Este documento discute o processo de avaliação de desempenho dos professores em Portugal. Argumenta que a avaliação é importante para melhorar a qualidade do ensino, mas que os professores mais antigos não receberam formação inicial adequada para a avaliação. Também reconhece que nenhum sistema de avaliação é perfeito, mas que os professores devem esforçar-se para melhorar continuamente.
Sistema articular aula 4 (1).pdf articulações e junturas
Reflectindo a Avaliação de Desempenho Docente
1. A terminar quase um ciclo de avaliações sobre os diferentes aspectos da minha prática, faltando apenas fazer a análise descritiva do questionário e das avaliações orais dos pais sobre o trabalho realizado, no dia da entrega das avaliações dos seus educandos, “apetece-me” tecer alguns comentários sobre o processo avaliativo, que nos últimos anos os docentes têm vindo a fazer ou melhor, são “obrigados” a fazer.<br />Os docentes são profissionais que até há alguns anos atrás, ou não reflectiam criticamente sobre o que faziam, ou o faziam, mas sem um “aproveitamento” efectivo dessa reflexão sobre a sua prática e sobre o impacto da sua acção em todos os espaços da sua intervenção, à semelhança do que já faziam, por exemplo, os enfermeiros. Há já muitos anos atrás, talvez catorze ou mais, assisti “à trabalheira” imensa que a minha boa e querida amiga e colega da faculdade Eunice teve para, “criticamente” elaborar o seu currículo, de que forma as acções de formação realizadas influenciavam a sua prática e já avaliava o seu desempenho profissional nessa altura. <br />Gradualmente, o sistema percepcionou que para que os resultados esperados dos alunos correspondessem às exigências que a nossa sociedade de hoje exige perante o acelerado avanço da técnica e da ciência e ficassem ao nível dos alunos da Europa, os professores, alguns deles “instalados” há anos no “sistema”, sem actualização dos conteúdos e recursos que podiam utilizar no processo ensino-aprendizagem e sem ter a “trabalheira” imensa de se analisar a si próprios, naquilo que são os pontos fortes e os pontos fracos do seu desempenho, teve de iniciar o processo de auto-avaliação e “revoltou-se”. O termo “revoltou-se” é, neste contexto, sinónimo de “contestou”, essencialmente por ter de reflectir sobre as suas acções e sobre o impacto que esta produzia nos alunos, o que o obrigava a reflectir sobre si mesmo, o que muitas vezes causa incómodo e a resistência à mudança causa isso mesmo: contestação. Claro que a contestação e uma análise crítica sobre as leis e os documentos que regem a nossa profissão é útil e desejável se for criticamente positiva, caso contrário, essa crítica não nos faz “pular e avançar”, recorrendo à imagem do poema de António Gedeão. Foi perante as necessidades constatadas de actualização que se verificou a explosão dos Centros de Formação, o surgimento das Ciências da Educação com a abertura da Licenciatura em Ciências da Educação na Ex-Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, da Universidade de Lisboa e hoje o actual Instituto de Educação, pela mão de Prof. Doutor Albano Estrela e Maria Teresa Estrela, que foi pioneira nesta importante ciência no nosso país, pois introduziu o estudo e o rigor científico no complexo acto educativo, objecto de estudo até à data não estudado.<br />Mas, e voltando à avaliação de desempenho, penso ser importante reflectir que a formação inicial dos docentes mais antigos, como é o meu caso, não nos fornecia as ferramentas necessárias para muitos aspectos da funcionalidade do exercício da docência e, falar de nós mesmos e do que fazemos não é fácil, fazê-lo de forma crítica ainda mais difícil, aceitar que não somos perfeitos e que precisamos de nos actualizar, aceitar o “olhar do outro, que nos olha de forma crítica”, mesmo que o faça de forma construtiva e assertiva, exige humildade no nosso saber, capacidade de escuta e assumir que não sabemos tudo, não somos perfeitos e que devemos, na medida do razoável e acertado, aceitar a opinião do outro. Esta ideia é a mesma que está na base da nossa conhecida “articulação entre colegas, entre ciclos e entre serviços”: a partilha.<br />Não há sistemas de avaliação perfeitos, tudo é discutível, existem muitos pontos a melhorar, mas penso que devemos fazer um esforço para retirar da avaliação as mais-valias que ela proporciona e esforçarmo-nos, esforçarmo-nos muito para melhorarmos, pessoal e profissionalmente. Por isso é que fico indignada quando ouço aqui e ali, um ou outro docente avaliador, incumbido oficialmente da tarefa de avaliar, se coloca, de forma sistemática e muitas vezes em contextos oficiais e portanto fora do seu núcleo restrito e pessoal de amizades, frontalmente contra a avaliação e/ou afirmando que esta não serve para nada e, por vezes, ainda comete o erro crasso de misturar avaliações parcelares do desempenho com uma avaliação ampla e que procura abarcar todos os domínios e “olhares” sobre a prática docente, como é o actual modelo de auto-avaliação. Por outro lado, um avaliador é um representante do sistema, e não deve em contextos “oficiais” colocar-se contra o sistema, independentemente se concorda ou não com o cargo que lhe foi atribuído, se concorda ou não com a avaliação e se tem ou não tem conhecimentos para o fazer de forma consistentemente informada, para que garanta a objectividade e a imparcialidade da análise da prática dos outros, mas isto, seria uma outra análise sobre o assunto.<br />É frequente ouvir observações que vão no sentido de que o processo devia ser mais facilitado, mas nada se alcança sem esforço, empenho e dedicação. É frequente ouvir que a informação sobre o assunto é pouca, mas não nos esqueçamos que a legislação existe e a que existe sobre o assunto - embora exija uma leitura atenta e uma análise cuidada para ser bem compreendida – serve para cada um de nós procurar a informação e manter-se actualizado, não sendo admissível, nos dias de hoje, alegar “desconhecimento da matéria”.<br />Claro que é muito discutível que este modelo de avaliação, ou outro que venha a seguir, como é esperado, seja o modelo de avaliação certo e adequado, mas penso que o que construtivamente há a fazer é colocarmo-nos numa posição assertiva e retirar dos modelos, o que de positivo cada um possa ter. <br />Esta “aceitação positiva” do modelo em vigor, ou de outro que o venho a substituir, não quer, de todo, dizer que deve deixar-se de ser crítico e aceitar passivamente aquilo que nos é imposto, mas, pelo contrário, ser “MUITO” críticos, mas devidamente informados sobre os assuntos, para deles retirar o melhor, ou, no fundo, de forma adequada, poder reflectir sobre os efeitos de todo o processo avaliativo, seja ele qual for.<br /> <br />(Agradeço o olhar e a análise crítica do meu amigo e colega Henrique Santos que, “aqui e ali”, permitiu torná-lo ainda mais claro e objectivo.)<br />