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José Pedrosa Ferraz Jr.




A Criação da Orquestra Sinfônica na Ribeirão

        Preto dos anos de 1930




                     Monografia apresentada ao Centro
                     Universitário Barão de Mauá como
                     pré-requisito para obtenção de título
                     de Especialista em História, Cultura e
                     Sociedade, sob orientação da profª
                     Ms Lílian Rodrigues de Oliveira Rosa.




               Ribeirão Preto

                  - 2006 –
2




                                                             Agradecimentos




                                     Ao companheiro e amigo Daniel Basso,
  que acompanhou minha especialização e declinou do meu convívio inúmeras
               vezes para permitir minha dedicação ao curso e à monografia




  À diretora do Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto, Tânia Registro, e
 seus funcionários pela gentileza em fornecer material de pesquisa e ajudar na
                                descoberta de outras referências bibliográficas.

Ao Décio Bellini Jr., presidente da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto e seus
   funcionários que abriram as portas do acervo documental da Orquestra para
                                                                      pesquisas.

        À Rita Bueno Lodi, filha de José da Silva Bueno, líder do Radio Club de
    Ribeirão Preto, à Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto, ao MIS, Museu da
       Imagem e do Som, pela cessão das imagens que ilustram este trabalho.

 Ao filho e neto de Max Bartsch, Henrique e Adolfo, respectivamente, e dr. Luís
                  Gaetani, ex-presidente da Orquestra Sinfônica de 1976-2000,
                     por colocar suas memórias à disposição desta monografia
                                                  através de boas entrevistas.

                                                         À minha orientadora,
                                  profª Ms Lílian Rodrigues de Oliveira Rosa,
    com me conduziu de forma brilhante durante toda a monografia e exigiu de
                                                       mim sempre o melhor.

                                                      Ao coordenador do curso
                                                         prof. Ms. Carlo Monti,
               pela propriedade de realizar o curso que me permitiu aprofundar
                                  conhecimentos em diversas áreas do saber.
3




                                   Dedicatória




Dedico esta monografia à memória de Max Bartsch
4




Sumário




Introdução                                                          6


Capítulo 1 – Modernismo - ação e reação                            13

  1.1. Os programas musicais revelam os gostos da elite            17
  1.2. Os imigrantes e o gosto pela música                         19
  1.3. As várias orquestras sinfônicas                             24


Capítulo 2 – Um alemão conquista Ribeirão Preto                    26

  2.1. Reflexões sobre a popularidade de Bartsch                   29
  2.2. Longe da política partidária                                32
  2.3. O gosto pela música                                         35
  2.4. PRA-7 e sua importância na criação da Orquestra Sinfônica   38

Considerações finais                                               44


Referências bibliográficas                                         47


Fontes                                                             48
5

Ilustrações




Ilustração 1.                                                       18
Acervo da Orquestra Sinfônica de Ribeiro Preto


Ilustração 2.                                                       30
Acervo da Orquestra Sinfônica de Ribeiro Preto


Ilustração 3.                                                       36
Arquivo pessoal de Rita Bueno Lodi, filha de José da Silva Bueno,
líder do Radio Club de Ribeirão Preto


Ilustração 4.                                                       36
Arquivo pessoal de Rita Bueno Lodi, filha de José da Silva Bueno,
líder do Radio Club de Ribeirão Preto


Ilustração 5.                                                       37
Acervo do MIS


Ilustração 6.                                                       38
Arquivo pessoal de Rita Bueno Lodi, filha de José da Silva Bueno,
líder do Radio Club de Ribeirão Preto


Ilustração 7.                                                       42
Acervo da Orquestra Sinfônica de Ribeiro Preto
6

      Introdução



     Este trabalho discute o contexto da criação da Orquestra Sinfônica de

Ribeirão Preto (OSRP) no ano de 1938, e de sua entidade mantenedora, a

Sociedade Lítero-Musical, hoje Associação Musical de Ribeirão Preto, através

da análise de aspectos da sociedade ribeirãopretana na época, quais seus

valores culturais e as principais características que permitiram sua criação por

meio da iniciativa do empreendedor alemão Max Bartsch, que tinha uma

atuação destacada nos meios sociais, empresariais e culturais da cidade.

Dentro desta proposta, Bartsch é apresentado como a figura central no

sucesso da iniciativa depois de três outras tentativas infrutíferas de se criar

uma Orquestra.

     Em Ribeirão Preto encontram-se as condições favoráveis à iniciativa do

alemão, como a disseminação pelo gosto da música por meio de bandas, uma

característica típica da influência que os imigrantes italianos tiveram na

formação cultural local. Essas particularidades locais são associadas às

próprias características do empreendedor, como seu carisma e sua capacidade

de mobilizar pessoas de prestígio em torno de um projeto comum.

     Mas é preciso analisar também a criação da Orquestra Sinfônica inserida

no contexto da Ribeirão Preto nos anos de 1930, período que compreende o

fim do auge do café, pós-crise de 1929. Neste período, a cidade está em

consonância com as mudanças que ocorriam no país na primeira metade do

século passado, quando os ventos da reforma da estrutura da sociedade, que

deixava de ser predominantemente rural e deslocava sua força política e
7

econômica para a urbe, arejavam a pequena cidade do interior paulista, que

era o centro mundial da produção cafeeira.

       O Brasil passava por um período de modernização urbana que

compreendeu o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX. Essa

modernização foi inspirada por fortes influências européias e esse processo

teve reflexo direto na arquitetura e em diversas áreas artístico-culturais, como a

produção literária, as artes plásticas e a música. 1

       A modernização provocou reação de parte dos intelectuais e artistas

brasileiros que defenderam um novo modelo para referência cultural, baseado

na valorização de signos estritamente brasileiros. Esse movimento culminou

com a Semana de Arte Moderna de 22. Na contramão desse movimento,

grande parte das elites valorizou a música erudita e as orquestras sinfônicas

serviam para esse fim.

       Para analisar o referido contexto da criação da Orquestra Sinfônica e o

papel de Max Bartsch no seu processo de fundação, foram analisados

documentos nos arquivos da própria Orquestra e no Arquivo Público e Histórico

de Ribeirão Preto. Locais em que foram encontradas poucas referências

alusivas à criação da Orquestra.

       Com poucas fontes documentais, buscou-se estabelecer um diálogo entre

estas e a bibliografia regional, analisando, em particular, a obra mais

importante que retrata a OSRP: “50 Anos de Orquestra Sinfônica em Ribeirão

Preto, 1938 – 1988”, de Myrian de Souza Strambi, de 1989. A essa obra foram

confrontados os documentos textuais e iconográficos, além de entrevistas, que

permitiram maior compreensão de como a sociedade se comportava na época,

1 ROCHA, A. Os Quartetos de Cordas de Alberto Nepomuceno. p11
8

quais os seus valores e de como, nesse cenário, Bartsch conseguiu obter

sucesso em sua tentativa de criar e manter a Orquestra.

     Dentre as fontes utilizadas, encontram-se os jornais da época, “A Cidade”

e “O Diário”, que ajudaram a compreender a reação da sociedade ao

surgimento da Orquestra. Entrevistas com descendentes de Max Bartsch, com

o ex-presidente da Orquestra, Luiz Gaetani, e com parentes dos primeiros

músicos da Orquestra, foram feitas por e-mail e gravadas. É importante

ressaltar, contudo, que não foi interesse desenvolver um trabalho de história

oral. Longe disso, esses registros orais e referências pessoais buscaram

preencher lacunas no contexto da criação da Orquestra, e foram usados como

fonte complementar no processo de reconstituição da história da Orquestra e

de compreensão da figura de Bartsch.

     A análise iconográfica serviu para reforçar o caráter carismático e de

liderança que o alemão exercia na sociedade. Fotografias da época mostram o

perfil do alemão e como a sociedade o respeitava e admirava. Ao analisá-las,

observa-se o seu carisma na sociedade local. As imagens mostram o alemão

invariavelmente cercado de um grande número de pessoas onde ele, na

maioria das vezes, aparece sempre no centro das fotografias. Uma dessas

imagens mostra grande quantidade de cartazes de associações e entidades de

Ribeirão Preto em homenagem ao aniversário do alemão. Todas elas fazem

alusão à importância de suas ações. Essas imagens sugerem, portanto, o

elevado nível do carisma do alemão e que o ajudou a construir as condições

favoráveis para a criação da Orquestra.

     Não foram encontrados atas e registros de contratação de músicos no

arquivo da Associação Musical de Ribeirão Preto, entidade mantenedora da
9

Orquestra Sinfônica. O problema se repetiu no Arquivo Público, o que exigiu

que outras fontes fossem pesquisadas.

        Nas referências bibliográficas, por sua vez, é possível compreender o

processo de formação cultural da cidade que criou ambiente favorável ao

surgimento da música sinfônica. Tuon aborda as bandas existentes em

Ribeirão Preto e de como elas surgiram em decorrência da chegada dos

imigrantes, principalmente dos italianos que vieram em maior número se

estabelecer na cidade.2

        Estabeleceram-se em decorrência do trabalho na lavoura do café, mas

fizeram da vida urbana da cidade um centro de prestação de serviços, de

comércio e de uma indústria que se tornava forte. Gumiero discute como o

capital estrangeiro e os imigrantes que se estabeleceram na cidade,

contribuíram para que Ribeirão Preto desenvolvesse uma atividade econômica

urbana, independente das colheitas que, em 1929, entraram em um processo

de crise iniciado com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York. Ela afirma

que o surgimento de estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços

permitiu a formação de uma economia que amortecesse os efeitos dessa crise

internacional.3

        A mudança do eixo social do meio rural para o urbano alterou também o

perfil político. Walker e Barbosa apontam o fortalecimento da sociedade urbana

como um dos responsáveis pela derrubada do poder dos antigos coronéis do

café e que fez surgir uma vigorosa classe política urbana.4




2 TUON, L. I. O Cotidiano Cultural de Ribeirão Preto. p95
3 GUMIERO, E. A. Ribeirão Preto e o Desenvolvimento do seu Comércio: 1890-1937. p14
4 WALKER, T. & BARBOSA, A. S. Dos Coronéis à Metrópole. p85
10

        O apogeu do café trouxe para a cidade o empreendedor francês François

Cassoulet que criou cassinos e dinamizou o entretenimento noturno da cidade

com apresentações de coristas, de bandas de música e até mesmo de

prostituição. Silva explica a influência que o capital do café teve na vida cultural

local e de como a cidade se adaptou à crise com o suporte da nova elite

urbana.5

        Nos âmbitos social e cultural, o que acontecia em Ribeirão Preto não era

fato isolado. A cidade estava em sintonia com o que se passava nos principais

centros urbanos do país, revelando-se como um caso típico. O processo de

urbanização, a transferência do poder político local dos coronéis para a nova

elite que se firmava nas cidades, era um fenômeno comum no Brasil do final do

século XIX e início do século XX. Rocha mostra como a valorização da música

erudita de Orquestra coincidiu com esse momento de profunda transformação.6

        Em Ribeirão Preto, o movimento de valorização da arte e cultura

nacionais como contrapartida à influência de modernização europeizante, que

proporcionou importantes momentos de reflexão, como a Semana de Arte

Moderna de 22, não teve repercussões imediatas.7 Mas o refluxo a esse

movimento nacionalista, por meio da valorização da cultura erudita com criação

de Orquestras e a realização de concertos sinfônicos, encontrou uma aceitação

mais vigorosa com a nova elite disposta a cultuá-la.

5 SILVA, B.L. da. O Rei da Noite na Eldorado Paulista. p142
6 ROCHA, A. Op. cit. p8
7 O Modernismo só chegou com maior intensidade em Ribeirão Preto nos anos 40 e 50 do século passado. Na
dissertação de mestrado em História pela Unesp/Franca (1997), Memória Arquitetônica de Ribeirão Preto, Valéria
Valadão analisa a influência do Modernismo na arquitetura urbana de Ribeirão Preto, e chega a essa conclusão. Nas
artes plásticas, o modernista Francisco Amêndola foi uma das maiores expressões desse movimento em Ribeirão
Preto. Em artigo de Ignácio de Loyola Brandão, O riso mordaz de Amêndola, publicado no catálogo "Francisco
Amêndola - Exposição retrospectiva, de 26 de agosto a 11 de setembro" (1987) faz uma reflexão sobre o modernismo
e suas influências junto aos artistas e arquitetos locais com alguns anos de defasagem em relação à Semana de 22.
11

       Machado Neto ilustra como essa espécie de “contracultura” chegou a

Ribeirão Preto aproveitando-se de um caminho já aberto.8 Na contramão do

escoamento do café, por meio da linha de trem que liga Santos à cidade

passando por Campinas. Com as condições extremamente favoráveis, o

imigrante alemão Max Bartsch decidiu ele próprio criar a Orquestra Sinfônica

de Ribeirão Preto, fato discutido por Strambi, que analisou a origem da

Orquestra e as iniciativas de Bartsch para liderar um grupo de pessoas e

mantê-la em funcionamento.9 Apesar do levantamento histórico realizado,

Strambi não contextualiza a criação da Orquestra Sinfônica na Ribeirão Preto

da época.

       Contudo, mesmo que não seja o foco da obra e aborde a questão de

forma superficial Strambi faz referência ao carisma que Bartsch possuía e que

conseguia, por intermédio dele, reunir em torno de si e de seus projetos,

pessoas importantes, decisivas para concretizar suas iniciativas. Em todo caso,

trata-se de uma importante obra porque é a primeira que mergulha no universo

da Orquestra Sinfônica, discutindo sua história baseada nos poucos

documentos encontrados.

       É, por isso, um estudo mais completo que os realizados por Cione, por

exemplo.10 Memorialista, Cione narra a história da cidade e seus principais

personagens sem a exigência acadêmica, com uma característica quase que

enciclopédica, e cita a criação da Orquestra Sinfônica com base em dados não

documentais.




8 MACHADO NETO, D. A Semana de 22 Por meio de Uma Viagem pelo Interior de São Paulo, p1
9 STRAMBI, M. de S. 50 Anos da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto. p118
10 CIONE, R. História de Ribeirão Preto. p131
12

       A análise da obra de Strambi, no que se refere à criação da Orquestra

Sinfônica, torna-se mais consistente porque é possível confrontá-la com

momentos importantes da cidade, nos anos de 1930. Um desses momentos foi

a consolidação da rádio PRA-7. Para a emissora convergia um grande número

de músicos em busca de uma oportunidade de trabalho. Rezende e Santiago

elucidam como foi intenso o movimento artístico em torno da emissora em que

o próprio Max Bartsch chegou a presidente e onde tinha um espaço fixo para

apresentação de seu quinteto musical.11 Esse trabalho vai discutir a

importância da rádio PRA-7 na criação da Orquestra Sinfônica como resultado

de um processo de formação cultural que teve início com a chegada dos

imigrantes, como veremos nos capítulos que se seguem.

