SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 8
Downloaden Sie, um offline zu lesen
Rev Bras Med Esporte _ Vol. 11, Supl 1 – Agosto, 2005 S 1
Morte Súbita no Exercício e no Esporte
Editores: Marcos Aurélio Brazão de Oliveira, Marcelo Bichels Leitão
Colaboradores: Antonio Cláudio Lucas da Nobrega, Arnaldo José Hernandez, Cláudio Baptista,
Cláudio Gil Soares de Araújo, Daniel Arkader Kopiler, Daniel Daher, Felix Albuquerque Drummond,
João Alves Granjeiro Neto, José Antônio Caldas Teixeira, José Kawazoe Lazzoli, José Mauro Regula Espósito,
Maria Zildany Pinheiro Távora, Marcio Ortiz, Miguel Ibrahim Hanna Sobrinho, Nabil Ghorayeb, Niraj Mehta,
Paula Baptista, Pedro Vicente Michelotto, Renata Rodrigues de Castro, Ricardo Munir Nahas,
Ricardo Rego Barros, Roberto Vital, Samir Amin Daher, Serafim Ferreira Borges, Tales de Carvalho
Patrocinadores: MICROMED BIOTECNOLOGIA, PARANÁ ESPORTE
Apoios Institucionais: Comitê Olímpico Brasileiro, Comitê Paraolímpico Brasileiro,
Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, Sociedade de Medicina Desportiva do Paraná
Agradecimento: Os editores agradecem ao Dr. Pedro Vicente Michelotto, diretor da CLINICOR-PR e ao
Sr. Ricardo Gomyde, diretor da PARANÁ ESPORTE por sua fundamental contribuição na realização desta Diretriz.
DIRETRIZ DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA DO ESPORTE
INTRODUÇÃO
A morte súbita relacionada ao exercício e ao esporte
(MSEE) pode ser definida como a morte que ocorre de modo
inesperado, instantaneamente ou não. Uma outra defini-
ção utilizada seria a da morte que ocorre de 6 a 24 horas
após prática de uma atividade físico-desportiva(1,2)
. A MSEE
tende a gerar grande repercussão nas diversas formas de
mídia, especialmente quando ocorre em atletas profissio-
nais que são considerados verdadeiros modelos de saúde.
Apesar disso, felizmente, a MSEE é um evento raro e essa
informação deve ser levada em consideração dentro do con-
texto dessa diretriz, para analisar as informações de risco
relativo baixo ou alto.
Abaixo dos 35 anos de idade, as causas mais freqüentes
são as cardiopatias congênitas, sendo a cardiomiopatia hi-
pertrófica a mais prevalente. Acima dos 35 anos, a doença
arterial coronariana (DAC) é a causa mais comum. Wever(3)
estima que cerca de 90% das vítimas de MS possuam car-
diopatia conhecida ou não diagnosticada. Assim, na maio-
ria dos casos, a MSEE ocorre por causas que podem ser
detectáveis através de um exame clínico e de exames com-
plementares e, conseqüentemente, muitas vezes a MSEE
é um evento que pode ser evitado. A estratégia fundamen-
tal para sua prevenção é a realização de uma avaliação mé-
dica pré-participação específica para indivíduos envolvidos
na prática sistemática de exercícios e, sempre que possí-
vel, uma boa infra-estrutura do ponto de vista médico nos
locais de treinamento e competição para um pronto-atendi-
mento em situações emergenciais, incluindo a parada car-
diorrespiratória. Esses são os principais escopos dessa Di-
retriz da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte sobre
Morte Súbita no Exercício e no Esporte.
EPIDEMIOLOGIA
A real incidência da MSEE é desconhecida. Estudos en-
contraram valores muito diferentes, variando conforme a
idade, o sexo e o tipo de esporte praticado pelo atleta. Em
artigo de Perez et al.(4)
a MS é estimada em jovens abaixo
de 30-35 anos em 1/133.000 homens/ano e 1/769.000 mu-
lheres/ano, sendo que uma de cada 10 mortes está relacio-
É importante que os profissionais médicos e da área da
saúde disponham de instrumentos que os mantenham
atualizados e que lhes permitam selecionar a grande quan-
tidade de informações que a eles chegam. Com esse in-
tuito, a Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte
(SBME) vem procurando ao longo dos últimos oito anos
publicar diretrizes relacionadas à prática de atividade físi-
ca/exercício/esporte com o intuito de instrumentalizar os
profissionais médicos que militam na área.
O presente documento objetiva abordar as questões
referentes à morte súbita relacionada com exercício e o
esporte e sugerir medidas de prevenção.
DESCRIÇÃO DO MÉTODO DE COLETA DE
EVIDÊNCIAS
Foram feitos levantamentos bibliográficos nas bases de
dados da Medline, Scielo e Lilacs, além de livros-texto na
área de Cardiologia do Esporte. Os artigos consultados
foram discutidos pelo grupo de trabalho constituído pela
SBME e avaliados segundo sua força de evidência cientí-
fica.
GRAU DE RECOMENDAÇÃO E FORÇA DE
EVIDÊNCIA
A. Grandes ensaios clínicos aleatorizados e metanáli-
ses.
B. Estudos clínicos e observacionais bem desenhados.
C. Relatos e séries de casos clínicos.
D. Publicações baseadas em consensos e opiniões de
especialistas.
OBJETIVOS DESTA DIRETRIZ
1. Abordar as principais causas de MSEE;
2. Caracterizar os elementos de uma avaliação pré-par-
ticipação;
3. Recomendar possíveis estratégias de prevenção da
MSEE.
CONFLITO DE INTERESSE
Nenhum conflito de interesse declarado.
S 2 Rev Bras Med Esporte _ Vol. 11, Supl 1 – Agosto, 2005
nada com o esporte. Recente estudo realizado na região de
Veneto (Itália) mostrou uma incidência de 2,3 MS por
100.000 atletas por ano provocada por todas as causas e
2,1 MS por 100.000 atletas por ano por doença cardiovas-
cular(5).
De acordo com inúmeros estudos, pode-se considerar
que para indivíduos saudáveis que se exercitam, seja em
nível competitivo ou não e independente da intensidade, o
risco de MSEE é muito baixo quando analisado do ponto de
vista estatístico. Situações ambientais extremas, distúrbios
hidroeletrolíticos graves ou uso de determinados ergogêni-
cos podem, hipoteticamente, acrescentar algum risco,
embora não existam dados precisos a esse respeito. Em
adendo, indivíduos que praticam exercício regularmente
apresentam um menor risco de MSEE do que indivíduos
sedentários, visto que o exercício regular promove uma
estimulação parassimpática promovendo uma estabilidade
elétrica, ao contrário do exercício vigoroso ocasional que
estimula o sistema nervoso parassimpático e promove uma
instabilidade elétrica predispondo a arritmias cardíacas gra-
ves e/ou ruptura de uma placa aterosclerótica vulnerável.
As principais causas de MSEE estão relacionadas na ta-
bela 1 e algumas destas causas são discutidas mais deta-
lhadamente a seguir.
TABELA 1
Principais causas de MSEE
Abaixo de 30-35 anos
Cardiomiopatias
Hipertrófica
Displasia arritmogênica do VD
Origem anômala de artérias coronárias
Miocardites
Doenças valvares congênitas ou adquiridas
Doença de Chagas
Doenças do sistema de condução
Drogas (por exemplo: cocaína, anfetaminas, esteróides anabolizantes)
Distúrbios eletrolíticos
Concussão cardíaca
Doenças da aorta
Síndrome de Marfan
Acima de 30-35 anos
Doença arterial coronariana
CAUSAS DE MSEE EM INDIVÍDUOS ABAIXO DE 30-35
ANOS
Cardiomiopatia hipertrófica (CH)
A CH é a principal causa de MSEE na grande maioria das
séries estatísticas. Uma das exceções foi descrita num le-
vantamento de Corrado et al.(6)
, na Itália, sobre as causas
de afastamento e de MSEE entre 33.735 atletas jovens
entre 1979 e 1996, em que a displasia arritmogênica de VD
pontificou como a principal causa de MSEE (22% dos ca-
sos contra apenas 2% de CH). A explicação para o fato se-
ria a de que, nos casos suspeitos de CH detectados numa
avaliação pré-participação, esses indivíduos eram imediata-
mente afastados das atividades físico-desportivas (A).
A CH é uma doença congênita autossômica dominante
caracterizada por importante desarranjo miofibrilar, hiper-
contratilidade e hipodiastolia, hipertrofia septal assimétrica
com ou sem obstrução ao trato de saída do VE. Até o mo-
mento são conhecidos 12 gens implicados na gênese des-
sa doença com mais de 400 mutações genéticas relaciona-
das com as proteínas contráteis do miocárdio. Os portado-
res de CH podem ser totalmente assintomáticos ou
apresentar tonteiras, síncope, especialmente relacionadas
com o exercício, dispnéia, palpitações e angina(7). A MSEE
pode ocorrer devido a arritmias ventriculares, supraventri-
culares (com ou sem pré-excitação), bloqueio AV total, as-
sistolia e infarto do miocárdio.
O diagnóstico diferencial entre CH e a HVE típica dos
atletas de alta performance pode ser difícil, necessitando-
se, além, de uma boa anamnese, um exame físico minucio-
so que inclua a pesquisa de sopros característicos de obs-
trução à via de saída de VE. Maron et al.(7) chamam a atenção
para duas situações de difícil diagnóstico: a) diferenciar a
CH da “síndrome do coração do atleta” em atletas com
espessamento da parede ventricular esquerda de 13 a
15mm sem dilatação da cavidade e comprometimento da
contratilidade ventricular esquerda na ausência de movimen-
to sistólico anterior da válvula mitral; b) diferenciar imagens
de ressonância magnética, genótipo e evidências clínicas e
morfológicas da CH. (D) Outro dado a ser ressaltado é que
o risco de MS em portadores de CH é diretamente propor-
cional à magnitude da HVE(8,9)
(C).
Vários autores têm apontado a utilização de desfibrilador
implantável como a forma mais efetiva no controle das ar-
ritmias em portadores da CH, prevenindo assim a MS nes-
ses pacientes(10,11)
.
Cardiomiopatia de VD (CVD)
Também conhecida como Displasia Arritmogênica de VD,
é caracterizada por fibrose e áreas de infiltração gordurosa
entremeadas com miócitos normais. Até o momento já fo-
ram descritos os seguintes gens implicados no aparecimen-
to dessa cardiopatia:
ARVD1 – AD – (Rampazzo et al., 1994)
ARVD2 – AD – (Rampazzo et al., 1995)
ARVD3 – AD – (Severini et al., 1996)
ARVD4 – AD – (Rampazzo et al., 1997)
ARVD5 – AD – (Ahamad et al., 1998)
ARVD6 – AD – (Li D et al., 2000)
ARVD7 – AD – (Melberg et al., 1999)
ARVD8 – AD – (Rampazzo et al., 2002)
NAXOS – AR – (Coonar et al., 1998)
Sínd. de Carvajal – AR (Norgett et al., 2000), onde AD =
autossômico dominante e AR = autossômico recessivo(12)
.
Do ponto de vista clínico, o portador de CVD pode ser
totalmente assintomático com o eletrocardiograma (ECG)
totalmente normal ou apresentar inversão de onda T (de V1
a VE) em 50% dos casos (se tais alterações forem além da
derivação V3, pensar em afecção concomitante de VE); QRS
≥ 110ms em V1/V2; padrão de BIRD em 18%, padrão de
BCRD em 15% dos casos, extrassístoles ventriculares e
episódios de taquicardia ventricular; ondas épsilon (em 30%
dos casos)(12)
.
Além do eletrocardiograma convencional, a ecocardiogra-
fia, a angiografia ventricular D e a ressonância nuclear mag-
nética podem ser de grande valia no diagnóstico da CVD.
Recentemente, tem sido sugerida a implantação de car-
dioversor/desfibrilador em portadores de CVD como opção
Rev Bras Med Esporte _ Vol. 11, Supl 1 – Agosto, 2005 S 3
terapêutica com o objetivo de diminuir a morbimortalidade
dos pacientes portadores dessa doença(13)
(C).
Origem anômala de coronárias
Muitas casuísticas têm apontado a origem anômala de
coronárias como a 2ª maior causa de MSEE em jovens. A
anomalia mais comum é o tronco da coronária E nascendo
do seio de Valsalva D, em que 70% dos indivíduos morrem
com menos de 20 anos de idade. Outras anormalidades
(mais raras) são as artérias hipoplásicas, a coronária D nas-
cendo do seio de Valsalva E, a coronária E nascendo do
tronco da artéria pulmonar e a coronária D nascendo da
artéria circunflexa.
A identificação da origem anômala de coronárias pode
ser difícil durante a vida, constituindo-se, muitas vezes, em
diagnóstico de necropsia pelo fato de os pacientes porta-
dores dessa condição patológica serem assintomáticos e
apresentarem ECG e teste ergométrico normais. A origem
anômala de coronárias deve ser suspeitada em jovens com
história de síncope induzida pelo exercício ou arritmia ven-
tricular sintomática. Nesses casos deve ser feita a investi-
gação diagnóstica através da ecocardiografia, RNM cardíaca
e tomografia computadorizada ultra-rápida. No caso des-
ses métodos não serem conclusivos, a coronariografia pode
ser necessária(14-16)
.
CAUSAS DE MSEE EM INDIVÍDUOS ACIMA DE 30-35
ANOS
Doença arterial coronariana
Nos indivíduos com mais de 35 anos de idade, a principal
causa de MSEE é a doença arterial coronariana (DAC). Os
indivíduos com DAC clinicamente controlada devem ser es-
timulados a praticar exercícios físicos regulares, não com-
petitivos. Em atividades competitivas, o risco de MSEE ten-
de a ser tanto maior quanto menor for o condicionamento
físico necessário para a competição. O risco tende a ser
diretamente proporcional à intensidade do exercício, sen-
do provavelmente mais alto nas atividades que dependam
de grande alternância de ritmo. Coronariopatas que partici-
pem de exercícios de alta intensidade ou aqueles que de-
senvolvam isquemia miocárdica em esforços de baixa ou
moderada intensidade deverão ser orientados a participar
de programas de reabilitação cardíaca com supervisão mé-
dica habilitada. É importante alertar aos indivíduos que pra-
ticam exercícios vigorosos esporádicos que esse tipo de
atividade pode ser deletério para o aparelho CV, podendo
levar a complicações graves como ruptura de placa ateros-
clerótica, arritmias cardíacas graves e morte súbita(17-19)
.
Isso se deve ao fato de que exercícios vigorosos ocasio-
nais promovem uma estimulação do sistema simpático, ins-
tabilidade elétrica e arritmias ventriculares (taquicardia e fi-
brilação ventricular), além de predisporem a uma ruptura
de uma placa aterosclerótica coronariana vulnerável. Os
exercícios moderados habituais promovem uma estimula-
ção do sistema parassimpático (aumento do tônus vagal) e,
em conseqüência, há uma estabilidade elétrica e proteção
contra a fibrilação ventricular, além haver um efeito favorá-
vel do exercício sobre o perfil lipídico desses pacientes.
OUTRAS CAUSAS DE MSEE
Concussão cardíaca
A concussão cardíaca (CC), em geral citada na literatura
como commotio cordis, refere-se a um trauma torácico sú-
bito, não penetrante no precórdio, que leva a arritmia e/ou
morte súbita sem evidência de lesão estrutural no coração
à necropsia, distinguindo-na da contusão (contusio cordis),
e de outras lesões cardíacas mais graves tais como a rup-
tura.
A CC ocorre principalmente em jovens entre os 5 e 18
anos, tendo maior incidência no beisebol, softball e hockey
no gelo. Têm sido descritos casos ainda no futebol, bas-
quete, cricket, boxe e artes marciais.
A morte geralmente é provocada por projéteis esporti-
vos (bolas de beisebol, discos de hockey), mas de maneira
geral pode ser provocada por qualquer impacto no precór-
dio, incluindo colisões corporais. A morte é em geral ime-
diata em 50% dos casos. Quatro fatores principais são cita-
dos para a indução de arritmias: o tipo de impacto (veloz e
com pequena área de contato), a localização do impacto (o
precórdio), a força do impacto, além da magnitude da com-
pressão torácica(20-23)
.
Link et al.(24,25)
mostraram que o risco e o tipo de arritmia
induzida dependem do momento em que o impacto ocorre
durante o ciclo cardíaco. Impactos que ocorrem no período
vulnerável produzem mais fibrilação ventricular. As medi-
das preventivas incluem o uso de protetores torácicos, co-
letes e as chamadas “bolas seguras”, com núcleo mais
macio, lembrando que mesmo estas não dão proteção ab-
soluta. Medidas educativas para os jogadores e técnicos
têm papel relevante nas estratégias preventivas. O desfi-
brilador automático externo deveria estar disponível nos
locais de competições para serem usados até 5 minutos
após a ocorrência do CC.
Arritmias
Aproximadamente 2% de atletas jovens que morrem su-
bitamente apresentam ausência de cardiopatia estrutural
na autópsia. Nestes casos, a causa de morte súbita é pri-
mariamente arrítmica, ou seja, morte não associada a alte-
rações morfológicas e estruturais do coração como, por
exemplo, a síndrome do QT longo(26)
. Abordaremos a se-
guir as anormalidades primariamente eletrofisiológicas que
podem levar à MSEE.
Os pacientes com alteração primariamente eletrofisioló-
gica são aqueles nos quais a função mecânica do miocárdio
é normal, porém existe uma disfunção eletrofisiológica que
