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grandes orquestras e os crooners. Estes tiveram relação direta
EDITORIAL
                                    RENATO GRIMBAUM                com a formação da bossa nova, e não somente o samba.
                                                                   Então porque o pop atual deve ser encarado como influência
O atual número é sobre a MPB. E quando vemos a sigla que
                                                                   malévola e uma ameaça à frágil criação nacional? Esta idéia
virou nome, a sua força, a letra que sonoramente se destaca
                                                                   parte de uma falsa polarização, uma cegueira. A idéia de que
é o B. Um B bem grande, de Brasil brasileiro. É interessante
                                                                   toda música pop se assemelha ao heavy metal e sua
como que o amor por este magnético B é tão grande, que
                                                                   agressividade, que seria pasteurizada e estúpida. Mas aí
leva um público específico e a um fragmento da crítica à
                                                                   reside um enorme desconhecimento. A música pop média,
criação de uma reserva de mercado, de uma defesa dos
                                                                   que chega às rádios e edições nacionais na maioria das vezes
valores nacionais mais autênticos. Defensores do brio da
                                                                   preenche esta definição. Mas a música pop é muito mais que
brasilidade. Em nome desta guerra santa, são capazes de
                                                                   isto, mais rica e diversa, e muitas vezes incapaz de ser
ressaltar compositores nacionais medíocres e ao mesmo
                                                                   veiculada num esquema de massificação por não ser de rápida
tempo rejeitar música estrangeira de boa qualidade por a
                                                                   assimilação. Nem toda música pop é massificadora. No caso
considerarem invasora e uma ameaça à forte cultura nacional;
                                                                   do pop, a diferença entre diversão e arte também existe. E o
como se ela não tivesse a menor capacidade de sobreviver.
                                                                   curioso é que a música pop é um dos gêneros mais tem o
Este segmento da inteligência emocional brasileira identifica
                                                                   potencial de expressar com contemporaneidade. E há quem o
qualquer música estrangeira, em particular a americana, à
                                                                   faça, com qualidade, obscurecido pelo pop oficial e lotado de
massificação.
                                                                   prêmios grammy. Este pop autêntico tem inúmeras
O curioso é que este nacionalismo radical defende quase que
                                                                   dificuldades de ser disseminado. A falta de interesse da
exclusivamente a música popular. Estes mesmo
                                                                   indústria, e consequentemente da mídia por não possuir uma
segregacionistas ouvem Chico Buarque, Noel Rosa e aceitam o
                                                                   fórmula pré-determinada, e também uma certa exigência do
prazer de outras manifestações artísticas, mesmo quando
                                                                   público de associação do bem cultural com uma imagem, um
produzida longe deste império tupiniquim. Por exemplo, nas
                                                                   bem de consumo, muitas vezes não preenchida pela música
artes plásticas. Este mesmo público aceita Dali, Monet e
                                                                   mais espontânea. E também há o preconceito daqueles que
Rodan. É óbvio, e não precisa ser enfatizado o valor destes
                                                                   poderiam ser os formadores de opinião. Estes ouvidos
artistas e a importância e beleza das suas obras. Mas o que
                                                                   fechados, criando uma superficial divisão entre música
está em jogo aqui não é o valor, mas a invasão. O mérito é a
                                                                   americana e brasileira nada mais fazem que gerar ignorância
perversa interferência estrangeira na espontaneidade da nossa
                                                                   e preconceito. E o mais curioso é que a música mais
cultura. Então porque não fechar então nossos olhos a estes
                                                                   massificadora, homogeneizante e destruidora de
artistas defloradores? Considerações similares podem ser
                                                                   manifestações regionais hoje é brasileira. A musiqueta baiana
feitas para a literatura, tanto a prosa como a poesia. Só que
                                                                   dos txans e txuns. Há quem as defenda como autêntica, mas
no caso da literatura, em especial na poesia a tradução
                                                                   é só perceber o impacto desta massificação, o risco que traz
obrigatoriamente altera a manifestação original, e neste caso
                                                                   este tipo de música, muito mais que qualquer massificação
por melhor que seja o tradutor é impossível se captar na
                                                                   pop. Esta música pretende ter uma identidade nacional, e
totalidade as nuances da intenção do artista. Por isto, se mais
                                                                   mais, em português. E, junto com pagode e musiquelha
uma vez quiséssemos ser radicais, só nos restaria ler material
                                                                   sertaneja, de forma estúpida e burrificante, atrai todas as
nacional para sentir uma manifestação completa e original,
                                                                   atenções dos verdadeiros criadores da música genuína para
além de autêntica. A situação é mais aguda no caso do
                                                                   manifestações medíocres e superficiais. Há algo pior que
cinema, forma de expressão não oriunda da manifestação
                                                                   chamar de autêntica música do campo esta mescla de country
popular espontânea, e necessariamente ligada à necessidade
                                                                   rock e música brega que são as duplas sertanejas? Hoje a
de capital devido aos custos de produção. A maior parte do
                                                                   música brasileira é veiculada de forma a ser mais massificante
cinema aceito como de qualidade é estrangeiro. Somente nos
                                                                   que qualquer manifestação pop.
últimos anos o cinema nacional começou a se reerguer. Mas o
                                                                   Neste ponto entra uma outra questão relevante: o fato do
cinema internacional é aceito pela inteligência brasileira.
                                                                   artista ser brasileiro garante que ele esteja fazendo música
Especialmente o europeu, mas aqui entra outra manifestação
                                                                   brasileira? Não. O que a maior parte das bandas pop fazem
da visão obtusa: a mediocridade do cinema americano e a
                                                                   hoje não é MPB, é pop. Elas importam um modelo estrangeiro
beleza do europeu. Mas aqui cabe outra ponderação: nem
                                                                   sem maior reflexão ou mescla e o replicam, muitas vezes sem
todo filme americano é superficial e massificador. Inúmeros
                                                                   nem traduzir o raciocínio para o português. Isto não as coloca
exemplos exemplos poderiam ser citados, em particular
                                                                   num contexto brasileiro. Estas bandas tocam pop
oriundos da cena alternativa, como Jim Jarmusch. E da
                                                                   internacional, eventualmente tocado numa república
mesma forma nem todo filme europeu é bom. Às vezes há
                                                                   latinoamericana. Às vezes usam um pandeirinho, uma cuíca
excessos de intelectualismos e hermetismos que servem mais
                                                                   ou uma batidinha de samba, mas isto não as faz mais
para consolar as vaidades acadêmicas. Outras vezes o que
                                                                   brasileiras. Estes elementos são somente curiosidade,
vemos é a aceitação de filmes ruins, por serem de um país ou
                                                                   decoração. A estrutura é outra. Para se discutir a cultura
diretor da moda. A questão básica não é a origem da
                                                                   genuinamente nacional há que se pensar na mescla, e não na
manifestação, mas a diferença entre massificação e arte,
                                                                   importação.
entre diversão e conteúdo. Estas são as verdadeiras questões,
                                                                   Este pseudo-nacionalismo, da defesa ardorosa do brio
e não superficiais questões geográficas. Agora cabe
                                                                   nacional é, em conclusão, obtuso e preconceituoso. Muitas
perguntar: se outras manifestações são aceitas, porque não a
                                                                   vezes esconde boas intenções, mas acaba se perdendo em
música? Porque o preconceito? Até parece que a música é a
                                                                   ignorância e confusão de conceitos. Defender a cultura
única manifestação artística da brasileira. O bastião da
                                                                   brasileira não é trancá-la num quadro estático, com molduras
autenticidade, a reserva moral do povo brasileiro, que merece
                                                                   imóveis. A cultura evolui, com o progredir da história. E a
todo o esforço para a preservação ecológica e zoológica. E o
                                                                   música, a arte como expressão do pensamento, também deve
que fazemos para as outras formas de arte? Deixamos as
                                                                   refletir este movimento natural. Não adianta querer ser maior
pobrezinhas livres para serem atacadas pelas influências
                                                                   que o passo da história somente com um cérebro arrogante e
malévolas?
                                                                   cheio de reflexões geniais. Não é cercando os ouvidos, criando
A idéia de identidade nacional é complexa. Se analisada de
                                                                   uma fronteira cultural que a autenticidade será preservada. Ao
uma forma mais radical, esta questão nos levará à idéia de
                                                                   contrário, a formação desta barreira criará uma maior
que a única cultura genuinamente nacional é a indígena.
                                                                   distância entre aqueles que ouvem a música e aqueles que se
Nesta ótica a cultura africana e principalmente portuguesa são
                                                                   dizem refletir e definir os limites da criação. A maioria das
dominadoras e opressoras. Mas a principal característica da
                                                                   pessoas está interessada numa arte que diz respeito a elas e
cultura do novo mundo, tanto a do Brasil, mas como a da
                                                                   seu dia-a-dia, e não tanto numa música congelada e
América espanhola e a norte-americana é a mescla de
                                                                   preservada por gerações, e nem na complexidade dos
influências. Vide o blues e o jazz. Vide o samba. Vide na
                                                                   aspectos técnicos musicais. Esta fronteira servirá somente
verdade toda a música brasileira. Ela foi muito influeciada pela
                                                                   para tornar a MPB uma manifestação das elites, sem
música que se ouvia na época. Alguns pequenos exemplos
                                                                   abrangência nacional, longe daquilo que torna a cultura mais
comprovam esta afirmação. O que se ouvia no Rio na época
                                                                   autêntica e rica no conteúdo: a sua contemporaneidade.
do império? A valsa, estilo tipicamente europeu, frequentava
os salões e participou da formação da música brasileira. E
posteriormente, já no século XX, o tango e o bolero também
frequentaram os ouvidos nacionais. Assim como o jazz, as
EDITORIAL
                                                                                                         RICARDO AMARAL
                                                                   Neste segundo número do Rosebud, estaremos inaugurando
         Inspirado no grande sucesso de Padre                      uma fase temática dentro do zine. No caso, iremos focar na
                                                                   MPB, com pinceladas no power pop e algumas entrevistas, e
                                                                   provocar um pouco a reflexão e a discussão sobre estes
         Marcelo, a K'Ralhos Records lança sua                     assuntos. Uma das questões que surgem é porque estamos
                                                                   misturando dois temas tão diferentes, se um não tem a ver
  nova linha religiosa: a Any Dei Records.                         com o outro?
                                                                   Sou obrigado a contar uma historinha para ilustrar o ponto,
 Os grandes sucessos das pistas nas vozes de                       portanto. Fui assistir o show do Demônios da Garoa em
                                                                   janeiro no clássico Café Piu Piu, no Bixiga. Lá pelas tantas do
    grandes religiosos de todos os credos.                         show, um deles anunciou que o Ira! iria se apresentar em
                                                                   alguns dias e perguntou à platéia, formada por pessoas de
                                                                   bom nível educacional e com idade variada: “Alguém gosta de
                              Budista Chú                          rock, aí na platéia?”. Foi quando levantei a mão... e mais
                                                                   ninguém. Pelo contrário, até deram risada. Ele, visivelmente
                                Free Tibet                         sem graça, tentou minimizar: “Mas eles são gente boa, já
                                                                   tocamos com eles algumas vezes...”.
                                                                   Estas são as mesmas pessoas que, quando inquiridas, vão
                                                                   dizer que são ecléticas. Tudo bobagem, pois no fundo, o
                                             iIncluindo os hits    brasileiro é preconceituoso musicalmente, tacanho e
                                                                   completamente encaixado em padrões definidos de tribos.
                                   Fui à montanha e chorei         Pela própria educação brasileira, que privilegia a boçalidade
                                   Tibet é dez                     como forma de evitar conflitos, quando alguém se julga
                                                                   eclético e diz ouvir de tudo, na verdade ouve apenas aquelas
                                   Oh! Calcutá                     músicas consagradas e já consensualizadas. O brasileiro é
                                   (part. especial Beastie Boys)   muito pouco interessado na novidade, preferindo mais do
                                                                   mesmo do que algo que o faça pensar ou mesmo questionar.
                                                                   Isso não se aplica somente à música, claro. Um livro que trata
         Rabino Jacó                                               muito bem este assunto enraizado na cultura brasileira é
                                                                   Carnavais, Ritos e Heróis, de Roberto daMatta. No livro, ele
        Free Jerusalém                                             demonstra claramente que, enquanto na língua inglesa a
                                                                   palavra “discussion” tem conotação positiva, no Brasil, seu
                                                                   equivalente “discussão” é claramente negativo. Repare que,
                                                                   quando duas pessoas/amigos numa conversa começam a
            incluindo os hits                                      demonstrar pontos contrários (o que exercita efetivamente o
Melô do Hava Naguila                                               espírito crítico e auto-crítico), logo surge alguém para pôr
Dança do Woody Allen                                               panos quentes, como se as pessoas estivessem prontas a se
                                                                   baterem. Isso ocorre muito freqüentemente comigo, sendo
Lollapalooza                                                       que nunca briguei com ninguém por ter opinião contrária à
(part. especial Perry Farrell)                                     minha. Este espírito pacifista do brasileiro permite que
                                                                   Sepultura namore com Carlinhos Brown, para ganhar
                                                                   legitimidade entre nosso povo, como se esta mistura fosse
                                                                   natural e, principalmente, necessária para harmonização da
                                  Anti Cristo Superstar            cultura. Permite até que axé seja considerada mais nacional
                                                                   que bandas de rock como o Ira!, o que no meu dicionário é o
                                      Free Lucifer                 oposto (axé é a transformação da batida do afoxé em batida
                                                                   discoteca, o que claramente é tão “brasileiro” quanto o rock).
                                                                   Essa homogeneização é tão enraizada que não se discutem
                                            incluindo os hits      algumas realidade “assumidas” pela indústria e público. Entre
                                  Erguei os ossos da podridão      elas: por que música brasileira obrigatoriamente tem que ter
                                                                   batuque? Da bossa nova ao axé, o ritmo dita a regra. Pois
                                  Melô do ódio e da putrefação     onde anda o lado melódico da música brasileira, aquela
                                  Hey Stoopid!                     música onde o ritmo fica em segundo plano? Por que as letras
                                                                   de música seguem o estilo Caê-Gil pós Grammy, ou pior,
                                  (part. especial Alice Cooper)    Cazuza, de poesia babaca? E por que este excesso de
                                                                   louvores à música baiana e nordestina em geral, como se ela
                                                                   fosse o único estilo genuinamente nacional (excetuando o
          Hare Fez                                                 samba)?
                                                                   Pessoalmente, não me identifico com o estilo “baianidade na
                                                                   cor”, “vai, ordinária”, “o pinto do meu pai fugiu com a galinha
        Free Pakistan                                              da vizinha”. Prefiro as marchinhas do Silvio Santos e
                                                                   Chacrinha (que pelo menos são engraçadas) à estas idiotices
                                                                   “malandras” pra turista paulista ouvir atrás de trio elétrico
           incluindo os hits                                       fechado para o povão. E o que parece-me ainda mais
Melô do Mantra                                                     estranho é essa uniformidade e unanimidade do baianês, seja
                                                                   em Salvador, seja em São Paulo, Florianópolis ou Minas.
OOOMMMM UMMMUMM                                                    Carnaval, agora, é Carnabahia, Carnaxé e bobagens do
Bahia e Índia são irmãs                                            gênero. Samba, só se for no sapatinho. É claro que há uma
                                                                   crise no formato “escola de samba”, mas não justifica a perda
(part. especial Baby do Brasil)                                    total do estilo pro fraquíssimo, enjoativo e limitado axé.
                                                                   E volto então ao porquê dos temas serem diversos: porque
                                                                   não nos encaixamos na tribo rock, nem na tribo indie, nem na


já nas melhores lojas do ramo                                      tribo dance, nem em tribo alguma. Qualquer estilo musical
                                                                   tem suas coisas boas e ruins, umas mais que as outras.
                                                                   Vamos romper de vez aquela maldita mania de “eu ouço
                                                                   rock”, “eu ouço axé”, ou pior, “ouço de tudo”. A gente sabe
                                                                   que é mentira.
Sem o laboratório cultural que é a realidade acadêmica superior,
EDITORIAL
                                         RODRIGO VILLALBA               nossas chances de criar algo novo, bom e que tenha apelo são
                                                                        muito reduzidas. Por isso que sobrevivemos, ainda, por causa dos
COM   LICENÇA   (OU “O   QUE VEM DE CIMA NÃO ME ATINGE”)
                                                                        puristas e de uma meia dúzia de gênios. Quase toda vez que um
                                                                        manezão se meteu a criar uma “fusão” moderna de “ritmos” nos
Tenho pensado muito sobre um mundo ideal para a música. Uma             últimos anos, o resultado foi tão forçado quanto o próprio comédia
utopia. Nela, ninguém ganharia a vida fazendo música nem                que ficava citando adorno e física quântica num sambinha safado
escrevendo sobre música. Grande parte da patifaria acabaria por         de três acordes...
aí. Bem, eu sei que esses devaneios não nos levam muito longe.          Ora, mas vamos lá, pessoal! Até o século XIX, só 4% da população
Então volto à realidade...                                              mundial sabiam ler e escrever. Roma não se fez num dia. A gente
Bem vindo ao meu editorial sobre MPB.                                   sabe que muita coisa “comercialmente viável” vira história antes de
Eu tenho (de novo o verbo ter!) três observações para fazer. Como       tocar a rádio mas, quem disse que reconhecimento é sinônimo de
não ganho a vida escrevendo sobre música, posso cometer erros           alguma coisa que preste? Isso me lembra aquele quadro pintado
ortográficos, repetir palavras e (até) ser breve, quase etéreo e você   por um chimpanzé que foi vendido por US$ 25.000 na década de
nunca mais ser* o mesmo depois de ler este texto... Veja, posso         70, no auge da pop/rock art...
ser prepotente também!
