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A Casa Edison e a formação do mercado fonográfico no Rio de Janeiro
                            no final do século XIX e início do século XX


        A Casa Edison e a formação do mercado
     fonográfico no Rio de Janeiro no final do século
                XIX e início do século XX
                                     Eduardo Gonçalves*




Resumo
O presente artigo tem por objetivo desenvolver uma reflexão sobre a formação da indús-
tria fonográfica no Brasil a partir da atuação da primeira gravadora brasileira de discos, a
Casa Edison, no contexto do efervescente mercado musical da capital federal do final do
século XIX e início do XX. A Casa Edison foi um espaço polifônico que dialogou com
diversos gêneros musicais, compositores, empresários e intérpretes, indispensáveis para
sua estruturação e expansão.
Palavras-chave: Música; indústria fonográfica; Casa Edison.

Abstract
The “Casa Edison” and the formation of the music market in Rio de Ja-
neiro in the late 19th and early 20th century
This paper discusses the relations between the agrarian question and the modernization. I
compare the agrarian studies of Lenin and Max Weber. Both authors made an analysis of
the rural world as a critical element in their understandings on modernization, discussing
comparatively the Russian, German and North American cases. I argue in favor of the
possibility of a convergent reading of the authors by looking at a series of common prob-
lems of the modernization process in periphery or late capitalism cases.
Keywords: Music; phonograph industry; Casa Edison.

 Eduardo Gonçalves é Mestre em História Social da Cultura pela PUC-Rio. Graduou-se em História na
1.

PUC-Rio em 2009. Atualmente é pesquisador do Núcleo de Memória da PUC-Rio.
E-mail: eg.historia@gmail.com



        Desigualdade & Diversidade – Revista de Ciências Sociais da PUC-Rio, nº 9, ago/dez, 2011, pp. 105-122   105
Eduardo Gonçalves



        Na passagem do século do século XIX para o XX, a cidade do Rio de Janeiro vivia
  um momento de intensa movimentação cultural ocasionado pela expansão de novas op-
  ções de entretenimento como os cinemas, teatros, cafés-concerto, casas de chope,1 circos e
  teatros, que associavam a diversão e o lazer aos gêneros musicais em voga na cidade. A ca-
  pital federal presenciou a chegada de grupos estrangeiros e de novos produtores, técnicos,
  diretores, instrumentistas e demais profissionais associados ao mundo dos divertimentos,
  e a estruturação de grupos teatrais nacionais e de espetáculos musicais e de dança. O Rio
  de Janeiro era o ambiente mais cosmopolita do país, a cidade brasileira em que a diversi-
  dade de ritmos musicais era mais intensa. Nesse cenário repleto de novidades, de trocas
  aceleradas de informações e possibilidades visíveis de negócios, surgem novos cantores,
  compositores, músicos e empresários atentos às múltiplas formas e espaços destinados à
  diversão e ao lazer que a capital federal oferecia e ainda estava por oferecer.
        Durante esse período, a atividade musical na capital federal iniciou seu processo de
  expansão e popularização. O mercado musical e de entretenimento começou a conquistar
  seu próprio espaço por intermédio das publicações do circuito lítero-musical com a edi-
  ção dos cancioneiros que ganhavam a cidade e a presença de diversos ambientes culturais,
  como os circos, teatros e music halls. Com a chegada das técnicas de gravações mecânicas,
  dos fonógrafos e gramofones, aos poucos começa a se estruturar na capital federal uma
  rede de negócios e relações que envolveu casas comerciais nacionais e empresas estrangei-
  ras, consumidores e artistas de diversas origens ligados ao universo musical, que pouco a
  pouco se expandiu para outros estados brasileiros.
        Os modernos aparelhos que reproduzem músicas gravadas alteraram o modo como
  o homem se apresenta, interage e percebe o mundo. O espaço privado pelo qual ele “age
  conscientemente é substituído por outro em que sua ação é inconsciente” (Benjamin,
  1994, p. 189), ao entrar em contato com o ambiente envolvido pelas ondas sonoras. A
  música amplia a experiência perceptiva no interior do lar, altera a sua rotina diária e com-
  partilha a canção reproduzida com toda a família, por meio de uma espécie de “percep-
  ção coletiva [...] nesses novos espaços de liberdade” (ibidem, p. 190). O fonógrafo e o
  gramofone contribuíram para as transformações e “metamorfoses profundas do aparelho
  perceptivo, como as que experimenta o passante, numa escala individual, quando enfrenta
  o tráfego” (ibidem, p. 192). O desenvolvimento das técnicas de registro e reprodução so-
  nora fez com que os indivíduos se identificassem com uma música gravada e reproduzida
  em larga escala, e possibilitou a criação de laços simbólicos e afetivos com uma canção
  apropriada e consumida por vários outros sujeitos.
        Para compreender as alterações provocadas pela música gravada e seus suportes de
  reprodução, Raymond Murray Schafer cunhou o conceito de esquizofonia para examinar
  a quebra ocorrida entre o som original/natural e a fase posterior da sua transmissão e
  reprodução para outros espaços. O autor assinala que, no princípio, todos os sons eram
  originais, pois somente ocorriam em um determinado tempo e lugar, inseparáveis dos me-
  canismos de produção. A partir da invenção de equipamentos que possibilitaram gravar,


106
A Casa Edison e a formação do mercado fonográfico no Rio de Janeiro
                          no final do século XIX e início do século XX


transmitir e reproduzir sons, houve a separação entre o som e o seu respectivo produtor.
Os sons ganharam autonomia ao serem manipulados, movimentados, transportados e
amplificados. Essa transformação criou
                           [...] uma paisagem sonora sintética na qual os sons naturais es-
                      tão se tornando cada vez mais não-naturais, [pois a gravações sempre
                      incorporam distorções harmônicas e ruídos, por mais fidedignas que
                      sejam], enquanto substitutos feitos a máquina são os responsáveis
                      pelos sinais operativos que dirigem a vida moderna. (Schafer, 2001,
                      p. 135)
     As mídias sonoras afetaram a percepção dos ouvintes de forma avassaladora. Cada
som participante da paisagem sonora era único e irrepetível até que as formas de media-
tização técnica surgiram, aperfeiçoaram-se e provocaram o abalo na natureza, produção
e difusão do som. As máquinas falantes deram mais autonomia ao som. Este passou a
ser ouvido em qualquer lugar da casa, nas ruas e estabelecimentos, distante do seu local
original de produção. Esse processo único possibilitou, pela primeira vez na história, a
libertação do som do espaço e do tempo.
     O primeiro contato de Frederico Figner com os aparelhos de fonógrafos ocorreu
em 1889, no Texas. Seu cunhado foi o responsável por lhe mostrar pela primeira vez as
máquinas que reproduziam sons. Figner vivia nos Estados Unidos desde o ano de 1882,
país no qual se naturalizou. Em agosto de 1891, ele desembarcou em Belém (PA) com fo-
nógrafos da Pacific Phonograph Company e cilindros, baterias e vidros para os diafragmas
para o período de ano. Durante sua estada, realizou as primeiras gravações de discursos
públicos, lundus, modinhas e operetas brasileiras no próprio Hotel Central em que esta-
va hospedado.2 Com a exibição da reprodução desse material nos fonógrafos, Figner em
apenas um mês alcançou um público de 4 mil pessoas, que pagaram 1$000 (mil réis) para
ouvir os sons gravados. Após esse período, o empresário percorreu as cidades de Belém,
Manaus, Fortaleza, Natal, João Pessoa, Recife e Salvador para divulgar suas máquinas fa-
lantes e apresentar o processo de reprodução e gravação dos sons. Em abril de 1892, com
26 anos, Frederico Figner chegou à capital federal com suas máquinas falantes, mas como
a cidade vivia sob o temor da febre amarela, ele optou por prosseguir a excursão para exi-
bição do fonógrafo para outras cidades brasileiras, dentre elas São Paulo, Campinas (SP),
Ribeirão Preto (SP), Piracicaba (SP), Porto Alegre e Pelotas (RS) para, em seguida, partir
para Montevidéu e Buenos Aires.3 Ao retornar, em 1896, Figner dedicou-se à divulgação
das novidades tecnológicas em território brasileiro. Além dos fonógrafos, ele também co-
meçou a comercializar o kinestoscópio, “uma espécie de armário onde uma pessoa por vez
podia assistir cenas curtas, e mesclando o kinetoscópio ao fonógrafo, criou o kinetofone,
uma espécie de cinema falado” (Ferlim, 2006, p. 59). Frederico Figner, “antenado” com as
tendências e novidades lançadas no exterior, realizou audaciosos investimentos no merca-
do musical da capital federal para dar início ao processo de gravação e comercialização de
cilindros e chapas de metais.


                                                                                         107
Eduardo Gonçalves



        Figner era um admirador das novidades tecnológicas produzidas na Europa e nos Es-
  tados Unidos, e tinha uma aguda sensibilidade de que a comercialização desses modernos
  produtos na capital federal poderia se transformar em um negócio próspero e lucrativo.
  Uliana Ferlim (2006, p. 59) assinala que “em tempos de deslumbramentos com a prática
  científica, as máquinas falantes eram o impossível concretizado, um passo adiante ao fu-
  turo, o desenvolvimento da civilização humana”. Ao estabelecer seus negócios na cidade
  do Rio de Janeiro por meio da circulação e das trocas com o mercado cultural e de entre-
  tenimento, Frederico Figner tinha a aguda percepção das potencialidades comerciais da
  capital federal, que contava um público consumidor com alto poder aquisitivo, ávido em
  adquirir as modernas mercadorias importadas.
        As gravações em cilindros para comercialização e exibição em fonógrafos já eram re-
  alizadas por Frederico Figner antes do início da abertura da firma em seu nome na junta
  comercial da capital federal, no ano de 1900. Desde 1897, James Mitchel era o grande for-
  necedor de fonógrafos e grafofones4 Columbia para a capital federal e tinha Figner como o
  seu grande comprador. No final do século XIX, as gravações eram feitas a partir da reutili-
  zação de cilindros gravados. Como eram de cera, necessitavam ser previamente raspados e
  polidos para então receberem as novas gravações. Em um manuscrito autobiográfico, Figner
  afirma que às vezes precisava ficar até a meia-noite para finalizar a raspagem dos cilindros e
  deixá-los prontos para receber novas gravações. Os custos totais estimados para as gravações
  nos cilindros nessa época eram de 2$500 (dois mil e quinhentos réis), divididos em 1$500
  (mil e quinhentos réis) pelos custos do cilindro mais o valor de 1$000 (mil réis) por canção
  gravada. O preço de venda ao consumidor era de 5$000 (cinco mil réis) por cilindro, o que
  gerava um lucro de 100% por canção gravada. Os rendimentos poderiam ser maiores em
  caso de uso de cilindros virgens, cilindros que não passavam por desgaste durante o processo
  de polimento ou aqueles que não sofriam acidentes durante a gravação, como arranhões ou
  rachaduras. A partir do início do século XX, os cilindros moldados “produzidos em massa
  a partir de um processo eletrolítico de pulverização a ouro inventado por Edison” (Frances-
  chi, 2002, p. 36) eliminaram a necessidade de raspagem e gravação de um cilindro por vez.
  Frederico Figner passou a fazer a reprodução direta para os cilindros virgens por meio do:
                              [...] método de transferência dos registros sonoros de um cilin-
                        dro para outro. Usava-se, no original, uma agulha reprodutora de
                        ponta esférica e montada paralela a ela, e a ela também ligada, corria
                        uma agulha de corte sobre o cilindro virgem gravando o conteúdo
                        do cilindro original. (ibidem, p. 40)
        No final do século XIX, Figner não era o único que realizava gravações em cilindros
  na capital federal. Uma forte concorrente no comércio de música gravada em cilindros era
  a casa Ao Bogary. Registrada no dia 18 de abril na junta comercial da capital federal, per-
  tencia aos portugueses Arthur Augusto Villar Martins e Arnaldo Castilho Natividade de
  Castro. Eles dominavam a técnica de gravação, a venda de cilindros e eram representantes
  da Gramophone Company de Londres, responsáveis pela comercialização dos discos Berli-