representa o problema cardíaco primário(27)
. Nesse grupo
estão os pacientes portadores de:
Síndrome de Wolff-Parkinson-White;
Síndrome de QT longo;
Síndrome de Brugada;
Taquicardia ou fibrilação ventricular;
Idiopática.
A Síndrome de Wolff-Parkinson-White (WPW) resulta
de uma via adicional anômala de conexão entre átrios e ven-
trículos. Pacientes com WPW têm risco de MS menor que
1 para 1.000 pacientes/ano; em aproximadamente 10% a
MS é a primeira manifestação da doença(28)
. O mecanismo
S 4 Rev Bras Med Esporte _ Vol. 11, Supl 1 – Agosto, 2005
responsável pela morte súbita mais provável é o desenvol-
vimento de fibrilação atrial (FA) com condução rápida para o
ventrículo através da via anômala resultando em ritmo de
fibrilação ventricular e colapso hemodinâmico. A conduta
nos pacientes sintomáticos deve ser avaliação com estudo
eletrofisiológico (EEF) e ablação da via acessória. Trabalho
recente propõe estudo eletrofisiológico para todos os pa-
cientes, mesmo os assintomáticos; demonstrou redução
na freqüência de eventos arrítmicos naqueles com indução
de taquicardia supraventricular ou fibrilação atrial no EEF e
que foram submetidos à ablação com radiofreqüência da
via(29).
Portanto, em pacientes com a síndrome de pré-excita-
ção ventricular (WPW), a prática de esportes competitivos
vigorosos poderá ser realizada desde que os mesmos se-
jam submetidos à ablação da via anômala com radiofreqüên-
cia(30). Esse procedimento apresenta taxas de cura de até
95% com índices de complicações abaixo de 1%(28,31). Na-
queles pacientes totalmente assintomáticos, poder-se-ia
argumentar que o risco de eventos é baixíssimo. No entan-
to, não podemos ignorar o fato de que, no esforço, o cora-
ção é exigido no máximo de sua capacidade e a descarga
adrenérgica pode favorecer a condução elétrica por uma
via anômala aparentemente, portanto, deve-se indicar abla-
ção com catéter nos pacientes atletas com WPW e assin-
tomáticos(32)
.
Em resumo, listamos abaixo como deve ser feita a pre-
venção de MS em portadores de Sínd. de WPW e seus
níveis de evidência:
Prevenção primária (nunca tiveram MS abortada ou arrit-
mias severas) – ablação por radiofreqüência através de ca-
téter
a) sintomáticos com FA e com condução rápida pela via
acessória – (A);
b) Assintomáticos com história familiar de MS, profis-
sionais de risco e atletas (B).
Prevenção secundária (tiveram MS e reverteram espon-
taneamente ou foram reanimados) – ablação por radiofre-
qüência através de cateter (A).
A Síndrome de QT Longo (QTL) é uma desordem ca-
racterizada pelo prolongamento da repolarização cardíaca
resultando em intervalo QT prolongado. É causada pelo
movimento anormal de íons sódio e potássio no miócito,
criando períodos prolongados de positividade intracelular
(ou seja, prolongando a repolarização cardíaca). Pode ser
congênita ou adquirida através do uso de medicações que
prolongam o QT como, por exemplo, alguns antiarrímicos,
antimaláricos, antipsicóticos(30-33)
.
A forma congênita possui duas variantes, a forma reces-
siva, mais rara e associada à surdez (síndrome de Jervell-
Lange-Nelson, e a mais freqüente, a autossômica dominante
(Síndrome Romano-Ward)(32)
.
A forma congênita é autossômica dominante e, de acor-
do com as alterações genéticas, pode se classificar em ti-
pos de 1 a 5. A incidência de eventos cardíacos é maior em
QTL1 e QTL2, em relação ao QTL3, enquanto que a letali-
dade dos eventos é maior na QTL3. A suspeita diagnóstica
se faz em pacientes com história de síncopes ou parada
cardíaca durante estresse emocional ou físico, relato fami-
liar de síndrome de QT longo, de MS em familiares com <
30 anos de causa inexplicada, ECG com QT prolongado,
bradicardia sinusal, ondas T com contornos anormal e alter-
nantes, episódios de taquicardia ventricular polimórfica do-
cumentada (tipo Torsade de Pointes). O tratamento tem
como objetivo diminuir a estimulação adrenérgica, com o
uso de betabloqueadores, resultando em diminuição, po-
rém não eliminação, dos eventos cardíacos. O cardiodesfi-
brilador implantável (CDI) pode terminar com a taquiarrit-
mia automaticamente, havendo indicação em pacientes
sintomáticos mesmo em tratamento com betabloqueado-
res(33-35).
A prática de esportes nestes pacientes é limitada, já que
o exercício físico aumenta a estimulação adrenérgica. As-
sim, a prática de esportes vigorosos e competitivos é defi-
nitivamente contra-indicada, mesmo após o implante de
desfibrilador automático.
Em seguida, descrevemos a prevenção de MS em porta-
dores de síndrome do QT longo e seus níveis de evidência.
Primária
Evitar esportes competitivos/atividade extenuante
Sintomáticos (A)
Carreadores de genes silenciosos (B)
Assintomáticos (B)
Secundária
CDI + betabloqueadores (A)
Evitar esportes competitivos/atividades extenuantes (A)
Evitar agentes que prolonguem QT (A)
A Síndrome de Brugada é uma condição familiar asso-
ciada à morte súbita devido a fibrilação ventricular ou taqui-
cardia ventricular. Esta síndrome corresponde, provavelmen-
te, a 40 a 60% de todos os casos de fibrilação ventricular
idiopática(36,37)
. Esses pacientes apresentam alteração ca-
racterística no ECG basal, com morfologia de bloqueio de
ramo direito associado a supradesnivelamento de ST de V1
a V3. Porém, esta alteração pode não ser identificada num
ECG de repouso, podendo ser intermitente e relacionada à
temperatura corporal, modificações de tônus vagal ou adre-
nérgico e alterada por ação por medicações. Os indivíduos
portadores desta síndrome manifestam episódios espon-
tâneos de taquicardia ventricular polimórfica ou fibrilação
ventricular que pode se manifestar durante ou após a práti-
ca esportiva. Os pacientes com síndrome de Brugada sin-
tomáticos são de alto risco para morte súbita e devem, por-
tanto, ser tratados com implante de CDI(36,38)
. Pacientes
assintomáticos com alteração no ECG espontânea freqüen-
temente se tornam sintomáticos, particularmente se indu-
zirem taquicardia ou fibrilação ventricular no estudo eletro-
fisiológico, podendo ser discutido o implante de CDI(36).
A atividade física vigorosa está formalmente contra-indi-
cada nos pacientes sintomáticos que receberão provavel-
mente CDI. Naqueles totalmente assintomáticos, mesmo
que não receberam um CDI, a atividade física vigorosa tam-
bém deve ser contra-indicada(38)
. A prevenção primária de
MS em portadores de síndrome de Brugada deve ser:
Indicações para CDI: sintomáticos (com síncope ou ta-
quicardia ventricular) – (A)
Assintomáticos com TV ou fibrilação ventricular induzí-
veis – (B)
Rev Bras Med Esporte _ Vol. 11, Supl 1 – Agosto, 2005 S 5
Assintomáticos sem TV ou fibrilação ventricular induzí-
veis – (C)
Evitar esportes competitivos ou atividades extenuantes
Sintomáticos (A)
Assintomáticos sem TV ou FV induzíveis (B)
Prevenção secundária
CDI (A) – Evitar esporte competitivos ou atividades exte-
nuantes (A)
Doença de Chagas (DC)
A Doença de Chagas se constitui num grave problema
de Saúde Pública para a América Latina acometendo, se-
gundo dados recentes, cerca de 16 milhões de pessoas e
expondo ao risco de adquirir a infecção mais de 90 mi-
lhões(39)
..... Sabe-se, ainda, que a doença de Chagas pode pro-
vocar morte súbita em 12 a 37% dos pacientes em qual-
quer fase evolutiva da doença(40)
, algumas delas podendo
ocorrer durante qualquer atividade física(41).
Formas de Apresentação Clínica
Forma Indeterminada: são pacientes soropositivos, com
eletrocardiograma de repouso (ECG) normal e estudo ra-
diológico do coração, esôfago e cólons também normais.
No entanto, quando estes pacientes são submetidos a
métodos complementares mais sofisticados (estudo ele-
trofisiológico, ECG de alta resolução, cintilografia miocárdi-
ca, ecocardiograma, etc.) alterações morfofuncionais leves
já podem ser identificadas.
Forma Dilatada: pode se manifestar por quadros de dis-
função ventricular de vários graus, por vezes com insufi-
ciência cardíaca congestiva (ICC), aumento da área cardía-
ca ao estudo radiológico do tórax, ECG sempre alterado
(presença de bloqueio de ramo direito (BRD), bloqueio divi-
sional ântero-superior (BDAS), às vezes bloqueio de ramo
esquerdo (BRE), eventualmente fibrilação atrial (FA) ou flut-
ter atrial).
Forma Arritmogênica: ocorre predomínio das alterações
do sistema excito-condutor, podendo haver alterações do
ritmo desde extrassístoles isoladas (mais freqüente) até
BRD, BDAS, BRE, bloqueio atrioventricular (BAV) em todos
os seus graus, além de comprometimento dos nódulos si-
nusal e atrioventricular.
Forma Mista: as arritmias e a disfunção ventricular são
igualmente importantes, determinando uma maior morbi-
mortalidade neste grupo de pacientes.
Diagnóstico
Rotineiramente devem ser realizados o ECG/vetocardio-
grama, telerradiografia de tórax em PA e perfil, teste ergo-
métrico e ecocardiograma (ECO), além de exames labora-
toriais que incluem glicemia de jejum, eletrólitos, avaliação
da função renal, dosagem de perfil lipídico, urina tipo I.
Atletas que apresentam alterações ao ECG e principal-
mente ao ECO, durante o TE exibem déficit cronotrópico,
arritmias complexas, distúrbios da condução atrioventricu-
lar e menor capacidade funcional do que atletas não porta-
dores de DC. No entanto, estes atletas apresentam uma
capacidade funcional muito acima da média dos sedentários
da mesma faixa etária por se tratar de indivíduos altamente
treinados(42)
. Atualmente indica-se a ventriculografia radio-
isotópica nos atletas com forma indeterminada, pois exis-
tem evidências de alterações contráteis precoces nesses
indivíduos, principalmente no VD, que tem a avaliação pelo
ECO dificultada em várias situações.
O significado prognóstico da DC em atletas não pode
ainda ser precisamente determinado, uma vez que nenhum
estudo prospectivo de seguimento em longo prazo e com
um número adequado de indivíduos nessas condições foi
conduzido até o momento. Entretanto, não temos razões
para acreditar em diferenças significativas na evolução de
atletas chagásicos em relação a não atletas. Ao contrário, a
sobrecarga imposta ao sistema cardiovascular durante a
realização de exercícios de grande intensidade e duração
pode ser fator agravante para danos no coração desses atle-
tas(43,44)
.
A morte súbita (MS) é descrita como evento fatal em até
37% dos pacientes com cardiomiopatia chagásica, em graus
diferentes de evolução(39). Um interessante estudo prospec-
tivo observacional realizado demonstrou que a presença
isolada da soropositividade já se associava com o aumento
da mortalidade em pessoas entre 20 e 59 anos. Neste mes-
mo grupo, a presença de BCRD isolado ou somado a blo-
queios fasciculares e ectopias ventriculares mesmo quando
em indivíduos assintomáticos, aumentava significativamen-
te a mortalidade em relação aos soropositivos com ECG
normal(45)
. É importante realizar o diagnóstico diferencial en-
tre cardiomiopatia chagásica com acometimento predomi-
nante do VD e displasia arritmogênica do VD pelo fato de
ambas apresentarem cursos clínicos semelhantes.
Outras causas
Existem outras causas menos freqüentes de MSSE. En-
tre elas podemos citar o uso de doping (particularmente as
anfetaminas e esteróides anabolizantes), uso de outras dro-
gas (cocaína, por exemplo), prolapso de válvula mitral, ane-
mia falciforme e síndrome de Marfan, dentre outras.
ASPECTOS PREVENTIVOS DA MSEE
Avaliação clínica pré-participação
A avaliação pré-participação (APP) é recomendável para
todos os indivíduos que praticam exercícios físicos – de
caráter competitivo ou não – e tem como um de seus prin-
cipais objetivos afastar condições que possam ter no exer-
cício físico um gatilho para o desencadeamento de eventos
graves, como a ocorrência de morte súbita.
Um dos pontos fundamentais na aplicação da APP é a
relação custo x benefício desta intervenção. Diversos estu-
dos que analisaram os resultados de uma APP com exa-
mes complementares incluídos mostraram custos eleva-
dos para a detecção de casos de risco potencial de MSEE.
Por outro lado, quando analisamos o esporte profissional,
no qual muitas vezes a detecção tardia de uma situação de
risco ou até mesmo a ocorrência de MSEE trazem conside-
ráveis prejuízos para quem custeia a formação e manuten-
ção de atletas, os custos de uma APP com métodos com-
plementares, se tornam plenamente justificados, tanto do
ponto de vista de garantir a integridade do atleta, quanto
de preservar o investimento realizado. Devemos levar, ain-
da, em consideração a sensibilidade e especificidade des-
ses exames, além dos aspectos ético-legais implicados.
S 6 Rev Bras Med Esporte _ Vol. 11, Supl 1 – Agosto, 2005
Nesta Diretriz, especificamos os itens da APP diretamente
relacionados com a prevenção da MS.
Passos da avaliação pré-participação
A avaliação clínica pré-participação deve constar de uma
anamnese precisa, valorizando a história patológica pregres-
sa, história familiar de cardiopatias e/ou morte súbita pre-
matura, a história social e os hábitos de vida. Na história
pessoal, devem ser cuidadosamente pesquisados sintomas
como síncope durante ou imediatamente após o esforço,
dor torácica e dispnéia inexplicável ou desproporcional ao
grau de esforço físico realizado. Uma forma de quantificar a
dispnéia ou fadiga é compará-la à de seus companheiros
de equipe. Em nosso meio é importante a investigação de
doença de Chagas, principalmente, se levarmos em conta
o grande contingente de pessoas que migram de zonas
endêmicas para os grandes centros em busca de maiores
oportunidades, o que ocorre também no caso de indivíduos
que querem se tornar atletas. O exame físico deve ser mi-
nucioso e, no que tange à questão da MSEE, com ênfase
para o aparelho cardiovascular.
A relação custo x benefício de uma investigação com exa-
mes complementares complexos tem sido bastante ques-
tionada; entretanto, uma anamnese minuciosa e um exame
físico apurado com ênfase para o aparelho cardiovascular,
numa avaliação pré-participação, são mandatórios, indepen-
dente da faixa etária.
Outro aspecto importante no que tange à prevenção de
morte súbita é a educação do praticante de exercícios. Cabe
ao médico orientar quanto ao risco de MSEE com diversas
drogas freqüentemente utilizadas como recursos ergogê-
nicos, muitas das quais fazem parte das listas de substân-
cias proibidas em esportes competitivos (doping), como
esteróides anabolizantes, anfetamínicos e cocaína.
Exames laboratoriais
Eletroforese de hemoglobina/Teste de falciformação
Visa identificar os portadores de traço falcêmico ou de
anemia falciforme, condição que pode provocar morte sú-
bita durante a prática esportiva. Em nosso país, ainda não é
um exame utilizado rotineiramente.
VDRL/FTA-Abs
Devemos lembrar que a presença de sífilis pode levar ao
aparecimento de lesões da válvula aórtica ou da própria
aorta, como, por exemplo, a aortite sifilítica, que pode levar
à morte súbita durante o exercício. Além disso, essa doen-
ça tem sido negligenciada e subnotificada.
Sorologia para Chagas
Em nosso meio é importante a investigação de doença
de Chagas, principalmente se levarmos em conta o grande
contingente de pessoas que migram de zonas endêmicas
para os grandes centros em busca de maiores oportunida-
des, o que ocorre também no caso de indivíduos que que-
rem se tornar atletas. Assim, quando houver na história so-
cial do indivíduo algum indício de possível exposição ao risco
de contrair essa patologia, a sorologia para Doença de Cha-
gas passa a ser altamente recomendável (D).
ECG de repouso
Apesar de possuir algumas limitações, o eletrocardiogra-
ma de 12 derivações tem sido proposto como uma alterna-
tiva de baixo custo e que pode fornecer informações im-
portantes.
Estima-se que o ECG possa estar alterado em 70 a 95%
dos casos de cardiomiopatia hipertrófica, principal causa de
MSEE em atletas jovens(46). No estudo de Füller, esse mé-
todo foi o mais eficaz para afastamento de indivíduos numa
avaliação pré-participação(47)
(A).
Algumas instituições nacionais, como o Comitê Parao-
límpico Brasileiro (CPB), tem utilizado o ECG como instru-
