O documento descreve a história das bandas musicais da cidade de Avaré ao longo dos anos, incluindo a Banda Musical Itagyba fundada em 1872, a Banda do Padre Celso formada em 1948 para crianças órfãs, e a popular Banda Marcial do Instituto de Ensino "Sedes Sapientiae". As bandas eram um importante veículo de entretenimento e formação de cidadãos, embora atualmente estejam em risco de extinção.
1. Avaré e suas bandas
musicais
Os acordes do maestro Itagyba
Os meninos músicos do Padre Celso
Banda Marcial, inesquecível
Celeiros de talentos.
2. Avaré e suas bandas musicais.
Tendo herdado a disciplina e a organização das bandas militares, as bandas civis
tornaram- se um veículo de entretenimento coletivo, atuando em movimentos
políticos, acontecimentos religiosos, cívicos e sociais.
Em Avaré, a primeira banda surgiu há 130 anos. Assim o cronista Jango Pires narra
o episódio:
“1879- O dia 4 de março assinala a passeata pelas ruas do Rio Novo da primeira
Banda de Música- A União dos Artistas- sob a regência do maestro Bartolomeu de
tal (Nhosinho Músico). Dela faziam parte pessoas de grande projeção social:
farmacêutico, o advogado Ladislau Monteiro, o professor Luiz Custódio Lopes e um
vereador”.
Outros grupos surgiram nos anos seguintes. Os italianos, em 1898, criaram a Banda
“14 de Março” em homenagem a Humberto I, monarca da Itália. Regida por Primo
Carniti, integravam- na gente de sobrenomes importantes como Montebugnoli, Lutti,
Mercadante, Padredi, Baldassari, Orsini, Brandi, Poli, Paschoal, Durço, Verpa,
Donateli, Lali e Peregrine.
Em 1901, essa corporação foi reorganizada e receu o novo nome de Sociedade
Musical Giuseppe Verdi. Para manter as retretas dominicanas, tômbolas eram
promovidas oferecendo o prêmio de cinco libras esterlinas.
Graças aos esforços do maestro Sebastião Filadelfo Marques, aparece em 1906 a
Banda Musical São Benedito, integrada por jovens da época, dentre os quais o futuro
jornalista e escritor Gabriel Marques, filho do regente.
3. Os acordes do maestro
Itagyba.
Organizada em 1872 pelo fundador, a Banda Musical Itagiba marca época.
Conduzida pela batuta do maestro João Batista Itagiba, que também rege o
coro da velha matriz de Nossa Senhora das Dores, essa corporação,
segundo Jango Pires, “deixou viva lembrança nos avareenses que a
conheceram”.
Nos primeiros tempos os seus músicos usam uniformes de tipo militar
francês. “vestiam- se com apuro e marchavam com garbo”, enfatiza,
informando que eles depois trocaram a indumentária por trajes civis, “sem
perderem, contudo, as qualidades que serviam para atrair as amizades do
povo”.
A célebre Banda Itagyba teve entre seus componentes figuras de destaque
como Joaquim Thiago dos Santos (mais tarde, sacerdote católico) e o
porta- estandarte José Balbino Negrão, pai do advogado e memorialista
Joaquim “tininho” Negrão.
Antigamente, comuns eram as chamadas retretas, como se chamavam as
exibições das bandas nas praças. Em Avaré, as retretas do Largo São
João, concorridas, reuniam autoridades, personalidades e muito populares.
5. Os meninos músicos do Padre Celso
Natal de 1948. durante a procissão das crianças, após a missa na Matriz,
apresenta- se em público pela primeira vez a Banda de Música do Orfanato
São Nicolau. Para formá-la, o padre Celso Diogo Ferreira, pároco
empreendedor, adquiriu instrumentos usados de uma fanfarra extinta de
Botucatu.
Para instruir os meninos ele conta com a colaboração dos músicos
valorosos como Astrogildo Prestes, Antonio Prestes, Álvaro Filgueiras e dos
irmãos Santili e Paulo de Paschoal.
Com 40 membros, a bandinha é o atrativo da cidade. No dia da Pátria, em
1949, os pequenos instrumentistas interpretam no Largo São João marcha
“Viva o Brasil”. Assim a fama da Banda Padre Celso logo se espalha e em
1955 a corporação se apresenta na Rádio Nacional, no Rio de Janeiro.
Também faz memoráveis exibições em Piracicaba e na Basílica de
Aparecida.
Sob regência do maestro Filgueiras, nos anos 60, alguns dos membros da
Banda Monsenhor Celso se profissionalizam e hoje são músicos de
carreira. Após 20 anos de formação, o grupo infelizmente acaba com a
saída do seu criador, mas a saudade ficou.
7. Banda Marcial, inesquecível
Outra corporação musical brilha na cidade: a Banda Marcial de
Avaré, integrada por alunos do Instituto de Ensino “Sedes
Sapientiae”. Apoiada pela escola e pela Prefeitura, o grupo de
músicos instrumentais obtem da Secretaria Estadual de Turismo a
doação de vários instrumentos.
Diferente de outras bandas, a Marcial apresenta- se ao ar- livre e
incorpora movimentos corporais- geralmente algum tipo de marcha-
à sua apresentação musical. Além disso, utiliza duas classes de
instrumentos musicais: os metais, e a percussão. Com isso sua
música inclui um ritmo forte, adequado à marcha.
Enquanto durou, a Banda Marcial do “Sedes” sagrou- se campeã
paulista e figurou ente as quatro melhores do Brasil num concurso
nacional do gênero. Em setembro de 1974, o jornal “O Avaré” assim
descreve com realce:
8. “desfilando às 9 horas da manhã e aplaudida por
milhares de pessoas postadas ao longo do trajeto, a
nossa Banda Marcial trouxe para as ruas de Avaré a
sua mensagem de saudades; uma centena de figuras
no vistoso fardamento; porte varonil e a
musicalidade. Sonhado pelo professor Azurara,
plantado por padre Salústio, continuado por
monsenhor Celso e dinamizado pelo professor Celso
Ferreira, por João Baptista de Andrade e uma plêiade
de jovens atuais diretores, o instituto de Ensino
“Sedes Sapientiae” jamais se apartou da tradição
avareense. Num atestado do mais sentido amor e do
mais alto civismo, a nossa Banda Marcial reedita a
façanha maestrina como Amílcar Montebugnoli,
Benedito Pontes, Álvaro Filgueiras e tantos outros”.
10. Celeiros de talentos
No Brasil atualmente existem cerca de 1.500 bandas. Cada corporação é
um centro gerador de novos gêneros musicais e de um vasto repertório de
chorinhos, marchas e dobrados.
Das manifestações da cultura nacional essa é uma das mais populares,
pois onde havia um coreto, existia uma bandinha, orgulho da cidade.
Como instituição, a banda de música transcende o aspecto músico-cultural,
para se revestir do aspecto social. Por meio delas muitos talentos se
revelam, melhores cidadãos se formam e, não raro, dentre os seus
instrumentistas, surgem lideranças importantes para a comunidade.
Só para citar dois maestros por excelência: o genial Carlos Gomes (1836-
1896), nosso mais importante compositor de ópera, fez parte de uma banda
em Campinas, sua terra natal. E o internacionalmente conhecido Eleazar
de Carvalho (1912-1996), que por muitos anos regeu a Orquestra Sinfônica
Brasileira, tocava baixo - tuba na banda dos Fuzileiros Navais.
Hoje, contudo, as bandas estão desaparecendo. Com o desenvolvimento a
cultura de massa essa rica e alegre tradição brasileira corre sério risco de
extinção.