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Arq Bras Cardiol
volume 69, (nº 3), 1997
Mattos SS
Fisiologia da circulação fetal
205
Unidade de Cardiologia e Medicina Fetal do Hospital Português - Recife
Correspondência: Sandra S. Mattos - Av. Agamenon Magalhães S/N - 50090-900
- Recife, PE
Sandra S. Mattos
Recife, PE
Fisiologia da Circulação Fetal e Diagnóstico das Alterações
Funcionais do Coração do Feto
O feto cardiopata necessita de cuidados especiais. O
útero materno, na maioria das vezes, é a sua melhor UTI.
Neste, a temperatura ambiente é constante, nutrição paren-
teral é administrada com mínimos riscos, não há manuseio
reduzindo a incidência de trauma e infecção, e, principal-
mente,notocanteaoaparelhocardiovascular,eleémantido
em circulação extracorpórea, utilizando o mais eficiente e
segurooxigenadordemembranas:aplacenta.Acompreen-
são da fisiologia da circulação feto-materno-placentária é
defundamentalimportâncianaavaliaçãodocomportamen-
to das diversas alterações do sistema cardiovascular na
vidaintra-uterina.
Fisiologiadacirculaçãofetal
A circulação fetal difere da extra-uterina anatômica e
funcionalmente. Ela é estruturada para suprir as necessida-
desdeumorganismoemcrescimentorápidonumambiente
de hipóxia relativa. A única conexão entre o feto e o meio
externo é a placenta, que o serve nas funções de “intesti-
nos”(suprimentodenutrientes),“rins”(retiradadosprodu-
tos de degradação) e “pulmões” (trocas gasosas).
Ospulmõesfetaisestãocheiosdelíquido,oferecendo
alta resistência ao fluxo sangüíneo. A placenta contém
grandes seios venosos, funcionando como uma fístula
arteriovenosa com baixa resistência ao fluxo sangüíneo
sistêmico. Enquanto que na vida extra-uterina os ventrí-
culos trabalham em série, com o débito cardíaco do ventrí-
culo direito (VD) igualando aquele do esquerdo, no feto,
através de quatro bypasses principais - o foramen oval, o
canal arterial, a placenta e o ducto venoso, os ventrículos
trabalhamemparalelo.Osangueoxigenadoprovenienteda
placenta chega ao feto através da veia umbilical. Esse san-
gue passa principalmente (45%) através do ducto venoso
“bypassando” o fígado fetal 1
. O sangue venoso portal se
mistura com este e, conseqüentemente, o sangue da veia
cava inferior é menos saturado do que o sangue da veia
umbilical.Aindaassim,comaproximadamente70%desatu-
raçãodeO2
,essesangueéomaisoxigenadodetodooretor-
no venoso, tendo a veia cava superior uma saturação de
aproximadamente 40% 2
. O sangue da cava inferior repre-
senta aproximadamente 70% do volume total do retorno
venoso. Este chega ao átrio direito (AD) e é parcialmente
(33%) dirigido para o átrio esquerdo (AE) através do
foramenoval.Aenergiacinéticadofluxosangüíneodaveia
cava inferior é a principal responsável pela manutenção da
perviabilidadedoforamenovalnofeto,jáqueasdiferenças
nas pressões médias da veia cava, AD e AE são mínimas 3
.
Orestantedofluxoderetornodacavainferiormistura-seao
retorno da veia cava superior e seio coronário e passa para
oVD.OsanguequechegaaoAEedaíaoventrículoesquer-
doeaaortaascendente,artériascoronáriasecérebroé,con-
seqüentemente,omaissaturadocomaproximadamente65%
em relação a uma saturação de 55% no VD, que será dirigido
atravésdocanalarterialparaaparteinferiordocorpodofeto4
.
Oistmodaaortarecebeapenas10%dodébitocardíacototal
e,peloseuestreitamentofisiológico,“separa”ofluxoentre
a aorta ascendente e a descendente 2
. O baixo fluxo pulmo-
nar fetal é mantido às custas da elevada resistência vas-
cular pulmonar. Vários fatores estimulam esta vasocons-
tricção como acidose, catecolaminas alfa-adrenérgicas e
estimulaçãonervosasimpática,porémnãohádúvidasquea
Fig. 1 - Diagrama da distribuição do volume sangüíneo, níveis pressóricos e de
saturaçãodeoxigêniofetais.Adaptado6,7
.
