SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 7
Baixar para ler offline
Curso de Atualização – Micoses
Capítulo 5 - Aspergilose: do diagnóstico ao tratamento*
Chapter 5 - Aspergillosis: from diagnosis to treatment

Maria da Penha Uchoa Sales

Resumo
A aspergilose é uma doença multifacetada cujas manifestações clínicas são determinadas pela resposta imune do
hospedeiro; podem se apresentar de forma alérgica, saprofítica ou invasiva. A aspergilose broncopulmonar alérgica
caracteriza-se por asma corticoide dependente, febre, hemoptise e destruição da via aérea, que pode progredir
para fibrose com faveolamento. O tratamento consiste da associação de corticosteroide e itraconazol. A aspergilose
pulmonar invasiva requer documentação histopatológica e cultura positiva de material estéril para o diagnóstico.
Possui pior prognóstico. O voriconazol apresenta melhor resposta terapêutica, proporcionando maior sobrevida e
segurança do que a anfotericina B. A aspergilose pulmonar necrotizante crônica causa destruição progressiva do
pulmão em pacientes com doença pulmonar crônica e leve grau de imunossupressão. O tratamento é realizado
com itraconazol oral. A aspergilose pulmonar cavitária crônica causa múltiplas cavidades, contendo ou não aspergiloma, associadas a sintomas pulmonares e sistêmicos. O aspergiloma é caracterizado por tosse produtiva crônica
e hemoptise em portadores de doença pulmonar crônica, associados a uma cavidade contendo massa arredondada,
às vezes móvel, e separada da parede por espaço aéreo. A ressecção cirúrgica é o tratamento definitivo para ambas.
Antifúngicos triazólicos promovem beneficio terapêutico a longo prazo com risco mínimo.
Descritores: Aspergilose; Aspergilose pulmonar; Pneumopatias fúngicas.

Abstract
Aspergillosis is a multifaceted disease whose clinical manifestations (allergic, saprophytic and invasive forms)
are determined by the host immune response. Allergic bronchopulmonary aspergillosis is characterized by
corticosteroid-dependent asthma, fever, hemoptysis and destruction of the airways, which can evolve to fibrosis
with honeycombing. The treatment consists of the combined use of a corticosteroid and itraconazole. Invasive
pulmonary aspergillosis, which has a worse prognosis, is diagnosed based on histopathological documentation
and positive culture of a sterile specimen. The treatment response obtained with voriconazole is better, in terms
of survival and safety, than that obtained with amphotericin B. In patients with chronic pulmonary disease who
are mildly immunocompromised, chronic necrotizing pulmonary aspergillosis causes progressive destruction of the
lung. Such patients are treated with oral itraconazole. Chronic cavitary pulmonary aspergillosis causes multiple
cavities, with or without aspergilloma, accompanied by pulmonary and systemic symptoms. In patients with chronic
pulmonary disease, the aspergilloma is characterized by chronic productive cough and hemoptysis, together with a
cavity containing a rounded, sometimes mobile, mass separated from the cavity wall by airspace. Surgical resection
is the definitive treatment for both types of aspergillosis. Triazole fungicides provide long-term treatment benefits
with minimal risk.
Keywords: Aspergillosis; Pulmonary aspergillosis; Lung diseases, fungal.

Introdução
Aspergillus spp. é um fungo de distribuição
universal na natureza, cuja fonte de contágio
mais comum é a via aérea, e que emergiu como
causa de infecção grave com risco de vida em
pacientes imunodeprimidos.(1-3) Essa popu-

lação de pacientes em expansão é representada
por portadores de infecção avançada por HIV,
neutropenia prolongada e imunodeficiência
primária, assim como transplantados de pulmão
e de medula óssea.(1)

* Trabalho realizado no Hospital de Messejana, Fortaleza (CE) Brasil.
Endereço para correspondência: Maria da Penha Uchoa Sales. Rua Gothardo Moraes, 155/1002A, Papicu, CEP 60190-801, Fortaleza,
CE, Brasil.
Tel 55 85 3265-3265. E-mail: puchoasales152@gmail.com
Apoio financeiro: Nenhum.
Recebido para publicação em 3/8/2009. Aprovado, após revisão, em 5/8/2009.

J Bras Pneumol. 2009;35(12):1238-1244
Capítulo 5 - Aspergilose: do diagnóstico ao tratamento

Microrganismo: Impacto das espécies
Historicamente, o A. fumigatus é o agente
mais comum das várias formas de manifestação
da aspergilose.(1) Porém, atualmente observa-se
um aumento progressivo da doença causada
por outras espécies, como A. flavus, A. niger e
A. terreus, sendo esse último resistente à anfotericina.(2)

Manifestações clínicas
São determinadas pela resposta imune do
hospedeiro e classicamente definidas como
formas invasiva, saprofítica e alérgica.(2)

Síndromes clínicas, diagnóstico e
tratamento
Alergia
Há evidência cumulativa de asma causada
por Aspergillus spp. e da associação desse organismo com asma grave e letal.(2)

Síndromes clínicas, diagnóstico e
tratamento
Aspergilose broncopulmonar alérgica
A aspergilose broncopulmonar alérgica constitui uma forma de hipersensibilidade pulmonar
associada à destruição das vias aéreas em
resposta ao Aspergillus spp. Caracteriza-se por
episódios de asma aguda responsiva a corticosteroide ou por asma corticoide dependente, com
sintomas não usuais de febre e hemoptise, com
destruição da via aérea. Se tratada inadequadamente, o dano pulmonar permanente progride
para fibrose.(1,2)

Diagnóstico
São critérios diagnósticos a obstrução brônquica episódica, a eosinofilia periférica, a presença
de anticorpos específicos contra antígenos de
Aspergillus spp., a reação cutânea imediata a
antígeno de Aspergillus spp., a elevação sérica
de IgE, a presença de infiltrados pulmonares
que resolvem com corticoides e bronquiectasias
centrais. Os critérios diagnósticos secundários
são: detecção de Aspergillus  spp. em espécimes respiratórios, expectoração de moldes
brônquicos, elevação de IgE específica contra
Aspergillus spp. e reação cutânea tardia.

1239

Recomendações chave
O tratamento consiste da associação de corticosteroide e itraconazol.(1)
O corticoide melhora a função pulmonar
e diminui os episódios de consolidações
recorrentes
O uso de itraconazol (200 mg v.o. a cada
12 h por 16 semanas) reduz a dose de corticoide
necessária, a eosinofilia e a concentração de IgE,
melhorando a função pulmonar e a qualidade
de vida.