1) Não há um ambiente acadêmico decente no Brasil. As
novidades, que surgem através da mistura de conceitos culturais e
ideológicos pré-existentes e já estabelecidos, abortam na
prancheta. Veja bem: eu não estou afirmando que não há
faculdades, cursos, universidades decentes. Estou atestando que
aqui, quando o sinal da saída toca, muito pouca gente fica no pátio
esperando os colegas para produzir e conversar a respeito da
música.
Não há tolerância, também. Se você não conversa com aquele tipo
estranho, ou com aquele aparentemente normal demais, nunca
conhecerá o universo diferente que orbita o cara. Fica restrito e se
torna preconceituoso. Acha que sabe tudo e acaba fazendo o
inevitável, nesses casos: cria definições extremamente pessoais
para conceitos gerais, como MPB. Aí, não entende mais ninguém e
ninguém mais entende você. Nós somos o pessoalzinho que tem
referências. Bem ou mal, temos uma noção das coisas. Mas
sofremos um excesso de sensibilidade do tipo “ninguém está
preparado para as revelações bíblicas a não ser eu e meus
amigos.” E você sabe, como diria Mark Lanegan, “quando o gato
tem crise de identidade, os ratos fazem a festa.”
Quem são os ratos? São todas as pessoas que, percebendo ou não,
querendo ou não, tomam a dianteira na condução do público rumo
ao vislumbre da MPB, a palavra-puta, que cada um usa como
quiser, contanto que tenha dinheiro e tempo. Villa-Lobos, o
maestro, dentro da proposta modernista, fazia MPB. O grupo Raça
Pura (“O pinto do meu pai...”) faz MPB. Criticar a MPB? Elogiá-la?
Como fazer isso se eu não sei o que é MPB para você? [ara mim,
há boa música e música de bosta. Só Pra Contrariar é música de
bosta. Caetano Veloso moderno não é músico. Como pessoa, é um
mafioso que administra seu maior patrimônio pessoal: a imagem
pública do que já foi. Como músico, é uma cópia mal-feita dele
mesmo (mal-feito = pasteurizado, com lactobacilos vivos). Renato
Teixeira é música boa, mas não é novidade. Demônios da Garoa é
música boa, mas não é novidade. Tiazinha canta com o cú, e assim
por diante.
2) Agora, de quem é a culpa por esta situação ridícula em que nos
encontramos? Rádios inundadas por baixaria; R&B brasileiro
(pagode - aliás, quem ouve aqueles R&Bs americanos que a MTV
toca que nem louca?); sertanejo “metropolitano de propaganda de
cavalinho-de-pau” etc., é música de bosta e, ao que parecem,
sempre vão existir. Pedir que o povo, sozinho, dance, cante,
esqueça os problemas da vida e seduza, sim, mas com inteligência,
sem a ajuda da elite cultural (você) é impossível. Querer que os
donos das gravadoras corporativas invistam em novidades de
verdade, sem controlar a produção, sem podar a criatividade do
artista e descaracterizar sua obra é como pedir para o Sr. Ford
deixar cada um trabalhar como quiser na linha de montagem.
Achar que é vi*vel, hoje, largar seu emprego est*vel (!!!) e montar
uma pequena gravadora ou uma banda é, de certa forma, sonhar.
Assim... chegamos a uma grande conclusão - não havia maneira
de estar de outro jeito. O que nos leva à questão seguinte...
3) ... o futuro. Continuará a música sem alma? Tom Zé, Mutantes e
Hermeto Paschoal receberão, mesmo postumamente, discos de
ouro? Claro que não. Mas eu arrisco uma previsão bem otimista
para os próximos anos. A saturação é muita, e está sendo mal
conduzida. A coisa está tão escancaradamente patética que a
tendência é a galera acordar. Percebo também o espírito “faça-
você-mesmo” voltando mais amadurecido. E a garotada, hoje, está
mais esperta para estes lances de marketing musical do que há 4
ou 5 anos.
Existem, sim, diferenças entre a música dos americanos, por
exemplo, e o modo brasileiro de lidar com a reciclagem musical e a
imprensa interessada no assunto. Os gringos levam vantagem pois
têm, claro, as melhores publicações e fontes intensas de renovação
cultural com qualidade. Mas eles também têm mais recursos, mais
tempo e estão, por uma questão histórica conhecida, no centro do
mundo. Vistas dessa forma, nossas limitações nem são tão grandes
e aparecem como uma óbvia conseqüência de nossa condição
geral, principalmente no que se refere à questão da educação,
como deu pra perceber no começo do texto.
k’ralhos records
                                                   uma divisão da k’ralhos entertainment group


Press Release Urgente!
K´Ralhos Records fecha acordo inédito no entretenimento mundial



A K´Ralhos Entertainment Group, um dos mais novos e maiores conglomerados de entretenimento no
Brasil, fecha um acordo inédito no mundo, ao associar-se a ABRAS (Associação Brasileira de
Supermercados) e ser o primeiro provedor de Musicacessório(c) às grandes redes varejistas.
“Percebemos que havia um vazio no mercado para esta categoria de produto”, afirma Rodrigo Villagrande,
chairman da KEG. “Há muito tempo música deixou de ser o foco: agora música é apenas uma faceta no
conjunto do entretenimento, que é multimídia. Isto significa que temos que colocá-lo junto donde o
consumidor realmente espera o produto.” O conceito é muito inovador: posicionar música associada aos
produtos mais adequados.
“Em pesquisas recentes, percebemos que certos grupos eram diretamente relacionados a produtos de massa,
como sabonete, churrasco, papel higiênico entre outros. O que fizemos foi, através da última tecnologia em
pesquisa, banco de dados e micropartículas, criar uma linha exclusiva de acessórios com música embutida, a
linha Musicacessório(c),” nos explica Ricardo Amarelinho, diretor de branding da KEG. “Por exemplo,
nosso primeiro lançamento é o Kit É O Tchan! Para Churrasco. Você joga o produto em cima da carne e,
enquanto a carne vai assando, você vai escutando os grandes sucessos do É O Tchan!, sem parar!”
Pelo acordo com os supermercados, os produtos da linha serão colocados nas seções específicas em que cada
artista atua. O sabonete Rita Cadilac, por exemplo, ficará na área de artigos masculinos. Já o papel higiênico
Kenny G, um papel da categoria premium, ficará nesta mesma área de artigos para banheiro.
“Esta é somente a primeira etapa do Musicacessório(c) na verdade.”, nos explica Villagrande. “A idéia é
lançar também produtos específicos com os artistas, como toalhas Ivete Sangalo, torneiras Michael Bolton e
até frutas musicais, como o abacaxi Chico César, a banana Sandra Sá e a maçã Sandy Xororó. Tudo
explorando o som destes grandes hitmakers na hora que as pessoas realmente a necessitam.”
A certeza de sucesso é tão grande que as grandes gravadoras pretendem em breve explorar o sistema pay-
per-eating nos restaurantes: sua comida poderá ser salpicada de Malícia ou Só Pra Contrariar, por apenas
alguns centavos a mais em sua conta. Todas pagando direitos para a KEG, claro.
As críticas quanto a banalização da música e a posição da música como adereço não parecem afetar a
empresa. “Nós apenas reagimos ao mercado. As pesquisas demonstram que música deixou de ser algo para
se ouvir. Se você perguntar a qualquer um nas ruas, eles vão lhe lembrar que axé é ótimo para dançar,
pagodinho é ótimo pra churrascadas e uma música relaxante é perfeita para a intimidade no banheiro.
Ninguém acha que isso é bom mesmo. Só que todo mundo compra. E nós precisamos sobreviver no
mercado,” nos lembra Amarelinho. “Na verdade, pouco importa o conteúdo do que eles tocam: o povo gosta
da imagem deles, do rebolado e da pirotecnia dos shows. Ou alguém acha que É O Tchan faria sucesso sem
duas bundas cantoras? Eu, por mim, só venderia música da Gloria Gaynor e do Village People, pois
acompanham tudo a todo momento. Mas quem iria comprar um Kit YMCA para Fondue?” Amarelinho
estressa, porém, que a empresa está preparada para entrar em segmentos diferentes, se houver demanda.



Maiores informações, favor contactar na KEG: Armanda Beltrão 0XX11-123-0987

Musicacessório e seus derivados são marca registrada da KEG.
de raiz, agora quem dita a “mistura” é o pior
                                                                                                   lixo “country” americano (Alan Jackson, Garth
                                                                                                   Brooks), que efetivamente não é country. A
                                                                                                   verdade é que o que se vende não é o
                                                                                                   melhor, e sim o pior. É o pior do estrangeiro
                                                                                                   misturado a nenhuma inspiração nacional.
                                                                                                   A tal mistura brasileira, para ter crédito entre
                                                                                                   a nata cultural, necessita ter um componente
                                                                                                   de suingue. Se alguém mistura forró com
                                                                                                   funk, tudo bem, afinal trata-se de ritmo, e
                                                                                                   ritmo é Brasil; como se o único objetivo na
                                                                                                   música brasileira fosse o balanço, a dança, a
                                                                                                   festa e o remelexo. O foco é a bunda. Então,
                                                                                                   a coisa se limita por baixo: a banda, para ser
                                                                                                   aprovada pela crítica, só pode misturar ritmos
                                                                                                   brasileiros com funk ou reggae (alguém
                                                                                                   realmente agüenta uma tranqueira como o
                                                                                                   Farofa Carioca?).
                                                                                                   No fim, temos dois problemas: as bandas só
                                                                                                   conhecem o pior do estrangeiro e, portanto,
                                                                                                   ao misturarem, sai porcaria, ou então se
                                                                                                   isolam na tal música brasileira (que nunca
                                                                                                   existiu) e tornam-se redundantes. A única
Quando lemos por aí que bagulhos como            como se ouve em clássicos na voz de Nelson        música genuinamente brasileira é feita nas
Chico César e Zeca Baleiro são considerados      Gonçalves. Se entrarmos na bossa nova, fica       ocas do Xingu ou no Amazonas: todo o resto
gênios da música e nosso maior talento é         ainda mais clara a influência do jazz em cima     foi importado. Do samba ao caipira, todos
Carlinhos Brown, é porque algo muito errado      dela. E, hoje, a bossa nova virou quase que                                sofreram influências
está acontecendo. Não adianta nem discutir o     um estilo do jazz para os gringos.                                         profundas de música
brega romântico atual (que faz Amado Batista     A boa safra do rock nacional dos anos 80,                                  africana, portuguesa,
ser excelente, quando comparado a Daniel e       representado pela Legião Urbana, Titãs e Ira!                              espanhola, latina e
Leonardo), o cornogode cauntri de Só Pra         bebia do que havia de mais interessante no                                 mesmo indígena. É
Contrariar, Malícia, Art Popular, Kiloucura e    rock estrangeiro, que era o pós-punk do Joy                                uma grande besteira
Chitãozinho e Xororó e o medonho axé music       Division, Wire e Clash. A safra seguinte, que                              essa crendice do
de Raça Pura, Banda Beijo e Netinho. Isso é      continha boas bandas como Violeta de Outono                                “Brasil: país da música
chover no molhado. Todo mundo sabe que           e Mulheres Negras, também bebiam de boas
                                                                                                    “M ALA , E XTREMAMENTE    MALA /P RA   VOCÊ ...”
estes empresários (artistas eles não são) não    fontes externas, sem abandonar                     SERIA    ESTE    O    FUTURO     DA    MPB...
tem qualquer intenção artística mínima, sendo    completamente o lado “brasileiro”.
que o número de cópias vendidas representa       O problema é que, a partir de então, o            mais rica do mundo”. São pensamentos como
o quão bom é o trabalho dos caras. Aliás,        mercado brasileiro musical passou a se            este que injetam uma xenofobia sem sentido
falar mal desta tralha é tão fácil que           profissionalizar, no pior sentido. Com o fim      para um país que sempre bebeu de boas
preferimos ignorá-los.                           das últimas gravadoras brasileiras, o             fontes externas. Esta era a grande qualidade
Voltando aos artistas consagrados pela crítica   crescimento das rádios FM via satélite e a        da música brasileira: as misturas eram de boa
brasileira e pelo público Vila Madalena -        maior massificação musical via TV, o acesso à     qualidade. A tal vontade de fazer música
Pinheiros, é até engraçado tentar entender o     música estrangeira de boa qualidade passou a      exclusivamente brasileira deu cria a sub-
que há por trás de tantos elogios a Carlinhos    ficar cada vez mais restrito a um pequeno         Caetanos e sub-Cazuzas, além dos eternos
Brown. Ele é autor de pérolas como “A            círculo. Se por um lado, é mais fácil se          filhos e netos dos sub-Jobins. Tudo
namorada tem namorada” e acha que Zezé di        conseguir álbuns hoje, o acesso à mídia é tão     redundante e repetitivo, regurgitações de
Camargo é o fundador do “Movimento               ruim ou pior que antes. Pior porque o             “clássicos” de Dorival Caymmi ad nauseum,
Amigos, que revolucionou a música popular        programador de rádio tem cada vez menos           com o componente adulto-contemporâneo tão
brasileira”. Claro, claro...                     poder para alterar ou experimentar bandas. O      amado no país (leia-se: produção burocrática,
Existem razões para esta mediocridade geral      roteiro já vem montado pela gravadora (é          oleosa e cheia de teclados imitando violinos e
que vão desde de xenofobia à falta de            aquilo que ela quer lançar no Brasil e que,       pianos).
conhecimento musical. Lembremo-nos que os        obrigatoriamente, tenha feito sucesso fora, no    O segundo problema vem do extremo do
grandes clássicos nacionais, desde Nelson        caso das bandas estrangeiras). E, se nos anos     problema anterior: a falta de personalidade do
Gonçalves e os cantores de ouro, à Mutantes      80, as bandas de rock eram influenciadas pelo     que tem sido feito, pela simples importação
e Tropicália, todos incorporaram traços de       que se tocava nas rádios então (Smiths, Cure,     do mais chato brega-pop anglo-saxão. Do
música estrangeira. Até Chico Buarque, ícone     Joy Division, Jesus & Mary Chain), agora as       cauntri embalado em Nashville produzido
da resistência musical brasileira nos anos 60,   influências são coisas como Anthrax, Metallica,   pelos recordistas de vendas, às bandas indie
ia atrás da música italiana, incorporando        Bon Jovi e Whitesnake. No lado de rock, o         cariocas (que tentam emular Londres) e
aspectos desta em seu repertório                 que bandas como Charlie Brown Jr. fazem é         paulistas (que tentam ser californianas), não
“genuinamente nacional”. Este empréstimo         idêntico ao que bandas como Dog Eat Dog e         há qualquer tentativa de inovação ou busca
sempre foi utilizado por todos os países, seja   outros skate-punks fazem. E eles são dos          de qualidade. Quer dizer: no fundo, tanto as
o americano ou o inglês. O rock foi criado nos   menos ruins. Se formos chegar em bandas           bandas underground quanto as
Estados Unidos, mas hoje falar em rock sem       underground como Oz ou Hateen, além de            multimilionárias se igualam na falta de
falar em Inglaterra é besteira. Isto significa   musicalmente limitados e redundantes, são         coragem de não fazer o óbvio, na ignorância
que os Estados Unidos dominaram                  letristas terríveis. Por mais charmoso que seja   musical, conhecendo apenas aquilo que lhes é
culturalmente a Inglaterra? É claro que não. O   dizer que “escreve em inglês errado”, isso        jogado na cara, e na unicidade musical,
que houve foi uma troca, no sentido mais         parece mais desculpa de gente que não tem         repetindo o que é feito de pior lá fora.
positivo possível. E o rock incorporou em        capacidade de escrever algo correto em            Existe então alguma coisa interessante sendo
seguida a música indiana, e depois a japonesa    português.                                        feita? Claro. Bons exemplos não faltam na
e por aí vai. Adelino Moreira, grande            Pretendo elaborar melhor a questão folk/          área caipira (com uma certa releitura urbana
compositor brasileiro, buscou referências em     sertaneja no próximo zine, mas se                 através de violeiros como Paulo Freire,
boleros e grandes cantores como Bing Crosby.     anteriormente, tínhamos uma influência direta     Tavinho Moura, Renato Teixeira e Roberto
Mas o resultado era novo, diferente da fonte,    da música paraguaia (guarânia) e influências      Correia), no rap (cada vez mais desenvolvido
e adquirindo personalidade própria, e à
margem do beautiful people, pois não tratam
de alegria e diversão necessariamente, com
os eternos inovadores Thaide e DJ Hum, Gog,
Consciência Humana, o bom letrista Mano
Brown no Racionais MCs entre outros) e
principalmente na área instrumental (com
Duofel e uma banda que vi num sarau outro
                      dia servindo de
                      exemplos). Muito pouco
                      se salva no pop,
                      infelizmente. Maurício
                      Pereira, Karnak, Tom Zé
                      e ocasionalmente Jorge
                      Mautner tentam algo
                      diferente dentro do
                      sistema, mas há
                      nenhum espaço para              RELACIONE       OS ARTISTAS À SUAS INSPIRAÇÕES:
                      este tipo de
                                                      a) Chico César                                               (   )   Caê
“M ETE   A MÃO NA ANÁGUA   /D Á   UMA MEXIDINHA ...   b) Belô Velloso                                              (   )   Caetano Veloso
...OU               SERIA                    ESTE?    c) Paulinho Moska                                            (   )   Família Velloso
demonstração. Quem sabe se gravarem um                d) Zeca Baleiro                                              (   )   Fina Estampa
                                                      e) Carlinhos Brown                                           (   )   Dona Canô
pagodinho eles apareçam mais...