206
Mattos SS
Fisiologia da circulação fetal
Arq Bras Cardiol
volume 69, (nº 3), 1997
hipóxiaéoprincipalfatordeterminantedavasoconstricção
pulmonarfetal.Devidoàaltaresistênciaaofluxosangüíneo
pulmonar,apenasumapequenaquantia(aproximadamente
7%dodébitocardíacocombinado)desanguecirculapelos
pulmões,orestanteédirigido,atravésdocanalarterialpara
aaortadescendente.EmboraoVD(60%)apresenteumdé-
bitocardíacosuperioraodoVE(40%)navidaintra-uterina,
há evidências anatômicas e ecocardiográficas de que o de-
senvolvimento destas cavidades são semelhantes durante
toda a gestação 5
.
Afigura1,adaptadadeestudosrealizadosemfetosde
carneiro por Rudolph e col 6
, e Heyman e col 7
, mostra
esquematicamente a distribuição do volume sangüíneo, os
níveis pressóricos e de saturação de oxigênio fetais. Na ta-
bela I, adaptada também de estudos em fetos de carneiros8
estão sumarizados freqüência cardíaca, pressão arterial,
gasometria,pH,conteúdodeoxigênio,e,ainda,adistribui-
ção sangüínea para os órgãos, débito cardíaco, liberação
de O2
e resistência vascular fetais.
Diagnósticodasalteraçõesfuncionaisdo
coração do feto
Com o conhecimento da fisiologia da circulação
fetal,podemosfacilmenteentenderosdiferentescomporta-
mentos das alterações do sistema cardiovascular fetal que
nos levam a subdividir as cardiopatias fetais em ativas e
passivas. Incluem-se sob o grupo de cardiopatias passivas,
todasasmalformaçõesdosistemacardiovascularfetalque
não provocam repercussão hemodinâmica intra-útero,
notadamente as cardiopatias estruturais, sem regurgitação
valvar. Muitas cardiopatias graves, canal-dependentes,
tambémseincluemnestegrupo,porsómanifestaremaltera-
ções clínicas no período neonatal, após o fechamento do
canalarterial.Ooutrogrupo,aoqualchamamosdecardio-
patias ativas, inclui todas as alterações do sistema cardio-
vascular fetal que provocam repercussão hemodinâmica
ainda na vida intra-uterina. Neste, incluímos, as arritmias
cardíacas, as cardiopatias estruturais com regurgitação
valvarimportantequepodemevoluirparainsuficiênciacar-
díaca fetal, miocardiopatias e miocardites, e as alterações
funcionais do coração fetal como resposta a condições ad-
versas. Neste último grupo, destacamos a hidropisia não
imune, o crescimento intra-uterino retardado, o diabetes
mellitus e a hipertensão arterial materna, a anemia fetal e o
uso de drogas.