       O primeiro capítulo, “Modernismo: Ação e Reação” analisa a influência do

padrão francês de cultura na vida brasileira, pelo viés da música, e o

rompimento dessa dependência através do movimento modernista e da

repercussão desse movimento em Ribeirão Preto. O gosto pela música erudita

se consolidou com a chegada dos imigrantes. E a cidade tem uma formação

cultural favorável à criação de bandas culminando com várias tentativas de

criação de uma Orquestra Sinfônica.

       No capítulo seguinte, “Um alemão conquista Ribeirão Preto”, o trabalho

discute como um desses imigrantes, o alemão Max Barstch, conseguiu enfim

criar a Orquestra Sinfônica com bases sólidas que permitiram sua existência

até os dias atuais. Para isso utilizou de sua influência e de mecanismos como a

difusão da Orquestra através de apresentações transmitidas ao vivo pela rádio

PRA-7, da qual chegou a ser presidente.

11 REZENDE, A. L. & SANTIAGO, G. A Primeira Rádio do Interior do Brasil. p102
13




        Capítulo 1




Modernismo: ação e reação
14

        O Rio de Janeiro foi a principal porta de entrada para tudo o que vinha de

fora, principalmente do continente europeu, de produtos a estilo de vida. O

gosto pelo refinamento nos comportamentos sociais ganhou mais ênfase

quando a Corte portuguesa mudou-se para o Brasil e instalou-se no Rio. A

importação tornou-se naturalmente mais intensa, afinal era preciso atender às

necessidades da Corte e a colônia produzia apenas produtos agrícolas e uma

cultura       rude,      desprezada            pela      elite.     Essas         necessidades             passavam

evidentemente pelas artes. A música que se ouvia na Corte tinha uma

característica típica do período que foi a criação de grupos musicais, como as

chamadas “formações menores”, para execução de peças eruditas. Essas

formações reuniam os músicos disponíveis e que não existiam em abundância,

por isso eram pequenos grupos, tais como quartetos, quintetos, orquestras de

câmaras.12 Nos salões da sede da Monarquia, os saraus musicais eram

freqüentes. Pessoas se reuniam em torno de pães, doces, chás, guloseimas,

para ouvir apresentações musicais de pequena formação. Entre os mais

famosos salões destacavam-se os de Rui Barbosa, Francisco Pereira Passos e

Violeta Lima e Castro.13 A capital do império sedimentou essa tendência que

logo em seguida se espalharia pelas principais cidades brasileiras da época,

como São Paulo, Recife e Santos.

        A preferência por esse tipo de formação musical se deu em grande parte

pela inexistência de uma cultura de orquestras sinfônicas ou filarmônicas. 14 A


12 ROCHA, A. Op. cit. p11
13 TUON, L. I. Op. cit. p91
14 Orquestra Sinfônica e Filarmônica não se diferenciam em sua estrutura musical. São compostas basicamente por
quatro tipos de instrumentos: as cordas (violinos, violas, violoncelos, contrabaixos, harpas, piano), as madeiras (flautas,
flautins, oboés, corne-inglês, clarinetes, clarinete baixo, fagotes, contrafagotes), os metais (trompetes, trombones,
trompas, tubas), a percussão (tímpanos, triângulo, caixas, bumbo, pratos, carrilhão sinfônico, etc). A diferença reside
no fato da Orquestra Sinfônica ser mantida por uma instituição pública e a Filarmônica, por instituição privada.
15

europeização foi um processo da importação dos valores culturais e do estilo

de vida francês vigentes. Era a Belle Époque, quando a arquitetura e as artes

tinham destaque. Personagens influentes que transitavam pela elite carioca em

meados do século XIX perceberam que havia uma carência de músicos

afinados com essa perspectiva. Um desses personagens foi Francisco Manuel

da Silva, considerado peça chave do movimento musical do império porque

além de fundador da Sociedade Beneficência Musical, em 1833, esteve

também à frente da Orquestra da Sociedade Filarmônica, a partir de 1834.

       Pesquisadores apontam sua atuação como decisiva para a fundação do

Conservatório de Música do Rio de Janeiro, em 1847, que marcou o início do

ensino oficial de música no país. Ficou, então, evidente que o ensino musical

desfrutava de um novo status dentre as instituições de ensino no Brasil.15 Essa

trajetória estava inserida numa referência que seria adotada pela Corte e pela

elite brasileira com base nos valores e ideais franceses, o que provocou uma

forte reação nacionalista nos anos de 1920.

       O Modernismo propôs romper com essa estrutura, abandonar o modelo

europeu para criar referências tipicamente nacionais, até mesmo como

processo de auto-afirmação de uma cultura essencialmente brasileira. O

movimento buscava traduzir nas artes os novos tempos, ‘modernos’, que

chegavam a outros setores da sociedade, decorrentes do processo de

urbanização e da influência européia. A nova elite brasileira passou a lidar com

questões inéditas em decorrência do novo social como revolução tecnológica,

direitos trabalhistas, anarquismo, imigração, comunismo etc. Era a ruptura com




15 ROCHA, A. Op.cit, p9
16

antigas instituições. O fenômeno reestruturante, no entanto, era comum na

Europa desde a Revolução Francesa.16

       Na contramão do Modernismo as elites urbanas que detinham o

monopólio sobre a música de ‘arte’ em várias cidades, inclusive do interior do

Estado, como Santos, Campinas, Ribeirão Preto, não quiseram abrir mão do

seu status recém adquirido. Era considera música de ‘arte’ a música erudita

tocada nos salões da corte. Em Campinas e Ribeirão Preto o movimento

modernista foi simplesmente ignorado sem nenhuma referência à Semana de

Arte de 22 nos jornais dessas cidades.




16 MACHADO NETO, D. Op.cit, p2.
17

       1.1 Os programas musicais revelam os gostos da elite



       Machado Neto chega a afirmar que as orquestras criadas em cidades do

interior do Estado de São Paulo, inclusive Ribeiro Preto, todas nos anos 30,

deliberadamente esquivavam-se de executar peças de autores modernistas,

segundo ele simplesmente para atender a uma elite que fazia pouco caso do

movimento.17

       De fato, não foram encontradas referências nos jornais de Ribeirão Preto

ou em outros documentos, a respeito do movimento artístico que se

desenrolava na capital do Estado e que culminou com a Semana de Arte

Moderna de 1922. Menções como notícias sobre os eventos alusivos ao

movimento, entrevistas com artistas, manifestações de artistas sobre o grande

movimento nacionalista nas artes. Ribeirão Preto, em relação à Semana de 22,

passou ao largo do movimento, mas não é possível concluir que essa atitude

tenha sido um descaso deliberado das elites locais ao Modernismo.

       Até porque, os programas dos primeiros concertos da Orquestra

Sinfônica de Ribeirão Preto fogem à teoria apresentada por Machado Neto. As

elites locais aplaudiram a execução de peças de Carlos Gomes, que já revelara

em suas composições uma postura de características modernistas por

introduzir elementos brasileiros na obra erudita. A Orquestra, desde o início,

homenageou o compositor por meio de saudações à sua irmã, dona Joaquina

Gomes, a Nhá Quina, que morava na cidade há décadas e dava aulas de

piano.18



17 Idem, p2
18 CIONE, R. Op. cit. p424
18




     Ilustração 1 – Capa do programa do concerto inaugural da Orquestra criada por
Max Bartsch



     Não se pode concluir, no entanto, que o fato do compositor brasileiro

estar representado na programação musical da Orquestra Sinfônica seja indício

de que havia por parte de seus diretores, maestro ou músicos, adesão ou

mesmo uma simples afinidade com o movimento modernista. Ao que se

percebe, a homenagem se deu pelo fato de Carlos Gomes já ser um

compositor brasileiro consagrado mundialmente sem, no entanto, análise do

mérito de sua obra ser ou não modernista. A simples menção, por si só,

bastava para satisfazer a necessidade de “glamour”, de auto-afirmação da elite

ribeirãopretana.
19

       1.2 Os imigrantes e o gosto pela música



       Ribeirão Preto sentia os efeitos do canal aberto que ligava a cidade ao

mundo por meio da exportação do café. Na medida em que o produto escoava,

trazia como retorno o capital financeiro e humano de diversos países,

principalmente da Europa. Essa irrigação estrangeira de dinheiro e pessoas

moldou um perfil da cidade que a tornou suficientemente forte para superar

sem muitos traumas a crise do café. O comércio já era vigoroso e atendia à

região um grande número de prestadores de serviços e profissionais liberais

que transitava com desenvoltura pela cidade. O imigrante europeu teve papel

fundamental nesse processo porque interagiu decisivamente para a expansão

e diversificação comercial em Ribeirão Preto, com efeitos diretos sobre o

processo de urbanização.19

       Os italianos trouxeram na bagagem da imigração o gosto pela música e

difundiram na cidade o hábito de cultuar essa vertente artística. Como

chegavam em pequenos núcleos familiares, os italianos acabavam por formar

entre si pequenas bandas de música. Nos idos de 1880, têm-se os primeiros

registros dessas bandas e em 1910, havia em Ribeirão Preto pelo menos

quatro bandas consolidadas formadas na colônia italiana, a mais numerosa.

São as bandas “Bersaglieri”, a “Banda Progressista”, a “Giácomo Puccini” e a

“Ítalo-Brasileira”. Essas bandas passaram a interferir no gosto musical da

população porque se apresentavam diariamente sempre no final do dia e início

da noite em praças públicas. O jornal da época, “A Cidade”, chegava a publicar




19 GUMIERO, E. A. Op. cit, p13.
20

a programação musical que sempre era voltada para o gosto popular .20 Ofícios

emitidos pela prefeitura nos anos 30, concernentes à contratação de bandas

musicais para apresentações públicas, indicam que a comunidade local era

fortemente influenciada pelos imigrantes europeus, pois já tinha no gosto e nos

hábitos culturais o culto da música.21

        É de se destacar, no entanto, que durante anos essas bandas difundiram

obras de compositores eruditos, como Beethoven, Rossini, Verdi, Puccini,

Mascagni, Lehar e Carlos Gomes, e algumas das músicas desses

compositores caíram no gosto do povo, tornado-as mais populares, o que

ajudou a ‘moldar’ o hábito do ribeirãopretano de apreciar a música clássica. O

Hino do Brasil era também comumente executado e, tão era forte a influência

francesa na época que até o Hino da França, a Marselhesa, se ouvia nos

coretos da cidade no final do século XIX e início do Século XX.22

        A assimilação do gosto popular pelas bandas foi institucionalizada a tal

ponto que a Prefeitura de Ribeirão Preto abria inscrição para que bandas

fossem contratadas para apresentações públicas em coretos na Praça XV de

Novembro, Praça Sete de Setembro, nos jardins da Vila Tibério e, mais tarde,

no Bosque Municipal. As bandas, ao se inscreverem, apresentavam seus

orçamentos com custos de maestro e músicos e a Câmara de Vereadores

aprovava a contratação das bandas escolhidas.23 Um dos critérios para a

escolha da banda era o número de músicos. Nos contratos assinados com a

Prefeitura, como o de 1933, entre Ignácio Stábile, gerente e maestro da Banda

Municipal e o prefeito André Veríssimo Rebouças, a cláusula 8 é específica ao

20 TUON, L. I. Op. cit, p93
21 Os ofícios encontram-se no Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto
22 Idem Op. cit, p94
23 Ibidem Op. cit. p95
21

afirmar que o maestro Stábile se comprometia a manter sua banda com um

número nunca inferior a 20 músicos, o que abria grandes perspectivas de

mercado de trabalho para esses artistas.24

          Há que se ressaltar que a programação musical das bandas era

previamente aprovada diretamente pelos prefeitos, pelo menos nas primeiras

quatro décadas do século passado. Tal fato conferiu grande importância aos

eventos culturais de apresentações públicas das bandas. A preocupação com a

qualidade dos programas fazia os maestros da época incluir nos roteiros

musicais peças eruditas de apelo popular. Um dos programas, aprovado pelo

prefeito André Veríssimo Rebouças, em 1933, e elaborado pelo maestro

Stábile era composto pelo “O Barbeiro de Sevilha”, de Rossini, “Salvator Rosa”,

de Carlos Gomes, e “Fidelio”, de Beethoven, ou seja, três compositores

eruditos com peças que se tornaram populares. Os relatórios dos prefeitos que

sempre aprovavam os programas apresentados eram simples, de uma página

com dois ou três parágrafos escritos em que ratifica a proposta apresentada.

Em nenhum deles, no entanto, foram encontradas referências à política de

difusão cultural da música erudita ou qualquer referência a respeito. O que se

escondia, talvez involuntariamente, por trás da garantia do bom lazer era a

formação do gosto musical do público ribeirãopretano que passava a apreciar a

chamada “boa música”. 25

          Strambi26 faz referência à “musicalidade” do povo de Ribeirão Preto e cita

que nas décadas de 20 e 30 do século passado viviam na cidade inúmeros

maestros, como Luiz Delfino Machado, Carlos Vollani Nardelli, Antonio


24   Relatório da Prefeitura de 1933. Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto.
25 Relatório da Prefeitura de 1937. (Fundo?) Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto.
26 STRAMBI, M. de S. Op. cit. p15
22

Giammarusti, Pedro Giammarusti, Ignácio Stábile, Alfredo Pires, Cônego Dr.

Francisco de Assis Barros e Edmundo Russomano, entre outros que

trabalhavam com músicos em diversos locais como confeitarias, cassinos,

cinemas e saraus. Há de se perceber que a maioria dos maestros carrega

nomes estrangeiros, basicamente de italianos.

        A tradição da cidade em qualidade musical tornou-se um fato. Ela cita,

por exemplo, que a Banda do 3º B.C. – Batalhão de Caçadores de Ribeirão

Preto - era considerada a melhor banda do estado de São Paulo, em 1938, ano

da terceira tentativa de criação de uma Orquestra Sinfônica na cidade. 27

        Outro aspecto a se constatar é que a difusão das pequenas bandas pela

cidade evidencia em suas entrelinhas que o foco das elites, portanto das

atividades sócio-econômico-político-culturais, já se consolidara no meio urbano,

deslocando-se definitivamente do meio rural. Período em que o “coronelismo”

perdia forças e o centro do poder passava a ser disputado por outra classe de

políticos, composta pelos profissionais liberais, empresários e comerciantes.28

A vida na cidade tornava-se cada vez mais dinâmica e isso exigia formas de

lazer e entretenimento condizentes com a nova realidade.

