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Reabilitação pulmonar

                                            Autor
                                     José Roberto Jardim1
                                          Mai-2011

1 - Qual a definição de reabilitação pulmonar?
Segundo a definição do Documento de Reabilitação Pulmonar da Sociedade Americana de
Tórax e da Sociedade Europeia Respiratória, publicado em 2006, o último documento
internacional referente ao assunto, “reabilitação pulmonar é uma intervenção multiprofissional,
integral e baseada em evidências para pacientes com doenças respiratórias crônicas que
sejam sintomáticos e frequentemente tenham diminuição das atividades da vida diária. A
reabilitação pulmonar, integrada ao tratamento individualizado do paciente, é delineada para
reduzir sintomas, otimizar a capacidade funcional, aumentar a participação e reduzir os custos
por meio da estabilização ou reversão das manifestações sistêmicas da doença”.
2 - Quais são os pontos importantes da definição de reabilitação pulmonar?
Esta definição foca três pontos importantes:

Multiprofissional
Reabilitação pulmonar necessariamente utiliza a experiência e capacidade de vários
profissionais.

Individual
O programa deve avaliar as necessidades individuais do paciente e delinear um programa para
ele, especificamente.

Atenção à função física e social

O programa deve focar os problemas psicológicos, emocionais e sociais assim como a
limitação (disability) física e ajudar a otimizar a terapia médica para melhorar a função
pulmonar e a tolerância ao exercício.
3 - Quais são os objetivos da reabilitação pulmonar?
Os objetivos da reabilitação pulmonar são:
    1.   diminuir e controlar os sintomas respiratórios;
    2.   aumentar a capacidade física;
    3.   melhorar a qualidade de vida;
    4.   reduzir o impacto psicológico da limitação física;
    5.   diminuir o número de exacerbações relacionadas à doença;
    6.   prolongar a vida.

4 - A quem está indicado fazer reabilitação pulmonar?
A reabilitação pulmonar está indicada a todos os pacientes que apresentam dispneia, reduzida
tolerância ao exercício e restrição nas suas atividades, apesar de já estarem no máximo da
terapêutica medicamentosa pertinente. Ganhos em programa de reabilitação ocorrem
independentes da idade, gênero ou função pulmonar.
5 - Em que estádio da DPOC o paciente deveria ser encaminhado ao programa de
reabilitação pulmonar?
Tem indicação de fazer reabilitação pulmonar todos os pacientes que têm qualquer limitação
física por uma doença respiratória. Assim, pacientes em qualquer estádio da DPOC podem
beneficiar-se em algum grau de reabilitação pulmonar e deveriam ser encaminhados ao
programa. O habitual é o paciente ser encaminhado em uma fase avançada da doença. Os
grupos especializados em reabilitação têm feito esforços para mudar esta atitude dos médicos
e de outros profissionais da área de saúde respiratória, incentivando-os a encaminharem os
pacientes em fases mais precoces da doença. Assim, no nosso ponto de vista, a reabilitação

1
  Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Reabilitação da UNIFESP;
Professor Livre-Docente da UNIFESP - Escola Paulista de Medicina;
Doutor em Pneumologia pela UNIFESP - Escola Paulista de Medicina.
                                                                         www.pneumoatual.com.br
está indicada tão logo o paciente fique consciente de sua limitação física, independente do
estádio da doença. Deve-se reforçar a ideia da prescrição precoce de exercício para o paciente
com doença respiratória crônica, lembrando o fato de que mesmo as pessoas saudáveis
devem fazer exercícios.
6 - Fumantes podem ser admitidos em um programa de reabilitação pulmonar?
Este é um aspecto mais de ordem filosófica do que de ordem cientifica. Não há evidências que
o ganho físico dos fumantes seja diferente dos não fumantes, havendo, ao contrário, dados que
indicam que fumantes ativos têm desempenho semelhante aos de ex-fumantes. Os grupos que
se opõem à inclusão de fumantes argumentam que o deixar de fumar faz parte da terapia
global do paciente e que reflete o seu interesse no tratamento e no programa.
7 - Pacientes com problemas cardíacos ou ortopédicos devem ser excluídos da
reabilitação pulmonar?
Não, eles não devem, sumariamente, serem excluídos de um programa de reabilitação.
Pacientes com problemas locomotores, distúrbios cognitivos significativos ou doença cardíaca
(angina instável e/ou estenose aórtica) e que são incapazes de realizar exercícios com
segurança podem, desde o início, participar das outras atividades do programa, como
intervenção educativa, orientação nutricional e apoio psicossocial e, paulatinamente, são
adaptados ao programa de exercício. No caso de pacientes com doenças cardíacas, é
recomendável ter a assessoria de um cardiologista, o qual poderá emitir um parecer sobre as
limitações específicas do paciente, para que o programa possa ser adequado a ele.
8 - Os pacientes hipoxêmicos devem usar oxigênio quando estão se exercitando?
A hipoxemia tecidual é um dos maiores estímulos ao aumento da capilarização e das
mitocôndrias celulares. Assim, teoricamente, os pacientes poderiam se beneficiar com a
realização de exercício com um certo grau de dessaturação. No entanto, a suplementação de
oxigênio durante reabilitação pulmonar, independente se ocorre ou não dessaturação durante o
exercício, frequentemente permite um treinamento com maior intensidade e reduz os sintomas.
Contudo, ainda não existem evidências que esta suplementação de oxigênio traz melhora nos
desfechos clínicos. Em termos práticos, oxigênio deve ser suplementado a todos os pacientes
com um fluxo que permita a saturação estar acima de 92% durante o exercício.
9 - Por que o programa de reabilitação pulmonar é tão específico para a DPOC?
O paciente com DPOC apresenta limitação ventilatória, ao contrário dos cardiopatas que
apresentam limitação cardíaca. O treinamento adequado é com uma carga que mantenha o
indivíduo próximo do seu limiar anaeróbio. Pela limitação ventilatória que os pacientes com
DPOC apresentam, o limiar anaeróbio é mais próximo do exercício máximo, ao contrário dos
indivíduos normais em que o limiar anaeróbio é em torno de 50-60% do seu máximo. Daí a
indicação de uma carga alta para o treinamento dos pacientes com DPOC.
10 - Como deve ser a reabilitação pulmonar de pacientes pneumopatas crônicos, mas
que não são portadores de DPOC?
Não existem documentos consensuais baseados em evidências em relação à prescrição ou
resposta ao treinamento para pacientes com doenças respiratórias crônicas que não a DPOC.
De qualquer modo, não há discussão de que estes pacientes também devem fazer exercícios.
11 - Há alguma particularidade para as doenças respiratórias crônicas não DPOC?
Asma
A grande maioria dos pacientes asmáticos não mantém um estado de limitação do fluxo de ar e
alcançam substancial benefício com treinamento físico. Grandes atletas olímpicos são
asmáticos.

Fibrose cística

Estes pacientes têm benefício com treinamento, mas deve-se tomar o cuidado de não misturar
pacientes colonizados por bactérias resistentes a antibióticos com os não colonizados.

Doença intersticial

Ênfase deve dada à técnicas de conservação de energia e treinamento cadenciado, pois pode
ocorrer dessaturação intensa durante o exercício. Deve-se prestar atenção à saturação de
pulso e fornecer oxigênio suplementar.

                                                                         www.pneumoatual.com.br
Pacientes neuromusculares

Estes pacientes podem necessitar de equipamentos de assistência ventilatória.

Hipertensão pulmonar

A prescrição de exercício não é mais contra-indicada, como no passado recente. Atividades
que elevam muito a pressão intratorácica devem ser evitadas, pois podem levar a síncopes.
12 - Como deve ser constituído um grupo multiprofissional para o centro de reabilitação
pulmonar?
A composição do grupo profissional para gerir e executar um programa de reabilitação
pulmonar deve variar segundo sua capacidade de manutenção financeira. Um grupo ideal deve
incluir médico pneumologista, fisioterapeuta, psicólogo, enfermeiro, nutricionista, assistente
social e terapeuta ocupacional. No entanto, programas de reabilitação podem apresentar
resultados adequados mesmo com um número menor de profissionais, desde que estes sejam
capazes de substituir as especialidades que estejam faltando. Não há um número mínimo para
a constituição da equipe, mas no caso de dificuldade de se montar a equipe ideal, ela poderia
ter médico, fisioterapeuta e psicólogo.
13 - Quais os equipamentos mínimos que um centro de reabilitação deve ter?
Em uma relação mínima de equipamentos, o centro de reabiltação deve constar de uma fonte
portátil de oxigênio, oxímetro de pulso, cronômetros, jogos de halteres, além de uma sala que
comporte atividades físicas em grupo. As atividades físicas podem ser realizadas em esteiras
e/ou bicicletas ergométricas para exercícios das pernas, e cicloergômetros ou halteres para
membros superiores. Ainda deveria haver no centro de reabilitação monitores cardíacos (para
uso exclusivo em testes máximos e não para treinamento), espirômetro e aparelhos para a
realização de fisioterapia. É necessário um espaço que permita a realização de teste da
caminhada. É recomendável que equipamento para ressuscitação cardiorrespiratória esteja
disponível e que a equipe esteja treinada para os procedimentos padrão de manutenção
avançada de vida, apesar da raridade destes eventos em pacientes em programas de
reabilitação pulmonar.
14 - Qual a finalidade de se avaliar um paciente inscrito para reabilitação pulmonar?
A avaliação inicial de um paciente deve compreender testes físicos e a aplicação de
questionários referentes a qualidade de vida, depressão, ansiedade e conhecimentos sobre a
doença. Este conjunto de dados tem por finalidade avaliar o grau de interferência do estado
emocional e físico sobre a capacidade física do paciente e permite auxiliar o planejamento do
programa de recondicionamento.
15 - Que exames podem ser utilizados para a avaliação física do paciente?
O exame ideal para esta avaliação é o teste ergométrico realizado em esteira ou bicicleta. Caso
o programa não tenha esses equipamentos ou uma pessoa especializada nesta área, pode-se
utilizar testes de campo, como o teste da caminhada de seis minutos ou um teste de
caminhada incremental, como o "shuttle walking test".
16 - Como deve ser realizado o teste da caminhada de seis minutos?
O teste da caminhada foi avaliado por um documento da American Thoracic Society (AJRCCM,
2002) e um resumo dele foi publicado em um Boletim da PneumoAtual, em 2004 (PneumoAtual
Express News Nº 95). De um modo geral, o teste da caminhada de 6 minutos deve ser
realizado duas vezes, com pelo menos 30 minutos de intervalo, em um corredor plano, com
pelo mesmos 20 a 25 metros, com incentivo a cada minuto, sem acompanhamento do técnico.
O teste da caminhada é considerado um teste sub-máximo. É considerado o valor mais alto
dentre os dois testes.
17 - Qual a diferença mínima clinicamente significante em metros a ser considerada no
teste da caminhada?
Classicamente, e por muitos anos, considerou-se que a melhora em um programa de
reabiltação pulmonar para pacientes com DPOC correspondia a caminhar 54 metros a mais no
pós-reabilitação. Entretanto, sempre se discutiu a falta de um critério mais rígido para o
estabelecimento deste limite.



                                                                         www.pneumoatual.com.br
Dois estudos recentes e bem conduzidos compararam o aumento da caminhada com a
melhora da qualidade de vida estabeleceram que a diferença mínima clinicamente significante
foi de 25 metros em um estudo e de 30 metros em outro.Em um destes estudos mostrou-se,
também, que, se o teste for realizado em cicloergômetro, a diferença significante é 4 watts.
18 - O que é o "shuttle walking test"?
Shuttle em inglês significa "ir e voltar". Este teste é realizado em um espaço de 10 metros em
que o paciente tem de caminhar, indo e voltando, repetidamente, com aumento da velocidade a
cada minuto, sendo a velocidade controlada por um sinal sonoro. Ele é considerado um teste
próximo do máximo, portanto exigindo mais do paciente do que o teste da caminhada de seis
minutos.
19 - E quanto ao teste do degrau para avaliar a capacidade física?
Este teste tem sido utilizado nos recentes anos, mas ele não está ainda padronizado. O teste é
realizado incentivando-se o paciente a subir e descer um degrau o maior número de vezes
possível, podendo ser limitado por tempo (5 ou 6 minutos) ou por um determinado número de
repetições (e marcando-se o tempo que foi gasto). Este teste tem a vantagem de poder ser
realizado em locais aonde não é disponível um corredor para a realização do teste da
caminhada de 6 minutos.
20 - Qual a finalidade de se avaliar a qualidade de vida dos pacientes em um programa
de reabilitação pulmonar?
Existem várias definições para qualidade de vida. Uma definição simples, mas bem prática, é:
“a diferença entre o que é desejado na vida e aquilo que é alcançado”. Qualidade de vida
relacionada ao estado de saúde foca as áreas da vida que são afetadas pelo estado de saúde
e reflete o impacto da doença respiratória (incluindo co-morbidades e tratamento) sobre a
habilidade de desempenho do paciente ou no prazer na realização das atividades da vida
diária.

Assim, a avaliação da qualidade de vida em pacientes com doença respiratória crônica permite
inferir o impacto que a doença tem sobre a vida da pessoa. Outra finalidade da avaliação da
qualidade de vida é comparar, ao final do programa, as mudanças que possam ter ocorrido,
independentemente das mudanças fisiológicas.

É mais correto falarmos qualidade de vida relacionada ao estado de saúde, uma vez que estes
questionários só avaliam o impacto sobre a saúde, não cobrindo outros aspectos como
situação financeira, estado empregatício e outros. Os questionários de qualidade de vida são
divididos em questionários específicos e questionários genéricos.
21 - O que são os questionários de qualidade de vida específicos?
Questionários específicos estão relacionados a uma doença específica, como, por exemplo,
questionário do Saint George Hospital, que pode ser utilizado para DPOC, asma ou
bronquiectasia. Há questionários específicos para qualquer doença, incluindo doenças
reumatológicas, câncer ou doença vascular, por exemplo.