108
A Casa Edison e a formação do mercado fonográfico no Rio de Janeiro
                          no final do século XIX e início do século XX


ner de sete polegadas gravados na Europa. Os acordos estabelecidos entre a Gramophone
Company e a casa Ao Bogary garantiam exclusividade para distribuição dos discos pro-
duzidos pela empresa londrina no Brasil. Esses discos tinham a particularidade de trazer
                             [...] além da marca AGEL da Gramophone e dos dizeres refe-
                       rentes à identificação, a marca AO BOGARY – 69 – RUA DO OU-
                       VIDOR, impressa a quente na própria massa de Vulcanite do disco.
                       [...] A gravadora inglesa também imprimia, nos discos, sua marca
                       registrada: a figura de um anjo desenhando um círculo em sua volta
                       com uma pena de pato. (ibidem, p. 32)
      Os empresários da Ao Bogary utilizaram artifícios similares aos da Casa Edison para
divulgar suas mercadorias, como a veiculação de anúncios em jornais da época. Uma des-
sas propagandas foi publicada no Jornal do Brasil, em 1902, e destaca o fato da firma ser
a “primeira e a única fábrica na América do Sul para a fabricação de cilindros e impressão
nítidas dos mesmos” (ibidem, p. 37). Como concorrente direta da Casa Edison, ela também
anuncia a presença em catálogos de “grande repertório de cançonetas, lundus e modinhas do
popularíssimo Eduardo das Neves” (ibidem, 2002, p. 37), famoso palhaço que apresentava
no picadeiro, com seu violão, as suas composições de diversos gêneros musicais, e circulou
por diversos espaços de entretenimento da capital federal, sendo um dos cantores pioneiros
no registro das suas canções nos primeiros discos gravados pela Edison em 1902.
      Frederico Figner, observador atento do mercado e das estratégias dos concorrentes, saiu
em busca de novas mercadorias importadas para comercializar por meio do acordo estabeleci-
do com os irmãos Charles e Jules Ullman,5 proprietários da fábrica Phrynis. O acordo firmado
possibilitou que “as músicas gravadas pela Casa Edison [fossem] [...] as mesmas encontradas
nos cilindros Phrynis e nos discos Zonophone e, mais tarde, nos discos Odeon oferecidos nos
catálogos da Casa Edison a partir de 1902” (ibidem, p. 37). Figner tornou-se o único repre-
sentante no Brasil dos cilindros importados da Phrynis. Para incrementar os negócios, ele
conseguiu importar diretamente para o Brasil os cilindros virgens da National Phonograph
Company por meio do acordo realizado com a firma Davidson Pullen & Cia, com sede na Rua
da Quitanda, nº 119, no Rio de Janeiro. Era por intermédio dessas negociações com empresas
estrangeiras que Frederico Figner procurava ampliar e diversificar os seus negócios no mercado
musical e de entretenimento da capital federal, expandir suas atividades para outros estados do
Brasil e enfrentar a concorrência. A presença de outras casas gravadoras, dispostas a comercia-
lizar músicas gravadas e fazer acordos para distribuição exclusiva com empresas estrangeiras,
mostra a existência de um mercado consumidor em formação na capital federal, interessado
nas novidades tecnológicas lançadas na Europa e nos Estados Unidos.
      No final do século XIX, o mercado de gravação de cilindros de cera era restrito e não
conseguia alcançar expressão comercial significativa na capital federal por não permitir a
produção de cópias para fins comerciais. Contudo, no início do século XX, os cilindros
alcançaram grande sucesso de vendas no mercado internacional e brasileiro. Humberto
Franceschi aponta que a partir do ano de 1901, após surgir no mercado cilindros mol-


                                                                                             109
Eduardo Gonçalves



  dados em cera dura e de alta velocidade, a produção de gravações em cilindro começou a
  tomar impulso e ter forças para se expandir comercialmente. O resultado desse processo
  pode ser comprovado nos primeiros catálogos da Casa Edison, que divulgam grande va-
  riedade de cilindros com gravações de canções de artistas internacionais e brasileiros e a
  comercialização de diversos modelos de fonógrafos para reprodução das músicas.
        Os catálogos da Casa Edison, elaborados e editados por Frederico Figner, são impor-
  tantes fontes primárias para examinar o impacto, a circulação e a quantidade de cilindros
  comercializados pela gravadora, além dos acordos estabelecidos com empresas estrangei-
  ras para a comercialização das máquinas falantes, cilindros e discos, e os negócios com
  a venda de produtos de bens de consumo. Eles são meios modernos de divulgação de
  produtos, artistas e da própria gravadora, criados para serem distribuídos gratuitamente
  aos seus clientes e novos consumidores em potencial do mercado em expansão da capital
  federal. São suportes fundamentais para ampliação das atividades de comércio para outros
  estados brasileiros e para auxiliar na consolidação das estratégias mercadológicas de Fre-
  derico Figner na capital federal. Theodor Adorno e Max Horkheimer consideram a pu-
  blicidade o elixir da vida, pois é a propaganda que contribui para reforçar o “vínculo que
  liga os consumidores às grandes firmas” (Adorno, 2002, p. 66). A publicidade em torno
  da gravadora era fundamental para consolidar a sua marca, criar uma rede de comércio e
  divulgar o nome da Casa Edison e seu cast de cantores.
        Frederico Figner dedicou-se à publicação de uma variedade de catálogos com a rela-
  ção dos produtos que comercializava. No ano de 1900, foi publicado o seu primeiro ca-
  tálogo no Brasil, período no qual importava e negociava os produtos diretamente em seu
  nome. Em 1902, publicou o primeiro catálogo que traz na capa o nome da Casa Edison.
  Havia também os catálogos de divulgação dos produtos negociados com a marca Odeon,
  espécie de suplemento editado com periodicidade bimestral e trimestral. Esses catálogos
  divulgavam anúncios musicais e a relação das bandas e artistas contratados pela gravado-
  ra e que tinham seus discos prensados na fábrica da Odeon, no bairro da Tijuca, no Rio
  de Janeiro, por meio do acordo firmado com Frederico Figner no ano de 1912. Outros
  catálogos das filiais da Casa Edison estabelecidas em São Paulo e no Rio Grande do Sul
  eram publicados com a relação das gravações das músicas dos artistas locais. A ausência de
  custos para envio e a extensão dos catálogos, aproximadamente com 50 páginas, evidencia
  o alto investimento feito por Figner para sua confecção, impressão e distribuição, e mostra
  que esse tipo de publicidade era um importante catalisador de novos clientes e meio fun-
  damental de divulgação para alavancar as suas vendas e constituir uma rede de negócios.
        No final do ano de 1897, Frederico Figner abriu um estabelecimento comercial na Rua
  Uruguaiana, nº 24, apenas como comerciante de fonógrafos e cilindros. Em 1900, ele editou
  nesse sobrado o primeiro catálogo publicado no Brasil com anúncios de todos os produtos
  que comercializava. A capa destaca o nome de Figner em letras maiúsculas como responsá-
  vel pela importação direta de “phonographos, graphophonos, phonogrammas e pertences”
  (Franceschi, 2002, CD-ROM 1 - Documentos). O catálogo de 1900 ainda não dispunha de
  anúncios das mercadorias de bens de consumo importadas dos Estados Unidos, importantes
  fontes de lucros para a expansão dos seus negócios nos anos seguintes.


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A Casa Edison e a formação do mercado fonográfico no Rio de Janeiro
                          no final do século XIX e início do século XX


                                     Figura 1
     Capa do primeiro catálogo editado no Brasil por Frederico Figner, em 1900




      A capa do catálogo de 1900 traz em destaque um dos aparelhos que impulsionaram as
vendas e alcançaram grande sucesso comercial dentre as mercadorias comercializadas por
Figner, o “Graphophono ‘Mignon’, modelo aperfeiçoado e lindíssimo aparelho em aparên-
cia, sólido em construção, de corda contínua, montado em uma caixa elegante, importado
da América do Norte, [com] diafragma reprodutor com ponteiro de safira” (idem). Mesmo
com o desafio de examinar o catálogo apenas pela sua capa, é possível obter pistas cruciais
sobre as estratégias de atuação de Frederico Figner no mercado musical e de entretenimen-
to da cidade do Rio de Janeiro. O graphophone era uma máquina falante modelo tipo “L
para a transmissão de voz, [por meio de] uma pequena corneta, um tubo duplo de borracha
para o ouvido” (Franceschi, 2002, p. 46). Para iniciar a divulgação dessa novidade técnica
fundamental para aquecer os seus negócios, Figner, a partir da proposta do seu sócio inglês
Bernard Wilson Shaw, foi o responsável pela criação de um moderno clube denominado
Clube dos Grafofonos. O Clube era uma espécie de consórcio, com objetivo de conquistar
novos sócios, divulgar as novidades técnicas que comercializava e oferecer a possibilidade
para quem não tinha condições financeiras de comprar à vista uma máquina falante por
meio do sistema de cotas. Figner foi o responsável pela divulgação e pela parte técnica do
Clube, dada a sua intimidade com o manuseio das máquinas falantes, enquanto Bernard
Shaw ficou encarregado de conquistar novos sócios. O Clube sorteava apenas os grafofones


                                                                                          111
Eduardo Gonçalves



  da Columbia, o mesmo modelo que estampa a capa do catálogo de 1900. Cada clube era
  formado por grupos de cem sócios, que pagavam 5$000 (cinco mil réis) por semana. Quem
  não era sorteado pagava as cotas até o final de 50 semanas para retirar seu aparelho.
        Ao ser formado o quarto grupo de sócios, Bernard Shaw decidiu sair da sociedade e rece-
  beu 50% dos lucros. Figner prosseguiu com os negócios e chegou a formar um total de 27 gru-
  pos, com um número total de 2700 sócios e um capital que “girava em torno de 50:000$000
  [cinquenta contos de réis] por mês, fora o que recebia dos fonógrafos vendidos aos sócios antes
  do término do pagamento” (ibidem, p. 46). O capital arrecadado com o Clube dos Grafofonos
  foi fundamental para Figner expandir seus negócios no mercado musical e de entretenimento
  da capital federal. O clube representou um passo importante para a criação de uma rede de
  contatos e consumidores das mercadorias, para estruturar de forma mais sólida os seus empre-
  endimentos. Para iniciar a divulgação dos primeiros artistas e canções estrangeiras e brasileiras,
  o mercado precisava ter o mínimo de conhecimento e preparo para consumir e reproduzir as
  músicas em um novo suporte físico sonoro. Figner estava atento à rápida mudança tecnológica
  e teve a arguta visão de criar e oferecer meios para iniciar a divulgação e a venda das máquinas
  falantes pela capital federal, ao mesmo tempo em que elaborava meios e estratégias para difun-
  dir e comercializar as músicas gravadas em cilindros. Divulgar e ensinar a pedagogia da nova
  tecnologia foram os meios necessários para pavimentar a estrada que daria acesso e expandiria
  os seus negócios com a música gravada nos anos seguintes.
        O exame do catálogo de 1900 mostra que, no período inicial de formação do merca-
  do fonográfico no Brasil, os negócios de Frederico Figner estavam voltados para a criação
  e formação de um público consumidor que não estava habituado a ouvir e consumir mú-
  sica gravada mecanicamente. Essa fase inicial, na qual as ações do empresário aos poucos
  começam a ser postas em prática, mostra a ênfase e a importância em divulgar para um
  número cada vez maior de pessoas as novidades técnicas importadas dos Estados Unidos.
  Antes de divulgar os artistas e os cantores nacionais, foi necessário criar o hábito e ensinar
  as técnicas para o manuseio das máquinas de reprodução de chapas de metais e cilindros
  de cera, pois o público estava acostumado a consumir música em partituras para piano ou
  em locais coletivos específicos como teatros, music halls e bares.
        O primeiro catálogo editado por Frederico Figner no Brasil aponta que as primeiras
  ações para a implantação de um mercado fonográfico no país nasceram de interesses pessoais
  de indivíduos que buscavam divulgar a nova tecnologia de reprodução sonora, por verem a
  possibilidade de fazer bons negócios no mercado em potencial que surgia no Rio de Janeiro.
  Antes do início das gravações mecânicas, foi necessário criar meios para estruturar a arte fo-
  nográfica no Brasil. As ações individuais de Frederico Figner e de outros empresários da épo-
  ca foram importantes para a divulgação das máquinas falantes, para estabelecer os primeiros
  acordos com empresas estrangeiras do ramo da música e para criar um público consumidor,
  que aos poucos transformou o seu hábito e começou a consumir músicas gravadas. Foram
  essas ações dispersas e focadas na distribuição e na venda das novidades americanas que de-
  ram o passo inicial para a construção do mercado fonográfico brasileiro, fundamentais para


112
A Casa Edison e a formação do mercado fonográfico no Rio de Janeiro
                          no final do século XIX e início do século XX


que pouco a pouco as músicas gravadas mecanicamente começassem a despertar o interesse
e marcar a sua presença no cotidiano das pessoas e dos diferentes espaços da cidade.
      Dois anos após a primeira divulgação das mercadorias por Frederico Figner, um novo
catálogo é publicado e traz em sua capa o nome que tornou o seu empreendimento reco-
nhecido na capital federal, a Casa Edison, nome atribuído sem nenhuma preocupação com
registro ou ações judiciais, pois o empresário estava interessado apenas em prestar uma ho-
menagem ao inventor americano das máquinas falantes, Thomas Edison. A importância
desse catálogo está no fato dele trazer a relação dos primeiros discos gravados em território
brasileiro, o que permite examinar a produção da Casa Edison, as músicas e os artistas que
circulavam pelo mercado da capital federal e que gravaram as suas canções na gravadora. No
catálogo, está presente a diversidade de mercadorias que Frederico Figner começou a nego-
ciar, a partir de 1902, como distribuidor de novidades de bens de consumo importadas dos
Estados Unidos. No início do século XX, ainda não havia uma produção de bens de consu-
mo em escala industrial no Brasil que pudesse dar conta e atender a crescente demanda por
essas mercadorias. Figner aproveitou esse filão de mercado para diversificar os seus negócios
e juntar as novidades de bens de consumo ao comércio das máquinas falantes. Entretanto,
mesmo com o aumento dos produtos comercializados no catálogo, os maiores lucros eram
obtidos com o comércio de gravação e com a venda de cilindros musicais.