O principal fator de descompensação cardiovascular
fetal, comum a todas as situações acima é a hipóxia. Nesta
situação, independente de seu mecanismo etiológico há
uma redistribuição do fluxo sangüíneo fetal, que pode ser
resumidacomo:1)umaumentodofluxocerebraleadrenal;2)
umadiminuiçãodofluxosistêmicoconseqüenteaaumento
da resistência vascular sistêmica (pós-carga); e 3) um au-
mento na proporção do sangue venoso umbilical que entra
Tabela I - Freqüência cardíaca, pressão arterial, gasometria, pH e conteúdo de oxigênio, débito cardíaco, resistência vascular baseada em fetos de
carneiro em condições oximétricas normais
Freqüência cardíaca (bpm/min) 167±19
Pressão aórtica média (torr) 44,2±3,5
Pressão em veia umbilical (torr) 11,1±4,83
Pressão em veia cava (torr) 3,3±2,0
Valores na aorta ascendente Valores na aorta descendente Valores na veia umbilical
PO2
(torr) 24,1±2,4 PO2
(torr) 21,7±2,3 PO2
(torr) 32,8±3,7
PCO2
(torr) 47,3±3,9 PCO2
(torr) 50,6±4,5 PCO2
(torr) 43,9±4,0
pH 7,40±0,013 pH 7,39±0,06 pH 7,42±0,03
Exc. de base 4,60±3,19 Exc. de base 5,57±3,57 Exc. de base 5,24±2,99
Sat O2
(%) 67,3±3,9 Sat O2
(%) 58,2±5,8 Sat O2
(%) 86,1±3,1
Hb (g/dL) 8,6±1,3 Hb (g/dL) 8,8±1,3 Hb (g/dL) 8,5±1,3
Ct.O2
(mL/dL) 7,76±1,1 Ct.O2
(mL/dL) 6,83±1,2 Ct.O2
(mL/dL) 9,78±1,5
Valores na veia cava superior Valores na veia cava inferior abdominal Valores na veia sagital superior
PO2
(torr) 18,7±1,9 PO2
(torr) 17,1±2,0 PO2
(torr) 17,4±0,9
PCO2
(torr) 51,2±4,6 PCO2
(torr) 54,2±3,3 PCO2
(torr) 52,9±5,0
pH 7,37±0,03 pH 7,37±0,03 pH 7,38±0,03
Exc. de base 5,20±3,08 Exc. de base 5,78±3,15 Exc. de base 5,80±3,61
Sat O2
(%) 45,7±6,4 Sat O2
(%) 40,3±6,4 Sat O2
(%) 41,0±1,9
Hb (g/dL) 8,9±1,4 Hb (g/dL) 8,9±1,4 Hb (g/dL) 9,7±1,0
Ct.O2
(mL/dL) 5,44±1,11 Ct.O2
(mL/dL) 4,85±1,28 Ct.O2
(mL/dL) 5,3±0,4
Fluxo sangüíneo % Débito Resistência vascular
(mL/min/kg) cardíaco (mmHg/mL/min/kg)
DC combinado 478±94 100 0,16±0,03
Fluxo sang. umbilical 213±55
Fluxo fetal total 315±63
Fonte: Jensen e col 8
Arq Bras Cardiol
volume 69, (nº 3), 1997
Mattos SS
Fisiologia da circulação fetal
207
o ducto venoso, com aumento do fluxo para o lado esquer-
do do coração.
Sob o ponto de vista funcional, as principais respos-
tas do sistema cardiovascular fetal a situações adversas
são a dilatação, o aparecimento de efusão pericárdica 9
e a
perdadafunçãocontrátil.Cardiomegaliacomousemderra-
mepericárdicoéumimportantesinaldedisfunçãocardíaca
fetal10
.Apresençaeseveridadedeefusãopericárdicaéum
dado importante de disfunção cardíaca fetal que também
podeseravaliadocomaecocardiografiabidimensional.
Do ponto de vista hemodinâmico, alterações da pré-
cargaouintrínsecasdomiocárdioventricularcomoàquelas
observadas em fetos de mães diabéticas podem alterar a
evoluçãonormaldoenchimentoventricular,prolongandoo
períododedominânciadacontraçãoatrialatéapósonasci-
mento 11
. Estes achados podem ser mais evidentes no lado
direito do coração por ser o volume de fluxo transvalvar
tricuspídeo maior que o mitral durante toda a gestação12
.
Autilizaçãocriteriosadaecocardiografianaavaliação
do fluxo intra e extracardíaco fetal pode detectar precoce-
menteestasalterações.Estaabordagemprecocevemassu-
mindoumimportantepapelnomanuseiodegestaçõespato-
lógicascomoasacimacitadasereiteraaimportânciadotra-
balhomultidisciplinarentreobstetras,fetologistasecardio-
logistas fetais no rastreamento e manuseio das alterações
dosistemacardiovascularfetal.
1. ElderstoneDI,RudolphAM,HeymanMA-Effectsofhypoxemiaanddecreasing
umbilical flow on liver and ductus venosus blood flow in fetal lambs. Am J
Physiology 1980; 238: H656.
2. Rudolph AM, Heymann MA - The circulation of the fetus in utero. Methods for
studying blood flow, cardiac output and organ blood flow. Circ Res 1967; 26:
289.