Como último ponto, e que fecha o ciclo de
                                                      GRUPO      MUSICAL COM CERCA DE      8   MEMBROS   (UM   DUBLA E O RESTO FICA SE MEXENDO NO PALCO) E TOCAM
danação pela qual passa a música brasileira,          PAGODE ROMÂNTICO.       JÁ   GANHARAM DISCO DE OURO, APESAR DA QUALIDADE SER SIMILAR AO QUE UM
diz respeito ao próprio estilo bunda-mole do          CHIMPANZÉ GRAVARIA SE TIVESSE UM MICROFONE.              ELES    SÃO:
artista brasileiro. Qualquer músico babaca que
venda seu milhãozinho de cópias lá fora, abre         (   )   Grupo Só Pra Contrariar                              (   )   Art Popular
uma gravadora, lança novos talentos e tenta           (   )   Kiloucura                                            (   )   Grupo Sensação
buscar suas raízes, trazendo à tona clássicos         (   )   Grupo Katinguelê                                     (   )   Grupo Pirraça
perdidos e, mal ou bem, movimentando mais             (   )   Negritude Júnior                                     (   )   Grupo Raça
o mercado. Isso vai desde Pearl Jam a                 (   )   Ginga Pura                                           (   )   Toke Divinal
Counting Crows, de Madonna a Smashing                 (   )   Soweto                                               (   )   Só Preto Sem Preconceito
                                                      (   )   Grupo Malícia                                        (   )   Molejo
Pumpkins. A razão é simples: como eles
                                                      (   )   Grupo Sedução                                        (   )   Sem Compromisso
ganham dinheiro aos burros, eles podem
                                                      (   )   Os Morenos                                           (   )   Os Travessos
investir em algo que gostem, sabendo que              (   )   Exaltasamba
isto não trará talvez um retorno financeiro
enorme, mas traz um benefício próprio muito           GRUPO      QUE INVESTE EM    2   GOSTOSAS REBOLANDO NO PALCO, UM BAIANO CANTANDO E POR VEZES ALGUMAS
grande, além dos fatores acima mencionados.           ENTIDADES REBOLANDO JUNTO.          A    MÚSICA POUCO IMPORTA, PORQUE É IRRELEVANTE DO PONTO DE VISTA
Agora, além de comprar carros importados e            MERCADOLÓGICO:
desfilarem como grande sensações, o que
pessoas como Alexandre Pires, Ivete Sangalo           (   )   Gerasamba                                            (   )   É O Tchan
e Chitãozinho e Xororó fizeram?                       (   )   Raça Pura                                            (   )   Companhia do Pagode
Absolutamente nada. Pelo contrário, não há            (   )   Só No Sapatinho                                      (   )   Banda Beijo
                                                      (   )   Asa de Águia                                         (   )   Gang do Samba
nunca show de abertura, não há nenhum
                                                      (   )   Patrulha do Samba                                    (   )   Banda Cheiro de Amor
estímulo a nenhum outro artista, a não ser
para seus filhos (no caso do Chitãozinho e            POETA      MODERNA E ADULTA, TOCA COM VIOLÃO/PIANO E BANQUINHO UMA MÚSICA SOFT, SUPER ACONCHEGANTE
Xororó), ou bandas “cover”, como Axé Blond            E SOPORÍFERA, PERFEITA PARA A CADEIRA DE DENTISTA, COM LETRAS QUE EXPRIMEM TODO... QUER DIZER,
ou Rick e Renner. Com todos estes fatores,            ALGUMA COISA, POIS SÃO MUITO INTROSPECTIVAS PARA COMPREENDERMOS.                   ELA É:
fica muito difícil esperar que algo bom vá
ocorrer daqui para frente, já que o                   (   )   Laura Finocchiaro                                    ( ) Vange Leonel
comodismo do brasileiro é um valor nato               (   )   Adriana Calcanhoto                                   ( ) Zélia Duncan
dentro do que tange a qualquer forma de               (   )   Leila Pinheiro                                       ( ) Cássia Eller
cultura.                                              (   )   Vânia Bastos

                                                      MUSICALMENTE,       NADA ACRESCENTAM, ALIÁS, NINGUÉM CONSEGUE OUVI-LO(A), MAS É LOUVADO PELA CRÍTICA
Ricardo Amaral
                                                      POR SER PARENTE DE UMA GRANDE PERSONALIDADE DA MÚSICA BRASILEIRA, COMO SE ESTE FOSSE O
                                                      PASSAPORTE PARA A QUALIDADE.         SEU    NOME É:


                                                      (   )   João Marcelo Bôscoli                                 ( ) Pedro Camargo Mariano
                                                      (   )   Belô Velloso                                         ( ) Jairzinho
                                                      (   )   Dora Vergueiro                                       ( ) Sandy e Júnior
                                                      (   )   Daniel Carlomagno

                                                      SUAS      CARREIRAS ESTÃO NO OSSO.       VIVEM   DE ESPETÁCULOS ONDE RELEMBRAM GRADES SUCESSOS E REGRAVAM,
                                                      PELA     8ª   VEZ, AQUELE GRANDE SUCESSO DE       1983. SE   JÁ NÃO FIZERAM, IRÃO GRAVAR UM ACÚSTICO   MTV. E,
                                                      MESMO COM TODOS ESTES PROBLEMAS, TEM ESPAÇO GARANTIDO NA MÍDIA, COMO SE ESTIVESSEM NO MELHOR
                                                      DE SUAS CARREIRAS, E NÃO NA MAIS PROFUNDA E COMPLETA ESTAGNAÇÃO.                   ELES   SÃO:


                                                      (   )   Titãs                                                ( ) Barão Vermelho
                                                      (   )   Kid Abelha                                           ( ) Gal Costa
                                                      (   )   Rita Lee                                             ( ) Blitz
                                                      (   )   Engenheiros do Hawaii
QUAL    DAS CANTORAS ABAIXO IRÁ GRAVAR UM ÁLBUM NOVO AINDA ESTE ANO?




                                                                                                                       Ficamos surpresos com a recepção positiva em relação
                                                                                                                       ao primeiro número (há um ano atrás!), especialmente
                                                                                                                       com o Maverick, que rasgou o elogio violento no zine
                                                                                                                       online Página 99 (www.pagina.de/1999). Também
                                                                                                                       recebemos email de um bom número de pessoas do
                                                                                                                       meio dito “alternativo” como o Rodrigo Lariu, o Gilberto
                                                                                                                       Custódio, o pessoal do Brincando de Deus e “asseclas”
É   QUERIDINHO DA   FOLHA   DE   SÃO PAULO,      DO POVINHO MUDERNO DA     VILA MADALENA       E JORNALISTAS QUE       (no bom sentido), a Claudia Ferrari e mais alguns que vão
ACHAM QUE TEMOS UMA DÍVIDA SOCIAL COM O             NORDESTE. A     MÚSICA É REQUENTADA DE     CAETANO   E   GIL   E   saber pois estarão recebendo este zine em mãos.
DOS CHAMADOS    “RITMOS”    NORDESTINOS , MESMO QUE TUDO PAREÇA MAIS UMA MASSAROCA SEM GRAÇA, LONGE                    Mas o mais gratificante é receber feedback de pessoas
DA VITALIDADE DOS RITMOS CITADOS.         PRA GOSTAR, VOCÊ        PRECISA QUEIMAR UMA TORA DE BASEADO, SER             que nunca haviam lido um zine ou estão fora do meio
JORNALISTA E ACHAR    CAZUZA     O MÁXIMO.  SEU NOME É:                                                                indie. Pessoas como o Eduardo Acquarone, o Marcelo
                                                                                                                       Moura, a Lygia, a Izabel, o Murad, Pamela e o pessoal de
( ) Chico César                                           ( ) Zeca Baleiro                                             Jarinu, nossos amigos gringos, o Murilo de BH - se bem
( ) Paulinho Moska                                        ( ) Lenine                                                   que ele é do meio... E é neste ponto que procuramos
( ) Carlinhos Brown                                                                                                    mudar um pouco neste segundo número. Se há uma
                                                                                                                       crítica clara ao primeiro número é que ele saiu muito
SEUS   ÁLBUNS SÃO TÃO BEM PRODUZIDOS QUE SE TORNAM VERDADEIRAS CHATICES.                MILIMETRICAMENTE               hermético. E nosso objetivo desde o início era trazer a
EXECUTADOS POR MÚSICOS DE ESTÚDIO PAY-PER-PLAY, SÃO ANALMENTE INSÍPIDOS, MAS AGRADAM CRÍTICOS                          leitura a um público diferente do mundo zineiro, isto é,
DO EXTERIOR, QUE COMPARAM TAIS ÁLBUNS A            ANTONIO CARLOS JOBIM E TOM ZÉ (COMO           SE OVO TIVESSE A      gente que gosta de música mas nunca tinha tido acesso
VER COM LARANJA SÓ PORQUE AMBOS SÃO COMESTÍVEIS).           TRATA-SE DE:                                               a uma série de coisas que temos e que nossos
                                                                                                                       FUTUROS COLABORADORES (dica: é com vocês que
( ) Carlinhos Brown                                       ( ) Marisa Monte                                             estou falando) poderão falar. Esperamos ter consiguido
( ) Timbalada                                             ( ) Chico César                                              isto sem prejudicar a qualidade nesta edição.
( ) Lenine                                                                                                             Também agradecemos o Zé Flávio e a Revista ShowBizz,
                                                                                                                       que nos expuseram a um sem-número de pessoas que
LIGUE   OS ARTISTAS E SUAS ORIGENS:                                                                                    mandaram cartas solicitando uma cópia do zine.
                                                                                                                       Nenhuma recebeu pois até agora não vi a cara delas
a) Asa de Águia                                           (   )   Luiz Caldas                                          (nosso colaborador Villalba terá que achá-las primeiro).
b) Araketu                                                (   )   Gengis Khan                                          Ao pessoal da Bizarre e da Velvet, nosso abraço pela
c) É O Tchan                                              (   )   Abacaxi                                              distribuição restrita.
d) Netinho                                                (   )   Odair José                                           E este é o último número do Rosebud Pop Media,
e) Daniel                                                 (   )   Kaoma                                                também. Calma, ele passará a ser online quase que
f) Ricardo Chaves                                         (   )   Cid Guerreiro                                        totalmente em breve. A idéia é criar uma página com
g) Chico César                                            (   )   Banda Reflexu’s                                      destaques em que o texto completo poderá ser puxado
                                                                                                                       via Acrobat da rede, com surpresinhas extras. Ler uma
SE   UMA GRALHA SE CRUZASSE COM UM MEGAFONE, CERTAMENTE CANTARIA COMO:                                                 matéria extensa online é um porre, então este meio
                                                                                                                       intermediário facilita a vida de quem faz o download (o
( ) Daniela Mercury                                       ( ) Ivete Sangalo                                            2o. número pesa quase 8M!). Os dois primeiros números
( ) Simone Moreno                                         ( ) Tiazinha                                                 continuarão no site. Os updates serão mais freqüentes
( ) Carla Lisi                                                                                                         (acho). Além disso, estaremos com o RPM Amostra
                                                                                                                       Grátis em papel, que é uma espécie de teaser para a
BASTIÕES   DO ROCK TUPINIQUIM, ESTÃO NA ESTRADA HÁ ANOS E NÃO CONSEGUEM SUCESSO, MAS TOCAM ROCK                        versão online, que é a completa. Provavelmente teremos
HONESTO E LOUVANDO OS GRANDES ROCKEIROS COMO             STONES, ZEPPELIN      E   IRON. NEM   MESMO SEUS FÃS          um novo site para isso, mas o antigo vai estar
SUPORTAM.   ELES   SÃO:                                                                                                funcionando:
                                                                                                                       http://orbita.starmedia.com/~rosebudpopmedia
( ) Angra                                                 ( ) Dr. Sin                                                  E, para fechar, nosso email favorito que foi perdido, mas
( ) Dorsal Atlântica                                      ( ) Golpe de Estado                                          era algo do tipo:
( ) Viper                                                 ( ) Korzus
                                                                                                                       “Olá! Queria saber se vocês tem como me enviar todas
                                                                                                                       as letras do Pearl Jam traduzidas. Obrigado.”
                                                                                                                       Começamos pelo Whitesnake, serve?
                                                                                                                         Abraços do pessoal do Rosebud Pop Media.
                                   FAZEM   PARTE DA NOVA LINHA DO ROCK, ONDE GÍRIA, MALANDRAGEM E
                                   MULHERES VAGABUNDAS ANDAM LADO A LADO COM A MACONHA, A HEMP E A
                                   CANNABIS, NUM GRANDE EXEMPLO DE MATURIDADE MUSICAL E IDEALÍSTICA.
                                   ELES   SÃO:                                                                         ROSEBUD POP MEDIA 2              É    UMA   PUBLICAÇÃO
                                                                                                                       INDEPENDENTE,      INCLUSIVE     DE    PERIODICIDADE ,
                                   ( ) Virgulóides                                  ( ) Raimundos                      PRODUZIDA POR NÓS MESMOS ONDE  “NÓS MESMOS”
                                   ( ) Charlie Brown Jr.                            ( ) Os Theobaldo                   SOMOS  RENATO GRINBAUM, RICARDO AMARAL E
                                   ( ) Planet Hemp                                                                     RODRIGO VILLALBA.
                                                                                                                       O ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA MUDOU:
                                                                                                                       AL. UIRAPURU 55
                                                                                                                       BARUERI - SP
                                                                                                                       06428-300
                                                                                                                       BRASIL
                                                                                                                       EMAIL: ROSEBUDPOPMEDIA@ZIPMAIL.COM.BR
                                                                                                                       SAITE EM HELSINQUE:
                                                                                                                       HTTP://ORBITA.STARMEDIA.COM/~ROSEBUDPOPMEDIA
Sem Fôlego (“Blue in the face”) 1995                 Barbas do Imperador, Cuecas do Povo
Direção: Wayne Wang e Paul Auster
                                                     Biografias costumam ser muito chatas. Habitualmente
Com: Harvey Keitel, Lily Tomlin, Michael J. Fox, Jim são historinhas lineares, construídas como se fossem
Jarmush, Lou Reed, Mira Sorvino, Roseanne.                 um romance, guardando pouca relação com a vida
                                                           contemporânea. Falam de heróis, mitos e fatos
Esse filme, continuação de “Cortina de Fumaça”, conta a    desconectados com o seu mundo. “BARBAS DO
história de um gerente de charutaria no Brooklyn, em       IMPERADOR”      de     Lilian   Schwarcz
Nova York, seus casos amorosos e a luta para manter        (Companhia das Letras, 1998) não segue esta
                                                           tradição. Apesar de ser um texto elaborado para
seu local de trabalho (e ponto de encontro dos
                                                           finalidades acadêmicas, não há traços da arrogância
moradores do bairro) aberto, quando o proprietário         nem do elitismo presente em textos universitários. Ao
resolve vender o imóvel.                                   invés da autora construir uma biografia linear e
Auggie Wren (Keitel) é o conselheiro informal e            cansativa, ela prefere construir o mundo de D. Pedro
                                                           II. Mais a imagem mais que sua vida, seus hábitos e
confidente de um amplo time de personalidades que o
                                                           suas amantes. Ela apresenta mundo brasileiro do século
visitam no trabalho diariamente. Alguns vão à tabacaria    XIX, mas não na forma uma janela estática. Ela mostra
para dividir com ele os momentos das últimas tragadas      a construção de muito daquilo que é o Brasil de hoje
dadas em um cigarro e reclamar da cultura                  através de representações, e suas repercussões no
                                                           mundo contemporâneo. Ela não fala de não um mero
holywoodiana em torno do hábito de fumar, como é o
                                                           ajuntamento de curiosidades, como está nas modas e
caso do diretor Jim Jamurch.                               nas paradas das biografias, mas numa edição linda
Outros vão a “Auggie’s Place” para filosofar sobre         aproveita pinturas, objetos, fotografias da época e
óculos escuros e a vida nos países nórdicos (Lou Reed      constrói o que se achava de D. Pedro e o que o Brasil
                                                           espera dos seus reinantes e do seu cotidiano. A
em cena) e outros simplesmente estão lá para matar o
                                                           representação é mais valiosa que o fato. Por isto, é uma
tempo, discutir e encher o saco.                           leitura fácil e prazerosa.
O grande diferencial de “Sem Fôlego” reside na             Alguns fatos são particularmente interessantes, e vale
extrema espontaneidade com a qual a história               pinça-los. O Brasil foi uma das últimas monarquias do




acontece, pois todas as participações são feitas por       ocidente, criada numa época de decadência dos reis. E
                                                           porque isto aconteceu? A autora discute muito o
amigos dos diretores e as filmagens não levaram mais
                                                           assunto, e fica claro como que há na mentalidade e na
que alguns dias.                                           cultura brasileira a necessidade de uma autoridade
Outro ponto interessante é o ar de documentário que o      forte, quase divina. Não só nas elites. Esta cultura
filme ganha quando, entre uma cena da história e outra,    autoritária certamente ainda não morreu. Outro fato
                                                           interessante é a discussão a respeito do romantismo
pessoas de verdade são entrevistadas e acabam
                                                           brasileiro, em especial o culto aos índios. Isto não
revelando a verdadeira identidade do maior bairro          aconteceu por caridade ou por sinceridade, longe disto.
cosmopolita dos Estados Unidos.                            Mas foi um modo de se promover uma imagem justa do
Na verdade, toda essa comédia acaba sendo uma grande       Brasil, como se a escravidão pudesse ser escondida.
                                                           Desta forma, atitudes nobres como a preservação da
metáfora para questionamentos que todos os
                                                           cultura brasileira e um certo nacionalismo foram usados
moradores de grandes cidades acabam fazendo de             como forma de se esconder algo deplorável. Pequenas
alguma forma: “Meu bairro é um lugar melhor para se        justiças usadas para grandes males. Desta forma, o
viver hoje, com todo esse progresso, ou alguma coisa se    império brasileiro foi precursor do malufismo e seus
                                                           projetos sociais. Por fim, um dos aspectos mais ricos do
perdeu..?”
