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HEMATOLOGIA
AULA 3
PARTE 3
HEMOCROMATOSE
Dr Francismar Prestes Leal (CRM/PR 18829)
Médico Hematologista (UFSM/UNIFESP)
Professor Uningá/Maringá/PR
Agosto/2013
CONCEITOS
• Ferro (Fe):
– Metal natural, sólido, denso, acinzentado, da
família 8B da Tabela Periódica de Elementos
– Capaz de formar compostos ferrosos,
bivalentes (Fe2+
), e férricos, trivalentes (Fe3+
),
que reagem com ácidos, água e oxigênio
– Íon essencial no metabolismo energético
celular e no transporte de oxigênio
FELTRE, 1994
CANÇADO, 2009
CONCEITOS
• Ferro (Fe, Adultos):
– 3,0-4,0 g Fe (35-40 mg/kg M; 45-50 mg/kg H)
– 1,5 -3,0 g ligado ao heme da Hb
– 0,6-1,5 g: ferritina ou hemossiderina, no
sistema mononuclear fagocitário
– 300 mg: mioglobina, catalase, citocromos
– Quantidade Fe controlada por proteínas/células
(enterócitos, macrófagos, hepatócitos, EB)
CANÇADO & CHIATTONE, 2010
SANTOS et al., 2009
CONCEITOS
• Ferro (Fe, Adultos):
– Absorvido = excretado (1-2 mg/dia)
– 20-30mg Fe do organismo são reciclados/dia
– Absorção Fe é feita por enterócitos duodenais:
• DMT1 (transportador de metal divalente),
após redução do Fe+3
à Fe2+
pela redutase
DcytB (citocromo b duodenal)
• HCP1 (proteína carreadora de heme)
ANDREWS, 1999
PORTER, 2001
SANTOS et al., 2009
CONCEITOS
• Ferro (Fe):
– Inorgânico: incorporado pelas mitocôndrias
dos enterócitos para uso próprio; parte
atravessa o citoplasma, entrando no sangue
– Heme: separado pela heme-oxigenase e só
então destinado ao sangue
LORENZI et al., 2003
GROTTO, 2010
CONCEITOS
• Ferro (Fe):
– Armazenamento e transporte dependem da
demanda:
• Menor: permanece no enterócito ligado à
ferritina; eliminado na descamação epitelial
intestinal
• Maior: transportado ao plasma para se ligar
à transferrina
LORENZI et al., 2003
GROTTO, 2010
CONCEITOS
• Ferro (Fe):
– O transporte de Fe através da membrana
basolateral do enterócito é mediado pela
ferroportina, que leva o Fe²+
ao plasma, sendo
este oxidado a Fe3+
pela hefaestina, o que
facilita a ligação à transferrina
SANTOS et al., 2009
CONCEITOS
• Ferro (Fe):
– A inibição da exportação de Fe pela
ferroportina é realizada pela hepcidina
– Quando existem altas concentrações de
hepcidina no plasma, grande parte do Fe será
retida no enterócito e desprezada na luz
intestinal
SANTOS et al., 2009
Proteínas relacionadas ao metabolismo do Fe
SANTOS et al., 2009
CONCEITOS
• O aumento progressivo do aporte leva à
sobrecarga patológica de Fe
• O organismo não é capaz de aumentar
fisiologicamente a excreção de Fe, mesmo em
condições de sobrecarga
ANDREWS, 1999
CONCEITOS
• Para limitar a participação do Fe em reações
oxidativas lesivas ao organismo, além de estocá-
lo, desenvolvemos mecanismos capazes de
manter o Fe ligado a proteínas de transporte ou
armazenado como ferritina/hemossiderina
ANDREWS, 1999
CONCEITOS
• O principal mecanismo de toxicidade do Fe está
relacionado ao ferro livre, não ligado à
transferrina (non-transferrin-bound iron, NTBI),
especificamente a fração redoxiativa chamada de
ferro plasmático lábil (labile plasma iron, LPI)
ESPOSITO et al., 2003
POOTRAKUL et al., 2004
CONCEITOS
