em todos os órgãos colegiados da institui- O ME, portanto, embora seja ainda o impediram uma intervenção que debatesse e ção; instrumentos de elaboração coletiva movimento juvenil mais organizado do país mobilizasse a sociedade brasileira em torno dos planos político-pedagógicos, avaliação está longe de ser a única expressão organi- de nossas propostas, de nossa Universidade. e orçamentos participativos. zada da diversidade da juventude brasileira. Para superarmos esses limites temos uma *Revolução pedagógica: extinção dos de- Temas como emprego e trabalho ganham tarefa desafiadora: promover um processo partamentos; constituir estruturas acadêmicas mais centralidade em um ambiente de altos de retomada das lutas e debates em torno permeáveis à participação democrática da índices de precarização e difícil entrada no do projeto de universidade do movimento comunidade e à interdisciplinaridade; incor- mundo de trabalho. estudantil aprovado no 12º CONEB, impul- porar a diversidade social e cultural dos edu- A falácia de que o problema do desem- sionar, junto com os demais movimentos candos e da comunidade; mudança radical prego entre os jovens é um problema de qua- sociais a luta por uma Universidade De- dos atuais currículos eurocêntricos, sexistas lificação (e não de falta de vagas) aumenta mocrática e Popular. e heteronormativos das nossas universidades. da corrida por diplomas e a procura dos ban- Em um cenário em que o neoliberalismo *Financiamento: derrubada dos vetos de cos acadêmicos em busca de profissionali- é duramente questionado e encontra-se en- FHC ao Plano Nacional de Educação; 10% zação e realização profissional – expectativa fraquecido, é fundamental concentrar esfor- do PIB para educação; pelo fim da DRU que geralmente é frustrada. ços para desfazer o movimento que protago- (Desvinculação das Receitas da União) na Imersos nesta realidade, fatores como... nizou ao longo da década de 1990 no Brasil. educação; recurso público somente para a *a reserva de vagas para estudantes ne- Ou seja, o atual período exige transferir os universidade pública. gros, oriundos das escolas públicas e de bai- setores que passaram a ser alvo da explo- *Democratização do acesso: universali- xa renda; — Edição 79 — JULHO/2009 ração visando a acumulação de capital zação e livre acesso à educação pública em *o Programa Universidade para Todos para espaços públicos não-mercantis, sob todos os níveis; imediata expansão da rede (ProUni); a orientação e gestão do Estado. pública e a adoção de políticas de ação afir- *a expansão dos setores público e pri- Portanto, o sentido estratégico da luta da mativa; fim da meritocracia como base da vado em municípios e regiões distantes dos UNE e do conjunto do movimento de educa- seleção para o ingresso; por métodos seleti- centros urbanos; ção deve estar orientado para uma, mobili- vos com base no combate às desigualdades. *o surgimento de nichos de mercado zando intensa ofensiva político-ideológica *Assistência estudantil: rubrica espe- educacional voltados à população de baixa em favor de uma forte regulamentação do cífica de R$ 400 milhões para Assistência renda; e ensino privado e do fortalecimento do se- Estudantil; concepção universalizante de *o aumento da oferta de cursos notur- tor público estatal da educação os setores política pública que afaste qualquer viés as- nos... populares, principais afetados pelos impac- sistencialista na sua implementação; fortale- ...transformaram o perfil do estudante, tos da crise nos setores público e privado da cer institucionalmente as ações e políticas de tornando-o mais popular e menos elitista e, educação. permanência; criação de órgãos específicos portanto, mais impactado por fatores objeti- É imprescindível o amplo envolvimen- como Pró-Reitorias de Assistência Estudan- vos do lado de fora dos muros universitários. to da rede do movimento estudantil numa til; garantia de assistência estudantil para os Feito este diagnóstico, torna-se evidente grande campanha, que agregue mobiliza- estudantes do ProUni. que a incapacidade de dialogar com esta 4 pagina13_julho2009.indd 4 29/6/2009 12:59:24
  • 5. JUVENTUDE INTERNACIONAL nova realidade entre os estudantes contri- Fortalecer a rede do ME: bui para aprofundar os problemas de le- gitimidade e representatividade da UNE. *Formação política: criação da Coorde- Portanto são essencialmente 3 os desa- nadoria de Formação Política na diretoria da fios que a UNE precisa enfrentar para supe- UNE e da Escola Nacional Honestino Gui- rar esta condição e ampliar sua capacidade marães; Formulação de um Plano Nacional de mobilização e transformação: de Formação Política da UNE. 1)Democratizar sua estrutura e funciona- *Entidades gerais: realizar, durante os mento; CONEGs, fóruns de UEEs, fóruns de DCEs e 2)Incidir no fortalecimento da rede do fóruns de Executivas e Federações Nacionais movimento estudantil; de Cursos; inserir os links dos sites e blogs Acima, 3)Estreitar os laços do movimento estu- das entidades gerais no site da UNE. manifestantes dantil com os movimentos sociais. *Entidades de base: organizar uma car- protestam contra tilha sobre o funcionamento e a gestão dos o golpe militar Democratizar a UNE: Centros e Diretórios Acadêmicos; realizar, de direita que tirou do poder durante os CONEBs, atividades de formação o presidente de *Organização colegiada da entidade: sobre entidades de base e movimento estu- Honduras, Manuel transformar as diretorias em coordenadorias, dantil; envio permanente de