22 - O que são os questionários de qualidade de vida genéricos?
Questionários genéricos podem ser aplicados a qualquer doença e permitem que os impactos
sobre enfermidades diferentes possam ser comparados. Talvez o questionário genérico mais
utilizado seja o SF-36, Short Form 36, que inclui 36 perguntas divididas em oito domínios.
23 - Quais são os questionários específicos mais utilizados para avaliação da qualidade
de vida relacionada à saúde nos pacientes DPOC?
Um é o questionário do Saint George Hospital, com 76 perguntas e três domínios: sintomas,
atividade e impacto. O valor zero indica a melhor qualidade de vida e o valor 100, a pior. Outro
questionário muito utilizado em DPOC é o questionário de doenças crônicas respiratórias
(CRQ), com 19 perguntas que abrangem os domínios dispnéia, impacto, fadiga e função
emocional. Estes dois questionários já foram traduzidos para o português do Brasil e
publicados no Jornal Brasileiro de Pneumologia. Recentemente foi publicado um novo
questionário, o CAT, para a DPOC.
24 - O que é o CAT?
Em 2009 um novo questionário específico para DPOC foi desenvolvido por Paul Jones, na
Inglaterra, com a finalidade de ser utilizado pelos pacientes e poder ser um elo de ligação entre
                                                                           www.pneumoatual.com.br
o paciente e o médico. É o COPD Assement Test (CAT) com oito perguntas e que abrange
vários domínios. A resposta a cada pergunta tem cinco possibilidades, desde o mínimo ao
máximo de sintomas, podendo, portanto, cada pergunta poder valer até cinco pontos (ou 40
pontos no máximo para as oito perguntas). Quanto mais alto valor da pontuação em cada
pergunta, ou mais alta a soma geral dos pontos, pior o estado do paciente. A finalidade
específica do CAT é ele ser respondido pelo paciente em sua casa ou na sala de espera do
médico, facilitando o diálogo entre as duas partes.

O CAT tem uma boa correlação com o Questionário do Hospital Saint George (Paul Jones), o
que indica que eles podem ser utilizados indistintamente. No entanto, ao contrário do Saint
George, que o paciente gasta de 10 a 15 minutos para responder, este não toma mais que dois
minutos.

Não é necessário autorização ou pagamento para o uso do CAT. Ele encontra-se em
português no site www.catonline.com. A GSK, Indústria Farmacêutica, que patrocinou o
desenvolvimento do questionário, e que mantém os direitos autorais sobre ele, simplesmente
exige que ele seja mantido na sua forma original.
25 - Qual a importância de se quantificar a dispneia?
Dispneia é o sintoma mais importante apresentado por um paciente com doença respiratória.
Já foi mostrado em um trabalho japonês que a dispneia tem relação direta com a mortalidade
em pacientes com DPOC. Em acréscimo, o grau de dispneia pode servir de orientação para a
indicação e a avaliação da evolução da reabilitação.

Uma das escalas mais utilizadas para quantificar dispnéia, indicada pelo Consenso de DPOC
da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, é a do Medical Research Council
(MRC,1959), que tem cinco perguntas. Para a avaliação durante o exercício é muito utilizada a
escala de Borg, que pode medir o grau de desconforto respiratório e dos membros inferiores e
superiores.

Donald Mahler desenvolveu uma escala para avaliar a dispnéia basal, a BDI, Basal Dyspnea
Index, em três áreas. Para a comparação entre dois períodos urtiliza-se a Escala TDI,
Transitional Byspnea Index,
26 - Quais são as cinco perguntas da Escala MRC (Medical Research Council)?
São elas:
   1. Dispneia somente ao realizar exercício intenso;
   2. Dispneia ao subir escadas ou ladeira ou andar apressadamente no plano;
   3. Dispneia no próprio passo no plano ou dificuldade para acompanhar o passo de outra
      pessoa da mesma idade;
   4. Dispneia no plano em menos de 100 metros ou após alguns minutos;
   5. Muito dispneico para sair de casa ou dispneia para se vestir ou se despir.
Ao paciente é dado o escore correspondente à pergunta respondida afirmativamente, o qual
deve ser comparado após alguma intervenção.
27 - Por que a educação deve estar incluída em um programa de reabilitação pulmonar?
Apesar de não existirem muitos trabalhos que comprovem cientificamente que a educação
inserida na reabilitação pulmonar traga benefícios, ela faz parte de todos os programas. A sua
inserção é baseada na opinião de "experts" na área, pela demonstração na prática dos
resultados positivos que ela traz a qualquer planejamento em saúde. Tem-se observado que a
educação pode estimular a aderência do paciente a um determinado tratamento, fazendo com
que ele entenda as mudanças psicológicas e físicas que a doença pode provocar, ensinando-
os a lidar adequadamente com elas e tornando-os mais aptos a desenvolver atitudes de
automanejo da doença.

O ideal é que a educação seja estendida aos familiares dos pacientes. As estratégias de
educação devem ser adequadas ao nível de entendimento dos pacientes, incentivando o
diálogo e mantendo, o máximo possível, a simplicidade e a clareza. Não existe, ainda, um
consenso sobre o modo mais objetivo de como fazer a mensagem chegar aos pacientes. Os
modos mais utilizados são aulas expositivas, discussão em grupo, podendo-se usar ou não
material audiovisual, como transparências, cartazes e apresentação de vídeos. É importante
que sejam feitas demonstrações práticas do uso de dispositivos e equipamentos utilizados
                                                                         www.pneumoatual.com.br
pelos pacientes, como inaladores, aerossóis, aparelhos de ventilação. É conveniente o
fornecimento de material educativo impresso e o estímulo para o seu uso com a finalidade de
complementar e solidificar o aprendizado. Estimula-se que as aulas sejam as mais interativas
possíveis.
28 - Qual deve ser a frequência das atividades educativas?
A frequência das atividades educativas vai depender do grau de conhecimento e da
disponibilidade de tempo do grupo de pacientes. Na maioria dos programas, a sessão de
educação é semanal, com duração de 40 a 60 minutos e com a participação de um profissional
da área do tema a ser abordado. Mas, à semelhança do que ocorre em qualquer grupo
intelectual, a retenção não depende só do grau de cognição, mas ela é proporcional ao grau de
motivação do ouvinte e inversamente proporcional ao quanto aquele conhecimento é novo para
ele. Estudos mostram que após uma aula sobre um conhecimento novo para o ouvinte, depois
de uma hora do término da exposição, somente 20% do conhecimento é lembrado. Desse
modo, é muito importante que sejam programadas aulas ou atividades de reforço daquele
conhecimento específico.
29 - Quais os temas que devem ser abordados com os pacientes com DPOC?
Os temas devem ser aqueles pertinentes à doença e conduta do paciente com DPOC. Na
maioria dos centros, os temas mais abordados são referentes a explicação sobre o que é
DPOC, porque fazer exercício, aspectos relacionados à nutrição, uso adequado de medicação,
técnicas de fisioterapia respiratória, anatomia das vias aéreas e dos pulmões, oxigenoterapia,
técnicas de conservação de energia e sexualidade.
30 - O que é importante falar sobre os medicamentos?
O paciente e seus familiares devem receber orientação sobre as classes de medicamentos
para o sistema respiratório, dividindo-os em antiinflamatórios e broncodilatadores. Deve-se
explicar as subclasses de broncodilatadores (beta-agonista, anticolinérgicos e xantinas), seus
tempos de ação, como agem, quando usá-los e porque usar as combinações. É importante
orientá-los sobre o uso de corticosteroide na exacerbação e a não indicação, a não ser em
casos restritos, do uso de corticosteroide sistêmico cronicamente. Deve-se explicar sobre como
usar adequadamente os dispositivos inalatórios. Não se pode deixar de falar sobre os efeitos
colaterais das medicações, como evitá-los ou diminuir os seus riscos. Essa é uma ocasião
importante para acabar com os vários mitos sobre o uso destas medicações.
31 - O que são técnicas de conservação de energia?
Técnicas de conservação de energia têm por finalidade fazer com que o paciente tenha menos
dispnéia e gaste menos oxigênio nas suas atividades da vida diária ou profissional. Uma das
mais utilizadas é a estratégia de respiração com lábios semicerrados, que consiste em que o
paciente expire lentamente pela boca, com os lábios semicerrados, durante a realização de
algum esforço. Há manobras simples que devem ser ensinadas aos pacientes:
   •   tomar banho sentado em um banquinho;
   •   sentar para colocar e tirar sapatos;
   •   usar sapatos sem cordão;
   •   fazer toda a higiene matinal (escovar dentes, lavar rosto e pentear-se e, para homem,
       barbear-se) sentado;
   •   dividir o tempo para a realização de tarefas domiciliares;
   •   subir escada degrau a degrau;
   •   não ter pressa.

32 - Existem evidências de que o treinamento traz benefícios para o paciente com
DPOC?
Sim. Segundo a atualização do GOLD (Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease),
há uma vasta documentação que pacientes com DPOC submetidos à reabilitação pulmonar
obtêm benefícios que podem ser classificados como evidência A, isto é, há experimentos com
número suficiente de pacientes e delineados de modo adequado. Uma meta-análise com 23
estudos controlados e randomizados definiu que reabilitação pulmonar apresenta consistentes
benefícios em termos de melhora da qualidade de vida, diminuição de dispaneia e aumento da
tolerância ao exercício. Os resultados positivos são tão consistentes que alguns afirmam que
não se deveria mais realizar estudos e reabilitação com grupo controle, tamanha a evidência
dos resultados benéficos que já existe.

                                                                         www.pneumoatual.com.br
33 - Programas de reabilitação pulmonar trazem algum beneficio em relação a
hospitalização ou exacerbações?
Tem sido publicado, que pacientes seguidos em programas de reabilitação pulmonar
apresentam menos exacerbações e menor número de internações. Tem-se discutido qual a
razão para esses benefícios e entre as hipóteses estão os fatos de que eles estão mais bem
educados e apresentam maior aderência ao tratamento medicamentoso, além de
reconhecerem os sintomas mais precocemente.
34 - Quais as modalidades de treinamento que devem ser incluídas em um programa de
reabilitação pulmonar?
As modalidades de treinamento comumente utilizadas são:
    •   Treinamento de endurance: envolve grande massa muscular e os exercícios são
        aplicados em moderada intensidade, por um período relativamente longo;
    •   Treinamento intervalado: envolve a prescrição intervalada de exercícios com carga alta
        e baixa;
    •   Treinamento de força: consiste na realização de exercício de alta intensidade e baixo
        número de repetições.
É comum a combinação das três modalidades.
35 - Qual a intensidade de carga para prescrição de exercício de endurance?
Trabalho de Casaburi e colaboradores, já há mais de uma década, mostrou que treinamento de
endurance para pacientes com DPOC alcança melhor resultado quando realizado com carga
alta, embora exercícios com carga baixa também possam melhorar sintomas e alguns aspectos
da performance das atividades da vida diária. Carga alta pode ser definida como a intensidade
que pode levar ao aumento dos níveis de lactato sanguíneo. Contudo, em populações de
pacientes em programa de reabilitação pulmonar não há uma definição precisa do que seja
alta carga, uma vez que muitos pacientes podem alcançar um grau de limitação ao exercício
pela alteração ventilatória antes que alcance alterações fisiológicas.

Entretanto, tem sido mostrado que treinamento na intensidade entre 60-80% da carga máxima
atingida em teste incremental, tanto na esteira ou cicloergômetro, pode proporcionar resultados
mais efetivos do que treinamento em baixa intensidade. Outro modo de prescrição de
treinamento é a manutenção da frequência cardíaca entre 60% e 80% da frequência máxima.
Porém, o seu uso pode resultar em estímulo de treinamento inadequado, uma vez que a
frequência cardíaca pode variar devido à doença pulmonar em si e pelo uso de medicamentos
beta-agonistas. Um terceiro modo de prescrição de exercício é pelo grau de dispnéia,
utilizando-se um escore em torno de 4 a 6 na escala de Borg.
36 - Como podem ser treinados os membros inferiores?
Pode-se usar esteira, bicicleta ou caminhada. As esteiras têm a vantagem de treinar os
pacientes para uma atividade que é habitual, caminhar. As bicicletas ocupam menos espaço e
custam mais barato, mas não é uma atividade usual. Caminhar é o mais barato, mas pode não
ficar uniforme, pela variação que pode o paciente apresentar de um dia para outro, além da
impossibilidade de caminhar em dias com chuva ou muito frio. O tempo mínimo recomendado
para cada sessão é 30 minutos, com frequência mínima semanal de três vezes. Para maior
aproveitamento, deve-se realizar treinamento o maior número possível de sessões por semana
e que cada uma tenha por volta de 45 minutos.

Se o exercício vai ser realizado em casa, recomendamos que a esteira ou cicloergômetro seja
colocado defronte a uma janela ou varanda para que a pessoa possa ter uma visão de um
jardim ou praça. No caso que isto não seja possível, pode-se colocar defronte à televisão.