• Quando a quantidade de Fe absorvido ultrapassa
a capacidade quelante do organismo, ocorre
saída de Fe dos macrófagos para a circulação e,
ultrapassada a capacidade de saturação da
transferrina sérica, o Fe livre em excesso
deposita-se em células parenquimatosas
ESPOSITO et al., 2003
POOTRAKUL et al., 2004
CONCEITOS
• Fe livre catalisa a síntese de radicais
superóxidos e hidroxilas; a peroxidação de
lipídeos de membrana de organelas causa dano
celular, fibrose reativa e esclerose
CAMASCHELLA, 2005
CANÇADO & CHIATTONE, 2010
Cançado et al. Rev Bras Hematol Hemoter 2010;32(6):469-475
HEMOCROMATOSE
HEREDITÁRIA (HH)
• Doença caracterizada por sobrecarga
de Fe em diferentes células, tecidos e órgãos
• Relatada pela primeira vez em 1865 por
Trousseau, seguido por Troisier em 1871, em
pacientes parisienses diabéticos cujas autópsias
revelaram hepatopatia com deposição de um
pigmento “ferroso”
VIZINHO et al., 2009
CANÇADO & CHIATTONE, 2010
HEMOCROMATOSE
HEREDITÁRIA (HH)
• Em 1889, Von Recklinghausen chamou a doença
de “hemocromatose” (grego, haima: sangue e
chromatos: cor), após evidenciar acúmulo de Fe
em vários órgãos na autópsia de doentes com
cirrose hepática, acreditando que este Fe viesse
do sangue
VIZINHO et al., 2009
CANÇADO & CHIATTONE, 2010
HH
• Em 1996, FEDER et al. identificaram, no braço
curto do cromossomo 6, pertencente ao HLA, o
gene da hemocromatose, chamado de gene
HFE (High Iron Fe; classical hereditary
hemochromatosis)
• Estudos populacionais indicam que a HH teve
origem no norte da Europa, em populações
nórdicas ou celtas
CANÇADO & CHIATTONE, 2010
HH
• Mutação C282Y do gene HFE:
– A mais frequente em caucasianos da Europa
(noroeste), América do Norte, Oceania
– EUA, Austrália e Europa: a frequência de
homozigotos 0,2-0,7%; heterozigotos 7-14%
– Em populações asiáticas, africanas ou
afrodescendentes das Américas Central e do
Sul, é “pouco encontrada”
CANÇADO & CHIATTONE, 2010
HH
• Mutação H63D do gene HFE:
– 2-3 vezes mais frequente que a C282Y
– Prevalência de heterozigotos: entre 15 e 40%
e de homozigotos entre 2,5 e 3,6%
• A frequência do genótipo C282Y/H63D é de 2%
PIETRANGELO, 2004
CANÇADO & CHIATTONE, 2010
HH
• Mutação S65C do gene HFE:
– Terceira mais frequente das 37 variantes
alélicas e dos vários polimorfismos em
diferentes regiões do gene HFE, tendo
pouca importância clínica, exceto quando
associada à mutação C282Y ou outra
desordem que leve a acúmulo de ferro, como
anemia hemolítica crônica
PIETRANGELO, 2004
CANÇADO & CHIATTONE, 2010
HH
• Pacientes com diagnóstico de HH:
– 60-100% homozigotos para C282Y/HFE
– Menos da metade dos homozigotos para a
mutação C282Y desenvolverão evidência
laboratorial e/ou clínica de sobrecarga de Fe
(penetrância incompleta do gene)
CANÇADO & CHIATTONE, 2010
HH: expressão clínica dos indivíduos
com mutação do gene HFE
• Sofre influência de
fatores genéticos,
clínicos e
ambientais, que
interferem no
metabolismo e no
acúmulo corporal do
Fe
CANÇADO & CHIATTONE, 2010
CANÇADO & CHIATTONE, 2010
CANÇADO & CHIATTONE, 2010
HH
• Progressão mais rápida da doença:
– Sexo masculino
– Bebida alcoólica em excesso
– Hepatite B ou C
– Anemia hemolítica crônica (talassemia etc.)