Aspergilose pulmonar invasiva
A aspergilose pulmonar invasiva (API) emergiu
como uma doença infecciosa de alta morbidade
e mortalidade em imunodeprimidos.(1,2)

Diagnóstico
A confirmação com cultura é importante
para diferenciar de infecção causada por outros
fungos filamentosos, de fusariose e de scedosporiose. O valor preditivo positivo de uma cultura
de material respiratório não-estéril aumenta com
o aumento da imunossupressão.(1,2)
A hemocultura é de utilidade limitada em
virtude de resultados negativos mesmo em
infecção disseminada.
A utilização de material de LBA, biópsia
transtorácica percutânea e biópsia por videotoracoscopia são procedimentos padrões para
estabelecer o diagnóstico de API. Resultados
falso-negativos podem ser observados em situações de uso prévio de antifúngicos ou quando o
procedimento não alcança a área afetada.(1,2)
Na histologia, como o achado de hifa hialina
septada, ramificada em ângulo de 90° não é
especifico para Aspergillus spp., outros métodos,
como PCR, podem ser necessários para a identificação do fungo.(1,2)
A identificação do sinal do halo e do crescente
aéreo na TC de tórax facilitou o diagnóstico da
API em neutropênicos com doenças hematológicas. Outras doenças infecciosas apresentam
esse sinal e entram como diagnóstico diferencial
(zigomicetos, Fusarium spp., Scedosporium spp.,
Pseudomonas aeruginosa e Nocardia spp.)(1,2)
A detecção de galactomanana, polissacarídeo da parede do Aspergillus spp., contribuiu
como marcador para diagnóstico de API na
ausência da cultura. Esse teste apresenta boa
sensibilidade para API em portadores de doença
hematológica maligna. Dois grupos de autores,
em 2003, relataram uma sensibilidade de 73%
J Bras Pneumol. 2009;35(12):1238-1244
1240	

Sales MPU

e 66,7% e uma especificidade de 96% e 98%
respectivamente. Os valores preditivos positivos
e negativos foram, respectivamente, de 73%
e 98% e de 66,7% e 98%.(4,5) Além de facilitar
o diagnóstico precoce, a antigenemia seriada
com galactomanana pode ajudar na avaliação
da resposta terapêutica. Portanto, a duração do
tratamento pode ser determinada pela normalização da antigenemia, assim como a resolução
do quadro clínico e radiológico.(1,2)
A combinação da antigenemia e TC de tórax
deverá permitir o diagnóstico e o tratamento
precoces.(1,2)
Outro marcador potencial é o β-D-glucana.
Sua presença significa infecção fúngica invasiva,
mas o teste não é específico.(1,2)
A utilização de PCR é promissora, mas ainda
está sem padronização.(1,2)

Recomendações chave
A confirmação diagnóstica requer a documentação histopatológica da infecção e a cultura
positiva de espécime de material estéril.(6)
Para estabelecer-se um diagnóstico provável,
é necessário o preenchimento de três critérios:
fatores de risco do hospedeiro; manifestações
clínicas e radiológicas; e evidência microbiológica (cultura/antigenemia).

Tratamento
Em virtude do potencial de progressão da
doença, recomenda-se o tratamento precoce nos
casos altamente suspeitos, enquanto a avaliação
diagnóstica é conduzida.
Um ensaio clínico controlado randomizado
mostrou que o voriconazol, quando comparado
à anfotericina B, apresenta melhor resposta terapêutica, melhor sobrevida e maior segurança.(1,6,7)
O voriconazol é indicado como tratamento
de primeira escolha. A formulação endovenosa é
recomendada para pacientes graves.(8)
O voriconazol é também indicado como
tratamento de primeira escolha em casos de
manifestações incomuns da aspergilose invasiva,
como osteomielite e endocardite.(1)
A anfotericina B lipossomal pode ser considerada como alternativa para o tratamento de
primeira escolha em alguns casos.(1)
Em caso de hepatopatia ou de outra contraindicação ao uso de voriconazol, as formulações
lipídicas da anfotericina são efetivas e menos
tóxicas do que sua a forma convencional.(1)
Em casos refratários, o manejo inclui a
alteração da via de administração (para i.v.),
J Bras Pneumol. 2009;35(12):1238-1244

o monitoramento dos níveis da medicação,
a alteração da classe do medicamento e/ou a
combinação medicamentosa.(1)
Em caso de intolerância ou refratariedade,
o diagnóstico deverá sempre ser confirmado, e
são indicadas as formulações lipídicas da anfotericina, posaconazol ou itraconazol, exceto nos
casos de uso prévio de voriconazol, caspofungina ou micafungina.(1)
A combinação terapêutica não é rotineiramente recomendada como primeira escolha,
mas a recomendação é válida nas situações de
intolerância ou refratariedade.(1)
O tratamento primário de infecção causada
por A. terreus deve ser realizado com derivados
triazólicos em virtude da resistência desse fungo
à anfotericina.(1)
A duração do tratamento não está definida,
em geral 6-12 semanas, sendo que nos imunodeprimidos deve-se manter o medicamento até
que ocorra melhora da imunossupressão e reabsorção das lesões.(1)
A monitorização da resposta terapêutica
inclui a avaliação dos sintomas e sinais, assim
como dos aspectos radiológicos, em intervalos
regulares. O aumento progressivo da antigenemia significa mau prognóstico; porém, a
normalização da mesma não pode ser utilizada
como critério único para cessar o tratamento.(1)
Para aqueles com tratamento prévio para
API e que serão submetidos à imunossupressão,
a utilização de antifúngico previne a infecção
recorrente.(1)
Em caso de imunossupressão crônica,
a terapia antifúngica durante o período de
imunossupressão parece estar associada com
uma evolução mais favorável. A antigenemia
com galactomanana constitui um recurso
promissor.(1)
A ressecção cirúrgica deve ser considerada em
casos de lesão contígua a grandes vasos e/ou ao
pericárdio, de lesão única que causa hemoptise
ou de invasão da parede torácica.(1)

Fatores que aumentam o risco de morte
São fatores que aumentam o risco de morte
a infecção após transplante; sua rejeição;
neutropenia; infecção por citomegalovírus; uso
prolongado de corticoides e imunossupressores;
API disseminada; monocitopenia; carga fúngica;
derrame pleural associado; insuficiência renal;
infecção bacteriana de repetição; e idade avançada.(1)
Capítulo 5 - Aspergilose: do diagnóstico ao tratamento

API e DPOC
Atualmente, observa-se um aumento do
registro de API em pacientes sem os fatores de
riscos conhecidos, como no caso dos portadores
de DPOC. O uso crônico de corticoide oral com
dose média acima de 20 mg/dia, a exacerbação
da doença, a antibioticoterapia e a presença de
comorbidades podem ser alguns dos fatores de
risco.(3,9)

Diagnóstico
O diagnóstico é realizado com o isolamento
de hifas de Aspergillus spp. em tecido ou em
material estéril associado a um quadro clínico
compatível.
É considerado como diagnóstico provável
o isolamento de Aspergillus spp. em cultura
ou material citológico de secreções respiratórias (escarro, lavado broncoalveolar e aspirado
traqueal) associado a um quadro clínico-radiológico compatível.
O quadro radiológico apresenta-se alterado
em 78% dos casos. Em radiografia/TC de tórax,
há a presença de infiltrado/consolidação em
43%; lesões cavitárias em 20%; e nódulos múltiplos ou nódulo solitário em 4%. A presença do
sinal do halo é mais comum em neutropênicos,
na fase aguda (primeira semana) da API.