3. AndersonD,FaberJ,MortonM,ParksC,PinsonC,ThornburgK- Flowthrough
the foramen ovale in the fetal newborn lamb. J Physiology 1985; 365:19.
4. Elderstone DI, Rudolph AM. Preferential streaming of the ductus venosus
bloodtothebrainandheartinfetallambs.AmJObstetGynecol1979;237:H724.
5. StJohnSuttonMG,RaichlenJS,ReichekN,HuffDS-Quantitativeassessmentof
rightandleftventriculargrowthinthehumanfetalheart:apathoanatomicstudy.
Circulation 1984; 70: 935.
6. Rudolph AM, Heymann MA - Control of Fetal Circulation. In: Comline RS,
DawesGS,NathanielsPW,eds-FetalandNeonatalPhysiology.London:Cam-
bridge University Press, 1983.
7. HeymanMA-Managementofthenewborncirculation.In:JonesCT,Nathanielsz
Referências
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London: Academic Press Inc, 1985; pp 721-731.
8. JensenA,RomanC,RudolphAM-Effectsofreducinguterinebloodflowdistri-
bution and fetal blood oxygen delivery. J Development Physiology 1991; 15:
309.
9. DeVore GR, Donnerstein RL, Kleiman CS, Platt LD, Hobbins JC. Fetal
Echocardiography.II- Diagnosisandsignificanceofapericardialeffusioninthe
fetus using real time directed M mode ultrasound. Am J Obstet Gynecol 1982;
144: 693.
10. Johnson P, Sharland G, Allan LD, Tynan MJ, Maxwell DJ - Umbilical venous
pressure in nonimmune hydrops fetalis: correlation with cardiac size. Am J
Obstet Gynecol 1992; 167: 1309.
11. Rizzo G, Arduini D, Romanini C - Cardiac function in fetus of type I diabetic
mothers. J Pediatr 1991; 118:103.
12. Reed KL, Sahn DJ, Scagnelli S, Anderson CF, Shenker L - Doppler
echocardiographicstudiesofdiastolicfunctioninthehumanfetalheart:changes
during gestation. J Am Coll Cardiol 1986; 8: 381.

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Fisiologia da circulação fetal

  • 1. Arq Bras Cardiol volume 69, (nº 3), 1997 Mattos SS Fisiologia da circulação fetal 205 Unidade de Cardiologia e Medicina Fetal do Hospital Português - Recife Correspondência: Sandra S. Mattos - Av. Agamenon Magalhães S/N - 50090-900 - Recife, PE Sandra S. Mattos Recife, PE Fisiologia da Circulação Fetal e Diagnóstico das Alterações Funcionais do Coração do Feto O feto cardiopata necessita de cuidados especiais. O útero materno, na maioria das vezes, é a sua melhor UTI. Neste, a temperatura ambiente é constante, nutrição paren- teral é administrada com mínimos riscos, não há manuseio reduzindo a incidência de trauma e infecção, e, principal- mente,notocanteaoaparelhocardiovascular,eleémantido em circulação extracorpórea, utilizando o mais eficiente e segurooxigenadordemembranas:aplacenta.Acompreen- são da fisiologia da circulação feto-materno-placentária é defundamentalimportâncianaavaliaçãodocomportamen- to das diversas alterações do sistema cardiovascular na vidaintra-uterina. Fisiologiadacirculaçãofetal A circulação fetal difere da extra-uterina anatômica e funcionalmente. Ela é estruturada para suprir as necessida- desdeumorganismoemcrescimentorápidonumambiente de hipóxia relativa. A única conexão entre o feto e o meio externo é a placenta, que o serve nas funções de “intesti- nos”(suprimentodenutrientes),“rins”(retiradadosprodu- tos de degradação) e “pulmões” (trocas gasosas). Ospulmõesfetaisestãocheiosdelíquido,oferecendo alta resistência ao fluxo sangüíneo. A placenta contém grandes seios venosos, funcionando como uma fístula