boletins específi- Zelaya (foto ao criar as coordenações estaduais da UNE e os cos e orientações às entidades de base. lado). Núcleos de Trabalho Permanentes (NTPs) te- *Produção científica: organizar o I Encon- máticos envolvendo mais pessoas nas formu- tro de Ciência e Tecnologia da UNE; envol- lações e construção das ações. ver os jovens cientistas e pesquisadores na *Potencializar e democratizar a comu- nicação: pelo funcionamento do Conselho rede do movimento estudantil e na construção de uma educação contra-hegemônica. Fora, golpistas!! E Editorial, criar o boletim nacional da UNE, divulgação das teses aos fóruns da UNE Aproximar o ME e os movimentos sociais: nquanto fechávamos esta edição de no site, listas de discussões temáticas dos Página 13, estava em curso um gol- NTPs, orientar as entidades estudantis a in- *Colóquios: que os DCEs e entidades de pe militar em Honduras. O presidente vestir e produzir seus próprios meios de co- base realizem, em cada universidade, coló- eleito, de origem conservadora, vinha assu- municação. quios sobre o papel dos estudantes e dos mo- mindo posições cada vez mais progressistas, *Finanças transparentes e participativas: vimentos sociais na disputa de rumos do país entre as quais a defesa intransigente do fim criação do Conselho Fiscal da UNE; obriga- e da educação brasileira. do bloqueio contra Cuba. Sua atitude mais toriedade de planejamento financeiro cole- *Fóruns: pela criação de espaços perma- recente havia sido respaldar a realização de tivo; tirar Regimento Nacional de Carteiras nentes de diálogo na universidade entre os di- uma consulta ao povo de Honduras, acerca da do papel; pela descentralização da emissão versos movimentos sociais que atuam em seu convocação de uma Assembléia Constituinte. através das entidades estudantis mantendo o entorno e o movimento estudantil. A consulta popular estava marcada para caráter nacional através do “Selo da UNE. *Movimentos nos conselhos: participação o dia 28 de junho. Pouco antes da consulta *Democratizar os CUCA da UNE: pre- das entidades da sociedade civil nos órgãos acontecer, a Justiça (Gilmar Mendes estaria sença proporcional e plural da diretoria na sua colegiados das universidades. por lá???) decretou sua ilegalidade e mandou coordenação nacional; construção de um Se- *CMS: que as UEEs priorizem a constru- os militares recolherem as urnas. O presiden- minário Nacional sobre Cultura com todos os ção da Coordenação dos Movimentos Sociais te Zelaya convocou o povo para ir com ele até DCEs interessados para definir as diretrizes nos estados, com foco na elaboração e defesa o quartel onde estavam as urnas, garantindo da Bienal de Cultura da UNE e para dissemi- de uma plataforma dos movimentos para a re- assim as condições para o povo votar. nar a construção de CUCA. gião e o país. A reação dos golpistas foi prender e de- portar o presidente. Alegando a existência de uma carta de renúncia, o Parlamento —de maioria conservadora— reuniu-se e elegeu — Edição 78 — JUNHO/2009 um novo “presidente” para Honduras. O script lembra o ocorrido recentemente na Ve- nezuela e em muitos outros locais. A novidade é o repúdio generalizado, vin- do dos países latino-americanos e de outras regiões do mundo. A exigência de todos, a começar pelo governo brasileiro, é o retorno à normalidade constitucional, com a volta de Zelaya ao posto que é seu, por mandato popu- lar: o de presidente de Honduras. Seja qual for o desfecho, o ensinamento é claro: a direita, os reacionários, os conserva- dores, continuam aí. Havendo oportunidade, farão o que sempre fizeram: impedir que os governos sejam colocados a serviço da maio- ria do povo. 5 pagina13_julho2009.indd 5 29/6/2009 12:59:26
  • 6. PED 2009 Mulher, petista, de esquerda e socialista Lena Azevedo* Iriny Lopes, atualmente deputada federal em segundo mandato e uma das fundadoras do PT do Espírito Santo, tem história Q uando desembarcou no Brasil no início da década de 50, Nicolas Ge- para contar. E ela começa muito antes da criação do Partido dos orges Korres fugia do desemprego e Trabalhadores e em terras capixabas. da ascensão de forças de direita na Grécia. O monarca George II abrigou o conjunto da extrema-direita, apoiada pelos Estados Foto: Rossana Lana Unidos, dando início, a partir de 1949, às digna, que desenvolveu com moradores da perseguições políticas, seqüestros e torturas região de São Pedro, na época uma das mais contra os comunistas. carentes de Vitória, o projeto “Minha Casa, Nicolas desembarca no país extrema- Minha Vida” (título que o governo Lula deu mente debilitado. Internado em um hospital ao programa habitacional implantado recen- em Minas Gerais, ele conhece Wanda Vito- temente). rino, uma voluntária com quem iria se casar Iriny, em função da luta pela moradia, tempos depois e ter cinco filhos. Um deles, se tornou presidente da entidade em 1982, Iriny Nicolau Corres Lopes, nascida em 12 cargo que ocupou por mais dois mandatos. de fevereiro de 1956, herdaria dele essa in- A Ascam, para além das questões habitacio- quietação com o mundo e a veia de esquerda nais, iniciou um amplo debate sobre a utili- do velho comunista grego. zação de recursos públicos, do FGTS, entre Os pais de Iriny já estavam em Vila Velha outros temas. O reajuste das prestações da (Espírito Santo), quando ela chegou ao anti- casa própria em 56% em meados de 80, fez o go bairro do município, chamado de Paul. número de mutuários inadimplentes aumen- Com 19 anos, ela se juntou aos habitantes da tar