        A música, naturalmente, ocupou lugar de destaque na preferência dos

habitantes         locais.   Os     músicos   conseguiam   empregos   nos   cassinos

popularizados na cidade pelo empreendedor francês François Cassoulet. Os

cassinos que ele dirigiu eram famosos por apresentar um vasto leque de

opções de entretenimento, como de serviços de buffet, exibição de filmes,




27 Idem, Op. cit,. p57
28 WALKER, T. & BARBOSA, A. S. Op. cit, p87
23

reuniões cívicas, espetáculos artísticos, jogos e, naturalmente, show de

coristas e até mesmo a prática da prostituição.29

        Essa forma de lazer transfigurou-se na década de 30 devido a uma

combinação de fatores. Por um lado há um recesso econômico decorrente da

crise financeira que tem reflexo no lazer, nas noites de diversão, devido à crise

do café. A cidade que, com 90 mil habitantes nos anos 30, registrava 200

casas de meretrício, via essa atividade diminuir. A chegada do automóvel, o

crescimento da cidade e a diversificação dos locais de entretenimento noturno,

aliado à inserção cada vez maior da figura feminina no seio das atividades

sociais e culturais, trouxeram novas formas de lazer e os espaços para

exibição de música erudita através de pequenas formações musicais ganharam

destaque.30




29 SILVA, B. L. da. Op. cit, p142
30 Idem, p143
24

       1.3 As várias orquestras sinfônicas.



       A existência de músicos e maestros em grande número na cidade

culminou com três tentativas conhecidas de criação de uma Orquestra

Sinfônica. A primeira foi através da Sociedade de Concertos Sinfônicos de

Ribeirão Preto, criada entre 1922 e 1923, que teve como presidente o professor

Dario Guedes e como regente Luiz Delfino Machado. A Orquestra tinha 31

músicos, conforme esclarece Strambi, incluído o próprio presidente e músicos

como Max Bartsch, Francisco de Biase, José Gumerato, Augusto Gumerato,

entre outros que 15 anos mais tarde formariam a Orquestra Sinfônica da

Sociedade Lítero-Musical de Ribeirão Preto, única que conseguiu permanecer

em atividade até os dias atuais. 31

       No entanto, as dificuldades para se manter em funcionamento uma

Orquestra Sinfônica, apenas através de mecenato de empresas e pessoas com

doações voluntárias, inviabilizou a tentativa do professor Dario Guedes. No

entanto, Strambi não entra no mérito das tentativas de manter uma orquestra

que obtiveram sucesso, mas faz um interessante levantamento das iniciativas

que existiram na cidade. A Orquestra da Sociedade de Concertos Sinfônicos,

de acordo com a autora, não resistiu a mais do que cinco ou seis concertos ao

longo de poucos anos.

       Strambi aponta ainda que no início da década de 30, surgiu a Orchestra

Simphonica de Ribeirão Preto, com 41 músicos, organizada e regida pelo

maestro Ignácio Stábile que levou para a iniciativa o conhecimento adquirido ao

longo dos anos em que dirigiu a Banda Municipal e teve contratos assinados


31 STRAMBI, M. de S. Op. cit, p15.
25

com a Prefeitura para apresentações públicas. Foi essa Orquestra que

participou da inauguração do Theatro Pedro II, em 8 de outubro de 1930.

Detalhe importante é que no programa de inauguração do Theatro, estava a

obra “O Guarani”, de Carlos Gomes.

        Essa Orquestra conseguiu sobreviver por sete anos. Sem enumerar as

causas do fracasso, Strambi alega que elas existiram, foram muitas e que nem

a dedicação quase que integral de personalidades da época, como o maestro

Stábile e Dário Guedes, que também investiu dinheiro na manutenção, foi

suficiente para garantir a permanência da Orquestra. 32




32 Ibidem, Op. cit, p19.
26




                                 Capítulo 2




              Um Alemão em Ribeirão Preto




     Entre os milhares de imigrantes europeus que contribuíram para a difusão

cultural em Ribeirão Preto, um alemão se destacou em diversos aspectos. Max
27

Bartsch foi trazido, em 1913, aos 25 anos de idade, pelo Coronel Francisco

Schmidt, para fazer o paisagismo da Fazenda Monte Alegre, uma das

principais propriedades do fazendeiro. Era, na verdade, uma excelente

oportunidade para se fugir de uma situação política complicada, uma vez que a

Alemanha estava à beira da primeira guerra mundial. Os movimentos bélicos

se avolumavam na Europa e em 1913, o continente foi palco de conflitos como

a 2ª Guerra Balcânica, em que a Bulgária, aliada e instigada politicamente pela

Áustria-Hungria, atacou a Grécia e a Sérvia. A Romênia, Montenegro e Turquia

uniram-se aos dois países agredidos para derrotar a Bulgária.33

       As referências biográficas existentes sobre o Max Bartsch, no entanto,

apontam para a mesma versão sobre sua chegada ao país e nenhuma delas

faz a menor alusão sobre a oportunidade do imigrante de trocar de país por

questões políticas ou mesmo por melhores oportunidades de vida. O fato é que

os primeiros anos de Bartsch no Brasil causaram impacto positivo, enquanto

seu país natal estava no foco da 1ª Guerra Mundial.

       Em 1914, Bartsch foi contratado como jardineiro pela Prefeitura da

cidade. Atividade que não lhe causou muitos transtornos uma vez que era

agrônomo de formação. Um loiro, com enxada na mão, ensinava aos colegas a

plantar e adubar o jardim da Praça XV, onde se apresentava a banda “Filhos

de Euterpe”. Desta forma, chamava a atenção do povo que via nas praças

aquele jardineiro culto, musicista e agrônomo de formação.34

       Strambi cita o jornal “O Diário”, de 19.07.1970, em que um artigo de

Prisco da Cruz Prates diz que Bartsch era visto todas as tardes caminhando

em frente à portaria da Antarctica, no trajeto entre a Prefeitura e o campo do

33 RIZZI, K. & BALARDIN, R. O fim do (des) equilíbrio europeu (1871-1914). p1.
34 CIONE, R. Op. cit. p428
28

Botafogo, na Vila Tibério, onde estava trabalhava no nivelamento do terreno.

Em uma dessas tardes, ele teria sido parado pelo então gerente da indústria de

bebidas que, percebendo sua “inteligência e sagacidade”, admirou-se ao saber

que era um simples jardineiro e o convidou a trabalhar na empresa.35

        Na Cia. Antarctica, enquanto fazia carreira, consolidava o ciclo de

amizades influentes que aos poucos ia enredando. Como gerente, ocupou o

cargo por 12 anos, de 1930 a 1942. Ao mesmo tempo ocupou cargos de

destaque na rádio PRA-7, onde foi presidente no biênio 1934-35, sendo reeleito

consecutivamente para os biênios 1936-37, 1938-39, 1940-41. Passados 25

anos desde sua imigração, a sociedade civil organizada preparou festividades

para comemorar seu aniversário e que duraram quatro dias, de seis a nove de

abril de 1939.




35 Ibidem, Op. cit, p117
29

     2.1 Reflexões sobre a popularidade de Bartsch

     Como ilustra fotografia da época, uma festa organizada para a noite do

dia nove de abril de 1939, no Teatro Carlos Gomes, era a coroação de uma

série de festejos. Na ocasião, nada menos do que 21 entidades manifestaram

suas homenagens ao alemão. Pela disposição dos cartazes, na fotografia da

Ilustração nº 2, percebe-se que a organização da festa teve a preocupação de

padronizar todos eles. Pode-se notar que os cartazes apresentam mesmo

tamanho, formato e até o mesmo tipo de letras.

     Muitas das homenagens vieram de entidades as quais era o presidente,

como Sociedade Amiga dos Pobres, Sociedade Musical de Ribeirão Preto,

Rádio Clube de Ribeirão Preto – PRA-7, Clube das Melancias.

     Homenagens similares vieram de entidades de naturezas tão díspares,

mas onde atuava como presidente-honorário, a exemplo do Botafogo Futebol

Clube, diretor do C. R. Rio Pardo e Asilo Padre Euclides, sócio da Sociedade.

União dos Viajantes, Creche Santo Antonio.

     No período, havia um anseio dos trabalhadores pela legalização de

normas trabalhistas ou mesmo pelo cumprimento das que estavam em vigor, o

que a princípio colocava em lados opostos, patrões e empregados através de

suas respectivas entidades de classes. Max Bartsch, no entanto, conseguiu

reunir em torno de si, homenagens de ambos os lados, como mostram os

cartazes da Associação Commercial, da Associação dos Empregados no

Commércio, Syndicatos Operários de Ribeirão Preto e da S. Auxiliadora dos

Chauffers. A bem da verdade, a ditadura imposta por Getúlio Vargas, dois anos

antes pode ter gerado intervenção federal nas entidades de classes, para que

as reivindicações e os confrontos ideológicos fossem mantidos de forma
30

alinhada com o Governo Federal, como é comum, em regimes ditatoriais,

entidades de patrões e empregados falarem a mesma linguagem.

      Homenagens similares vieram ainda do Ypiranga Futebol Clube, Palestra

Itália F. C., A. Portugueza de Esportes, sem contar as que recebeu como

“amigo” da Sociedade Recreativa, o 3º B. C. P., C. A. Sudan, , S. C. Bambas.

Setores     da     imprensa         ribeirãopretana   renderam-lhe   homenagem   como

“jornalista honorário”.




          Mostrar área de trabalho.scf




      Ilustração 2 – Cartazes das entidades que homenagearam Bartsch em seu
aniversário de 51 anos de idade, em 1939.
31

        Strambi dá detalhes dessa festa.36 As primeiras homenagens, na quinta-

feira que antecedeu a data, se deram com seu nome sendo citado na

oficialidade do dia do 3º B.C.P e, à noite, a rádio PRA-7 ofereceu um jantar em

sua homenagem. No sábado, os funcionários da Antárctica ofereceram uma

recepção pela manhã, quando também foi homenageado pelos funcionários da

fábrica de cigarros Sudan. Ao meio-dia, um churrasco que a diretoria da

Antárctica ofereceu. À tarde, a disputa da Taça Max Bartsch entre os músicos

da Sociedade Musical e os garçons do Sindicato. À noite, jogo de basquete

entre as equipes da Antárctica de São Paulo e de Ribeirão Preto. No domingo

a festa continuou. A Sociedade União dos Viajantes deu-lhe um distintivo de

ouro, a Prefeitura concedeu o título de “Cidadão Benemérito”. Uma partida de

futebol, entre o Botafogo e a Antárctica Futebol Clube, foi realizada

especificamente para comemorar seu aniversário e à noite, no Teatro Carlos

Gomes, a A. C. Bambas encerrou as homenagens. A mobilização de boa parte

da cidade demonstrou que o alemão conseguiu arregimentar admiradores em

vários setores e camadas sociais.




36 Ibidem, Op. cit, p116.
32

        2.2 Longe da política, partidária

        Pelo relato das fontes percebe-se que Max Bartsch satisfazia-se em obter

o reconhecimento público por suas ações sem almejar outras formas de poder,

como o que advém da política. Ao longo da vida, o alemão não ocupou cargos

públicos no Legislativo ou no Executivo, mas ocupou cargos executivos na

iniciativa privada que lhe deram visibilidade social e teceu uma rede de

influências, que envolveu personalidades públicas da época, do meio social,

político, financeiro e religioso.

        Em 25 anos, construiu uma trajetória de ascensão social que foi de

jardineiro da Prefeitura a presidente da PRA-7, período em que demonstrou

talento para erguer uma base de influência que serviu de respaldo às suas

inúmeras ações. Criou e ajudou a administrar diversas entidades filantrópicas,

artísticas, educacionais e sindicais.37

        Não foram encontrados indícios de ligação político-partidária de Max

Bartsch em nenhuma das fontes pesquisadas. Por outro lado, sua popularidade

e livre trânsito em setores distintos da sociedade, como entidades de classes

de trabalhadores e patronais, demonstra que Bartsch de fato preferia ficar de

fora das questões partidárias, o que não significa que ele pudesse manter suas

preferências políticas de forma discreta, não explícita publicamente.

        O período era turbulento. Final dos anos 30 do século passado é o

fortalecimento do Estado Novo no Brasil, com a ditadura de Getúlio Vargas e

no mundo, o início da Segunda Guerra Mundial. O nazi-fascismo teve eco no

Brasil com o movimento integralista e, alinhado a outras forças políticas, se

opôs ao comunismo. Em Ribeirão Preto, a PRA-7 liderou movimento de órgãos


37 Ibidem, Op. cit, p118.
33

de imprensa em apoio às políticas de combate ao comunismo e a emissora

abriu espaço para discursos para representantes importantes do integralismo

ribeirãopretano, como Bandeira Larine, que no dia 20 de novembro de 1937,

falou no microfone da PRA-7 para “exaltar a repressão federal ao comunismo”.

No dia seguinte, foi a vez de Antônio Baracchini Júnior ir a PRA-7 falar sobre o

mesmo assunto.38 Esses discursos ocorreram apenas 10 dias após Getúlio

Vargas instituir no Brasil a ditadura do Estado Novo.

        Apesar de não terem sido encontradas evidências de qualquer ligação do

alemão com o movimento integralista, o fato de dois representantes do

movimento em Ribeirão Preto comparecer à emissora onde Bartsch era

presidente aponta para uma possível situação de simpatizante com o

movimento, que manteve uma grande repercussão local e nacional com apoio

inicial do próprio Getúlio Vargas. O movimento foi tão forte em Ribeirão Preto

que a cidade foi a oitava no país a receber o título de “cidade integralista”, pelo

chefe nacional do movimento, o gaúcho Plínio Salgado.39 Seria natural,

portanto, que o movimento angariasse, pelo menos e mesmo que

discretamente, a simpatia de um alemão imigrante.

        O único indício de uma ação provocada por questões políticas é apontado

por Rezende & Santiago. Em 1941, quando o Brasil já se posicionava no

cenário mundial contra o nazismo, e as perseguições aos alemães no país se

intensificavam. Em janeiro daquele ano, Bartsch solicita exoneração do cargo

de presidente da PRA-7 e alega que “sua decisão não é oriunda de seu desejo,

mas imposto por medidas que o Governo Brasileiro tem tomado ultimamente



38 CONSOLO, E. Integralismo em Ribeirão Preto (1934-1938) p.23
39 Idem. Opus cit. p.8
34

no louvável intuito de garantir e defender os direitos e a integridade deste

imenso país”. 40 Ele sai de cena lenta e paulatinamente.

       Não se trata de mera coincidência desligar-se definitivamente da

emissora PRA-7 e, um ano depois, em 1942, deixar a Companhia Antarctica. A

presidência da Orquestra Sinfônica, que ocupou desde sua criação, em 23 de

maio de 1938, ele abandona em 22 de novembro de 1942 e torna-se

conselheiro até março de 1945. Com fim da guerra, ocupa a vice-presidência

da Orquestra até 1950, quando seu nome sai definitivamente do quadro de

diretores da Sinfônica.