arteriovenosa com baixa resistência ao fluxo sangüíneo sistêmico. Enquanto que na vida extra-uterina os ventrí- culos trabalham em série, com o débito cardíaco do ventrí- culo direito (VD) igualando aquele do esquerdo, no feto, através de quatro bypasses principais - o foramen oval, o canal arterial, a placenta e o ducto venoso, os ventrículos trabalhamemparalelo.Osangueoxigenadoprovenienteda placenta chega ao feto através da veia umbilical. Esse san- gue passa principalmente (45%) através do ducto venoso “bypassando” o fígado fetal 1 . O sangue venoso portal se mistura com este e, conseqüentemente, o sangue da veia cava inferior é menos saturado do que o sangue da veia umbilical.Aindaassim,comaproximadamente70%desatu- raçãodeO2 ,essesangueéomaisoxigenadodetodooretor- no venoso, tendo a veia cava superior uma saturação de aproximadamente 40% 2 . O sangue da cava inferior repre- senta aproximadamente 70% do volume total do retorno venoso. Este chega ao átrio direito (AD) e é parcialmente (33%) dirigido para o átrio esquerdo (AE) através do foramenoval.Aenergiacinéticadofluxosangüíneodaveia cava inferior é a principal responsável pela manutenção da perviabilidadedoforamenovalnofeto,jáqueasdiferenças nas pressões médias da veia cava, AD e AE são mínimas 3 . Orestantedofluxoderetornodacavainferiormistura-seao retorno da veia cava superior e seio coronário e passa para oVD.OsanguequechegaaoAEedaíaoventrículoesquer- doeaaortaascendente,artériascoronáriasecérebroé,con- seqüentemente,omaissaturadocomaproximadamente65% em relação a uma saturação de 55% no VD, que será dirigido atravésdocanalarterialparaaparteinferiordocorpodofeto4 . Oistmodaaortarecebeapenas10%dodébitocardíacototal e,peloseuestreitamentofisiológico,“separa”ofluxoentre a aorta ascendente e a descendente 2 . O baixo fluxo pulmo- nar fetal é mantido às custas da elevada resistência vas- cular pulmonar. Vários fatores estimulam esta vasocons- tricção como acidose, catecolaminas alfa-adrenérgicas e estimulaçãonervosasimpática,porémnãohádúvidasquea Fig. 1 - Diagrama da distribuição do volume sangüíneo, níveis pressóricos e de saturaçãodeoxigêniofetais.Adaptado6,7 .
  • 2. 206 Mattos SS Fisiologia da circulação fetal Arq Bras Cardiol volume 69, (nº 3), 1997 hipóxiaéoprincipalfatordeterminantedavasoconstricção pulmonarfetal.Devidoàaltaresistênciaaofluxosangüíneo pulmonar,apenasumapequenaquantia(aproximadamente 7%dodébitocardíacocombinado)desanguecirculapelos pulmões,orestanteédirigido,atravésdocanalarterialpara aaortadescendente.EmboraoVD(60%)apresenteumdé- bitocardíacosuperioraodoVE(40%)navidaintra-uterina, há evidências anatômicas e ecocardiográficas de que o de- senvolvimento destas cavidades são semelhantes durante toda a gestação 5 . Afigura1,adaptadadeestudosrealizadosemfetosde carneiro por Rudolph e col 6 , e Heyman e col 7 , mostra esquematicamente a distribuição do volume sangüíneo, os níveis pressóricos e de saturação de oxigênio fetais. Na ta- bela I, adaptada também de estudos em fetos de carneiros8 estão sumarizados freqüência cardíaca, pressão arterial, gasometria,pH,conteúdodeoxigênio,e,ainda,adistribui- ção sangüínea para os órgãos, débito cardíaco, liberação de O2 e resistência vascular fetais. Diagnósticodasalteraçõesfuncionaisdo coração do feto Com o conhecimento da fisiologia da circulação