                                                           livro é a discussão da imagem. Um rei, antes de qualquer
As situações do filme e a personalidade de cada            coisa, é a imagem de uma nação sob uma forma de quase
personagem foram desenvolvidos por atores e                deus. Após a guerra do Paraguai, a imagem da monarquia
diretores, em conjunto. No meio de toda essa bagunça o     e a estabilidade política começaram a ruir. O que D.
                                                           Pedro fez nesta época, entre outras coisas, foi divulgar
filme ainda arranja espaço para passar algumas “lições”.
                                                           sua imagem, algo não muito aceito nas monarquias
O resultado é ótimo entretenimento e a trilha sonora é     européias. Ao mesmo tempo em que ele se tornava
Luaka Bop (David Byrne).                                   popular, diminuindo sua rejeição, também a imagem de
Vale à pena conferir!                                      rei, quase-deus se desgastava pelo excesso de
                                                           exposição. O rei deixava de ser rei por ser humano.
                                                           Mas, pelo sucesso da sua popularização, D. Pedro foi um
                                                           precursor e um inovador no marketing político.
UM   DOS DISCOS MAIS INTERESSANTES LANÇADOS EM     1998 É “FELICIDADE” DE LUIS TATIT. NO DISCO É FÁCIL DE SE COMPROVAR
QUE A   MPB   NÃO MORREU.     AO CONTRÁRIO, PERMANECE FORTE MESMO QUE UM POUCO LONGE DA ESTAGNAÇÃO E DA MONOTONIA QUE
TANTO GRAÇA NAS RÁDIOS       (PELO MENOS EM MÉDIA), QUE REPETEM E REPETEM CLÁSSICOS E UMA MEIA DÚZIA DE NOVOS ARTISTAS.
                                                                              CABE   COMENTAR UM POUCO SOBRE O ESTILO DE COMPOSIÇÃO DO        TATIT,    OU
                                                                              ANTES, UM POUCO SOBRE AQUILO QUE É CHAMADO DE          “MELÓDICO”. A
                                                                              QUESTÃO DE UMA MÚSICA SER MELÓDICA OU BONITA TEM UM BOCADO DE
                                                                              CARÁTER SUBJETIVO, MESMO INDIVIDUAL.      MAS    EM GERAL FAZEM MAIS
                                                                              SUCESSO MÚSICAS COM MELODIAS FÁCEIS       (NÃO   NECESSARIAMENTE RUINS),
                                                                              MAS QUE POR ALGUM MECANISMO MAIOR QUE A NOSSA COMPREENSÃO
                                                                              RAPIDAMENTE SÃO ASSIMILADAS E NÓS PASSAMOS A MENTALMENTE REPETIR
                                                                              VÁRIAS VEZES. VIDE “PENSE EM MIM”, “SUNDAY BLOODY SUNDAY”, UM
                                                                              BOCADO DAS CANÇÕES DO   THE CURE. MAS NÃO É ESTA MELODIOSIDADE
                                                                              FÁCIL QUE, PELO MENOS SOZINHA, FAZ UMA MÚSICA SER BOA. VIDE O TRASH
                                                                              EXEMPLO DE “SMOKE ON THE WATER”, CLÁSSICO DO MAU GOSTO DO DEEP
                                                                              PURPLE. AQUELE RIFFZINHO QUE QUALQUER DESMIOLADO METIDO A
                                                                              GUITARRISTA SABE TOCAR NÃO FAZ A MÚSICA BOA, LONGE DISTO, É UMA
                                                                              EXPLORAÇÃO INSISTENTE DA DITA “MELODIA” DO TEMA.
                                                                              NA MÚSICA DE TATIT ESTA MELODIOSIDADE FÁCIL ESTÁ AUSENTE, OU PELO
                                                                              MENOS NÃO CONTA TANTO. O QUE NÃO FAZ A MÚSICA FEIA, RUIM, NEM
                                                                              MESMO DIFÍCIL. O ENFOQUE É QUE MUDA. A CONSTRUÇÃO DA CANÇÃO
                                                                              PARECE PARTIR DA LETRA, OU PELO MENOS HÁ UMA INTEGRAÇÃO ENTRE
                                                                                          MÚSICA E LETRA. AO CONTRÁRIO DA COMPOSIÇÃO DE HITS, ONDE
                                                                                          O TEMA FÁCIL É ELABORADO, E EM SEGUIDA A LETRA COMPOSTA
                                                                                          EM SUA FUNÇÃO. E É NESTA DIFERENÇA QUE TAMBÉM RESIDE A
                                                                                          MUSICALIDADE DE TATIT. NAS CANÇÕES EXISTEM REFRÕES,
                                                                                          TEMAS QUE SE REPETEM, MAS A MÚSICA É MUITO COMPOSTA A
                                                                                          PARTIR DA SONORIDADE DAS PALAVRAS E DO PRÓPRIO
                                                                                          CONTEÚDO.   O   QUE A PRINCÍPIO PARECE SEM COR, NA VERDADE
                                                                                          TEM MUITO MAIS VIDA E MELODIA QUE QUALQUER CANÇÃO
                                                                                          APARENTEMENTE DE FÁCIL ASSIMILAÇÃO.        A   EMOÇÃO E A BELEZA
                                                                                          NA MÚSICA ESTÃO EM CADA PALAVRA E EM CADA MOMENTO, O
                                                                                          QUE TORNA A BELEZA MUITO MAIS RICA E INTENSA.
                                                                                          CERTAMENTE   A INTERPRETAÇÃO DE UMA MÚSICA COMPOSTA
                                                                                          DESTE MODO DEVE SER BEM MAIS COMPLEXA E DIFÍCIL QUE UM
                                                                                          AGUDO HISTRIÔNICO, NO ESTILO     EDSON CORDEIRO. SENTIR       A
                                                                                          MÚSICA NÃO É GRITAR NEM FECHAR OS OLHOS COMO SE
                                                                                          ESTIVESSE NUM MOMENTO DE TRANSE.       SENTIR    A MÚSICA É
                                                                                          CANTAR, SEM CHAVÕES, LIVRE DE LUGARES COMUNS.
                                                                                          A   PERGUNTA QUE FICA: MAS É ASSIM, TÃO RACIONAL?
                                                                                                                                          DEVE SER
                                                                                          DIFÍCIL DE ENTENDER...   AO   CONTRÁRIO.
                                                                                                                              A MÚSICA NÃO É PURA
RAZÃO NEM COMPLEXIDADE. AO CONTRÁRIO, É ATÉ MAIS EMOTIVA. SÓ NÃO APELA. E NEM É DIFÍCIL. MAS AO CONTRÁRIO DE SMOKE ON THE WATER, PARA OUVIR
TATIT É NECESSÁRIO NÃO TER EXPECTATIVAS DE UMA EMOÇÃO HISTÉRICA, UM BERRO OU UM NIRVANA. DEVE-SE DEIXAR SER LEVADO PELA MÚSICA. E, POR FIM, MÚSICA
NÃO É ACESSÓRIO DE DECORAÇÃO. A MÚSICA DE TATIT NÃO É PARA SER OUVIDA NUMA FESTINHA, NEM NA HORA DO JANTAR. ALIÁS, ISTO SERVE PARA QUALQUER
COMPOSITOR. MÚSICA FOI FEITA PARA SER OUVIDA. E NADA COMO UNS POUCOS MINUTOS DE ATENÇÃO PARA PERCEBER COMO É RICA A MÚSICA EM “FELICIDADE”. O
LUIS TATIT É QUEM FALA AGORA.
RPM: EM   PRIMEIRO LUGAR, FALE SOBRE SEU DISCO NOVO.                      o ouvinte a respeito do elo entre o conteúdo e o seu sujeito. De
R: Meu CD “Felicidade” nasceu de uma proposta da Dabliú, na               nada adianta um jogo inteligente de palavras se o ouvinte não o
pessoa do advogado, produtor e poeta J. C. Costa Netto, que há            associa ao seu produtor. A dimensão subjetiva é insubstituível.
tempo acompanha meu trabalho. Como ele fez questão que o                  Compreendo que a indústria cultural dependa de padronização
repertório incluísse a canção “Felicidade”, acabei fazendo desse          para a realização de produtos em série. Isso é um pouco
tema um mote para as demais composições: quase todas                      inevitável e, frequentemente, esse universo, a princípio
passam por esse assunto. Essa canção, mais “No decorrer da                previsível, revela verdadeiros achados que surpreendem (e
madrugada” e ainda “O menino” já tiveram uma versão no                    confundem) os que não admitem qualidade no âmbito da
Rumo. As demais foram compostas especialmente para o disco.               produção em massa. Estão aí as composições do Jorge Benjor,
Quanto ao estilo, penso que continuo o que já fazia                       do Peninha e até de Zezé di Camargo que nem sempre são
anteriormente, talvez ainda com mais liberdade.                           descartáveis, muito pelo contrário. Penso que parte de minhas
RPM: UMA COISA EVIDENTE NO DISCO É O FORTE PAPEL DAS LETRAS, O QUE        canções são em si tão comerciais quanto as desses autores.
É MUITAS VEZES NEGLIGENCIADO, ESPECIALMENTE NO POP/ROCK NACIONAL.
                                                                          Apenas não desfrutam das mesmas oportunidades, como aliás
E DENTRO DO TRABALHO COM AS LETRAS É PERCEPTÍVEL UM CONSTANTE             acontece com uma gama imensa de bons compositores que
JOGO COM AS PALAVRAS. MAS NÃO DA FORMA DE PEQUENAS BRINCADEIRAS           conheço. Isso está mudando um pouco em razão do boom da
SEM CONSEQÜÊNCIAS. NA VERDADE VOCÊ PARECE CONVIDAR O OUVINTE A
                                                                          música brasileira no mercado de disco. Embora ainda não haja
PARTICIPAR DA LETRA, NUM JOGO DE SENTIDOS, O QUE ME FAZ LEMBRAR DOS
                                                                          espaço para todos - e nem poderia haver numa época em que o
JOGOS DE PALAVRAS DE LEWIS CARROL. VOCÊ PODE FALAR UM POUCO SO-           disco deixou de ser um produto raro e caro -, hoje há muito
BRE ESTE TRABALHO COM AS PALAVRAS?
                                                                          mais esquemas de divulgação, apresentação, etc. que na
                                                                          década passada. Enfim, minha música não visa à um público
R: Sim, trabalho a letra com cuidado, durante muito tempo,
                                                                          específico mas também sei que jamais será um produto de
mas não mais que a melodia que, em geral, faço primeiro.
                                                                          massa. Deve haver um nível intermediário de difusão, como
Quando tenho o “modo de dizer” (ou seja, os contornos
                                                                          sempre houve em países mais desenvolvidos. Esse nível seria o
melódicos que nada mais são que entonações de fala usadas no
                                                                          ideal para o caso.
canto), “o que dizer” é o de menos. O tratamento dos detalhes
da letra, de fato, depende de muita paciência. Refaço o trabalho          RPM: DE     CERTA FORMA, COM ESTA OPÇÃO QUE FEITA VOCÊ ACABA SAINDO

numerosas vezes.                                                          DO LUGAR COMUM DO MERCADO FONOGRÁFICO                (TANTO     PÚBLICO COMO AS
                                                                          GRAVADORAS), QUE ESPERA UM FORMATO MAIS TRADICIONAL E PREVISÍVEL.
RPM: EXISTE   UMA CERTA MODA HOJE EM ALGUNS COMPOSITORES NA       MPB
                                                                          VOCÊ   ACHA QUE COMPÕE PARA UM PÚBLICO ESPECÍFICO OU A QUESTÃO É A
QUE, NO MEU MODO DE VER, É UMA VONTADE PSEUDO-MÍSTICA, UMA IMITA-
                                                                          FALTA DE INTERESSE NA DIVULGAÇÃO?         ESTENDENDO       A QUESTÃO    -   QUAL O
ÇÃO BARATA DE   GUIMARÃES ROSA. ESTES     POUCOS COMPOSITORES FAZEM
                                                                          ESPAÇO PARA O TIPO DE MÚSICA QUE VOCÊ FAZ NO CENÁRIO FONOGRÁFICO E
UMA MEIA DÚZIA DE TROCADILHOS FÁCEIS E RÁPIDOS, PASSANDO UMA CERTA
                                                                          NA MÍDIA?
IMPRESSÃO DE GENIALIDADE.   QUAL A DIFERENÇA, NA VERDADE, ENTRE TRO-
CADILHOS E O TIPO DE   LETRA QUE VOCÊ CONSTRÓI?
                                                                          R: Teoricamente, o mesmo espaço de que dispõe Chico
                                                                          Buarque, Milton Nascimento, Caetano Veloso. Na prática, cada
R: Há um trabalho técnico que não substitui uma certa
                                                                          um tem sua história e faz o que faz justamente por causa disso.
dimensão existencial que toda letra deve ter para que convença
C. Brown, Marisa Monte, José Miguel Wisnik, Itamar
                                                                                         grandes estrelas. Quanto à qualidade, Lenine, Arnaldo Antunes,
                                                                                         vez mais, gravações de compositores “desconhecidos” por
                                                                                         (Tom Zé, Luiz Melodia, Jorge Mautner) e ainda permite, cada
                                                                                         (Axé, Olodum, Timbalada, etc), recuperou nomes esquecidos
                                                                                         americana das rádios, constituiu-se a partir de temas regionais
                                                                                         as suas faixas de realização: expulsou a música norte-
                                                                                         ilimitada. Nunca a música brasileira esteve tão bem em todas
                                                                                         definem nossa época como um período de diversidade quase
                                                                                         escalas (top, médio e independentes de modo geral), que
                                                                                         existem centenas de núcleos de divulgação, nas diversas
                                                                                         emissora. Hoje não temos mais isso mas, em compensação,
                                                                                         passar por ali para depois irradiar pelo Brasil com o aval da
                                                                                         Record, de tal forma que tudo que era importante precisava
                                                                                         na década de 60 estava integralmente concentrada na TV
                                                                                         “A cumplicidade do público”, em 12/04/1998, p.5.5. A música
                                                                                         que penso possa ser encontrada num artigo que saiu na Folha,
                                                                                         R: Bem, tenho falado muito sobre isso e talvez boa parte do
                                                                                                                                                            DE VER?
                                                                                         QUAIS SÃO AS PERSPECTIVAS PARA A MPB NO SEU MODO           PONTO DE VISTA?
                                                                                         CONCORDA COM ESTE      VOCÊ    É O MESMO QUE AFIRMAR QUE SÃO RUINS).
                                                                                         (O QUE NÃO   QUILO QUE SE FAZIA, POR ESTA RAZÃO SEM FORÇA NEM IMPACTO
                                                                                         AQUELES QUE OCUPAM ESTE ESPAÇO SÃO APENAS UMA CONTINUIDADE DA-
                                                                                         MÚSICA MAIS INTERESSANTE NÃO SE POPULARIZOU E          A   NÃO SE RENOVOU.
                                                                                         CAETANO/GIL/CHICO/BOSSA NOVA            QUE O ESPAÇO ANTES OCUPADO POR
                                                                                                          MAS A IDÉIA É
                                                                                                          TRANSFORMADORA E DE GRANDE QUALIDADE SENDO FEITA.
                                                                                         UMA CRISE CRIATIVA, O QUE NÃO QUER DIZER QUE NÃO EXISTA MÚSICA
                                                                                         PASSA POR    MPB   MODO DE VER DOS EDITORES DESTE ZINE, A       RPM: NO
                                                                                         Estranha”. Precisamos de todas as dicções.
21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321
21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321   maneira dele: “Como Dois e Dois”, “Muito Romântico” e “Força
21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321
21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321
21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321   que tentou fazer (com grande êxito) três composições à
21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321
21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321
21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321
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      R U M O A O V I V O - CA M E R A T I ( 1 9 9 2 ) - C D                             “Folhetim”. Caetano admira tanto a dicção de Roberto Carlos
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21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321
         O SU M O DO RU M O - ELDORADO ( 1 9 8 9 )
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21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321
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                                EM C D
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                                                                                         de tempos em tempos, se entrecruzam. Chico não é capaz de
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 Q U E R O PA S S E A R - ELDORADO ( 1 9 8 8 ) - DISPONÍVEL
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           C APRICHOSO - INDEPENDENTE ( 1 9 8 5 )
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          D ILETANTISMO - CO N T I N E N T A L ( 1 9 8 3 )
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                                                                                         CARLOS/PAGODE/AXÉ) É POSSÍVEL DIZER QUE HÁ UMA SUPERIORIDADE
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     R U M O A O S A N T I G O S - INDEPENDENTE ( 1 9 8 1 )                              E MESMO RUMO/ARRIGO) COM A MÚSICA REALMENTE POPULAR (ROBERTO
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                                  CD
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  R U M O - INDEPENDENTE ( 1 9 8 1 ) - DISPONÍVEL E M                                    de um registro considerado “apenas” popular.
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                                                                                         expressiva. São verdadeiras jóias do nosso repertório advindas
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                                                                                         com Arnaldo Antunes e verifique se não há profundidade
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                      D ISCOGRAFIA GR U P O RU M O
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                                                                                         “Sonhos” ou “Jorge de Capadócia” com Caetano ou “Judiaria”
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21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321
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F ELICIDADE - GR A V A D O R A DA B L I Ú/ ELDORADO ( 1 9 9 7 )
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                                                                                                                                                    TRANSFORMAÇÃO?
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                      D ISCOGRAFIA LU I Z TA T I T                                       A MÚSICA TEM PODER DE     -   DISTO   ALÉM   TER PROFUNDIDADE EXPRESSIVA?
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                                                                                         POSSÍVEL FAZER MÚSICA FÁCIL E ACESSÍVEL E AO MESMO TEMPO          RPM: É
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                                                                                         isso não vem ao caso.