40 REZENDE & SANTIAGO, Op. cit, p. 63-64
35

2.3 O gosto pela música



        Amante da música, Max Bartsch, foi exímio tocador de violão, violino e

cítara, seu instrumento predileto desde a juventude na cidade natal,

Nuremberg, na Alemanha, onde nasceu em 9 de abril de 1888. Enquanto

construía uma sólida carreira de executivo na Cia. Antárctica não abriu mão do

hobby de tocar música. Em 1928, uniu-se ao dr. Camilo Mércio Xavier,

Francisco de Biase, Artur Marsicano e Ranieri Maggiori e criou o Quinteto Max.

O grupo reuniu-se com freqüência na casa de um amigo do alemão, José

Cláudio Lousada, um dos mentores da criação da rádio PRAI, que mais tarde

seria a PRA-7. Essa amizade garantiu, entre outras coisas, espaço ao Quinteto

na grade de programação para exibição diária na emissora e em horário

nobre.41

        A popularidade associada ao carisma de Bartsch foi responsável pelo

crescimento do Quinteto. Em pouco tempo, muitos músicos foram absorvidos

pelo grupo, como Dario Guedes, fundador da primeira Orquestra Sinfônica,

Carlos Nardelli, Meira Junior, Romano Barreto, Pedro e Antonio Giammarusti,

Zezé Gumerato, entre outros.42 A seqüência de fotos ilustra o crescimento do

grupo que, mesmo com mais de cinco integrantes, continuou “Quinteto Max”.

Na segunda foto vemos dez músicos ligados ao Quinteto.




41 Idem, Op. cit, p101
42 Ibidem. Op. cit, p119.
36




      Ilustração 3 – Formação original do Quinteto, com Max Bartsch em pé, ao centro
                             da foto, segurando a cítara




      Ilustração 4 – Em pé, da esquerda para a direita, Bartsch é o terceiro. Nessa foto,
                                aparece com um violino



     O Quinteto cresceu e deu origem a outras bandas. Umas delas, como

verão adiante, é a PRA-7 Club Orquestra, considerada o núcleo que originou a
37

Orquestra Sinfônica. A outra banda é a PRA-7 Jazz, que se tornou Jazz Band

Cassino Antarctica, ao se apresentar no maior cassino da cidade. A maioria

dos integrantes do Quinteto estava também na Jazz Band.




        Ilustração 5 – Jazz Band Cassino Antarctica surgiu como desdobramento do
                                    Quinteto Max



     Os músicos que circulavam no meio artístico, eram em grande número,

mas apesar disso foram praticamente os mesmos os que integraram o Quinteto

e a Jazz Band e os que compuseram a base nas três tentativas de criação de

Orquestra Sinfônica.

     A diferença substancial é que na terceira tentativa de se criar a Orquestra

Sinfônica da cidade, a emissora de rádio PRA-7 já estava consolidada na

sociedade e, mais do que isto, seu presidente era o mentor da nova iniciativa

de criação da Orquestra. Max Bartsch possuía há 10 anos sua própria banda e

que se apresentava na emissora. O fato de a rádio transmitir programas de

concertos para formações pequenas e shows serviu de chamariz para outros

músicos em busca de espaço para exibição.
38

     2.4 PRA-7 e sua importância na criação da Orquestra Sinfônica



     De simples colaborador na criação da PRA-7, como fazia com inúmeras

iniciativas, Bartsch chegou a diretor e presidente da emissora. Entusiasmado

com a idéia da radiodifusão, tornou-se um de seus principais idealizadores e

sempre garantiu a exibição de grupos de músicos locais ao vivo nos estúdios

da rádio, o que abriu grandes oportunidades para os artistas e vieram se somar

aos espaços existentes como cassinos, teatros e saraus.

     Esses mesmos músicos que “incharam” o Quinteto e originaram a Jazz

Band integraram ainda a primeira orquestra da rádio, a PRA-7 Club Orquestra.




 Ilustração 6 – Max Bartsch sentado, ao meio de camisa branca e gravata escura, tem a
   seu lado os integrantes do Quinteto Max, o maestro Antonio Giammarusti e demais
                                        músicos



     Na foto, é possível observar que um músico segura a placa com o nome:

“PRA-7 Club Orquestra”, onde Bartsch aparece cercado de músicos e com o

maestro Giammarusti, todos funcionários da emissora. Dali para a criação da

Orquestra Sinfônica foi um passo. Essa foi, na verdade a base da Orquestra
39

Sinfônica que o alemão criou, inclusive com o mesmo maestro do concerto

inaugural da orquestra.

        A participação de Max Bartsch como músico na tentativa anterior de

constituição de uma orquestra serviu naturalmente de aprendizado no que se

refere às necessidades de manutenção de uma organização musical desse

porte que lhes são inerentes. A imprensa da época soube captar esse

momento. A criação da Sociedade Musical de Ribeirão Preto encontrou eco

extremamente favorável nos jornais da época, como a notícia publicada no

Diário da Manhã em 25 de maio de 1938. 43

        O filho do imigrante, Adolpho Bartsch, lembra ainda hoje de algumas

dessas reuniões que ocorriam quase que diariamente em sua casa após o

expediente, quando ainda era menino e via os músicos que discutiam e

tocavam instrumentos. Para ele, a música foi a grande paixão do seu pai.

        Era a terceira tentativa de se erguer na cidade uma estrutura que

permitisse a existência de uma orquestra de maneira menos efêmera. A

imprensa destacou o evento com uma manchete que reflete bem a questão:



                                      Mais um esforço artístico
                                      A Sociedade Cultura Artística de Ribeirão Preto teve vida
                              ephemera. Entretanto não lhe faltou assistência desvelada de um
                              grupo de seus dirigentes e a boa vontade de um grupo de pessoas
                              inteligentes, capazes de sentir a sublimidade da música.
                                      O dr. Dario Guedes, frente aquella instituição, deu tudo que lhe
                              podia dar. Tempo, dinheiro, intelligência.
                                      ...
                                      Todos esses esforços foram em vão.
                                      ...
                                      Quais as causas do fracasso?

43 “Temos acentuado por diversas vezes, a necessidade de contar a nossa cidade com uma entidade musical que
reunindo todos os profissionaes locaes, possa attestar com firmeza o elevado grau artístico-musical de nossa terra,
que, pela falta maior união, não tem lá fora a repercussão que era de se esperar, nesse terreno. Agora, por iniciativa
dos srs. Max Bartsch e Francisco De Biasi acaba de ser fundada a Sociedade Musical de Ribeirão Preto em reunião
effectuada, do dia 22 do corrente, na residência do Sr. Barstch”.
40

                                   São múltiplas e não vale a pena esmiuçá-las, mesmo porque,
                            esta é uma nota de registro à margem da fundação da Sociedade
                            Musical de Ribeirão Preto, que se apresenta, pelo seu programa, e
                            pelas pessoas que estão à sua frente, com credenciaes para constituir
                            uma explendida realidade.
                                   A Sociedade Musical pretende:
                                   a) reunir todos os profissionaes, na sociedade que será
                            syndical;
                                   b) o bem-estar dos músicos;
                                                                              44
                                   c) realizar pelo menos 6 concertos annuaes.


       De fato, Bartsch trabalhou no sentido de garantir a sobrevivência da

Orquestra.45 Pragmático, costurou alianças em torno da idéia comprometendo

personalidades que garantiriam o sucesso da iniciativa depois de duas

fracassadas tentativas. Colocou na diretoria pessoas de inteira confiança, como

dois dos primeiros integrantes do Quinteto Max: Francisco de Biase, como

primeiro secretário, e Camilo Mércio Xavier, como primeiro tesoureiro. Na

Assembléia Constitutiva, realizada em 23 de maio de 1938, conseguiu quorum

para conceder a sra. Joaquina Gomes, irmã do compositor Carlos Gomes, e

que morava em Ribeirão Preto, o título de sócia-honorária.

       A Prefeitura Municipal, principal subvencionadora das bandas que se

apresentavam nas praças públicas não poderia deixar de ser envolvida no

projeto. O prefeito Fábio Barreto foi eleito presidente de honra da Orquestra

Sinfônica. Um vereador de destaque na época, Joaquim Camillo de Mattos, foi

eleito orador oficial da Orquestra. O programa de estréia da Orquestra

Sinfônica fez questão de citar a relação de personalidades que compunham a

diretoria.

       Para garantir a preservação da Orquestra era preciso criar a figura

mantenedora, no caso, a Sociedade Musical de Ribeirão Preto, que seria a

pessoa jurídica responsável pela manutenção físico-financeiro-administrativa

44 A CIDADE, capa, 24 de maio de 1938
45 STRAMBI, M. de S. Op. cit, p119 e 126
41

da Orquestra. Com as alianças que fazia no meio político, empresarial e social,

Bartsch sentiu-se à vontade de imprimir novos hábitos na cultura local.46

        Foi assim que ele conseguiu sensibilizar as empresas locais a fazerem

doações         para        as   instituições       filantrópicas,   artísticas   e   educacionais.

Evidentemente a Orquestra Sinfônica se enquadraria nesse critério. Foi ele

quem difundiu a prática do mecenato. Por outro lado, ele era ciente do poder

de articulação que possuía. Como presidente da PRA-7 a partir de 1934

realizou a “Campanha dos 2.000 Sócios” para que a emissora conseguisse

manter no ar programas de qualidade. A PRA-7 virou uma rádio-clube. 47




46 Ibidem. Op. cit, p119.
47 REZENDE, A. L. & SANTIAGO, Gil. Op. cit, p101.
42




   Ilustração 7 – Verso do programa do primeiro concerto da Orquestra Sinfônica da
 Sociedade Musical de Ribeirão Preto, em que são apresentados os nomes da diretoria




     Considerada um sucesso, a campanha garantiu a manutenção de um

cast considerável. Em 1936, a emissora se orgulhava de exibir em campanhas

publicitárias que possuía Orquestra de Salão, Orquestra Típica, Orquestra de

Cordas, Conjunto da Madrugada, Quinteto Max, Trio Original, Quarteto PRA-7

e Grupo Regional, além de um quadro de cinco solistas fixos: Edu Rangel e

Geraldo Mendonça (piano), José Gumerato (violino), Caetano Lania (flauta) e

Manoel Silva (violoncelo).
43

     Na “Campanha dos 2.000 Sócios”, Bartsch conseguiu demonstrar um

poder de mobilização social muito grande que incluiu até a imprensa local na

convocação da população para aderir à causa. Não haveria porque a nova

Orquestra Sinfônica não dar certo.

     O tamanho da influência de Bartsch foi tão grande que garantiu a

transmissão ao vivo do Theatro Pedro II, na noite de 22 de setembro de 1938,

pela PRA-7, do concerto de estréia da Orquestra, incluindo o discurso do

orador Camilo de Matos. As condições com que Bartsch conseguiu embasar o

surgimento da “sua” Orquestra Sinfônica imprimiu à iniciativa características

únicas que os antecessores, por mais engajados que fossem nas atividades

sociais como eram Dario Guedes e Ignácio Stábile, não dispunham para

garantir o sucesso de suas respectivas iniciativas.
44




Considerações Finais
45

     Político sem ser partidário, nunca ocupou cargo nos governos municipais

ou foi eleito para o Legislativo. No entanto, seu poder era grande. Seu carisma

foi ressaltado em inúmeras fontes, mas em nenhuma delas, houve indícios de

um homem que tivesse qualquer desavença pessoal, profissional ou mesmo

política que comprometesse suas ações. Nos processos trabalhistas da época,

que integram o acervo do Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto, não

constam ações contra Max Bartsch, apesar de suas inúmeras ocupações como

diretor em diversas entidades.

     Gerente da maior empresa privada da cidade na época, a Cia. Antarctica

de Cerveja e ao mesmo tempo presidente da PRA-7, soube como ninguém

tecer uma rede de influências que envolvia políticos, artistas, religiosos,

empresários, fazendeiros, administradores, etc. Revestiu essa habilidade de

um ar carismático, próprio de um talentoso articulador. Como músico aprendeu

a conhecer os bastidores de uma orquestra sinfônica ao participar da

Sociedade Cultura Artística de Ribeirão Preto e viu de perto os problemas que

eram preciso enfrentar para manter uma orquestra em atividade constante.

     Ao aliar essas duas características, Max Bartsch criou a Sociedade

Musical de Ribeirão Preto e consolidou uma estrutura que lhe permitiu manter

em funcionamento a Orquestra, diferentemente das duas tentativas anteriores.

     Reunir músicos à sua volta nunca foi problema. Instrumentista talentoso,

Bartsch criou o Quinteto Max que, em dez anos de atuação, conseguiu

aglomerar em torno de si uma dezena de músicos ansiosos para participar do

grupo ou mesmo de se apresentar na rádio PRA-7, onde o Quinteto tinha

horário cativo e de onde era presidente. Soube, então, aproveitar as condições
46

favoráveis para criar a Orquestra e o fez com maestria, garantindo inclusive

transmissão ao vivo de seu primeiro concerto pela emissora de rádio.
47

Referências bibliográficas

BRENER, Jayme. Um tiro no escuro. São Paulo: Revista Eletrônica Pangea,
n. 3, abril, 2004.

CIONE, Rubens. História de Ribeirão Preto. Ribeirão Preto: IMAG, 1987.

CIONE, Rubens. História de Ribeirão Preto. Ribeirão Preto: Editora Legis
Summa, v. 2,1993.

CONSOLO, Eduardo. O Movimento Integralista em Ribeirão Preto (1934-
1938). TCC (Graduação – História). Ribeirão Preto, Centro Universitário Barão
de Mauá, 2005.

GUMIERO, Elaine Aparecida. Ribeirão Preto e o Desenvolvimento do seu
Comércio: 1890-1937. Dissertação (Mestrado - História), FHDSS,
Universidade Estadual Paulista, Franca, 2000.

NETO, Diósnio Machado. A Semana de 22 Através de Uma Viagem pelo
Interior de São Paulo. Ribeirão Preto. Apresentado no 1º Congresso de
Musicologia Histórica e a ser publicado nos anais. Universidade de São
Paulo, 2006.

REZENDE, André Luis; SANTIAGO, Gil. A Primeira Rádio do Interior do
Brasil. Ribeirão Preto: São Francisco, 2005.

RIZZI, Kamilla R. & BALARDIN, Rafael. O fim do (des) equilíbrio europeu
(1871-1914). Porto Alegre. Revista Eletrônica Ilea Ufrgs, 2004, artigo 621.

ROCHA, Anderson. Os Quartetos de Cordas de Alberto Nepomuceno.
Dissertação (Mestrado – Musicologia). São Paulo: ECA - Universidade de São
Paulo, 2000.

SILVA, Benedita Luiz. O Rei da Noite na Eldorado Paulista: François
Cassoulet e os entretenimentos noturnos em Ribeirão Preto (1880 – 1930).
Dissertação (Mestrado – História), Franca: FHDSS, Universidade Estadual
Paulista, 2000.

