5. Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa, transformada num dos mais belos poemas de Fernando Pessoa: “navegar é preciso; viver não é preciso”.
6. Estive a analisá-la e ousei em pensar: quero para mim o espírito desta frase. Quero adequá-la à minha forma de ser, casando-a exatamente ao meu estágio atual de vida.
7. Viver não é necessário; o que é necessário é criar. Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la, penso.
8. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenham de ser o meu corpo e a minha alma a lenha desse fogo.
9. Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de perdê-la como minha. Cada vez mais penso assim.
10. Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade.
11. É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa raça.
12. Não sou o autor dessa mensagem, embora tenha comparado seu conteúdo ao que tenho escrito e ao que tenho pensado após me informar um pouco mais acerca de pensadores.
13. Na verdade, “navegar é preciso”, para mim, é criar, vivenciar, aprender, ensinar, fazer, acontecer, estar inserido em contextos positivos, amar, ser amado, ser útil, crescer, ser melhor.
14. Mas sempre indago: o que pretendeu Fernando Pessoa, de verdade, com a frase que dá início a um de seus belos poemas? Não encontrei quem me fornecesse um sentido no mínimo racional.
15. Alguém disse o seguinte: “ Até hoje nunca se chegou, e nunca se chegará, a um consenso sobre o significado que Fernando Pessoa deu a esta antiga frase que inicia seu poema.
16. Basicamente existem duas linhas: uma com precisão no sentido de necessidade e outra no sentido de precisão, exatidão. A frase original é atribuída a Pompeu, que teria afirmado " Navigare necesse; vivere non est necesse ".
17. Uma argumentação é recorrer ao original para mostrar que Pessoa se referia à necessidade, o que parece ser confirmado quando afirma no poema que viver não é necessário.
18. Pois é justamente nesses pontos que me apego para interpretá-la diferentemente.
19. Por que Pessoa não usou a tradução mais fiel da frase em latim " Navegar é necessário; viver não é necessário "? Por que usou de forma ambígua a palavra "preciso"? De propósito?
20. Quando alguém afirma que viver não é preciso, está diminuindo a importância da vida, algo difícil de imaginar em um cristão como Pessoa.
21. E logo depois afirma " viver não é necessário; o que é necessário é criar" . Como criar se não estiver vivo?
22. Parece-me que Pessoa quis ressaltar que a vida ia além de uma simples sobrevivência, era preciso ter uma atitude ativa diante dela, o que se manifesta pela criação.
23. Portanto o sentido do verso inicial seria de que a navegação se tornava uma ciência precisa, no sentido de exata, graças ao avanço tecnológico da Escola de Sagres. A vida não tinha, e nunca terá, esta exatidão.
24. Quando Pessoa se refere ao fogo, está se referindo à criação; o homem participa de corpo e alma do viver. A vida se torna grande quando se cria, quando se participa de ideais grandiosos, quando se integra à humanidade.”
25. E assim vai o colunista, dando mais versões à intrigante frase, mas também não deixa de reconhecer o oculto proposital de um dos maiores mestre da história das letras. “Navegar é preciso” sempre vem à baila quando alguém quer justificar com maestria uma defesa, uma opinião, uma situação importante.
26. Reflitam sobre um trecho do discurso de Ulysses Guimarães, como presidente Nacional do MDB, quando da aceitação de sua candidatura à Presidente da República, na VI Convenção Nacional do Partido, em 1973.
27. “ Senhores Convencionais, a caravela vai partir. As velas estão pandas de sonho, aladas de esperança. O ideal está no leme e o desconhecido se desata à frente.
28. No cais alvoroçado, nossos opositores, como o Velho do Restelo de todas as epopéias, com sua voz de Cassandra e seu olhar derrotista, sussurram as excelências do imobilismo e invencibilidade do estabilishment .
29. Conjuram que é hora de fiar e não de se aventurar. Mas no episódio, nossa carta de marear não é de Camões e sim de Fernando Pessoa ao recordar o brado: "Navegar é preciso, Viver não é preciso."
30. Posto hoje no alto da gávea, espero em Deus que em breve possa gritar ao povo Brasileiro: Alvíssaras, meu capitão. Terra à vista! Sem sombra, medo e pesadelo, à vista a terra limpa e abençoada da liberdade.”
31. AUTOR: DESCONHECIDO E aí vai minha opinião simples e modesta sobre a célebre frase, considerando que muito já se falou a respeito: navegar exige um conhecimento calculado, previsível, já viver, não.Então que tal viver muito para navegar mais e com mais experiência? Viver a vida como próprio Pessoa define em outro poema:
32. AUTOR: DESCONHECIDO Abasteça seu coração de fé, não a perca nunca. Alague seu coração de esperanças, mas, não deixe que ele se afogue nelas. Se achar que precisa voltar, volte! Se perceber que precisa seguir, siga! Se estiver tudo errado, comece novamente. Se estiver tudo certo, continue.