– Porfiria cutânea tarda
– Mutação concomitante de outro gene
envolvido no metabolismo do Fe
CANÇADO & CHIATTONE, 2010
HH: Manifestações Clínicas
• As manifestações clínicas da HH são
geralmente graduais, tardias e dependem de
fatores individuais (COUTO, 2007)
• Costumam aparecer entre a terceira e quinta
décadas de vida, sendo mais tardias nas
mulheres, devido às perdas de Fe que ocorrem
na menstruação, gestação e lactação (FUJIKI; HONDA;
OHARA, 1993)
HH: Manifestações Clínicas
• Sintomas: fadiga, artralgia, dor abdominal,
redução da libido, impotência sexual, perda de
peso (CUNHA, 2010)
• Sinais: artropatia, diabetes, hipogonadismo,
miocardiopatia e/ou arritmia, cirrose hepática,
hepato/esplenomegalia, hiperpigmentação da
pele (CANÇADO & CHIATTONE, 2010)
HH: Manifestações Clínicas
HH
• O risco de carcinoma hepático é vinte vezes
maior nos pacientes com HH e é ainda maior em
pacientes com HH e cirrose hepática
CANÇADO & CHIATTONE, 2010
HH: Diagnóstico
• Compreende (exames séricos, 2x):
– Saturação da Transferrina (ST) >45%
– Ferritina Sérica (FS) >200mg/dL em
mulheres e >300mg/dL em homens
– Homozigose da mutação C282Y – em alguns
casos, C282Y/H63D (gene HFE)
CANÇADO & CHIATTONE, 2010
HH: Diagnóstico
• Ressonância Nuclear Magnética (RNM):
– Método não-invasivo
– Permite a quantificação indireta do conteúdo
de Fe em diferentes órgãos
– Exame preferencial para o diagnóstico e o
seguimento de pacientes com sobrecarga de
Fe transfusional
CANÇADO & CHIATTONE, 2010
HH: Diagnóstico
• Biópsia Hepática:
– Coloração do ferro não-hemínico com o azul da
Prússia (Reação de Perls): siderose hepática
– Análise quantitativa do conteúdo hepático de
ferro (CHF) por espectroscopia de absorção
atômica ou de massa, que mostra valores
>3mg/g de tecido hepático seco
CANÇADO & CHIATTONE, 2010
HH: Diagnóstico
• Biópsia Hepática:
– É indicada para pacientes com:
• Homozigose mutação C282Y e >40 anos
• Sorologia (+) para VHB/HBV ou VHC/HCV
• (e/ou) transaminases elevadas
• (e/ou) FS >1000mg/dL
DEUGNIER, 2008
HH: Biópsia Hepática
Lâmina produzida a partir da biópsia hepática em paciente com hemocromatose
A: corada com HE; B: corada com azul da Prússia (Reação de Perls)
Fonte: JORGE, 2006
nl= normal; RNM= ressonância nuclear magnética T2*;
TfR2= gene do receptor 2 da transferrina; HAMP= gene
do peptídeo antimicrobiano hepcidina; HJV= gene da
hemojuvelina; *heterozigose: C282Y/wt; H63D/wt; nl:
wt/wt. Fonte:
http://medicalsuite.einstein.br/diretrizes/hematologia
HH: Diagnóstico
• Assim, a HH (na maioria das vezes):
– Doença autossômica recessiva, associada a
mutações do gene HFE
– Caracterizada por aumento da absorção
intestinal de Fe
– Acúmulo progressivo de Fe no fígado,
coração, pâncreas, pele e articulações,
podendo ocasionar lesão celular e tecidual,
fibrose e insuficiência funcional
CANÇADO & CHIATTONE, 2010
HH: TRATAMENTO
• O de escolha é remover o excesso de Fe do
corpo com flebotomias/sangrias terapêuticas
• Iniciar tão logo seja confirmada a sobrecarga de
Fe (ainda na fase assintomática da doença)
• Pacientes com aceruloplasminemia, doença da
ferroportina ou outras condições que cursam
com anemia, não respondem satisfatoriamente
ou até não toleram flebotomias de repetição
CANÇADO & CHIATTONE, 2010
HH: TRATAMENTO
• Flebotomia/Sangria Terapêutica:
– Retirada programada de ±450mL de sangue