mento fundamental e obrigatório nas avaliações realizadas
sistematicamente em seus atletas. Esse método comple-
mentar é importante na pesquisa de cardiomiopatia hiper-
trófica, síndrome do QT longo, síndrome de Brugada, pré-
excitação com ou sem síndrome de Wolf-Parkinson-White.
Por outro lado, deve-se atentar para o fato das característi-
cas próprias da síndrome do coração do atleta que promo-
vem alterações eletrocardiográficas induzidas pelas adap-
tações fisiológicas ao treinamento.
Teste ergométrico (TE)
A faixa etária para indicação do teste ergométrico numa
avaliação pré-participação em atividades esportivas é moti-
vo de controvérsia na literatura mundial. Alguns autores
consideram esse exame complementar como obrigatório
para atletas amadores ou profissionais. Devemos lembrar
do contingente cada vez maior de atletas master que retor-
nam à prática de esportes competitivos numa idade mais
avançada, merecendo essa categoria uma atenção espe-
cial em termos de avaliação pré-participação. A orientação
desse documento é que para a população geral que deseja
iniciar a prática de exercícios físicos visando promoção de
saúde seja realizado um teste ergométrico em homens aci-
ma de 35 anos e mulheres acima de 45 anos (C).
Teste cardiopulmonar de exercício (TCPE)
Nos últimos anos tem sido utilizada em alguns serviços,
com maior freqüência, o TCPE ou ergoespirometria na ava-
liação de atletas de alta performance. Esse método possui
algumas vantagens em relação ao teste ergométrico con-
vencional na questão da avaliação funcional como medida
direta do consumo de oxigênio e determinação do limiar
anaeróbio. Entretanto, o custo elevado do equipamento
(quando comparado com a aparelhagem de uma ergome-
tria convencional) ainda se constitui num fator que dificulta
sua utilização em larga escala em nosso meio.
Ecocardiograma
Embora em termos de custo seja inviável a sua aplicação
para avaliar grandes grupos populacionais, o ecocardiogra-
ma, em alguns casos selecionados, pode ser útil na avalia-
ção da origem de sopros cardíacos e nos indivíduos com
suspeita de cardiopatias congênitas potencialmente peri-
gosas como a cardiomiopatia hipertrófica e a displasia arrit-
mogênica de VD, ambas importantes causas de morte sú-
bita durante a atividade esportiva em jovens. Dessa forma,
não se recomenda a inclusão deste método na rotina de
uma APP, mas deve-se lançar mão do mesmo quando os
Rev Bras Med Esporte _ Vol. 11, Supl 1 – Agosto, 2005 S 7
dados obtidos nas etapas preliminares da APP indicarem
sua necessidade. O ecocardiograma anual tem sido reco-
mendado para familiares de portadores de CH durante toda
a adolescência(46)
.
Fica evidente a partir da discussão desenvolvida acima,
que existe uma grande variação na profundidade com que
se pode realizar a APP, e esta variação pode depender de
nível de intensidade da atividade física desenvolvida, carac-
terísticas da modalidade, faixa etária, etnia do avaliado e
dos recursos humanos e materiais disponíveis.
Todavia, quando se discute a questão da MSEE e se pro-
cura estabelecer intervenções que sejam efetivas na pre-
venção destes eventos, é de fundamental importância des-
tacar que as causas mais comuns de MSEE podem ser
identificadas ou suspeitadas a partir de uma cuidadosa APP,
que contenha inicialmente apenas a avaliação clínica, isto é
anamnese + exame físico, sempre que possível associa-
dos ao ECG de repouso. Se nesta fase da APP forem obti-
das informações que elevem o grau de suspeição para si-
tuações de risco, procede-se posteriormente aos exames
complementares mais complexos, de acordo com os acha-
dos da avaliação clínica inicial. Contudo, em indivíduos en-
volvidos com o esporte competitivo, independentemente
de outros fatores (gênero, idade, modalidade), é altamente
recomendável que o teste ergométrico seja incorporado à
APP (C, D).
ATENDIMENTO EMERGENCIAL
Os cuidados para o melhor atendimento emergencial se
iniciam com um plano de atendimento baseado em normas
já estabelecidas e de conhecimento geral, com diretrizes
de atendimento emergencial básico e avançado. Academias,
escolas, ginásios, praças e estádios devem ser locais que
tenham equipes preparadas para o atendimento emergen-
cial básico, acesso rápido aos cuidados e equipamentos,
além de comunicação com equipes treinadas para suporte
avançado. Além disso, devem receber treinamento para
atendimento emergencial básico equipes de profissionais
que trabalhem em eventos esportivos como árbitros, auxi-
liares técnicos e administrativos.
Uma série de ações deve ser iniciada na presença de
uma parada cardiorrespiratória, para aumentar a possibili-
dade de reversão do quadro. Para isso é fundamental o uso
precoce de desfibrilador, porque o mecanismo principal de
parada cardiorrespiratória é a fibrilação ventricular e o único
tratamento efetivo para este evento é a desfibrilação(3)
.
Sugere-se que todas as instalações que ofereçam pro-
gramas de atividade física tenham um desfibrilador externo
automático (DEA). A necessidade e, conseqüentemente, a
ênfase na recomendação para se ter o DEA aumenta em
locais nos quais se desenvolvem programas de atividade
física especificamente dirigidos a indivíduos idosos ou que
apresentem condições médicas especiais (cardiopatas, por
exemplo) e nas instalações esportivas que tenham mais de
2.500 freqüentadores(48)
. Salienta-se, novamente, a funda-
mental importância da presença de equipes treinadas para
utilização adequada de tais equipamentos e para oferecer o
atendimento emergencial básico.
Para eventos esportivos que envolvam muitos atletas,
deve existir um plano de atendimento emergencial e equi-
pe médica e paramédica preparadas para tal. Este plano
deve incluir acesso rápido da equipe ao local, contato tele-
fônico imediato e disponibilidade (em local de fácil acesso)
de um desfibrilador externo automático.
SUMÁRIO DE PONTOS CHAVE
A morte súbita no exercício e no esporte (MSEE), apesar
de ser um evento que traz grande repercussão e comoção,
especialmente quando ocorre em atletas competitivos, é
um evento raro e não existem dados que indiquem que sua
freqüência esteja aumentando.
– Abaixo dos 35 anos as cardiopatias congênitas estão
mais freqüentemente relacionadas à causa de MSEE.
– A doença arterial coronariana é a causa mais freqüente
de MSEE acima de 35 anos.
– A avaliação pré-participação (APP) sistemática e perió-
dica é a estratégia mais eficiente para se prevenir a MSEE
e, em seu nível mais básico (anamnese e exame físico),
deve ser realizada, por médico com experiência na área,
em todos os indivíduos que praticam exercício e esportes.
– Essa avaliação é justificável do ponto de vista ético,
médico e legal.
– A realização de exames complementares depende das
características do indivíduo avaliado (idade, nível de envol-
vimento na prática do exercício).
– No esporte competitivo é altamente recomendável que
o teste ergométrico seja realizado por todos os indivíduos.
– O profissional médico mais habilitado para realizar uma
adequada APP é o especialista em Medicina do Esporte.
– Instituições que oferecem prática de exercícios e es-
portes (academias, clubes, escolas) e que organizam even-
tos esportivos (associações, federações, confederações)
devem requerer um atestado médico, estabelecendo para
qual tipo de atividade físico-desportiva o candidato está apto.
Devem, ainda, estas instituições organizar e treinar seu
pessoal para atendimento emergencial básico e quando
recomendado (ambientes com mais de 2.500 freqüentado-
res, programas especiais de exercícios para idosos ou para
cardiopatas), ter um desfibrilador à disposição e um plano
de contingência médica para o pronto transporte da vítima
para um complexo hospitalar, quando necessário.
REFERÊNCIAS
1. Amsterdam EA. Sudden death during exercise. Cardiology 1990;77:411-7.
2. Burke AP, Farb A, Virmani R, Goodin J, SAmialek JE. Sports related and
non-related sudden cardiac in young adults. Am Heart J 1991;121(2)Pt1:568-
75.
3. Wever EFD, et al. JACC Vol. 43, No. 7, April 7, 2004:1137-44.
4. Pérez AB, Fernández S. Muerte súbita en el deportista. Requerimientos
mínimos antes de realizar deporte de competición. Rev Esp Cardiol
1999;52:1139-45.
5. Corrado D, Basso C, Rizzoli G, Schiavon M, Thiene G. Does sports activity
enhance the risk of sudden death in adolescents and young adults? J Am
Coll Cardiol 2003;42:1959-63.
6. Corrado D, Basso C, Schiavon M, Thiene G. Screening for hypertrophic
cardiomyopathy in young athletes. N Engl J Med 1998;339:364-9.
7. Maron BJ, Ackerman MJ, Nishimura RA, Pyeritz RE, Towbin JA, Udelson
JE. Task-Force 4: HCM and other cardiomyopathies, mitral valve prolapse,
myocarditis and Marfan syndrome. J Am Coll Cardiol 2005;45:1340-5.
8. Spirito P, Bellone P, Harris KM, Bernabo P, Bruzzi P, Maron BJ. Magnitude
of left ventricular hypertrophy and risk of sudden death in hypertrophic
cardiomyopathy. N Engl J Med 2000;342:1778-85.
S 8 Rev Bras Med Esporte _ Vol. 11, Supl 1 – Agosto, 2005
9. Elliott P, Gimeno Blanes JR, Mahon NG, Poloniecki J, McKenna WJ. Rela-
tion between severity of left ventricular hypertrophy and prognosis in pa-
tients with hypertrophic cardiomyopathy. Lancet 2001;357:420-4.
10. Maron BJ, Shen WK, Link MS, Epstein AE, Almquist AK, Daubert JP, et al.
Efficacy of implantable cardioverter-defibrillators for the prevention of sud-
den death in patients with hypertrophic cardiomyopathy. N Engl J Med
2000;342:365-73.
11. Brugada J. Sudden death in hypertrophic myocardiopathy. Rev Esp Cardiol
1998;51:991-6.
12. Esteban MTT, Garcia-Pinilla MJ, McKenna WJ. Actualización en miocardio-
patía arritmogénica del ventrículo derecho: genética, diagnóstico, manifes-
taciones clínicas y estratificación de riesgo. Rev Esp Cardiol 2004;57:757-
67.
13. Corrado D, Leoni L, Link MS, Della Bella P, Gaita F, Curnis A, Salerno JU.
Implantable cardioverter-defibrillator therapy for prevention of sudden death
in patients with arrhythmogenic right ventricular cardiomyopathy/dyspla-
sia. Circulation 2003;108:3084-91.
14. Villa RB, et al. Anomalías congénitas de las arterias coronarias del adulto
descritas en 31 años de estudios coronariográficos en el Principado de
Asturias: principales características angiográficas y clínicas. Rev Esp Car-
diol 2001;54:269-81.
15. Basso C, Maron BJ, Corrado D, Thiene G. Clinical profile of congenital cor-
onary artery anomalies with origin from the wrong aortic sinus leading to
sudden death in young competitive athletes. J Am Coll Cardiol 2000;35:
1493-501.
16. Iskandar EG, Thompson PD. Exercise-related sudden death due to an un-
usual coronary artery anomaly. Med Sci Sports Exerc 2004;36:180-2.
17. Albert CM, Mittleman MA, Chae CU, Lee IM, Hennekens CH, Manson JE.
Triggering of sudden death from cardiac causes by vigorous exertion. N
Engl J Med 2000;343:1355-61.
18. Mittleman MA, Maclure M, Tofler GH, Sherwood JB, Goldberg RJ, Muller
JE. Triggering of acute myocardial infarction by heavy physical exertion pro-
tection against triggering by regular exertion. N Engl J Med 1993;329:1677-
83.
19. Willich SN, Lewis M, Lowel H, Arntz HR, Schubert F, Schroder R. Physical
exertion as a trigger of acute myocardial infarction. N Engl J Med 1993;
329:1684-90.
20. Vicent GM, McPeak H. Commotio cordis – A deadly consequence of chest
trauma. The Physician and Sportsmedicine 2000;38:
21. Nesbitt AD, Cooper PJ, Kohl P. Rediscovering commotio cordis. Lancet
2001; 357:1195-7.
22. Maron BJ, Mitten MJ, Burnett CG. Criminal consequences of commotio
cordis. Am J Cardiol 2002;89:210-3.
23. Maron BJ, Strasburger JF, Kugler JD, Bell BM, et al. Survival following
blunt chest impact – induced cardiac arrest during sports activities in young
athletes. Am J Cardiol 1997;79:840-1.
24. Viano DC, Andrzejak DV. Mechanism of fatal chest injury by baseball im-
pact: development of an experimental model. Clin J Sports Med 1992;2:166-
71.
25. Link MS, Wang PJ, Udedlson JE, Lee M-Y, Vecchiott MA, VanderBrink BA,
et al. An experimental model of sudden death due low energy chest wall
impact (commotio cordis). N Engl J Med 1998;338:1085-811.
26. Zipes DP, Wellens HJJ. Sudden cardiac death. Circulation 1999;98:2334-
51.
27. Maron BJ. Sudden death in young athletes. N Engl J Med 2003;329:1064-
75.
28. Priori SG, Blanc JJ, Budaj A, Burgos EF, Deckers JW, Garcia MAA, Klein
WW, et al. ACC/AHA/ESC guidelines for the management of patients with
supraventricular arrhythmias – Executive summary. J Am Coll Cardiol 2003;
42:1493-53.
29. Pappone C, Santinelli V, Manguso F, Augello G, Santinelli O, Vicedomini G,
et al. A randomized study of prophylactic catheter ablation in asyntomatic
patients with the Wolff-Parkinson-White Syndrome. N Engl J Med 2003;
349:1803-11.
30. Liberthson RR. Sudden death from cardiac causes in children and young
adults. N Engl J Med 1996;334:1039-44.
31. Zipes DP, DiMarco JP, Gilette PC, Jackan WM, Myerburg RJ, Rahimtoola
SH. Guidelines for clinical intracardiac eletrophysiological and catheter ab-
lation procedures. J Am Coll Cardiol 1995;26:555-73.
32. Priori SG, Aliot E, Blomstrom-Lundqvist C, Bossaert L, Breihardt G, Bruga-
da P, Camm AJ, Cappato R, et al. Task force on sudden cardiac death of the
European Society of Cardiology. Eur Heart J 2001;22:1375-455.
33. Priori SG, Schwartz PJ, Napolitano C, Bloise R, Ronchetti E, Grillo M, et al.
Risk stratification in the long – QT syndrome. N Engl J Med 2003;348:1866-
74.
34. Moss AJ, Jennifer LR. The long-QT syndrome. Circulation 2002;105:784-
86.
35. Moss AJ, Zareba W, Hall WJ, Schwartz PJ, Crampton RS, Benhorin J, et al.
Effectiveness and limitations of B-blocker therapy in congenital long-QT
syndrome. Circulation 2000;101:616-23.
36. Brugada J, Brugada R, Antzelevitch C, Towbin J, Nademanee K, Brugada P.
Long-term follow-up of individuals with the electrocardiographic pattern of
bundle-branch block and ST-segment elevetion in precordial leads V1 to
V3. Circulation 2002;105:73-78.
37. Olgin JE, Zipes DP. Specific Arrythimias diagnosis and treatment. In: Braun-
wald E, Zipes DP, Libby P, editors. Heart disease: textbook of cardiovascu-
lar medicine. 6nd ed. Philadelphia, 2001;857-7.
38. Brugada J, Brugada R, Brugada P. Right bundle-branch block and ST-seg-
ment eleveation in leads V1 through V3. Circulation 1998;97:457-60.
39. Mendoza I, Adeiro F, Marques J. Morte súbita na doença de Chagas. Arq
Bras Cardiol 1992;59:3-4.
40. Wanderley DMV. Epidemiologia da doença de Chagas. Rev Soc Cardiol E.
São Paulo, 1994;77- 84.
41. Mady C, Nacruth R. História natural de cardiopatia chagásica crônica. Rev
Soc de Cardiol E. de São Paulo 1994;2:124-8.
42. Mady C, Ianni BM, Arteaga E, Salemi VM, Silva PR, Cardoso RH, Ballas D.
Maximal functional capacity and diastolic function in patients with cardi-
omyopathy due to Chagas’ disease without congestive heart failure. Arq
Bras Cardiol 1997;69:237-41.
43. Mady C, Dioguardi GS, Ghorayeb N, Amato Neto V. Chagas disease in the
context of sports activities: recommendations. Rev Soc Bras Med Trop
2000;33: 233.
44. Yazbek Junior P, Diament J, Haebisch H, Kedor HH, Mady C, Romano A, et
al. Ergospirometry as a method for predicting the clinical course of ischem-
ic, Chagas and idiopathic myocardiopathy. Arq Bras Cardiol 1991;57:451-8.
45. Maguire JH, Hoff R, Sherlock I, Guimaraes AC, Sleigh AC, Ramos NB, Mott
KE, Weller TH. Cardiac morbidity and mortality due to Chagas’ disease:
prospective electrocardiographic study of a Brazilian community. Circula-
tion 1987;75:1140-5.
46. Maron BJ, Douglas PS, Graham TP, Nishimura RA, Thompson PD. Task
Force 1: preparticipation screening and diagnosis of cardiovascular disease
in athletes. J Am Coll Cardiol 2005;45:1340-5.
47. Fuller CM, Mc Nutly CM, Spring DA. Prospective screening of 5615 high
school athletes and sudden cardiac death. Med Sci Sports Exerc 1997;29:
1131-8.
48. Joint Position Statement – American College of Sports Medicine-American
Heart Association. Automated external defibrillators in health/fitness facil-
ities. Med Sci Sports Exerc 2002;34:561-4.