Caso o paciente opte por caminhar, a caminhada deve ser realizada em uma praça ou parque,
para evitar a maior poluição das ruas e as paradas constantes nos sinais de tráfego, além das
irregularidades das calçadas.
37 - Por que se deve incluir o treinamento dos músculos da cintura escapular em um
programa de reabilitação?
Normalmente os músculos da cintura escapular estão envolvidos tanto no ato de elevar os
membros superiores contra a gravidade como também na respiração, principalmente nos
esforços que requerem uma grande ventilação. Os pacientes com DPOC já fazem uso

                                                                         www.pneumoatual.com.br
rotineiramente dos músculos acessórios para a respiração. Nas situações em que eles
precisam usar os membros superiores para a realização de alguma atividade, mantendo-os em
uma posição antigravitacional, como colocar objetos em uma prateleira, pentear os cabelos ou
para alguma outra atividade simples, é comum o aparecimento de dispneia. O treinamento dos
músculos da cintura escapular prepara-os para exercer estas atividades com menor gasto
energético e, consequentemente, menor ventilação, diminuindo a sensação de dispneia.
Atualmente, o treinamento dos membros superiores é recomendado como componente
essencial de um programa de reabilitação pulmonar para pacientes com DPOC.
38 - Como devem ser treinados os músculos da cintura escapular?
Ainda não há uma uniformização para treinamento dos músculos da cintura escapular, mas
dois são os regimes mais utilizados.

Cicloergômetro para braços

Utiliza-se numa velocidade fixa de 50 rotações por minuto, iniciando com 40% da carga
máxima alcançada num teste incremental anterior e aumentando progressivamente a carga a
cada cinco sessões, de acordo com a tolerância do paciente. O exercício deve ser mantido por
até 30 minutos.

Método de facilitação proprioceptiva

Esta modalidade usa pesos, iniciando com 0,50 a 0,75 kg. Os pesos devem ser elevados até a
altura dos ombros, em um movimento diagonal, numa frequência semelhante à da respiração,
por dois minutos. Em seguida realiza-se o exercício com o outro braço. As séries devem se
repetir até o total de 30 minutos. A carga pode ser aumentada em 0,25 kg a cada 5 a10
sessões, de acordo com a tolerância do paciente. Alguns centros utilizam faixas elásticas ou
bastões para exercitar os membros superiores. O número de sessões semanais de exercícios
para membros superiores varia de três a cinco, de acordo com o programa de reabilitação
pulmonar.
39 - Está indicado o treinamento dos músculos respiratórios de rotina?
Não. O treinamento dos músculos respiratórios está indicado somente quando a sua força está
tão diminuída que passa a ser um componente da limitação ao exercício. Deve-se levar em
consideração que a medida da força dos músculos respiratórios pode estar diminuída somente
em número absoluto devido à hiperinsuflação.
40 - Como se pode medir a força dos músculos respiratórios?
A força dos músculos respiratórios pode ser medida com o manovacuômetro: a força da
musculatura inspiratória é medida pela determinação da pressão inspiratória negativa máxima
(PImax) e a da musculatura expiratória pela máxima pressão positiva que estes músculos
conseguem gerar (PEmax). A medida mais exata da PImax é a partir do volume residual e a
PEmax na capacidade pulmonar total. No entanto, é muito comum que estas duas pressões
sejam medidas na capacidade funcional pulmonar. Evidentemente, para que as pressões
sejam comparadas, elas devem ser medidas sempre no mesmo volume pulmonar.
41 - Como se pode treinar os músculos respiratórios?
O método mais usado para o treinamento da musculatura inspiratória é com um aparelho que
apresenta um sistema de resistência inspiratória ("Threshold IMT"). Este é um aparelho com
forma cilíndrica, de acrílico, em que a sua extremidade distal é obstruída por um diafragma
pressionado por uma mola. Para que o diafragma se abra e permita a passagem de ar, é
necessário que o paciente gere uma pressão inspiratória negativa que seja superior à pressão
positiva da mola (método pressão-dependente). A carga de treinamento deve ser de 50% a
60% da PImax e o treinamento diário deve durar 15 a 30 minutos por dia (sessão contínua ou
15 minutos duas vezes ao dia). Deve-se manter a frequência respiratória próxima da frequência
normal.

Um outro modo de treinar os músculos respiratórios é a utilização de um tubo ou válvula com
um pequeno orifício na extremidade inspiratória, fazendo com que o paciente respire através
dele. Para que esse método seja efetivo e um volume corrente adequado seja gerado a partir
de uma pressão inspiratória determinada, o paciente tem de gerar um fluxo alto, daí ele ser
chamado de fluxo-dependente.


                                                                        www.pneumoatual.com.br
42 - Qual a frequência semanal de prescrição de exercícios?
O ideal é que os exercícios fossem diários, como fazem os grandes atletas. No entanto, este
regime de treinamento pode tornar-se enfadonho para o paciente. O número mínimo de dias
para que o paciente se beneficie é três vezes por semana.
43 - Qual o tempo de treinamento por sessão?
O ideal é que a sessão efetiva de treinamento dure, pelo menos, 30 minutos. Assim, o mais
adequado é fazer exercício por cinco minutos em baixa carga, para servir de aquecimento,
depois elevar a carga pelos próximos 30 minutos e, ao final, fazer exercício em carga baixa por
mais cinco minutos pra relaxamento.
44 - O que é o treinamento intervalado?
Treinamento intervalado consiste, basicamente, de exercícios ou séries do mesmo exercício
com duração de dois a três minutos com carga de alta intensidade, intercalados com períodos
iguais de repouso ou exercício com carga de menor intensidade. Eles, habitualmente, são mais
bem tolerados, causando benefícios similares aos obtidos com treinamento de endurance.
45 - Por que realizar treinamento de força no paciente com DPOC?
O treinamento de força tem sido recentemente incorporado ao protocolo de treinamento dos
pacientes com DPOC devido à observação que um subgrupo importante desses pacientes
apresenta diminuição da força muscular periférica. Tem sido observado, cada vez com maior
frequência, que a fraqueza de músculos periféricos diminui a capacidade de exercício. Em
acréscimo, está bem demonstrado que a mortalidade é maior no grupo que apresenta menos
massa muscular.

Em comparação com treinamento de endurance, o treinamento de força se utiliza de menor
massa muscular, levando a uma menor demanda ventilatória, com menor sensação de
dispneia. O modo de treinamento mais comum é com pesos, ou com o equipamento chamado
de “estações” com uma carga correspondente a 60-85% da máxima força, em duas a três
séries de oito repetições, durante três vezes por semana, não havendo necessidade de ser
diário.

Este tipo de treinamento tem maior potencial de aumentar força e massa muscular que o
treinamento de endurance. A associação dos dois tipos de treinamento é, provavelmente, a
melhor estratégia para tratar disfunção muscular periférica, uma vez que combina a melhora na
força muscular e na endurance geral.
46 - O treinamento de força pode aumentar a endurance?
Sim, pode. Há sugestões recentes que a associação de treinamento de força e endurance seria
a estratégia adequada para o treinamento de membros superiores e inferiores.
47 - Como proceder para treinar pacientes que têm capacidade física muito baixa?
Em pacientes com capacidade física muito baixa, o treinamento de endurance é habitualmente
mal tolerado, não conseguindo o paciente manter a carga pelo tempo estipulado. Para estes
pacientes o treinamento intervalado é melhor tolerado e pode causar benefícios semelhantes
aos obtidos com o de endurance.

Há duas estratégias para o inicio do treinamento de um paciente. Uma é manter a carga
deliberada para o treinamento desde o início, com o paciente realizando um tempo curto de
treinamento. A outra é iniciar o treinamento com carga mais baixa, mantendo o tempo total do
treinamento; a carga será aumentada a medida que o paciente for se adaptando a ela.

No Centro de Reabilitação Pulmonar da Unifesp/Lar escola São Francisco, optamos pela
segunda estratégia.
48 - Qual o tempo ideal de um programa?
Não há evidências sobre a duração ideal para programas ambulatoriais de treinamento. A
maioria dos programas tem seis a doze semanas de duração. O documento GOLD, que é
baseado em evidências, recomenda que o tempo mínimo seja de oito semanas. O documento
conjunto da Ameriacan Thoaracic Society e da European Rrespiratory Society recomenda um
mínimo de 20 sessões, por, pelo menos, três vezes por semana.


                                                                         www.pneumoatual.com.br
Está bem claro que quanto mais longo o tempo de treinamento, mais prolongados são os
efeitos obtidos. Nos programas com tempo mais curto, os benefícios diminuem
consideravelmente após um ano. O ideal é que haja um programa de manutenção, o que nem
sempre é possível em vista do grande número de pacientes que estão na lista de espera. Um
modo simples de manter os pacientes fazendo uma atividade física é estimulá-los a caminhar
diariamente, pelo menos 40 a 60 minutos, com monitorização semanal por telefone. Outros
protocolos procuram incluir sessões semanais ou mensais de exercício no centro de
reabilitação.
49 - Como otimizar o treinamento dos pacientes com DPOC?
Em torno de 10 minutos antes de começar o treinamento, os pacientes devem receber 400 mcg
de salbutamol ou o equivalente de terbutalino ou fenoterol. O brometo de ipratrópio
habitualmente não tem sido utilizado, pois o seu início de ação é mais demorado. A
broncodilatação permite ao paciente uma melhor ventilação e menor hiperinsuflação durante a
realização do exercício.
50 - Por que é conveniente fazer uma avaliação psicológica dos pacientes que vão ser
submetidos a um programa de reabilitação pulmonar?
Uma alta porcentagem dos pacientes com DPOC é ansiosa ou tem depressão, o que pode
interferir com a sua qualidade de vida habitual. Esta avaliação indica o quanto a sua doença o
incomoda psiquicamente e pode refletir o grau de dedicação que o paciente terá com o
programa. As abordagens psicológicas utilizadas devem buscar o envolvimento ativo do
paciente na tomada de decisões e nas mudanças de atitudes dos aspectos que forem
passíveis de modificação. Tratar depressão nos pacientes com doença respiratória crônica
pode fazer uma grande diferença na sua qualidade de vida, uma vez que sintomas depressivos
podem contribuir ainda mais do que a própria doença para incapacidade funcional, baixa
percepção do estado de saúde e bem estar.
51 - Existem questionários simples de se utilizar para uma avaliação rápida da
possibilidade da existência de depressão e ou ansiedade?
Sim. Vários centros de reabilitação têm utilizado o questionário Hospital Anxiety and
Depression, chamado de HAD. Ele contém sete perguntas referentes a depressão e sete
referentes à ansiedade. O HAD não foi idealizado para fazer o diagnóstico de ansiedade ou
depressão, ele simplesmente indica a possibilidade da ocorrência de um ou de ambos os
diagnósticos e, neste caso, o paciente deve ser encaminhado a um psiquiatra (ou psicólogo)
para uma avaliação mais profunda.

Há um outro questionário de apenas cinco perguntas, simples, para triagem de depressão que
podem ser respondidas rapidamente. Se o paciente responde de modo afirmativo à maioria das
perguntas, ele deve ser visto por um psicólogo (tabela 1).
                      Tabela 1. Questionário para triagem de depressão
  Perguntas                                                                     Sim    Não
  Estado afetivo persistente de tristeza, desânimo e vazio
  Perda do interesse para realizar atividades que habitualmente sente prazer
  Alterações na alimentação ou no sono
  Irritação, agitação, cansaço excessivo
  Dificuldades de concentração, memória ou para tomar decisões
Um questionário semelhante, também com cinco perguntas, existe para a triagem de
ansiedade (tabela 2). Se o paciente responde de modo afirmativo à maioria das perguntas, ele
deve ser visto por um psicólogo.
                    Tabela 2. Questionário para triagem de ansiedade
  Perguntas                                                          Sim              Não
  Aumento da tensão muscular
  Palpitação ou aceleração do coração
  Tonturas
  Suor (não devido ao calor)
  Apreensão ou medo que aconteça o pior




                                                                         www.pneumoatual.com.br
52 - Quais são as atribuições do psicólogo no grupo de reabilitação?
Ao psicólogo cabe avaliar os níveis de ansiedade, depressão e motivação do paciente,
procurando entender as relações existentes entre o paciente e seus ambientes e pessoas de
convívio. No caso do paciente ainda ser fumante, o psicólogo pode ajudá-lo, em conjunto com
o médico, motivando-o a deixar de fumar. Ao longo do programa, o psicólogo deverá
acompanhar o paciente, avaliar a sua adaptação ao grupo, o seu relacionamento com a familiar
e o estado da sua depressão e ansiedade.

As intervenções podem ser individuais ou em grupos. É mais prático realizar sessões com o
grupo todo. Estas sessões deveriam ser semanais e abordar aspectos relacionados à doença,
medos, fase terminal da doença, qualidade de vida, motivação, ansiedade, depressão,
relacionamento no casamento, tristeza, lazer.
53 - Qual a incidência de ansiedade em pacientes com DPOC?
Os números são bastante variáveis, a depender da gravidade da DPOC e do grupo em que o
estudo foi realizado. A ansiedade tem uma variação que vai de 20% a 70%, levando-se em
conta só ansiedade ou traço de ansiedade. A ocorrência de ansiedade no paciente com DPOC
está muito relacionada ao grau da dispnéia. Os pacientes com DPOC são unânimes em dizer
que a dispnéia é o sintoma que mais lhes incomoda e causa medo. Quando ela é intensa e
constante, acaba por desencadear um estado de pânico ou ansiedade, fazendo com que eles
passem a evitar atividades físicas. Isto estabelece um ciclo vicioso: ao limitar a realização de
uma atividade física, para não ter dispnéia, eles passam a ter uma vida mais sedentária e
perdem mais capacidade física, ficando mais sujeito à dispnéia.
54 - Qual a incidência de depressão em pacientes com DPOC?
Sintomas de depressão são comuns em pacientes com doença moderada ou grave, com
prevalência aproximada de 45%. À medida que a doença vai ficando mais intensa, os
pacientes vão se sentindo cada vez mais limitados na sua vida diária, o que lhes causa uma
sensação de impotência. A depressão nada mais é que uma resposta psicológica a esse novo
estilo limitante de vida, fazendo-os, muitas vezes, dependente de familiares para simples
atividades diárias, como vestir-se ou banhar-se. Atualmente tem-se dado mais importância ao
tratamento farmacológico aos pacientes com depressão.
55 - Quais são os ganhos psicológicos do paciente com a reabilitação pulmonar?
Entre os mais importantes destacam-se:
    •   diminuição da ansiedade;
    •   diminuição da depressão;
    •   melhora do autoconceito;
    •   melhora geral na qualidade de vida;
    •   melhora no desempenho sexual;
    •   superação do sentimento de incapacidade geral;
    •   aumento da motivação, da resistência e da determinação.