                                      Figura 2
                  Capa do primeiro catálogo da Casa Edison, de 1902




                                                                                            113
Eduardo Gonçalves



        Frederico Figner descreve um dos motivos para elaboração do primeiro catálogo
  da Casa Edison, pois eram “constantes os pedidos mormente dos Estados da República”
  (Franceschi, 2002, CD-ROM 1 – Documentos). Por isso, viu a necessidade de consolidar
  a relação dos produtos que comercializava para divulgar para os fregueses e seus futuros
  compradores. O catálogo de 1902 da Casa Edison tem um total de 54 páginas. As 16
  páginas iniciais são dedicadas à divulgação e explicação das machinas falantes importadas,
  enquanto a relação das canções nacionais e estrangeiras comercializadas pela gravadora é
  divulgada a partir da página 17. O destaque nas primeiras páginas do catálogo para as no-
  vidades americanas evidencia o lugar e o significado que as primeiras gravações de canto-
  res e bandas nacionais e estrangeiras exerceram para os negócios de Frederico Figner. Esta
  análise reforça o argumento de que, no processo de formação do mercado fonográfico no
  Brasil, a estratégia inicial estava na divulgação das novas máquinas de reprodução musical
  para conquistar espaço e marcar presença no cotidiano das famílias e das cidades. A co-
  mercialização desses aparelhos veio acompanhada da explicação da arte fonográfica e da
  necessidade pedagógica de ensinar a operacionalizar essas novidades industriais. O catá-
  logo de 1902 mostra que, no momento inicial de estruturação do mercado fonográfico no
  Brasil, foi necessário criar o hábito de consumo baseado em uma nova estrutura tecnoló-
  gica que pudesse oferecer meios para o consumo da música gravada. Durante esse período
  de transição, a principal transformação estava na adaptação de um mercado acostumado
  ao hábito de consumir música comercializada em partituras para piano, para pouco a pou-
  co introduzir um novo tipo de suporte com a chegada dos cilindros para fonogramas e
  dos discos para gramofones. Esse novo cenário, caracterizado pela mudança cultural na
  maneira como as pessoas consumiam música, marcou o início do processo de autonomia e
  expansão dos negócios relacionados à música e a presença das canções brasileiras e estran-
  geiras em diferentes espaços da capital federal e para outros estados brasileiros.
                               O exame do primeiro catálogo da Edison mostra que o número
                         total de músicas estrangeiras quase se iguala ao número de canções
                         brasileiras à venda. Dentre as 787 músicas encartadas no catálogo,
                         380 títulos, ou aproximadamente 48%, são de músicas estrangeiras,
                         enquanto que 407 títulos, ou 52%, são de canções executadas por
                         artistas e bandas brasileiras. Alguns fatores contribuíram para a forte
                         presença de gêneros musicais estrangeiros no primeiro catálogo da
                         Casa Edison. Com o início do processo mecânico de gravação das
                         músicas na Europa e nos Estados Unidos, gêneros em voga foram
                         os primeiros a serem registrados e divulgados por empresas estran-
                         geiras em mercados emergentes para expansão dos seus negócios. A
                         comercialização dos fonógrafos e dos gramofones e os acordos es-
                         tabelecidos com empresas estrangeiras possibilitaram aos poucos a
                         ampliação desse mercado para o Brasil. Figner, negociador em bus-
                         ca da divulgação e consolidação do seu empreendimento, aprovei-


114
A Casa Edison e a formação do mercado fonográfico no Rio de Janeiro
                          no final do século XIX e início do século XX


                      tou o sucesso das óperas italianas e de outros gêneros estrangeiros
                      já conhecidos do público consumidor de partituras para piano para
                      divulgá-los nos catálogos junto com as demais músicas, com objetivo
                      de impulsionar as suas vendas e expandir os negócios com as novas
                      gravações realizadas em território nacional.
     Há uma estreita relação comercial entre a Casa Edison e os gêneros musicais em voga
no início do século XX. As músicas estrangeiras e brasileiras, sobretudo as de maior po-
pularidade, pouco a pouco passaram a ser registradas e consumidas por um público cada
vez maior, ainda que restrito no momento inicial da sua comercialização. As modinhas,
por exemplo, abordavam temas da atualidade com grande repercussão no início do século
XX no Brasil. Frederico Figner, impulsionado pelo desejo de fazer bons negócios, gravou
na Casa Edison um repertório das modinhas de maior sucesso na época. Os discos com
essas gravações alcançavam grande popularidade, momento oportuno para investir nessas
gravações para obter bons lucros. O catálogo da Casa Edison de 1902 atesta esse sucesso
ao destacar um total de 54 “modinhas cantadas e tocadas ao violão pelo popularíssimo
Bahiano” (idem). Bahiano, ou Manuel Pedro dos Santos, conhecido cantor no cenário
cultural e de entretenimento do Rio de Janeiro, foi o responsável pela primeira gravação
em disco realizada no Brasil, com o lundu Isto é Bom, do compositor Xisto Bahia.
     O repertório gravado nos primeiros meses de atividade da Casa Edison e divulgado
no catálogo de 1902 foi variado. Os primeiros gêneros musicais registrados nos discos
por músicos brasileiros foram as modinhas, valsas, polcas, mazurcas, tangos e dobrados.
Como o mercado brasileiro recebia pela primeira vez músicas registradas em processo
mecânico de gravação, a estratégia de Figner foi a de mesclar no primeiro catálogo da gra-
vadora os artistas estrangeiros e nacionais, e diversificar o repertório a ser comercializado.
Um mesmo cantor ou banda poderia gravar gêneros musicais e temas distintos. Nessa fase
inicial, não havia a segmentação de estilos e gêneros definidos, o que levava um mesmo
cantor a gravar canções variadas e ritmos distintos para ampliar o alcance da sua obra e
conquistar um público consumidor maior e diversificado.
     O exame do primeiro catálogo editado no Brasil e do primeiro catálogo da Casa Edi-
son mostra que a indústria fonográfica brasileira nasceu de uma experiência inovadora,
mas não exclusivamente voltada para a produção e gravação musical. O início do século
XX é marcado pela incipiência e pelo início das ações para estruturação do mercado fo-
nográfico no Brasil. Para criar o hábito nas pessoas de consumir música gravada, Frede-
rico Figner precisou investir na importação e divulgação de fonógrafos e gramofones em
seus catálogos. A presença de textos introdutórios e explicativos sobre arte fonográfica
e a funcionalidade dos aparelhos assinala que, juntamente com a necessidade de forma-
ção de um cast de artistas e de contar com uma quantidade considerável de títulos para
comercialização, foi preciso difundir, explicar e criar o hábito nas pessoas para o uso das
novidades tecnológicas de reprodução musical. Foi o sucesso com as máquinas falantes
que possibilitou a Frederico Figner expandir seus negócios para o ramo das gravações me-


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Eduardo Gonçalves



  cânicas, contratar novos artistas e estabelecer acordos internacionais como distribuidor
  exclusivo das gravadoras estrangeiras no Brasil. Os seus negócios com a comercialização
  de fonógrafos e gramofones possibilitaram estruturar a primeira gravadora de discos do
  Brasil e foram fundamentais para dar os primeiros passos para a construção de um merca-
  do fonográfico no país.
        Desde o final do século XIX, Emile Berliner,6 alemão radicado nos Estados Unidos,
  fazia experiências com a gravação de disco de zinco junto com outros materiais. O ponto
  decisivo desse processo foi a descoberta de um método mais rápido e simples de produção
  de cópias, por meio da criação de uma matriz feita com cobre. Berliner dedicou-se à cria-
  ção de um aparelho que pudesse reproduzir o que era gravado nesses discos. O aparelho,
  denominado de gramofone, funcionava com uma manivela e reproduzia discos gravados
  com duração média de dois minutos. A forma plana dos discos permitiu a sua reprodu-
  ção em série e as matrizes facilitaram a produção em escala industrial. Em 1895, Berliner
  fundou a Berliner Gramophone Company, responsável pela criação e registro das novas
  invenções. Desde o final do século XIX, os discos Berliner de 78 rotações por minuto
  ganharam o mercado mundial e seu catálogo contava com mais de cinco mil títulos.
        Em 1900, surgem os primeiros gramofones no Brasil. Frederico Figner dedicou-se à
  importação desses aparelhos, pois havia notado que eles reproduziam os discos em volu-
  me mais alto que os cilindros de cera e poderiam ampliar os seus negócios com a comer-
  cialização da música. Entretanto, os aparelhos importados eram verdadeiros artigos de
  luxo e custavam pequenas fortunas, destinados às famílias com maior poder aquisitivo
  e que desejavam estar em sintonia com os avanços da modernidade. Seu uso restrito e
  segmentado dificultava a expansão do mercado fonográfico brasileiro. Como o mercado
  fonográfico nacional ainda não dispunha de discos gravados nessa tecnologia, Figner im-
  portou da Europa e dos Estados Unidos discos de bandas militares e óperas estrangeiras.
        Os primeiros gramofones eram acionados com os pés, por meio de uma base de má-
  quina de costura. Com a descoberta do invento, várias pesquisas foram realizadas para
  a sua melhoria técnica. Esse período, marcado pela disputa e pelo controle das patentes
  da máquina falante, provocou a criação de várias novas empresas do ramo nos Estados
  Unidos e na Europa. Frederich Prescott, que já havia construído um próspero negócio
  com a exportação de fonógrafos de Thomas Edison, surge nesse cenário como um perso-
  nagem de destaque. Em 1901, Frank Seaman, ex-agente de anúncios de vendas em jornais
  e revistas de Nova York e que havia se desligado da empresa de Berliner após um contur-
  bado período de ações judiciais pelo controle do direito da patente do gramofone, decide
  expandir seus negócios para fora do mercado americano e contrata Prescott como seu
  consultor para tratar de assuntos e acordos internacionais. No início do ano de 1901,
  Seaman decide fundar a Zonophone Internacional em Berlim e Prescott assume o cargo
  de diretor-gerente. A gravadora conseguiu rapidamente alcançar destaque no mercado
  europeu, ao estabelecer um catálogo com artistas famosos e reconhecidos na época, como
  o tenor italiano Enrico Caruso e Henriette Rosine Bernardt, renomada atriz francesa co-


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A Casa Edison e a formação do mercado fonográfico no Rio de Janeiro
                          no final do século XIX e início do século XX


nhecida pelo codinome de Sarah Bernhardt. Após várias ações por infração de patentes,
o sucesso não impediu que a Zonophone fosse vendida para a Gramophone Company.
Prescott então decidiu fundar, em agosto de 1903, com apoio de investidores franceses,
a International Talking Machine. Com a fábrica construída em Weissensee, em Berlim,
adotou o nome de Odeon Records e tornou-se a pioneira na produção de discos com duas
faces.
     A Odeon tinha interesse em expandir suas atividades para fora do território europeu.
Frederich Prescott sabia da existência dos negócios de Frederico Figner com o mercado de
fonógrafos e gramofones. Para realizar acordos no Brasil, desde o ano de 1900, uma série
de correspondências, escritas originalmente em inglês, foi enviada pela Zonophone de Ber-
lim, por meio do seu diretor-geral Prescott, para estabelecer acordos e oferecer a Figner
o direito a um terço da patente do disco duplo produzido pela Odeon na Alemanha e dar
início ao processo pioneiro de gravações mecânicas em território brasileiro.
     O surgimento do disco não derrubou e eliminou o mercado de cilindros, devido à
sua força comercial e aos negócios com a comercialização de fonógrafos. Entretanto, o
fonógrafo apresentava algumas desvantagens, como o seu tamanho, seu complexo manejo
e o fato dos cilindros se desgastarem com mais facilidade, o que prejudicava a qualidade
da gravação. Em comparação, o disco é um suporte mais duradouro, de fácil manipulação,
transporte, e oferece melhor qualidade sonora, fatores que contribuíram para a sua popu-
larização. Humberto Franceschi sublinha a importância da gravação do disco no início do
século XX:
                            O disco era o meio real e garantido de que o sucesso das com-
                      posições se perpetuaria e, de certa forma, se tornaria definitivo. Ao
                      mesmo tempo, o disco não só estabelecia a transição do processo co-
                      mercial de vendagem de partituras de piano, até então o único meio
                      de apontar o que deveria ser sucesso, como também passou a ser o
                      objetivo final nas aspirações de todos os compositores. (Franceschi,
                      2002, p. 138)
     Carolina Vieira Moreira destaca o significado da gravação em discos, a divulgação
dos cantores e a relação com o público consumidor que se formava no mercado de entre-
tenimento da capital carioca, pois era um:
                            [...] excelente negócio para as empresas, e por outro lado, uma
                      importante oportunidade para músicos populares e afro-descenden-
                      tes, abrindo caminhos para ampliar sua popularidade, obter recursos
                      financeiros que ajudasse na própria sobrevivência, conquistar pres-
                      tígio e reconhecimento, mesmo que atingisse uma parcela diminuta
                      dos músicos populares. (Vieira, 2011, p. 8)
     O processo de gravação de discos no Brasil mostra as transformações que ele trouxe
para as canções, artistas e o mercado musical. Com o início do registro sonoro por meios
mecânicos, o piano se tornou um instrumento inadequado não apenas pelo espaço que