fetal,podemosfacilmenteentenderosdiferentescomporta- mentos das alterações do sistema cardiovascular fetal que nos levam a subdividir as cardiopatias fetais em ativas e passivas. Incluem-se sob o grupo de cardiopatias passivas, todasasmalformaçõesdosistemacardiovascularfetalque não provocam repercussão hemodinâmica intra-útero, notadamente as cardiopatias estruturais, sem regurgitação valvar. Muitas cardiopatias graves, canal-dependentes, tambémseincluemnestegrupo,porsómanifestaremaltera- ções clínicas no período neonatal, após o fechamento do canalarterial.Ooutrogrupo,aoqualchamamosdecardio- patias ativas, inclui todas as alterações do sistema cardio- vascular fetal que provocam repercussão hemodinâmica ainda na vida intra-uterina. Neste, incluímos, as arritmias cardíacas, as cardiopatias estruturais com regurgitação valvarimportantequepodemevoluirparainsuficiênciacar- díaca fetal, miocardiopatias e miocardites, e as alterações funcionais do coração fetal como resposta a condições ad- versas. Neste último grupo, destacamos a hidropisia não imune, o crescimento intra-uterino retardado, o diabetes mellitus e a hipertensão arterial materna, a anemia fetal e o uso de drogas. O principal fator de descompensação cardiovascular fetal, comum a todas as situações acima é a hipóxia. Nesta situação, independente de seu mecanismo etiológico há uma redistribuição do fluxo sangüíneo fetal, que pode ser resumidacomo:1)umaumentodofluxocerebraleadrenal;2) umadiminuiçãodofluxosistêmicoconseqüenteaaumento da resistência vascular sistêmica (pós-carga); e 3) um au- mento na proporção do sangue venoso umbilical que entra Tabela I - Freqüência cardíaca, pressão arterial, gasometria, pH e conteúdo de oxigênio, débito cardíaco, resistência vascular baseada em fetos de carneiro em condições oximétricas normais Freqüência cardíaca (bpm/min) 167±19 Pressão aórtica média (torr) 44,2±3,5 Pressão em veia umbilical (torr) 11,1±4,83 Pressão em veia cava (torr) 3,3±2,0 Valores na aorta ascendente Valores na aorta descendente Valores na veia umbilical PO2 (torr) 24,1±2,4 PO2 (torr) 21,7±2,3 PO2 (torr) 32,8±3,7 PCO2 (torr) 47,3±3,9 PCO2 (torr) 50,6±4,5 PCO2 (torr) 43,9±4,0 pH 7,40±0,013 pH 7,39±0,06 pH 7,42±0,03 Exc. de base 4,60±3,19 Exc. de base 5,57±3,57 Exc. de base 5,24±2,99 Sat O2 (%) 67,3±3,9 Sat O2 (%) 58,2±5,8 Sat O2 (%) 86,1±3,1 Hb (g/dL) 8,6±1,3 Hb (g/dL) 8,8±1,3 Hb (g/dL) 8,5±1,3 Ct.O2 (mL/dL) 7,76±1,1 Ct.O2 (mL/dL) 6,83±1,2 Ct.O2 (mL/dL) 9,78±1,5 Valores na veia cava superior Valores na veia cava inferior abdominal Valores na veia sagital superior PO2 (torr) 18,7±1,9 PO2 (torr) 17,1±2,0 PO2 (torr) 17,4±0,9 PCO2 (torr) 51,2±4,6 PCO2 (torr) 54,2±3,3 PCO2 (torr) 52,9±5,0 pH 7,37±0,03 pH 7,37±0,03 pH 7,38±0,03 Exc. de base 5,20±3,08 Exc. de base 5,78±3,15 Exc. de base 5,80±3,61 Sat O2 (%) 45,7±6,4 Sat O2 (%) 40,3±6,4 Sat O2 (%) 41,0±1,9 Hb (g/dL) 8,9±1,4 Hb (g/dL) 8,9±1,4 Hb (g/dL) 9,7±1,0 Ct.O2 (mL/dL) 5,44±1,11 Ct.O2 (mL/dL) 4,85±1,28 Ct.O2 (mL/dL) 5,3±0,4 Fluxo sangüíneo % Débito Resistência vascular (mL/min/kg) cardíaco (mmHg/mL/min/kg) DC combinado 478±94 100 0,16±0,03 Fluxo sang. umbilical 213±55 Fluxo fetal total 315±63 Fonte: Jensen e col 8