56 - Em que se baseia a necessidade de intervenção nutricional nos pacientes com
anormalidades na composição corporal?
A intervenção em pacientes com doença crônica dos pulmões está baseada em:
    •   a alta associação da desnutrição com morbidade e mortalidade;
    •   o requerimento de maior gasto energético durante o treinamento pode agravar este
        desequilíbrio.

57 - Como avaliar, de um modo simples, o estado nutricional de um paciente?
Uma avaliação nutricional simples é a medida pelo índice de massa corpórea (IMC), que é a
relação do peso (P), em kilo, dividido pela altura ao quadrado (A²), em metro. Segundo a
Organização Mundial de Saúde, a faixa de normalidade encontra-se entre 18 e 24,9 kg/m², mas
segundo o Colégio Americano de Nutrição, para pessoas idosas ou com doença crônica, o
valor de normalidade para o IMC está entre 21 e 27 kg/m².

Entretanto, o IMC normal não consegue indicar se a massa corpórea está mantida por excesso
de gordura ou por adequada massa muscular. O método mais simples para cálculo da massa
muscular é a aplicação de uma equação que emprega medidas das pregas cutâneas obtidas
                                                                          www.pneumoatual.com.br
de várias áreas do corpo e a circunferência do braço. Um método simples, fácil de aplicar e que
fornece um valor bem mais preciso da massa muscular é a bioimpedância elétrica. Ele baseia-
se na transmissão elétrica pelo corpo, com a colocação de eletrodos na mão e pé direito do
paciente.

È importante manter o paciente com a massa muscular o mais próxima possível do valor
normal, pois existe uma relação inversa entre massa muscular e mortalidade na DPOC e, de
um certo modo, também com o IMC. Assim, pacientes com menos massa muscular têm maior
índice de mortalidade.
58 - A quem deve ser oferecida a suplementação calórica?
A intervenção calórica deve ser oferecida a todos os pacientes com índice de massa corpórea
(IMC) menor que 21 kg/m², com perda involuntária de peso superior a10% durante os últimos
seis meses ou superior a 5%no último mês, ou naqueles com depleção da massa magra.
59 - Como deve ser a suplementação nutricional?
A suplementação deve ser orientada por um nutricionista com experiência em reabilitação. De
um modo geral, o novo regime alimentar deve ser adequado às condições financeiras do
paciente e, em termos práticos, não são prescritas as dietas líquidas industrializadas ditas
como apropriadas para pacientes com DPOC ricas em lipídios. Recentemente chegou ao
mercado uma bebida rica em calorias, com sabor agradável, que tem a finalidade de servir
como suplementação à dieta normal.
60 - Existem evidências que o uso de anabolizante aumenta o peso do paciente com
DPOC?
Há três publicações com delineamento metodológico correto que mostram que o uso de
anabolizante faz com que o paciente com DPOC ganhe peso, sendo uma dessas pesquisas
sido desenvolvida no Brasil. Estes estudos encontraram que o uso de esteróide anabolizante
aumentou o índice de massa corpóreo (IMC), principalmente às custas de aumento da massa
livre de gordura, isto é, massa muscular. Em um desses artigos, houve melhora da função
muscular respiratória. No entanto, estas pesquisas não mostraram nenhum ou pouco efeito
sobre a capacidade de exercício ou sobre a qualidade de vida, mas deve-se ressaltar que esse
não era o objetivo primário dos estudos, o que não permite tirar conclusão definitiva a este
respeito. Um resultado bastante interesse é que o uso de anabolizante esteróide não causou
efeitos adversos clínicos ou bioquímicos nestes pacientes.

Um quarto estudo usou hormônio de crescimento, que é um potente estimulante do IGF-1
sistêmico, e mostrou aumento da massa magra em um pequeno número de pacientes com
DPOC com baixo peso, associando-se com aumento na performance ao exercício. Contudo,
esta terapêutica é cara e pode se associar com efeitos secundários indesejáveis, como
retenção de sal e água e alteração no metabolismo da glicose.

O uso da substância progestacional acetato de megesterol tem sido associado a aumento de
apetite e do peso corpóreo. Em pacientes com DPOC e desnutridos durante oito semanas, o
seu uso resultou em aumento de 2,5 Kg a mais que o placebo, mas principalmente às custas
de gordura.
61 - Qual a dosagem de anabolizante usada nestas pesquisas?
No estudo brasileiro, os pacientes desnutridos receberam, inicialmente, 250 mg de testosterona
intramuscular e depois 12 mg de estanazolol oral, diariamente, por 27 semanas. Os outros dois
estudos, administraram injeções intramusculares de 50 mg de decanoato de andronolona
(Decadurabolin®) nos dias 1, 15, 29 e 43, em um seguimento de oito semanas.
62 - Quais os cuidados a serem tomados quando se receita anabolizante para homens?
Anabolizantes são potentes estimulantes de cresciemnto de tumor prostático e
desenvolvimento de metástases deste tumor. Assim, todos os pacientes homens com indicação
de uso de anabolizantes deverão ser examinados por um urologista para a exclusão da
possibilidade de tumor prostático; É imprescindível a mediada plasmática do PSA, toque
prostático e ultra-som da próstata.




                                                                         www.pneumoatual.com.br
63 - Qual a orientação básica para o ganho de massa muscular pelo paciente com
DPOC?
A orientação básica é aumentar o ingesta protéico (comer mais carne, ovos e queijo e tomar
mais leite) e fazer exercício. O uso de anabolizante deveria estar restrito aqueles pacientes que
já seguiram estas orientações e não conseguiram ganhar massa muscular ou que estão com
peso muito abaixo do seu previsto.
64 - Quais são os componentes que a reabilitação pulmonar melhora e com que nível de
evidência científica?
A reabilitação pulmonar:
    •   Melhora da capacidade de exercício (evidência A);
    •   Reduz a sensação de falta de ar (evidência A);
    •   Pode melhorar a qualidade de vida relacionada à saúde (evidência B);
    •   Reduz o número de hospitalizações e dias de internação hospitalar (evidência B);
    •   O treinamento dos músculos dos membros superiores aumenta a capacidade de
        realizar atividades com os braços e reduz a sensação de dispnéia (evidência B);
    •   O treinamento dos músculos respiratórios é benéfico, especialmente quando
        combinado com o treinamento físico geral (evidência B).
Evidência A quer dizer que esta é uma afirmação científica, baseada em número grande de
trabalhos, ou em poucos estudos, mas com grande número de pacientes, com randomização. .
Evidência B quer dizer que os trabalhos são bem delineados, porém não são em grande
número ou o número de pacientes não é adequado.
65 - Qual é o tempo necessário para se avaliar algum ganho na reabilitação pulmonar?
Após 30 dias o paciente já pode sentir alguma melhora na sua capacidade física, mas a maioria
dos resultados positivos é alcançada após oito semanas de reabilitação. O documento GOLD
estabeleceu que o tempo mínimo de um programa de reabilitação pulmonar deve ser de oito
semanas. Tem sido observado que, decorrido este tempo, ocorre melhora importante dos
domínios de qualidade de vida relacionados à saúde e da capacidade de realizar exercícios
físicos, em comparação à terapêutica farmacológica isolada.
66 - Pacientes com DPOC podem realizar exercício durante a exacerbação?
Sim, hoje já existem trabalhos publicados relatando que pacientes hospitalizados, ainda na
fase aguda da sua doença, podem fazer exercícios, com bons resultados, evidentemente que
adequados para os seu estado clínico. Assim, pacientes em programa de reabilitação e que
apresentam exacerbação não devem parar os exercícios; eles devem mantê-los, somente que
com uma carga mais baixa.
67 - O que se sabe sobre reabilitação em paciente internado?
Existem dois estudos, ambos randomizados e controlados, em relação ao treinamento de
pacientes hospitalizados com DPOC grave. O treinamento consistiu na realização diária de
cinco sessões de caminhada. Por ocasião da alta hospitalar, os pacientes foram orientados a
realizar treinamento diário em casa e foram seguidos por seis meses. Foi observado que o
grupo submetido a treinamento mostrou melhora na capacidade de caminhar, em média, de
183 metros de distância (p<0,05). Em acréscimo, os pacientes treinados mostraram redução da
sensação de dispnéia e melhora da qualidade de vida, segundo avaliação pelo questionário
CRQ ("Chronic Respiratory Disease Questionnaire").

A recomendação, segundo estes trabalhos, é que a reabilitação em pacientes com DPOC não
deve ser interrompida durante uma internação hospitalar por exacerbação infecciosa. Ao
deixarem de realizarem exercício durante a exacerbação eles perdem muito da capacidade
física e demoram para recuperarem o mesmo nível que tinham anteriormente.
68 - Existe alguma evidência que um programa de reabilitação pulmonar realizado no
domicílio traz benefícios ao paciente com DPOC?
Sim. Um estudo bem delineado e conduzido pelo grupo canadense de Quebec (Maltais et al
2008 Ann Int Med) mostrou que o treinamento domiciliar em cicloergômetro, supervisionado por
telefonema semanal, traz benefícios inequívocos.

Estudo recente do Centro de Reabiltação Pulmonar da Unifesp/Lar Escola São Francisco
realizou estudo semelhante, mas adaptou-o à vida real. O estudo foi randomizado e os

                                                                           www.pneumoatual.com.br
pacientes alocados ao programa domiciliar deviam caminhar, no período da manhã, 40 minutos
em sua casa ou rua por, pelo menos, três vezes por semana. Para complementar o exercício
dos membros inferiores, eles tinham de subir e descer a escada da sua casa no período da
tarde por 15 minutos. Para os que não tinham escada em casa, foi fornecido um caixote
resistente que servia de degrau, no qual os pacientes deviam fazer o seu exercício de escada.
Caminhar é indicado para ganho dos músculos glúteos, ao passo que subir escada é indicado
para os músculos do quadríceps. O exercício para os músculos da cintura escapular eram
realizado com pesos de 1 kilo representados por latas de qualquer liquido que eles tivessem
em casa.

Após dois meses os pacientes sob treinamento e o grupo controle retornaram ao Centro e
Reabilitação e realizaram todos os testes anteriormente realizados. O grupo que realizou o
treinamento mostrou melhora da qualidade de vida, segundo questionários específicos (Saint
George e AQ20) e genérico (SF-36) e melhora em mais de 55 metros no teste da caminhada
de 6 minutos.
69 - Há algum modo para fazer com que o treinamento domiciliar possa trazer resultados
positivos?
Sim, pode-se combinar o treinamento domiciliar com o treinamento ambulatorial, fazendo com
que o paciente venha ao centro de reabilitação pulmonar periodicamente.
70 - A eletroestimulação neuromuscular pode ser utilizada para ganho de massa
muscular ou treinamento?
Sim, esta é uma alternativa que recentemente foi descrita para pacientes com DPOC. Deve-se
chamar a atenção que ela é uma técnica que já existe há muito tempo no âmbito da
fisioterapia. Ela foi aplicada a pacientes com DPOC altamente limitados. São três os estudos
que aplicaram a eletroestimulação neuromuscular, tendo todos obtidos resultados positivos,
com melhora na força e "endurance" dos quadríceps.

No estudo realizado em regime domiciliar, o programa foi realizado cinco vezes por semana,
por seis semanas, com uma corrente bifásica simétrica quadrada de 50 Hz, com uma relação
ligado/desligado de, respectivamente, 2 seg e 18 seg (10%) na primeira semana, 5 seg e 25
seg (17%) na segunda semana e 10 seg e 30 seg (25%) nas semanas seguintes. Os impulsos
eram de 300-400 µs utilizando a maior amplitude tolerada (10-20 mA a princípio, com
incremento de até 100 mA). Os pacientes eram estimulados por 15 minutos na primeira
semana e, depois, até 30 minutos nas semanas subsequentes.

No estudo realizado ambulatorialmente, o protocolo de treinamento foi realizado três vezes por
semana, por seis semanas, com impulsos de 50 Hz, intensidade de 55 mA a 120 mA (com
incrementos de 5 mA).
71 - Leitura recomendada
American College of Chest Physicians, American Association of Cardiovascular and Pulmonary
Rehabilitation. Pulmonary rehabilitation: joint ACCP/AACVPR evidence-based clinical practice
guidelines. Chest 2007;131:4S-42S.

American Thoracic Society / European Respiratory Society. ATS / ERS statement on pulmonary
rehabilitation. Am J Respir Crit Care Med 2006;173:1390-1413.

British Thoracic Society Standards of Care Subcommittee on Pulmonary Rehabilitation. British
Thoracic Society statement on pulmonary rehabilitation. Thorax 2001;159:827-34.

Colucci M et al. Upper limb exercises using varied workloads and their association with dynamic
hyperinflation in patients with COPD. Chest 2010;138:39-46.

Godstein RS, Gort EH, Stubbing D et al. Randomized controlled trial of respiratory rehabilitation.
Lancet 1994;344:1394-1397.

Jardim JR et al Reabilitação Pulmonar, in Tarantino, B, Doenças Pulmonares, 5ª ed, Ed
Koogan Guanbara, 2007.

Jardim JR, Nascimento OA. Reabilitação, Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar Unifesp-
EPM l 1a ed Editora Manole, 2010.