                                                                                          117
Eduardo Gonçalves



  ocupava, mas pela limitado registro de frequência disponível no improvisado estúdio de
  gravação. Humberto Franceschi assinala que o aparecimento da gravação elétrica mudou
  completamente o conceito e o modo de ouvir música. As músicas do final do século XIX
  e do início do século XX “eram geralmente composições instrumentais em três partes,
  com arranjos muito trabalhados, exigindo apuro de interpretação e algumas com letras
  elaboradas e longas. Duravam em torno de quatro minutos quando gravadas” (Frances-
  chi, 2010, p. 117). O impacto desse tipo de gravação pode ser medido ao comparar uma
  apresentação de um pianeiro que executava partituras em teatros e cinemas e as músicas
  registradas mecanicamente nos discos com duração determinada.
        As músicas eram gravadas nas ceras no pequeno estúdio da Casa Edison na Rua do
  Ouvidor, nº 105, mas o disco era encaminhado para a finalização do processo de grafita-
  gem na fábrica da Zonophone na Alemanha, para “tornar mais rígido os sulcos produzidos
  pela agulha de gravação e possibilitar a transmissão da corrente elétrica” (idem). A lingua-
  gem musical, ao ser registrada nos discos, tornou-se mais rígida ao fixar uma unidade de
  modelo na melodia e no gênero musical gravado, sem possibilidade para improvisações. A
  gravação e a prensagem de um disco de 78 rotações por minuto utilizam recursos técnicos
  para enquadrar e fixar o registro sonoro, como os arranjos de uma canção.
        Dois exemplos ilustram as transformações que a gravação dos discos trouxe para
  as bandas e os grupos. Nas grandes apresentações ao vivo das composições editadas em
  piano que alcançavam sucesso de vendagem, exigia-se a presença de até 50 integrantes
  para compor a orquestração. Além da redução do número de músicos e dos custos com
  as gravações e com a orquestração, as gravações em disco alteraram essa rotina. De posse
  dos direitos de gravação das músicas, Frederico Figner confiou a várias bandas militares
  contratadas pela Casa Edison a elaboração de toda orquestração e a gravação de diversos
  discos. A sonoridade produzida pelos metais era melhor que os registros feitos com canto-
  res acompanhados de instrumentos como o violão ou a flauta. Outro caso remete aos gru-
  pos de choro que surgiram por volta de 1870, utilizando flauta, cavaquinho e dois violões.
  Pouco a pouco, pequenos grupos se formaram e passaram a adotar instrumentos de sopro,
  como a clarineta e o trombone. Centenas de choros foram gravados durante as primeiras
  décadas do século XX. Os grupos que atuavam nessas gravações registravam apenas o que
  era previamente definido na pauta musical. Se o choro tocado pelos primeiros grupos per-
  mitia desafios musicais, ocasião na qual o flautista solista era responsável pelos improvisos
  durante suas interpretações, os primeiro registros de choros em disco eliminaram essa pos-
  sibilidade, já que o interesse estava na gravação comercial a ser executada sem improvisos e
  sem alterações nas melodias. Mesmo com essa mudança, a qualidade das gravações ainda
  surpreende pelo tipo de registro, muitas vezes até melhor que os primeiros discos gravados
  pela Zonophone em Berlim.
        O início das gravações mecânicas no Brasil, no ano de 1902, alterou as estruturas e
  os métodos de organização, divulgação, produção e comercialização do mercado musical
  no Brasil. O mercado pouco a pouco passou a ser fortemente influenciado pela entrada de


118
A Casa Edison e a formação do mercado fonográfico no Rio de Janeiro
                          no final do século XIX e início do século XX


empresas estrangeiras que forneceram novas tecnologias, mercadorias importadas e técni-
cas modernas de produção. Os acordos estabelecidos entre Frederico Figner e essas empre-
sas possibilitaram que a Casa Edison, no decorrer da primeira década do século XX, al-
cançasse um lugar de destaque ao ter o controle e os direitos exclusivos de distribuição dos
seus discos para o Brasil. Essas negociações movimentaram o mercado nacional e foram
fundamentais para consolidar os negócios de Figner com a música mecânica e dar início
ao processo de profissionalização das carreiras dos cantores por intermédio da negociação
dos direitos autorais das suas canções. Entrava em cena a figura do empresário responsável
pela divulgação e agenda de shows. Ao fim da primeira década do século XX, o mercado
musical da capital federal vive um momento de prosperidade devido à sua grande expan-
são, ao aumento expressivo no número de músicas gravadas e na venda de discos, tendo
a oportunidade de inaugurar, no ano de 1913, a primeira fábrica de discos em território
brasileiro, única no hemisfério sul a dominar as técnicas modernas e inovadoras de grava-
ção que alteraram significativamente suas formas de produção e distribuição.
     O incipiente mercado fonográfico no Brasil é marcado pela influência do mercado
de entretenimento da capital federal que se expandia e lançava novos artistas, modas e
canções. A crescente demanda por entretenimento valeu-se, sobretudo, dos meios tecno-
lógicos recém-inventados, como as gravações mecânicas. A expansão da música gravada
levou o seu consumo para além do ambiente privado das elites, para ser compartilhado
por indivíduos de origens distintas. Aos poucos, criou-se um crescente mercado impulsio-
nado pela grande demanda de máquinas falantes. Walter Benjamin, ao avaliar o processo
que levou ao consumo e aos novos meios de contato com a música, conclui que o resul-
tado foi uma progressiva mudança no interior da sociedade, em um caminho aberto para
novas formas de experiências e transformações. Esses novos e modernos suportes sonoros
alteram a forma de consumir música, sem a necessidade de ir ao seu lugar de origem, como
nos concertos ou teatros, ou ter conhecimentos técnicos específicos para sua audição e seu
consumo.
     Os negócios de Frederico Figner se inserem no complexo cenário da capital fede-
ral marcado pelas transformações urbanísticas e sanitárias, entradas de novas tecnologias
de gravação e reprodução musical, expansão do mercado consumidor, existência de um
mercado musical expressivo e de múltiplos ambientes destinados ao entretenimento. O
empresário negociou e dialogou com esse cenário e por ele foi influenciado e moldado.
Ele foi um atento observador das expressões musicais e artísticas e, por meio delas, buscou
iniciar os seus negócios com a música. Ele circulou por diferentes espaços para conhe-
cer e mapear os músicos e cantores de maior expressão e sucesso no cenário musical para
convidá-los a gravarem suas canções em seus cilindros. Os primeiros acordos e as primei-
ras gravações foram realizados a partir da sua inserção nesse cenário, no qual ele interagiu
e negociou. Foram o diálogo e as trocas com esse mercado musical que permitiram a ele
estruturar seu comércio com a música gravada e com os produtos de bens de consumo
americano. O crescente mercado consumidor e a rede de comércio eram formados pelas


                                                                                          119
Eduardo Gonçalves



  livrarias, cantores, público e os diferentes espaços destinados ao entretenimento na cida-
  de. Os negócios de Frederico Figner com as gravações mecânicas nasceram vinculados
  ao cenário cultural existente, ambiente este que forneceu as bases estruturais para a sua
  posterior expansão e consolidação.
       Na virada do século XIX para o XX, Frederico Figner encontrou no Rio de Janeiro
  um lucrativo mercado habituado ao consumo de música em forma de partituras para pia-
  no. Para adentrar e transformar esse cenário, o empresário criou um conjunto de publi-
  cações para divulgar e abrir espaço para suas máquinas falantes, para as canções gravadas
  em um novo suporte e para os produtos de bens de consumo que comercializava. Com
  objetivo de despertar a atenção do público e criar uma frente de divulgação em vários
  ambientes da capital federal e para outros estados, Figner desenvolveu uma série de ações,
  como os acordos estabelecidos com empresas estrangeiras para comercializar cilindros
  com músicas de gêneros musicais em voga na Europa que já alcançavam sucesso no cená-
  rio musical da capital federal. Elaborou catálogos gratuitos para divulgar seus produtos e
  suas gravações e criou um consórcio para que os cotistas recebessem um fonógrafo ao final
  do pagamento de um número de parcelas ou em caso de sorteio. O empresário teve a visão
  de mercado para inserir os seus negócios no Rio de Janeiro e desenvolver ações de divulga-
  ção para conquistar os consumidores. Foram essas ousadas estratégias que contribuíram
  para o sucesso dos seus empreendimentos e fizeram dele um reconhecido empresário no
  mercado musical brasileiro e internacional.
       O período de atuação da Casa Edison é marcado pela construção do conceito de
  fonografia e do cantor como artista reconhecido em sua relação com o mercado e com as
  casas gravadoras. O exame dos catálogos da gravadora traz importantes elementos para
  analisar a trajetória de cantores que gravaram de forma pioneira as suas músicas, estraté-
  gias de divulgação, repertório e o ambiente no qual atuavam. A diversidade musical pre-
  sente nos catálogos da gravadora mostra que os investimentos feitos por Frederico Figner
  se justificam pela existência de um público que consumia essas canções e pela crescente
  demanda do mercado de gravações que se formava no Brasil.
       O mercado fonográfico do início do século XX é caracterizado pela tentativa de
  ampliar e criar uma rede de comercialização de bens culturais, por meio da contratação
  de cantores e músicos, criação de meios de divulgação com a publicação dos primeiros
  catálogos de máquinas falantes e canções registradas no Brasil, e início da estruturação e
  expansão de uma rede de negócios para além da capital federal. A nascente indústria fo-
  nográfica brasileira precisou estruturar a sua interação com outros meios de comunicação
  para reproduzir e ampliar a difusão pública da música e estabelecer acordos com empresas
  internacionais para fornecerem a tecnologia necessária para iniciar o processo mecânico
  de gravação. Havia a necessidade de estimular o consumo, transformar o hábito de ouvir
  música e buscar a inserção nas mídias disponíveis, para conseguir uma amplitude maior
  na divulgação das mercadorias, com objetivo de organizar simultaneamente a produção,
  a distribuição e o consumo.


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A Casa Edison e a formação do mercado fonográfico no Rio de Janeiro
                          no final do século XIX e início do século XX


     Os impactos provocados pela entrada dos fonógrafos e gramofones, com o início das
gravações mecânicas, a tentativa em criar e expandir uma rede de comércio que cobrisse
a maior parte do território nacional, e as negociações com as empresas multinacionais do
ramo fonográfico, marcaram profundamente as estruturas do mercado musical no Brasil
e serviram para construir as bases para expansão e início do processo de consolidação do
mercado fonográfico brasileiro.

                                                  Recebido em 7 de novembro de 2011.
                                  Aprovado para publicação em 19 de dezembro de 2011.



Notas
1.
   As casas de chope, também conhecidas como chopes berrantes, eram pequenos teatros
ao ar livre, com palco para apresentação de cantores. O Teatro Jardim Concerto da Velha
Guarda, localizado no Largo da Carioca, e o Teatrinho do Passeio Público, eram os de
maior destaque, frequentados predominantemente pelo público masculino. As apresen-
tações dos cantores eram gratuitas, bastava o público pagar uma taxa para consumação
de cerveja. A partir do final do século XIX, várias cervejarias começaram a se instalar no
Brasil e se associar aos espaços de diversão. Para popularizar a bebida e consolidar a sua
marca, a Brahma investiu na divulgação e no comércio da bebida nas casas de chopes.
2.
   A matéria sobre o registro da primeira gravação realizada por Figner com o discurso im-
provisado do advogado Dr. Cabral contra a República, em Belém, foi publicada na edição
de 17 de dezembro de 1982 da Gazeta Americana de Porto Alegre.
3.
   Antes de Figner, a capital federal já havia presenciado algumas demonstrações experi-
mentais com os fonógrafos. Em julho de 1878, durante a Conferência da Glória, e na loja
Ao Grande Mágico, localizada na Rua do Ouvidor, e em novembro de 1889, nas sessões
privadas realizadas pelo comendador Carlos Monteiro de Souza (Franceschi, 2002, pp.
18-22).
4.
   O grafofone foi desenvolvido por Alexander Graham Bell, como um modelo aperfei-
çoado dos fonógrafos de Thomas Edison. Os cilindros permitiam múltiplos usos de uma
mesma gravação, mas tinham a desvantagem de não possibilitarem reproduções em série.
5.
   Os irmãos Charles e Jules Ullman foram personagens importantes na história da Casa
Edison. Em 1903, ajudaram a fundar a International Talking Machine, empresa que esta-
beleceu uma série de acordos com Figner para a distribuição dos seus discos no Brasil e
para a instalação, no ano de 1913, da primeira fábrica da Odeon em território nacional.
6.
   Emile Berliner foi o responsável pela escolha da pintura A voz do dono (His Master’s
Voice), de Francis Barraud, para estampar os seus produtos. Nela um cão terrier ouve aten-
tamente um dos seus gramofones com a logomarca do seu invento.