II, acho que tem tudo a ver.                                                             obras. Se a música popular é considerada Arte oficialmente,
em nossa mente. Quanto à aproximação com o nosso D. Pedro                                ficamos extremamente sensibilizados com a realização das
Pensamos por narrativas, por isso essas histórias ressoam bem                            analisar seus efeitos no plano dos ouvintes. Nos dois casos,
Jorge já citado) ou mesmo Itamar (Nego Dito, Beleléu, etc.                               Quanto à função estética de ambas as linguagens, basta
exemplo, Jorge Benjor (Charles, Anjo 45, Zumbi ou o próprio                              diferentes. Os cancionistas, em geral, nem são músicos.
melodias sugestivas. Penso que crio alguns mitos como faz, por                           diferentes e que possuem tradições também completamente
grandes narrativas (para a escala da canção) a partir de                                 linguagens completamente diferentes que mobilizam conteúdos
depreendê-la. Não está explícita. Gosto de elaborar essas                                mais conhecido é o livro “O cancionista...”). Trata-se de
um certo esforço, como imagino que você tenha feito, para                                R: Já debati exaustivamente esse tema em outros trabalhos (o
seu arranjo, nem mesmo sua interpretação vocal. É necessário                                                                                 É ARTE?   A MPB   DITA?
comentou-a comigo. Tenho a hipótese de que nunca acertei o                               À ERU-   ACHA QUE A MÚSICA POPULAR É UM GÊNERO DE CONTEÚDO INFERIOR
uma canção chamativa no meio do disco. Pouca gente                                        VOCÊFORMA ESTES GÊNEROS SERIAM MAIS PROFUNDOS E INTELIGENTES.
R: Também gosto de “O Rei”, embora tenha sentido que não é                               DESTA    TÉCNICO-ACADÊMICOS SÃO MAIS IMPORTANTES PARA A AVALIAÇÃO.
UM POUCO SOBRE ELA E SEU PROCESSO DE CRIAÇÃO.                                            DADE SERIA A MÚSICA ERUDITA OU O JAZZ DE ACADEMIA, ONDE PARÂMETROS
MÚSICA. GOSTARIA QUE VOCÊ FALASSE SOBRE ESTA CANÇÃO, E DISCUTISSE                        DE VER-   ARTE   VEZES COM FINALIDADE SOCIAL, MAS SEMPRE TRANSITÓRIA.
DOR”, BIOGRAFIA DE D. PEDRO II, O QUE ME GEROU MAIS SIMPATIA À                           MÚSICA DE ÉPOCA, ÀS     SERIA   CERTA FORMA COMO UM GÊNERO INFERIOR.
ÇÃO. COINCIDIU COM O MOMENTO EM QUE LIA “AS BARBAS DO IMPERA-                            COMO QUASE TODA FORMA DE MÚSICA POPULAR É TIDA DE           RPM: A MPB,
TRANSCORRE O MOMENTO QUE SE PODERIA CHAMAR DE “CLÍMAX” DA CAN-                           canção popular.
A FAIXA “O REI”, ESPECIALMENTE COM A FORMA SUAVE E DELICADA EM QUE
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TADO MUITO DO SEU DISCO, FIQUEI PARTICULARMENTE IMPRESSIONADO COM
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RPM: UMA ÚLTIMA PERGUNTA, MUITO PESSOAL MINHA. ALÉM DE TER GOS-                          caracterize por revelar a música menos consagrada. Só isso já
tempo de carreira.                                                                       dedicada a ela, que concorra com a Musical FM, e que se
valor quanto os ídolos dos anos 60, apenas possuem menos                                 cenário da música brasileira é a alternativa de uma outra rádio
Assumpção, Ná Ozzetti, Djavan e outros têm, a meu ver, tanto                             De um ponto de vista bem pragmático, o que está faltando no
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  • 1.
  • 2. grandes orquestras e os crooners. Estes tiveram relação direta EDITORIAL RENATO GRIMBAUM com a formação da bossa nova, e não somente o samba. Então porque o pop atual deve ser encarado como influência O atual número é sobre a MPB. E quando vemos a sigla que malévola e uma ameaça à frágil criação nacional? Esta idéia virou nome, a sua força, a letra que sonoramente se destaca parte de uma falsa polarização, uma cegueira. A idéia de que é o B. Um B bem grande, de Brasil brasileiro. É interessante toda música pop se assemelha ao heavy metal e sua como que o amor por este magnético B é tão grande, que agressividade, que seria pasteurizada e estúpida. Mas aí leva um público específico e a um fragmento da crítica à reside um enorme desconhecimento. A música pop média, criação de uma reserva de mercado, de uma defesa dos que chega às rádios e edições nacionais na maioria das vezes valores nacionais mais autênticos. Defensores do brio da preenche esta definição. Mas a música pop é muito mais que brasilidade. Em nome desta guerra santa, são capazes de isto, mais rica e diversa, e muitas vezes incapaz de ser ressaltar compositores nacionais medíocres e ao mesmo veiculada num esquema de massificação por não ser de rápida tempo rejeitar música estrangeira de boa qualidade por a assimilação. Nem toda música pop é massificadora. No caso considerarem invasora e uma ameaça à forte cultura nacional; do pop, a diferença entre diversão e arte também existe. E o como se ela não tivesse a menor capacidade de sobreviver. curioso é que a música pop é um dos gêneros mais tem o Este segmento da inteligência emocional brasileira identifica potencial de expressar com contemporaneidade. E há quem o qualquer música estrangeira, em particular a americana, à faça, com qualidade, obscurecido pelo pop oficial e lotado de massificação. prêmios grammy. Este pop autêntico tem inúmeras O curioso é que este nacionalismo radical defende quase que dificuldades de ser disseminado. A falta de interesse da exclusivamente a música popular. Estes mesmo indústria, e consequentemente da mídia por não possuir uma segregacionistas ouvem Chico Buarque, Noel Rosa e aceitam o fórmula pré-determinada, e também uma certa exigência do prazer de outras manifestações artísticas, mesmo quando público de associação do bem cultural com uma imagem, um produzida longe deste império tupiniquim. Por exemplo, nas bem de consumo, muitas vezes não preenchida pela música artes plásticas. Este mesmo público aceita Dali, Monet e mais espontânea. E também há o preconceito daqueles que Rodan. É óbvio, e não precisa ser enfatizado o valor destes poderiam ser os formadores de opinião. Estes ouvidos artistas e a importância e beleza das suas obras. Mas o que fechados, criando uma superficial divisão entre música está em jogo aqui não é o valor, mas a invasão. O mérito é a americana e brasileira nada mais fazem que gerar ignorância perversa interferência estrangeira na espontaneidade da nossa e preconceito. E o mais curioso é que a música mais cultura. Então porque não fechar então nossos olhos a estes massificadora, homogeneizante e destruidora de artistas defloradores? Considerações similares podem ser manifestações regionais hoje é brasileira. A musiqueta baiana feitas para a literatura, tanto a prosa como a poesia. Só que dos txans e txuns. Há quem as defenda como autêntica, mas no caso da literatura, em especial na poesia a tradução é só perceber o impacto desta massificação, o risco que traz obrigatoriamente altera a manifestação original, e neste caso este tipo de música, muito mais que qualquer massificação por melhor que seja o tradutor é impossível se captar na pop. Esta música pretende ter uma identidade nacional, e totalidade as nuances da intenção do artista. Por isto, se mais mais, em português. E, junto com pagode e musiquelha uma vez quiséssemos ser radicais, só nos restaria ler material sertaneja, de forma estúpida e burrificante, atrai todas as nacional para sentir uma manifestação completa e original, atenções dos verdadeiros criadores da música genuína para além de autêntica. A situação é mais aguda no caso do manifestações medíocres e superficiais. Há algo pior que cinema, forma de expressão não oriunda da manifestação chamar de autêntica música do campo esta mescla de country popular espontânea, e necessariamente ligada à necessidade rock e música brega que são as duplas sertanejas? Hoje a de capital devido aos custos de produção. A maior parte do música brasileira é veiculada de forma a ser mais massificante cinema aceito como de qualidade é estrangeiro. Somente nos que qualquer manifestação pop. últimos anos o cinema nacional começou a se reerguer. Mas o Neste ponto entra uma outra questão relevante: o fato do cinema internacional é aceito pela inteligência brasileira. artista ser brasileiro garante que ele esteja fazendo música Especialmente o europeu, mas aqui entra outra manifestação brasileira? Não. O que a maior parte das bandas pop fazem da visão obtusa: a mediocridade do cinema americano e a hoje não é MPB, é pop. Elas importam um modelo estrangeiro beleza do europeu. Mas aqui cabe outra ponderação: nem sem maior reflexão ou mescla e o replicam, muitas vezes sem todo filme americano é superficial e massificador. Inúmeros nem traduzir o raciocínio para o português. Isto não as coloca exemplos exemplos poderiam ser citados, em particular num contexto brasileiro. Estas bandas tocam pop oriundos da cena alternativa, como Jim Jarmusch. E da internacional, eventualmente tocado numa república mesma forma nem todo filme europeu é bom. Às vezes há latinoamericana. Às vezes usam um pandeirinho, uma cuíca excessos de intelectualismos e hermetismos que servem mais ou uma batidinha de samba, mas isto não as faz mais para consolar as vaidades acadêmicas. Outras vezes o que brasileiras. Estes elementos são somente curiosidade, vemos é a aceitação de filmes ruins, por serem de um país ou decoração. A estrutura é outra. Para se discutir a cultura diretor da moda. A questão básica não é a origem da genuinamente nacional há que se pensar na mescla, e não na manifestação, mas a diferença entre massificação e arte, importação. entre diversão e conteúdo. Estas são as verdadeiras questões, Este pseudo-nacionalismo, da defesa ardorosa do brio e não superficiais questões geográficas. Agora cabe nacional é, em conclusão, obtuso e preconceituoso. Muitas perguntar: se outras manifestações são aceitas, porque não a vezes esconde boas intenções, mas acaba se perdendo em música? Porque o preconceito? Até parece que a música é a ignorância e confusão de conceitos. Defender a cultura única manifestação artística da brasileira. O bastião da brasileira não é trancá-la num quadro estático, com molduras autenticidade, a reserva moral do povo brasileiro, que merece imóveis. A cultura evolui, com o progredir da história. E a todo o esforço para a preservação ecológica e zoológica. E o música, a arte como expressão do pensamento, também deve que fazemos para as outras formas de arte? Deixamos as refletir este movimento natural. Não adianta querer ser maior pobrezinhas livres para serem atacadas pelas influências que o passo da história somente com um cérebro arrogante e malévolas? cheio de reflexões geniais. Não é cercando os ouvidos, criando A idéia de identidade nacional é complexa. Se analisada de uma fronteira cultural que a autenticidade será preservada. Ao uma forma mais radical, esta questão nos levará à idéia de contrário, a formação desta barreira criará uma maior que a única cultura genuinamente nacional é a indígena. distância entre aqueles que ouvem a música e aqueles que se Nesta ótica a cultura africana e principalmente portuguesa são dizem refletir e definir os limites da criação. A maioria das dominadoras e opressoras. Mas a principal característica da pessoas está interessada numa arte que diz respeito a elas e cultura do novo mundo, tanto a do Brasil, mas como a da seu dia-a-dia, e não tanto numa música congelada e América espanhola e a norte-americana é a mescla de preservada por gerações, e nem na complexidade dos influências. Vide o blues e o jazz. Vide o samba. Vide na aspectos técnicos musicais. Esta fronteira servirá somente verdade toda a música brasileira. Ela foi muito influeciada pela para tornar a MPB uma manifestação das elites, sem música que se ouvia na época. Alguns pequenos exemplos abrangência nacional, longe daquilo que torna a cultura mais comprovam esta afirmação. O que se ouvia no Rio na época autêntica e rica no conteúdo: a sua contemporaneidade. do império? A valsa, estilo tipicamente europeu, frequentava os salões e participou da formação da música brasileira. E posteriormente, já no século XX, o tango e o bolero também frequentaram os ouvidos nacionais. Assim como o jazz, as
  • 3. EDITORIAL RICARDO AMARAL Neste segundo número do Rosebud, estaremos inaugurando Inspirado no grande sucesso de Padre uma fase temática dentro do zine. No caso, iremos focar na MPB, com pinceladas no power pop e algumas entrevistas, e provocar um pouco a reflexão e a discussão sobre estes Marcelo, a K'Ralhos Records lança sua assuntos. Uma das questões que surgem é porque estamos misturando dois temas tão diferentes, se um não tem a ver nova linha religiosa: a Any Dei Records. com o outro? Sou obrigado a contar uma historinha para ilustrar o ponto, Os grandes sucessos das pistas nas vozes de portanto. Fui assistir o show do Demônios da Garoa em janeiro no clássico Café Piu Piu, no Bixiga. Lá pelas tantas do grandes religiosos de todos os credos. show, um deles anunciou que o Ira! iria se apresentar em alguns dias e perguntou à platéia, formada por pessoas de bom nível educacional e com idade variada: “Alguém gosta de Budista Chú rock, aí na platéia?”. Foi quando levantei a mão... e mais ninguém. Pelo contrário, até deram risada. Ele, visivelmente Free Tibet sem graça, tentou minimizar: “Mas eles são gente boa, já tocamos com eles algumas vezes...”. Estas são as mesmas pessoas que, quando inquiridas, vão dizer que são ecléticas. Tudo bobagem, pois no fundo, o iIncluindo os hits brasileiro é preconceituoso musicalmente, tacanho e completamente encaixado em padrões definidos de tribos. Fui à montanha e chorei Pela própria educação brasileira, que privilegia a boçalidade Tibet é dez como forma de evitar conflitos, quando alguém se julga eclético e diz ouvir de tudo, na verdade ouve apenas aquelas Oh! Calcutá músicas consagradas e já consensualizadas. O brasileiro é (part. especial Beastie Boys) muito pouco interessado na novidade, preferindo mais do mesmo do que algo que o faça pensar ou mesmo questionar. Isso não se aplica somente à música, claro. Um livro que trata Rabino Jacó muito bem este assunto enraizado na cultura brasileira é Carnavais, Ritos e Heróis, de Roberto daMatta. No livro, ele Free Jerusalém demonstra claramente que, enquanto na língua inglesa a palavra “discussion” tem conotação positiva, no Brasil, seu equivalente “discussão” é claramente negativo. Repare que, quando duas pessoas/amigos numa conversa começam a incluindo os hits demonstrar pontos contrários (o que exercita efetivamente o Melô do Hava Naguila espírito crítico e auto-crítico), logo surge alguém para pôr Dança do Woody Allen panos quentes, como se as pessoas estivessem prontas a se baterem. Isso ocorre muito freqüentemente comigo, sendo Lollapalooza que nunca briguei com ninguém por ter opinião contrária à (part. especial Perry Farrell) minha. Este espírito pacifista do brasileiro permite que Sepultura namore com Carlinhos Brown, para ganhar legitimidade entre nosso povo, como se esta mistura fosse natural e, principalmente, necessária para harmonização da Anti Cristo Superstar cultura. Permite até que axé seja considerada mais nacional que bandas de rock como o Ira!, o que no meu dicionário é o Free Lucifer oposto (axé é a transformação da batida do afoxé em batida discoteca, o que claramente é tão “brasileiro” quanto o rock). Essa homogeneização é tão enraizada que não se discutem incluindo os hits algumas realidade “assumidas” pela indústria e público. Entre Erguei os ossos da podridão elas: por que música brasileira obrigatoriamente tem que ter batuque? Da bossa nova ao axé, o ritmo dita a regra. Pois Melô do ódio e da putrefação onde anda o lado melódico da música brasileira, aquela Hey Stoopid! música onde o ritmo fica em segundo plano? Por que as letras de música seguem o estilo Caê-Gil pós Grammy, ou pior, (part. especial Alice Cooper) Cazuza, de poesia babaca? E por que este excesso de louvores à música baiana e nordestina em geral, como se ela fosse o único estilo genuinamente nacional (excetuando o Hare Fez samba)? Pessoalmente, não me identifico com o estilo “baianidade na cor”, “vai, ordinária”, “o pinto do meu pai fugiu com a galinha Free Pakistan da vizinha”. Prefiro as marchinhas do Silvio Santos e Chacrinha (que pelo menos são engraçadas) à estas idiotices “malandras” pra turista paulista ouvir atrás de trio elétrico incluindo os hits fechado para o povão. E o que parece-me ainda mais Melô do Mantra estranho é essa uniformidade e unanimidade do baianês, seja em Salvador, seja em São Paulo, Florianópolis ou Minas. OOOMMMM UMMMUMM Carnaval, agora, é Carnabahia, Carnaxé e bobagens do Bahia e Índia são irmãs gênero. Samba, só se for no sapatinho. É claro que há uma crise no formato “escola de samba”, mas não justifica a perda (part. especial Baby do Brasil) total do estilo pro fraquíssimo, enjoativo e limitado axé. E volto então ao porquê dos temas serem diversos: porque não nos encaixamos na tribo rock, nem na tribo indie, nem na já nas melhores lojas do ramo tribo dance, nem em tribo alguma. Qualquer estilo musical tem suas coisas boas e ruins, umas mais que as outras. Vamos romper de vez aquela maldita mania de “eu ouço rock”, “eu ouço axé”, ou pior, “ouço de tudo”. A gente sabe que é mentira.