Microbiologia/sorologia/PCR
O valor preditivo positivo da cultura positiva
para Aspergillus spp. em material respiratório
não-estéril é proporcional à imunidade do
paciente. O exame é altamente preditivo em
imunodeprimidos e pode indicar o tratamento
antifúngico.
O achado de Aspergillus spp. em secreções
do trato respiratório inferior deve ser avaliado
cuidadosamente para excluir API. A cultura
negativa nesses espécimes não exclui o diagnóstico. Nesses casos, deve-se considerar um quadro
clínico compatível e os resultados das imagens
de TC de tórax, da sorologia e da broncoscopia.
Iniciar o tratamento com antifúngico naqueles
criticamente enfermos.
Em portadores de DPOC, o material de LBA
positivo para Aspergillus spp., associado ou não
à biópsia transbrônquica, pode ser útil para o
diagnostico e o tratamento em pacientes clinica
e radiologicamente suspeitos que não respondem
a antibioticoterapia convencional.

1241

Os valores preditivos positivos e negativos
para antigenemia com galactomanana são,
respectivamente, de 25-62% e de 92-98%.
Os valores preditivos positivos e negativos
para PCR no sangue e no material de LBA são,
respectivamente, de 67-100% e de 55-95%. A
PCR não discrimina colonização de infecção.
Em uma revisão da literatura de 65 casos
de DPOC associado à API, mostrou-se que
43 pacientes tiveram diagnóstico de API confirmado, e 22 tiveram diagnóstico provável;
46  (71%) foram tratados com antifúngicos e 19  (30%) com múltiplos agentes. Dos
65  pacientes, 49 (91%) morreram (provavelmente em virtude do diagnóstico tardio, idade
elevada, presença de comorbidades ou reserva
pulmonar comprometida) e 31 (48%) receberam
ventilação mecânica. Todos os que sobreviveram
apresentavam API comprovada.

API e imunossupressão
A reversão da imunossupressão é um fator
importante para o sucesso terapêutico da API.(1)
Pacientes com neutropenia prolongada
(> 10 dias) e risco para API podem se beneficiar
do uso de GM-CSF.
Há registro de casos individualizados de uso
de IFN-δ como terapia adjuvante ao antifúngico
para API em imunodeprimidos não-neutropênicos, em particular naqueles com doença
granulomatosa crônica.
A suspensão ou a redução de corticoide é
crítica para o sucesso terapêutico da API.

Tratamento empírico para neutropênicos
com suspeita de API
Recomendações chave
O uso empírico de anfotericina B lipossomal,
voriconazol, itraconazol ou caspofungina é
recomendado para pacientes de alto risco que
apresentam neutropenia prolongada e febre
persistente, a despeito da antibioticoterapia de
amplo espectro (Quadro 1) enquanto a investigação diagnóstica é conduzida.(1)
O tratamento empírico não é recomendado
para pacientes com neutropenia de curto prazo
(menos de 10 dias), exceto na presença de
achados indicativos de API.

Profilaxia da API
A seleção de pacientes de alto risco é um
desafio.
J Bras Pneumol. 2009;35(12):1238-1244
J Bras Pneumol. 2009;35(12):1238-1244

Itraconazol ou voriconazol

Crônica: APCC

Itraconazol

Ressecção cirúrgica

Crônica: Aspergiloma

Voriconazol: 6 mg/kg i.v. 12/12 h, seguida
por 3 mg/kg i.v. 12/12 h e 200 mg v.o.
12/12 h.
Posaconazol: 200 mg 8/8 h

Itraconazol: 200 mg i.v./dia ou 12/12 h;

Caspofungina: ataque: 70 mg i.v./dia,
seguida de 50 mg i.v./dia;

Eficaz em neutropênicos; portadores de
LMA e síndrome mielodisplásica

12/12 h
Similar à API

Itraconazol: 200 mg i.v. 12/12 h/2 dias;
a seguir: 200 mg i.v./dia ou 200 mg v.o.
12/12h;

Uso em população de alto risco para AI

Voriconazol: 200 mg v.o.

Similar à APNC.

Como o tratamento é prolongado,
prefere-se a administração oral de um
triazólico (voriconazol ou itraconazol)

Observações

A ressecção cirúrgica pode resultar em alta
morbidade e mortalidade
Associação com corticosteroide

Itraconazol ou voriconazol, em dose similar
à API
Similar à API

Itraconazol: dose dependente da
formulação
Similar à API
Similar à API

Caspofungina: ataque: 70 mg i.v./dia,
seguida de 50 mg i.v./dia;

Tratamento
Alternativa
ANBL: 3-5 mg/kg i.v./dia; ANBC: 5 mg/kg
i.v./dia;

Micafungina: 50 mg i.v./dia
API: aspergilose pulmonar invasiva; ANBL: anfotericina B lipossomal; ANBC: anfotericina B complexo lipídico; APNC: aspergilose pulmonar necrotizante crônica; APCC: aspergilose
pulmonar cavitária crônica; ABPA: aspergilose broncopulmonar alérgica: AI: aspergilose invasiva; e LMA: leucemia mieloide aguda.

Profilaxia para AI

Tratamento empírico para AI
ANBC: 5 mg/kg i.v./dia;

ANBL: 3-5 mg/kg i.v./dia;

ABPA

Aspergiloma complexo

Similar à API
Similar à API

Aspergilose traqueobrônquica
Crônica: APNC

Quadro 1 - Sumário das recomendações para o tratamento da aspergilose.(1,8)
Forma de apresentação
Primeira escolha
API
Voriconazol: 6mg/kg i.v. 12/12 h, seguida
por 4 mg/kg i.v. 12/12 h e 200 mg v.o.
12/12 h

1242	
Sales MPU
Capítulo 5 - Aspergilose: do diagnóstico ao tratamento

1243

O posaconazol pode ser recomendado em
transplantados de medula óssea que apresentam
rejeição, uso prolongado de altas doses de corticoide, portadores de leucemia mieloide aguda
ou de síndrome mielodisplásica que apresentam
alto risco para API.(1) O itraconazol pode ser
efetivo; porém, a tolerabilidade limita seu uso.