                                                                            www.pneumoatual.com.br
Lacasse Y, Brosseau L, Milne S et al. Pulmonary rehabilitation for chronic obstructive
pulmonary disease (Cochrane Review). In: The Cochrane Library, Issue 3, 2003. Oxford:
Update Software.

O'Shea SD, Taylor NF, Paratz JD. Progressive resistance exercise improves muscle strength
and may improve elements of performance of daily activities for people with COPD: a
systematic review. Chest 2009;136:1269-83.

Singh SJ. Patient assessment for pulmonary rehabilitation. Eur Respir Rev 2002;12:394-97.

van Helvoort HA et al. Exercises commonly used in rehabilitation of patients with chronic
obstructive pulmonary disease: cardiopulmonary responses and effect over time. Arch Phys
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Yawn BP. Optimizing chronic obstructive pulmonary disease management in primary care.
South Med J 2011;104:121-7.




                                                                        www.pneumoatual.com.br

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Reabilitação pulmonar: entenda seus benefícios e como funciona

  • 1. Reabilitação pulmonar Autor José Roberto Jardim1 Mai-2011 1 - Qual a definição de reabilitação pulmonar? Segundo a definição do Documento de Reabilitação Pulmonar da Sociedade Americana de Tórax e da Sociedade Europeia Respiratória, publicado em 2006, o último documento internacional referente ao assunto, “reabilitação pulmonar é uma intervenção multiprofissional, integral e baseada em evidências para pacientes com doenças respiratórias crônicas que sejam sintomáticos e frequentemente tenham diminuição das atividades da vida diária. A reabilitação pulmonar, integrada ao tratamento individualizado do paciente, é delineada para reduzir sintomas, otimizar a capacidade funcional, aumentar a participação e reduzir os custos por meio da estabilização ou reversão das manifestações sistêmicas da doença”. 2 - Quais são os pontos importantes da definição de reabilitação pulmonar? Esta definição foca três pontos importantes: Multiprofissional Reabilitação pulmonar necessariamente utiliza a experiência e capacidade de vários profissionais. Individual O programa deve avaliar as necessidades individuais do paciente e delinear um programa para ele, especificamente. Atenção à função física e social O programa deve focar os problemas psicológicos, emocionais e sociais assim como a limitação (disability) física e ajudar a otimizar a terapia médica para melhorar a função pulmonar e a tolerância ao exercício. 3 - Quais são os objetivos da reabilitação pulmonar? Os objetivos da reabilitação pulmonar são: 1. diminuir e controlar os sintomas respiratórios; 2. aumentar a capacidade física; 3. melhorar a qualidade de vida; 4. reduzir o impacto psicológico da limitação física; 5. diminuir o número de exacerbações relacionadas à doença; 6. prolongar a vida. 4 - A quem está indicado fazer reabilitação pulmonar? A reabilitação pulmonar está indicada a todos os pacientes que apresentam dispneia, reduzida tolerância ao exercício e restrição nas suas atividades, apesar de já estarem no máximo da terapêutica medicamentosa pertinente. Ganhos em programa de reabilitação ocorrem independentes da idade, gênero ou função pulmonar. 5 - Em que estádio da DPOC o paciente deveria ser encaminhado ao programa de reabilitação pulmonar? Tem indicação de fazer reabilitação pulmonar todos os pacientes que têm qualquer limitação física por uma doença respiratória. Assim, pacientes em qualquer estádio da DPOC podem beneficiar-se em algum grau de reabilitação pulmonar e deveriam ser encaminhados ao programa. O habitual é o paciente ser encaminhado em uma fase avançada da doença. Os grupos especializados em reabilitação têm feito esforços para mudar esta atitude dos médicos e de outros profissionais da área de saúde respiratória, incentivando-os a encaminharem os pacientes em fases mais precoces da doença. Assim, no nosso ponto de vista, a reabilitação 1 Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Reabilitação da UNIFESP; Professor Livre-Docente da UNIFESP - Escola Paulista de Medicina; Doutor em Pneumologia pela UNIFESP - Escola Paulista de Medicina. www.pneumoatual.com.br
  • 2. está indicada tão logo o paciente fique consciente de sua limitação física, independente do estádio da doença. Deve-se reforçar a ideia da prescrição precoce de exercício para o paciente com doença respiratória crônica, lembrando o fato de que mesmo as pessoas saudáveis devem fazer exercícios. 6 - Fumantes podem ser admitidos em um programa de reabilitação pulmonar? Este é um aspecto mais de ordem filosófica do que de ordem cientifica. Não há evidências que o ganho físico dos fumantes seja diferente dos não fumantes, havendo, ao contrário, dados que indicam que fumantes ativos têm desempenho semelhante aos de ex-fumantes. Os grupos que se opõem à inclusão de fumantes argumentam que o deixar de fumar faz parte da terapia global do paciente e que reflete o seu interesse no tratamento e no programa. 7 - Pacientes com problemas cardíacos ou ortopédicos devem ser excluídos da reabilitação pulmonar? Não, eles não devem, sumariamente, serem excluídos de um programa de reabilitação. Pacientes com problemas locomotores, distúrbios cognitivos significativos ou doença cardíaca (angina instável e/ou estenose aórtica) e que são incapazes de realizar exercícios com segurança podem, desde o início, participar das outras atividades do programa, como intervenção educativa, orientação nutricional e apoio psicossocial e, paulatinamente, são adaptados ao programa de exercício. No caso de pacientes com doenças cardíacas, é recomendável ter a assessoria de um cardiologista, o qual poderá emitir um parecer sobre as limitações específicas do paciente, para que o programa possa ser adequado a ele. 8 - Os pacientes hipoxêmicos devem usar oxigênio quando estão se exercitando? A hipoxemia tecidual é um dos maiores estímulos ao aumento da capilarização e das mitocôndrias celulares. Assim, teoricamente, os pacientes poderiam se beneficiar com a realização de exercício com um certo grau de dessaturação. No entanto, a suplementação de oxigênio durante reabilitação pulmonar, independente se ocorre ou não dessaturação durante o exercício, frequentemente permite um treinamento com maior intensidade e reduz os sintomas. Contudo, ainda não existem evidências que esta suplementação de oxigênio traz melhora nos desfechos clínicos. Em termos práticos, oxigênio deve ser suplementado a todos os pacientes com um fluxo que permita a saturação estar acima de 92% durante o exercício. 9 - Por que o programa de reabilitação pulmonar é tão específico para a DPOC? O paciente com DPOC apresenta limitação ventilatória, ao contrário dos cardiopatas que apresentam limitação cardíaca. O treinamento adequado é com uma carga que mantenha o indivíduo próximo do seu limiar anaeróbio. Pela limitação ventilatória que os pacientes com DPOC apresentam, o limiar anaeróbio é mais próximo do exercício máximo, ao contrário dos indivíduos normais em que o limiar anaeróbio é em torno de 50-60% do seu máximo. Daí a indicação de uma carga alta para o treinamento dos pacientes com DPOC. 10 - Como deve ser a reabilitação pulmonar de pacientes pneumopatas crônicos, mas que não são portadores de DPOC? Não existem documentos consensuais baseados em evidências em relação à prescrição ou resposta ao treinamento para pacientes com doenças respiratórias crônicas que não a DPOC. De qualquer modo, não há discussão de que estes pacientes também devem fazer exercícios. 11 - Há alguma particularidade para as doenças respiratórias crônicas não DPOC? Asma A grande maioria dos pacientes asmáticos não mantém um estado de limitação do fluxo de ar e alcançam substancial benefício com treinamento físico. Grandes atletas olímpicos são asmáticos. Fibrose cística Estes pacientes têm benefício com treinamento, mas deve-se tomar o cuidado de não misturar pacientes colonizados por bactérias resistentes a antibióticos com os não colonizados. Doença intersticial Ênfase deve dada à técnicas de conservação de energia e treinamento cadenciado, pois pode ocorrer dessaturação intensa durante o exercício. Deve-se prestar atenção à saturação de pulso e fornecer oxigênio suplementar. www.pneumoatual.com.br
  • 3. Pacientes neuromusculares Estes pacientes podem necessitar de equipamentos de assistência ventilatória. Hipertensão pulmonar A prescrição de exercício não é mais contra-indicada, como no passado recente. Atividades que elevam muito a pressão intratorácica devem ser evitadas, pois podem levar a síncopes. 12 - Como deve ser constituído um grupo multiprofissional para o centro de reabilitação pulmonar? A composição do grupo profissional para gerir e executar um programa de reabilitação pulmonar deve variar segundo sua capacidade de manutenção financeira. Um grupo ideal deve incluir médico pneumologista, fisioterapeuta, psicólogo, enfermeiro, nutricionista, assistente social e terapeuta ocupacional. No entanto, programas de reabilitação podem apresentar resultados adequados mesmo com um número menor de profissionais, desde que estes sejam capazes de substituir as especialidades que estejam faltando. Não há um número mínimo para a constituição da equipe, mas no caso de dificuldade de se montar a equipe ideal, ela poderia ter médico, fisioterapeuta e psicólogo. 13 - Quais os equipamentos mínimos que um centro de reabilitação deve ter? Em uma relação mínima de equipamentos, o centro de reabiltação deve constar de uma fonte portátil de oxigênio, oxímetro de pulso, cronômetros, jogos de halteres, além de uma sala que comporte atividades físicas em grupo. As atividades físicas podem ser realizadas em esteiras e/ou bicicletas ergométricas para exercícios das pernas, e cicloergômetros ou halteres para membros superiores. Ainda deveria haver no centro de reabilitação monitores cardíacos (para uso exclusivo em testes máximos e não para treinamento), espirômetro e aparelhos para a realização de fisioterapia. É necessário um espaço que permita a realização de teste da caminhada. É recomendável que equipamento para ressuscitação cardiorrespiratória esteja disponível e que a equipe esteja treinada para os procedimentos padrão de manutenção avançada de vida, apesar da raridade destes eventos em pacientes em programas de reabilitação pulmonar. 14 - Qual a finalidade de se avaliar um paciente inscrito para reabilitação pulmonar? A avaliação inicial de um paciente deve compreender testes físicos e a aplicação de questionários referentes a qualidade de vida, depressão, ansiedade e conhecimentos sobre a doença. Este conjunto de dados tem por finalidade avaliar o grau de interferência do estado emocional e físico sobre a capacidade física do paciente e permite auxiliar o planejamento do programa de recondicionamento. 15 - Que exames podem ser utilizados para a avaliação física do paciente? O exame ideal para esta avaliação é o teste ergométrico realizado em esteira ou bicicleta. Caso o programa não tenha esses equipamentos ou uma pessoa especializada nesta área, pode-se utilizar testes de campo, como o teste da caminhada de seis minutos ou um teste de caminhada incremental, como o "shuttle walking test". 16 - Como deve ser realizado o teste da caminhada de seis minutos? O teste da caminhada foi avaliado por um documento da American Thoracic Society (AJRCCM, 2002) e um resumo dele foi publicado em um Boletim da PneumoAtual, em 2004 (PneumoAtual Express News Nº 95). De um modo geral, o teste da caminhada de 6 minutos deve ser realizado duas vezes, com pelo menos 30 minutos de intervalo, em um corredor plano, com pelo mesmos 20 a 25 metros, com incentivo a cada minuto, sem acompanhamento do técnico. O teste da caminhada é considerado um teste sub-máximo. É considerado o valor mais alto dentre os dois testes. 17 - Qual a diferença mínima clinicamente significante em metros a ser considerada no teste da caminhada? Classicamente, e por muitos anos, considerou-se que a melhora em um programa de reabiltação pulmonar para pacientes com DPOC correspondia a caminhar 54 metros a mais no pós-reabilitação. Entretanto, sempre se discutiu a falta de um critério mais rígido para o estabelecimento deste limite. www.pneumoatual.com.br