Weitere ähnliche Inhalte

Was ist angesagt?

Avaliação do sc na infância
Avaliação do sc na infânciaAvaliação do sc na infância
Avaliação do sc na infânciagisa_legal
 
Déficit pe em ccc
Déficit pe em cccDéficit pe em ccc
Déficit pe em cccgisa_legal
 
Incidência de CC na sínd de Down
Incidência de CC na sínd de DownIncidência de CC na sínd de Down
Incidência de CC na sínd de Downgisa_legal
 
Incidência de fibrilhação auricular e hipertrofia ventricular esquerda em ute...
Incidência de fibrilhação auricular e hipertrofia ventricular esquerda em ute...Incidência de fibrilhação auricular e hipertrofia ventricular esquerda em ute...
Incidência de fibrilhação auricular e hipertrofia ventricular esquerda em ute...Catarina Possacos
 
Migranosos com fatores de risco cerebrovasculares Congresso Brasileiro de Cef...
Migranosos com fatores de risco cerebrovasculares Congresso Brasileiro de Cef...Migranosos com fatores de risco cerebrovasculares Congresso Brasileiro de Cef...
Migranosos com fatores de risco cerebrovasculares Congresso Brasileiro de Cef...HenriqueCarneiroCampos
 
A doença cardíaca, a insegurança e a disfunção sexual
A doença cardíaca, a insegurança e a disfunção sexualA doença cardíaca, a insegurança e a disfunção sexual
A doença cardíaca, a insegurança e a disfunção sexualLeonardo Faria
 
Diagnostico precoce-oximetria
Diagnostico precoce-oximetriaDiagnostico precoce-oximetria
Diagnostico precoce-oximetriagisa_legal
 
Impacto das MF congênitas na mortalidade
Impacto das MF congênitas na mortalidadeImpacto das MF congênitas na mortalidade
Impacto das MF congênitas na mortalidadegisa_legal
 
Hipertrofia ventricular esquerda e fibrilhação auricular Incidência em utente...
Hipertrofia ventricular esquerda e fibrilhação auricular Incidência em utente...Hipertrofia ventricular esquerda e fibrilhação auricular Incidência em utente...
Hipertrofia ventricular esquerda e fibrilhação auricular Incidência em utente...Catarina Possacos
 
Alterações cardíacas em crianças com sida
Alterações cardíacas em crianças com sidaAlterações cardíacas em crianças com sida
Alterações cardíacas em crianças com sidagisa_legal
 
Sopro inocente
Sopro inocenteSopro inocente
Sopro inocentegisa_legal
 
Indicações de TE em crianças e adolescentes
Indicações de TE em crianças e adolescentesIndicações de TE em crianças e adolescentes
Indicações de TE em crianças e adolescentesgisa_legal
 
Ablação Fibrilação Atrial (FA) e AVC (acidente vascular cerebral)
Ablação Fibrilação Atrial (FA) e AVC (acidente vascular cerebral)Ablação Fibrilação Atrial (FA) e AVC (acidente vascular cerebral)
Ablação Fibrilação Atrial (FA) e AVC (acidente vascular cerebral)Carlos Volponi Lovatto
 
AAS na prevenção de doenças
AAS na prevenção de doençasAAS na prevenção de doenças
AAS na prevenção de doençasCarol Reis
 
Diabetes e cintilografia de perfusao do miocardio
Diabetes e cintilografia de perfusao do miocardioDiabetes e cintilografia de perfusao do miocardio
Diabetes e cintilografia de perfusao do miocardioJoao Bruno Oliveira
 
Desafios para a implantação do primeiro programa de rastreamento cardite
Desafios para a implantação do primeiro programa de rastreamento carditeDesafios para a implantação do primeiro programa de rastreamento cardite
Desafios para a implantação do primeiro programa de rastreamento carditegisa_legal
 
ECG de repouso - Diretrizes
ECG de repouso - DiretrizesECG de repouso - Diretrizes
ECG de repouso - Diretrizesgisa_legal
 

Was ist angesagt? (19)

Avaliação do sc na infância
Avaliação do sc na infânciaAvaliação do sc na infância
Avaliação do sc na infância
 
Déficit pe em ccc
Déficit pe em cccDéficit pe em ccc
Déficit pe em ccc
 
Incidência de CC na sínd de Down
Incidência de CC na sínd de DownIncidência de CC na sínd de Down
Incidência de CC na sínd de Down
 
Incidência de fibrilhação auricular e hipertrofia ventricular esquerda em ute...
Incidência de fibrilhação auricular e hipertrofia ventricular esquerda em ute...Incidência de fibrilhação auricular e hipertrofia ventricular esquerda em ute...
Incidência de fibrilhação auricular e hipertrofia ventricular esquerda em ute...
 
Migranosos com fatores de risco cerebrovasculares Congresso Brasileiro de Cef...
Migranosos com fatores de risco cerebrovasculares Congresso Brasileiro de Cef...Migranosos com fatores de risco cerebrovasculares Congresso Brasileiro de Cef...
Migranosos com fatores de risco cerebrovasculares Congresso Brasileiro de Cef...
 
A doença cardíaca, a insegurança e a disfunção sexual
A doença cardíaca, a insegurança e a disfunção sexualA doença cardíaca, a insegurança e a disfunção sexual
A doença cardíaca, a insegurança e a disfunção sexual
 
Diagnostico precoce-oximetria
Diagnostico precoce-oximetriaDiagnostico precoce-oximetria
Diagnostico precoce-oximetria
 
Impacto das MF congênitas na mortalidade
Impacto das MF congênitas na mortalidadeImpacto das MF congênitas na mortalidade
Impacto das MF congênitas na mortalidade
 
Cbep hf
Cbep   hfCbep   hf
Cbep hf
 
Hipertrofia ventricular esquerda e fibrilhação auricular Incidência em utente...
Hipertrofia ventricular esquerda e fibrilhação auricular Incidência em utente...Hipertrofia ventricular esquerda e fibrilhação auricular Incidência em utente...
Hipertrofia ventricular esquerda e fibrilhação auricular Incidência em utente...
 