Outros tratamentos descritos são a instilação
intracavitária de anfotericina e, mais recentemente, o uso de voriconazol.

Aspergilose traqueobrônquica

Usualmente, esses pacientes apresentam uma
doença pulmonar subjacente, lesão cavitária
tuberculosa, histoplasmose, sarcoidose, bolha
enfisematosa ou doença pulmonar fibrótica.(1)
Dentre as complicações com risco de morte
incluem-se: hemoptise, fibrose pulmonar e
aspergilose invasiva.

Os pacientes de risco são aqueles portadores de HIV, neutropênicos e transplantados
de pulmão. Há três formas de apresentação:
obstrutiva, pseudomembranosa e ulcerativa.(1)

Diagnóstico
A broncoscopia é o exame inicial mais importante, e a TC de tórax é útil para avaliar se há
falha na progressão da lesão na via aérea.
O tratamento precoce previne a ruptura da
anastomose brônquica e a perda do enxerto,
além de resolver as lesões ulcerativas em transplantados de pulmão.

Recomendações chave
O voriconazol é recomendado como tratamento de primeira escolha.(1)
Em virtude da nefrotoxicidade da anfotericina B convencional, o composto lipossomal
é recomendado em portadores de transplante
pulmonar.
A redução da imunossupressão é importante
para melhorar a resposta terapêutica.
O uso de anfotericina em aerossol pode ser
benéfico pelo fato de liberar alta concentração
do medicamento no sítio da infecção, mas ainda
não há padronização.

Aspergilose pulmonar necrotizante
crônica
A aspergilose pulmonar necrotizante crônica
(APNC) tem como característica a destruição
lentamente progressiva do pulmão em pacientes
com doença pulmonar crônica e leve grau de
imunossupressão, como no uso prolongado de
corticosteroide sistêmico ou em paciente diabético.(1)
Há uma maior evidência para o tratamento
com itraconazol oral.
Em virtude de o tratamento medicamentoso
ser prolongado, a preferência é pela utilização
da via oral.

Formas crônicas e saprofíticas:
Aspergilose pulmonar cavitária crônica
(aspergiloma complexo) e aspergiloma

Aspergiloma
O aspergiloma é um conglomerado de hifas
de Aspergillus spp., muco, fibrina e restos celulares no interior de cavidades pulmonares, em
cistos e bronquiectasias.

Diagnóstico
Tosse produtiva crônica, hemoptise em
portador de doença pulmonar crônica, associada à alteração radiológica, caracterizada por
massa arredondada, algumas vezes móvel, com
densidade líquida, dentro de uma cavidade, e
separada da parede por espaço aéreo (sinal do
crescente), além de espessamento pleural adjacente à cavidade.

Aspergilose pulmonar cavitária crônica
(aspergiloma complexo)
Apresenta-se com múltiplas cavidades
contendo ou não aspergiloma, associadas a
sintomas pulmonares e sistêmicos e ao aumento
de marcadores inflamatórios. Sem tratamento,
essas cavidades podem aumentar de tamanho
e coalescer. O diagnóstico diferencial deve ser
feito com APNC.

Tratamento para aspergiloma simples e
complexo
Dispõem-se, atualmente, de publicações de relatos de casos e de ensaios clínicos
não-controlados.
A ressecção cirúrgica é o tratamento definitivo para o aspergiloma simples e deve ser
selecionado em casos especiais de aspergiloma complexo em virtude da alta morbidade e
J Bras Pneumol. 2009;35(12):1238-1244
1244	

Sales MPU

mortalidade. O uso de itraconazol, voriconazol
e, presumivelmente, de posaconazol promove
algum beneficio terapêutico com mínimo risco
para aqueles não selecionados para cirurgia.
A embolização de artéria brônquica é recomendada para aqueles com hemoptise com risco
de morte e que deverão receber tratamento
medicamentoso ou cirúrgico, em caso de estabilização da hemoptise.
A instilação endobrônquica ou intracavitária de anfotericina tem sido relatada em casos
isolados com algum sucesso.
O tratamento antifúngico prolongado com
itraconazol ou voriconazol, talvez até por toda a
vida, é recomendado para aspergilose pulmonar
cavitária crônica.

Referências
	 1.	 Walsh TJ, Anaissie EJ, Denning DW, Herbrecht
R, Kontoyiannis DP, Marr KA, et al. Treatment of
aspergillosis: clinical practice guidelines of the
Infectious Diseases Society of America. Clin Infect Dis.
2008;46(3):327-60.
	 2.	 Barnes PD, Marr KA. Aspergillosis: spectrum of disease,
diagnosis, and treatment. Infect Dis Clin North Am.
2006;20(3):545-61, vi.

Sobre a autora
Maria da Penha Uchoa Sales
Pneumologista. Hospital de Messejana, Fortaleza (CE) Brasil.

J Bras Pneumol. 2009;35(12):1238-1244

	 3.	 Samarakoon P, Soubani AO. Invasive pulmonary
aspergillosis in patients with COPD: a report of five cases
and systematic review of the literature. Chron Respir Dis.
2008;5(1):19-27.
	 4.	 Pazos C, del Palacio A. Diagnóstico precoz de la
aspegilosis invasora en enfermos neutropénicos mediante
la detección bisemanal de galactomanano en suero con
Platelia® Aspergillus. Rer Iberoam Micol. 2003;20(3):99102.
	 5.	 Dolores Moragues M, Amutio E, García-Ruiz JC, Pontón
J. Utilidad de la detección de galactomanano en el
diagnóstico y seguimiento de la aspergilosis invasora
em pacientes hematológicos. Rer Iberoam Micol.
2003;20(3):103-110.
	 6.	 Herbrecht R, Denning DW, Patterson TF, Bennett
JE, Greene RE, Oestmann JW, et al. Voriconazole
versus amphotericin B for primary therapy of invasive
aspergillosis. N Engl J Med. 2002;347(6):408-15.
	 7.	 Sambatakou H, Dupont B, Lode H, Denning DW.
Voriconazole treatment for subacute invasive and chronic
pulmonary aspergillosis. Am J Med. 2006;119(6):527.
e17-24.
	 8.	 Martinez R. An update on the use of antifungal agents.
J Bras Pneumol. 2006;32(5):449-60.
	 9.	 Ader F, Nseir S, Le Berre R, Leroy S, Tillie-Leblond I,
Marquette CH, et al. Invasive pulmonary aspergillosis
in chronic obstructive pulmonary disease: an
emerging fungal pathogen. Clin Microbiol Infect.
2005;11(6):427-9.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