– Remove 200-250mg de Fe do corpo por “bolsa”
– Feita a intervalos regulares (semanas, meses)
– Tratamento pode durar meses ou anos
(depende da quantidade de Fe em excesso e
do paciente)
– Mantido até a “depleção do ferro”:
• FS <25-50mg/dL e ST <40%
CANÇADO, 2009
HH: TRATAMENTO
• Após, as sangrias passam a ser feitas a
intervalos maiores (4-6/ano, homens; < mulheres)
• Controle do paciente durante as flebotomias:
– Hb/Ht antes de cada procedimento
– FS (e ST) a cada 3-4 sangrias
• Manter:
– Hb normal; FS <50-100mg/dL; ST 20-30%
CANÇADO & CHIATTONE, 2010
HH: TRATAMENTO
• Pacientes com anemia ou que não
toleram flebotomias:
Quelantes de Fe:
– desferroxamina (Desferal®
), SC
– deferasirox (Exjade®
), VO
– deferiprona (Ferriprox®
), VO
CANÇADO & CHIATTONE, 2010
HH: TRATAMENTO
• Pacientes com complicações graves ou que
requerem tratamento intensivo (remoção rápida
do Fe):
– Eritrocitaférese + Eritropoetina
• mais complexo
• maior risco
• custo mais elevado
CANÇADO & CHIATTONE, 2010
HH: TRATAMENTO
• Paciente deve praticar novos hábitos:
– Evitar ingerir frutas cítricas ou alimentos que
contenham vitamina C junto com as
refeições que contenham ferro
– Reduzir o consumo de verduras escuras e
carnes vermelhas ou escuras, apesar da
ausência de evidências
CARVALHO, 2008
CANÇADO & CHIATTONE, 2010
HH: TRATAMENTO
• Paciente deve praticar novos hábitos:
– Abster-se de bebidas alcoólicas e de
manusear ou ingerir frutos do mar ou peixes
marinhos crus, devido ao risco de infecção
por Vibrio vulnificus/Salmonella enteritidis
– O uso de vitamina A, betacaroteno, B12,
riboflavina, ácido fólico e outros ácidos
orgânicos deve ser feita com bom-senso
CARVALHO, 2008
CANÇADO & CHIATTONE, 2010
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Hemocromatose hereditária: conceitos, diagnóstico e tratamento

  • 1. © L. A. Burden 2005 HEMATOLOGIA AULA 3 PARTE 3 HEMOCROMATOSE Dr Francismar Prestes Leal (CRM/PR 18829) Médico Hematologista (UFSM/UNIFESP) Professor Uningá/Maringá/PR Agosto/2013
  • 2. CONCEITOS • Ferro (Fe): – Metal natural, sólido, denso, acinzentado, da família 8B da Tabela Periódica de Elementos – Capaz de formar compostos ferrosos, bivalentes (Fe2+ ), e férricos, trivalentes (Fe3+ ), que reagem com ácidos, água e oxigênio – Íon essencial no metabolismo energético celular e no transporte de oxigênio FELTRE, 1994 CANÇADO, 2009
  • 3. CONCEITOS • Ferro (Fe, Adultos): – 3,0-4,0 g Fe (35-40 mg/kg M; 45-50 mg/kg H) – 1,5 -3,0 g ligado ao heme da Hb – 0,6-1,5 g: ferritina ou hemossiderina, no sistema mononuclear fagocitário – 300 mg: mioglobina, catalase, citocromos – Quantidade Fe controlada por proteínas/células (enterócitos, macrófagos, hepatócitos, EB) CANÇADO & CHIATTONE, 2010 SANTOS et al., 2009
  • 4. CONCEITOS • Ferro (Fe, Adultos): – Absorvido = excretado (1-2 mg/dia) – 20-30mg Fe do organismo são reciclados/dia – Absorção Fe é feita por enterócitos duodenais: • DMT1 (transportador de metal divalente), após redução do Fe+3 à Fe2+ pela redutase DcytB (citocromo b duodenal) • HCP1 (proteína carreadora de heme) ANDREWS, 1999 PORTER, 2001 SANTOS et al., 2009
  • 5. CONCEITOS • Ferro (Fe): – Inorgânico: incorporado pelas mitocôndrias dos enterócitos para uso próprio; parte atravessa o citoplasma, entrando no sangue – Heme: separado pela heme-oxigenase e só então destinado ao sangue LORENZI et al., 2003 GROTTO, 2010