sensivelmente e engrossou o coro dos região que iniciavam um movimento contra que reivindicavam habitação digna. a poluição do pó de minério, que para além O bairro Jardim da Penha, na época de de sujar as casas, causava doenças respirató- classe média e com ocupação razoável de rias na população local. O barulho aumentou bancários, se mobilizou contra os aumentos e Iriny e outros acabaram criando a Associa- extorsivos do sistema habitacional. Na épo- ção de Moradores de Paul. ca, Otaviano de Carvalho, que vivia no bair- Tempos depois, a luta foi pelo transpor- ro e viria a se transformar numa grande lide- te. Em Vitória e outros municípios da região rança também dentro do PT, iniciou um pro- metropolitana, assim como em todo país, cesso de mobilização no bairro e Iriny, como começavam a vislumbrar o final da ditadura presidente da ASCAM, apoiou a fundação militar. Foi um período de participação po- da Associação de Moradores de Jardim da pular intensa e no Espírito Santo, a primeira Penha (Amjap), que até hoje é símbolo de bandeira de luta foi o transporte público, na luta por qualidade de vida neste bairro na qual Iriny se integrou. Vieram depois as ma- área norte da capital. nifestações de mulheres contra a carestia, o A mobilização desses vários movimen- direito à água, entre outras. tos resultou na Articulação Nacional de Solo Nesse processo crescente de manifesta- Urbano (Ansur), em nível nacional, da qual ções, Iriny Lopes ajudou a retomar uma arti- Iriny fez parte. A entidade debateu ampla- — Edição 79 — JULHO/2009 culação que resultou na criação do Conselho mente a reforma urbana e foi parte importan- Popular de Vitória, que surgiu após o fórum te na elaboração do capítulo sobre o tema na de moradores de Vila Velha. Constituinte de 1988. Pode-se afirmar que o Era fim dos anos 70, início dos 80. Tra- Estatuto das Cidades, implantado no primei- balhando no Sindicato dos Engenheiros, ro mandato do presidente Lula, é fruto dessa Iriny e outros companheiros discutiam o ampla discussão. alto índice de desemprego desta categoria. Todo o debate nacional não se restringia Foi assim que ela e os engenheiros Silvio às áreas urbanas. Já se discutia a formação Ramos e Margareth Saraiva decidiram fun- do Movimento dos Sem Terra e Iriny não dar a Cooperativa de Engenheiros do Espí- só participou da primeira plenária do MST, rito Santo. O sindicato foi o primeiro a ser como se mantém até hoje parceira na luta retomado pela esquerda em terras capixabas, pela reforma agrária. ainda sob a ditadura militar. Paralelamente ao ativismo social, Iriny Coincidência à parte, foi essa coopera- se juntou aos que achavam que o país deve- tiva, junto com a Ascam (Associação dos ria ter uma alternativa à esquerda no cenário Mutuários do Sistema Financeiro de Ha- partidário, que representasse a voz que sur- 6 bitação), entidade que defendia a moradia gia das ruas. pagina13_julho2009.indd 6 29/6/2009 12:59:26
  • 7. PED 2009 Fundadora do PT no ES Fotos: Arquivo Em 1979, com a “abertura lenta e gra- Lena dual”, sindicalistas, políticos, intelectuais, li- deranças religiosas e dos movimentos sociais começaram um movimento para formação do Partido dos Trabalhadores, mas foi preciso contornar os entraves impostos pela nova le- gislação, que ao mesmo tempo que acabava com o bipartidarismo (na ditadura militar, ha- Foto: Linhares via somente Arena e MDB), impunha dificul- dades para a formação de partidos. Para transpor os entraves burocráticos, foi idealizada uma comissão provisória para a criação do PT. A primeira reunião para cons- tituir a comissão capixaba aconteceu no dia 28 de janeiro de 1980, na Ilha de Santa Maria. Os diretores da comissão deveriam percorrer o Espírito Santo para construir o partido em no mínimo 14 municípios. A despeito das dificuldades, Iriny recorda que os petistas conseguiram formar comissões em 18 muni- cípios, incluindo Grande Vitória e do interior, como São Mateus, Barra de São Francisco, Colatina, Linhares, Cachoeiro de Itapemirim, Ecoporanga, Muniz Freire, Castelo, Guarapa- ri, entre outros. Foi assim que, em 10 de fevereiro de 1980, foi oficializado nacionalmente o Partido dos No sentido Trabalhadores. Uma das primeiras filiadas no horário: Iriny com Espírito Santo, Iriny e outros companheiros a sambista Dona iniciaram a dura trajetória que 30 anos depois Ivone Lara; com o transformou o PT num dos mais importantes ativista GLBT, Cláu- dio Nascimento; com partidos de esquerda da América Latina. o arcebispo de Vitória, O final da década de 70 e os anos 80 foram Dom Luiz Mancilha, durante períodos de efervescência de idéias, de mani- caminhada a Campanha da festações de massa, greves geral em torno das Fraternidade,; com o sambista melhorias salariais, movimentos em que Iriny Monarco e com o presidente Lula. participou, como militante dos movimentos sociais e liderança petista. que protagonizou a grande virada no movi- Direitos civis O desejo de restabelecer a democracia mento dos trabalhadores do Espírito Santo, e, plena no país, com o direito de os brasilei- em Vila Velha, chegou a ser secretária geral A defesa dos direitos civis, em especial ros escolherem seu presidente da República do Conselho Comunitário. a proteção à pessoa, marcou a vida de Iriny depois de quase duas décadas de regime mili- No Partido dos Trabalhadores do Espíri- Lopes, especialmente nos últimos anos. O tar, desembocou num dos maiores movimen- to Santo, Iriny fez parte, desde 1984, da di- combate à violência e à impunidade a fez tos