O Anticorpo anti-citoplasma de neutrófilo nas Vasculites Pulmonares
O Anticorpo anti-citoplasma de neutrófilo nas Vasculites PulmonaresO Anticorpo anti-citoplasma de neutrófilo nas Vasculites Pulmonares
O Anticorpo anti-citoplasma de neutrófilo nas Vasculites PulmonaresFlávia Salame
 
Correlação entre Asma e Doenças de Vias Aéreas Superiores
Correlação entre Asma e Doenças de Vias Aéreas SuperioresCorrelação entre Asma e Doenças de Vias Aéreas Superiores
Correlação entre Asma e Doenças de Vias Aéreas SuperioresFlávia Salame
 
Hiperresponsividade brônquica
Hiperresponsividade brônquicaHiperresponsividade brônquica
Hiperresponsividade brônquicaFlávia Salame
 
Granulomatose de wegener
Granulomatose de wegenerGranulomatose de wegener
Granulomatose de wegenerFlávia Salame
 
Doenças Pulmonares Intersticiais
Doenças Pulmonares IntersticiaisDoenças Pulmonares Intersticiais
Doenças Pulmonares IntersticiaisFlávia Salame
 
PUC Londrina - Pneumo Aula 05 pneumonias
PUC Londrina - Pneumo Aula 05   pneumoniasPUC Londrina - Pneumo Aula 05   pneumonias
PUC Londrina - Pneumo Aula 05 pneumoniasalcindoneto
 
Pneumonia adquirida na comunidade
Pneumonia adquirida na comunidadePneumonia adquirida na comunidade
Pneumonia adquirida na comunidadeThiago Hubner
 
Fibrose Pulmonar Idiopática
Fibrose Pulmonar IdiopáticaFibrose Pulmonar Idiopática
Fibrose Pulmonar IdiopáticaFlávia Salame
 
Esclerose Sistêmica Progressiva e Polimiosite e Dermatomiosite
Esclerose Sistêmica Progressiva e Polimiosite e DermatomiositeEsclerose Sistêmica Progressiva e Polimiosite e Dermatomiosite
Esclerose Sistêmica Progressiva e Polimiosite e DermatomiositeFlávia Salame
 
Pneumonia Pediatria
Pneumonia PediatriaPneumonia Pediatria
Pneumonia Pediatriagiolamarao
 
Sindrome de churg strauss
Sindrome de churg straussSindrome de churg strauss
Sindrome de churg straussFlávia Salame
 
Pneumonias: conceitos, dúvidas e cuidados fisioterapêuticos pós-alta hospitala
Pneumonias: conceitos, dúvidas e cuidados fisioterapêuticos pós-alta hospitalaPneumonias: conceitos, dúvidas e cuidados fisioterapêuticos pós-alta hospitala
Pneumonias: conceitos, dúvidas e cuidados fisioterapêuticos pós-alta hospitalaPCare Fisioterapia
 
Diretrizes+brasileiras+em+pneumonia+adquirida+na+comunidade+em
Diretrizes+brasileiras+em+pneumonia+adquirida+na+comunidade+emDiretrizes+brasileiras+em+pneumonia+adquirida+na+comunidade+em
Diretrizes+brasileiras+em+pneumonia+adquirida+na+comunidade+emArquivo-FClinico
 
Introdução as Vasculites Pulmonares
Introdução as Vasculites PulmonaresIntrodução as Vasculites Pulmonares
Introdução as Vasculites PulmonaresFlávia Salame
 
Micoses pulmonares uea
Micoses pulmonares ueaMicoses pulmonares uea
Micoses pulmonares ueaFlávia Salame
 
INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA E PNEUMONIA
INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA  E PNEUMONIAINSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA  E PNEUMONIA
INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA E PNEUMONIAJonathan Sampaio
 
Vasculites Pulmonares Raras
Vasculites Pulmonares RarasVasculites Pulmonares Raras
Vasculites Pulmonares RarasFlávia Salame
 

Mais procurados (20)

O Anticorpo anti-citoplasma de neutrófilo nas Vasculites Pulmonares
O Anticorpo anti-citoplasma de neutrófilo nas Vasculites PulmonaresO Anticorpo anti-citoplasma de neutrófilo nas Vasculites Pulmonares
O Anticorpo anti-citoplasma de neutrófilo nas Vasculites Pulmonares
 
Correlação entre Asma e Doenças de Vias Aéreas Superiores
Correlação entre Asma e Doenças de Vias Aéreas SuperioresCorrelação entre Asma e Doenças de Vias Aéreas Superiores
Correlação entre Asma e Doenças de Vias Aéreas Superiores
 
Hiperresponsividade brônquica
Hiperresponsividade brônquicaHiperresponsividade brônquica
Hiperresponsividade brônquica
 
Granulomatose de wegener
Granulomatose de wegenerGranulomatose de wegener
Granulomatose de wegener
 
Doenças Pulmonares Intersticiais
Doenças Pulmonares IntersticiaisDoenças Pulmonares Intersticiais
Doenças Pulmonares Intersticiais
 
PUC Londrina - Pneumo Aula 05 pneumonias
PUC Londrina - Pneumo Aula 05   pneumoniasPUC Londrina - Pneumo Aula 05   pneumonias
PUC Londrina - Pneumo Aula 05 pneumonias
 
Pneumonia adquirida na comunidade
Pneumonia adquirida na comunidadePneumonia adquirida na comunidade
Pneumonia adquirida na comunidade
 
Fibrose Pulmonar Idiopática
Fibrose Pulmonar IdiopáticaFibrose Pulmonar Idiopática
Fibrose Pulmonar Idiopática
 
Esclerose Sistêmica Progressiva e Polimiosite e Dermatomiosite
Esclerose Sistêmica Progressiva e Polimiosite e DermatomiositeEsclerose Sistêmica Progressiva e Polimiosite e Dermatomiosite
Esclerose Sistêmica Progressiva e Polimiosite e Dermatomiosite
 
Pneumonia Pediatria
Pneumonia PediatriaPneumonia Pediatria
Pneumonia Pediatria
 
Pneumonia Adquirida Na Comunidade
Pneumonia Adquirida Na ComunidadePneumonia Adquirida Na Comunidade
Pneumonia Adquirida Na Comunidade
 