  • 6. CONCEITOS • Ferro (Fe): – Armazenamento e transporte dependem da demanda: • Menor: permanece no enterócito ligado à ferritina; eliminado na descamação epitelial intestinal • Maior: transportado ao plasma para se ligar à transferrina LORENZI et al., 2003 GROTTO, 2010
  • 7. CONCEITOS • Ferro (Fe): – O transporte de Fe através da membrana basolateral do enterócito é mediado pela ferroportina, que leva o Fe²+ ao plasma, sendo este oxidado a Fe3+ pela hefaestina, o que facilita a ligação à transferrina SANTOS et al., 2009
  • 8. CONCEITOS • Ferro (Fe): – A inibição da exportação de Fe pela ferroportina é realizada pela hepcidina – Quando existem altas concentrações de hepcidina no plasma, grande parte do Fe será retida no enterócito e desprezada na luz intestinal SANTOS et al., 2009
  • 9. Proteínas relacionadas ao metabolismo do Fe SANTOS et al., 2009
  • 10. CONCEITOS • O aumento progressivo do aporte leva à sobrecarga patológica de Fe • O organismo não é capaz de aumentar fisiologicamente a excreção de Fe, mesmo em condições de sobrecarga ANDREWS, 1999
  • 11. CONCEITOS • Para limitar a participação do Fe em reações oxidativas lesivas ao organismo, além de estocá- lo, desenvolvemos mecanismos capazes de manter o Fe ligado a proteínas de transporte ou armazenado como ferritina/hemossiderina ANDREWS, 1999
  • 12. CONCEITOS • O principal mecanismo de toxicidade do Fe está relacionado ao ferro livre, não ligado à transferrina (non-transferrin-bound iron, NTBI), especificamente a fração redoxiativa chamada de ferro plasmático lábil (labile plasma iron, LPI) ESPOSITO et al., 2003 POOTRAKUL et al., 2004
  • 13. CONCEITOS • Quando a quantidade de Fe absorvido ultrapassa a capacidade quelante do organismo, ocorre saída de Fe dos macrófagos para a circulação e, ultrapassada a capacidade de saturação da transferrina sérica, o Fe livre em excesso deposita-se em células parenquimatosas ESPOSITO et al., 2003 POOTRAKUL et al., 2004
  • 14. CONCEITOS • Fe livre catalisa a síntese de radicais superóxidos e hidroxilas; a peroxidação de lipídeos de membrana de organelas causa dano celular, fibrose reativa e esclerose CAMASCHELLA, 2005 CANÇADO & CHIATTONE, 2010
  • 15. Cançado et al. Rev Bras Hematol Hemoter 2010;32(6):469-475
  • 16. HEMOCROMATOSE HEREDITÁRIA (HH) • Doença caracterizada por sobrecarga de Fe em diferentes células, tecidos e órgãos • Relatada pela primeira vez em 1865 por Trousseau, seguido por Troisier em 1871, em pacientes parisienses diabéticos cujas autópsias revelaram hepatopatia com deposição de um pigmento “ferroso” VIZINHO et al., 2009 CANÇADO & CHIATTONE, 2010
  • 17. HEMOCROMATOSE HEREDITÁRIA (HH) • Em 1889, Von Recklinghausen chamou a doença de “hemocromatose” (grego, haima: sangue e chromatos: cor), após evidenciar acúmulo de Fe em vários órgãos na autópsia de doentes com cirrose hepática, acreditando que este Fe viesse do sangue VIZINHO et al., 2009 CANÇADO & CHIATTONE, 2010
  • 18. HH • Em 1996, FEDER et al. identificaram, no braço curto do cromossomo 6, pertencente ao HLA, o gene da hemocromatose, chamado de gene HFE (High Iron Fe; classical hereditary hemochromatosis) • Estudos populacionais indicam que a HH teve origem no norte da Europa, em populações nórdicas ou celtas CANÇADO & CHIATTONE, 2010