STRAMBI, Myrian de Souza. 50 Anos da Orquestra Sinfônica de Ribeirão
Preto. Ribeirão Preto: Legis Summa, 1989.

TUON, Liamar Izilda. O Cotidiano Cultural de Ribeirão Preto. Dissertação:
(Mestrado – História), Franca: FHDSS, Universidade Estadual Paulista, Unesp,
1997.

WALKER, Thomas; BARBOSA, Agnaldo de Sousa. Dos Coronéis à
Metrópole. Ribeirão Preto: Palavra Mágica, 2000.
48

Fontes

- Jornais:
    A Cidade – Ribeirão Preto, 1938.
    O Diário – Ribeirão Preto, 1938.

- Arquivos:
   Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto
   Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto

- Entrevistas:
   BARSTCH, Adolfo. Filho de Max Barstch, fundador da Orquestra Sinfônica
de Ribeirão Preto.
   BARSTCH, Henrique. Neto de Max Barstch.
   GAETANI, Luis. Presidente da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto no
período de 1976-2000.

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Monografia ferraz osrp

  • 1. José Pedrosa Ferraz Jr. A Criação da Orquestra Sinfônica na Ribeirão Preto dos anos de 1930 Monografia apresentada ao Centro Universitário Barão de Mauá como pré-requisito para obtenção de título de Especialista em História, Cultura e Sociedade, sob orientação da profª Ms Lílian Rodrigues de Oliveira Rosa. Ribeirão Preto - 2006 –
  • 2. 2 Agradecimentos Ao companheiro e amigo Daniel Basso, que acompanhou minha especialização e declinou do meu convívio inúmeras vezes para permitir minha dedicação ao curso e à monografia À diretora do Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto, Tânia Registro, e seus funcionários pela gentileza em fornecer material de pesquisa e ajudar na descoberta de outras referências bibliográficas. Ao Décio Bellini Jr., presidente da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto e seus funcionários que abriram as portas do acervo documental da Orquestra para pesquisas. À Rita Bueno Lodi, filha de José da Silva Bueno, líder do Radio Club de Ribeirão Preto, à Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto, ao MIS, Museu da Imagem e do Som, pela cessão das imagens que ilustram este trabalho. Ao filho e neto de Max Bartsch, Henrique e Adolfo, respectivamente, e dr. Luís Gaetani, ex-presidente da Orquestra Sinfônica de 1976-2000, por colocar suas memórias à disposição desta monografia através de boas entrevistas. À minha orientadora, profª Ms Lílian Rodrigues de Oliveira Rosa, com me conduziu de forma brilhante durante toda a monografia e exigiu de mim sempre o melhor. Ao coordenador do curso prof. Ms. Carlo Monti, pela propriedade de realizar o curso que me permitiu aprofundar conhecimentos em diversas áreas do saber.
  • 3. 3 Dedicatória Dedico esta monografia à memória de Max Bartsch
  • 4. 4 Sumário Introdução 6 Capítulo 1 – Modernismo - ação e reação 13 1.1. Os programas musicais revelam os gostos da elite 17 1.2. Os imigrantes e o gosto pela música 19 1.3. As várias orquestras sinfônicas 24 Capítulo 2 – Um alemão conquista Ribeirão Preto 26 2.1. Reflexões sobre a popularidade de Bartsch 29 2.2. Longe da política partidária 32 2.3. O gosto pela música 35 2.4. PRA-7 e sua importância na criação da Orquestra Sinfônica 38 Considerações finais 44 Referências bibliográficas 47 Fontes 48
  • 5. 5 Ilustrações Ilustração 1. 18 Acervo da Orquestra Sinfônica de Ribeiro Preto Ilustração 2. 30 Acervo da Orquestra Sinfônica de Ribeiro Preto Ilustração 3. 36 Arquivo pessoal de Rita Bueno Lodi, filha de José da Silva Bueno, líder do Radio Club de Ribeirão Preto Ilustração 4. 36 Arquivo pessoal de Rita Bueno Lodi, filha de José da Silva Bueno, líder do Radio Club de Ribeirão Preto Ilustração 5. 37 Acervo do MIS Ilustração 6. 38 Arquivo pessoal de Rita Bueno Lodi, filha de José da Silva Bueno, líder do Radio Club de Ribeirão Preto Ilustração 7. 42 Acervo da Orquestra Sinfônica de Ribeiro Preto
  • 6. 6 Introdução Este trabalho discute o contexto da criação da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto (OSRP) no ano de 1938, e de sua entidade mantenedora, a Sociedade Lítero-Musical, hoje Associação Musical de Ribeirão Preto, através da análise de aspectos da sociedade ribeirãopretana na época, quais seus valores culturais e as principais características que permitiram sua criação por meio da iniciativa do empreendedor alemão Max Bartsch, que tinha uma atuação destacada nos meios sociais, empresariais e culturais da cidade. Dentro desta proposta, Bartsch é apresentado como a figura central no sucesso da iniciativa depois de três outras tentativas infrutíferas de se criar uma Orquestra. Em Ribeirão Preto encontram-se as condições favoráveis à iniciativa do alemão, como a disseminação pelo gosto da música por meio de bandas, uma característica típica da influência que os imigrantes italianos tiveram na formação cultural local. Essas particularidades locais são associadas às próprias características do empreendedor, como seu carisma e sua capacidade de mobilizar pessoas de prestígio em torno de um projeto comum. Mas é preciso analisar também a criação da Orquestra Sinfônica inserida no contexto da Ribeirão Preto nos anos de 1930, período que compreende o fim do auge do café, pós-crise de 1929. Neste período, a cidade está em consonância com as mudanças que ocorriam no país na primeira metade do século passado, quando os ventos da reforma da estrutura da sociedade, que deixava de ser predominantemente rural e deslocava sua força política e
  • 7. 7 econômica para a urbe, arejavam a pequena cidade do interior paulista, que era o centro mundial da produção cafeeira. O Brasil passava por um período de modernização urbana que compreendeu o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX. Essa modernização foi inspirada por fortes influências européias e esse processo teve reflexo direto na arquitetura e em diversas áreas artístico-culturais, como a produção literária, as artes plásticas e a música. 1 A modernização provocou reação de parte dos intelectuais e artistas brasileiros que defenderam um novo modelo para referência cultural, baseado na valorização de signos estritamente brasileiros. Esse movimento culminou com a Semana de Arte Moderna de 22. Na contramão desse movimento, grande parte das elites valorizou a música erudita e as orquestras sinfônicas serviam para esse fim. Para analisar o referido contexto da criação da Orquestra Sinfônica e o papel de Max Bartsch no seu processo de fundação, foram analisados documentos nos arquivos da própria Orquestra e no Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto. Locais em que foram encontradas poucas referências alusivas à criação da Orquestra. Com poucas fontes documentais, buscou-se estabelecer um diálogo entre estas e a bibliografia regional, analisando, em particular, a obra mais importante que retrata a OSRP: “50 Anos de Orquestra Sinfônica em Ribeirão Preto, 1938 – 1988”, de Myrian de Souza Strambi, de 1989. A essa obra foram confrontados os documentos textuais e iconográficos, além de entrevistas, que permitiram maior compreensão de como a sociedade se comportava na época, 1 ROCHA, A. Os Quartetos de Cordas de Alberto Nepomuceno. p11
  • 8. 8 quais os seus valores e de como, nesse cenário, Bartsch conseguiu obter sucesso em sua tentativa de criar e manter a Orquestra. Dentre as fontes utilizadas, encontram-se os jornais da época, “A Cidade” e “O Diário”, que ajudaram a compreender a reação da sociedade ao surgimento da Orquestra. Entrevistas com descendentes de Max Bartsch, com o ex-presidente da Orquestra, Luiz Gaetani, e com parentes dos primeiros músicos da Orquestra, foram feitas por e-mail e gravadas. É importante ressaltar, contudo, que não foi interesse desenvolver um trabalho de história oral. Longe disso, esses registros orais e referências pessoais buscaram preencher lacunas no contexto da criação da Orquestra, e foram usados como fonte complementar no processo de reconstituição da história da Orquestra e de compreensão da figura de Bartsch. A análise iconográfica serviu para reforçar o caráter carismático e de liderança que o alemão exercia na sociedade. Fotografias da época mostram o perfil do alemão e como a sociedade o respeitava e admirava. Ao analisá-las, observa-se o seu carisma na sociedade local. As imagens mostram o alemão invariavelmente cercado de um grande número de pessoas onde ele, na maioria das vezes, aparece sempre no centro das fotografias. Uma dessas imagens mostra grande quantidade de cartazes de associações e entidades de Ribeirão Preto em homenagem ao aniversário do alemão. Todas elas fazem alusão à importância de suas ações. Essas imagens sugerem, portanto, o elevado nível do carisma do alemão e que o ajudou a construir as condições favoráveis para a criação da Orquestra. Não foram encontrados atas e registros de contratação de músicos no arquivo da Associação Musical de Ribeirão Preto, entidade mantenedora da
  • 9. 9 Orquestra Sinfônica. O problema se repetiu no Arquivo Público, o que exigiu que outras fontes fossem pesquisadas. Nas referências bibliográficas, por sua vez, é possível compreender o processo de formação cultural da cidade que criou ambiente favorável ao surgimento da música sinfônica. Tuon aborda as bandas existentes em Ribeirão Preto e de como elas surgiram em decorrência da chegada dos imigrantes, principalmente dos italianos que vieram em maior número se estabelecer na cidade.2 Estabeleceram-se em decorrência do trabalho na lavoura do café, mas fizeram da vida urbana da cidade um centro de prestação de serviços, de comércio e de uma indústria que se tornava forte. Gumiero discute como o capital estrangeiro e os imigrantes que se estabeleceram na cidade, contribuíram para que Ribeirão Preto desenvolvesse uma atividade econômica urbana, independente das colheitas que, em 1929, entraram em um processo de crise iniciado com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York. Ela afirma que o surgimento de estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços permitiu a formação de uma economia que amortecesse os efeitos dessa crise internacional.3 A mudança do eixo social do meio rural para o urbano alterou também o perfil político. Walker e Barbosa apontam o fortalecimento da sociedade urbana como um dos responsáveis pela derrubada do poder dos antigos coronéis do café e que fez surgir uma vigorosa classe política urbana.4 2 TUON, L. I. O Cotidiano Cultural de Ribeirão Preto. p95 3 GUMIERO, E. A. Ribeirão Preto e o Desenvolvimento do seu Comércio: 1890-1937. p14 4 WALKER, T. & BARBOSA, A. S. Dos Coronéis à Metrópole. p85
  • 10. 10 O apogeu do café trouxe para a cidade o empreendedor francês François Cassoulet que criou cassinos e dinamizou o entretenimento noturno da cidade com apresentações de coristas, de bandas de música e até mesmo de prostituição. Silva explica a influência que o capital do café teve na vida cultural local e de como a cidade se adaptou à crise com o suporte da nova elite urbana.5 Nos âmbitos social e cultural, o que acontecia em Ribeirão Preto não era fato isolado. A cidade estava em sintonia com o que se passava nos principais centros urbanos do país, revelando-se como um caso típico. O processo de urbanização, a transferência do poder político local dos coronéis para a nova elite que se firmava nas cidades, era um fenômeno comum no Brasil do final do século XIX e início do século XX. Rocha mostra como a valorização da música erudita de Orquestra coincidiu com esse momento de profunda transformação.6 Em Ribeirão Preto, o movimento de valorização da arte e cultura nacionais como contrapartida à influência de modernização europeizante, que proporcionou importantes momentos de reflexão, como a Semana de Arte Moderna de 22, não teve repercussões imediatas.7 Mas o refluxo a esse movimento nacionalista, por meio da valorização da cultura erudita com criação de Orquestras e a realização de concertos sinfônicos, encontrou uma aceitação mais vigorosa com a nova elite disposta a cultuá-la. 5 SILVA, B.L. da. O Rei da Noite na Eldorado Paulista. p142 6 ROCHA, A. Op. cit. p8 7 O Modernismo só chegou com maior intensidade em Ribeirão Preto nos anos 40 e 50 do século passado. Na dissertação de mestrado em História pela Unesp/Franca (1997), Memória Arquitetônica de Ribeirão Preto, Valéria Valadão analisa a influência do Modernismo na arquitetura urbana de Ribeirão Preto, e chega a essa conclusão. Nas artes plásticas, o modernista Francisco Amêndola foi uma das maiores expressões desse movimento em Ribeirão Preto. Em artigo de Ignácio de Loyola Brandão, O riso mordaz de Amêndola, publicado no catálogo "Francisco Amêndola - Exposição retrospectiva, de 26 de agosto a 11 de setembro" (1987) faz uma reflexão sobre o modernismo e suas influências junto aos artistas e arquitetos locais com alguns anos de defasagem em relação à Semana de 22.
  • 11. 11 Machado Neto ilustra como essa espécie de “contracultura” chegou a Ribeirão Preto aproveitando-se de um caminho já aberto.8 Na contramão do escoamento do café, por meio da linha de trem que liga Santos à cidade passando por Campinas. Com as condições extremamente favoráveis, o imigrante alemão Max Bartsch decidiu ele próprio criar a Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto, fato discutido por Strambi, que analisou a origem da Orquestra e as iniciativas de Bartsch para liderar um grupo de pessoas e mantê-la em funcionamento.9 Apesar do levantamento histórico realizado, Strambi não contextualiza a criação da Orquestra Sinfônica na Ribeirão Preto da época. Contudo, mesmo que não seja o foco da obra e aborde a questão de forma superficial Strambi faz referência ao carisma que Bartsch possuía e que conseguia, por intermédio dele, reunir em torno de si e de seus projetos, pessoas importantes, decisivas para concretizar suas iniciativas. Em todo caso, trata-se de uma importante obra porque é a primeira que mergulha no universo da Orquestra Sinfônica, discutindo sua história baseada nos poucos documentos encontrados. É, por isso, um estudo mais completo que os realizados por Cione, por exemplo.10 Memorialista, Cione narra a história da cidade e seus principais personagens sem a exigência acadêmica, com uma característica quase que enciclopédica, e cita a criação da Orquestra Sinfônica com base em dados não documentais. 8 MACHADO NETO, D. A Semana de 22 Por meio de Uma Viagem pelo Interior de São Paulo, p1 9 STRAMBI, M. de S. 50 Anos da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto. p118 10 CIONE, R. História de Ribeirão Preto. p131