Sindrome de churg strauss
Sindrome de churg straussSindrome de churg strauss
Sindrome de churg strauss
 
Dpoc uea
Dpoc ueaDpoc uea
Dpoc uea
 
Pneumonias: conceitos, dúvidas e cuidados fisioterapêuticos pós-alta hospitala
Pneumonias: conceitos, dúvidas e cuidados fisioterapêuticos pós-alta hospitalaPneumonias: conceitos, dúvidas e cuidados fisioterapêuticos pós-alta hospitala
Pneumonias: conceitos, dúvidas e cuidados fisioterapêuticos pós-alta hospitala
 
Diretrizes+brasileiras+em+pneumonia+adquirida+na+comunidade+em
Diretrizes+brasileiras+em+pneumonia+adquirida+na+comunidade+emDiretrizes+brasileiras+em+pneumonia+adquirida+na+comunidade+em
Diretrizes+brasileiras+em+pneumonia+adquirida+na+comunidade+em
 
Doença Pulmonar Intersticial
Doença Pulmonar IntersticialDoença Pulmonar Intersticial
Doença Pulmonar Intersticial
 
Introdução as Vasculites Pulmonares
Introdução as Vasculites PulmonaresIntrodução as Vasculites Pulmonares
Introdução as Vasculites Pulmonares
 
Micoses pulmonares uea
Micoses pulmonares ueaMicoses pulmonares uea
Micoses pulmonares uea
 
INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA E PNEUMONIA
INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA  E PNEUMONIAINSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA  E PNEUMONIA
INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA E PNEUMONIA
 
Vasculites Pulmonares Raras
Vasculites Pulmonares RarasVasculites Pulmonares Raras
Vasculites Pulmonares Raras
 

Semelhante a Aspergilose: diagnóstico, tratamento e formas clínicas

Lesão Cavitária Pulmonar em paciente SIDA
Lesão Cavitária Pulmonar em paciente SIDALesão Cavitária Pulmonar em paciente SIDA
Lesão Cavitária Pulmonar em paciente SIDAFlávia Salame
 
Pneumonia-afebril-do-lactente.ppt
Pneumonia-afebril-do-lactente.pptPneumonia-afebril-do-lactente.ppt
Pneumonia-afebril-do-lactente.pptLavniaSantana4
 
Apresentação-Medicina-4periodo-Influenza.pdf
Apresentação-Medicina-4periodo-Influenza.pdfApresentação-Medicina-4periodo-Influenza.pdf
Apresentação-Medicina-4periodo-Influenza.pdfikaropatricio
 
Pneumonias (e Fibrose Cística)
Pneumonias (e Fibrose Cística) Pneumonias (e Fibrose Cística)
Pneumonias (e Fibrose Cística) Mônica Firmida
 
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pptx
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pptxfisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pptx
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pptxRaqueli Viecili
 
Tratamento crise asma_pronto_socorro
Tratamento crise asma_pronto_socorroTratamento crise asma_pronto_socorro
Tratamento crise asma_pronto_socorrocuidadoaoadulto
 
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pdf
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pdffisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pdf
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pdfRaqueli Viecili
 
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress (1).pptx
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress (1).pptxfisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress (1).pptx
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress (1).pptxRaqueli Viecili
 
Aula radiologia torax
Aula radiologia toraxAula radiologia torax
Aula radiologia toraxbruno2704
 
Criptococose pulmonar sbpt 2009
Criptococose pulmonar sbpt 2009Criptococose pulmonar sbpt 2009
Criptococose pulmonar sbpt 2009Flávia Salame
 
Pneumonia grave
Pneumonia gravePneumonia grave
Pneumonia gravelukeni2015
 
5109 texto do trabalho-13124-1-10-20140915
5109 texto do trabalho-13124-1-10-201409155109 texto do trabalho-13124-1-10-20140915
5109 texto do trabalho-13124-1-10-20140915Thiago Bezerra
 

Semelhante a Aspergilose: diagnóstico, tratamento e formas clínicas (20)

Slide Micotoxinas
Slide MicotoxinasSlide Micotoxinas
Slide Micotoxinas
 
Lesão Cavitária Pulmonar em paciente SIDA
Lesão Cavitária Pulmonar em paciente SIDALesão Cavitária Pulmonar em paciente SIDA
Lesão Cavitária Pulmonar em paciente SIDA
 
Pneumonia-afebril-do-lactente.ppt
Pneumonia-afebril-do-lactente.pptPneumonia-afebril-do-lactente.ppt
Pneumonia-afebril-do-lactente.ppt
 
Apresentação-Medicina-4periodo-Influenza.pdf
Apresentação-Medicina-4periodo-Influenza.pdfApresentação-Medicina-4periodo-Influenza.pdf
Apresentação-Medicina-4periodo-Influenza.pdf
 
Pneumonias (e Fibrose Cística)
Pneumonias (e Fibrose Cística) Pneumonias (e Fibrose Cística)
Pneumonias (e Fibrose Cística)
 
10.2 pneumologia
10.2 pneumologia10.2 pneumologia
10.2 pneumologia
 
Histoplasmose
HistoplasmoseHistoplasmose
Histoplasmose
 
Consenso asma 2006
Consenso asma 2006Consenso asma 2006
Consenso asma 2006
 
Iv Diretrizes Asma
Iv Diretrizes AsmaIv Diretrizes Asma
Iv Diretrizes Asma
 
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pptx
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pptxfisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pptx
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pptx
 
Churg strauss
Churg straussChurg strauss
Churg strauss
 
Tratamento da crise asmática no pronto socorro
Tratamento da crise asmática no pronto socorroTratamento da crise asmática no pronto socorro
Tratamento da crise asmática no pronto socorro
 
Tratamento crise asma_pronto_socorro
Tratamento crise asma_pronto_socorroTratamento crise asma_pronto_socorro
Tratamento crise asma_pronto_socorro
 
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pdf
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pdffisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pdf
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pdf
 
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress (1).pptx
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress (1).pptxfisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress (1).pptx
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress (1).pptx
 
Asma
AsmaAsma
Asma
 
Aula radiologia torax
Aula radiologia toraxAula radiologia torax
Aula radiologia torax
 
Criptococose pulmonar sbpt 2009
Criptococose pulmonar sbpt 2009Criptococose pulmonar sbpt 2009
Criptococose pulmonar sbpt 2009
 
Pneumonia grave
Pneumonia gravePneumonia grave
Pneumonia grave
 
5109 texto do trabalho-13124-1-10-20140915
5109 texto do trabalho-13124-1-10-201409155109 texto do trabalho-13124-1-10-20140915
5109 texto do trabalho-13124-1-10-20140915
 