  • 19. HH • Mutação C282Y do gene HFE: – A mais frequente em caucasianos da Europa (noroeste), América do Norte, Oceania – EUA, Austrália e Europa: a frequência de homozigotos 0,2-0,7%; heterozigotos 7-14% – Em populações asiáticas, africanas ou afrodescendentes das Américas Central e do Sul, é “pouco encontrada” CANÇADO & CHIATTONE, 2010
  • 20. HH • Mutação H63D do gene HFE: – 2-3 vezes mais frequente que a C282Y – Prevalência de heterozigotos: entre 15 e 40% e de homozigotos entre 2,5 e 3,6% • A frequência do genótipo C282Y/H63D é de 2% PIETRANGELO, 2004 CANÇADO & CHIATTONE, 2010
  • 21. HH • Mutação S65C do gene HFE: – Terceira mais frequente das 37 variantes alélicas e dos vários polimorfismos em diferentes regiões do gene HFE, tendo pouca importância clínica, exceto quando associada à mutação C282Y ou outra desordem que leve a acúmulo de ferro, como anemia hemolítica crônica PIETRANGELO, 2004 CANÇADO & CHIATTONE, 2010
  • 22. HH • Pacientes com diagnóstico de HH: – 60-100% homozigotos para C282Y/HFE – Menos da metade dos homozigotos para a mutação C282Y desenvolverão evidência laboratorial e/ou clínica de sobrecarga de Fe (penetrância incompleta do gene) CANÇADO & CHIATTONE, 2010
  • 23. HH: expressão clínica dos indivíduos com mutação do gene HFE • Sofre influência de fatores genéticos, clínicos e ambientais, que interferem no metabolismo e no acúmulo corporal do Fe CANÇADO & CHIATTONE, 2010
  • 26. HH • Progressão mais rápida da doença: – Sexo masculino – Bebida alcoólica em excesso – Hepatite B ou C – Anemia hemolítica crônica (talassemia etc.) – Porfiria cutânea tarda – Mutação concomitante de outro gene envolvido no metabolismo do Fe CANÇADO & CHIATTONE, 2010
  • 27. HH: Manifestações Clínicas • As manifestações clínicas da HH são geralmente graduais, tardias e dependem de fatores individuais (COUTO, 2007) • Costumam aparecer entre a terceira e quinta décadas de vida, sendo mais tardias nas mulheres, devido às perdas de Fe que ocorrem na menstruação, gestação e lactação (FUJIKI; HONDA; OHARA, 1993)
  • 28. HH: Manifestações Clínicas • Sintomas: fadiga, artralgia, dor abdominal, redução da libido, impotência sexual, perda de peso (CUNHA, 2010) • Sinais: artropatia, diabetes, hipogonadismo, miocardiopatia e/ou arritmia, cirrose hepática, hepato/esplenomegalia, hiperpigmentação da pele (CANÇADO & CHIATTONE, 2010)
  • 30. HH • O risco de carcinoma hepático é vinte vezes maior nos pacientes com HH e é ainda maior em pacientes com HH e cirrose hepática CANÇADO & CHIATTONE, 2010
  • 31. HH: Diagnóstico • Compreende (exames séricos, 2x): – Saturação da Transferrina (ST) >45% – Ferritina Sérica (FS) >200mg/dL em mulheres e >300mg/dL em homens – Homozigose da mutação C282Y – em alguns casos, C282Y/H63D (gene HFE) CANÇADO & CHIATTONE, 2010
  • 32. HH: Diagnóstico • Ressonância Nuclear Magnética (RNM): – Método não-invasivo – Permite a quantificação indireta do conteúdo de Fe em diferentes órgãos – Exame preferencial para o diagnóstico e o seguimento de pacientes com sobrecarga de Fe transfusional CANÇADO & CHIATTONE, 2010
  • 33. HH: Diagnóstico • Biópsia Hepática: – Coloração do ferro não-hemínico com o azul da Prússia (Reação de Perls): siderose hepática – Análise quantitativa do conteúdo hepático de ferro (CHF) por espectroscopia de absorção atômica ou de massa, que mostra valores >3mg/g de tecido hepático seco CANÇADO & CHIATTONE, 2010