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Eduardo Gonçalves



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      biente: a paisagem sonora. São Paulo: Editora UNESP, 2001.
  VIEIRA, Caroline Moreira. Ninguém escapa do feitiço: música popular carioca, afro-
      -religiosidades e o mundo da fonografia (1902-1927). Dissertação de Mestrado,
      Rio de Janeiro, UERJ, 2011.

  Ilustrações
  Figura 1 – página 111
  Capa do primeiro catálogo editado no Brasil por Frederico Figner, em 1900.
  In: FRANCESCHI, Humberto Moraes. A Casa Edison e seu tempo. Rio de Janeiro: Sa-
  rapuí, 2002. Referência: CD-ROM de documentos, pasta imagens, referência I0011193.
  Figura 2 – página 113
  Capa do primeiro catálogo da Casa Edison de 1902.
  In: FRANCESCHI, Humberto Moraes. A Casa Edison e seu tempo. Rio de Janeiro: Sa-
  rapuí, 2002. Referência: CD-ROM de documentos, pasta imagens, referência I0011194




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  • 1. A Casa Edison e a formação do mercado fonográfico no Rio de Janeiro no final do século XIX e início do século XX A Casa Edison e a formação do mercado fonográfico no Rio de Janeiro no final do século XIX e início do século XX Eduardo Gonçalves* Resumo O presente artigo tem por objetivo desenvolver uma reflexão sobre a formação da indús- tria fonográfica no Brasil a partir da atuação da primeira gravadora brasileira de discos, a Casa Edison, no contexto do efervescente mercado musical da capital federal do final do século XIX e início do XX. A Casa Edison foi um espaço polifônico que dialogou com diversos gêneros musicais, compositores, empresários e intérpretes, indispensáveis para sua estruturação e expansão. Palavras-chave: Música; indústria fonográfica; Casa Edison. Abstract The “Casa Edison” and the formation of the music market in Rio de Ja- neiro in the late 19th and early 20th century This paper discusses the relations between the agrarian question and the modernization. I compare the agrarian studies of Lenin and Max Weber. Both authors made an analysis of the rural world as a critical element in their understandings on modernization, discussing comparatively the Russian, German and North American cases. I argue in favor of the possibility of a convergent reading of the authors by looking at a series of common prob- lems of the modernization process in periphery or late capitalism cases. Keywords: Music; phonograph industry; Casa Edison. Eduardo Gonçalves é Mestre em História Social da Cultura pela PUC-Rio. Graduou-se em História na 1. PUC-Rio em 2009. Atualmente é pesquisador do Núcleo de Memória da PUC-Rio. E-mail: eg.historia@gmail.com Desigualdade & Diversidade – Revista de Ciências Sociais da PUC-Rio, nº 9, ago/dez, 2011, pp. 105-122 105
  • 2. Eduardo Gonçalves Na passagem do século do século XIX para o XX, a cidade do Rio de Janeiro vivia um momento de intensa movimentação cultural ocasionado pela expansão de novas op- ções de entretenimento como os cinemas, teatros, cafés-concerto, casas de chope,1 circos e teatros, que associavam a diversão e o lazer aos gêneros musicais em voga na cidade. A ca- pital federal presenciou a chegada de grupos estrangeiros e de novos produtores, técnicos, diretores, instrumentistas e demais profissionais associados ao mundo dos divertimentos, e a estruturação de grupos teatrais nacionais e de espetáculos musicais e de dança. O Rio de Janeiro era o ambiente mais cosmopolita do país, a cidade brasileira em que a diversi- dade de ritmos musicais era mais intensa. Nesse cenário repleto de novidades, de trocas aceleradas de informações e possibilidades visíveis de negócios, surgem novos cantores, compositores, músicos e empresários atentos às múltiplas formas e espaços destinados à diversão e ao lazer que a capital federal oferecia e ainda estava por oferecer. Durante esse período, a atividade musical na capital federal iniciou seu processo de expansão e popularização. O mercado musical e de entretenimento começou a conquistar seu próprio espaço por intermédio das publicações do circuito lítero-musical com a edi- ção dos cancioneiros que ganhavam a cidade e a presença de diversos ambientes culturais, como os circos, teatros e music halls. Com a chegada das técnicas de gravações mecânicas, dos fonógrafos e gramofones, aos poucos começa a se estruturar na capital federal uma rede de negócios e relações que envolveu casas comerciais nacionais e empresas estrangei- ras, consumidores e artistas de diversas origens ligados ao universo musical, que pouco a pouco se expandiu para outros estados brasileiros. Os modernos aparelhos que reproduzem músicas gravadas alteraram o modo como o homem se apresenta, interage e percebe o mundo. O espaço privado pelo qual ele “age conscientemente é substituído por outro em que sua ação é inconsciente” (Benjamin, 1994, p. 189), ao entrar em contato com o ambiente envolvido pelas ondas sonoras. A música amplia a experiência perceptiva no interior do lar, altera a sua rotina diária e com- partilha a canção reproduzida com toda a família, por meio de uma espécie de “percep- ção coletiva [...] nesses novos espaços de liberdade” (ibidem, p. 190). O fonógrafo e o gramofone contribuíram para as transformações e “metamorfoses profundas do aparelho perceptivo, como as que experimenta o passante, numa escala individual, quando enfrenta o tráfego” (ibidem, p. 192). O desenvolvimento das técnicas de registro e reprodução so- nora fez com que os indivíduos se identificassem com uma música gravada e reproduzida em larga escala, e possibilitou a criação de laços simbólicos e afetivos com uma canção apropriada e consumida por vários outros sujeitos. Para compreender as alterações provocadas pela música gravada e seus suportes de reprodução, Raymond Murray Schafer cunhou o conceito de esquizofonia para examinar a quebra ocorrida entre o som original/natural e a fase posterior da sua transmissão e reprodução para outros espaços. O autor assinala que, no princípio, todos os sons eram originais, pois somente ocorriam em um determinado tempo e lugar, inseparáveis dos me- canismos de produção. A partir da invenção de equipamentos que possibilitaram gravar, 106
  • 3. A Casa Edison e a formação do mercado fonográfico no Rio de Janeiro no final do século XIX e início do século XX transmitir e reproduzir sons, houve a separação entre o som e o seu respectivo produtor. Os sons ganharam autonomia ao serem manipulados, movimentados, transportados e amplificados. Essa transformação criou [...] uma paisagem sonora sintética na qual os sons naturais es- tão se tornando cada vez mais não-naturais, [pois a gravações sempre incorporam distorções harmônicas e ruídos, por mais fidedignas que sejam], enquanto substitutos feitos a máquina são os responsáveis pelos sinais operativos que dirigem a vida moderna. (Schafer, 2001, p. 135) As mídias sonoras afetaram a percepção dos ouvintes de forma avassaladora. Cada som participante da paisagem sonora era único e irrepetível até que as formas de media- tização técnica surgiram, aperfeiçoaram-se e provocaram o abalo na natureza, produção e difusão do som. As máquinas falantes deram mais autonomia ao som. Este passou a ser ouvido em qualquer lugar da casa, nas ruas e estabelecimentos, distante do seu local original de produção. Esse processo único possibilitou, pela primeira vez na história, a libertação do som do espaço e do tempo. O primeiro contato de Frederico Figner com os aparelhos de fonógrafos ocorreu em 1889, no Texas. Seu cunhado foi o responsável por lhe mostrar pela primeira vez as máquinas que reproduziam sons. Figner vivia nos Estados Unidos desde o ano de 1882, país no qual se naturalizou. Em agosto de 1891, ele desembarcou em Belém (PA) com fo- nógrafos da Pacific Phonograph Company e cilindros, baterias e vidros para os diafragmas para o período de ano. Durante sua estada, realizou as primeiras gravações de discursos públicos, lundus, modinhas e operetas brasileiras no próprio Hotel Central em que esta- va hospedado.2 Com a exibição da reprodução desse material nos fonógrafos, Figner em apenas um mês alcançou um público de 4 mil pessoas, que pagaram 1$000 (mil réis) para ouvir os sons gravados. Após esse período, o empresário percorreu as cidades de Belém, Manaus, Fortaleza, Natal, João Pessoa, Recife e Salvador para divulgar suas máquinas fa- lantes e apresentar o processo de reprodução e gravação dos sons. Em abril de 1892, com 26 anos, Frederico Figner chegou à capital federal com suas máquinas falantes, mas como a cidade vivia sob o temor da febre amarela, ele optou por prosseguir a excursão para exi- bição do fonógrafo para outras cidades brasileiras, dentre elas São Paulo, Campinas (SP), Ribeirão Preto (SP), Piracicaba (SP), Porto Alegre e Pelotas (RS) para, em seguida, partir para Montevidéu e Buenos Aires.3 Ao retornar, em 1896, Figner dedicou-se à divulgação das novidades tecnológicas em território brasileiro. Além dos fonógrafos, ele também co- meçou a comercializar o kinestoscópio, “uma espécie de armário onde uma pessoa por vez podia assistir cenas curtas, e mesclando o kinetoscópio ao fonógrafo, criou o kinetofone, uma espécie de cinema falado” (Ferlim, 2006, p. 59). Frederico Figner, “antenado” com as tendências e novidades lançadas no exterior, realizou audaciosos investimentos no merca- do musical da capital federal para dar início ao processo de gravação e comercialização de cilindros e chapas de metais. 107
  • 4. Eduardo Gonçalves Figner era um admirador das novidades tecnológicas produzidas na Europa e nos Es- tados Unidos, e tinha uma aguda sensibilidade de que a comercialização desses modernos produtos na capital federal poderia se transformar em um negócio próspero e lucrativo. Uliana Ferlim (2006, p. 59) assinala que “em tempos de deslumbramentos com a prática científica, as máquinas falantes eram o impossível concretizado, um passo adiante ao fu- turo, o desenvolvimento da civilização humana”. Ao estabelecer seus negócios na cidade do Rio de Janeiro por meio da circulação e das trocas com o mercado cultural e de entre- tenimento, Frederico Figner tinha a aguda percepção das potencialidades comerciais da capital federal, que contava um público consumidor com alto poder aquisitivo, ávido em adquirir as modernas mercadorias importadas. As gravações em cilindros para comercialização e exibição em fonógrafos já eram re- alizadas por Frederico Figner antes do início da abertura da firma em seu nome na junta comercial da capital federal, no ano de 1900. Desde 1897, James Mitchel era o grande for- necedor de fonógrafos e grafofones4 Columbia para a capital federal e tinha Figner como o seu grande comprador. No final do século XIX, as gravações eram feitas a partir da reutili- zação de cilindros gravados. Como eram de cera, necessitavam ser previamente raspados e polidos para então receberem as novas gravações. Em um manuscrito autobiográfico, Figner afirma que às vezes precisava ficar até a meia-noite para finalizar a raspagem dos cilindros e deixá-los prontos para receber novas gravações. Os custos totais estimados para as gravações nos cilindros nessa época eram de 2$500 (dois mil e quinhentos réis), divididos em 1$500 (mil e quinhentos réis) pelos custos do cilindro mais o valor de 1$000 (mil réis) por canção gravada. O preço de venda ao consumidor era de 5$000 (cinco mil réis) por cilindro, o que gerava um lucro de 100% por canção gravada. Os rendimentos poderiam ser maiores em caso de uso de cilindros virgens, cilindros que não passavam por desgaste durante o processo de polimento ou aqueles que não sofriam acidentes durante a gravação, como arranhões ou rachaduras. A partir do início do século XX, os cilindros moldados “produzidos em massa a partir de um processo eletrolítico de pulverização a ouro inventado por Edison” (Frances- chi, 2002, p. 36) eliminaram a necessidade de raspagem e gravação de um cilindro por vez. Frederico Figner passou a fazer a reprodução direta para os cilindros virgens por meio do: [...] método de transferência dos registros sonoros de um cilin- dro para outro. Usava-se, no original, uma agulha reprodutora de ponta esférica e montada paralela a ela, e a ela também ligada, corria uma agulha de corte sobre o cilindro virgem gravando o conteúdo do cilindro original. (ibidem, p. 40) No final do século XIX, Figner não era o único que realizava gravações em cilindros na capital federal. Uma forte concorrente no comércio de música gravada em cilindros era a casa Ao Bogary. Registrada no dia 18 de abril na junta comercial da capital federal, per- tencia aos portugueses Arthur Augusto Villar Martins e Arnaldo Castilho Natividade de Castro. Eles dominavam a técnica de gravação, a venda de cilindros e eram representantes da Gramophone Company de Londres, responsáveis pela comercialização dos discos Berli- 108