Mais de Flávia Salame

TCAR de tórax: Princípios Básicos
TCAR de tórax: Princípios BásicosTCAR de tórax: Princípios Básicos
TCAR de tórax: Princípios BásicosFlávia Salame
 
Insuficiência Respiratória
Insuficiência RespiratóriaInsuficiência Respiratória
Insuficiência RespiratóriaFlávia Salame
 
Doenças Ocupacionais Pulmonares
Doenças Ocupacionais PulmonaresDoenças Ocupacionais Pulmonares
Doenças Ocupacionais PulmonaresFlávia Salame
 
Pneumopatias Intersticiais
Pneumopatias IntersticiaisPneumopatias Intersticiais
Pneumopatias IntersticiaisFlávia Salame
 
Teste Xpert para diagnóstico da Tuberculose
Teste Xpert para diagnóstico da TuberculoseTeste Xpert para diagnóstico da Tuberculose
Teste Xpert para diagnóstico da TuberculoseFlávia Salame
 
Distúrbios Respiratórios do Sono
Distúrbios Respiratórios do SonoDistúrbios Respiratórios do Sono
Distúrbios Respiratórios do SonoFlávia Salame
 
Gasometria Arterial- Distúrbios do Equilíbrio Ácido-base
Gasometria Arterial- Distúrbios do Equilíbrio Ácido-baseGasometria Arterial- Distúrbios do Equilíbrio Ácido-base
Gasometria Arterial- Distúrbios do Equilíbrio Ácido-baseFlávia Salame
 
Distúrbios do equilíbrio ácido-básico
Distúrbios do equilíbrio ácido-básicoDistúrbios do equilíbrio ácido-básico
Distúrbios do equilíbrio ácido-básicoFlávia Salame
 
Manual de Prescrição Médica
Manual de Prescrição MédicaManual de Prescrição Médica
Manual de Prescrição MédicaFlávia Salame
 
Guia Antimicrobianos do HUPE - EURJ - 2010
Guia Antimicrobianos do HUPE - EURJ - 2010Guia Antimicrobianos do HUPE - EURJ - 2010
Guia Antimicrobianos do HUPE - EURJ - 2010Flávia Salame
 
Cronograma de aulas_teóricas-01-2014(2)-modificado
Cronograma de aulas_teóricas-01-2014(2)-modificadoCronograma de aulas_teóricas-01-2014(2)-modificado
Cronograma de aulas_teóricas-01-2014(2)-modificadoFlávia Salame
 
7 insuficiencia respiratoria
7 insuficiencia respiratoria7 insuficiencia respiratoria
7 insuficiencia respiratoriaFlávia Salame
 

Mais de Flávia Salame (20)

TCAR de tórax: Princípios Básicos
TCAR de tórax: Princípios BásicosTCAR de tórax: Princípios Básicos
TCAR de tórax: Princípios Básicos
 
Derrames Pleurais
Derrames PleuraisDerrames Pleurais
Derrames Pleurais
 
Insuficiência Respiratória
Insuficiência RespiratóriaInsuficiência Respiratória
Insuficiência Respiratória
 
Silicose
SilicoseSilicose
Silicose
 
Asma ocupacional
Asma ocupacionalAsma ocupacional
Asma ocupacional
 
Asbestose
AsbestoseAsbestose
Asbestose
 
Doenças Ocupacionais Pulmonares
Doenças Ocupacionais PulmonaresDoenças Ocupacionais Pulmonares
Doenças Ocupacionais Pulmonares
 
Pneumopatias Intersticiais
Pneumopatias IntersticiaisPneumopatias Intersticiais
Pneumopatias Intersticiais
 
Teste Xpert para diagnóstico da Tuberculose
Teste Xpert para diagnóstico da TuberculoseTeste Xpert para diagnóstico da Tuberculose
Teste Xpert para diagnóstico da Tuberculose
 
Distúrbios Respiratórios do Sono
Distúrbios Respiratórios do SonoDistúrbios Respiratórios do Sono
Distúrbios Respiratórios do Sono
 
Gasometria Arterial- Distúrbios do Equilíbrio Ácido-base
Gasometria Arterial- Distúrbios do Equilíbrio Ácido-baseGasometria Arterial- Distúrbios do Equilíbrio Ácido-base
Gasometria Arterial- Distúrbios do Equilíbrio Ácido-base
 
Acido base pucsp
Acido base pucspAcido base pucsp
Acido base pucsp
 
Distúrbios do equilíbrio ácido-básico
Distúrbios do equilíbrio ácido-básicoDistúrbios do equilíbrio ácido-básico
Distúrbios do equilíbrio ácido-básico
 
Manual de Prescrição Médica
Manual de Prescrição MédicaManual de Prescrição Médica
Manual de Prescrição Médica
 
Guia Antimicrobianos do HUPE - EURJ - 2010
Guia Antimicrobianos do HUPE - EURJ - 2010Guia Antimicrobianos do HUPE - EURJ - 2010
Guia Antimicrobianos do HUPE - EURJ - 2010
 
Cronograma de aulas_teóricas-01-2014(2)-modificado
Cronograma de aulas_teóricas-01-2014(2)-modificadoCronograma de aulas_teóricas-01-2014(2)-modificado
Cronograma de aulas_teóricas-01-2014(2)-modificado
 
7 insuficiencia respiratoria
7 insuficiencia respiratoria7 insuficiencia respiratoria
7 insuficiencia respiratoria
 