  • 12. 12 A análise da obra de Strambi, no que se refere à criação da Orquestra Sinfônica, torna-se mais consistente porque é possível confrontá-la com momentos importantes da cidade, nos anos de 1930. Um desses momentos foi a consolidação da rádio PRA-7. Para a emissora convergia um grande número de músicos em busca de uma oportunidade de trabalho. Rezende e Santiago elucidam como foi intenso o movimento artístico em torno da emissora em que o próprio Max Bartsch chegou a presidente e onde tinha um espaço fixo para apresentação de seu quinteto musical.11 Esse trabalho vai discutir a importância da rádio PRA-7 na criação da Orquestra Sinfônica como resultado de um processo de formação cultural que teve início com a chegada dos imigrantes, como veremos nos capítulos que se seguem. O primeiro capítulo, “Modernismo: Ação e Reação” analisa a influência do padrão francês de cultura na vida brasileira, pelo viés da música, e o rompimento dessa dependência através do movimento modernista e da repercussão desse movimento em Ribeirão Preto. O gosto pela música erudita se consolidou com a chegada dos imigrantes. E a cidade tem uma formação cultural favorável à criação de bandas culminando com várias tentativas de criação de uma Orquestra Sinfônica. No capítulo seguinte, “Um alemão conquista Ribeirão Preto”, o trabalho discute como um desses imigrantes, o alemão Max Barstch, conseguiu enfim criar a Orquestra Sinfônica com bases sólidas que permitiram sua existência até os dias atuais. Para isso utilizou de sua influência e de mecanismos como a difusão da Orquestra através de apresentações transmitidas ao vivo pela rádio PRA-7, da qual chegou a ser presidente. 11 REZENDE, A. L. & SANTIAGO, G. A Primeira Rádio do Interior do Brasil. p102
  • 13. 13 Capítulo 1 Modernismo: ação e reação
  • 14. 14 O Rio de Janeiro foi a principal porta de entrada para tudo o que vinha de fora, principalmente do continente europeu, de produtos a estilo de vida. O gosto pelo refinamento nos comportamentos sociais ganhou mais ênfase quando a Corte portuguesa mudou-se para o Brasil e instalou-se no Rio. A importação tornou-se naturalmente mais intensa, afinal era preciso atender às necessidades da Corte e a colônia produzia apenas produtos agrícolas e uma cultura rude, desprezada pela elite. Essas necessidades passavam evidentemente pelas artes. A música que se ouvia na Corte tinha uma característica típica do período que foi a criação de grupos musicais, como as chamadas “formações menores”, para execução de peças eruditas. Essas formações reuniam os músicos disponíveis e que não existiam em abundância, por isso eram pequenos grupos, tais como quartetos, quintetos, orquestras de câmaras.12 Nos salões da sede da Monarquia, os saraus musicais eram freqüentes. Pessoas se reuniam em torno de pães, doces, chás, guloseimas, para ouvir apresentações musicais de pequena formação. Entre os mais famosos salões destacavam-se os de Rui Barbosa, Francisco Pereira Passos e Violeta Lima e Castro.13 A capital do império sedimentou essa tendência que logo em seguida se espalharia pelas principais cidades brasileiras da época, como São Paulo, Recife e Santos. A preferência por esse tipo de formação musical se deu em grande parte pela inexistência de uma cultura de orquestras sinfônicas ou filarmônicas. 14 A 12 ROCHA, A. Op. cit. p11 13 TUON, L. I. Op. cit. p91 14 Orquestra Sinfônica e Filarmônica não se diferenciam em sua estrutura musical. São compostas basicamente por quatro tipos de instrumentos: as cordas (violinos, violas, violoncelos, contrabaixos, harpas, piano), as madeiras (flautas, flautins, oboés, corne-inglês, clarinetes, clarinete baixo, fagotes, contrafagotes), os metais (trompetes, trombones, trompas, tubas), a percussão (tímpanos, triângulo, caixas, bumbo, pratos, carrilhão sinfônico, etc). A diferença reside no fato da Orquestra Sinfônica ser mantida por uma instituição pública e a Filarmônica, por instituição privada.
  • 15. 15 europeização foi um processo da importação dos valores culturais e do estilo de vida francês vigentes. Era a Belle Époque, quando a arquitetura e as artes tinham destaque. Personagens influentes que transitavam pela elite carioca em meados do século XIX perceberam que havia uma carência de músicos afinados com essa perspectiva. Um desses personagens foi Francisco Manuel da Silva, considerado peça chave do movimento musical do império porque além de fundador da Sociedade Beneficência Musical, em 1833, esteve também à frente da Orquestra da Sociedade Filarmônica, a partir de 1834. Pesquisadores apontam sua atuação como decisiva para a fundação do Conservatório de Música do Rio de Janeiro, em 1847, que marcou o início do ensino oficial de música no país. Ficou, então, evidente que o ensino musical desfrutava de um novo status dentre as instituições de ensino no Brasil.15 Essa trajetória estava inserida numa referência que seria adotada pela Corte e pela elite brasileira com base nos valores e ideais franceses, o que provocou uma forte reação nacionalista nos anos de 1920. O Modernismo propôs romper com essa estrutura, abandonar o modelo europeu para criar referências tipicamente nacionais, até mesmo como processo de auto-afirmação de uma cultura essencialmente brasileira. O movimento buscava traduzir nas artes os novos tempos, ‘modernos’, que chegavam a outros setores da sociedade, decorrentes do processo de urbanização e da influência européia. A nova elite brasileira passou a lidar com questões inéditas em decorrência do novo social como revolução tecnológica, direitos trabalhistas, anarquismo, imigração, comunismo etc. Era a ruptura com 15 ROCHA, A. Op.cit, p9
  • 16. 16 antigas instituições. O fenômeno reestruturante, no entanto, era comum na Europa desde a Revolução Francesa.16 Na contramão do Modernismo as elites urbanas que detinham o monopólio sobre a música de ‘arte’ em várias cidades, inclusive do interior do Estado, como Santos, Campinas, Ribeirão Preto, não quiseram abrir mão do seu status recém adquirido. Era considera música de ‘arte’ a música erudita tocada nos salões da corte. Em Campinas e Ribeirão Preto o movimento modernista foi simplesmente ignorado sem nenhuma referência à Semana de Arte de 22 nos jornais dessas cidades. 16 MACHADO NETO, D. Op.cit, p2.
  • 17. 17 1.1 Os programas musicais revelam os gostos da elite Machado Neto chega a afirmar que as orquestras criadas em cidades do interior do Estado de São Paulo, inclusive Ribeiro Preto, todas nos anos 30, deliberadamente esquivavam-se de executar peças de autores modernistas, segundo ele simplesmente para atender a uma elite que fazia pouco caso do movimento.17 De fato, não foram encontradas referências nos jornais de Ribeirão Preto ou em outros documentos, a respeito do movimento artístico que se desenrolava na capital do Estado e que culminou com a Semana de Arte Moderna de 1922. Menções como notícias sobre os eventos alusivos ao movimento, entrevistas com artistas, manifestações de artistas sobre o grande movimento nacionalista nas artes. Ribeirão Preto, em relação à Semana de 22, passou ao largo do movimento, mas não é possível concluir que essa atitude tenha sido um descaso deliberado das elites locais ao Modernismo. Até porque, os programas dos primeiros concertos da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto fogem à teoria apresentada por Machado Neto. As elites locais aplaudiram a execução de peças de Carlos Gomes, que já revelara em suas composições uma postura de características modernistas por introduzir elementos brasileiros na obra erudita. A Orquestra, desde o início, homenageou o compositor por meio de saudações à sua irmã, dona Joaquina Gomes, a Nhá Quina, que morava na cidade há décadas e dava aulas de piano.18 17 Idem, p2 18 CIONE, R. Op. cit. p424
  • 18. 18 Ilustração 1 – Capa do programa do concerto inaugural da Orquestra criada por Max Bartsch Não se pode concluir, no entanto, que o fato do compositor brasileiro estar representado na programação musical da Orquestra Sinfônica seja indício de que havia por parte de seus diretores, maestro ou músicos, adesão ou mesmo uma simples afinidade com o movimento modernista. Ao que se percebe, a homenagem se deu pelo fato de Carlos Gomes já ser um compositor brasileiro consagrado mundialmente sem, no entanto, análise do mérito de sua obra ser ou não modernista. A simples menção, por si só, bastava para satisfazer a necessidade de “glamour”, de auto-afirmação da elite ribeirãopretana.
  • 19. 19 1.2 Os imigrantes e o gosto pela música Ribeirão Preto sentia os efeitos do canal aberto que ligava a cidade ao mundo por meio da exportação do café. Na medida em que o produto escoava, trazia como retorno o capital financeiro e humano de diversos países, principalmente da Europa. Essa irrigação estrangeira de dinheiro e pessoas moldou um perfil da cidade que a tornou suficientemente forte para superar sem muitos traumas a crise do café. O comércio já era vigoroso e atendia à região um grande número de prestadores de serviços e profissionais liberais que transitava com desenvoltura pela cidade. O imigrante europeu teve papel fundamental nesse processo porque interagiu decisivamente para a expansão e diversificação comercial em Ribeirão Preto, com efeitos diretos sobre o processo de urbanização.19 Os italianos trouxeram na bagagem da imigração o gosto pela música e difundiram na cidade o hábito de cultuar essa vertente artística. Como chegavam em pequenos núcleos familiares, os italianos acabavam por formar entre si pequenas bandas de música. Nos idos de 1880, têm-se os primeiros registros dessas bandas e em 1910, havia em Ribeirão Preto pelo menos quatro bandas consolidadas formadas na colônia italiana, a mais numerosa. São as bandas “Bersaglieri”, a “Banda Progressista”, a “Giácomo Puccini” e a “Ítalo-Brasileira”. Essas bandas passaram a interferir no gosto musical da população porque se apresentavam diariamente sempre no final do dia e início da noite em praças públicas. O jornal da época, “A Cidade”, chegava a publicar 19 GUMIERO, E. A. Op. cit, p13.
  • 20. 20 a programação musical que sempre era voltada para o gosto popular .20 Ofícios emitidos pela prefeitura nos anos 30, concernentes à contratação de bandas musicais para apresentações públicas, indicam que a comunidade local era fortemente influenciada pelos imigrantes europeus, pois já tinha no gosto e nos hábitos culturais o culto da música.21 É de se destacar, no entanto, que durante anos essas bandas difundiram obras de compositores eruditos, como Beethoven, Rossini, Verdi, Puccini, Mascagni, Lehar e Carlos Gomes, e algumas das músicas desses compositores caíram no gosto do povo, tornado-as mais populares, o que ajudou a ‘moldar’ o hábito do ribeirãopretano de apreciar a música clássica. O Hino do Brasil era também comumente executado e, tão era forte a influência francesa na época que até o Hino da França, a Marselhesa, se ouvia nos coretos da cidade no final do século XIX e início do Século XX.22 A assimilação do gosto popular pelas bandas foi institucionalizada a tal ponto que a Prefeitura de Ribeirão Preto abria inscrição para que bandas fossem contratadas para apresentações públicas em coretos na Praça XV de Novembro, Praça Sete de Setembro, nos jardins da Vila Tibério e, mais tarde, no Bosque Municipal. As bandas, ao se inscreverem, apresentavam seus orçamentos com custos de maestro e músicos e a Câmara de Vereadores aprovava a contratação das bandas escolhidas.23 Um dos critérios para a escolha da banda era o número de músicos. Nos contratos assinados com a Prefeitura, como o de 1933, entre Ignácio Stábile, gerente e maestro da Banda Municipal e o prefeito André Veríssimo Rebouças, a cláusula 8 é específica ao 20 TUON, L. I. Op. cit, p93 21 Os ofícios encontram-se no Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto 22 Idem Op. cit, p94 23 Ibidem Op. cit. p95
  • 21. 21 afirmar que o maestro Stábile se comprometia a manter sua banda com um número nunca inferior a 20 músicos, o que abria grandes perspectivas de mercado de trabalho para esses artistas.24 Há que se ressaltar que a programação musical das bandas era previamente aprovada diretamente pelos prefeitos, pelo menos nas primeiras quatro décadas do século passado. Tal fato conferiu grande importância aos eventos culturais de apresentações públicas das bandas. A preocupação com a qualidade dos programas fazia os maestros da época incluir nos roteiros musicais peças eruditas de apelo popular. Um dos programas, aprovado pelo prefeito André Veríssimo Rebouças, em 1933, e elaborado pelo maestro Stábile era composto pelo “O Barbeiro de Sevilha”, de Rossini, “Salvator Rosa”, de Carlos Gomes, e “Fidelio”, de Beethoven, ou seja, três compositores eruditos com peças que se tornaram populares. Os relatórios dos prefeitos que sempre aprovavam os programas apresentados eram simples, de uma página com dois ou três parágrafos escritos em que ratifica a proposta apresentada. Em nenhum deles, no entanto, foram encontradas referências à política de difusão cultural da música erudita ou qualquer referência a respeito. O que se escondia, talvez involuntariamente, por trás da garantia do bom lazer era a formação do gosto musical do público ribeirãopretano que passava a apreciar a chamada “boa música”. 25 Strambi26 faz referência à “musicalidade” do povo de Ribeirão Preto e cita que nas décadas de 20 e 30 do século passado viviam na cidade inúmeros maestros, como Luiz Delfino Machado, Carlos Vollani Nardelli, Antonio 24 Relatório da Prefeitura de 1933. Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto. 25 Relatório da Prefeitura de 1937. (Fundo?) Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto. 26 STRAMBI, M. de S. Op. cit. p15