  • 4. Sem o laboratório cultural que é a realidade acadêmica superior, EDITORIAL RODRIGO VILLALBA nossas chances de criar algo novo, bom e que tenha apelo são muito reduzidas. Por isso que sobrevivemos, ainda, por causa dos COM LICENÇA (OU “O QUE VEM DE CIMA NÃO ME ATINGE”) puristas e de uma meia dúzia de gênios. Quase toda vez que um manezão se meteu a criar uma “fusão” moderna de “ritmos” nos Tenho pensado muito sobre um mundo ideal para a música. Uma últimos anos, o resultado foi tão forçado quanto o próprio comédia utopia. Nela, ninguém ganharia a vida fazendo música nem que ficava citando adorno e física quântica num sambinha safado escrevendo sobre música. Grande parte da patifaria acabaria por de três acordes... aí. Bem, eu sei que esses devaneios não nos levam muito longe. Ora, mas vamos lá, pessoal! Até o século XIX, só 4% da população Então volto à realidade... mundial sabiam ler e escrever. Roma não se fez num dia. A gente Bem vindo ao meu editorial sobre MPB. sabe que muita coisa “comercialmente viável” vira história antes de Eu tenho (de novo o verbo ter!) três observações para fazer. Como tocar a rádio mas, quem disse que reconhecimento é sinônimo de não ganho a vida escrevendo sobre música, posso cometer erros alguma coisa que preste? Isso me lembra aquele quadro pintado ortográficos, repetir palavras e (até) ser breve, quase etéreo e você por um chimpanzé que foi vendido por US$ 25.000 na década de nunca mais ser* o mesmo depois de ler este texto... Veja, posso 70, no auge da pop/rock art... ser prepotente também! 1) Não há um ambiente acadêmico decente no Brasil. As novidades, que surgem através da mistura de conceitos culturais e ideológicos pré-existentes e já estabelecidos, abortam na prancheta. Veja bem: eu não estou afirmando que não há faculdades, cursos, universidades decentes. Estou atestando que aqui, quando o sinal da saída toca, muito pouca gente fica no pátio esperando os colegas para produzir e conversar a respeito da música. Não há tolerância, também. Se você não conversa com aquele tipo estranho, ou com aquele aparentemente normal demais, nunca conhecerá o universo diferente que orbita o cara. Fica restrito e se torna preconceituoso. Acha que sabe tudo e acaba fazendo o inevitável, nesses casos: cria definições extremamente pessoais para conceitos gerais, como MPB. Aí, não entende mais ninguém e ninguém mais entende você. Nós somos o pessoalzinho que tem referências. Bem ou mal, temos uma noção das coisas. Mas sofremos um excesso de sensibilidade do tipo “ninguém está preparado para as revelações bíblicas a não ser eu e meus amigos.” E você sabe, como diria Mark Lanegan, “quando o gato tem crise de identidade, os ratos fazem a festa.” Quem são os ratos? São todas as pessoas que, percebendo ou não, querendo ou não, tomam a dianteira na condução do público rumo ao vislumbre da MPB, a palavra-puta, que cada um usa como quiser, contanto que tenha dinheiro e tempo. Villa-Lobos, o maestro, dentro da proposta modernista, fazia MPB. O grupo Raça Pura (“O pinto do meu pai...”) faz MPB. Criticar a MPB? Elogiá-la? Como fazer isso se eu não sei o que é MPB para você? [ara mim, há boa música e música de bosta. Só Pra Contrariar é música de bosta. Caetano Veloso moderno não é músico. Como pessoa, é um mafioso que administra seu maior patrimônio pessoal: a imagem pública do que já foi. Como músico, é uma cópia mal-feita dele mesmo (mal-feito = pasteurizado, com lactobacilos vivos). Renato Teixeira é música boa, mas não é novidade. Demônios da Garoa é música boa, mas não é novidade. Tiazinha canta com o cú, e assim por diante. 2) Agora, de quem é a culpa por esta situação ridícula em que nos encontramos? Rádios inundadas por baixaria; R&B brasileiro (pagode - aliás, quem ouve aqueles R&Bs americanos que a MTV toca que nem louca?); sertanejo “metropolitano de propaganda de cavalinho-de-pau” etc., é música de bosta e, ao que parecem, sempre vão existir. Pedir que o povo, sozinho, dance, cante, esqueça os problemas da vida e seduza, sim, mas com inteligência, sem a ajuda da elite cultural (você) é impossível. Querer que os donos das gravadoras corporativas invistam em novidades de verdade, sem controlar a produção, sem podar a criatividade do artista e descaracterizar sua obra é como pedir para o Sr. Ford deixar cada um trabalhar como quiser na linha de montagem. Achar que é vi*vel, hoje, largar seu emprego est*vel (!!!) e montar uma pequena gravadora ou uma banda é, de certa forma, sonhar. Assim... chegamos a uma grande conclusão - não havia maneira de estar de outro jeito. O que nos leva à questão seguinte... 3) ... o futuro. Continuará a música sem alma? Tom Zé, Mutantes e Hermeto Paschoal receberão, mesmo postumamente, discos de ouro? Claro que não. Mas eu arrisco uma previsão bem otimista para os próximos anos. A saturação é muita, e está sendo mal conduzida. A coisa está tão escancaradamente patética que a tendência é a galera acordar. Percebo também o espírito “faça- você-mesmo” voltando mais amadurecido. E a garotada, hoje, está mais esperta para estes lances de marketing musical do que há 4 ou 5 anos. Existem, sim, diferenças entre a música dos americanos, por exemplo, e o modo brasileiro de lidar com a reciclagem musical e a imprensa interessada no assunto. Os gringos levam vantagem pois têm, claro, as melhores publicações e fontes intensas de renovação cultural com qualidade. Mas eles também têm mais recursos, mais tempo e estão, por uma questão histórica conhecida, no centro do mundo. Vistas dessa forma, nossas limitações nem são tão grandes e aparecem como uma óbvia conseqüência de nossa condição geral, principalmente no que se refere à questão da educação, como deu pra perceber no começo do texto.
  • 5. k’ralhos records uma divisão da k’ralhos entertainment group Press Release Urgente! K´Ralhos Records fecha acordo inédito no entretenimento mundial A K´Ralhos Entertainment Group, um dos mais novos e maiores conglomerados de entretenimento no Brasil, fecha um acordo inédito no mundo, ao associar-se a ABRAS (Associação Brasileira de Supermercados) e ser o primeiro provedor de Musicacessório(c) às grandes redes varejistas. “Percebemos que havia um vazio no mercado para esta categoria de produto”, afirma Rodrigo Villagrande, chairman da KEG. “Há muito tempo música deixou de ser o foco: agora música é apenas uma faceta no conjunto do entretenimento, que é multimídia. Isto significa que temos que colocá-lo junto donde o consumidor realmente espera o produto.” O conceito é muito inovador: posicionar música associada aos produtos mais adequados. “Em pesquisas recentes, percebemos que certos grupos eram diretamente relacionados a produtos de massa, como sabonete, churrasco, papel higiênico entre outros. O que fizemos foi, através da última tecnologia em pesquisa, banco de dados e micropartículas, criar uma linha exclusiva de acessórios com música embutida, a linha Musicacessório(c),” nos explica Ricardo Amarelinho, diretor de branding da KEG. “Por exemplo, nosso primeiro lançamento é o Kit É O Tchan! Para Churrasco. Você joga o produto em cima da carne e, enquanto a carne vai assando, você vai escutando os grandes sucessos do É O Tchan!, sem parar!” Pelo acordo com os supermercados, os produtos da linha serão colocados nas seções específicas em que cada artista atua. O sabonete Rita Cadilac, por exemplo, ficará na área de artigos masculinos. Já o papel higiênico Kenny G, um papel da categoria premium, ficará nesta mesma área de artigos para banheiro. “Esta é somente a primeira etapa do Musicacessório(c) na verdade.”, nos explica Villagrande. “A idéia é lançar também produtos específicos com os artistas, como toalhas Ivete Sangalo, torneiras Michael Bolton e até frutas musicais, como o abacaxi Chico César, a banana Sandra Sá e a maçã Sandy Xororó. Tudo explorando o som destes grandes hitmakers na hora que as pessoas realmente a necessitam.” A certeza de sucesso é tão grande que as grandes gravadoras pretendem em breve explorar o sistema pay- per-eating nos restaurantes: sua comida poderá ser salpicada de Malícia ou Só Pra Contrariar, por apenas alguns centavos a mais em sua conta. Todas pagando direitos para a KEG, claro. As críticas quanto a banalização da música e a posição da música como adereço não parecem afetar a empresa. “Nós apenas reagimos ao mercado. As pesquisas demonstram que música deixou de ser algo para se ouvir. Se você perguntar a qualquer um nas ruas, eles vão lhe lembrar que axé é ótimo para dançar, pagodinho é ótimo pra churrascadas e uma música relaxante é perfeita para a intimidade no banheiro. Ninguém acha que isso é bom mesmo. Só que todo mundo compra. E nós precisamos sobreviver no mercado,” nos lembra Amarelinho. “Na verdade, pouco importa o conteúdo do que eles tocam: o povo gosta da imagem deles, do rebolado e da pirotecnia dos shows. Ou alguém acha que É O Tchan faria sucesso sem duas bundas cantoras? Eu, por mim, só venderia música da Gloria Gaynor e do Village People, pois acompanham tudo a todo momento. Mas quem iria comprar um Kit YMCA para Fondue?” Amarelinho estressa, porém, que a empresa está preparada para entrar em segmentos diferentes, se houver demanda. Maiores informações, favor contactar na KEG: Armanda Beltrão 0XX11-123-0987 Musicacessório e seus derivados são marca registrada da KEG.
  • 6. de raiz, agora quem dita a “mistura” é o pior lixo “country” americano (Alan Jackson, Garth Brooks), que efetivamente não é country. A verdade é que o que se vende não é o melhor, e sim o pior. É o pior do estrangeiro misturado a nenhuma inspiração nacional. A tal mistura brasileira, para ter crédito entre a nata cultural, necessita ter um componente de suingue. Se alguém mistura forró com funk, tudo bem, afinal trata-se de ritmo, e ritmo é Brasil; como se o único objetivo na música brasileira fosse o balanço, a dança, a festa e o remelexo. O foco é a bunda. Então, a coisa se limita por baixo: a banda, para ser aprovada pela crítica, só pode misturar ritmos brasileiros com funk ou reggae (alguém realmente agüenta uma tranqueira como o Farofa Carioca?). No fim, temos dois problemas: as bandas só conhecem o pior do estrangeiro e, portanto, ao misturarem, sai porcaria, ou então se isolam na tal música brasileira (que nunca existiu) e tornam-se redundantes. A única Quando lemos por aí que bagulhos como como se ouve em clássicos na voz de Nelson música genuinamente brasileira é feita nas Chico César e Zeca Baleiro são considerados Gonçalves. Se entrarmos na bossa nova, fica ocas do Xingu ou no Amazonas: todo o resto gênios da música e nosso maior talento é ainda mais clara a influência do jazz em cima foi importado. Do samba ao caipira, todos Carlinhos Brown, é porque algo muito errado dela. E, hoje, a bossa nova virou quase que sofreram influências está acontecendo. Não adianta nem discutir o um estilo do jazz para os gringos. profundas de música brega romântico atual (que faz Amado Batista A boa safra do rock nacional dos anos 80, africana, portuguesa, ser excelente, quando comparado a Daniel e representado pela Legião Urbana, Titãs e Ira! espanhola, latina e Leonardo), o cornogode cauntri de Só Pra bebia do que havia de mais interessante no mesmo indígena. É Contrariar, Malícia, Art Popular, Kiloucura e rock estrangeiro, que era o pós-punk do Joy uma grande besteira Chitãozinho e Xororó e o medonho axé music Division, Wire e Clash. A safra seguinte, que essa crendice do de Raça Pura, Banda Beijo e Netinho. Isso é continha boas bandas como Violeta de Outono “Brasil: país da música chover no molhado. Todo mundo sabe que e Mulheres Negras, também bebiam de boas “M ALA , E XTREMAMENTE MALA /P RA VOCÊ ...” estes empresários (artistas eles não são) não fontes externas, sem abandonar SERIA ESTE O FUTURO DA MPB... tem qualquer intenção artística mínima, sendo completamente o lado “brasileiro”. que o número de cópias vendidas representa O problema é que, a partir de então, o mais rica do mundo”. São pensamentos como o quão bom é o trabalho dos caras. Aliás, mercado brasileiro musical passou a se este que injetam uma xenofobia sem sentido falar mal desta tralha é tão fácil que profissionalizar, no pior sentido. Com o fim para um país que sempre bebeu de boas preferimos ignorá-los. das últimas gravadoras brasileiras, o fontes externas. Esta era a grande qualidade Voltando aos artistas consagrados pela crítica crescimento das rádios FM via satélite e a da música brasileira: as misturas eram de boa brasileira e pelo público Vila Madalena - maior massificação musical via TV, o acesso à qualidade. A tal vontade de fazer música Pinheiros, é até engraçado tentar entender o música estrangeira de boa qualidade passou a exclusivamente brasileira deu cria a sub- que há por trás de tantos elogios a Carlinhos ficar cada vez mais restrito a um pequeno Caetanos e sub-Cazuzas, além dos eternos Brown. Ele é autor de pérolas como “A círculo. Se por um lado, é mais fácil se filhos e netos dos sub-Jobins. Tudo namorada tem namorada” e acha que Zezé di conseguir álbuns hoje, o acesso à mídia é tão redundante e repetitivo, regurgitações de Camargo é o fundador do “Movimento ruim ou pior que antes. Pior porque o “clássicos” de Dorival Caymmi ad nauseum, Amigos, que revolucionou a música popular programador de rádio tem cada vez menos com o componente adulto-contemporâneo tão brasileira”. Claro, claro... poder para alterar ou experimentar bandas. O amado no país (leia-se: produção burocrática, Existem razões para esta mediocridade geral roteiro já vem montado pela gravadora (é oleosa e cheia de teclados imitando violinos e que vão desde de xenofobia à falta de aquilo que ela quer lançar no Brasil e que, pianos). conhecimento musical. Lembremo-nos que os obrigatoriamente, tenha feito sucesso fora, no O segundo problema vem do extremo do grandes clássicos nacionais, desde Nelson caso das bandas estrangeiras). E, se nos anos problema anterior: a falta de personalidade do Gonçalves e os cantores de ouro, à Mutantes 80, as bandas de rock eram influenciadas pelo que tem sido feito, pela simples importação e Tropicália, todos incorporaram traços de que se tocava nas rádios então (Smiths, Cure, do mais chato brega-pop anglo-saxão. Do música estrangeira. Até Chico Buarque, ícone Joy Division, Jesus & Mary Chain), agora as cauntri embalado em Nashville produzido da resistência musical brasileira nos anos 60, influências são coisas como Anthrax, Metallica, pelos recordistas de vendas, às bandas indie ia atrás da música italiana, incorporando Bon Jovi e Whitesnake. No lado de rock, o cariocas (que tentam emular Londres) e aspectos desta em seu repertório que bandas como Charlie Brown Jr. fazem é paulistas (que tentam ser californianas), não “genuinamente nacional”. Este empréstimo idêntico ao que bandas como Dog Eat Dog e há qualquer tentativa de inovação ou busca sempre foi utilizado por todos os países, seja outros skate-punks fazem. E eles são dos de qualidade. Quer dizer: no fundo, tanto as o americano ou o inglês. O rock foi criado nos menos ruins. Se formos chegar em bandas bandas underground quanto as Estados Unidos, mas hoje falar em rock sem underground como Oz ou Hateen, além de multimilionárias se igualam na falta de falar em Inglaterra é besteira. Isto significa musicalmente limitados e redundantes, são coragem de não fazer o óbvio, na ignorância que os Estados Unidos dominaram letristas terríveis. Por mais charmoso que seja musical, conhecendo apenas aquilo que lhes é culturalmente a Inglaterra? É claro que não. O dizer que “escreve em inglês errado”, isso jogado na cara, e na unicidade musical, que houve foi uma troca, no sentido mais parece mais desculpa de gente que não tem repetindo o que é feito de pior lá fora. positivo possível. E o rock incorporou em capacidade de escrever algo correto em Existe então alguma coisa interessante sendo seguida a música indiana, e depois a japonesa português. feita? Claro. Bons exemplos não faltam na e por aí vai. Adelino Moreira, grande Pretendo elaborar melhor a questão folk/ área caipira (com uma certa releitura urbana compositor brasileiro, buscou referências em sertaneja no próximo zine, mas se através de violeiros como Paulo Freire, boleros e grandes cantores como Bing Crosby. anteriormente, tínhamos uma influência direta Tavinho Moura, Renato Teixeira e Roberto Mas o resultado era novo, diferente da fonte, da música paraguaia (guarânia) e influências Correia), no rap (cada vez mais desenvolvido