  • 34. HH: Diagnóstico • Biópsia Hepática: – É indicada para pacientes com: • Homozigose mutação C282Y e >40 anos • Sorologia (+) para VHB/HBV ou VHC/HCV • (e/ou) transaminases elevadas • (e/ou) FS >1000mg/dL DEUGNIER, 2008
  • 35. HH: Biópsia Hepática Lâmina produzida a partir da biópsia hepática em paciente com hemocromatose A: corada com HE; B: corada com azul da Prússia (Reação de Perls) Fonte: JORGE, 2006
  • 36. nl= normal; RNM= ressonância nuclear magnética T2*; TfR2= gene do receptor 2 da transferrina; HAMP= gene do peptídeo antimicrobiano hepcidina; HJV= gene da hemojuvelina; *heterozigose: C282Y/wt; H63D/wt; nl: wt/wt. Fonte: http://medicalsuite.einstein.br/diretrizes/hematologia
  • 37. HH: Diagnóstico • Assim, a HH (na maioria das vezes): – Doença autossômica recessiva, associada a mutações do gene HFE – Caracterizada por aumento da absorção intestinal de Fe – Acúmulo progressivo de Fe no fígado, coração, pâncreas, pele e articulações, podendo ocasionar lesão celular e tecidual, fibrose e insuficiência funcional CANÇADO & CHIATTONE, 2010
  • 38. HH: TRATAMENTO • O de escolha é remover o excesso de Fe do corpo com flebotomias/sangrias terapêuticas • Iniciar tão logo seja confirmada a sobrecarga de Fe (ainda na fase assintomática da doença) • Pacientes com aceruloplasminemia, doença da ferroportina ou outras condições que cursam com anemia, não respondem satisfatoriamente ou até não toleram flebotomias de repetição CANÇADO & CHIATTONE, 2010
  • 39. HH: TRATAMENTO • Flebotomia/Sangria Terapêutica: – Retirada programada de ±450mL de sangue – Remove 200-250mg de Fe do corpo por “bolsa” – Feita a intervalos regulares (semanas, meses) – Tratamento pode durar meses ou anos (depende da quantidade de Fe em excesso e do paciente) – Mantido até a “depleção do ferro”: • FS <25-50mg/dL e ST <40% CANÇADO, 2009
  • 40. HH: TRATAMENTO • Após, as sangrias passam a ser feitas a intervalos maiores (4-6/ano, homens; < mulheres) • Controle do paciente durante as flebotomias: – Hb/Ht antes de cada procedimento – FS (e ST) a cada 3-4 sangrias • Manter: – Hb normal; FS <50-100mg/dL; ST 20-30% CANÇADO & CHIATTONE, 2010
  • 41. HH: TRATAMENTO • Pacientes com anemia ou que não toleram flebotomias: Quelantes de Fe: – desferroxamina (Desferal® ), SC – deferasirox (Exjade® ), VO – deferiprona (Ferriprox® ), VO CANÇADO & CHIATTONE, 2010
  • 42. HH: TRATAMENTO • Pacientes com complicações graves ou que requerem tratamento intensivo (remoção rápida do Fe): – Eritrocitaférese + Eritropoetina • mais complexo • maior risco • custo mais elevado CANÇADO & CHIATTONE, 2010
  • 43. HH: TRATAMENTO • Paciente deve praticar novos hábitos: – Evitar ingerir frutas cítricas ou alimentos que contenham vitamina C junto com as refeições que contenham ferro – Reduzir o consumo de verduras escuras e carnes vermelhas ou escuras, apesar da ausência de evidências CARVALHO, 2008 CANÇADO & CHIATTONE, 2010
  • 44. HH: TRATAMENTO • Paciente deve praticar novos hábitos: – Abster-se de bebidas alcoólicas e de manusear ou ingerir frutos do mar ou peixes marinhos crus, devido ao risco de infecção por Vibrio vulnificus/Salmonella enteritidis – O uso de vitamina A, betacaroteno, B12, riboflavina, ácido fólico e outros ácidos orgânicos deve ser feita com bom-senso CARVALHO, 2008 CANÇADO & CHIATTONE, 2010