  • 22. 22 Giammarusti, Pedro Giammarusti, Ignácio Stábile, Alfredo Pires, Cônego Dr. Francisco de Assis Barros e Edmundo Russomano, entre outros que trabalhavam com músicos em diversos locais como confeitarias, cassinos, cinemas e saraus. Há de se perceber que a maioria dos maestros carrega nomes estrangeiros, basicamente de italianos. A tradição da cidade em qualidade musical tornou-se um fato. Ela cita, por exemplo, que a Banda do 3º B.C. – Batalhão de Caçadores de Ribeirão Preto - era considerada a melhor banda do estado de São Paulo, em 1938, ano da terceira tentativa de criação de uma Orquestra Sinfônica na cidade. 27 Outro aspecto a se constatar é que a difusão das pequenas bandas pela cidade evidencia em suas entrelinhas que o foco das elites, portanto das atividades sócio-econômico-político-culturais, já se consolidara no meio urbano, deslocando-se definitivamente do meio rural. Período em que o “coronelismo” perdia forças e o centro do poder passava a ser disputado por outra classe de políticos, composta pelos profissionais liberais, empresários e comerciantes.28 A vida na cidade tornava-se cada vez mais dinâmica e isso exigia formas de lazer e entretenimento condizentes com a nova realidade. A música, naturalmente, ocupou lugar de destaque na preferência dos habitantes locais. Os músicos conseguiam empregos nos cassinos popularizados na cidade pelo empreendedor francês François Cassoulet. Os cassinos que ele dirigiu eram famosos por apresentar um vasto leque de opções de entretenimento, como de serviços de buffet, exibição de filmes, 27 Idem, Op. cit,. p57 28 WALKER, T. & BARBOSA, A. S. Op. cit, p87
  • 23. 23 reuniões cívicas, espetáculos artísticos, jogos e, naturalmente, show de coristas e até mesmo a prática da prostituição.29 Essa forma de lazer transfigurou-se na década de 30 devido a uma combinação de fatores. Por um lado há um recesso econômico decorrente da crise financeira que tem reflexo no lazer, nas noites de diversão, devido à crise do café. A cidade que, com 90 mil habitantes nos anos 30, registrava 200 casas de meretrício, via essa atividade diminuir. A chegada do automóvel, o crescimento da cidade e a diversificação dos locais de entretenimento noturno, aliado à inserção cada vez maior da figura feminina no seio das atividades sociais e culturais, trouxeram novas formas de lazer e os espaços para exibição de música erudita através de pequenas formações musicais ganharam destaque.30 29 SILVA, B. L. da. Op. cit, p142 30 Idem, p143
  • 24. 24 1.3 As várias orquestras sinfônicas. A existência de músicos e maestros em grande número na cidade culminou com três tentativas conhecidas de criação de uma Orquestra Sinfônica. A primeira foi através da Sociedade de Concertos Sinfônicos de Ribeirão Preto, criada entre 1922 e 1923, que teve como presidente o professor Dario Guedes e como regente Luiz Delfino Machado. A Orquestra tinha 31 músicos, conforme esclarece Strambi, incluído o próprio presidente e músicos como Max Bartsch, Francisco de Biase, José Gumerato, Augusto Gumerato, entre outros que 15 anos mais tarde formariam a Orquestra Sinfônica da Sociedade Lítero-Musical de Ribeirão Preto, única que conseguiu permanecer em atividade até os dias atuais. 31 No entanto, as dificuldades para se manter em funcionamento uma Orquestra Sinfônica, apenas através de mecenato de empresas e pessoas com doações voluntárias, inviabilizou a tentativa do professor Dario Guedes. No entanto, Strambi não entra no mérito das tentativas de manter uma orquestra que obtiveram sucesso, mas faz um interessante levantamento das iniciativas que existiram na cidade. A Orquestra da Sociedade de Concertos Sinfônicos, de acordo com a autora, não resistiu a mais do que cinco ou seis concertos ao longo de poucos anos. Strambi aponta ainda que no início da década de 30, surgiu a Orchestra Simphonica de Ribeirão Preto, com 41 músicos, organizada e regida pelo maestro Ignácio Stábile que levou para a iniciativa o conhecimento adquirido ao longo dos anos em que dirigiu a Banda Municipal e teve contratos assinados 31 STRAMBI, M. de S. Op. cit, p15.
  • 25. 25 com a Prefeitura para apresentações públicas. Foi essa Orquestra que participou da inauguração do Theatro Pedro II, em 8 de outubro de 1930. Detalhe importante é que no programa de inauguração do Theatro, estava a obra “O Guarani”, de Carlos Gomes. Essa Orquestra conseguiu sobreviver por sete anos. Sem enumerar as causas do fracasso, Strambi alega que elas existiram, foram muitas e que nem a dedicação quase que integral de personalidades da época, como o maestro Stábile e Dário Guedes, que também investiu dinheiro na manutenção, foi suficiente para garantir a permanência da Orquestra. 32 32 Ibidem, Op. cit, p19.
  • 26. 26 Capítulo 2 Um Alemão em Ribeirão Preto Entre os milhares de imigrantes europeus que contribuíram para a difusão cultural em Ribeirão Preto, um alemão se destacou em diversos aspectos. Max
  • 27. 27 Bartsch foi trazido, em 1913, aos 25 anos de idade, pelo Coronel Francisco Schmidt, para fazer o paisagismo da Fazenda Monte Alegre, uma das principais propriedades do fazendeiro. Era, na verdade, uma excelente oportunidade para se fugir de uma situação política complicada, uma vez que a Alemanha estava à beira da primeira guerra mundial. Os movimentos bélicos se avolumavam na Europa e em 1913, o continente foi palco de conflitos como a 2ª Guerra Balcânica, em que a Bulgária, aliada e instigada politicamente pela Áustria-Hungria, atacou a Grécia e a Sérvia. A Romênia, Montenegro e Turquia uniram-se aos dois países agredidos para derrotar a Bulgária.33 As referências biográficas existentes sobre o Max Bartsch, no entanto, apontam para a mesma versão sobre sua chegada ao país e nenhuma delas faz a menor alusão sobre a oportunidade do imigrante de trocar de país por questões políticas ou mesmo por melhores oportunidades de vida. O fato é que os primeiros anos de Bartsch no Brasil causaram impacto positivo, enquanto seu país natal estava no foco da 1ª Guerra Mundial. Em 1914, Bartsch foi contratado como jardineiro pela Prefeitura da cidade. Atividade que não lhe causou muitos transtornos uma vez que era agrônomo de formação. Um loiro, com enxada na mão, ensinava aos colegas a plantar e adubar o jardim da Praça XV, onde se apresentava a banda “Filhos de Euterpe”. Desta forma, chamava a atenção do povo que via nas praças aquele jardineiro culto, musicista e agrônomo de formação.34 Strambi cita o jornal “O Diário”, de 19.07.1970, em que um artigo de Prisco da Cruz Prates diz que Bartsch era visto todas as tardes caminhando em frente à portaria da Antarctica, no trajeto entre a Prefeitura e o campo do 33 RIZZI, K. & BALARDIN, R. O fim do (des) equilíbrio europeu (1871-1914). p1. 34 CIONE, R. Op. cit. p428
  • 28. 28 Botafogo, na Vila Tibério, onde estava trabalhava no nivelamento do terreno. Em uma dessas tardes, ele teria sido parado pelo então gerente da indústria de bebidas que, percebendo sua “inteligência e sagacidade”, admirou-se ao saber que era um simples jardineiro e o convidou a trabalhar na empresa.35 Na Cia. Antarctica, enquanto fazia carreira, consolidava o ciclo de amizades influentes que aos poucos ia enredando. Como gerente, ocupou o cargo por 12 anos, de 1930 a 1942. Ao mesmo tempo ocupou cargos de destaque na rádio PRA-7, onde foi presidente no biênio 1934-35, sendo reeleito consecutivamente para os biênios 1936-37, 1938-39, 1940-41. Passados 25 anos desde sua imigração, a sociedade civil organizada preparou festividades para comemorar seu aniversário e que duraram quatro dias, de seis a nove de abril de 1939. 35 Ibidem, Op. cit, p117
  • 29. 29 2.1 Reflexões sobre a popularidade de Bartsch Como ilustra fotografia da época, uma festa organizada para a noite do dia nove de abril de 1939, no Teatro Carlos Gomes, era a coroação de uma série de festejos. Na ocasião, nada menos do que 21 entidades manifestaram suas homenagens ao alemão. Pela disposição dos cartazes, na fotografia da Ilustração nº 2, percebe-se que a organização da festa teve a preocupação de padronizar todos eles. Pode-se notar que os cartazes apresentam mesmo tamanho, formato e até o mesmo tipo de letras. Muitas das homenagens vieram de entidades as quais era o presidente, como Sociedade Amiga dos Pobres, Sociedade Musical de Ribeirão Preto, Rádio Clube de Ribeirão Preto – PRA-7, Clube das Melancias. Homenagens similares vieram de entidades de naturezas tão díspares, mas onde atuava como presidente-honorário, a exemplo do Botafogo Futebol Clube, diretor do C. R. Rio Pardo e Asilo Padre Euclides, sócio da Sociedade. União dos Viajantes, Creche Santo Antonio. No período, havia um anseio dos trabalhadores pela legalização de normas trabalhistas ou mesmo pelo cumprimento das que estavam em vigor, o que a princípio colocava em lados opostos, patrões e empregados através de suas respectivas entidades de classes. Max Bartsch, no entanto, conseguiu reunir em torno de si, homenagens de ambos os lados, como mostram os cartazes da Associação Commercial, da Associação dos Empregados no Commércio, Syndicatos Operários de Ribeirão Preto e da S. Auxiliadora dos Chauffers. A bem da verdade, a ditadura imposta por Getúlio Vargas, dois anos antes pode ter gerado intervenção federal nas entidades de classes, para que as reivindicações e os confrontos ideológicos fossem mantidos de forma
  • 30. 30 alinhada com o Governo Federal, como é comum, em regimes ditatoriais, entidades de patrões e empregados falarem a mesma linguagem. Homenagens similares vieram ainda do Ypiranga Futebol Clube, Palestra Itália F. C., A. Portugueza de Esportes, sem contar as que recebeu como “amigo” da Sociedade Recreativa, o 3º B. C. P., C. A. Sudan, , S. C. Bambas. Setores da imprensa ribeirãopretana renderam-lhe homenagem como “jornalista honorário”. Mostrar área de trabalho.scf Ilustração 2 – Cartazes das entidades que homenagearam Bartsch em seu aniversário de 51 anos de idade, em 1939.
  • 31. 31 Strambi dá detalhes dessa festa.36 As primeiras homenagens, na quinta- feira que antecedeu a data, se deram com seu nome sendo citado na oficialidade do dia do 3º B.C.P e, à noite, a rádio PRA-7 ofereceu um jantar em sua homenagem. No sábado, os funcionários da Antárctica ofereceram uma recepção pela manhã, quando também foi homenageado pelos funcionários da fábrica de cigarros Sudan. Ao meio-dia, um churrasco que a diretoria da Antárctica ofereceu. À tarde, a disputa da Taça Max Bartsch entre os músicos da Sociedade Musical e os garçons do Sindicato. À noite, jogo de basquete entre as equipes da Antárctica de São Paulo e de Ribeirão Preto. No domingo a festa continuou. A Sociedade União dos Viajantes deu-lhe um distintivo de ouro, a Prefeitura concedeu o título de “Cidadão Benemérito”. Uma partida de futebol, entre o Botafogo e a Antárctica Futebol Clube, foi realizada especificamente para comemorar seu aniversário e à noite, no Teatro Carlos Gomes, a A. C. Bambas encerrou as homenagens. A mobilização de boa parte da cidade demonstrou que o alemão conseguiu arregimentar admiradores em vários setores e camadas sociais. 36 Ibidem, Op. cit, p116.
  • 32. 32 2.2 Longe da política, partidária Pelo relato das fontes percebe-se que Max Bartsch satisfazia-se em obter o reconhecimento público por suas ações sem almejar outras formas de poder, como o que advém da política. Ao longo da vida, o alemão não ocupou cargos públicos no Legislativo ou no Executivo, mas ocupou cargos executivos na iniciativa privada que lhe deram visibilidade social e teceu uma rede de influências, que envolveu personalidades públicas da época, do meio social, político, financeiro e religioso. Em 25 anos, construiu uma trajetória de ascensão social que foi de jardineiro da Prefeitura a presidente da PRA-7, período em que demonstrou talento para erguer uma base de influência que serviu de respaldo às suas inúmeras ações. Criou e ajudou a administrar diversas entidades filantrópicas, artísticas, educacionais e sindicais.37 Não foram encontrados indícios de ligação político-partidária de Max Bartsch em nenhuma das fontes pesquisadas. Por outro lado, sua popularidade e livre trânsito em setores distintos da sociedade, como entidades de classes de trabalhadores e patronais, demonstra que Bartsch de fato preferia ficar de fora das questões partidárias, o que não significa que ele pudesse manter suas preferências políticas de forma discreta, não explícita publicamente. O período era turbulento. Final dos anos 30 do século passado é o fortalecimento do Estado Novo no Brasil, com a ditadura de Getúlio Vargas e no mundo, o início da Segunda Guerra Mundial. O nazi-fascismo teve eco no Brasil com o movimento integralista e, alinhado a outras forças políticas, se opôs ao comunismo. Em Ribeirão Preto, a PRA-7 liderou movimento de órgãos 37 Ibidem, Op. cit, p118.
  • 33. 33 de imprensa em apoio às políticas de combate ao comunismo e a emissora abriu espaço para discursos para representantes importantes do integralismo ribeirãopretano, como Bandeira Larine, que no dia 20 de novembro de 1937, falou no microfone da PRA-7 para “exaltar a repressão federal ao comunismo”. No dia seguinte, foi a vez de Antônio Baracchini Júnior ir a PRA-7 falar sobre o mesmo assunto.38 Esses discursos ocorreram apenas 10 dias após Getúlio Vargas instituir no Brasil a ditadura do Estado Novo. Apesar de não terem sido encontradas evidências de qualquer ligação do alemão com o movimento integralista, o fato de dois representantes do movimento em Ribeirão Preto comparecer à emissora onde Bartsch era presidente aponta para uma possível situação de simpatizante com o movimento, que manteve uma grande repercussão local e nacional com apoio inicial do próprio Getúlio Vargas. O movimento foi tão forte em Ribeirão Preto que a cidade foi a oitava no país a receber o título de “cidade integralista”, pelo chefe nacional do movimento, o gaúcho Plínio Salgado.39 Seria natural, portanto, que o movimento angariasse, pelo menos e mesmo que discretamente, a simpatia de um alemão imigrante. O único indício de uma ação provocada por questões políticas é apontado por Rezende & Santiago. Em 1941, quando o Brasil já se posicionava no cenário mundial contra o nazismo, e as perseguições aos alemães no país se intensificavam. Em janeiro daquele ano, Bartsch solicita exoneração do cargo de presidente da PRA-7 e alega que “sua decisão não é oriunda de seu desejo, mas imposto por medidas que o Governo Brasileiro tem tomado ultimamente 38 CONSOLO, E. Integralismo em Ribeirão Preto (1934-1938) p.23 39 Idem. Opus cit. p.8
  • 34. 34 no louvável intuito de garantir e defender os direitos e a integridade deste imenso país”. 40 Ele sai de cena lenta e paulatinamente. Não se trata de mera coincidência desligar-se definitivamente da emissora PRA-7 e, um ano depois, em 1942, deixar a Companhia Antarctica. A presidência da Orquestra Sinfônica, que ocupou desde sua criação, em 23 de maio de 1938, ele abandona em 22 de novembro de 1942 e torna-se conselheiro até março de 1945. Com fim da guerra, ocupa a vice-presidência da Orquestra até 1950, quando seu nome sai definitivamente do quadro de diretores da Sinfônica. 40 REZENDE & SANTIAGO, Op. cit, p. 63-64