do país, iniciado em 1983, que foi o das reção estadual, já tendo sido presidente por amiga do advogado e jornalista Ewerton Diretas Já. No Brasil, as manifestações iam três mandatos e ocupando as secretarias de Montenegro Guimarães que, juntamente — Edição 79 — JULHO/2009 cada dia mais ganhando adesão até chegar a Formação Política, de Movimentos Popula- com outros aguerridos companheiros, cria- um milhão de pessoas na Praça da Sé, em São res, entre outras, e também integra, há muitos ram o Fórum Reage/ES no final dos anos 90. Paulo. anos, o diretório nacional, tendo composto a A defesa da vida os levou ao combate à cor- executiva nacional por quatro vezes. rupção e ao enfrentamento das organizações Movimentos populares O descenso dos movimentos populares de criminosas que até hoje atuam no Espírito massa nos anos 90 não significou o abando- Santo. Essa luta a colocou em situação de No Espírito Santo, os militantes do PT, no da luta. O processo de democratização do risco de morte, motivo da proteção da Po- dentre eles Iriny Lopes, que já era da dire- país levou os movimentos sociais a rever suas lícia Federal, desde 1999, amparada até em ção estadual, conseguiram realizar o maior formas de luta, sobretudo a partir da eleição determinação da Comissão Interamericana comício da história capixaba, que reuniu 30 de presidentes da República com perfil ne- de Direitos Humanos. mil pessoas na Praça Oito, na região central oliberal, como Fernando Collor e Fernando Decorrente do seu compromisso com a de Vitória. Henrique Cardoso. Iriny manteve a militân- defesa dos direitos humanos, ela foi eleita Antes mesmo das Diretas Já, Iriny havia cia e contribuiu significativamente na luta das deputada federal em 2002, com expressiva sido membro do Comitê Brasileiro de Anis- mulheres, crianças e adolescentes, idosos, votação, e reeleita em 2006. Como parla- tia. No campo sindical, ajudou no processo de índios, quilombolas e negros, pela reforma mentar, integra a Comissão de Direitos Hu- discussão no Sindicato da Construção Civil, agrária e por um Brasil sem homofobia. manos e Minorias (CDHM) da Câmara des- 7 pagina13_julho2009.indd 7 29/6/2009 12:59:27
  • 8. PED 2009 Foto: Rossana Lana Iriny Lopes fala durante reunião do Diretório Nacional do PT de o início do mandato e foi indicada, em Iriny tem marcado sua trajetória com duas Flávio toca no Samba a Trinta --isso sem falar março de 2005, a primeira mulher a presidir linhas de ação, que no seu entender são com- Banda Boa, que ele e Iriny criaram em Lima a comissão, com amplo apoio dos movimen- plementares: o desenvolvimento econômico e Duarte e que até hoje desfila no carnaval de lá. tos sociais. a defesa dos direitos humanos. A perspectiva Iriny mantém uma relação de amizade e Iriny integrou o Conselho de Ética da Câ- de desenvolvimento, para a parlamentar, está apoio incondicional ao samba capixaba, tan- mara e relatou o processo que culminou com pautada pela criação de emprego e renda e na to nas agremiações como na velha guarda. É a cassação do mandato do deputado André redução das desigualdades sociais. Assim, or- dela uma emenda parlamentar que além de Luiz, por tentativa de extorsão a um empre- ganizou seminários para debater a questão de destinar há vários anos recursos para o Car- sário carioca. Na Comissão Mista que apurou exploração do pré-sal, abordando as tecnolo- naval de Vitória, propiciou, a partir de 2009, evasão de divisas (a CPMI do Banestado), gias e a qualificação necessária para inclusão em parceria com a Companhia de Desenvol- Iriny contribuiu com vasto material compro- de trabalhadores locais na cadeia produtiva. vimento de Vitória (CDV), oficinas minis- batório de ilícitos cometidos por empresários tradas por nomes de expressão nacional em — Edição 79 — JULHO/2009 e políticos, mas o relatório acabou não sendo Cultura em casa vários quesitos para os integrantes de escola votado devido à manipulação do presidente de samba. Do enredo, percussão, mestre-sala da comissão, um parlamentar do PSDB. Mineira de Lima Duarte, Iriny escolheu o e porta-bandeira, alegorias, entre outros as- Em 2009, Iriny foi indicada relatora da Espírito Santo para viver. Como nas lutas po- pectos, ficou a idéia de criar, num futuro uma CPI das Escutas Telefônicas Clandestinas, líticas, foi em terras capixabas que ela criou os escola técnica para qualificar cada vez mais em substituição ao deputado federal Nelson três filhos que tem com Flávio Lopes: Caroli- essa atividade que é expressão de um povo, Pellegrino (PT-BA), que se licenciou para na, casada e mãe de Cristal; Nicolas e Flávia. mas também uma espécie de indústria criati- assumir a Secretaria de Justiça do Estado da A cultura é uma paixão em família. Iriny va, capaz de gerar emprego, renda e mobilizar Bahia. Dentre outras recomendações, Iriny lembra que quando saiu de Lima Duarte, aos o turismo regional. pediu o indiciamento do banqueiro Daniel 19 anos de idade, adotou o teatro como forma Candidata à presidência nacional do Parti- Dantas, do Grupo Opportunity, que em dis- de expressão e, com o passar dos anos, partici- do dos Trabalhadores, Iriny vai priorizar dois puta com a Telecom Itália pelo controle da pou de todas grandes lutas da categoria. Che- temas: o debate programático e o papel do Brasil Telecom, utilizou métodos espúrios, gou a atuar como radialista da Rádio Capixa- partido. Mas isto fica para a próxima edição dentre eles grampos ilegais (os representantes ba. Hoje, a filha Carolina é produtora cultural. de agosto do Página 13. da Telecom Itália também foram indiciados Nicolas, formado em Artes Cênicas, tem um pelo mesmo motivo). grupo de teatro e dá aulas em escolas públicas. *Lena Azevedo é jornalista 8 pagina13_julho2009.indd 8 29/6/2009 12:59:29