  • 5. A Casa Edison e a formação do mercado fonográfico no Rio de Janeiro no final do século XIX e início do século XX ner de sete polegadas gravados na Europa. Os acordos estabelecidos entre a Gramophone Company e a casa Ao Bogary garantiam exclusividade para distribuição dos discos pro- duzidos pela empresa londrina no Brasil. Esses discos tinham a particularidade de trazer [...] além da marca AGEL da Gramophone e dos dizeres refe- rentes à identificação, a marca AO BOGARY – 69 – RUA DO OU- VIDOR, impressa a quente na própria massa de Vulcanite do disco. [...] A gravadora inglesa também imprimia, nos discos, sua marca registrada: a figura de um anjo desenhando um círculo em sua volta com uma pena de pato. (ibidem, p. 32) Os empresários da Ao Bogary utilizaram artifícios similares aos da Casa Edison para divulgar suas mercadorias, como a veiculação de anúncios em jornais da época. Uma des- sas propagandas foi publicada no Jornal do Brasil, em 1902, e destaca o fato da firma ser a “primeira e a única fábrica na América do Sul para a fabricação de cilindros e impressão nítidas dos mesmos” (ibidem, p. 37). Como concorrente direta da Casa Edison, ela também anuncia a presença em catálogos de “grande repertório de cançonetas, lundus e modinhas do popularíssimo Eduardo das Neves” (ibidem, 2002, p. 37), famoso palhaço que apresentava no picadeiro, com seu violão, as suas composições de diversos gêneros musicais, e circulou por diversos espaços de entretenimento da capital federal, sendo um dos cantores pioneiros no registro das suas canções nos primeiros discos gravados pela Edison em 1902. Frederico Figner, observador atento do mercado e das estratégias dos concorrentes, saiu em busca de novas mercadorias importadas para comercializar por meio do acordo estabeleci- do com os irmãos Charles e Jules Ullman,5 proprietários da fábrica Phrynis. O acordo firmado possibilitou que “as músicas gravadas pela Casa Edison [fossem] [...] as mesmas encontradas nos cilindros Phrynis e nos discos Zonophone e, mais tarde, nos discos Odeon oferecidos nos catálogos da Casa Edison a partir de 1902” (ibidem, p. 37). Figner tornou-se o único repre- sentante no Brasil dos cilindros importados da Phrynis. Para incrementar os negócios, ele conseguiu importar diretamente para o Brasil os cilindros virgens da National Phonograph Company por meio do acordo realizado com a firma Davidson Pullen & Cia, com sede na Rua da Quitanda, nº 119, no Rio de Janeiro. Era por intermédio dessas negociações com empresas estrangeiras que Frederico Figner procurava ampliar e diversificar os seus negócios no mercado musical e de entretenimento da capital federal, expandir suas atividades para outros estados do Brasil e enfrentar a concorrência. A presença de outras casas gravadoras, dispostas a comercia- lizar músicas gravadas e fazer acordos para distribuição exclusiva com empresas estrangeiras, mostra a existência de um mercado consumidor em formação na capital federal, interessado nas novidades tecnológicas lançadas na Europa e nos Estados Unidos. No final do século XIX, o mercado de gravação de cilindros de cera era restrito e não conseguia alcançar expressão comercial significativa na capital federal por não permitir a produção de cópias para fins comerciais. Contudo, no início do século XX, os cilindros alcançaram grande sucesso de vendas no mercado internacional e brasileiro. Humberto Franceschi aponta que a partir do ano de 1901, após surgir no mercado cilindros mol- 109
  • 6. Eduardo Gonçalves dados em cera dura e de alta velocidade, a produção de gravações em cilindro começou a tomar impulso e ter forças para se expandir comercialmente. O resultado desse processo pode ser comprovado nos primeiros catálogos da Casa Edison, que divulgam grande va- riedade de cilindros com gravações de canções de artistas internacionais e brasileiros e a comercialização de diversos modelos de fonógrafos para reprodução das músicas. Os catálogos da Casa Edison, elaborados e editados por Frederico Figner, são impor- tantes fontes primárias para examinar o impacto, a circulação e a quantidade de cilindros comercializados pela gravadora, além dos acordos estabelecidos com empresas estrangei- ras para a comercialização das máquinas falantes, cilindros e discos, e os negócios com a venda de produtos de bens de consumo. Eles são meios modernos de divulgação de produtos, artistas e da própria gravadora, criados para serem distribuídos gratuitamente aos seus clientes e novos consumidores em potencial do mercado em expansão da capital federal. São suportes fundamentais para ampliação das atividades de comércio para outros estados brasileiros e para auxiliar na consolidação das estratégias mercadológicas de Fre- derico Figner na capital federal. Theodor Adorno e Max Horkheimer consideram a pu- blicidade o elixir da vida, pois é a propaganda que contribui para reforçar o “vínculo que liga os consumidores às grandes firmas” (Adorno, 2002, p. 66). A publicidade em torno da gravadora era fundamental para consolidar a sua marca, criar uma rede de comércio e divulgar o nome da Casa Edison e seu cast de cantores. Frederico Figner dedicou-se à publicação de uma variedade de catálogos com a rela- ção dos produtos que comercializava. No ano de 1900, foi publicado o seu primeiro ca- tálogo no Brasil, período no qual importava e negociava os produtos diretamente em seu nome. Em 1902, publicou o primeiro catálogo que traz na capa o nome da Casa Edison. Havia também os catálogos de divulgação dos produtos negociados com a marca Odeon, espécie de suplemento editado com periodicidade bimestral e trimestral. Esses catálogos divulgavam anúncios musicais e a relação das bandas e artistas contratados pela gravado- ra e que tinham seus discos prensados na fábrica da Odeon, no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, por meio do acordo firmado com Frederico Figner no ano de 1912. Outros catálogos das filiais da Casa Edison estabelecidas em São Paulo e no Rio Grande do Sul eram publicados com a relação das gravações das músicas dos artistas locais. A ausência de custos para envio e a extensão dos catálogos, aproximadamente com 50 páginas, evidencia o alto investimento feito por Figner para sua confecção, impressão e distribuição, e mostra que esse tipo de publicidade era um importante catalisador de novos clientes e meio fun- damental de divulgação para alavancar as suas vendas e constituir uma rede de negócios. No final do ano de 1897, Frederico Figner abriu um estabelecimento comercial na Rua Uruguaiana, nº 24, apenas como comerciante de fonógrafos e cilindros. Em 1900, ele editou nesse sobrado o primeiro catálogo publicado no Brasil com anúncios de todos os produtos que comercializava. A capa destaca o nome de Figner em letras maiúsculas como responsá- vel pela importação direta de “phonographos, graphophonos, phonogrammas e pertences” (Franceschi, 2002, CD-ROM 1 - Documentos). O catálogo de 1900 ainda não dispunha de anúncios das mercadorias de bens de consumo importadas dos Estados Unidos, importantes fontes de lucros para a expansão dos seus negócios nos anos seguintes. 110
  • 7. A Casa Edison e a formação do mercado fonográfico no Rio de Janeiro no final do século XIX e início do século XX Figura 1 Capa do primeiro catálogo editado no Brasil por Frederico Figner, em 1900 A capa do catálogo de 1900 traz em destaque um dos aparelhos que impulsionaram as vendas e alcançaram grande sucesso comercial dentre as mercadorias comercializadas por Figner, o “Graphophono ‘Mignon’, modelo aperfeiçoado e lindíssimo aparelho em aparên- cia, sólido em construção, de corda contínua, montado em uma caixa elegante, importado da América do Norte, [com] diafragma reprodutor com ponteiro de safira” (idem). Mesmo com o desafio de examinar o catálogo apenas pela sua capa, é possível obter pistas cruciais sobre as estratégias de atuação de Frederico Figner no mercado musical e de entretenimen- to da cidade do Rio de Janeiro. O graphophone era uma máquina falante modelo tipo “L para a transmissão de voz, [por meio de] uma pequena corneta, um tubo duplo de borracha para o ouvido” (Franceschi, 2002, p. 46). Para iniciar a divulgação dessa novidade técnica fundamental para aquecer os seus negócios, Figner, a partir da proposta do seu sócio inglês Bernard Wilson Shaw, foi o responsável pela criação de um moderno clube denominado Clube dos Grafofonos. O Clube era uma espécie de consórcio, com objetivo de conquistar novos sócios, divulgar as novidades técnicas que comercializava e oferecer a possibilidade para quem não tinha condições financeiras de comprar à vista uma máquina falante por meio do sistema de cotas. Figner foi o responsável pela divulgação e pela parte técnica do Clube, dada a sua intimidade com o manuseio das máquinas falantes, enquanto Bernard Shaw ficou encarregado de conquistar novos sócios. O Clube sorteava apenas os grafofones 111
  • 8. Eduardo Gonçalves da Columbia, o mesmo modelo que estampa a capa do catálogo de 1900. Cada clube era formado por grupos de cem sócios, que pagavam 5$000 (cinco mil réis) por semana. Quem não era sorteado pagava as cotas até o final de 50 semanas para retirar seu aparelho. Ao ser formado o quarto grupo de sócios, Bernard Shaw decidiu sair da sociedade e rece- beu 50% dos lucros. Figner prosseguiu com os negócios e chegou a formar um total de 27 gru- pos, com um número total de 2700 sócios e um capital que “girava em torno de 50:000$000 [cinquenta contos de réis] por mês, fora o que recebia dos fonógrafos vendidos aos sócios antes do término do pagamento” (ibidem, p. 46). O capital arrecadado com o Clube dos Grafofonos foi fundamental para Figner expandir seus negócios no mercado musical e de entretenimento da capital federal. O clube representou um passo importante para a criação de uma rede de contatos e consumidores das mercadorias, para estruturar de forma mais sólida os seus empre- endimentos. Para iniciar a divulgação dos primeiros artistas e canções estrangeiras e brasileiras, o mercado precisava ter o mínimo de conhecimento e preparo para consumir e reproduzir as músicas em um novo suporte físico sonoro. Figner estava atento à rápida mudança tecnológica e teve a arguta visão de criar e oferecer meios para iniciar a divulgação e a venda das máquinas falantes pela capital federal, ao mesmo tempo em que elaborava meios e estratégias para difun- dir e comercializar as músicas gravadas em cilindros. Divulgar e ensinar a pedagogia da nova tecnologia foram os meios necessários para pavimentar a estrada que daria acesso e expandiria os seus negócios com a música gravada nos anos seguintes. O exame do catálogo de 1900 mostra que, no período inicial de formação do merca- do fonográfico no Brasil, os negócios de Frederico Figner estavam voltados para a criação e formação de um público consumidor que não estava habituado a ouvir e consumir mú- sica gravada mecanicamente. Essa fase inicial, na qual as ações do empresário aos poucos começam a ser postas em prática, mostra a ênfase e a importância em divulgar para um número cada vez maior de pessoas as novidades técnicas importadas dos Estados Unidos. Antes de divulgar os artistas e os cantores nacionais, foi necessário criar o hábito e ensinar as técnicas para o manuseio das máquinas de reprodução de chapas de metais e cilindros de cera, pois o público estava acostumado a consumir música em partituras para piano ou em locais coletivos específicos como teatros, music halls e bares. O primeiro catálogo editado por Frederico Figner no Brasil aponta que as primeiras ações para a implantação de um mercado fonográfico no país nasceram de interesses pessoais de indivíduos que buscavam divulgar a nova tecnologia de reprodução sonora, por verem a possibilidade de fazer bons negócios no mercado em potencial que surgia no Rio de Janeiro. Antes do início das gravações mecânicas, foi necessário criar meios para estruturar a arte fo- nográfica no Brasil. As ações individuais de Frederico Figner e de outros empresários da épo- ca foram importantes para a divulgação das máquinas falantes, para estabelecer os primeiros acordos com empresas estrangeiras do ramo da música e para criar um público consumidor, que aos poucos transformou o seu hábito e começou a consumir músicas gravadas. Foram essas ações dispersas e focadas na distribuição e na venda das novidades americanas que de- ram o passo inicial para a construção do mercado fonográfico brasileiro, fundamentais para 112
  • 9. A Casa Edison e a formação do mercado fonográfico no Rio de Janeiro no final do século XIX e início do século XX que pouco a pouco as músicas gravadas mecanicamente começassem a despertar o interesse e marcar a sua presença no cotidiano das pessoas e dos diferentes espaços da cidade. Dois anos após a primeira divulgação das mercadorias por Frederico Figner, um novo catálogo é publicado e traz em sua capa o nome que tornou o seu empreendimento reco- nhecido na capital federal, a Casa Edison, nome atribuído sem nenhuma preocupação com registro ou ações judiciais, pois o empresário estava interessado apenas em prestar uma ho- menagem ao inventor americano das máquinas falantes, Thomas Edison. A importância desse catálogo está no fato dele trazer a relação dos primeiros discos gravados em território brasileiro, o que permite examinar a produção da Casa Edison, as músicas e os artistas que circulavam pelo mercado da capital federal e que gravaram as suas canções na gravadora. No catálogo, está presente a diversidade de mercadorias que Frederico Figner começou a nego- ciar, a partir de 1902, como distribuidor de novidades de bens de consumo importadas dos Estados Unidos. No início do século XX, ainda não havia uma produção de bens de consu- mo em escala industrial no Brasil que pudesse dar conta e atender a crescente demanda por essas mercadorias. Figner aproveitou esse filão de mercado para diversificar os seus negócios e juntar as novidades de bens de consumo ao comércio das máquinas falantes. Entretanto, mesmo com o aumento dos produtos comercializados no catálogo, os maiores lucros eram obtidos com o comércio de gravação e com a venda de cilindros musicais. Figura 2 Capa do primeiro catálogo da Casa Edison, de 1902 113