Alterações cardíacas em crianças com sida
Alterações cardíacas em crianças com sidaAlterações cardíacas em crianças com sida
Alterações cardíacas em crianças com sida
 
Sopro inocente
Sopro inocenteSopro inocente
Sopro inocente
 
Indicações de TE em crianças e adolescentes
Indicações de TE em crianças e adolescentesIndicações de TE em crianças e adolescentes
Indicações de TE em crianças e adolescentes
 
Ablação Fibrilação Atrial (FA) e AVC (acidente vascular cerebral)
Ablação Fibrilação Atrial (FA) e AVC (acidente vascular cerebral)Ablação Fibrilação Atrial (FA) e AVC (acidente vascular cerebral)
Ablação Fibrilação Atrial (FA) e AVC (acidente vascular cerebral)
 
AAS na prevenção de doenças
AAS na prevenção de doençasAAS na prevenção de doenças
AAS na prevenção de doenças
 
Miopatias e anestesia
Miopatias e anestesiaMiopatias e anestesia
Miopatias e anestesia
 
Diabetes e cintilografia de perfusao do miocardio
Diabetes e cintilografia de perfusao do miocardioDiabetes e cintilografia de perfusao do miocardio
Diabetes e cintilografia de perfusao do miocardio
 
Desafios para a implantação do primeiro programa de rastreamento cardite
Desafios para a implantação do primeiro programa de rastreamento carditeDesafios para a implantação do primeiro programa de rastreamento cardite
Desafios para a implantação do primeiro programa de rastreamento cardite
 
ECG de repouso - Diretrizes
ECG de repouso - DiretrizesECG de repouso - Diretrizes
ECG de repouso - Diretrizes
 

Andere mochten auch

Thrombosis in children with bt shunts, glenns and fontans
Thrombosis in children with bt shunts, glenns and fontansThrombosis in children with bt shunts, glenns and fontans
Thrombosis in children with bt shunts, glenns and fontansgisa_legal
 
Functional echocardiography in the fetus with non cardiac disease
Functional echocardiography in the  fetus with non cardiac diseaseFunctional echocardiography in the  fetus with non cardiac disease
Functional echocardiography in the fetus with non cardiac diseasegisa_legal
 
Tto de sc assintomático
Tto de sc assintomáticoTto de sc assintomático
Tto de sc assintomáticogisa_legal
 
Sudden cardiac death in adolescents
Sudden cardiac death in adolescentsSudden cardiac death in adolescents
Sudden cardiac death in adolescentsgisa_legal
 
Tto de has em cr
Tto de has em crTto de has em cr
Tto de has em crgisa_legal
 
Avaliação medicação em pediatria
Avaliação medicação em pediatriaAvaliação medicação em pediatria
Avaliação medicação em pediatriagisa_legal
 
Pediatrics 2013- sreening para has
Pediatrics 2013- sreening para hasPediatrics 2013- sreening para has
Pediatrics 2013- sreening para hasgisa_legal
 
Wh fecho criteriafordxrhdnrcardio.2012.7
Wh fecho criteriafordxrhdnrcardio.2012.7Wh fecho criteriafordxrhdnrcardio.2012.7
Wh fecho criteriafordxrhdnrcardio.2012.7gisa_legal
 
Avaliação e tto de sc em criança
Avaliação e tto de sc em criançaAvaliação e tto de sc em criança
Avaliação e tto de sc em criançagisa_legal
 
Defeitos congenitos no rs
Defeitos congenitos no rsDefeitos congenitos no rs
Defeitos congenitos no rsgisa_legal
 
Diretriz valvopatias 2011
Diretriz valvopatias   2011Diretriz valvopatias   2011
Diretriz valvopatias 2011gisa_legal
 
Detecção pré natal de cc resultado de programa preliminar
Detecção pré natal de cc   resultado de programa preliminarDetecção pré natal de cc   resultado de programa preliminar
Detecção pré natal de cc resultado de programa preliminargisa_legal
 
Pediatrics 2011--aterosclerose
Pediatrics 2011--aterosclerosePediatrics 2011--aterosclerose
Pediatrics 2011--aterosclerosegisa_legal
 
Fetal interventions for congenital heart disease in brazil
Fetal interventions for congenital heart disease in brazilFetal interventions for congenital heart disease in brazil
Fetal interventions for congenital heart disease in brazilgisa_legal
 
Hypertension 2013-rosner-247-54
Hypertension 2013-rosner-247-54Hypertension 2013-rosner-247-54
Hypertension 2013-rosner-247-54gisa_legal
 
Choque em crianças
Choque em criançasChoque em crianças
Choque em criançasgisa_legal
 
Pediatric hypertension a growing problem
Pediatric hypertension a growing problemPediatric hypertension a growing problem
Pediatric hypertension a growing problemgisa_legal
 
Diretriz valvopatias 2011
Diretriz valvopatias   2011Diretriz valvopatias   2011
Diretriz valvopatias 2011gisa_legal
 
Obstrução de BT na T4F
Obstrução de BT na T4FObstrução de BT na T4F
Obstrução de BT na T4Fgisa_legal
 

Andere mochten auch (20)

Thrombosis in children with bt shunts, glenns and fontans
Thrombosis in children with bt shunts, glenns and fontansThrombosis in children with bt shunts, glenns and fontans
Thrombosis in children with bt shunts, glenns and fontans
 
Functional echocardiography in the fetus with non cardiac disease
Functional echocardiography in the  fetus with non cardiac diseaseFunctional echocardiography in the  fetus with non cardiac disease
Functional echocardiography in the fetus with non cardiac disease
 
Tto de sc assintomático
Tto de sc assintomáticoTto de sc assintomático
Tto de sc assintomático
 
Sudden cardiac death in adolescents
Sudden cardiac death in adolescentsSudden cardiac death in adolescents
Sudden cardiac death in adolescents
 
Tto de has em cr
Tto de has em crTto de has em cr
Tto de has em cr
 
Avaliação medicação em pediatria
Avaliação medicação em pediatriaAvaliação medicação em pediatria
Avaliação medicação em pediatria
 
Pediatrics 2013- sreening para has
Pediatrics 2013- sreening para hasPediatrics 2013- sreening para has
Pediatrics 2013- sreening para has
 
Wh fecho criteriafordxrhdnrcardio.2012.7
Wh fecho criteriafordxrhdnrcardio.2012.7Wh fecho criteriafordxrhdnrcardio.2012.7
Wh fecho criteriafordxrhdnrcardio.2012.7
 
Avaliação e tto de sc em criança
Avaliação e tto de sc em criançaAvaliação e tto de sc em criança
Avaliação e tto de sc em criança
 
Defeitos congenitos no rs
Defeitos congenitos no rsDefeitos congenitos no rs
Defeitos congenitos no rs
 
Diretriz valvopatias 2011
Diretriz valvopatias   2011Diretriz valvopatias   2011
Diretriz valvopatias 2011
 
Detecção pré natal de cc resultado de programa preliminar
Detecção pré natal de cc   resultado de programa preliminarDetecção pré natal de cc   resultado de programa preliminar
Detecção pré natal de cc resultado de programa preliminar
 
Pediatrics 2011--aterosclerose
Pediatrics 2011--aterosclerosePediatrics 2011--aterosclerose
Pediatrics 2011--aterosclerose
 
Fetal interventions for congenital heart disease in brazil
Fetal interventions for congenital heart disease in brazilFetal interventions for congenital heart disease in brazil
Fetal interventions for congenital heart disease in brazil
 
Hypertension 2013-rosner-247-54
Hypertension 2013-rosner-247-54Hypertension 2013-rosner-247-54
Hypertension 2013-rosner-247-54
 
Choque em crianças
Choque em criançasChoque em crianças
Choque em crianças
 
Pediatric hypertension a growing problem
Pediatric hypertension a growing problemPediatric hypertension a growing problem
Pediatric hypertension a growing problem
 
Pa em neonato
Pa em neonatoPa em neonato
Pa em neonato
 
Diretriz valvopatias 2011
Diretriz valvopatias   2011Diretriz valvopatias   2011
Diretriz valvopatias 2011
 
Obstrução de BT na T4F
Obstrução de BT na T4FObstrução de BT na T4F
Obstrução de BT na T4F
 