  • 3. Arq Bras Cardiol volume 69, (nº 3), 1997 Mattos SS Fisiologia da circulação fetal 207 o ducto venoso, com aumento do fluxo para o lado esquer- do do coração. Sob o ponto de vista funcional, as principais respos- tas do sistema cardiovascular fetal a situações adversas são a dilatação, o aparecimento de efusão pericárdica 9 e a perdadafunçãocontrátil.Cardiomegaliacomousemderra- mepericárdicoéumimportantesinaldedisfunçãocardíaca fetal10 .Apresençaeseveridadedeefusãopericárdicaéum dado importante de disfunção cardíaca fetal que também podeseravaliadocomaecocardiografiabidimensional. Do ponto de vista hemodinâmico, alterações da pré- cargaouintrínsecasdomiocárdioventricularcomoàquelas observadas em fetos de mães diabéticas podem alterar a evoluçãonormaldoenchimentoventricular,prolongandoo períododedominânciadacontraçãoatrialatéapósonasci- mento 11 . Estes achados podem ser mais evidentes no lado direito do coração por ser o volume de fluxo transvalvar tricuspídeo maior que o mitral durante toda a gestação12 . Autilizaçãocriteriosadaecocardiografianaavaliação do fluxo intra e extracardíaco fetal pode detectar precoce- menteestasalterações.Estaabordagemprecocevemassu- mindoumimportantepapelnomanuseiodegestaçõespato- lógicascomoasacimacitadasereiteraaimportânciadotra- balhomultidisciplinarentreobstetras,fetologistasecardio- logistas fetais no rastreamento e manuseio das alterações dosistemacardiovascularfetal. 1. ElderstoneDI,RudolphAM,HeymanMA-Effectsofhypoxemiaanddecreasing umbilical flow on liver and ductus venosus blood flow in fetal lambs. Am J Physiology 1980; 238: H656. 2. Rudolph AM, Heymann MA - The circulation of the fetus in utero. Methods for studying blood flow, cardiac output and organ blood flow. Circ Res 1967; 26: 289. 3. AndersonD,FaberJ,MortonM,ParksC,PinsonC,ThornburgK- Flowthrough the foramen ovale in the fetal newborn lamb. J Physiology 1985; 365:19. 4. Elderstone DI, Rudolph AM. Preferential streaming of the ductus venosus bloodtothebrainandheartinfetallambs.AmJObstetGynecol1979;237:H724. 5. StJohnSuttonMG,RaichlenJS,ReichekN,HuffDS-Quantitativeassessmentof rightandleftventriculargrowthinthehumanfetalheart:apathoanatomicstudy. Circulation 1984; 70: 935. 6. Rudolph AM, Heymann MA - Control of Fetal Circulation. In: Comline RS, DawesGS,NathanielsPW,eds-FetalandNeonatalPhysiology.London:Cam- bridge University Press, 1983. 7. HeymanMA-Managementofthenewborncirculation.In:JonesCT,Nathanielsz Referências PW - The Physiological Development of the Fetus and Newborn, part 7. ed. London: Academic Press Inc, 1985; pp 721-731. 8. JensenA,RomanC,RudolphAM-Effectsofreducinguterinebloodflowdistri- bution and fetal blood oxygen delivery. J Development Physiology 1991; 15: 309. 9. DeVore GR, Donnerstein RL, Kleiman CS, Platt LD, Hobbins JC. Fetal Echocardiography.II- Diagnosisandsignificanceofapericardialeffusioninthe fetus using real time directed M mode ultrasound. Am J Obstet Gynecol 1982; 144: 693. 10. Johnson P, Sharland G, Allan LD, Tynan MJ, Maxwell DJ - Umbilical venous pressure in nonimmune hydrops fetalis: correlation with cardiac size. Am J Obstet Gynecol 1992; 167: 1309. 11. Rizzo G, Arduini D, Romanini C - Cardiac function in fetus of type I diabetic mothers. J Pediatr 1991; 118:103. 12. Reed KL, Sahn DJ, Scagnelli S, Anderson CF, Shenker L - Doppler echocardiographicstudiesofdiastolicfunctioninthehumanfetalheart:changes during gestation. J Am Coll Cardiol 1986; 8: 381.