  • 9. MUNDO DO TRABALHO Os barões estão felizes O diploma de jornalista e a hipocrisia do STF Pedro Estevam da Rocha Pomar* O s senhores togados do Supremo tipo de manifestações que caracterizam a co- de jornalismo desrespeita a Constituição, por Tribunal Federal, à frente o ilibado municação social, é algo muito mais amplo restringir o direito à liberdade de expressão. É ministro Gilmar Mendes, decidiram do que a produção de informações de nature- falsa essa idéia de que o jornalismo profissio- derrubar a obrigatoriedade do diploma de jor- za jornalística. nal seja o repositório da liberdade opinativa. nalista para o exercício da profissão. Como já A mídia hegemônica tem sido um dos pi- São inúmeros os meios de expressão de idéias haviam feito no caso da Lei de Imprensa, não lares da dominação burguesa neste país, es- e opiniões. E, não menos significativo, a mui- se preocuparam em preencher o vácuo criado pecialmente em sua fase neoliberal. Mas não to poucos, nos milhares de jornalistas, é dada com a supressão do diploma. é o diploma de jornalismo que faz desta mí- a oportunidade de expressar sua opinião, e a Pretexto: garantir a “liberdade de expres- dia um carrasco da liberdade de expressão, e pouquíssimos a liberdade incondicional de são”, conforme solicitou o Ministério Público sim o caráter oligárquico de jornais, revistas e escolha e tratamento dos seus temas”. Federal (MPF), autor da ação judicial contra emissoras (de rádio e TV) sempre preocupa- “A matéria-prima essencial do jornalis- o diploma. Verdadeiro motivo: atender aos dos em perpetuar o capitalismo e o apartheid mo contemporâneo”, continua Jânio, “não interesses dos conglomerados de mídia, an- social existentes no Brasil. é a opinião, é a notícia. Ou seja, a informa- siosos em desregulamentar a profissão e au- Os grupos de mídia, como Globo, Abril, ção apresentada com técnicas jornalísticas mentar seu já dilatado poder no processo de SBT, Folha, já configuram um dos principais e, ainda que a objetividade absoluta seja um formação e contratação de jornalistas, varren- setores da economia nacional, com receita problema permanente, sem interferências de do desse modo quaisquer veleidades de inde- anual de bilhões de reais cada um e interes- expressão conceitual do jornalista. A grande pendência intelectual e pensamento crítico ses em diversas áreas, inclusive a financeira massa da produção dos jornalistas profissio- que esses profissionais possam ter. e a imobiliária. Tornaram-se importante ator nais não se inclui, nem remotamente, no di- Questionado sobre as iniciativas de vá- político, participando ativamente da elabo- reito à liberdade de expressão” (Folha de S. rios parlamentares, que, no Senado e na Câ- ração e execução dos projetos de dominação Paulo, 21/6/09). mara Federal, falam em apresentar projetos de classe. Alguns jornalistas foram cooptados O MPF ganhou um aliado na ação judi- de lei com a finalidade de reabilitar o diplo- por esse oligopólio e se tornaram porta-vozes cial: o Sindicato das Empresas de Rádio e TV ma, o presidente do STF advertiu: “Não há desses projetos. Mas a massa dos jornalistas, do Estado de S. Paulo (Sertesp), capitaneado possibilidade de o Congresso regular isso, que é assalariada, luta para manter a dignidade pela Globo. Portanto, nada mais natural do porque a matéria decorre de uma interpreta- frente a condições de trabalho desfavoráveis. que a Globo festejar publicamente a queda do ção do texto constitucional” (Estadão, 24/6, A esmagadora maioria desses jornalistas diploma. A gloriosa Folha de S. Paulo fez a A12). Tenta proibir a retomada da discussão dispõe de reduzida autonomia na execução de mesma coisa, em editorial. Estão felizes: gra- e, para criar confusão, ameaça cassar o alva- tarefas (e particularmente na elaboração de ças ao STF, começaram a desmontar a regula- rá de outras profissões. matérias). Como bem definiu o veterano jor- mentação profissional dos jornalistas. Muita gente, até mesmo na militância nalista Jânio de Freitas: “É um argumento rús- social e política de esquerda, é contrária à tico a afirmação de que diploma obrigatório *Pedro Estevam da Rocha Pomar é jornalista exigência do diploma, por acreditar no pos- tulado liberal de que tal exigência agride a liberdade de expressão. Postulado esse de- fendido pela Corte Interamericana de Direi- tos Humanos, ligada à OEA, que desde 1985 condena a exigência do diploma. Outro mote do ataque ao diploma é o fato de o Decreto- Lei 972, que instituía sua obrigatoriedade, ter sido obra da Junta Militar de 1969, em — Edição 79 — JULHO/2009 plena Ditadura portanto. Ocorre que a exigência do diploma nada tem a ver com a liberdade de expressão. O jornalismo é uma profissão e, como tal, pres- supõe: a) certos critérios para ser exercido, e b) uma relação de trabalho, que condiciona- rá seu exercício, bem como as condições de vida do jornalista. O jornalista profissional deve viver do seu trabalho, que é o de produzir informações relevantes (e, eventualmente, opinião) sobre questões as mais variadas. A produção e o consumo de informações jornalísticas são, no entanto, apenas parte da esfera da comunica- ção social. A expressão humana, ou seja, todo 9 pagina13_julho2009.indd 9 29/6/2009 12:59:30