Morte Súbita no Exercício e no Esporte

  • 1. Rev Bras Med Esporte _ Vol. 11, Supl 1 – Agosto, 2005 S 1 Morte Súbita no Exercício e no Esporte Editores: Marcos Aurélio Brazão de Oliveira, Marcelo Bichels Leitão Colaboradores: Antonio Cláudio Lucas da Nobrega, Arnaldo José Hernandez, Cláudio Baptista, Cláudio Gil Soares de Araújo, Daniel Arkader Kopiler, Daniel Daher, Felix Albuquerque Drummond, João Alves Granjeiro Neto, José Antônio Caldas Teixeira, José Kawazoe Lazzoli, José Mauro Regula Espósito, Maria Zildany Pinheiro Távora, Marcio Ortiz, Miguel Ibrahim Hanna Sobrinho, Nabil Ghorayeb, Niraj Mehta, Paula Baptista, Pedro Vicente Michelotto, Renata Rodrigues de Castro, Ricardo Munir Nahas, Ricardo Rego Barros, Roberto Vital, Samir Amin Daher, Serafim Ferreira Borges, Tales de Carvalho Patrocinadores: MICROMED BIOTECNOLOGIA, PARANÁ ESPORTE Apoios Institucionais: Comitê Olímpico Brasileiro, Comitê Paraolímpico Brasileiro, Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, Sociedade de Medicina Desportiva do Paraná Agradecimento: Os editores agradecem ao Dr. Pedro Vicente Michelotto, diretor da CLINICOR-PR e ao Sr. Ricardo Gomyde, diretor da PARANÁ ESPORTE por sua fundamental contribuição na realização desta Diretriz. DIRETRIZ DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA DO ESPORTE INTRODUÇÃO A morte súbita relacionada ao exercício e ao esporte (MSEE) pode ser definida como a morte que ocorre de modo inesperado, instantaneamente ou não. Uma outra defini- ção utilizada seria a da morte que ocorre de 6 a 24 horas após prática de uma atividade físico-desportiva(1,2) . A MSEE tende a gerar grande repercussão nas diversas formas de mídia, especialmente quando ocorre em atletas profissio- nais que são considerados verdadeiros modelos de saúde. Apesar disso, felizmente, a MSEE é um evento raro e essa informação deve ser levada em consideração dentro do con- texto dessa diretriz, para analisar as informações de risco relativo baixo ou alto. Abaixo dos 35 anos de idade, as causas mais freqüentes são as cardiopatias congênitas, sendo a cardiomiopatia hi- pertrófica a mais prevalente. Acima dos 35 anos, a doença arterial coronariana (DAC) é a causa mais comum. Wever(3) estima que cerca de 90% das vítimas de MS possuam car- diopatia conhecida ou não diagnosticada. Assim, na maio- ria dos casos, a MSEE ocorre por causas que podem ser detectáveis através de um exame clínico e de exames com- plementares e, conseqüentemente, muitas vezes a MSEE é um evento que pode ser evitado. A estratégia fundamen- tal para sua prevenção é a realização de uma avaliação mé- dica pré-participação específica para indivíduos envolvidos na prática sistemática de exercícios e, sempre que possí- vel, uma boa infra-estrutura do ponto de vista médico nos locais de treinamento e competição para um pronto-atendi- mento em situações emergenciais, incluindo a parada car- diorrespiratória. Esses são os principais escopos dessa Di- retriz da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte sobre Morte Súbita no Exercício e no Esporte. EPIDEMIOLOGIA A real incidência da MSEE é desconhecida. Estudos en- contraram valores muito diferentes, variando conforme a idade, o sexo e o tipo de esporte praticado pelo atleta. Em artigo de Perez et al.(4) a MS é estimada em jovens abaixo de 30-35 anos em 1/133.000 homens/ano e 1/769.000 mu- lheres/ano, sendo que uma de cada 10 mortes está relacio- É importante que os profissionais médicos e da área da saúde disponham de instrumentos que os mantenham atualizados e que lhes permitam selecionar a grande quan- tidade de informações que a eles chegam. Com esse in- tuito, a Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (SBME) vem procurando ao longo dos últimos oito anos publicar diretrizes relacionadas à prática de atividade físi- ca/exercício/esporte com o intuito de instrumentalizar os profissionais médicos que militam na área. O presente documento objetiva abordar as questões referentes à morte súbita relacionada com exercício e o esporte e sugerir medidas de prevenção. DESCRIÇÃO DO MÉTODO DE COLETA DE EVIDÊNCIAS Foram feitos levantamentos bibliográficos nas bases de dados da Medline, Scielo e Lilacs, além de livros-texto na área de Cardiologia do Esporte. Os artigos consultados foram discutidos pelo grupo de trabalho constituído pela SBME e avaliados segundo sua força de evidência cientí- fica. GRAU DE RECOMENDAÇÃO E FORÇA DE EVIDÊNCIA A. Grandes ensaios clínicos aleatorizados e metanáli- ses. B. Estudos clínicos e observacionais bem desenhados. C. Relatos e séries de casos clínicos. D. Publicações baseadas em consensos e opiniões de especialistas. OBJETIVOS DESTA DIRETRIZ 1. Abordar as principais causas de MSEE; 2. Caracterizar os elementos de uma avaliação pré-par- ticipação; 3. Recomendar possíveis estratégias de prevenção da MSEE. CONFLITO DE INTERESSE Nenhum conflito de interesse declarado.
  • 2. S 2 Rev Bras Med Esporte _ Vol. 11, Supl 1 – Agosto, 2005 nada com o esporte. Recente estudo realizado na região de Veneto (Itália) mostrou uma incidência de 2,3 MS por 100.000 atletas por ano provocada por todas as causas e 2,1 MS por 100.000 atletas por ano por doença cardiovas- cular(5). De acordo com inúmeros estudos, pode-se considerar que para indivíduos saudáveis que se exercitam, seja em nível competitivo ou não e independente da intensidade, o risco de MSEE é muito baixo quando analisado do ponto de vista estatístico. Situações ambientais extremas, distúrbios hidroeletrolíticos graves ou uso de determinados ergogêni- cos podem, hipoteticamente, acrescentar algum risco, embora não existam dados precisos a esse respeito. Em adendo, indivíduos que praticam exercício regularmente apresentam um menor risco de MSEE do que indivíduos sedentários, visto que o exercício regular promove uma estimulação parassimpática promovendo uma estabilidade elétrica, ao contrário do exercício vigoroso ocasional que estimula o sistema nervoso parassimpático e promove uma instabilidade elétrica predispondo a arritmias cardíacas gra- ves e/ou ruptura de uma placa aterosclerótica vulnerável. As principais causas de MSEE estão relacionadas na ta- bela 1 e algumas destas causas são discutidas mais deta- lhadamente a seguir. TABELA 1 Principais causas de MSEE Abaixo de 30-35 anos Cardiomiopatias Hipertrófica Displasia arritmogênica do VD Origem anômala de artérias coronárias Miocardites Doenças valvares congênitas ou adquiridas Doença de Chagas Doenças do sistema de condução Drogas (por exemplo: cocaína, anfetaminas, esteróides anabolizantes) Distúrbios eletrolíticos Concussão cardíaca Doenças da aorta Síndrome de Marfan Acima de 30-35 anos Doença arterial coronariana CAUSAS DE MSEE EM INDIVÍDUOS ABAIXO DE 30-35 ANOS Cardiomiopatia hipertrófica (CH) A CH é a principal causa de MSEE na grande maioria das séries estatísticas. Uma das exceções foi descrita num le- vantamento de Corrado et al.(6) , na Itália, sobre as causas de afastamento e de MSEE entre 33.735 atletas jovens entre 1979 e 1996, em que a displasia arritmogênica de VD pontificou como a principal causa de MSEE (22% dos ca- sos contra apenas 2% de CH). A explicação para o fato se- ria a de que, nos casos suspeitos de CH detectados numa avaliação pré-participação, esses indivíduos eram imediata- mente afastados das atividades físico-desportivas (A). A CH é uma doença congênita autossômica dominante caracterizada por importante desarranjo miofibrilar, hiper- contratilidade e hipodiastolia, hipertrofia septal assimétrica com ou sem obstrução ao trato de saída do VE. Até o mo- mento são conhecidos 12 gens implicados na gênese des- sa doença com mais de 400 mutações genéticas relaciona- das com as proteínas contráteis do miocárdio. Os portado- res de CH podem ser totalmente assintomáticos ou apresentar tonteiras, síncope, especialmente relacionadas com o exercício, dispnéia, palpitações e angina(7). A MSEE pode ocorrer devido a arritmias ventriculares, supraventri- culares (com ou sem pré-excitação), bloqueio AV total, as- sistolia e infarto do miocárdio. O diagnóstico diferencial entre CH e a HVE típica dos atletas de alta performance pode ser difícil, necessitando- se, além, de uma boa anamnese, um exame físico minucio- so que inclua a pesquisa de sopros característicos de obs- trução à via de saída de VE. Maron et al.(7) chamam a atenção para duas situações de difícil diagnóstico: a) diferenciar a CH da “síndrome do coração do atleta” em atletas com espessamento da parede ventricular esquerda de 13 a 15mm sem dilatação da cavidade e comprometimento da contratilidade ventricular esquerda na ausência de movimen- to sistólico anterior da válvula mitral; b) diferenciar imagens de ressonância magnética, genótipo e evidências clínicas e morfológicas da CH. (D) Outro dado a ser ressaltado é que o risco de MS em portadores de CH é diretamente propor- cional à magnitude da HVE(8,9) (C). Vários autores têm apontado a utilização de desfibrilador implantável como a forma mais efetiva no controle das ar- ritmias em portadores da CH, prevenindo assim a MS nes- ses pacientes(10,11) . Cardiomiopatia de VD (CVD) Também conhecida como Displasia Arritmogênica de VD, é caracterizada por fibrose e áreas de infiltração gordurosa entremeadas com miócitos normais. Até o momento já fo- ram descritos os seguintes gens implicados no aparecimen- to dessa cardiopatia: ARVD1 – AD – (Rampazzo et al., 1994) ARVD2 – AD – (Rampazzo et al., 1995) ARVD3 – AD – (Severini et al., 1996) ARVD4 – AD – (Rampazzo et al., 1997) ARVD5 – AD – (Ahamad et al., 1998) ARVD6 – AD – (Li D et al., 2000) ARVD7 – AD – (Melberg et al., 1999) ARVD8 – AD – (Rampazzo et al., 2002) NAXOS – AR – (Coonar et al., 1998) Sínd. de Carvajal – AR (Norgett et al., 2000), onde AD = autossômico dominante e AR = autossômico recessivo(12) . Do ponto de vista clínico, o portador de CVD pode ser totalmente assintomático com o eletrocardiograma (ECG) totalmente normal ou apresentar inversão de onda T (de V1 a VE) em 50% dos casos (se tais alterações forem além da derivação V3, pensar em afecção concomitante de VE); QRS ≥ 110ms em V1/V2; padrão de BIRD em 18%, padrão de BCRD em 15% dos casos, extrassístoles ventriculares e episódios de taquicardia ventricular; ondas épsilon (em 30% dos casos)(12) . Além do eletrocardiograma convencional, a ecocardiogra- fia, a angiografia ventricular D e a ressonância nuclear mag- nética podem ser de grande valia no diagnóstico da CVD. Recentemente, tem sido sugerida a implantação de car- dioversor/desfibrilador em portadores de CVD como opção
  • 3. Rev Bras Med Esporte _ Vol. 11, Supl 1 – Agosto, 2005 S 3 terapêutica com o objetivo de diminuir a morbimortalidade dos pacientes portadores dessa doença(13) (C). Origem anômala de coronárias Muitas casuísticas têm apontado a origem anômala de coronárias como a 2ª maior causa de MSEE em jovens. A anomalia mais comum é o tronco da coronária E nascendo do seio de Valsalva D, em que 70% dos indivíduos morrem com menos de 20 anos de idade. Outras anormalidades (mais raras) são as artérias hipoplásicas, a coronária D nas- cendo do seio de Valsalva E, a coronária E nascendo do tronco da artéria pulmonar e a coronária D nascendo da artéria circunflexa. A identificação da origem anômala de coronárias pode ser difícil durante a vida, constituindo-se, muitas vezes, em diagnóstico de necropsia pelo fato de os pacientes porta- dores dessa condição patológica serem assintomáticos e apresentarem ECG e teste ergométrico normais. A origem anômala de coronárias deve ser suspeitada em jovens com história de síncope induzida pelo exercício ou arritmia ven- tricular sintomática. Nesses casos deve ser feita a investi- gação diagnóstica através da ecocardiografia, RNM cardíaca e tomografia computadorizada ultra-rápida. No caso des- ses métodos não serem conclusivos, a coronariografia pode ser necessária(14-16) . CAUSAS DE MSEE EM INDIVÍDUOS ACIMA DE 30-35 ANOS Doença arterial coronariana Nos indivíduos com mais de 35 anos de idade, a principal causa de MSEE é a doença arterial coronariana (DAC). Os indivíduos com DAC clinicamente controlada devem ser es- timulados a praticar exercícios físicos regulares, não com- petitivos. Em atividades competitivas, o risco de MSEE ten- de a ser tanto maior quanto menor for o condicionamento físico necessário para a competição. O risco tende a ser diretamente proporcional à intensidade do exercício, sen- do provavelmente mais alto nas atividades que dependam de grande alternância de ritmo. Coronariopatas que partici- pem de exercícios de alta intensidade ou aqueles que de- senvolvam isquemia miocárdica em esforços de baixa ou moderada intensidade deverão ser orientados a participar de programas de reabilitação cardíaca com supervisão mé- dica habilitada. É importante alertar aos indivíduos que pra- ticam exercícios vigorosos esporádicos que esse tipo de atividade pode ser deletério para o aparelho CV, podendo levar a complicações graves como ruptura de placa ateros- clerótica, arritmias cardíacas graves e morte súbita(17-19) . Isso se deve ao fato de que exercícios vigorosos ocasio- nais promovem uma estimulação do sistema simpático, ins- tabilidade elétrica e arritmias ventriculares (taquicardia e fi- brilação ventricular), além de predisporem a uma ruptura de uma placa aterosclerótica coronariana vulnerável. Os exercícios moderados habituais promovem uma estimula- ção do sistema parassimpático (aumento do tônus vagal) e, em conseqüência, há uma estabilidade elétrica e proteção contra a fibrilação ventricular, além haver um efeito favorá- vel do exercício sobre o perfil lipídico desses pacientes. OUTRAS CAUSAS DE MSEE Concussão cardíaca A concussão cardíaca (CC), em geral citada na literatura como commotio cordis, refere-se a um trauma torácico sú- bito, não penetrante no precórdio, que leva a arritmia e/ou morte súbita sem evidência de lesão estrutural no coração à necropsia, distinguindo-na da contusão (contusio cordis), e de outras lesões cardíacas mais graves tais como a rup- tura. A CC ocorre principalmente em jovens entre os 5 e 18 anos, tendo maior incidência no beisebol, softball e hockey no gelo. Têm sido descritos casos ainda no futebol, bas- quete, cricket, boxe e artes marciais. A morte geralmente é provocada por projéteis esporti- vos (bolas de beisebol, discos de hockey), mas de maneira geral pode ser provocada por qualquer impacto no precór- dio, incluindo colisões corporais. A morte é em geral ime- diata em 50% dos casos. Quatro fatores principais são cita- dos para a indução de arritmias: o tipo de impacto (veloz e com pequena área de contato), a localização do impacto (o precórdio), a força do impacto, além da magnitude da com- pressão torácica(20-23) . Link et al.(24,25) mostraram que o risco e o tipo de arritmia induzida dependem do momento em que o impacto ocorre durante o ciclo cardíaco. Impactos que ocorrem no período vulnerável produzem mais fibrilação ventricular. As medi- das preventivas incluem o uso de protetores torácicos, co- letes e as chamadas “bolas seguras”, com núcleo mais macio, lembrando que mesmo estas não dão proteção ab- soluta. Medidas educativas para os jogadores e técnicos têm papel relevante nas estratégias preventivas. O desfi- brilador automático externo deveria estar disponível nos locais de competições para serem usados até 5 minutos após a ocorrência do CC. Arritmias Aproximadamente 2% de atletas jovens que morrem su- bitamente apresentam ausência de cardiopatia estrutural na autópsia. Nestes casos, a causa de morte súbita é pri- mariamente arrítmica, ou seja, morte não associada a alte- rações morfológicas e estruturais do coração como, por exemplo, a síndrome do QT longo(26) . Abordaremos a se- guir as anormalidades primariamente eletrofisiológicas que podem levar à MSEE. Os pacientes com alteração primariamente eletrofisioló- gica são aqueles nos quais a função mecânica do miocárdio é normal, porém existe uma disfunção eletrofisiológica que representa o problema cardíaco primário(27) . Nesse grupo estão os pacientes portadores de: Síndrome de Wolff-Parkinson-White; Síndrome de QT longo; Síndrome de Brugada; Taquicardia ou fibrilação ventricular; Idiopática. A Síndrome de Wolff-Parkinson-White (WPW) resulta de uma via adicional anômala de conexão entre átrios e ven- trículos. Pacientes com WPW têm risco de MS menor que 1 para 1.000 pacientes/ano; em aproximadamente 10% a MS é a primeira manifestação da doença(28) . O mecanismo