  • 10. Eduardo Gonçalves Frederico Figner descreve um dos motivos para elaboração do primeiro catálogo da Casa Edison, pois eram “constantes os pedidos mormente dos Estados da República” (Franceschi, 2002, CD-ROM 1 – Documentos). Por isso, viu a necessidade de consolidar a relação dos produtos que comercializava para divulgar para os fregueses e seus futuros compradores. O catálogo de 1902 da Casa Edison tem um total de 54 páginas. As 16 páginas iniciais são dedicadas à divulgação e explicação das machinas falantes importadas, enquanto a relação das canções nacionais e estrangeiras comercializadas pela gravadora é divulgada a partir da página 17. O destaque nas primeiras páginas do catálogo para as no- vidades americanas evidencia o lugar e o significado que as primeiras gravações de canto- res e bandas nacionais e estrangeiras exerceram para os negócios de Frederico Figner. Esta análise reforça o argumento de que, no processo de formação do mercado fonográfico no Brasil, a estratégia inicial estava na divulgação das novas máquinas de reprodução musical para conquistar espaço e marcar presença no cotidiano das famílias e das cidades. A co- mercialização desses aparelhos veio acompanhada da explicação da arte fonográfica e da necessidade pedagógica de ensinar a operacionalizar essas novidades industriais. O catá- logo de 1902 mostra que, no momento inicial de estruturação do mercado fonográfico no Brasil, foi necessário criar o hábito de consumo baseado em uma nova estrutura tecnoló- gica que pudesse oferecer meios para o consumo da música gravada. Durante esse período de transição, a principal transformação estava na adaptação de um mercado acostumado ao hábito de consumir música comercializada em partituras para piano, para pouco a pou- co introduzir um novo tipo de suporte com a chegada dos cilindros para fonogramas e dos discos para gramofones. Esse novo cenário, caracterizado pela mudança cultural na maneira como as pessoas consumiam música, marcou o início do processo de autonomia e expansão dos negócios relacionados à música e a presença das canções brasileiras e estran- geiras em diferentes espaços da capital federal e para outros estados brasileiros. O exame do primeiro catálogo da Edison mostra que o número total de músicas estrangeiras quase se iguala ao número de canções brasileiras à venda. Dentre as 787 músicas encartadas no catálogo, 380 títulos, ou aproximadamente 48%, são de músicas estrangeiras, enquanto que 407 títulos, ou 52%, são de canções executadas por artistas e bandas brasileiras. Alguns fatores contribuíram para a forte presença de gêneros musicais estrangeiros no primeiro catálogo da Casa Edison. Com o início do processo mecânico de gravação das músicas na Europa e nos Estados Unidos, gêneros em voga foram os primeiros a serem registrados e divulgados por empresas estran- geiras em mercados emergentes para expansão dos seus negócios. A comercialização dos fonógrafos e dos gramofones e os acordos es- tabelecidos com empresas estrangeiras possibilitaram aos poucos a ampliação desse mercado para o Brasil. Figner, negociador em bus- ca da divulgação e consolidação do seu empreendimento, aprovei- 114
  • 11. A Casa Edison e a formação do mercado fonográfico no Rio de Janeiro no final do século XIX e início do século XX tou o sucesso das óperas italianas e de outros gêneros estrangeiros já conhecidos do público consumidor de partituras para piano para divulgá-los nos catálogos junto com as demais músicas, com objetivo de impulsionar as suas vendas e expandir os negócios com as novas gravações realizadas em território nacional. Há uma estreita relação comercial entre a Casa Edison e os gêneros musicais em voga no início do século XX. As músicas estrangeiras e brasileiras, sobretudo as de maior po- pularidade, pouco a pouco passaram a ser registradas e consumidas por um público cada vez maior, ainda que restrito no momento inicial da sua comercialização. As modinhas, por exemplo, abordavam temas da atualidade com grande repercussão no início do século XX no Brasil. Frederico Figner, impulsionado pelo desejo de fazer bons negócios, gravou na Casa Edison um repertório das modinhas de maior sucesso na época. Os discos com essas gravações alcançavam grande popularidade, momento oportuno para investir nessas gravações para obter bons lucros. O catálogo da Casa Edison de 1902 atesta esse sucesso ao destacar um total de 54 “modinhas cantadas e tocadas ao violão pelo popularíssimo Bahiano” (idem). Bahiano, ou Manuel Pedro dos Santos, conhecido cantor no cenário cultural e de entretenimento do Rio de Janeiro, foi o responsável pela primeira gravação em disco realizada no Brasil, com o lundu Isto é Bom, do compositor Xisto Bahia. O repertório gravado nos primeiros meses de atividade da Casa Edison e divulgado no catálogo de 1902 foi variado. Os primeiros gêneros musicais registrados nos discos por músicos brasileiros foram as modinhas, valsas, polcas, mazurcas, tangos e dobrados. Como o mercado brasileiro recebia pela primeira vez músicas registradas em processo mecânico de gravação, a estratégia de Figner foi a de mesclar no primeiro catálogo da gra- vadora os artistas estrangeiros e nacionais, e diversificar o repertório a ser comercializado. Um mesmo cantor ou banda poderia gravar gêneros musicais e temas distintos. Nessa fase inicial, não havia a segmentação de estilos e gêneros definidos, o que levava um mesmo cantor a gravar canções variadas e ritmos distintos para ampliar o alcance da sua obra e conquistar um público consumidor maior e diversificado. O exame do primeiro catálogo editado no Brasil e do primeiro catálogo da Casa Edi- son mostra que a indústria fonográfica brasileira nasceu de uma experiência inovadora, mas não exclusivamente voltada para a produção e gravação musical. O início do século XX é marcado pela incipiência e pelo início das ações para estruturação do mercado fo- nográfico no Brasil. Para criar o hábito nas pessoas de consumir música gravada, Frede- rico Figner precisou investir na importação e divulgação de fonógrafos e gramofones em seus catálogos. A presença de textos introdutórios e explicativos sobre arte fonográfica e a funcionalidade dos aparelhos assinala que, juntamente com a necessidade de forma- ção de um cast de artistas e de contar com uma quantidade considerável de títulos para comercialização, foi preciso difundir, explicar e criar o hábito nas pessoas para o uso das novidades tecnológicas de reprodução musical. Foi o sucesso com as máquinas falantes que possibilitou a Frederico Figner expandir seus negócios para o ramo das gravações me- 115
  • 12. Eduardo Gonçalves cânicas, contratar novos artistas e estabelecer acordos internacionais como distribuidor exclusivo das gravadoras estrangeiras no Brasil. Os seus negócios com a comercialização de fonógrafos e gramofones possibilitaram estruturar a primeira gravadora de discos do Brasil e foram fundamentais para dar os primeiros passos para a construção de um merca- do fonográfico no país. Desde o final do século XIX, Emile Berliner,6 alemão radicado nos Estados Unidos, fazia experiências com a gravação de disco de zinco junto com outros materiais. O ponto decisivo desse processo foi a descoberta de um método mais rápido e simples de produção de cópias, por meio da criação de uma matriz feita com cobre. Berliner dedicou-se à cria- ção de um aparelho que pudesse reproduzir o que era gravado nesses discos. O aparelho, denominado de gramofone, funcionava com uma manivela e reproduzia discos gravados com duração média de dois minutos. A forma plana dos discos permitiu a sua reprodu- ção em série e as matrizes facilitaram a produção em escala industrial. Em 1895, Berliner fundou a Berliner Gramophone Company, responsável pela criação e registro das novas invenções. Desde o final do século XIX, os discos Berliner de 78 rotações por minuto ganharam o mercado mundial e seu catálogo contava com mais de cinco mil títulos. Em 1900, surgem os primeiros gramofones no Brasil. Frederico Figner dedicou-se à importação desses aparelhos, pois havia notado que eles reproduziam os discos em volu- me mais alto que os cilindros de cera e poderiam ampliar os seus negócios com a comer- cialização da música. Entretanto, os aparelhos importados eram verdadeiros artigos de luxo e custavam pequenas fortunas, destinados às famílias com maior poder aquisitivo e que desejavam estar em sintonia com os avanços da modernidade. Seu uso restrito e segmentado dificultava a expansão do mercado fonográfico brasileiro. Como o mercado fonográfico nacional ainda não dispunha de discos gravados nessa tecnologia, Figner im- portou da Europa e dos Estados Unidos discos de bandas militares e óperas estrangeiras. Os primeiros gramofones eram acionados com os pés, por meio de uma base de má- quina de costura. Com a descoberta do invento, várias pesquisas foram realizadas para a sua melhoria técnica. Esse período, marcado pela disputa e pelo controle das patentes da máquina falante, provocou a criação de várias novas empresas do ramo nos Estados Unidos e na Europa. Frederich Prescott, que já havia construído um próspero negócio com a exportação de fonógrafos de Thomas Edison, surge nesse cenário como um perso- nagem de destaque. Em 1901, Frank Seaman, ex-agente de anúncios de vendas em jornais e revistas de Nova York e que havia se desligado da empresa de Berliner após um contur- bado período de ações judiciais pelo controle do direito da patente do gramofone, decide expandir seus negócios para fora do mercado americano e contrata Prescott como seu consultor para tratar de assuntos e acordos internacionais. No início do ano de 1901, Seaman decide fundar a Zonophone Internacional em Berlim e Prescott assume o cargo de diretor-gerente. A gravadora conseguiu rapidamente alcançar destaque no mercado europeu, ao estabelecer um catálogo com artistas famosos e reconhecidos na época, como o tenor italiano Enrico Caruso e Henriette Rosine Bernardt, renomada atriz francesa co- 116
  • 13. A Casa Edison e a formação do mercado fonográfico no Rio de Janeiro no final do século XIX e início do século XX nhecida pelo codinome de Sarah Bernhardt. Após várias ações por infração de patentes, o sucesso não impediu que a Zonophone fosse vendida para a Gramophone Company. Prescott então decidiu fundar, em agosto de 1903, com apoio de investidores franceses, a International Talking Machine. Com a fábrica construída em Weissensee, em Berlim, adotou o nome de Odeon Records e tornou-se a pioneira na produção de discos com duas faces. A Odeon tinha interesse em expandir suas atividades para fora do território europeu. Frederich Prescott sabia da existência dos negócios de Frederico Figner com o mercado de fonógrafos e gramofones. Para realizar acordos no Brasil, desde o ano de 1900, uma série de correspondências, escritas originalmente em inglês, foi enviada pela Zonophone de Ber- lim, por meio do seu diretor-geral Prescott, para estabelecer acordos e oferecer a Figner o direito a um terço da patente do disco duplo produzido pela Odeon na Alemanha e dar início ao processo pioneiro de gravações mecânicas em território brasileiro. O surgimento do disco não derrubou e eliminou o mercado de cilindros, devido à sua força comercial e aos negócios com a comercialização de fonógrafos. Entretanto, o fonógrafo apresentava algumas desvantagens, como o seu tamanho, seu complexo manejo e o fato dos cilindros se desgastarem com mais facilidade, o que prejudicava a qualidade da gravação. Em comparação, o disco é um suporte mais duradouro, de fácil manipulação, transporte, e oferece melhor qualidade sonora, fatores que contribuíram para a sua popu- larização. Humberto Franceschi sublinha a importância da gravação do disco no início do século XX: O disco era o meio real e garantido de que o sucesso das com- posições se perpetuaria e, de certa forma, se tornaria definitivo. Ao mesmo tempo, o disco não só estabelecia a transição do processo co- mercial de vendagem de partituras de piano, até então o único meio de apontar o que deveria ser sucesso, como também passou a ser o objetivo final nas aspirações de todos os compositores. (Franceschi, 2002, p. 138) Carolina Vieira Moreira destaca o significado da gravação em discos, a divulgação dos cantores e a relação com o público consumidor que se formava no mercado de entre- tenimento da capital carioca, pois era um: [...] excelente negócio para as empresas, e por outro lado, uma importante oportunidade para músicos populares e afro-descenden- tes, abrindo caminhos para ampliar sua popularidade, obter recursos financeiros que ajudasse na própria sobrevivência, conquistar pres- tígio e reconhecimento, mesmo que atingisse uma parcela diminuta dos músicos populares. (Vieira, 2011, p. 8) O processo de gravação de discos no Brasil mostra as transformações que ele trouxe para as canções, artistas e o mercado musical. Com o início do registro sonoro por meios mecânicos, o piano se tornou um instrumento inadequado não apenas pelo espaço que 117