  • 10. SAÚDE Saúde: tem que ser para todos O colapso do setor saúde não se consumou nos anos de modo geral não teve força política para regulamentar 1990, em função de intensa luta política que tinha essa conquista. o PT como agente político coletivo, mobilizador Em 2008, uma Comissão Especial da Câmara dos De- e organizador. Em 2000, manejando também as con- putados, presidida pelo deputado Antonio Palloci (PT- tradições e interesses políticos do governo federal da ép- SP) e relatada pelo membro da base governista deputa- oca, conseguimos inserir na Constituição a vinculação de do Sandro Mabel (PR-GO), aprovou a reforma tributária percentuais orçamentários para as "ações e serviços públi- proposta pelos ministérios do Planejamento e da Fazen- cos de saúde", nos planos municipal, estadual e federal. da, cuja essência é o retorno puro e simples ao estado Mas, nessa ocasião, o movimento popular e progressista da arte anterior à Constituição Federal de 1988. Ricardo Menezes* D ilma Rousseff terá uma dificuldade ismo econômico desprovido de bom senso era Fernando Henrique Cardoso e quando durante o processo eleitoral: discutir político, chegaram até, na peça orçamentária José Serra era o ministro da saúde. A emenda os problemas do setor saúde com o proposta para 2004, a tentar retirar recursos alterou pontos da Constituição de 1988, para candidato da oposição, ex-ministro da saúde da Saúde para o Programa Fome Zero, o que tornar minimamente provido de recursos or- do país. Isso porque em nenhum momento ensejou a apresentação de reclamação ao çamentários o Sistema de Saúde nacional. da nossa história recente, depois da promul- Ministério Púbico Federal por dois militantes O projeto de lei complementar proposto por gação da Constituição Federal de 1988, se petistas. Na seqüência, o presidente Lula de- Tião Viana: tentou desfinanciar a área de proteção social terminou ao Ministério da Fazenda que refiz- a) estabelece que, progressivamente, a como agora, caso a reforma tributária --que esse a peça orçamentária. O fundamentalismo União chegará ao patamar de 10% de suas não incide de forma progressiva sobre renda econômico expôs o presidente Lula, no início receitas correntes brutas alocadas, anual e patrimônio, longe disso, mas ameaça des- do seu primeiro mandato, a injustificável con- e obrigatoriamente, na saúde, ao invés do montar o campo da proteção social-- seja strangimento político. — Edição 79 — JULHO/2009 cálculo atual que prevê que seja alocado aprovada como está. Dilma Rousseff se defrontará com outra o montante do ano anterior acrescido da A dita reforma tributária extingue as con- dificuldade: desde 1980 a União, o ente fed- variação nominal do PIB; tribuições sociais --sobre o lucro, o fatura- erado que mais arrecada tributos, vem se re- mento e outros--– estabelecidas na Constitu- tirando progressivamente do financiamento b) mantém o já disposto na Constituição: ição. Necessário enfatizar: as contribuições do Sistema de Saúde nacional. Além disso, estados e municípios são obrigados a alo- sociais destinam-se à saúde, previdência so- o projeto de lei complementar proposto pelo car na saúde, anual e obrigatoriamente, cial e assistência social (seguridade social), senador Tião Viana (PT-AC), aprovado no Se- respectivamente, 12% e 15% de seus or- educação e trabalho. nado Federal por unanimidade, encontra-se çamentos; Dilma Rousseff se defrontará com outro tramitando na Câmara dos Deputados desde c) define o que vem a ser despesas com empecilho, ao discutir os problemas do setor maio de 2008. ações e serviços públicos de saúde, a saúde durante o processo eleitoral: ministros Esse projeto regulamenta a Emenda Con- fim de evitar fenômenos semelhantes à da Fazenda e do Planejamento do governo stitucional nº 29, de 13 de setembro de 2000 já mencionada tentativa de retirar do or- Lula (2003-2009), não só se opuseram --e até (EC nº 29/2000), que resultou de proposições çamento da saúde recursos para o Pro- agora continuam se opondo-- à regulamen- dos então deputados federais Waldir Pires grama Fome Zero e a prática de estados tação do financiamento da saúde no Brasil; (PT-BA) e Eduardo Jorge (PT-SP), sendo e grandes municipalidades de considerar 10 como também, revelando um fundamental- aprovada quando o presidente da República pagina13_julho2009.indd 10 29/6/2009 12:59:30
  • 11. SAÚDE “despesa com ações e serviços públicos plexidade --nessas circunstâncias, a depender para 18,5% da população, que tem direito a de saúde” o pagamento de funcionários do procedimento, via de regra essas pessoas serviços ligados a planos ou seguros de saúde, aposentados, entre outros. O que alegam utilizarão os serviços do SUS, mesmo que cuja parcela ponderável também utiliza os estados e grandes municipalidades para tenham formalmente direito a planos ou se- seguintes serviços no SUS: assistência de alto considerar funcionários inativos como guros de saúde. custo e de alta complexidade, assistência em “despesas com ações e serviços públicos Já setores das camadas médias, não sin- urgência e emergência, assistência ao câncer, de saúde”? Ausência de regulamentação dicalizados, pagam planos ou seguros de assistência às pessoas com HIV/AIDS e cer- da Constituição de 1988 ou, mais precisa- saúde. Registre-se que são altos os valores tas enfermidades infecciosas, assistência aos mente, do que foi inserido na mesma pela das mensalidades e que as pessoas realizam transplantados (a legislação, acertadamente, Emenda Constitucional 29/2000; esses