  • 35. 35 2.3 O gosto pela música Amante da música, Max Bartsch, foi exímio tocador de violão, violino e cítara, seu instrumento predileto desde a juventude na cidade natal, Nuremberg, na Alemanha, onde nasceu em 9 de abril de 1888. Enquanto construía uma sólida carreira de executivo na Cia. Antárctica não abriu mão do hobby de tocar música. Em 1928, uniu-se ao dr. Camilo Mércio Xavier, Francisco de Biase, Artur Marsicano e Ranieri Maggiori e criou o Quinteto Max. O grupo reuniu-se com freqüência na casa de um amigo do alemão, José Cláudio Lousada, um dos mentores da criação da rádio PRAI, que mais tarde seria a PRA-7. Essa amizade garantiu, entre outras coisas, espaço ao Quinteto na grade de programação para exibição diária na emissora e em horário nobre.41 A popularidade associada ao carisma de Bartsch foi responsável pelo crescimento do Quinteto. Em pouco tempo, muitos músicos foram absorvidos pelo grupo, como Dario Guedes, fundador da primeira Orquestra Sinfônica, Carlos Nardelli, Meira Junior, Romano Barreto, Pedro e Antonio Giammarusti, Zezé Gumerato, entre outros.42 A seqüência de fotos ilustra o crescimento do grupo que, mesmo com mais de cinco integrantes, continuou “Quinteto Max”. Na segunda foto vemos dez músicos ligados ao Quinteto. 41 Idem, Op. cit, p101 42 Ibidem. Op. cit, p119.
  • 36. 36 Ilustração 3 – Formação original do Quinteto, com Max Bartsch em pé, ao centro da foto, segurando a cítara Ilustração 4 – Em pé, da esquerda para a direita, Bartsch é o terceiro. Nessa foto, aparece com um violino O Quinteto cresceu e deu origem a outras bandas. Umas delas, como verão adiante, é a PRA-7 Club Orquestra, considerada o núcleo que originou a
  • 37. 37 Orquestra Sinfônica. A outra banda é a PRA-7 Jazz, que se tornou Jazz Band Cassino Antarctica, ao se apresentar no maior cassino da cidade. A maioria dos integrantes do Quinteto estava também na Jazz Band. Ilustração 5 – Jazz Band Cassino Antarctica surgiu como desdobramento do Quinteto Max Os músicos que circulavam no meio artístico, eram em grande número, mas apesar disso foram praticamente os mesmos os que integraram o Quinteto e a Jazz Band e os que compuseram a base nas três tentativas de criação de Orquestra Sinfônica. A diferença substancial é que na terceira tentativa de se criar a Orquestra Sinfônica da cidade, a emissora de rádio PRA-7 já estava consolidada na sociedade e, mais do que isto, seu presidente era o mentor da nova iniciativa de criação da Orquestra. Max Bartsch possuía há 10 anos sua própria banda e que se apresentava na emissora. O fato de a rádio transmitir programas de concertos para formações pequenas e shows serviu de chamariz para outros músicos em busca de espaço para exibição.
  • 38. 38 2.4 PRA-7 e sua importância na criação da Orquestra Sinfônica De simples colaborador na criação da PRA-7, como fazia com inúmeras iniciativas, Bartsch chegou a diretor e presidente da emissora. Entusiasmado com a idéia da radiodifusão, tornou-se um de seus principais idealizadores e sempre garantiu a exibição de grupos de músicos locais ao vivo nos estúdios da rádio, o que abriu grandes oportunidades para os artistas e vieram se somar aos espaços existentes como cassinos, teatros e saraus. Esses mesmos músicos que “incharam” o Quinteto e originaram a Jazz Band integraram ainda a primeira orquestra da rádio, a PRA-7 Club Orquestra. Ilustração 6 – Max Bartsch sentado, ao meio de camisa branca e gravata escura, tem a seu lado os integrantes do Quinteto Max, o maestro Antonio Giammarusti e demais músicos Na foto, é possível observar que um músico segura a placa com o nome: “PRA-7 Club Orquestra”, onde Bartsch aparece cercado de músicos e com o maestro Giammarusti, todos funcionários da emissora. Dali para a criação da Orquestra Sinfônica foi um passo. Essa foi, na verdade a base da Orquestra
  • 39. 39 Sinfônica que o alemão criou, inclusive com o mesmo maestro do concerto inaugural da orquestra. A participação de Max Bartsch como músico na tentativa anterior de constituição de uma orquestra serviu naturalmente de aprendizado no que se refere às necessidades de manutenção de uma organização musical desse porte que lhes são inerentes. A imprensa da época soube captar esse momento. A criação da Sociedade Musical de Ribeirão Preto encontrou eco extremamente favorável nos jornais da época, como a notícia publicada no Diário da Manhã em 25 de maio de 1938. 43 O filho do imigrante, Adolpho Bartsch, lembra ainda hoje de algumas dessas reuniões que ocorriam quase que diariamente em sua casa após o expediente, quando ainda era menino e via os músicos que discutiam e tocavam instrumentos. Para ele, a música foi a grande paixão do seu pai. Era a terceira tentativa de se erguer na cidade uma estrutura que permitisse a existência de uma orquestra de maneira menos efêmera. A imprensa destacou o evento com uma manchete que reflete bem a questão: Mais um esforço artístico A Sociedade Cultura Artística de Ribeirão Preto teve vida ephemera. Entretanto não lhe faltou assistência desvelada de um grupo de seus dirigentes e a boa vontade de um grupo de pessoas inteligentes, capazes de sentir a sublimidade da música. O dr. Dario Guedes, frente aquella instituição, deu tudo que lhe podia dar. Tempo, dinheiro, intelligência. ... Todos esses esforços foram em vão. ... Quais as causas do fracasso? 43 “Temos acentuado por diversas vezes, a necessidade de contar a nossa cidade com uma entidade musical que reunindo todos os profissionaes locaes, possa attestar com firmeza o elevado grau artístico-musical de nossa terra, que, pela falta maior união, não tem lá fora a repercussão que era de se esperar, nesse terreno. Agora, por iniciativa dos srs. Max Bartsch e Francisco De Biasi acaba de ser fundada a Sociedade Musical de Ribeirão Preto em reunião effectuada, do dia 22 do corrente, na residência do Sr. Barstch”.
  • 40. 40 São múltiplas e não vale a pena esmiuçá-las, mesmo porque, esta é uma nota de registro à margem da fundação da Sociedade Musical de Ribeirão Preto, que se apresenta, pelo seu programa, e pelas pessoas que estão à sua frente, com credenciaes para constituir uma explendida realidade. A Sociedade Musical pretende: a) reunir todos os profissionaes, na sociedade que será syndical; b) o bem-estar dos músicos; 44 c) realizar pelo menos 6 concertos annuaes. De fato, Bartsch trabalhou no sentido de garantir a sobrevivência da Orquestra.45 Pragmático, costurou alianças em torno da idéia comprometendo personalidades que garantiriam o sucesso da iniciativa depois de duas fracassadas tentativas. Colocou na diretoria pessoas de inteira confiança, como dois dos primeiros integrantes do Quinteto Max: Francisco de Biase, como primeiro secretário, e Camilo Mércio Xavier, como primeiro tesoureiro. Na Assembléia Constitutiva, realizada em 23 de maio de 1938, conseguiu quorum para conceder a sra. Joaquina Gomes, irmã do compositor Carlos Gomes, e que morava em Ribeirão Preto, o título de sócia-honorária. A Prefeitura Municipal, principal subvencionadora das bandas que se apresentavam nas praças públicas não poderia deixar de ser envolvida no projeto. O prefeito Fábio Barreto foi eleito presidente de honra da Orquestra Sinfônica. Um vereador de destaque na época, Joaquim Camillo de Mattos, foi eleito orador oficial da Orquestra. O programa de estréia da Orquestra Sinfônica fez questão de citar a relação de personalidades que compunham a diretoria. Para garantir a preservação da Orquestra era preciso criar a figura mantenedora, no caso, a Sociedade Musical de Ribeirão Preto, que seria a pessoa jurídica responsável pela manutenção físico-financeiro-administrativa 44 A CIDADE, capa, 24 de maio de 1938 45 STRAMBI, M. de S. Op. cit, p119 e 126
  • 41. 41 da Orquestra. Com as alianças que fazia no meio político, empresarial e social, Bartsch sentiu-se à vontade de imprimir novos hábitos na cultura local.46 Foi assim que ele conseguiu sensibilizar as empresas locais a fazerem doações para as instituições filantrópicas, artísticas e educacionais. Evidentemente a Orquestra Sinfônica se enquadraria nesse critério. Foi ele quem difundiu a prática do mecenato. Por outro lado, ele era ciente do poder de articulação que possuía. Como presidente da PRA-7 a partir de 1934 realizou a “Campanha dos 2.000 Sócios” para que a emissora conseguisse manter no ar programas de qualidade. A PRA-7 virou uma rádio-clube. 47 46 Ibidem. Op. cit, p119. 47 REZENDE, A. L. & SANTIAGO, Gil. Op. cit, p101.
  • 42. 42 Ilustração 7 – Verso do programa do primeiro concerto da Orquestra Sinfônica da Sociedade Musical de Ribeirão Preto, em que são apresentados os nomes da diretoria Considerada um sucesso, a campanha garantiu a manutenção de um cast considerável. Em 1936, a emissora se orgulhava de exibir em campanhas publicitárias que possuía Orquestra de Salão, Orquestra Típica, Orquestra de Cordas, Conjunto da Madrugada, Quinteto Max, Trio Original, Quarteto PRA-7 e Grupo Regional, além de um quadro de cinco solistas fixos: Edu Rangel e Geraldo Mendonça (piano), José Gumerato (violino), Caetano Lania (flauta) e Manoel Silva (violoncelo).
  • 43. 43 Na “Campanha dos 2.000 Sócios”, Bartsch conseguiu demonstrar um poder de mobilização social muito grande que incluiu até a imprensa local na convocação da população para aderir à causa. Não haveria porque a nova Orquestra Sinfônica não dar certo. O tamanho da influência de Bartsch foi tão grande que garantiu a transmissão ao vivo do Theatro Pedro II, na noite de 22 de setembro de 1938, pela PRA-7, do concerto de estréia da Orquestra, incluindo o discurso do orador Camilo de Matos. As condições com que Bartsch conseguiu embasar o surgimento da “sua” Orquestra Sinfônica imprimiu à iniciativa características únicas que os antecessores, por mais engajados que fossem nas atividades sociais como eram Dario Guedes e Ignácio Stábile, não dispunham para garantir o sucesso de suas respectivas iniciativas.
  • 45. 45 Político sem ser partidário, nunca ocupou cargo nos governos municipais ou foi eleito para o Legislativo. No entanto, seu poder era grande. Seu carisma foi ressaltado em inúmeras fontes, mas em nenhuma delas, houve indícios de um homem que tivesse qualquer desavença pessoal, profissional ou mesmo política que comprometesse suas ações. Nos processos trabalhistas da época, que integram o acervo do Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto, não constam ações contra Max Bartsch, apesar de suas inúmeras ocupações como diretor em diversas entidades. Gerente da maior empresa privada da cidade na época, a Cia. Antarctica de Cerveja e ao mesmo tempo presidente da PRA-7, soube como ninguém tecer uma rede de influências que envolvia políticos, artistas, religiosos, empresários, fazendeiros, administradores, etc. Revestiu essa habilidade de um ar carismático, próprio de um talentoso articulador. Como músico aprendeu a conhecer os bastidores de uma orquestra sinfônica ao participar da Sociedade Cultura Artística de Ribeirão Preto e viu de perto os problemas que eram preciso enfrentar para manter uma orquestra em atividade constante. Ao aliar essas duas características, Max Bartsch criou a Sociedade Musical de Ribeirão Preto e consolidou uma estrutura que lhe permitiu manter em funcionamento a Orquestra, diferentemente das duas tentativas anteriores. Reunir músicos à sua volta nunca foi problema. Instrumentista talentoso, Bartsch criou o Quinteto Max que, em dez anos de atuação, conseguiu aglomerar em torno de si uma dezena de músicos ansiosos para participar do grupo ou mesmo de se apresentar na rádio PRA-7, onde o Quinteto tinha horário cativo e de onde era presidente. Soube, então, aproveitar as condições
  • 46. 46 favoráveis para criar a Orquestra e o fez com maestria, garantindo inclusive transmissão ao vivo de seu primeiro concerto pela emissora de rádio.
  • 47. 47 Referências bibliográficas BRENER, Jayme. Um tiro no escuro. São Paulo: Revista Eletrônica Pangea, n. 3, abril, 2004. CIONE, Rubens. História de Ribeirão Preto. Ribeirão Preto: IMAG, 1987. CIONE, Rubens. História de Ribeirão Preto. Ribeirão Preto: Editora Legis Summa, v. 2,1993. CONSOLO, Eduardo. O Movimento Integralista em Ribeirão Preto (1934- 1938). TCC (Graduação – História). Ribeirão Preto, Centro Universitário Barão de Mauá, 2005. GUMIERO, Elaine Aparecida. Ribeirão Preto e o Desenvolvimento do seu Comércio: 1890-1937. Dissertação (Mestrado - História), FHDSS, Universidade Estadual Paulista, Franca, 2000. NETO, Diósnio Machado. A Semana de 22 Através de Uma Viagem pelo Interior de São Paulo. Ribeirão Preto. Apresentado no 1º Congresso de Musicologia Histórica e a ser publicado nos anais. Universidade de São Paulo, 2006. REZENDE, André Luis; SANTIAGO, Gil. A Primeira Rádio do Interior do Brasil. Ribeirão Preto: São Francisco, 2005. RIZZI, Kamilla R. & BALARDIN, Rafael. O fim do (des) equilíbrio europeu (1871-1914). Porto Alegre. Revista Eletrônica Ilea Ufrgs, 2004, artigo 621. ROCHA, Anderson. Os Quartetos de Cordas de Alberto Nepomuceno. Dissertação (Mestrado – Musicologia). São Paulo: ECA - Universidade de São Paulo, 2000. SILVA, Benedita Luiz. O Rei da Noite na Eldorado Paulista: François Cassoulet e os entretenimentos noturnos em Ribeirão Preto (1880 – 1930). Dissertação (Mestrado – História), Franca: FHDSS, Universidade Estadual Paulista, 2000. STRAMBI, Myrian de Souza. 50 Anos da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto. Ribeirão Preto: Legis Summa, 1989. TUON, Liamar Izilda. O Cotidiano Cultural de Ribeirão Preto. Dissertação: (Mestrado – História), Franca: FHDSS, Universidade Estadual Paulista, Unesp, 1997. WALKER, Thomas; BARBOSA, Agnaldo de Sousa. Dos Coronéis à Metrópole. Ribeirão Preto: Palavra Mágica, 2000.
  • 48. 48 Fontes - Jornais: A Cidade – Ribeirão Preto, 1938. O Diário – Ribeirão Preto, 1938. - Arquivos: Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto - Entrevistas: BARSTCH, Adolfo. Filho de Max Barstch, fundador da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto. BARSTCH, Henrique. Neto de Max Barstch. GAETANI, Luis. Presidente da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto no período de 1976-2000.