  • 4. S 4 Rev Bras Med Esporte _ Vol. 11, Supl 1 – Agosto, 2005 responsável pela morte súbita mais provável é o desenvol- vimento de fibrilação atrial (FA) com condução rápida para o ventrículo através da via anômala resultando em ritmo de fibrilação ventricular e colapso hemodinâmico. A conduta nos pacientes sintomáticos deve ser avaliação com estudo eletrofisiológico (EEF) e ablação da via acessória. Trabalho recente propõe estudo eletrofisiológico para todos os pa- cientes, mesmo os assintomáticos; demonstrou redução na freqüência de eventos arrítmicos naqueles com indução de taquicardia supraventricular ou fibrilação atrial no EEF e que foram submetidos à ablação com radiofreqüência da via(29). Portanto, em pacientes com a síndrome de pré-excita- ção ventricular (WPW), a prática de esportes competitivos vigorosos poderá ser realizada desde que os mesmos se- jam submetidos à ablação da via anômala com radiofreqüên- cia(30). Esse procedimento apresenta taxas de cura de até 95% com índices de complicações abaixo de 1%(28,31). Na- queles pacientes totalmente assintomáticos, poder-se-ia argumentar que o risco de eventos é baixíssimo. No entan- to, não podemos ignorar o fato de que, no esforço, o cora- ção é exigido no máximo de sua capacidade e a descarga adrenérgica pode favorecer a condução elétrica por uma via anômala aparentemente, portanto, deve-se indicar abla- ção com catéter nos pacientes atletas com WPW e assin- tomáticos(32) . Em resumo, listamos abaixo como deve ser feita a pre- venção de MS em portadores de Sínd. de WPW e seus níveis de evidência: Prevenção primária (nunca tiveram MS abortada ou arrit- mias severas) – ablação por radiofreqüência através de ca- téter a) sintomáticos com FA e com condução rápida pela via acessória – (A); b) Assintomáticos com história familiar de MS, profis- sionais de risco e atletas (B). Prevenção secundária (tiveram MS e reverteram espon- taneamente ou foram reanimados) – ablação por radiofre- qüência através de cateter (A). A Síndrome de QT Longo (QTL) é uma desordem ca- racterizada pelo prolongamento da repolarização cardíaca resultando em intervalo QT prolongado. É causada pelo movimento anormal de íons sódio e potássio no miócito, criando períodos prolongados de positividade intracelular (ou seja, prolongando a repolarização cardíaca). Pode ser congênita ou adquirida através do uso de medicações que prolongam o QT como, por exemplo, alguns antiarrímicos, antimaláricos, antipsicóticos(30-33) . A forma congênita possui duas variantes, a forma reces- siva, mais rara e associada à surdez (síndrome de Jervell- Lange-Nelson, e a mais freqüente, a autossômica dominante (Síndrome Romano-Ward)(32) . A forma congênita é autossômica dominante e, de acor- do com as alterações genéticas, pode se classificar em ti- pos de 1 a 5. A incidência de eventos cardíacos é maior em QTL1 e QTL2, em relação ao QTL3, enquanto que a letali- dade dos eventos é maior na QTL3. A suspeita diagnóstica se faz em pacientes com história de síncopes ou parada cardíaca durante estresse emocional ou físico, relato fami- liar de síndrome de QT longo, de MS em familiares com < 30 anos de causa inexplicada, ECG com QT prolongado, bradicardia sinusal, ondas T com contornos anormal e alter- nantes, episódios de taquicardia ventricular polimórfica do- cumentada (tipo Torsade de Pointes). O tratamento tem como objetivo diminuir a estimulação adrenérgica, com o uso de betabloqueadores, resultando em diminuição, po- rém não eliminação, dos eventos cardíacos. O cardiodesfi- brilador implantável (CDI) pode terminar com a taquiarrit- mia automaticamente, havendo indicação em pacientes sintomáticos mesmo em tratamento com betabloqueado- res(33-35). A prática de esportes nestes pacientes é limitada, já que o exercício físico aumenta a estimulação adrenérgica. As- sim, a prática de esportes vigorosos e competitivos é defi- nitivamente contra-indicada, mesmo após o implante de desfibrilador automático. Em seguida, descrevemos a prevenção de MS em porta- dores de síndrome do QT longo e seus níveis de evidência. Primária Evitar esportes competitivos/atividade extenuante Sintomáticos (A) Carreadores de genes silenciosos (B) Assintomáticos (B) Secundária CDI + betabloqueadores (A) Evitar esportes competitivos/atividades extenuantes (A) Evitar agentes que prolonguem QT (A) A Síndrome de Brugada é uma condição familiar asso- ciada à morte súbita devido a fibrilação ventricular ou taqui- cardia ventricular. Esta síndrome corresponde, provavelmen- te, a 40 a 60% de todos os casos de fibrilação ventricular idiopática(36,37) . Esses pacientes apresentam alteração ca- racterística no ECG basal, com morfologia de bloqueio de ramo direito associado a supradesnivelamento de ST de V1 a V3. Porém, esta alteração pode não ser identificada num ECG de repouso, podendo ser intermitente e relacionada à temperatura corporal, modificações de tônus vagal ou adre- nérgico e alterada por ação por medicações. Os indivíduos portadores desta síndrome manifestam episódios espon- tâneos de taquicardia ventricular polimórfica ou fibrilação ventricular que pode se manifestar durante ou após a práti- ca esportiva. Os pacientes com síndrome de Brugada sin- tomáticos são de alto risco para morte súbita e devem, por- tanto, ser tratados com implante de CDI(36,38) . Pacientes assintomáticos com alteração no ECG espontânea freqüen- temente se tornam sintomáticos, particularmente se indu- zirem taquicardia ou fibrilação ventricular no estudo eletro- fisiológico, podendo ser discutido o implante de CDI(36). A atividade física vigorosa está formalmente contra-indi- cada nos pacientes sintomáticos que receberão provavel- mente CDI. Naqueles totalmente assintomáticos, mesmo que não receberam um CDI, a atividade física vigorosa tam- bém deve ser contra-indicada(38) . A prevenção primária de MS em portadores de síndrome de Brugada deve ser: Indicações para CDI: sintomáticos (com síncope ou ta- quicardia ventricular) – (A) Assintomáticos com TV ou fibrilação ventricular induzí- veis – (B)
  • 5. Rev Bras Med Esporte _ Vol. 11, Supl 1 – Agosto, 2005 S 5 Assintomáticos sem TV ou fibrilação ventricular induzí- veis – (C) Evitar esportes competitivos ou atividades extenuantes Sintomáticos (A) Assintomáticos sem TV ou FV induzíveis (B) Prevenção secundária CDI (A) – Evitar esporte competitivos ou atividades exte- nuantes (A) Doença de Chagas (DC) A Doença de Chagas se constitui num grave problema de Saúde Pública para a América Latina acometendo, se- gundo dados recentes, cerca de 16 milhões de pessoas e expondo ao risco de adquirir a infecção mais de 90 mi- lhões(39) ..... Sabe-se, ainda, que a doença de Chagas pode pro- vocar morte súbita em 12 a 37% dos pacientes em qual- quer fase evolutiva da doença(40) , algumas delas podendo ocorrer durante qualquer atividade física(41). Formas de Apresentação Clínica Forma Indeterminada: são pacientes soropositivos, com eletrocardiograma de repouso (ECG) normal e estudo ra- diológico do coração, esôfago e cólons também normais. No entanto, quando estes pacientes são submetidos a métodos complementares mais sofisticados (estudo ele- trofisiológico, ECG de alta resolução, cintilografia miocárdi- ca, ecocardiograma, etc.) alterações morfofuncionais leves já podem ser identificadas. Forma Dilatada: pode se manifestar por quadros de dis- função ventricular de vários graus, por vezes com insufi- ciência cardíaca congestiva (ICC), aumento da área cardía- ca ao estudo radiológico do tórax, ECG sempre alterado (presença de bloqueio de ramo direito (BRD), bloqueio divi- sional ântero-superior (BDAS), às vezes bloqueio de ramo esquerdo (BRE), eventualmente fibrilação atrial (FA) ou flut- ter atrial). Forma Arritmogênica: ocorre predomínio das alterações do sistema excito-condutor, podendo haver alterações do ritmo desde extrassístoles isoladas (mais freqüente) até BRD, BDAS, BRE, bloqueio atrioventricular (BAV) em todos os seus graus, além de comprometimento dos nódulos si- nusal e atrioventricular. Forma Mista: as arritmias e a disfunção ventricular são igualmente importantes, determinando uma maior morbi- mortalidade neste grupo de pacientes. Diagnóstico Rotineiramente devem ser realizados o ECG/vetocardio- grama, telerradiografia de tórax em PA e perfil, teste ergo- métrico e ecocardiograma (ECO), além de exames labora- toriais que incluem glicemia de jejum, eletrólitos, avaliação da função renal, dosagem de perfil lipídico, urina tipo I. Atletas que apresentam alterações ao ECG e principal- mente ao ECO, durante o TE exibem déficit cronotrópico, arritmias complexas, distúrbios da condução atrioventricu- lar e menor capacidade funcional do que atletas não porta- dores de DC. No entanto, estes atletas apresentam uma capacidade funcional muito acima da média dos sedentários da mesma faixa etária por se tratar de indivíduos altamente treinados(42) . Atualmente indica-se a ventriculografia radio- isotópica nos atletas com forma indeterminada, pois exis- tem evidências de alterações contráteis precoces nesses indivíduos, principalmente no VD, que tem a avaliação pelo ECO dificultada em várias situações. O significado prognóstico da DC em atletas não pode ainda ser precisamente determinado, uma vez que nenhum estudo prospectivo de seguimento em longo prazo e com um número adequado de indivíduos nessas condições foi conduzido até o momento. Entretanto, não temos razões para acreditar em diferenças significativas na evolução de atletas chagásicos em relação a não atletas. Ao contrário, a sobrecarga imposta ao sistema cardiovascular durante a realização de exercícios de grande intensidade e duração pode ser fator agravante para danos no coração desses atle- tas(43,44) . A morte súbita (MS) é descrita como evento fatal em até 37% dos pacientes com cardiomiopatia chagásica, em graus diferentes de evolução(39). Um interessante estudo prospec- tivo observacional realizado demonstrou que a presença isolada da soropositividade já se associava com o aumento da mortalidade em pessoas entre 20 e 59 anos. Neste mes- mo grupo, a presença de BCRD isolado ou somado a blo- queios fasciculares e ectopias ventriculares mesmo quando em indivíduos assintomáticos, aumentava significativamen- te a mortalidade em relação aos soropositivos com ECG normal(45) . É importante realizar o diagnóstico diferencial en- tre cardiomiopatia chagásica com acometimento predomi- nante do VD e displasia arritmogênica do VD pelo fato de ambas apresentarem cursos clínicos semelhantes. Outras causas Existem outras causas menos freqüentes de MSSE. En- tre elas podemos citar o uso de doping (particularmente as anfetaminas e esteróides anabolizantes), uso de outras dro- gas (cocaína, por exemplo), prolapso de válvula mitral, ane- mia falciforme e síndrome de Marfan, dentre outras. ASPECTOS PREVENTIVOS DA MSEE Avaliação clínica pré-participação A avaliação pré-participação (APP) é recomendável para todos os indivíduos que praticam exercícios físicos – de caráter competitivo ou não – e tem como um de seus prin- cipais objetivos afastar condições que possam ter no exer- cício físico um gatilho para o desencadeamento de eventos graves, como a ocorrência de morte súbita. Um dos pontos fundamentais na aplicação da APP é a relação custo x benefício desta intervenção. Diversos estu- dos que analisaram os resultados de uma APP com exa- mes complementares incluídos mostraram custos eleva- dos para a detecção de casos de risco potencial de MSEE. Por outro lado, quando analisamos o esporte profissional, no qual muitas vezes a detecção tardia de uma situação de risco ou até mesmo a ocorrência de MSEE trazem conside- ráveis prejuízos para quem custeia a formação e manuten- ção de atletas, os custos de uma APP com métodos com- plementares, se tornam plenamente justificados, tanto do ponto de vista de garantir a integridade do atleta, quanto de preservar o investimento realizado. Devemos levar, ain- da, em consideração a sensibilidade e especificidade des- ses exames, além dos aspectos ético-legais implicados.
  • 6. S 6 Rev Bras Med Esporte _ Vol. 11, Supl 1 – Agosto, 2005 Nesta Diretriz, especificamos os itens da APP diretamente relacionados com a prevenção da MS. Passos da avaliação pré-participação A avaliação clínica pré-participação deve constar de uma anamnese precisa, valorizando a história patológica pregres- sa, história familiar de cardiopatias e/ou morte súbita pre- matura, a história social e os hábitos de vida. Na história pessoal, devem ser cuidadosamente pesquisados sintomas como síncope durante ou imediatamente após o esforço, dor torácica e dispnéia inexplicável ou desproporcional ao grau de esforço físico realizado. Uma forma de quantificar a dispnéia ou fadiga é compará-la à de seus companheiros de equipe. Em nosso meio é importante a investigação de doença de Chagas, principalmente, se levarmos em conta o grande contingente de pessoas que migram de zonas endêmicas para os grandes centros em busca de maiores oportunidades, o que ocorre também no caso de indivíduos que querem se tornar atletas. O exame físico deve ser mi- nucioso e, no que tange à questão da MSEE, com ênfase para o aparelho cardiovascular. A relação custo x benefício de uma investigação com exa- mes complementares complexos tem sido bastante ques- tionada; entretanto, uma anamnese minuciosa e um exame físico apurado com ênfase para o aparelho cardiovascular, numa avaliação pré-participação, são mandatórios, indepen- dente da faixa etária. Outro aspecto importante no que tange à prevenção de morte súbita é a educação do praticante de exercícios. Cabe ao médico orientar quanto ao risco de MSEE com diversas drogas freqüentemente utilizadas como recursos ergogê- nicos, muitas das quais fazem parte das listas de substân- cias proibidas em esportes competitivos (doping), como esteróides anabolizantes, anfetamínicos e cocaína. Exames laboratoriais Eletroforese de hemoglobina/Teste de falciformação Visa identificar os portadores de traço falcêmico ou de anemia falciforme, condição que pode provocar morte sú- bita durante a prática esportiva. Em nosso país, ainda não é um exame utilizado rotineiramente. VDRL/FTA-Abs Devemos lembrar que a presença de sífilis pode levar ao aparecimento de lesões da válvula aórtica ou da própria aorta, como, por exemplo, a aortite sifilítica, que pode levar à morte súbita durante o exercício. Além disso, essa doen- ça tem sido negligenciada e subnotificada. Sorologia para Chagas Em nosso meio é importante a investigação de doença de Chagas, principalmente se levarmos em conta o grande contingente de pessoas que migram de zonas endêmicas para os grandes centros em busca de maiores oportunida- des, o que ocorre também no caso de indivíduos que que- rem se tornar atletas. Assim, quando houver na história so- cial do indivíduo algum indício de possível exposição ao risco de contrair essa patologia, a sorologia para Doença de Cha- gas passa a ser altamente recomendável (D). ECG de repouso Apesar de possuir algumas limitações, o eletrocardiogra- ma de 12 derivações tem sido proposto como uma alterna- tiva de baixo custo e que pode fornecer informações im- portantes. Estima-se que o ECG possa estar alterado em 70 a 95% dos casos de cardiomiopatia hipertrófica, principal causa de MSEE em atletas jovens(46). No estudo de Füller, esse mé- todo foi o mais eficaz para afastamento de indivíduos numa avaliação pré-participação(47) (A). Algumas instituições nacionais, como o Comitê Parao- límpico Brasileiro (CPB), tem utilizado o ECG como instru- mento