  • 4. Dois estudos recentes e bem conduzidos compararam o aumento da caminhada com a melhora da qualidade de vida estabeleceram que a diferença mínima clinicamente significante foi de 25 metros em um estudo e de 30 metros em outro.Em um destes estudos mostrou-se, também, que, se o teste for realizado em cicloergômetro, a diferença significante é 4 watts. 18 - O que é o "shuttle walking test"? Shuttle em inglês significa "ir e voltar". Este teste é realizado em um espaço de 10 metros em que o paciente tem de caminhar, indo e voltando, repetidamente, com aumento da velocidade a cada minuto, sendo a velocidade controlada por um sinal sonoro. Ele é considerado um teste próximo do máximo, portanto exigindo mais do paciente do que o teste da caminhada de seis minutos. 19 - E quanto ao teste do degrau para avaliar a capacidade física? Este teste tem sido utilizado nos recentes anos, mas ele não está ainda padronizado. O teste é realizado incentivando-se o paciente a subir e descer um degrau o maior número de vezes possível, podendo ser limitado por tempo (5 ou 6 minutos) ou por um determinado número de repetições (e marcando-se o tempo que foi gasto). Este teste tem a vantagem de poder ser realizado em locais aonde não é disponível um corredor para a realização do teste da caminhada de 6 minutos. 20 - Qual a finalidade de se avaliar a qualidade de vida dos pacientes em um programa de reabilitação pulmonar? Existem várias definições para qualidade de vida. Uma definição simples, mas bem prática, é: “a diferença entre o que é desejado na vida e aquilo que é alcançado”. Qualidade de vida relacionada ao estado de saúde foca as áreas da vida que são afetadas pelo estado de saúde e reflete o impacto da doença respiratória (incluindo co-morbidades e tratamento) sobre a habilidade de desempenho do paciente ou no prazer na realização das atividades da vida diária. Assim, a avaliação da qualidade de vida em pacientes com doença respiratória crônica permite inferir o impacto que a doença tem sobre a vida da pessoa. Outra finalidade da avaliação da qualidade de vida é comparar, ao final do programa, as mudanças que possam ter ocorrido, independentemente das mudanças fisiológicas. É mais correto falarmos qualidade de vida relacionada ao estado de saúde, uma vez que estes questionários só avaliam o impacto sobre a saúde, não cobrindo outros aspectos como situação financeira, estado empregatício e outros. Os questionários de qualidade de vida são divididos em questionários específicos e questionários genéricos. 21 - O que são os questionários de qualidade de vida específicos? Questionários específicos estão relacionados a uma doença específica, como, por exemplo, questionário do Saint George Hospital, que pode ser utilizado para DPOC, asma ou bronquiectasia. Há questionários específicos para qualquer doença, incluindo doenças reumatológicas, câncer ou doença vascular, por exemplo. 22 - O que são os questionários de qualidade de vida genéricos? Questionários genéricos podem ser aplicados a qualquer doença e permitem que os impactos sobre enfermidades diferentes possam ser comparados. Talvez o questionário genérico mais utilizado seja o SF-36, Short Form 36, que inclui 36 perguntas divididas em oito domínios. 23 - Quais são os questionários específicos mais utilizados para avaliação da qualidade de vida relacionada à saúde nos pacientes DPOC? Um é o questionário do Saint George Hospital, com 76 perguntas e três domínios: sintomas, atividade e impacto. O valor zero indica a melhor qualidade de vida e o valor 100, a pior. Outro questionário muito utilizado em DPOC é o questionário de doenças crônicas respiratórias (CRQ), com 19 perguntas que abrangem os domínios dispnéia, impacto, fadiga e função emocional. Estes dois questionários já foram traduzidos para o português do Brasil e publicados no Jornal Brasileiro de Pneumologia. Recentemente foi publicado um novo questionário, o CAT, para a DPOC. 24 - O que é o CAT? Em 2009 um novo questionário específico para DPOC foi desenvolvido por Paul Jones, na Inglaterra, com a finalidade de ser utilizado pelos pacientes e poder ser um elo de ligação entre www.pneumoatual.com.br
  • 5. o paciente e o médico. É o COPD Assement Test (CAT) com oito perguntas e que abrange vários domínios. A resposta a cada pergunta tem cinco possibilidades, desde o mínimo ao máximo de sintomas, podendo, portanto, cada pergunta poder valer até cinco pontos (ou 40 pontos no máximo para as oito perguntas). Quanto mais alto valor da pontuação em cada pergunta, ou mais alta a soma geral dos pontos, pior o estado do paciente. A finalidade específica do CAT é ele ser respondido pelo paciente em sua casa ou na sala de espera do médico, facilitando o diálogo entre as duas partes. O CAT tem uma boa correlação com o Questionário do Hospital Saint George (Paul Jones), o que indica que eles podem ser utilizados indistintamente. No entanto, ao contrário do Saint George, que o paciente gasta de 10 a 15 minutos para responder, este não toma mais que dois minutos. Não é necessário autorização ou pagamento para o uso do CAT. Ele encontra-se em português no site www.catonline.com. A GSK, Indústria Farmacêutica, que patrocinou o desenvolvimento do questionário, e que mantém os direitos autorais sobre ele, simplesmente exige que ele seja mantido na sua forma original. 25 - Qual a importância de se quantificar a dispneia? Dispneia é o sintoma mais importante apresentado por um paciente com doença respiratória. Já foi mostrado em um trabalho japonês que a dispneia tem relação direta com a mortalidade em pacientes com DPOC. Em acréscimo, o grau de dispneia pode servir de orientação para a indicação e a avaliação da evolução da reabilitação. Uma das escalas mais utilizadas para quantificar dispnéia, indicada pelo Consenso de DPOC da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, é a do Medical Research Council (MRC,1959), que tem cinco perguntas. Para a avaliação durante o exercício é muito utilizada a escala de Borg, que pode medir o grau de desconforto respiratório e dos membros inferiores e superiores. Donald Mahler desenvolveu uma escala para avaliar a dispnéia basal, a BDI, Basal Dyspnea Index, em três áreas. Para a comparação entre dois períodos urtiliza-se a Escala TDI, Transitional Byspnea Index, 26 - Quais são as cinco perguntas da Escala MRC (Medical Research Council)? São elas: 1. Dispneia somente ao realizar exercício intenso; 2. Dispneia ao subir escadas ou ladeira ou andar apressadamente no plano; 3. Dispneia no próprio passo no plano ou dificuldade para acompanhar o passo de outra pessoa da mesma idade; 4. Dispneia no plano em menos de 100 metros ou após alguns minutos; 5. Muito dispneico para sair de casa ou dispneia para se vestir ou se despir. Ao paciente é dado o escore correspondente à pergunta respondida afirmativamente, o qual deve ser comparado após alguma intervenção. 27 - Por que a educação deve estar incluída em um programa de reabilitação pulmonar? Apesar de não existirem muitos trabalhos que comprovem cientificamente que a educação inserida na reabilitação pulmonar traga benefícios, ela faz parte de todos os programas. A sua inserção é baseada na opinião de "experts" na área, pela demonstração na prática dos resultados positivos que ela traz a qualquer planejamento em saúde. Tem-se observado que a educação pode estimular a aderência do paciente a um determinado tratamento, fazendo com que ele entenda as mudanças psicológicas e físicas que a doença pode provocar, ensinando- os a lidar adequadamente com elas e tornando-os mais aptos a desenvolver atitudes de automanejo da doença. O ideal é que a educação seja estendida aos familiares dos pacientes. As estratégias de educação devem ser adequadas ao nível de entendimento dos pacientes, incentivando o diálogo e mantendo, o máximo possível, a simplicidade e a clareza. Não existe, ainda, um consenso sobre o modo mais objetivo de como fazer a mensagem chegar aos pacientes. Os modos mais utilizados são aulas expositivas, discussão em grupo, podendo-se usar ou não material audiovisual, como transparências, cartazes e apresentação de vídeos. É importante que sejam feitas demonstrações práticas do uso de dispositivos e equipamentos utilizados www.pneumoatual.com.br
  • 6. pelos pacientes, como inaladores, aerossóis, aparelhos de ventilação. É conveniente o fornecimento de material educativo impresso e o estímulo para o seu uso com a finalidade de complementar e solidificar o aprendizado. Estimula-se que as aulas sejam as mais interativas possíveis. 28 - Qual deve ser a frequência das atividades educativas? A frequência das atividades educativas vai depender do grau de conhecimento e da disponibilidade de tempo do grupo de pacientes. Na maioria dos programas, a sessão de educação é semanal, com duração de 40 a 60 minutos e com a participação de um profissional da área do tema a ser abordado. Mas, à semelhança do que ocorre em qualquer grupo intelectual, a retenção não depende só do grau de cognição, mas ela é proporcional ao grau de motivação do ouvinte e inversamente proporcional ao quanto aquele conhecimento é novo para ele. Estudos mostram que após uma aula sobre um conhecimento novo para o ouvinte, depois de uma hora do término da exposição, somente 20% do conhecimento é lembrado. Desse modo, é muito importante que sejam programadas aulas ou atividades de reforço daquele conhecimento específico. 29 - Quais os temas que devem ser abordados com os pacientes com DPOC? Os temas devem ser aqueles pertinentes à doença e conduta do paciente com DPOC. Na maioria dos centros, os temas mais abordados são referentes a explicação sobre o que é DPOC, porque fazer exercício, aspectos relacionados à nutrição, uso adequado de medicação, técnicas de fisioterapia respiratória, anatomia das vias aéreas e dos pulmões, oxigenoterapia, técnicas de conservação de energia e sexualidade. 30 - O que é importante falar sobre os medicamentos? O paciente e seus familiares devem receber orientação sobre as classes de medicamentos para o sistema respiratório, dividindo-os em antiinflamatórios e broncodilatadores. Deve-se explicar as subclasses de broncodilatadores (beta-agonista, anticolinérgicos e xantinas), seus tempos de ação, como agem, quando usá-los e porque usar as combinações. É importante orientá-los sobre o uso de corticosteroide na exacerbação e a não indicação, a não ser em casos restritos, do uso de corticosteroide sistêmico cronicamente. Deve-se explicar sobre como usar adequadamente os dispositivos inalatórios. Não se pode deixar de falar sobre os efeitos colaterais das medicações, como evitá-los ou diminuir os seus riscos. Essa é uma ocasião importante para acabar com os vários mitos sobre o uso destas medicações. 31 - O que são técnicas de conservação de energia? Técnicas de conservação de energia têm por finalidade fazer com que o paciente tenha menos dispnéia e gaste menos oxigênio nas suas atividades da vida diária ou profissional. Uma das mais utilizadas é a estratégia de respiração com lábios semicerrados, que consiste em que o paciente expire lentamente pela boca, com os lábios semicerrados, durante a realização de algum esforço. Há manobras simples que devem ser ensinadas aos pacientes: • tomar banho sentado em um banquinho; • sentar para colocar e tirar sapatos; • usar sapatos sem cordão; • fazer toda a higiene matinal (escovar dentes, lavar rosto e pentear-se e, para homem, barbear-se) sentado; • dividir o tempo para a realização de tarefas domiciliares; • subir escada degrau a degrau; • não ter pressa. 32 - Existem evidências de que o treinamento traz benefícios para o paciente com DPOC? Sim. Segundo a atualização do GOLD (Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease), há uma vasta documentação que pacientes com DPOC submetidos à reabilitação pulmonar obtêm benefícios que podem ser classificados como evidência A, isto é, há experimentos com número suficiente de pacientes e delineados de modo adequado. Uma meta-análise com 23 estudos controlados e randomizados definiu que reabilitação pulmonar apresenta consistentes benefícios em termos de melhora da qualidade de vida, diminuição de dispaneia e aumento da tolerância ao exercício. Os resultados positivos são tão consistentes que alguns afirmam que não se deveria mais realizar estudos e reabilitação com grupo controle, tamanha a evidência dos resultados benéficos que já existe. www.pneumoatual.com.br
  • 7. 33 - Programas de reabilitação pulmonar trazem algum beneficio em relação a hospitalização ou exacerbações? Tem sido publicado, que pacientes seguidos em programas de reabilitação pulmonar apresentam menos exacerbações e menor número de internações. Tem-se discutido qual a razão para esses benefícios e entre as hipóteses estão os fatos de que eles estão mais bem educados e apresentam maior aderência ao tratamento medicamentoso, além de reconhecerem os sintomas mais precocemente. 34 - Quais as modalidades de treinamento que devem ser incluídas em um programa de reabilitação pulmonar? As modalidades de treinamento comumente utilizadas são: • Treinamento de endurance: envolve grande massa muscular e os exercícios são aplicados em moderada intensidade, por um período relativamente longo; • Treinamento intervalado: envolve a prescrição intervalada de exercícios com carga alta e baixa; • Treinamento de força: consiste na realização de exercício de alta intensidade e baixo número de repetições. É comum a combinação das três modalidades. 35 - Qual a intensidade de carga para prescrição de exercício de endurance? Trabalho de Casaburi e colaboradores, já há mais de uma década, mostrou que treinamento de endurance para pacientes com DPOC alcança melhor resultado quando realizado com carga alta, embora exercícios com carga baixa também possam melhorar sintomas e alguns aspectos da performance das atividades da vida diária. Carga alta pode ser definida como a intensidade que pode levar ao aumento dos níveis de lactato sanguíneo. Contudo, em populações de pacientes em programa de reabilitação pulmonar não há uma definição precisa do que seja alta carga, uma vez que muitos pacientes podem alcançar um grau de limitação ao exercício pela alteração ventilatória antes que alcance alterações fisiológicas. Entretanto, tem sido mostrado que treinamento na intensidade entre 60-80% da carga máxima atingida em teste incremental, tanto na esteira ou cicloergômetro, pode proporcionar resultados mais efetivos do que treinamento em baixa intensidade. Outro modo de prescrição de treinamento é a manutenção da frequência cardíaca entre 60% e 80% da frequência máxima. Porém, o seu uso pode resultar em estímulo de treinamento inadequado, uma vez que a frequência cardíaca pode variar devido à doença pulmonar em si e pelo uso de medicamentos beta-agonistas. Um terceiro modo de prescrição de exercício é pelo grau de dispnéia, utilizando-se um escore em torno de 4 a 6 na escala de Borg. 36 - Como podem ser treinados os membros inferiores? Pode-se usar esteira, bicicleta ou caminhada. As esteiras têm a vantagem de treinar os pacientes para uma atividade que é habitual, caminhar. As bicicletas ocupam menos espaço e custam mais barato, mas não é uma atividade usual. Caminhar é o mais barato, mas pode não ficar uniforme, pela variação que pode o paciente apresentar de um dia para outro, além da impossibilidade de caminhar em dias com chuva ou muito frio. O tempo mínimo recomendado para cada sessão é 30 minutos, com frequência mínima semanal de três vezes. Para maior aproveitamento, deve-se realizar treinamento o maior número possível de sessões por semana e que cada uma tenha por volta de 45 minutos. Se o exercício vai ser realizado em casa, recomendamos que a esteira ou cicloergômetro seja colocado defronte a uma janela ou varanda para que a pessoa possa ter uma visão de um jardim ou praça. No caso que isto não seja possível, pode-se colocar defronte à televisão. Caso o paciente opte por caminhar, a caminhada deve ser realizada em uma praça ou parque, para evitar a maior poluição das ruas e as paradas constantes nos sinais de tráfego, além das irregularidades das calçadas. 37 - Por que se deve incluir o treinamento dos músculos da cintura escapular em um programa de reabilitação? Normalmente os músculos da cintura escapular estão envolvidos tanto no ato de elevar os membros superiores contra a gravidade como também na respiração, principalmente nos esforços que requerem uma grande ventilação. Os pacientes com DPOC já fazem uso www.pneumoatual.com.br