dispêndios não porque querem, mas delimita esses serviços como atributo do pod- porque o acesso --ambulatórios e outros re- er público), dentre outros. d) estabelece normas de fiscalização, aval- cursos-- ao SUS não foi concebido, a partir Renúncia fiscal é algo que se faz porque iação e controle dos três entes federados, dos anos 1990, para absorver essa parcela da desta forma, no limite, o poder público con- quanto à alocação de recursos orçamen- população. tribuiria para garantir direitos sociais - e a tários, anuais e obrigatórios, na saúde. Se- O fato: a renúncia fiscal se faz presente saúde é um deles, melhores condições de vida gundo estudo do Ministério da Saúde rela- até que dificuldades diversas levem essas pes- e talvez um pouco mais de felicidade aos ci- tivo ao exercício de 2006, de 27 estados soas a não poder contratar mais tais planos ou dadãos e às cidadãs, sem grandes perdas de da federação, dezoito alocavam menos do seguros (perda do emprego, dentre outros). arrecadação. Mas esse não é caso da saúde, que 12% na saúde, ou seja, descumpriam Reiteramos: inscritos em planos ou seguros porque a renúncia é grande, estimando-se que o que está disposto na Constituição. Den- de saúde, caso precisem de assistência de alto traduza um patamar elevado em relação ao to- tre eles, os estados mais prósperos: Rio custo ou de alta complexidade, a depender do tal do investimento privado na saúde. Grande do Sul (4,41%), Minas Gerais procedimento, via de regra utilizarão os ser- Ou seja, a União, nesses termos, é uma (6,04%), Rio de Janeiro (10,27%), Bahia viços do SUS. espécie de co-financiadora indireta de empre- (11,44%), São Paulo (11,63%) e assim Observe-se, ainda, que os serviços de sas de planos e seguros saúde. Informação de por diante. saúde de natureza coletiva somente são pres- técnico do IPEA, atualmente no Ministério da tados à população brasileira pelo SUS. Saúde, aponta a complexidade da mensuração Dilma Rousseff se defrontará com um Segundo dados do IBGE (2008), em rela- do volume da renúncia fiscal --pessoa física empecilho adicional, em meio ao processo ção aos serviços assistenciais 81,5% da popu- e jurídica--, ao passo que Nelson Rodrigues eleitoral, ao discutir os problemas do setor lação utilizam os serviços do SUS e não são dos Santos, professor da UNICAMP, estimou saúde: certas vertentes políticas e até parcela beneficiários ou pagam planos ou seguros de algo em torno de 12 bilhões de reais por ano. do PT parecem convencidos de que as cama- saúde, enquanto 18,5% são beneficiários ou Por que não se prioriza politicamente im- das médias querem, ou têm a expectativa de pagam planos ou seguros de saúde, o que não plantar de vez no nosso país um Sistema de pagar planos ou seguros de saúde para aces- quer dizer que não utilizem também serviços Saúde nacional para todos, regulamentando- sar serviços assistenciais (assistência médica, vinculados ao SUS. se já o financiamento da saúde e garantindo- odontológica, entre outros). Isto é um enorme É sabidamente pequeno o investimento se, assim, fontes estáveis municipais, estadu- equívoco político e, de outro lado, constitui per capita de recursos públicos na saúde, ais, do Distrito Federal e da União, o que uma análise que não incorpora o fato de que o considerando o padrão de desenvolvimento propiciaria com o tempo eliminar a renúncia Sistema de Saúde nacional não se resume ao econômico do Brasil, para atender a esmaga- fiscal na saúde e, ainda, agregar recursos ad- edifício assistencial. Isso tem conseqüências dora maioria da população brasileira que não vindos da implementação de arrojado pro- políticas negativas e, em outra dimensão, gera tem direito a serviços assistenciais ligados cesso de ressarcimento ao SUS, previsto na iniqüidade e agrava a desigualdade social. a planos ou seguros de saúde, junto com os Lei 9.656, de 3 de junho de 1998, e que, hoje, A gigantesca renúncia fiscal --pessoa físi- serviços de saúde de natureza coletiva que não vem sendo executado com a abrangên- ca e jurídica—que a União vem estimulando somente são prestados pelo SUS; cia devida pela Agência Nacional de Saúde desde 1990, se deveu à existência de fortes É daquele pequeno investimento per capi- Suplementar? interesses econômicos e políticos contrários à ta de recursos públicos na saúde, alocados no organização de um Sistema de Saúde nacional SUS, que se originam os recursos do custeio Ricardo Menezes é sanitarista e militante do PT — Edição 79 — JULHO/2009 para todos os brasileiros e todas as brasileiras. Na prática, sindicatos poderosos, que rep- resentam a minoria da população brasileira, A gigantesca renún- negociam planos ou seguros de saúde com o patronato, processo no qual se encontra pre- cia fiscal que a União sente a renúncia fiscal da União. Nas dimen- vem estimulando desde sões política e ideológica, objetivamente se 1990, se deveu à existên- dá a retirada de segmento pujante e organiza- do da classe trabalhadora, da frente em defesa cia de fortes interesses do Sistema de Saúde nacional para todos. econômicos e políticos Isso caminha até que os trabalhadores contrários à organização percam o emprego ou se aposentem --nessas duas circunstâncias os trabalhadores deixam de um Sistema de Saúde de ser alvo do negociado entre dirigentes sin- nacional para todos os dicais e o patronato; ou, ainda que precisem brasileiros. de assistência de alto custo ou de alta com- 11 pagina13_julho2009.indd 11 29/6/2009 12:59:31