fundamental e obrigatório nas avaliações realizadas sistematicamente em seus atletas. Esse método comple- mentar é importante na pesquisa de cardiomiopatia hiper- trófica, síndrome do QT longo, síndrome de Brugada, pré- excitação com ou sem síndrome de Wolf-Parkinson-White. Por outro lado, deve-se atentar para o fato das característi- cas próprias da síndrome do coração do atleta que promo- vem alterações eletrocardiográficas induzidas pelas adap- tações fisiológicas ao treinamento. Teste ergométrico (TE) A faixa etária para indicação do teste ergométrico numa avaliação pré-participação em atividades esportivas é moti- vo de controvérsia na literatura mundial. Alguns autores consideram esse exame complementar como obrigatório para atletas amadores ou profissionais. Devemos lembrar do contingente cada vez maior de atletas master que retor- nam à prática de esportes competitivos numa idade mais avançada, merecendo essa categoria uma atenção espe- cial em termos de avaliação pré-participação. A orientação desse documento é que para a população geral que deseja iniciar a prática de exercícios físicos visando promoção de saúde seja realizado um teste ergométrico em homens aci- ma de 35 anos e mulheres acima de 45 anos (C). Teste cardiopulmonar de exercício (TCPE) Nos últimos anos tem sido utilizada em alguns serviços, com maior freqüência, o TCPE ou ergoespirometria na ava- liação de atletas de alta performance. Esse método possui algumas vantagens em relação ao teste ergométrico con- vencional na questão da avaliação funcional como medida direta do consumo de oxigênio e determinação do limiar anaeróbio. Entretanto, o custo elevado do equipamento (quando comparado com a aparelhagem de uma ergome- tria convencional) ainda se constitui num fator que dificulta sua utilização em larga escala em nosso meio. Ecocardiograma Embora em termos de custo seja inviável a sua aplicação para avaliar grandes grupos populacionais, o ecocardiogra- ma, em alguns casos selecionados, pode ser útil na avalia- ção da origem de sopros cardíacos e nos indivíduos com suspeita de cardiopatias congênitas potencialmente peri- gosas como a cardiomiopatia hipertrófica e a displasia arrit- mogênica de VD, ambas importantes causas de morte sú- bita durante a atividade esportiva em jovens. Dessa forma, não se recomenda a inclusão deste método na rotina de uma APP, mas deve-se lançar mão do mesmo quando os
  • 7. Rev Bras Med Esporte _ Vol. 11, Supl 1 – Agosto, 2005 S 7 dados obtidos nas etapas preliminares da APP indicarem sua necessidade. O ecocardiograma anual tem sido reco- mendado para familiares de portadores de CH durante toda a adolescência(46) . Fica evidente a partir da discussão desenvolvida acima, que existe uma grande variação na profundidade com que se pode realizar a APP, e esta variação pode depender de nível de intensidade da atividade física desenvolvida, carac- terísticas da modalidade, faixa etária, etnia do avaliado e dos recursos humanos e materiais disponíveis. Todavia, quando se discute a questão da MSEE e se pro- cura estabelecer intervenções que sejam efetivas na pre- venção destes eventos, é de fundamental importância des- tacar que as causas mais comuns de MSEE podem ser identificadas ou suspeitadas a partir de uma cuidadosa APP, que contenha inicialmente apenas a avaliação clínica, isto é anamnese + exame físico, sempre que possível associa- dos ao ECG de repouso. Se nesta fase da APP forem obti- das informações que elevem o grau de suspeição para si- tuações de risco, procede-se posteriormente aos exames complementares mais complexos, de acordo com os acha- dos da avaliação clínica inicial. Contudo, em indivíduos en- volvidos com o esporte competitivo, independentemente de outros fatores (gênero, idade, modalidade), é altamente recomendável que o teste ergométrico seja incorporado à APP (C, D). ATENDIMENTO EMERGENCIAL Os cuidados para o melhor atendimento emergencial se iniciam com um plano de atendimento baseado em normas já estabelecidas e de conhecimento geral, com diretrizes de atendimento emergencial básico e avançado. Academias, escolas, ginásios, praças e estádios devem ser locais que tenham equipes preparadas para o atendimento emergen- cial básico, acesso rápido aos cuidados e equipamentos, além de comunicação com equipes treinadas para suporte avançado. Além disso, devem receber treinamento para atendimento emergencial básico equipes de profissionais que trabalhem em eventos esportivos como árbitros, auxi- liares técnicos e administrativos. Uma série de ações deve ser iniciada na presença de uma parada cardiorrespiratória, para aumentar a possibili- dade de reversão do quadro. Para isso é fundamental o uso precoce de desfibrilador, porque o mecanismo principal de parada cardiorrespiratória é a fibrilação ventricular e o único tratamento efetivo para este evento é a desfibrilação(3) . Sugere-se que todas as instalações que ofereçam pro- gramas de atividade física tenham um desfibrilador externo automático (DEA). A necessidade e, conseqüentemente, a ênfase na recomendação para se ter o DEA aumenta em locais nos quais se desenvolvem programas de atividade física especificamente dirigidos a indivíduos idosos ou que apresentem condições médicas especiais (cardiopatas, por exemplo) e nas instalações esportivas que tenham mais de 2.500 freqüentadores(48) . Salienta-se, novamente, a funda- mental importância da presença de equipes treinadas para utilização adequada de tais equipamentos e para oferecer o atendimento emergencial básico. Para eventos esportivos que envolvam muitos atletas, deve existir um plano de atendimento emergencial e equi- pe médica e paramédica preparadas para tal. Este plano deve incluir acesso rápido da equipe ao local, contato tele- fônico imediato e disponibilidade (em local de fácil acesso) de um desfibrilador externo automático. SUMÁRIO DE PONTOS CHAVE A morte súbita no exercício e no esporte (MSEE), apesar de ser um evento que traz grande repercussão e comoção, especialmente quando ocorre em atletas competitivos, é um evento raro e não existem dados que indiquem que sua freqüência esteja aumentando. – Abaixo dos 35 anos as cardiopatias congênitas estão mais freqüentemente relacionadas à causa de MSEE. – A doença arterial coronariana é a causa mais freqüente de MSEE acima de 35 anos. – A avaliação pré-participação (APP) sistemática e perió- dica é a estratégia mais eficiente para se prevenir a MSEE e, em seu nível mais básico (anamnese e exame físico), deve ser realizada, por médico com experiência na área, em todos os indivíduos que praticam exercício e esportes. – Essa avaliação é justificável do ponto de vista ético, médico e legal. – A realização de exames complementares depende das características do indivíduo avaliado (idade, nível de envol- vimento na prática do exercício). – No esporte competitivo é altamente recomendável que o teste ergométrico seja realizado por todos os indivíduos. – O profissional médico mais habilitado para realizar uma adequada APP é o especialista em Medicina do Esporte. – Instituições que oferecem prática de exercícios e es- portes (academias, clubes, escolas) e que organizam even- tos esportivos (associações, federações, confederações) devem requerer um atestado médico, estabelecendo para qual tipo de atividade físico-desportiva o candidato está apto. Devem, ainda, estas instituições organizar e treinar seu pessoal para atendimento emergencial básico e quando recomendado (ambientes com mais de 2.500 freqüentado- res, programas especiais de exercícios para idosos ou para cardiopatas), ter um desfibrilador à disposição e um plano de contingência médica para o pronto transporte da vítima para um complexo hospitalar, quando necessário. REFERÊNCIAS 1. Amsterdam EA. Sudden death during exercise. Cardiology 1990;77:411-7. 2. Burke AP, Farb A, Virmani R, Goodin J, SAmialek JE. Sports related and non-related sudden cardiac in young adults. Am Heart J 1991;121(2)Pt1:568- 75. 3. Wever EFD, et al. JACC Vol. 43, No. 7, April 7, 2004:1137-44. 4. Pérez AB, Fernández S. Muerte súbita en el deportista. Requerimientos mínimos antes de realizar deporte de competición. Rev Esp Cardiol 1999;52:1139-45. 5. Corrado D, Basso C, Rizzoli G, Schiavon M, Thiene G. Does sports activity enhance the risk of sudden death in adolescents and young adults? J Am Coll Cardiol 2003;42:1959-63. 6. Corrado D, Basso C, Schiavon M, Thiene G. Screening for hypertrophic cardiomyopathy in young athletes. N Engl J Med 1998;339:364-9. 7. Maron BJ, Ackerman MJ, Nishimura RA, Pyeritz RE, Towbin JA, Udelson JE. Task-Force 4: HCM and other cardiomyopathies, mitral valve prolapse, myocarditis and Marfan syndrome. J Am Coll Cardiol 2005;45:1340-5. 8. Spirito P, Bellone P, Harris KM, Bernabo P, Bruzzi P, Maron BJ. Magnitude of left ventricular hypertrophy and risk of sudden death in hypertrophic cardiomyopathy. N Engl J Med 2000;342:1778-85.
  • 8. S 8 Rev Bras Med Esporte _ Vol. 11, Supl 1 – Agosto, 2005 9. Elliott P, Gimeno Blanes JR, Mahon NG, Poloniecki J, McKenna WJ. Rela- tion between severity of left ventricular hypertrophy and prognosis in pa- tients with hypertrophic cardiomyopathy. Lancet 2001;357:420-4. 10. Maron BJ, Shen WK, Link MS, Epstein AE, Almquist AK, Daubert JP, et al. Efficacy of implantable cardioverter-defibrillators for the prevention of sud- den death in patients with hypertrophic cardiomyopathy. N Engl J Med 2000;342:365-73. 11. Brugada J. Sudden death in hypertrophic myocardiopathy. Rev Esp Cardiol 1998;51:991-6. 12. Esteban MTT, Garcia-Pinilla MJ, McKenna WJ. Actualización en miocardio- patía arritmogénica del ventrículo derecho: genética, diagnóstico, manifes- taciones clínicas y estratificación de riesgo. Rev Esp Cardiol 2004;57:757- 67. 13. Corrado D, Leoni L, Link MS, Della Bella P, Gaita F, Curnis A, Salerno JU. Implantable cardioverter-defibrillator therapy for prevention of sudden death in patients with arrhythmogenic right ventricular cardiomyopathy/dyspla- sia. Circulation 2003;108:3084-91. 14. Villa RB, et al. Anomalías congénitas de las arterias coronarias del adulto descritas en 31 años de estudios coronariográficos en el Principado de Asturias: principales características angiográficas y clínicas. Rev Esp Car- diol 2001;54:269-81. 15. Basso C, Maron BJ, Corrado D, Thiene G. Clinical profile of congenital cor- onary artery anomalies with origin from the wrong aortic sinus leading to sudden death in young competitive athletes. J Am Coll Cardiol 2000;35: 1493-501. 16. Iskandar EG, Thompson PD. Exercise-related sudden death due to an un- usual coronary artery anomaly. Med Sci Sports Exerc 2004;36:180-2. 17. Albert CM, Mittleman MA, Chae CU, Lee IM, Hennekens CH, Manson JE. Triggering of sudden death from cardiac causes by vigorous exertion. N Engl J Med 2000;343:1355-61. 18. Mittleman MA, Maclure M, Tofler GH, Sherwood JB, Goldberg RJ, Muller JE. Triggering of acute myocardial infarction by heavy physical exertion pro- tection against triggering by regular exertion. N Engl J Med 1993;329:1677- 83. 19. Willich SN, Lewis M, Lowel H, Arntz HR, Schubert F, Schroder R. Physical exertion as a trigger of acute myocardial infarction. N Engl J Med 1993; 329:1684-90. 20. Vicent GM, McPeak H. Commotio cordis – A deadly consequence of chest trauma. The Physician and Sportsmedicine 2000;38: 21. Nesbitt AD, Cooper PJ, Kohl P. Rediscovering commotio cordis. Lancet 2001; 357:1195-7. 22. Maron BJ, Mitten MJ, Burnett CG. Criminal consequences of commotio cordis. Am J Cardiol 2002;89:210-3. 23. Maron BJ, Strasburger JF, Kugler JD, Bell BM, et al. Survival following blunt chest impact – induced cardiac arrest during sports activities in young athletes. Am J Cardiol 1997;79:840-1. 24. Viano DC, Andrzejak DV. Mechanism of fatal chest injury by baseball im- pact: development of an experimental model. Clin J Sports Med 1992;2:166- 71. 25. Link MS, Wang PJ, Udedlson JE, Lee M-Y, Vecchiott MA, VanderBrink BA, et al. An experimental model of sudden death due low energy chest wall impact (commotio cordis). N Engl J Med 1998;338:1085-811. 26. Zipes DP, Wellens HJJ. Sudden cardiac death. Circulation 1999;98:2334- 51. 27. Maron BJ. Sudden death in young athletes. N Engl J Med 2003;329:1064- 75. 28. Priori SG, Blanc JJ, Budaj A, Burgos EF, Deckers JW, Garcia MAA, Klein WW, et al. ACC/AHA/ESC guidelines for the management of patients with supraventricular arrhythmias – Executive summary. J Am Coll Cardiol 2003; 42:1493-53. 29. Pappone C, Santinelli V, Manguso F, Augello G, Santinelli O, Vicedomini G, et al. A randomized study of prophylactic catheter ablation in asyntomatic patients with the Wolff-Parkinson-White Syndrome. N Engl J Med 2003; 349:1803-11. 30. Liberthson RR. Sudden death from cardiac causes in children and young adults. N Engl J Med 1996;334:1039-44. 31. Zipes DP, DiMarco JP, Gilette PC, Jackan WM, Myerburg RJ, Rahimtoola SH. Guidelines for clinical intracardiac eletrophysiological and catheter ab- lation procedures. J Am Coll Cardiol 1995;26:555-73. 32. Priori SG, Aliot E, Blomstrom-Lundqvist C, Bossaert L, Breihardt G, Bruga- da P, Camm AJ, Cappato R, et al. Task force on sudden cardiac death of the European Society of Cardiology. Eur Heart J 2001;22:1375-455. 33. Priori SG, Schwartz PJ, Napolitano C, Bloise R, Ronchetti E, Grillo M, et al. Risk stratification in the long – QT syndrome. N Engl J Med 2003;348:1866- 74. 34. Moss AJ, Jennifer LR. The long-QT syndrome. Circulation 2002;105:784- 86. 35. Moss AJ, Zareba W, Hall WJ, Schwartz PJ, Crampton RS, Benhorin J, et al. Effectiveness and limitations of B-blocker therapy in congenital long-QT syndrome. Circulation 2000;101:616-23. 36. Brugada J, Brugada R, Antzelevitch C, Towbin J, Nademanee K, Brugada P. Long-term follow-up of individuals with the electrocardiographic pattern of bundle-branch block and ST-segment elevetion in precordial leads V1 to V3. Circulation 2002;105:73-78. 37. Olgin JE, Zipes DP. Specific Arrythimias diagnosis and treatment. In: Braun- wald E, Zipes DP, Libby P, editors. Heart disease: textbook of cardiovascu- lar medicine. 6nd ed. Philadelphia, 2001;857-7. 38. Brugada J, Brugada R, Brugada P. Right bundle-branch block and ST-seg- ment eleveation in leads V1 through V3. Circulation 1998;97:457-60. 39. Mendoza I, Adeiro F, Marques J. Morte súbita na doença de Chagas. Arq Bras Cardiol 1992;59:3-4. 40. Wanderley DMV. Epidemiologia da doença de Chagas. Rev Soc Cardiol E. São Paulo, 1994;77- 84. 41. Mady C, Nacruth R. História natural de cardiopatia chagásica crônica. Rev Soc de Cardiol E. de São Paulo 1994;2:124-8. 42. Mady C, Ianni BM, Arteaga E, Salemi VM, Silva PR, Cardoso RH, Ballas D. Maximal functional capacity and diastolic function in patients with cardi- omyopathy due to Chagas’ disease without congestive heart failure. Arq Bras Cardiol 1997;69:237-41. 43. Mady C, Dioguardi GS, Ghorayeb N, Amato Neto V. Chagas disease in the context of sports activities: recommendations. Rev Soc Bras Med Trop 2000;33: 233. 44. Yazbek Junior P, Diament J, Haebisch H, Kedor HH, Mady C, Romano A, et al. Ergospirometry as a method for predicting the clinical course of ischem- ic, Chagas and idiopathic myocardiopathy. Arq Bras Cardiol 1991;57:451-8. 45. Maguire JH, Hoff R, Sherlock I, Guimaraes AC, Sleigh AC, Ramos NB, Mott KE, Weller TH. Cardiac morbidity and mortality due to Chagas’ disease: prospective electrocardiographic study of a Brazilian community. Circula- tion 1987;75:1140-5. 46. Maron BJ, Douglas PS, Graham TP, Nishimura RA, Thompson PD. Task Force 1: preparticipation screening and diagnosis of cardiovascular disease in athletes. J Am Coll Cardiol 2005;45:1340-5. 47. Fuller CM, Mc Nutly CM, Spring DA. Prospective screening of 5615 high school athletes and sudden cardiac death. Med Sci Sports Exerc 1997;29: 1131-8. 48. Joint Position Statement – American College of Sports Medicine-American Heart Association. Automated external defibrillators in health/fitness facil- ities. Med Sci Sports Exerc 2002;34:561-4.