  • 8. rotineiramente dos músculos acessórios para a respiração. Nas situações em que eles precisam usar os membros superiores para a realização de alguma atividade, mantendo-os em uma posição antigravitacional, como colocar objetos em uma prateleira, pentear os cabelos ou para alguma outra atividade simples, é comum o aparecimento de dispneia. O treinamento dos músculos da cintura escapular prepara-os para exercer estas atividades com menor gasto energético e, consequentemente, menor ventilação, diminuindo a sensação de dispneia. Atualmente, o treinamento dos membros superiores é recomendado como componente essencial de um programa de reabilitação pulmonar para pacientes com DPOC. 38 - Como devem ser treinados os músculos da cintura escapular? Ainda não há uma uniformização para treinamento dos músculos da cintura escapular, mas dois são os regimes mais utilizados. Cicloergômetro para braços Utiliza-se numa velocidade fixa de 50 rotações por minuto, iniciando com 40% da carga máxima alcançada num teste incremental anterior e aumentando progressivamente a carga a cada cinco sessões, de acordo com a tolerância do paciente. O exercício deve ser mantido por até 30 minutos. Método de facilitação proprioceptiva Esta modalidade usa pesos, iniciando com 0,50 a 0,75 kg. Os pesos devem ser elevados até a altura dos ombros, em um movimento diagonal, numa frequência semelhante à da respiração, por dois minutos. Em seguida realiza-se o exercício com o outro braço. As séries devem se repetir até o total de 30 minutos. A carga pode ser aumentada em 0,25 kg a cada 5 a10 sessões, de acordo com a tolerância do paciente. Alguns centros utilizam faixas elásticas ou bastões para exercitar os membros superiores. O número de sessões semanais de exercícios para membros superiores varia de três a cinco, de acordo com o programa de reabilitação pulmonar. 39 - Está indicado o treinamento dos músculos respiratórios de rotina? Não. O treinamento dos músculos respiratórios está indicado somente quando a sua força está tão diminuída que passa a ser um componente da limitação ao exercício. Deve-se levar em consideração que a medida da força dos músculos respiratórios pode estar diminuída somente em número absoluto devido à hiperinsuflação. 40 - Como se pode medir a força dos músculos respiratórios? A força dos músculos respiratórios pode ser medida com o manovacuômetro: a força da musculatura inspiratória é medida pela determinação da pressão inspiratória negativa máxima (PImax) e a da musculatura expiratória pela máxima pressão positiva que estes músculos conseguem gerar (PEmax). A medida mais exata da PImax é a partir do volume residual e a PEmax na capacidade pulmonar total. No entanto, é muito comum que estas duas pressões sejam medidas na capacidade funcional pulmonar. Evidentemente, para que as pressões sejam comparadas, elas devem ser medidas sempre no mesmo volume pulmonar. 41 - Como se pode treinar os músculos respiratórios? O método mais usado para o treinamento da musculatura inspiratória é com um aparelho que apresenta um sistema de resistência inspiratória ("Threshold IMT"). Este é um aparelho com forma cilíndrica, de acrílico, em que a sua extremidade distal é obstruída por um diafragma pressionado por uma mola. Para que o diafragma se abra e permita a passagem de ar, é necessário que o paciente gere uma pressão inspiratória negativa que seja superior à pressão positiva da mola (método pressão-dependente). A carga de treinamento deve ser de 50% a 60% da PImax e o treinamento diário deve durar 15 a 30 minutos por dia (sessão contínua ou 15 minutos duas vezes ao dia). Deve-se manter a frequência respiratória próxima da frequência normal. Um outro modo de treinar os músculos respiratórios é a utilização de um tubo ou válvula com um pequeno orifício na extremidade inspiratória, fazendo com que o paciente respire através dele. Para que esse método seja efetivo e um volume corrente adequado seja gerado a partir de uma pressão inspiratória determinada, o paciente tem de gerar um fluxo alto, daí ele ser chamado de fluxo-dependente. www.pneumoatual.com.br
  • 9. 42 - Qual a frequência semanal de prescrição de exercícios? O ideal é que os exercícios fossem diários, como fazem os grandes atletas. No entanto, este regime de treinamento pode tornar-se enfadonho para o paciente. O número mínimo de dias para que o paciente se beneficie é três vezes por semana. 43 - Qual o tempo de treinamento por sessão? O ideal é que a sessão efetiva de treinamento dure, pelo menos, 30 minutos. Assim, o mais adequado é fazer exercício por cinco minutos em baixa carga, para servir de aquecimento, depois elevar a carga pelos próximos 30 minutos e, ao final, fazer exercício em carga baixa por mais cinco minutos pra relaxamento. 44 - O que é o treinamento intervalado? Treinamento intervalado consiste, basicamente, de exercícios ou séries do mesmo exercício com duração de dois a três minutos com carga de alta intensidade, intercalados com períodos iguais de repouso ou exercício com carga de menor intensidade. Eles, habitualmente, são mais bem tolerados, causando benefícios similares aos obtidos com treinamento de endurance. 45 - Por que realizar treinamento de força no paciente com DPOC? O treinamento de força tem sido recentemente incorporado ao protocolo de treinamento dos pacientes com DPOC devido à observação que um subgrupo importante desses pacientes apresenta diminuição da força muscular periférica. Tem sido observado, cada vez com maior frequência, que a fraqueza de músculos periféricos diminui a capacidade de exercício. Em acréscimo, está bem demonstrado que a mortalidade é maior no grupo que apresenta menos massa muscular. Em comparação com treinamento de endurance, o treinamento de força se utiliza de menor massa muscular, levando a uma menor demanda ventilatória, com menor sensação de dispneia. O modo de treinamento mais comum é com pesos, ou com o equipamento chamado de “estações” com uma carga correspondente a 60-85% da máxima força, em duas a três séries de oito repetições, durante três vezes por semana, não havendo necessidade de ser diário. Este tipo de treinamento tem maior potencial de aumentar força e massa muscular que o treinamento de endurance. A associação dos dois tipos de treinamento é, provavelmente, a melhor estratégia para tratar disfunção muscular periférica, uma vez que combina a melhora na força muscular e na endurance geral. 46 - O treinamento de força pode aumentar a endurance? Sim, pode. Há sugestões recentes que a associação de treinamento de força e endurance seria a estratégia adequada para o treinamento de membros superiores e inferiores. 47 - Como proceder para treinar pacientes que têm capacidade física muito baixa? Em pacientes com capacidade física muito baixa, o treinamento de endurance é habitualmente mal tolerado, não conseguindo o paciente manter a carga pelo tempo estipulado. Para estes pacientes o treinamento intervalado é melhor tolerado e pode causar benefícios semelhantes aos obtidos com o de endurance. Há duas estratégias para o inicio do treinamento de um paciente. Uma é manter a carga deliberada para o treinamento desde o início, com o paciente realizando um tempo curto de treinamento. A outra é iniciar o treinamento com carga mais baixa, mantendo o tempo total do treinamento; a carga será aumentada a medida que o paciente for se adaptando a ela. No Centro de Reabilitação Pulmonar da Unifesp/Lar escola São Francisco, optamos pela segunda estratégia. 48 - Qual o tempo ideal de um programa? Não há evidências sobre a duração ideal para programas ambulatoriais de treinamento. A maioria dos programas tem seis a doze semanas de duração. O documento GOLD, que é baseado em evidências, recomenda que o tempo mínimo seja de oito semanas. O documento conjunto da Ameriacan Thoaracic Society e da European Rrespiratory Society recomenda um mínimo de 20 sessões, por, pelo menos, três vezes por semana. www.pneumoatual.com.br
  • 10. Está bem claro que quanto mais longo o tempo de treinamento, mais prolongados são os efeitos obtidos. Nos programas com tempo mais curto, os benefícios diminuem consideravelmente após um ano. O ideal é que haja um programa de manutenção, o que nem sempre é possível em vista do grande número de pacientes que estão na lista de espera. Um modo simples de manter os pacientes fazendo uma atividade física é estimulá-los a caminhar diariamente, pelo menos 40 a 60 minutos, com monitorização semanal por telefone. Outros protocolos procuram incluir sessões semanais ou mensais de exercício no centro de reabilitação. 49 - Como otimizar o treinamento dos pacientes com DPOC? Em torno de 10 minutos antes de começar o treinamento, os pacientes devem receber 400 mcg de salbutamol ou o equivalente de terbutalino ou fenoterol. O brometo de ipratrópio habitualmente não tem sido utilizado, pois o seu início de ação é mais demorado. A broncodilatação permite ao paciente uma melhor ventilação e menor hiperinsuflação durante a realização do exercício. 50 - Por que é conveniente fazer uma avaliação psicológica dos pacientes que vão ser submetidos a um programa de reabilitação pulmonar? Uma alta porcentagem dos pacientes com DPOC é ansiosa ou tem depressão, o que pode interferir com a sua qualidade de vida habitual. Esta avaliação indica o quanto a sua doença o incomoda psiquicamente e pode refletir o grau de dedicação que o paciente terá com o programa. As abordagens psicológicas utilizadas devem buscar o envolvimento ativo do paciente na tomada de decisões e nas mudanças de atitudes dos aspectos que forem passíveis de modificação. Tratar depressão nos pacientes com doença respiratória crônica pode fazer uma grande diferença na sua qualidade de vida, uma vez que sintomas depressivos podem contribuir ainda mais do que a própria doença para incapacidade funcional, baixa percepção do estado de saúde e bem estar. 51 - Existem questionários simples de se utilizar para uma avaliação rápida da possibilidade da existência de depressão e ou ansiedade? Sim. Vários centros de reabilitação têm utilizado o questionário Hospital Anxiety and Depression, chamado de HAD. Ele contém sete perguntas referentes a depressão e sete referentes à ansiedade. O HAD não foi idealizado para fazer o diagnóstico de ansiedade ou depressão, ele simplesmente indica a possibilidade da ocorrência de um ou de ambos os diagnósticos e, neste caso, o paciente deve ser encaminhado a um psiquiatra (ou psicólogo) para uma avaliação mais profunda. Há um outro questionário de apenas cinco perguntas, simples, para triagem de depressão que podem ser respondidas rapidamente. Se o paciente responde de modo afirmativo à maioria das perguntas, ele deve ser visto por um psicólogo (tabela 1). Tabela 1. Questionário para triagem de depressão Perguntas Sim Não Estado afetivo persistente de tristeza, desânimo e vazio Perda do interesse para realizar atividades que habitualmente sente prazer Alterações na alimentação ou no sono Irritação, agitação, cansaço excessivo Dificuldades de concentração, memória ou para tomar decisões Um questionário semelhante, também com cinco perguntas, existe para a triagem de ansiedade (tabela 2). Se o paciente responde de modo afirmativo à maioria das perguntas, ele deve ser visto por um psicólogo. Tabela 2. Questionário para triagem de ansiedade Perguntas Sim Não Aumento da tensão muscular Palpitação ou aceleração do coração Tonturas Suor (não devido ao calor) Apreensão ou medo que aconteça o pior www.pneumoatual.com.br
  • 11. 52 - Quais são as atribuições do psicólogo no grupo de reabilitação? Ao psicólogo cabe avaliar os níveis de ansiedade, depressão e motivação do paciente, procurando entender as relações existentes entre o paciente e seus ambientes e pessoas de convívio. No caso do paciente ainda ser fumante, o psicólogo pode ajudá-lo, em conjunto com o médico, motivando-o a deixar de fumar. Ao longo do programa, o psicólogo deverá acompanhar o paciente, avaliar a sua adaptação ao grupo, o seu relacionamento com a familiar e o estado da sua depressão e ansiedade. As intervenções podem ser individuais ou em grupos. É mais prático realizar sessões com o grupo todo. Estas sessões deveriam ser semanais e abordar aspectos relacionados à doença, medos, fase terminal da doença, qualidade de vida, motivação, ansiedade, depressão, relacionamento no casamento, tristeza, lazer. 53 - Qual a incidência de ansiedade em pacientes com DPOC? Os números são bastante variáveis, a depender da gravidade da DPOC e do grupo em que o estudo foi realizado. A ansiedade tem uma variação que vai de 20% a 70%, levando-se em conta só ansiedade ou traço de ansiedade. A ocorrência de ansiedade no paciente com DPOC está muito relacionada ao grau da dispnéia. Os pacientes com DPOC são unânimes em dizer que a dispnéia é o sintoma que mais lhes incomoda e causa medo. Quando ela é intensa e constante, acaba por desencadear um estado de pânico ou ansiedade, fazendo com que eles passem a evitar atividades físicas. Isto estabelece um ciclo vicioso: ao limitar a realização de uma atividade física, para não ter dispnéia, eles passam a ter uma vida mais sedentária e perdem mais capacidade física, ficando mais sujeito à dispnéia. 54 - Qual a incidência de depressão em pacientes com DPOC? Sintomas de depressão são comuns em pacientes com doença moderada ou grave, com prevalência aproximada de 45%. À medida que a doença vai ficando mais intensa, os pacientes vão se sentindo cada vez mais limitados na sua vida diária, o que lhes causa uma sensação de impotência. A depressão nada mais é que uma resposta psicológica a esse novo estilo limitante de vida, fazendo-os, muitas vezes, dependente de familiares para simples atividades diárias, como vestir-se ou banhar-se. Atualmente tem-se dado mais importância ao tratamento farmacológico aos pacientes com depressão. 55 - Quais são os ganhos psicológicos do paciente com a reabilitação pulmonar? Entre os mais importantes destacam-se: • diminuição da ansiedade; • diminuição da depressão; • melhora do autoconceito; • melhora geral na qualidade de vida; • melhora no desempenho sexual; • superação do sentimento de incapacidade geral; • aumento da motivação, da resistência e da determinação. 56 - Em que se baseia a necessidade de intervenção nutricional nos pacientes com anormalidades na composição corporal? A intervenção em pacientes com doença crônica dos pulmões está baseada em: • a alta associação da desnutrição com morbidade e mortalidade; • o requerimento de maior gasto energético durante o treinamento pode agravar este desequilíbrio. 57 - Como avaliar, de um modo simples, o estado nutricional de um paciente? Uma avaliação nutricional simples é a medida pelo índice de massa corpórea (IMC), que é a relação do peso (P), em kilo, dividido pela altura ao quadrado (A²), em metro. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a faixa de normalidade encontra-se entre 18 e 24,9 kg/m², mas segundo o Colégio Americano de Nutrição, para pessoas idosas ou com doença crônica, o valor de normalidade para o IMC está entre 21 e 27 kg/m². Entretanto, o IMC normal não consegue indicar se a massa corpórea está mantida por excesso de gordura ou por adequada massa muscular. O método mais simples para cálculo da massa muscular é a aplicação de uma equação que emprega medidas das pregas cutâneas obtidas www.pneumoatual.com.br