  • 7. e adquirindo personalidade própria, e à margem do beautiful people, pois não tratam de alegria e diversão necessariamente, com os eternos inovadores Thaide e DJ Hum, Gog, Consciência Humana, o bom letrista Mano Brown no Racionais MCs entre outros) e principalmente na área instrumental (com Duofel e uma banda que vi num sarau outro dia servindo de exemplos). Muito pouco se salva no pop, infelizmente. Maurício Pereira, Karnak, Tom Zé e ocasionalmente Jorge Mautner tentam algo diferente dentro do sistema, mas há nenhum espaço para RELACIONE OS ARTISTAS À SUAS INSPIRAÇÕES: este tipo de a) Chico César ( ) Caê “M ETE A MÃO NA ANÁGUA /D Á UMA MEXIDINHA ... b) Belô Velloso ( ) Caetano Veloso ...OU SERIA ESTE? c) Paulinho Moska ( ) Família Velloso demonstração. Quem sabe se gravarem um d) Zeca Baleiro ( ) Fina Estampa e) Carlinhos Brown ( ) Dona Canô pagodinho eles apareçam mais... Como último ponto, e que fecha o ciclo de GRUPO MUSICAL COM CERCA DE 8 MEMBROS (UM DUBLA E O RESTO FICA SE MEXENDO NO PALCO) E TOCAM danação pela qual passa a música brasileira, PAGODE ROMÂNTICO. JÁ GANHARAM DISCO DE OURO, APESAR DA QUALIDADE SER SIMILAR AO QUE UM diz respeito ao próprio estilo bunda-mole do CHIMPANZÉ GRAVARIA SE TIVESSE UM MICROFONE. ELES SÃO: artista brasileiro. Qualquer músico babaca que venda seu milhãozinho de cópias lá fora, abre ( ) Grupo Só Pra Contrariar ( ) Art Popular uma gravadora, lança novos talentos e tenta ( ) Kiloucura ( ) Grupo Sensação buscar suas raízes, trazendo à tona clássicos ( ) Grupo Katinguelê ( ) Grupo Pirraça perdidos e, mal ou bem, movimentando mais ( ) Negritude Júnior ( ) Grupo Raça o mercado. Isso vai desde Pearl Jam a ( ) Ginga Pura ( ) Toke Divinal Counting Crows, de Madonna a Smashing ( ) Soweto ( ) Só Preto Sem Preconceito ( ) Grupo Malícia ( ) Molejo Pumpkins. A razão é simples: como eles ( ) Grupo Sedução ( ) Sem Compromisso ganham dinheiro aos burros, eles podem ( ) Os Morenos ( ) Os Travessos investir em algo que gostem, sabendo que ( ) Exaltasamba isto não trará talvez um retorno financeiro enorme, mas traz um benefício próprio muito GRUPO QUE INVESTE EM 2 GOSTOSAS REBOLANDO NO PALCO, UM BAIANO CANTANDO E POR VEZES ALGUMAS grande, além dos fatores acima mencionados. ENTIDADES REBOLANDO JUNTO. A MÚSICA POUCO IMPORTA, PORQUE É IRRELEVANTE DO PONTO DE VISTA Agora, além de comprar carros importados e MERCADOLÓGICO: desfilarem como grande sensações, o que pessoas como Alexandre Pires, Ivete Sangalo ( ) Gerasamba ( ) É O Tchan e Chitãozinho e Xororó fizeram? ( ) Raça Pura ( ) Companhia do Pagode Absolutamente nada. Pelo contrário, não há ( ) Só No Sapatinho ( ) Banda Beijo ( ) Asa de Águia ( ) Gang do Samba nunca show de abertura, não há nenhum ( ) Patrulha do Samba ( ) Banda Cheiro de Amor estímulo a nenhum outro artista, a não ser para seus filhos (no caso do Chitãozinho e POETA MODERNA E ADULTA, TOCA COM VIOLÃO/PIANO E BANQUINHO UMA MÚSICA SOFT, SUPER ACONCHEGANTE Xororó), ou bandas “cover”, como Axé Blond E SOPORÍFERA, PERFEITA PARA A CADEIRA DE DENTISTA, COM LETRAS QUE EXPRIMEM TODO... QUER DIZER, ou Rick e Renner. Com todos estes fatores, ALGUMA COISA, POIS SÃO MUITO INTROSPECTIVAS PARA COMPREENDERMOS. ELA É: fica muito difícil esperar que algo bom vá ocorrer daqui para frente, já que o ( ) Laura Finocchiaro ( ) Vange Leonel comodismo do brasileiro é um valor nato ( ) Adriana Calcanhoto ( ) Zélia Duncan dentro do que tange a qualquer forma de ( ) Leila Pinheiro ( ) Cássia Eller cultura. ( ) Vânia Bastos MUSICALMENTE, NADA ACRESCENTAM, ALIÁS, NINGUÉM CONSEGUE OUVI-LO(A), MAS É LOUVADO PELA CRÍTICA Ricardo Amaral POR SER PARENTE DE UMA GRANDE PERSONALIDADE DA MÚSICA BRASILEIRA, COMO SE ESTE FOSSE O PASSAPORTE PARA A QUALIDADE. SEU NOME É: ( ) João Marcelo Bôscoli ( ) Pedro Camargo Mariano ( ) Belô Velloso ( ) Jairzinho ( ) Dora Vergueiro ( ) Sandy e Júnior ( ) Daniel Carlomagno SUAS CARREIRAS ESTÃO NO OSSO. VIVEM DE ESPETÁCULOS ONDE RELEMBRAM GRADES SUCESSOS E REGRAVAM, PELA 8ª VEZ, AQUELE GRANDE SUCESSO DE 1983. SE JÁ NÃO FIZERAM, IRÃO GRAVAR UM ACÚSTICO MTV. E, MESMO COM TODOS ESTES PROBLEMAS, TEM ESPAÇO GARANTIDO NA MÍDIA, COMO SE ESTIVESSEM NO MELHOR DE SUAS CARREIRAS, E NÃO NA MAIS PROFUNDA E COMPLETA ESTAGNAÇÃO. ELES SÃO: ( ) Titãs ( ) Barão Vermelho ( ) Kid Abelha ( ) Gal Costa ( ) Rita Lee ( ) Blitz ( ) Engenheiros do Hawaii
  • 8. QUAL DAS CANTORAS ABAIXO IRÁ GRAVAR UM ÁLBUM NOVO AINDA ESTE ANO? Ficamos surpresos com a recepção positiva em relação ao primeiro número (há um ano atrás!), especialmente com o Maverick, que rasgou o elogio violento no zine online Página 99 (www.pagina.de/1999). Também recebemos email de um bom número de pessoas do meio dito “alternativo” como o Rodrigo Lariu, o Gilberto Custódio, o pessoal do Brincando de Deus e “asseclas” É QUERIDINHO DA FOLHA DE SÃO PAULO, DO POVINHO MUDERNO DA VILA MADALENA E JORNALISTAS QUE (no bom sentido), a Claudia Ferrari e mais alguns que vão ACHAM QUE TEMOS UMA DÍVIDA SOCIAL COM O NORDESTE. A MÚSICA É REQUENTADA DE CAETANO E GIL E saber pois estarão recebendo este zine em mãos. DOS CHAMADOS “RITMOS” NORDESTINOS , MESMO QUE TUDO PAREÇA MAIS UMA MASSAROCA SEM GRAÇA, LONGE Mas o mais gratificante é receber feedback de pessoas DA VITALIDADE DOS RITMOS CITADOS. PRA GOSTAR, VOCÊ PRECISA QUEIMAR UMA TORA DE BASEADO, SER que nunca haviam lido um zine ou estão fora do meio JORNALISTA E ACHAR CAZUZA O MÁXIMO. SEU NOME É: indie. Pessoas como o Eduardo Acquarone, o Marcelo Moura, a Lygia, a Izabel, o Murad, Pamela e o pessoal de ( ) Chico César ( ) Zeca Baleiro Jarinu, nossos amigos gringos, o Murilo de BH - se bem ( ) Paulinho Moska ( ) Lenine que ele é do meio... E é neste ponto que procuramos ( ) Carlinhos Brown mudar um pouco neste segundo número. Se há uma crítica clara ao primeiro número é que ele saiu muito SEUS ÁLBUNS SÃO TÃO BEM PRODUZIDOS QUE SE TORNAM VERDADEIRAS CHATICES. MILIMETRICAMENTE hermético. E nosso objetivo desde o início era trazer a EXECUTADOS POR MÚSICOS DE ESTÚDIO PAY-PER-PLAY, SÃO ANALMENTE INSÍPIDOS, MAS AGRADAM CRÍTICOS leitura a um público diferente do mundo zineiro, isto é, DO EXTERIOR, QUE COMPARAM TAIS ÁLBUNS A ANTONIO CARLOS JOBIM E TOM ZÉ (COMO SE OVO TIVESSE A gente que gosta de música mas nunca tinha tido acesso VER COM LARANJA SÓ PORQUE AMBOS SÃO COMESTÍVEIS). TRATA-SE DE: a uma série de coisas que temos e que nossos FUTUROS COLABORADORES (dica: é com vocês que ( ) Carlinhos Brown ( ) Marisa Monte estou falando) poderão falar. Esperamos ter consiguido ( ) Timbalada ( ) Chico César isto sem prejudicar a qualidade nesta edição. ( ) Lenine Também agradecemos o Zé Flávio e a Revista ShowBizz, que nos expuseram a um sem-número de pessoas que LIGUE OS ARTISTAS E SUAS ORIGENS: mandaram cartas solicitando uma cópia do zine. Nenhuma recebeu pois até agora não vi a cara delas a) Asa de Águia ( ) Luiz Caldas (nosso colaborador Villalba terá que achá-las primeiro). b) Araketu ( ) Gengis Khan Ao pessoal da Bizarre e da Velvet, nosso abraço pela c) É O Tchan ( ) Abacaxi distribuição restrita. d) Netinho ( ) Odair José E este é o último número do Rosebud Pop Media, e) Daniel ( ) Kaoma também. Calma, ele passará a ser online quase que f) Ricardo Chaves ( ) Cid Guerreiro totalmente em breve. A idéia é criar uma página com g) Chico César ( ) Banda Reflexu’s destaques em que o texto completo poderá ser puxado via Acrobat da rede, com surpresinhas extras. Ler uma SE UMA GRALHA SE CRUZASSE COM UM MEGAFONE, CERTAMENTE CANTARIA COMO: matéria extensa online é um porre, então este meio intermediário facilita a vida de quem faz o download (o ( ) Daniela Mercury ( ) Ivete Sangalo 2o. número pesa quase 8M!). Os dois primeiros números ( ) Simone Moreno ( ) Tiazinha continuarão no site. Os updates serão mais freqüentes ( ) Carla Lisi (acho). Além disso, estaremos com o RPM Amostra Grátis em papel, que é uma espécie de teaser para a BASTIÕES DO ROCK TUPINIQUIM, ESTÃO NA ESTRADA HÁ ANOS E NÃO CONSEGUEM SUCESSO, MAS TOCAM ROCK versão online, que é a completa. Provavelmente teremos HONESTO E LOUVANDO OS GRANDES ROCKEIROS COMO STONES, ZEPPELIN E IRON. NEM MESMO SEUS FÃS um novo site para isso, mas o antigo vai estar SUPORTAM. ELES SÃO: funcionando: http://orbita.starmedia.com/~rosebudpopmedia ( ) Angra ( ) Dr. Sin E, para fechar, nosso email favorito que foi perdido, mas ( ) Dorsal Atlântica ( ) Golpe de Estado era algo do tipo: ( ) Viper ( ) Korzus “Olá! Queria saber se vocês tem como me enviar todas as letras do Pearl Jam traduzidas. Obrigado.” Começamos pelo Whitesnake, serve? Abraços do pessoal do Rosebud Pop Media. FAZEM PARTE DA NOVA LINHA DO ROCK, ONDE GÍRIA, MALANDRAGEM E MULHERES VAGABUNDAS ANDAM LADO A LADO COM A MACONHA, A HEMP E A CANNABIS, NUM GRANDE EXEMPLO DE MATURIDADE MUSICAL E IDEALÍSTICA. ELES SÃO: ROSEBUD POP MEDIA 2 É UMA PUBLICAÇÃO INDEPENDENTE, INCLUSIVE DE PERIODICIDADE , ( ) Virgulóides ( ) Raimundos PRODUZIDA POR NÓS MESMOS ONDE “NÓS MESMOS” ( ) Charlie Brown Jr. ( ) Os Theobaldo SOMOS RENATO GRINBAUM, RICARDO AMARAL E ( ) Planet Hemp RODRIGO VILLALBA. O ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA MUDOU: AL. UIRAPURU 55 BARUERI - SP 06428-300 BRASIL EMAIL: ROSEBUDPOPMEDIA@ZIPMAIL.COM.BR SAITE EM HELSINQUE: HTTP://ORBITA.STARMEDIA.COM/~ROSEBUDPOPMEDIA
  • 9. Sem Fôlego (“Blue in the face”) 1995 Barbas do Imperador, Cuecas do Povo Direção: Wayne Wang e Paul Auster Biografias costumam ser muito chatas. Habitualmente Com: Harvey Keitel, Lily Tomlin, Michael J. Fox, Jim são historinhas lineares, construídas como se fossem Jarmush, Lou Reed, Mira Sorvino, Roseanne. um romance, guardando pouca relação com a vida contemporânea. Falam de heróis, mitos e fatos Esse filme, continuação de “Cortina de Fumaça”, conta a desconectados com o seu mundo. “BARBAS DO história de um gerente de charutaria no Brooklyn, em IMPERADOR” de Lilian Schwarcz Nova York, seus casos amorosos e a luta para manter (Companhia das Letras, 1998) não segue esta tradição. Apesar de ser um texto elaborado para seu local de trabalho (e ponto de encontro dos finalidades acadêmicas, não há traços da arrogância moradores do bairro) aberto, quando o proprietário nem do elitismo presente em textos universitários. Ao resolve vender o imóvel. invés da autora construir uma biografia linear e Auggie Wren (Keitel) é o conselheiro informal e cansativa, ela prefere construir o mundo de D. Pedro II. Mais a imagem mais que sua vida, seus hábitos e confidente de um amplo time de personalidades que o suas amantes. Ela apresenta mundo brasileiro do século visitam no trabalho diariamente. Alguns vão à tabacaria XIX, mas não na forma uma janela estática. Ela mostra para dividir com ele os momentos das últimas tragadas a construção de muito daquilo que é o Brasil de hoje dadas em um cigarro e reclamar da cultura através de representações, e suas repercussões no mundo contemporâneo. Ela não fala de não um mero holywoodiana em torno do hábito de fumar, como é o ajuntamento de curiosidades, como está nas modas e caso do diretor Jim Jamurch. nas paradas das biografias, mas numa edição linda Outros vão a “Auggie’s Place” para filosofar sobre aproveita pinturas, objetos, fotografias da época e óculos escuros e a vida nos países nórdicos (Lou Reed constrói o que se achava de D. Pedro e o que o Brasil espera dos seus reinantes e do seu cotidiano. A em cena) e outros simplesmente estão lá para matar o representação é mais valiosa que o fato. Por isto, é uma tempo, discutir e encher o saco. leitura fácil e prazerosa. O grande diferencial de “Sem Fôlego” reside na Alguns fatos são particularmente interessantes, e vale extrema espontaneidade com a qual a história pinça-los. O Brasil foi uma das últimas monarquias do acontece, pois todas as participações são feitas por ocidente, criada numa época de decadência dos reis. E porque isto aconteceu? A autora discute muito o amigos dos diretores e as filmagens não levaram mais assunto, e fica claro como que há na mentalidade e na que alguns dias. cultura brasileira a necessidade de uma autoridade Outro ponto interessante é o ar de documentário que o forte, quase divina. Não só nas elites. Esta cultura filme ganha quando, entre uma cena da história e outra, autoritária certamente ainda não morreu. Outro fato interessante é a discussão a respeito do romantismo pessoas de verdade são entrevistadas e acabam brasileiro, em especial o culto aos índios. Isto não revelando a verdadeira identidade do maior bairro aconteceu por caridade ou por sinceridade, longe disto. cosmopolita dos Estados Unidos. Mas foi um modo de se promover uma imagem justa do Na verdade, toda essa comédia acaba sendo uma grande Brasil, como se a escravidão pudesse ser escondida. Desta forma, atitudes nobres como a preservação da metáfora para questionamentos que todos os cultura brasileira e um certo nacionalismo foram usados moradores de grandes cidades acabam fazendo de como forma de se esconder algo deplorável. Pequenas alguma forma: “Meu bairro é um lugar melhor para se justiças usadas para grandes males. Desta forma, o viver hoje, com todo esse progresso, ou alguma coisa se império brasileiro foi precursor do malufismo e seus projetos sociais. Por fim, um dos aspectos mais ricos do perdeu..?” livro é a discussão da imagem. Um rei, antes de qualquer As situações do filme e a personalidade de cada coisa, é a imagem de uma nação sob uma forma de quase personagem foram desenvolvidos por atores e deus. Após a guerra do Paraguai, a imagem da monarquia diretores, em conjunto. No meio de toda essa bagunça o e a estabilidade política começaram a ruir. O que D. Pedro fez nesta época, entre outras coisas, foi divulgar filme ainda arranja espaço para passar algumas “lições”. sua imagem, algo não muito aceito nas monarquias O resultado é ótimo entretenimento e a trilha sonora é européias. Ao mesmo tempo em que ele se tornava Luaka Bop (David Byrne). popular, diminuindo sua rejeição, também a imagem de Vale à pena conferir! rei, quase-deus se desgastava pelo excesso de exposição. O rei deixava de ser rei por ser humano. Mas, pelo sucesso da sua popularização, D. Pedro foi um precursor e um inovador no marketing político.