  • 12. PESCA E AQUICULTURA Ministério na área Lula cumpre compromisso assumido em 2002 Altemir Viana e Rosana Ramos* O presidente Lula sancionou no dia 26 de junho a lei que cria o Ministério da Pesca e Aqüicultura e a nova lei da pesca e aqüicultura. As duas novas leis representam uma importante vitória para o setor. A nova lei, que tramitava há 14 anos no Congresso Nacional, define as regras para o exercício da pesca e os instrumentos de apoio ao seu desenvolvimento; reconhece os pescadores e aqüicultores como produtores rurais e beneficiários da política agrícola; in- José Fritsch, primeiro titular da Seap Altemir Gregolin, ministro troduz a preocupação com a sustentabilidade dos recursos pesqueiros; e reconhece como O orçamento do Ministério da Pesca e “As duas leis – a da pesca e a que cria trabalhadoras da pesca as mulheres que de- Aqüicultura para desenvolver as políticas pú- o Ministério da Pesca e Aquicultura sempenham atividades complementares à blicas do setor terá que chegar a pelo menos 1 - são extremamente importantes para pesca artesanal, como conserto de rede, be- bilhão de reais anuais para permitir a efetiva- neficiamento e comercialização da produção. ção dos programas necessários ao desenvolvi- o desenvolvimento do setor. A criação A criação do Ministério da Pesca e Aqüi- mento do setor. Nos primeiros cinco anos da do Ministério vai significar a con- cultura representa mais poder de decisão e Seap, a dotação orçamentária variou de manei- solidação das políticas de estado de mais recursos para apoiar o desenvolvimento ra crescente de 90 a 130 milhões. Neste ano, longo prazo para o potencial aquícola do setor. A nova estrutura do Governo Fede- orçamento previsto é de 464 milhões de reais. e pesqueiro brasileiro, além de ser ral atende aos compromissos da Carta aos O Brasil poderá triplicar o emprego, uma demonstração do compromisso Pescadores, assinada pelo presidente Lula a renda e a produção de pescado, no curto do governo com essa atividade”. em agosto de 2002. prazo, desenvolvendo o mercado interno e Já como resposta à carta, o presidente se tornando um dos maiores fornecedores Altemir Gregolin – ministro de assinou em 2003 uma Medida Provisória mundiais do produto. Para isso, precisamos Estado da Pesca e Aquicultura criando a Secretaria Especial de Aqüicultura vencer alguns desafios. e Pesca (Seap), ligada à Presidência da Re- Um deles é a implementação de um mo- dios para os países ricos. pública e com status de Ministério. delo de produção que tenha como fundamen- Por fim, um importante desafio é o forta- A transformação da Seap em Ministério to a sustentabilidade ambiental e a inclusão lecimento das organizações do setor, para que da Pesca e Aqüicultura garante maior estabili- social. O modelo produtivo deve ainda ser aprofundar a democracia e garantir o controle dade institucional e perenidade das políticas; gerador de trabalho, emprego e renda, além social do Estado. É preciso interlocutores for- põe fim às descontinuidades que caracteriza- de ser capaz de garantir a cidadania às popu- tes junto aos pescadores e aqüicultores. Nes- vam a intervenção dos governos nas últimas lações que vivem da pesca e aqüicultura. te sentido, é necessário garantir a realização quatro décadas; permite a resolução dos pro- Outro desafio é o desenvolvimento da ca- das Conferências Nacionais de Aqüicultura blemas das competências, atualmente disper- deia produtiva em seu conjunto. É necessário e Pesca, bem como, fortalecer e aperfeiçoar sas em vários órgãos do governo federal. encurtar o seu tamanho, aproximar mais o o Conselho Nacional de Aquicultura e Pes- — Edição 79 — JULHO/2009 A nova estrutura garantirá um corpo pescador e o produtor do consumidor, redu- ca (Conape). Além de estimular os governos técnico permanente por meio de concursos, zir custos e melhorar a qualidade. É de fun- estaduais e as prefeituras a criarem espaços saindo da situação de dependência de cessão damental importância ampliar o associativis- colegiados e instâncias coletivas, como os de servidores de outros órgãos, política esta mo e o cooperativismo pesqueiro e aqüícola; conselhos estaduais e municipais para defini- que deixava a Secretaria numa situação mui- aprofundar as políticas de crédito, assistência ção de políticas de desenvolvimento do setor. to frágil e com grande rotatividade de servi- técnica e extensão, comercialização e infra- Estas mudanças ampliarão as disputas dores gerando instabilidade funcional. estrutura; criar o Banco Nacional de Dados pelo controle e pela orientação política do Pesqueiros, capaz de subsidiar a construção e novo Ministério. Enfrentaremos essas dis- Desafios do próximo período implementação das políticas públicas. putas qualificando nossa linha, ampliando as No plano internacional, há a necessidade relações com o partido, organizando a base O próximo período exigirá investimentos de garantir os interesses brasileiros no mer- social e ampliando os mecanismos de contro- significativos em infra-estrutura, demarca- cado europeu e aprovar da proposta brasi- le social, participação popular e gestão com- ção de parques aqüícolas, estruturação das leira na Organização Mundial do Comércio partilhada. comunidades pesqueiras e políticas de crédi- (OMC), permitindo a aplicação de subsídios to, construção da frota nacional, assistência para a pesca no Brasil e nos países do eixo *Altemir Viana e Rosana Ramos são 12 técnica e capacitação. Sul-Sul, e restringindo esses mesmos subsí- militantes do PT pagina13_julho2009.indd 12 29/6/2009 12:59:31