  • 14. Eduardo Gonçalves ocupava, mas pela limitado registro de frequência disponível no improvisado estúdio de gravação. Humberto Franceschi assinala que o aparecimento da gravação elétrica mudou completamente o conceito e o modo de ouvir música. As músicas do final do século XIX e do início do século XX “eram geralmente composições instrumentais em três partes, com arranjos muito trabalhados, exigindo apuro de interpretação e algumas com letras elaboradas e longas. Duravam em torno de quatro minutos quando gravadas” (Frances- chi, 2010, p. 117). O impacto desse tipo de gravação pode ser medido ao comparar uma apresentação de um pianeiro que executava partituras em teatros e cinemas e as músicas registradas mecanicamente nos discos com duração determinada. As músicas eram gravadas nas ceras no pequeno estúdio da Casa Edison na Rua do Ouvidor, nº 105, mas o disco era encaminhado para a finalização do processo de grafita- gem na fábrica da Zonophone na Alemanha, para “tornar mais rígido os sulcos produzidos pela agulha de gravação e possibilitar a transmissão da corrente elétrica” (idem). A lingua- gem musical, ao ser registrada nos discos, tornou-se mais rígida ao fixar uma unidade de modelo na melodia e no gênero musical gravado, sem possibilidade para improvisações. A gravação e a prensagem de um disco de 78 rotações por minuto utilizam recursos técnicos para enquadrar e fixar o registro sonoro, como os arranjos de uma canção. Dois exemplos ilustram as transformações que a gravação dos discos trouxe para as bandas e os grupos. Nas grandes apresentações ao vivo das composições editadas em piano que alcançavam sucesso de vendagem, exigia-se a presença de até 50 integrantes para compor a orquestração. Além da redução do número de músicos e dos custos com as gravações e com a orquestração, as gravações em disco alteraram essa rotina. De posse dos direitos de gravação das músicas, Frederico Figner confiou a várias bandas militares contratadas pela Casa Edison a elaboração de toda orquestração e a gravação de diversos discos. A sonoridade produzida pelos metais era melhor que os registros feitos com canto- res acompanhados de instrumentos como o violão ou a flauta. Outro caso remete aos gru- pos de choro que surgiram por volta de 1870, utilizando flauta, cavaquinho e dois violões. Pouco a pouco, pequenos grupos se formaram e passaram a adotar instrumentos de sopro, como a clarineta e o trombone. Centenas de choros foram gravados durante as primeiras décadas do século XX. Os grupos que atuavam nessas gravações registravam apenas o que era previamente definido na pauta musical. Se o choro tocado pelos primeiros grupos per- mitia desafios musicais, ocasião na qual o flautista solista era responsável pelos improvisos durante suas interpretações, os primeiro registros de choros em disco eliminaram essa pos- sibilidade, já que o interesse estava na gravação comercial a ser executada sem improvisos e sem alterações nas melodias. Mesmo com essa mudança, a qualidade das gravações ainda surpreende pelo tipo de registro, muitas vezes até melhor que os primeiros discos gravados pela Zonophone em Berlim. O início das gravações mecânicas no Brasil, no ano de 1902, alterou as estruturas e os métodos de organização, divulgação, produção e comercialização do mercado musical no Brasil. O mercado pouco a pouco passou a ser fortemente influenciado pela entrada de 118
  • 15. A Casa Edison e a formação do mercado fonográfico no Rio de Janeiro no final do século XIX e início do século XX empresas estrangeiras que forneceram novas tecnologias, mercadorias importadas e técni- cas modernas de produção. Os acordos estabelecidos entre Frederico Figner e essas empre- sas possibilitaram que a Casa Edison, no decorrer da primeira década do século XX, al- cançasse um lugar de destaque ao ter o controle e os direitos exclusivos de distribuição dos seus discos para o Brasil. Essas negociações movimentaram o mercado nacional e foram fundamentais para consolidar os negócios de Figner com a música mecânica e dar início ao processo de profissionalização das carreiras dos cantores por intermédio da negociação dos direitos autorais das suas canções. Entrava em cena a figura do empresário responsável pela divulgação e agenda de shows. Ao fim da primeira década do século XX, o mercado musical da capital federal vive um momento de prosperidade devido à sua grande expan- são, ao aumento expressivo no número de músicas gravadas e na venda de discos, tendo a oportunidade de inaugurar, no ano de 1913, a primeira fábrica de discos em território brasileiro, única no hemisfério sul a dominar as técnicas modernas e inovadoras de grava- ção que alteraram significativamente suas formas de produção e distribuição. O incipiente mercado fonográfico no Brasil é marcado pela influência do mercado de entretenimento da capital federal que se expandia e lançava novos artistas, modas e canções. A crescente demanda por entretenimento valeu-se, sobretudo, dos meios tecno- lógicos recém-inventados, como as gravações mecânicas. A expansão da música gravada levou o seu consumo para além do ambiente privado das elites, para ser compartilhado por indivíduos de origens distintas. Aos poucos, criou-se um crescente mercado impulsio- nado pela grande demanda de máquinas falantes. Walter Benjamin, ao avaliar o processo que levou ao consumo e aos novos meios de contato com a música, conclui que o resul- tado foi uma progressiva mudança no interior da sociedade, em um caminho aberto para novas formas de experiências e transformações. Esses novos e modernos suportes sonoros alteram a forma de consumir música, sem a necessidade de ir ao seu lugar de origem, como nos concertos ou teatros, ou ter conhecimentos técnicos específicos para sua audição e seu consumo. Os negócios de Frederico Figner se inserem no complexo cenário da capital fede- ral marcado pelas transformações urbanísticas e sanitárias, entradas de novas tecnologias de gravação e reprodução musical, expansão do mercado consumidor, existência de um mercado musical expressivo e de múltiplos ambientes destinados ao entretenimento. O empresário negociou e dialogou com esse cenário e por ele foi influenciado e moldado. Ele foi um atento observador das expressões musicais e artísticas e, por meio delas, buscou iniciar os seus negócios com a música. Ele circulou por diferentes espaços para conhe- cer e mapear os músicos e cantores de maior expressão e sucesso no cenário musical para convidá-los a gravarem suas canções em seus cilindros. Os primeiros acordos e as primei- ras gravações foram realizados a partir da sua inserção nesse cenário, no qual ele interagiu e negociou. Foram o diálogo e as trocas com esse mercado musical que permitiram a ele estruturar seu comércio com a música gravada e com os produtos de bens de consumo americano. O crescente mercado consumidor e a rede de comércio eram formados pelas 119
  • 16. Eduardo Gonçalves livrarias, cantores, público e os diferentes espaços destinados ao entretenimento na cida- de. Os negócios de Frederico Figner com as gravações mecânicas nasceram vinculados ao cenário cultural existente, ambiente este que forneceu as bases estruturais para a sua posterior expansão e consolidação. Na virada do século XIX para o XX, Frederico Figner encontrou no Rio de Janeiro um lucrativo mercado habituado ao consumo de música em forma de partituras para pia- no. Para adentrar e transformar esse cenário, o empresário criou um conjunto de publi- cações para divulgar e abrir espaço para suas máquinas falantes, para as canções gravadas em um novo suporte e para os produtos de bens de consumo que comercializava. Com objetivo de despertar a atenção do público e criar uma frente de divulgação em vários ambientes da capital federal e para outros estados, Figner desenvolveu uma série de ações, como os acordos estabelecidos com empresas estrangeiras para comercializar cilindros com músicas de gêneros musicais em voga na Europa que já alcançavam sucesso no cená- rio musical da capital federal. Elaborou catálogos gratuitos para divulgar seus produtos e suas gravações e criou um consórcio para que os cotistas recebessem um fonógrafo ao final do pagamento de um número de parcelas ou em caso de sorteio. O empresário teve a visão de mercado para inserir os seus negócios no Rio de Janeiro e desenvolver ações de divulga- ção para conquistar os consumidores. Foram essas ousadas estratégias que contribuíram para o sucesso dos seus empreendimentos e fizeram dele um reconhecido empresário no mercado musical brasileiro e internacional. O período de atuação da Casa Edison é marcado pela construção do conceito de fonografia e do cantor como artista reconhecido em sua relação com o mercado e com as casas gravadoras. O exame dos catálogos da gravadora traz importantes elementos para analisar a trajetória de cantores que gravaram de forma pioneira as suas músicas, estraté- gias de divulgação, repertório e o ambiente no qual atuavam. A diversidade musical pre- sente nos catálogos da gravadora mostra que os investimentos feitos por Frederico Figner se justificam pela existência de um público que consumia essas canções e pela crescente demanda do mercado de gravações que se formava no Brasil. O mercado fonográfico do início do século XX é caracterizado pela tentativa de ampliar e criar uma rede de comercialização de bens culturais, por meio da contratação de cantores e músicos, criação de meios de divulgação com a publicação dos primeiros catálogos de máquinas falantes e canções registradas no Brasil, e início da estruturação e expansão de uma rede de negócios para além da capital federal. A nascente indústria fo- nográfica brasileira precisou estruturar a sua interação com outros meios de comunicação para reproduzir e ampliar a difusão pública da música e estabelecer acordos com empresas internacionais para fornecerem a tecnologia necessária para iniciar o processo mecânico de gravação. Havia a necessidade de estimular o consumo, transformar o hábito de ouvir música e buscar a inserção nas mídias disponíveis, para conseguir uma amplitude maior na divulgação das mercadorias, com objetivo de organizar simultaneamente a produção, a distribuição e o consumo. 120
  • 17. A Casa Edison e a formação do mercado fonográfico no Rio de Janeiro no final do século XIX e início do século XX Os impactos provocados pela entrada dos fonógrafos e gramofones, com o início das gravações mecânicas, a tentativa em criar e expandir uma rede de comércio que cobrisse a maior parte do território nacional, e as negociações com as empresas multinacionais do ramo fonográfico, marcaram profundamente as estruturas do mercado musical no Brasil e serviram para construir as bases para expansão e início do processo de consolidação do mercado fonográfico brasileiro. Recebido em 7 de novembro de 2011. Aprovado para publicação em 19 de dezembro de 2011. Notas 1. As casas de chope, também conhecidas como chopes berrantes, eram pequenos teatros ao ar livre, com palco para apresentação de cantores. O Teatro Jardim Concerto da Velha Guarda, localizado no Largo da Carioca, e o Teatrinho do Passeio Público, eram os de maior destaque, frequentados predominantemente pelo público masculino. As apresen- tações dos cantores eram gratuitas, bastava o público pagar uma taxa para consumação de cerveja. A partir do final do século XIX, várias cervejarias começaram a se instalar no Brasil e se associar aos espaços de diversão. Para popularizar a bebida e consolidar a sua marca, a Brahma investiu na divulgação e no comércio da bebida nas casas de chopes. 2. A matéria sobre o registro da primeira gravação realizada por Figner com o discurso im- provisado do advogado Dr. Cabral contra a República, em Belém, foi publicada na edição de 17 de dezembro de 1982 da Gazeta Americana de Porto Alegre. 3. Antes de Figner, a capital federal já havia presenciado algumas demonstrações experi- mentais com os fonógrafos. Em julho de 1878, durante a Conferência da Glória, e na loja Ao Grande Mágico, localizada na Rua do Ouvidor, e em novembro de 1889, nas sessões privadas realizadas pelo comendador Carlos Monteiro de Souza (Franceschi, 2002, pp. 18-22). 4. O grafofone foi desenvolvido por Alexander Graham Bell, como um modelo aperfei- çoado dos fonógrafos de Thomas Edison. Os cilindros permitiam múltiplos usos de uma mesma gravação, mas tinham a desvantagem de não possibilitarem reproduções em série. 5. Os irmãos Charles e Jules Ullman foram personagens importantes na história da Casa Edison. Em 1903, ajudaram a fundar a International Talking Machine, empresa que esta- beleceu uma série de acordos com Figner para a distribuição dos seus discos no Brasil e para a instalação, no ano de 1913, da primeira fábrica da Odeon em território nacional. 6. Emile Berliner foi o responsável pela escolha da pintura A voz do dono (His Master’s Voice), de Francis Barraud, para estampar os seus produtos. Nela um cão terrier ouve aten- tamente um dos seus gramofones com a logomarca do seu invento. 121
  • 18. Eduardo Gonçalves Bibliografia ADORNO, Theodor W. Indústria cultural e sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2002. BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994. FRANCESCHI, Humberto Moraes. A Casa Edison e seu tempo. Rio de Janeiro: Sara- puí, 2002. _______. Samba de sambar do Estácio. 1928 a 1931. Rio de Janeiro: Instituto Moreira Salles, 2010. SCHAFER, Raymond Murray. A afinação do mundo: uma exploração pioneira pela história passada e pelo atual estado do mais negligenciado aspecto do nosso am- biente: a paisagem sonora. São Paulo: Editora UNESP, 2001. VIEIRA, Caroline Moreira. Ninguém escapa do feitiço: música popular carioca, afro- -religiosidades e o mundo da fonografia (1902-1927). Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro, UERJ, 2011. Ilustrações Figura 1 – página 111 Capa do primeiro catálogo editado no Brasil por Frederico Figner, em 1900. In: FRANCESCHI, Humberto Moraes. A Casa Edison e seu tempo. Rio de Janeiro: Sa- rapuí, 2002. Referência: CD-ROM de documentos, pasta imagens, referência I0011193. Figura 2 – página 113 Capa do primeiro catálogo da Casa Edison de 1902. In: FRANCESCHI, Humberto Moraes. A Casa Edison e seu tempo. Rio de Janeiro: Sa- rapuí, 2002. Referência: CD-ROM de documentos, pasta imagens, referência I0011194 122