  • 10. UM DOS DISCOS MAIS INTERESSANTES LANÇADOS EM 1998 É “FELICIDADE” DE LUIS TATIT. NO DISCO É FÁCIL DE SE COMPROVAR QUE A MPB NÃO MORREU. AO CONTRÁRIO, PERMANECE FORTE MESMO QUE UM POUCO LONGE DA ESTAGNAÇÃO E DA MONOTONIA QUE TANTO GRAÇA NAS RÁDIOS (PELO MENOS EM MÉDIA), QUE REPETEM E REPETEM CLÁSSICOS E UMA MEIA DÚZIA DE NOVOS ARTISTAS. CABE COMENTAR UM POUCO SOBRE O ESTILO DE COMPOSIÇÃO DO TATIT, OU ANTES, UM POUCO SOBRE AQUILO QUE É CHAMADO DE “MELÓDICO”. A QUESTÃO DE UMA MÚSICA SER MELÓDICA OU BONITA TEM UM BOCADO DE CARÁTER SUBJETIVO, MESMO INDIVIDUAL. MAS EM GERAL FAZEM MAIS SUCESSO MÚSICAS COM MELODIAS FÁCEIS (NÃO NECESSARIAMENTE RUINS), MAS QUE POR ALGUM MECANISMO MAIOR QUE A NOSSA COMPREENSÃO RAPIDAMENTE SÃO ASSIMILADAS E NÓS PASSAMOS A MENTALMENTE REPETIR VÁRIAS VEZES. VIDE “PENSE EM MIM”, “SUNDAY BLOODY SUNDAY”, UM BOCADO DAS CANÇÕES DO THE CURE. MAS NÃO É ESTA MELODIOSIDADE FÁCIL QUE, PELO MENOS SOZINHA, FAZ UMA MÚSICA SER BOA. VIDE O TRASH EXEMPLO DE “SMOKE ON THE WATER”, CLÁSSICO DO MAU GOSTO DO DEEP PURPLE. AQUELE RIFFZINHO QUE QUALQUER DESMIOLADO METIDO A GUITARRISTA SABE TOCAR NÃO FAZ A MÚSICA BOA, LONGE DISTO, É UMA EXPLORAÇÃO INSISTENTE DA DITA “MELODIA” DO TEMA. NA MÚSICA DE TATIT ESTA MELODIOSIDADE FÁCIL ESTÁ AUSENTE, OU PELO MENOS NÃO CONTA TANTO. O QUE NÃO FAZ A MÚSICA FEIA, RUIM, NEM MESMO DIFÍCIL. O ENFOQUE É QUE MUDA. A CONSTRUÇÃO DA CANÇÃO PARECE PARTIR DA LETRA, OU PELO MENOS HÁ UMA INTEGRAÇÃO ENTRE MÚSICA E LETRA. AO CONTRÁRIO DA COMPOSIÇÃO DE HITS, ONDE O TEMA FÁCIL É ELABORADO, E EM SEGUIDA A LETRA COMPOSTA EM SUA FUNÇÃO. E É NESTA DIFERENÇA QUE TAMBÉM RESIDE A MUSICALIDADE DE TATIT. NAS CANÇÕES EXISTEM REFRÕES, TEMAS QUE SE REPETEM, MAS A MÚSICA É MUITO COMPOSTA A PARTIR DA SONORIDADE DAS PALAVRAS E DO PRÓPRIO CONTEÚDO. O QUE A PRINCÍPIO PARECE SEM COR, NA VERDADE TEM MUITO MAIS VIDA E MELODIA QUE QUALQUER CANÇÃO APARENTEMENTE DE FÁCIL ASSIMILAÇÃO. A EMOÇÃO E A BELEZA NA MÚSICA ESTÃO EM CADA PALAVRA E EM CADA MOMENTO, O QUE TORNA A BELEZA MUITO MAIS RICA E INTENSA. CERTAMENTE A INTERPRETAÇÃO DE UMA MÚSICA COMPOSTA DESTE MODO DEVE SER BEM MAIS COMPLEXA E DIFÍCIL QUE UM AGUDO HISTRIÔNICO, NO ESTILO EDSON CORDEIRO. SENTIR A MÚSICA NÃO É GRITAR NEM FECHAR OS OLHOS COMO SE ESTIVESSE NUM MOMENTO DE TRANSE. SENTIR A MÚSICA É CANTAR, SEM CHAVÕES, LIVRE DE LUGARES COMUNS. A PERGUNTA QUE FICA: MAS É ASSIM, TÃO RACIONAL? DEVE SER DIFÍCIL DE ENTENDER... AO CONTRÁRIO. A MÚSICA NÃO É PURA RAZÃO NEM COMPLEXIDADE. AO CONTRÁRIO, É ATÉ MAIS EMOTIVA. SÓ NÃO APELA. E NEM É DIFÍCIL. MAS AO CONTRÁRIO DE SMOKE ON THE WATER, PARA OUVIR TATIT É NECESSÁRIO NÃO TER EXPECTATIVAS DE UMA EMOÇÃO HISTÉRICA, UM BERRO OU UM NIRVANA. DEVE-SE DEIXAR SER LEVADO PELA MÚSICA. E, POR FIM, MÚSICA NÃO É ACESSÓRIO DE DECORAÇÃO. A MÚSICA DE TATIT NÃO É PARA SER OUVIDA NUMA FESTINHA, NEM NA HORA DO JANTAR. ALIÁS, ISTO SERVE PARA QUALQUER COMPOSITOR. MÚSICA FOI FEITA PARA SER OUVIDA. E NADA COMO UNS POUCOS MINUTOS DE ATENÇÃO PARA PERCEBER COMO É RICA A MÚSICA EM “FELICIDADE”. O LUIS TATIT É QUEM FALA AGORA. RPM: EM PRIMEIRO LUGAR, FALE SOBRE SEU DISCO NOVO. o ouvinte a respeito do elo entre o conteúdo e o seu sujeito. De R: Meu CD “Felicidade” nasceu de uma proposta da Dabliú, na nada adianta um jogo inteligente de palavras se o ouvinte não o pessoa do advogado, produtor e poeta J. C. Costa Netto, que há associa ao seu produtor. A dimensão subjetiva é insubstituível. tempo acompanha meu trabalho. Como ele fez questão que o Compreendo que a indústria cultural dependa de padronização repertório incluísse a canção “Felicidade”, acabei fazendo desse para a realização de produtos em série. Isso é um pouco tema um mote para as demais composições: quase todas inevitável e, frequentemente, esse universo, a princípio passam por esse assunto. Essa canção, mais “No decorrer da previsível, revela verdadeiros achados que surpreendem (e madrugada” e ainda “O menino” já tiveram uma versão no confundem) os que não admitem qualidade no âmbito da Rumo. As demais foram compostas especialmente para o disco. produção em massa. Estão aí as composições do Jorge Benjor, Quanto ao estilo, penso que continuo o que já fazia do Peninha e até de Zezé di Camargo que nem sempre são anteriormente, talvez ainda com mais liberdade. descartáveis, muito pelo contrário. Penso que parte de minhas RPM: UMA COISA EVIDENTE NO DISCO É O FORTE PAPEL DAS LETRAS, O QUE canções são em si tão comerciais quanto as desses autores. É MUITAS VEZES NEGLIGENCIADO, ESPECIALMENTE NO POP/ROCK NACIONAL. Apenas não desfrutam das mesmas oportunidades, como aliás E DENTRO DO TRABALHO COM AS LETRAS É PERCEPTÍVEL UM CONSTANTE acontece com uma gama imensa de bons compositores que JOGO COM AS PALAVRAS. MAS NÃO DA FORMA DE PEQUENAS BRINCADEIRAS conheço. Isso está mudando um pouco em razão do boom da SEM CONSEQÜÊNCIAS. NA VERDADE VOCÊ PARECE CONVIDAR O OUVINTE A música brasileira no mercado de disco. Embora ainda não haja PARTICIPAR DA LETRA, NUM JOGO DE SENTIDOS, O QUE ME FAZ LEMBRAR DOS espaço para todos - e nem poderia haver numa época em que o JOGOS DE PALAVRAS DE LEWIS CARROL. VOCÊ PODE FALAR UM POUCO SO- disco deixou de ser um produto raro e caro -, hoje há muito BRE ESTE TRABALHO COM AS PALAVRAS? mais esquemas de divulgação, apresentação, etc. que na década passada. Enfim, minha música não visa à um público R: Sim, trabalho a letra com cuidado, durante muito tempo, específico mas também sei que jamais será um produto de mas não mais que a melodia que, em geral, faço primeiro. massa. Deve haver um nível intermediário de difusão, como Quando tenho o “modo de dizer” (ou seja, os contornos sempre houve em países mais desenvolvidos. Esse nível seria o melódicos que nada mais são que entonações de fala usadas no ideal para o caso. canto), “o que dizer” é o de menos. O tratamento dos detalhes da letra, de fato, depende de muita paciência. Refaço o trabalho RPM: DE CERTA FORMA, COM ESTA OPÇÃO QUE FEITA VOCÊ ACABA SAINDO numerosas vezes. DO LUGAR COMUM DO MERCADO FONOGRÁFICO (TANTO PÚBLICO COMO AS GRAVADORAS), QUE ESPERA UM FORMATO MAIS TRADICIONAL E PREVISÍVEL. RPM: EXISTE UMA CERTA MODA HOJE EM ALGUNS COMPOSITORES NA MPB VOCÊ ACHA QUE COMPÕE PARA UM PÚBLICO ESPECÍFICO OU A QUESTÃO É A QUE, NO MEU MODO DE VER, É UMA VONTADE PSEUDO-MÍSTICA, UMA IMITA- FALTA DE INTERESSE NA DIVULGAÇÃO? ESTENDENDO A QUESTÃO - QUAL O ÇÃO BARATA DE GUIMARÃES ROSA. ESTES POUCOS COMPOSITORES FAZEM ESPAÇO PARA O TIPO DE MÚSICA QUE VOCÊ FAZ NO CENÁRIO FONOGRÁFICO E UMA MEIA DÚZIA DE TROCADILHOS FÁCEIS E RÁPIDOS, PASSANDO UMA CERTA NA MÍDIA? IMPRESSÃO DE GENIALIDADE. QUAL A DIFERENÇA, NA VERDADE, ENTRE TRO- CADILHOS E O TIPO DE LETRA QUE VOCÊ CONSTRÓI? R: Teoricamente, o mesmo espaço de que dispõe Chico Buarque, Milton Nascimento, Caetano Veloso. Na prática, cada R: Há um trabalho técnico que não substitui uma certa um tem sua história e faz o que faz justamente por causa disso. dimensão existencial que toda letra deve ter para que convença
  • 11. C. Brown, Marisa Monte, José Miguel Wisnik, Itamar grandes estrelas. Quanto à qualidade, Lenine, Arnaldo Antunes, vez mais, gravações de compositores “desconhecidos” por (Tom Zé, Luiz Melodia, Jorge Mautner) e ainda permite, cada (Axé, Olodum, Timbalada, etc), recuperou nomes esquecidos americana das rádios, constituiu-se a partir de temas regionais as suas faixas de realização: expulsou a música norte- ilimitada. Nunca a música brasileira esteve tão bem em todas definem nossa época como um período de diversidade quase escalas (top, médio e independentes de modo geral), que existem centenas de núcleos de divulgação, nas diversas emissora. Hoje não temos mais isso mas, em compensação, passar por ali para depois irradiar pelo Brasil com o aval da Record, de tal forma que tudo que era importante precisava na década de 60 estava integralmente concentrada na TV “A cumplicidade do público”, em 12/04/1998, p.5.5. A música que penso possa ser encontrada num artigo que saiu na Folha, R: Bem, tenho falado muito sobre isso e talvez boa parte do DE VER? QUAIS SÃO AS PERSPECTIVAS PARA A MPB NO SEU MODO PONTO DE VISTA? CONCORDA COM ESTE VOCÊ É O MESMO QUE AFIRMAR QUE SÃO RUINS). (O QUE NÃO QUILO QUE SE FAZIA, POR ESTA RAZÃO SEM FORÇA NEM IMPACTO AQUELES QUE OCUPAM ESTE ESPAÇO SÃO APENAS UMA CONTINUIDADE DA- MÚSICA MAIS INTERESSANTE NÃO SE POPULARIZOU E A NÃO SE RENOVOU. CAETANO/GIL/CHICO/BOSSA NOVA QUE O ESPAÇO ANTES OCUPADO POR MAS A IDÉIA É TRANSFORMADORA E DE GRANDE QUALIDADE SENDO FEITA. UMA CRISE CRIATIVA, O QUE NÃO QUER DIZER QUE NÃO EXISTA MÚSICA PASSA POR MPB MODO DE VER DOS EDITORES DESTE ZINE, A RPM: NO Estranha”. Precisamos de todas as dicções. 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 maneira dele: “Como Dois e Dois”, “Muito Romântico” e “Força 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 que tentou fazer (com grande êxito) três composições à 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 R U M O A O V I V O - CA M E R A T I ( 1 9 9 2 ) - C D “Folhetim”. Caetano admira tanto a dicção de Roberto Carlos 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 como esses não conseguiriam nem esboçar algo semelhante a 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 O SU M O DO RU M O - ELDORADO ( 1 9 8 9 ) 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 fazer uma canção como “Detalhes” de Erasmo e Roberto assim 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 EM C D 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 de tempos em tempos, se entrecruzam. Chico não é capaz de 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 Q U E R O PA S S E A R - ELDORADO ( 1 9 8 8 ) - DISPONÍVEL 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 R: Não creio. São atuações diferentes em áreas diferentes que, 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 C APRICHOSO - INDEPENDENTE ( 1 9 8 5 ) 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 EXPRESSIVA? QUAL É A DIFERENÇA ENTRE OS GÊNEROS? 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 D ILETANTISMO - CO N T I N E N T A L ( 1 9 8 3 ) 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 CARLOS/PAGODE/AXÉ) É POSSÍVEL DIZER QUE HÁ UMA SUPERIORIDADE 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 R U M O A O S A N T I G O S - INDEPENDENTE ( 1 9 8 1 ) E MESMO RUMO/ARRIGO) COM A MÚSICA REALMENTE POPULAR (ROBERTO 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 RPM: COMPARANDO A MPB PRÓPRIA DA CLASSE MÉDIA (CAETANO/CHICO 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 CD 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 R U M O - INDEPENDENTE ( 1 9 8 1 ) - DISPONÍVEL E M de um registro considerado “apenas” popular. 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 expressiva. São verdadeiras jóias do nosso repertório advindas 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 com Arnaldo Antunes e verifique se não há profundidade 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 D ISCOGRAFIA GR U P O RU M O 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 “Sonhos” ou “Jorge de Capadócia” com Caetano ou “Judiaria” 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 consideradas fáceis. Ouça “Fera Ferida” com Bethânia, 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 R: Sim, basta imprimir a interpretação devida nas músicas F ELICIDADE - GR A V A D O R A DA B L I Ú/ ELDORADO ( 1 9 9 7 ) 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 TRANSFORMAÇÃO? 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 D ISCOGRAFIA LU I Z TA T I T A MÚSICA TEM PODER DE - DISTO ALÉM TER PROFUNDIDADE EXPRESSIVA? 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 POSSÍVEL FAZER MÚSICA FÁCIL E ACESSÍVEL E AO MESMO TEMPO RPM: É 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 21098765432109876543212109876543210987654321098765432121098765432109876543210987654321 isso não vem ao caso. II, acho que tem tudo a ver. obras. Se a música popular é considerada Arte oficialmente, em nossa mente. Quanto à aproximação com o nosso D. Pedro ficamos extremamente sensibilizados com a realização das Pensamos por narrativas, por isso essas histórias ressoam bem analisar seus efeitos no plano dos ouvintes. Nos dois casos, Jorge já citado) ou mesmo Itamar (Nego Dito, Beleléu, etc. Quanto à função estética de ambas as linguagens, basta exemplo, Jorge Benjor (Charles, Anjo 45, Zumbi ou o próprio diferentes. Os cancionistas, em geral, nem são músicos. melodias sugestivas. Penso que crio alguns mitos como faz, por diferentes e que possuem tradições também completamente grandes narrativas (para a escala da canção) a partir de linguagens completamente diferentes que mobilizam conteúdos depreendê-la. Não está explícita. Gosto de elaborar essas mais conhecido é o livro “O cancionista...”). Trata-se de um certo esforço, como imagino que você tenha feito, para R: Já debati exaustivamente esse tema em outros trabalhos (o seu arranjo, nem mesmo sua interpretação vocal. É necessário É ARTE? A MPB DITA? comentou-a comigo. Tenho a hipótese de que nunca acertei o À ERU- ACHA QUE A MÚSICA POPULAR É UM GÊNERO DE CONTEÚDO INFERIOR uma canção chamativa no meio do disco. Pouca gente VOCÊFORMA ESTES GÊNEROS SERIAM MAIS PROFUNDOS E INTELIGENTES. R: Também gosto de “O Rei”, embora tenha sentido que não é DESTA TÉCNICO-ACADÊMICOS SÃO MAIS IMPORTANTES PARA A AVALIAÇÃO. UM POUCO SOBRE ELA E SEU PROCESSO DE CRIAÇÃO. DADE SERIA A MÚSICA ERUDITA OU O JAZZ DE ACADEMIA, ONDE PARÂMETROS MÚSICA. GOSTARIA QUE VOCÊ FALASSE SOBRE ESTA CANÇÃO, E DISCUTISSE DE VER- ARTE VEZES COM FINALIDADE SOCIAL, MAS SEMPRE TRANSITÓRIA. DOR”, BIOGRAFIA DE D. PEDRO II, O QUE ME GEROU MAIS SIMPATIA À MÚSICA DE ÉPOCA, ÀS SERIA CERTA FORMA COMO UM GÊNERO INFERIOR. ÇÃO. COINCIDIU COM O MOMENTO EM QUE LIA “AS BARBAS DO IMPERA- COMO QUASE TODA FORMA DE MÚSICA POPULAR É TIDA DE RPM: A MPB, TRANSCORRE O MOMENTO QUE SE PODERIA CHAMAR DE “CLÍMAX” DA CAN- canção popular. A FAIXA “O REI”, ESPECIALMENTE COM A FORMA SUAVE E DELICADA EM QUE Parece-me que aqui está um dos focos do problema atual da TADO MUITO DO SEU DISCO, FIQUEI PARTICULARMENTE IMPRESSIONADO COM balançaria um pouco a estabilidade dos guetos musicais. RPM: UMA ÚLTIMA PERGUNTA, MUITO PESSOAL MINHA. ALÉM DE TER GOS- caracterize por revelar a música menos consagrada. Só isso já tempo de carreira. dedicada a ela, que concorra com a Musical FM, e que se valor quanto os ídolos dos anos 60, apenas possuem menos cenário da música brasileira é a alternativa de uma outra rádio Assumpção, Ná Ozzetti, Djavan e outros têm, a meu ver, tanto De um ponto de vista bem pragmático, o que está faltando no