  • 12. de várias áreas do corpo e a circunferência do braço. Um método simples, fácil de aplicar e que fornece um valor bem mais preciso da massa muscular é a bioimpedância elétrica. Ele baseia- se na transmissão elétrica pelo corpo, com a colocação de eletrodos na mão e pé direito do paciente. È importante manter o paciente com a massa muscular o mais próxima possível do valor normal, pois existe uma relação inversa entre massa muscular e mortalidade na DPOC e, de um certo modo, também com o IMC. Assim, pacientes com menos massa muscular têm maior índice de mortalidade. 58 - A quem deve ser oferecida a suplementação calórica? A intervenção calórica deve ser oferecida a todos os pacientes com índice de massa corpórea (IMC) menor que 21 kg/m², com perda involuntária de peso superior a10% durante os últimos seis meses ou superior a 5%no último mês, ou naqueles com depleção da massa magra. 59 - Como deve ser a suplementação nutricional? A suplementação deve ser orientada por um nutricionista com experiência em reabilitação. De um modo geral, o novo regime alimentar deve ser adequado às condições financeiras do paciente e, em termos práticos, não são prescritas as dietas líquidas industrializadas ditas como apropriadas para pacientes com DPOC ricas em lipídios. Recentemente chegou ao mercado uma bebida rica em calorias, com sabor agradável, que tem a finalidade de servir como suplementação à dieta normal. 60 - Existem evidências que o uso de anabolizante aumenta o peso do paciente com DPOC? Há três publicações com delineamento metodológico correto que mostram que o uso de anabolizante faz com que o paciente com DPOC ganhe peso, sendo uma dessas pesquisas sido desenvolvida no Brasil. Estes estudos encontraram que o uso de esteróide anabolizante aumentou o índice de massa corpóreo (IMC), principalmente às custas de aumento da massa livre de gordura, isto é, massa muscular. Em um desses artigos, houve melhora da função muscular respiratória. No entanto, estas pesquisas não mostraram nenhum ou pouco efeito sobre a capacidade de exercício ou sobre a qualidade de vida, mas deve-se ressaltar que esse não era o objetivo primário dos estudos, o que não permite tirar conclusão definitiva a este respeito. Um resultado bastante interesse é que o uso de anabolizante esteróide não causou efeitos adversos clínicos ou bioquímicos nestes pacientes. Um quarto estudo usou hormônio de crescimento, que é um potente estimulante do IGF-1 sistêmico, e mostrou aumento da massa magra em um pequeno número de pacientes com DPOC com baixo peso, associando-se com aumento na performance ao exercício. Contudo, esta terapêutica é cara e pode se associar com efeitos secundários indesejáveis, como retenção de sal e água e alteração no metabolismo da glicose. O uso da substância progestacional acetato de megesterol tem sido associado a aumento de apetite e do peso corpóreo. Em pacientes com DPOC e desnutridos durante oito semanas, o seu uso resultou em aumento de 2,5 Kg a mais que o placebo, mas principalmente às custas de gordura. 61 - Qual a dosagem de anabolizante usada nestas pesquisas? No estudo brasileiro, os pacientes desnutridos receberam, inicialmente, 250 mg de testosterona intramuscular e depois 12 mg de estanazolol oral, diariamente, por 27 semanas. Os outros dois estudos, administraram injeções intramusculares de 50 mg de decanoato de andronolona (Decadurabolin®) nos dias 1, 15, 29 e 43, em um seguimento de oito semanas. 62 - Quais os cuidados a serem tomados quando se receita anabolizante para homens? Anabolizantes são potentes estimulantes de cresciemnto de tumor prostático e desenvolvimento de metástases deste tumor. Assim, todos os pacientes homens com indicação de uso de anabolizantes deverão ser examinados por um urologista para a exclusão da possibilidade de tumor prostático; É imprescindível a mediada plasmática do PSA, toque prostático e ultra-som da próstata. www.pneumoatual.com.br
  • 13. 63 - Qual a orientação básica para o ganho de massa muscular pelo paciente com DPOC? A orientação básica é aumentar o ingesta protéico (comer mais carne, ovos e queijo e tomar mais leite) e fazer exercício. O uso de anabolizante deveria estar restrito aqueles pacientes que já seguiram estas orientações e não conseguiram ganhar massa muscular ou que estão com peso muito abaixo do seu previsto. 64 - Quais são os componentes que a reabilitação pulmonar melhora e com que nível de evidência científica? A reabilitação pulmonar: • Melhora da capacidade de exercício (evidência A); • Reduz a sensação de falta de ar (evidência A); • Pode melhorar a qualidade de vida relacionada à saúde (evidência B); • Reduz o número de hospitalizações e dias de internação hospitalar (evidência B); • O treinamento dos músculos dos membros superiores aumenta a capacidade de realizar atividades com os braços e reduz a sensação de dispnéia (evidência B); • O treinamento dos músculos respiratórios é benéfico, especialmente quando combinado com o treinamento físico geral (evidência B). Evidência A quer dizer que esta é uma afirmação científica, baseada em número grande de trabalhos, ou em poucos estudos, mas com grande número de pacientes, com randomização. . Evidência B quer dizer que os trabalhos são bem delineados, porém não são em grande número ou o número de pacientes não é adequado. 65 - Qual é o tempo necessário para se avaliar algum ganho na reabilitação pulmonar? Após 30 dias o paciente já pode sentir alguma melhora na sua capacidade física, mas a maioria dos resultados positivos é alcançada após oito semanas de reabilitação. O documento GOLD estabeleceu que o tempo mínimo de um programa de reabilitação pulmonar deve ser de oito semanas. Tem sido observado que, decorrido este tempo, ocorre melhora importante dos domínios de qualidade de vida relacionados à saúde e da capacidade de realizar exercícios físicos, em comparação à terapêutica farmacológica isolada. 66 - Pacientes com DPOC podem realizar exercício durante a exacerbação? Sim, hoje já existem trabalhos publicados relatando que pacientes hospitalizados, ainda na fase aguda da sua doença, podem fazer exercícios, com bons resultados, evidentemente que adequados para os seu estado clínico. Assim, pacientes em programa de reabilitação e que apresentam exacerbação não devem parar os exercícios; eles devem mantê-los, somente que com uma carga mais baixa. 67 - O que se sabe sobre reabilitação em paciente internado? Existem dois estudos, ambos randomizados e controlados, em relação ao treinamento de pacientes hospitalizados com DPOC grave. O treinamento consistiu na realização diária de cinco sessões de caminhada. Por ocasião da alta hospitalar, os pacientes foram orientados a realizar treinamento diário em casa e foram seguidos por seis meses. Foi observado que o grupo submetido a treinamento mostrou melhora na capacidade de caminhar, em média, de 183 metros de distância (p<0,05). Em acréscimo, os pacientes treinados mostraram redução da sensação de dispnéia e melhora da qualidade de vida, segundo avaliação pelo questionário CRQ ("Chronic Respiratory Disease Questionnaire"). A recomendação, segundo estes trabalhos, é que a reabilitação em pacientes com DPOC não deve ser interrompida durante uma internação hospitalar por exacerbação infecciosa. Ao deixarem de realizarem exercício durante a exacerbação eles perdem muito da capacidade física e demoram para recuperarem o mesmo nível que tinham anteriormente. 68 - Existe alguma evidência que um programa de reabilitação pulmonar realizado no domicílio traz benefícios ao paciente com DPOC? Sim. Um estudo bem delineado e conduzido pelo grupo canadense de Quebec (Maltais et al 2008 Ann Int Med) mostrou que o treinamento domiciliar em cicloergômetro, supervisionado por telefonema semanal, traz benefícios inequívocos. Estudo recente do Centro de Reabiltação Pulmonar da Unifesp/Lar Escola São Francisco realizou estudo semelhante, mas adaptou-o à vida real. O estudo foi randomizado e os www.pneumoatual.com.br
  • 14. pacientes alocados ao programa domiciliar deviam caminhar, no período da manhã, 40 minutos em sua casa ou rua por, pelo menos, três vezes por semana. Para complementar o exercício dos membros inferiores, eles tinham de subir e descer a escada da sua casa no período da tarde por 15 minutos. Para os que não tinham escada em casa, foi fornecido um caixote resistente que servia de degrau, no qual os pacientes deviam fazer o seu exercício de escada. Caminhar é indicado para ganho dos músculos glúteos, ao passo que subir escada é indicado para os músculos do quadríceps. O exercício para os músculos da cintura escapular eram realizado com pesos de 1 kilo representados por latas de qualquer liquido que eles tivessem em casa. Após dois meses os pacientes sob treinamento e o grupo controle retornaram ao Centro e Reabilitação e realizaram todos os testes anteriormente realizados. O grupo que realizou o treinamento mostrou melhora da qualidade de vida, segundo questionários específicos (Saint George e AQ20) e genérico (SF-36) e melhora em mais de 55 metros no teste da caminhada de 6 minutos. 69 - Há algum modo para fazer com que o treinamento domiciliar possa trazer resultados positivos? Sim, pode-se combinar o treinamento domiciliar com o treinamento ambulatorial, fazendo com que o paciente venha ao centro de reabilitação pulmonar periodicamente. 70 - A eletroestimulação neuromuscular pode ser utilizada para ganho de massa muscular ou treinamento? Sim, esta é uma alternativa que recentemente foi descrita para pacientes com DPOC. Deve-se chamar a atenção que ela é uma técnica que já existe há muito tempo no âmbito da fisioterapia. Ela foi aplicada a pacientes com DPOC altamente limitados. São três os estudos que aplicaram a eletroestimulação neuromuscular, tendo todos obtidos resultados positivos, com melhora na força e "endurance" dos quadríceps. No estudo realizado em regime domiciliar, o programa foi realizado cinco vezes por semana, por seis semanas, com uma corrente bifásica simétrica quadrada de 50 Hz, com uma relação ligado/desligado de, respectivamente, 2 seg e 18 seg (10%) na primeira semana, 5 seg e 25 seg (17%) na segunda semana e 10 seg e 30 seg (25%) nas semanas seguintes. Os impulsos eram de 300-400 µs utilizando a maior amplitude tolerada (10-20 mA a princípio, com incremento de até 100 mA). Os pacientes eram estimulados por 15 minutos na primeira semana e, depois, até 30 minutos nas semanas subsequentes. No estudo realizado ambulatorialmente, o protocolo de treinamento foi realizado três vezes por semana, por seis semanas, com impulsos de 50 Hz, intensidade de 55 mA a 120 mA (com incrementos de 5 mA). 71 - Leitura recomendada American College of Chest Physicians, American Association of Cardiovascular and Pulmonary Rehabilitation. Pulmonary rehabilitation: joint ACCP/AACVPR evidence-based clinical practice guidelines. Chest 2007;131:4S-42S. American Thoracic Society / European Respiratory Society. ATS / ERS statement on pulmonary rehabilitation. Am J Respir Crit Care Med 2006;173:1390-1413. British Thoracic Society Standards of Care Subcommittee on Pulmonary Rehabilitation. British Thoracic Society statement on pulmonary rehabilitation. Thorax 2001;159:827-34. Colucci M et al. Upper limb exercises using varied workloads and their association with dynamic hyperinflation in patients with COPD. Chest 2010;138:39-46. Godstein RS, Gort EH, Stubbing D et al. Randomized controlled trial of respiratory rehabilitation. Lancet 1994;344:1394-1397. Jardim JR et al Reabilitação Pulmonar, in Tarantino, B, Doenças Pulmonares, 5ª ed, Ed Koogan Guanbara, 2007. Jardim JR, Nascimento OA. Reabilitação, Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar Unifesp- EPM l 1a ed Editora Manole, 2010. www.pneumoatual.com.br
  • 15. Lacasse Y, Brosseau L, Milne S et al. Pulmonary rehabilitation for chronic obstructive pulmonary disease (Cochrane Review). In: The Cochrane Library, Issue 3, 2003. Oxford: Update Software. O'Shea SD, Taylor NF, Paratz JD. Progressive resistance exercise improves muscle strength and may improve elements of performance of daily activities for people with COPD: a systematic review. Chest 2009;136:1269-83. Singh SJ. Patient assessment for pulmonary rehabilitation. Eur Respir Rev 2002;12:394-97. van Helvoort HA et al. Exercises commonly used in rehabilitation of patients with chronic obstructive pulmonary disease: cardiopulmonary responses and effect over time. Arch Phys Med Rehabil 2011;92:111-7. Yawn BP. Optimizing chronic obstructive pulmonary disease management in primary care. South Med J 2011;104:121-7. www.pneumoatual.com.br