Sdra consenso vm
Sdra consenso vmSdra consenso vm
Sdra consenso vm
 
Sdra fmrpusp
Sdra fmrpuspSdra fmrpusp
Sdra fmrpusp
 
Sdra unifesp
Sdra unifespSdra unifesp
Sdra unifesp
 

Aspergilose: diagnóstico, tratamento e formas clínicas

  • 1. Curso de Atualização – Micoses Capítulo 5 - Aspergilose: do diagnóstico ao tratamento* Chapter 5 - Aspergillosis: from diagnosis to treatment Maria da Penha Uchoa Sales Resumo A aspergilose é uma doença multifacetada cujas manifestações clínicas são determinadas pela resposta imune do hospedeiro; podem se apresentar de forma alérgica, saprofítica ou invasiva. A aspergilose broncopulmonar alérgica caracteriza-se por asma corticoide dependente, febre, hemoptise e destruição da via aérea, que pode progredir para fibrose com faveolamento. O tratamento consiste da associação de corticosteroide e itraconazol. A aspergilose pulmonar invasiva requer documentação histopatológica e cultura positiva de material estéril para o diagnóstico. Possui pior prognóstico. O voriconazol apresenta melhor resposta terapêutica, proporcionando maior sobrevida e segurança do que a anfotericina B. A aspergilose pulmonar necrotizante crônica causa destruição progressiva do pulmão em pacientes com doença pulmonar crônica e leve grau de imunossupressão. O tratamento é realizado com itraconazol oral. A aspergilose pulmonar cavitária crônica causa múltiplas cavidades, contendo ou não aspergiloma, associadas a sintomas pulmonares e sistêmicos. O aspergiloma é caracterizado por tosse produtiva crônica e hemoptise em portadores de doença pulmonar crônica, associados a uma cavidade contendo massa arredondada, às vezes móvel, e separada da parede por espaço aéreo. A ressecção cirúrgica é o tratamento definitivo para ambas. Antifúngicos triazólicos promovem beneficio terapêutico a longo prazo com risco mínimo. Descritores: Aspergilose; Aspergilose pulmonar; Pneumopatias fúngicas. Abstract Aspergillosis is a multifaceted disease whose clinical manifestations (allergic, saprophytic and invasive forms) are determined by the host immune response. Allergic bronchopulmonary aspergillosis is characterized by corticosteroid-dependent asthma, fever, hemoptysis and destruction of the airways, which can evolve to fibrosis with honeycombing. The treatment consists of the combined use of a corticosteroid and itraconazole. Invasive pulmonary aspergillosis, which has a worse prognosis, is diagnosed based on histopathological documentation and positive culture of a sterile specimen. The treatment response obtained with voriconazole is better, in terms of survival and safety, than that obtained with amphotericin B. In patients with chronic pulmonary disease who are mildly immunocompromised, chronic necrotizing pulmonary aspergillosis causes progressive destruction of the lung. Such patients are treated with oral itraconazole. Chronic cavitary pulmonary aspergillosis causes multiple cavities, with or without aspergilloma, accompanied by pulmonary and systemic symptoms. In patients with chronic pulmonary disease, the aspergilloma is characterized by chronic productive cough and hemoptysis, together with a cavity containing a rounded, sometimes mobile, mass separated from the cavity wall by airspace. Surgical resection is the definitive treatment for both types of aspergillosis. Triazole fungicides provide long-term treatment benefits with minimal risk. Keywords: Aspergillosis; Pulmonary aspergillosis; Lung diseases, fungal. Introdução Aspergillus spp. é um fungo de distribuição universal na natureza, cuja fonte de contágio mais comum é a via aérea, e que emergiu como causa de infecção grave com risco de vida em pacientes imunodeprimidos.(1-3) Essa popu- lação de pacientes em expansão é representada por portadores de infecção avançada por HIV, neutropenia prolongada e imunodeficiência primária, assim como transplantados de pulmão e de medula óssea.(1) * Trabalho realizado no Hospital de Messejana, Fortaleza (CE) Brasil. Endereço para correspondência: Maria da Penha Uchoa Sales. Rua Gothardo Moraes, 155/1002A, Papicu, CEP 60190-801, Fortaleza, CE, Brasil. Tel 55 85 3265-3265. E-mail: puchoasales152@gmail.com Apoio financeiro: Nenhum. Recebido para publicação em 3/8/2009. Aprovado, após revisão, em 5/8/2009. J Bras Pneumol. 2009;35(12):1238-1244
  • 2. Capítulo 5 - Aspergilose: do diagnóstico ao tratamento Microrganismo: Impacto das espécies Historicamente, o A. fumigatus é o agente mais comum das várias formas de manifestação da aspergilose.(1) Porém, atualmente observa-se um aumento progressivo da doença causada por outras espécies, como A. flavus, A. niger e A. terreus, sendo esse último resistente à anfotericina.(2) Manifestações clínicas São determinadas pela resposta imune do hospedeiro e classicamente definidas como formas invasiva, saprofítica e alérgica.(2) Síndromes clínicas, diagnóstico e tratamento Alergia Há evidência cumulativa de asma causada por Aspergillus spp. e da associação desse organismo com asma grave e letal.(2) Síndromes clínicas, diagnóstico e tratamento Aspergilose broncopulmonar alérgica A aspergilose broncopulmonar alérgica constitui uma forma de hipersensibilidade pulmonar associada à destruição das vias aéreas em resposta ao Aspergillus spp. Caracteriza-se por episódios de asma aguda responsiva a corticosteroide ou por asma corticoide dependente, com sintomas não usuais de febre e hemoptise, com destruição da via aérea. Se tratada inadequadamente, o dano pulmonar permanente progride para fibrose.(1,2) Diagnóstico São critérios diagnósticos a obstrução brônquica episódica, a eosinofilia periférica, a presença de anticorpos específicos contra antígenos de Aspergillus spp., a reação cutânea imediata a antígeno de Aspergillus spp., a elevação sérica de IgE, a presença de infiltrados pulmonares que resolvem com corticoides e bronquiectasias centrais. Os critérios diagnósticos secundários são: detecção de Aspergillus  spp. em espécimes respiratórios, expectoração de moldes brônquicos, elevação de IgE específica contra Aspergillus spp. e reação cutânea tardia. 1239 Recomendações chave O tratamento consiste da associação de corticosteroide e itraconazol.(1) O corticoide melhora a função pulmonar e diminui os episódios de consolidações recorrentes O uso de itraconazol (200 mg v.o. a cada 12 h por 16 semanas) reduz a dose de corticoide necessária, a eosinofilia e a concentração de IgE, melhorando a função pulmonar e a qualidade de vida. Aspergilose pulmonar invasiva A aspergilose pulmonar invasiva (API) emergiu como uma doença infecciosa de alta morbidade e mortalidade em imunodeprimidos.(1,2) Diagnóstico A confirmação com cultura é importante para diferenciar de infecção causada por outros fungos filamentosos, de fusariose e de scedosporiose. O valor preditivo positivo de uma cultura de material respiratório não-estéril aumenta com o aumento da imunossupressão.(1,2) A hemocultura é de utilidade limitada em virtude de resultados negativos mesmo em infecção disseminada. A utilização de material de LBA, biópsia transtorácica percutânea e biópsia por videotoracoscopia são procedimentos padrões para estabelecer o diagnóstico de API. Resultados falso-negativos podem ser observados em situações de uso prévio de antifúngicos ou quando o procedimento não alcança a área afetada.(1,2) Na histologia, como o achado de hifa hialina septada, ramificada em ângulo de 90° não é especifico para Aspergillus spp., outros métodos, como PCR, podem ser necessários para a identificação do fungo.(1,2) A identificação do sinal do halo e do crescente aéreo na TC de tórax facilitou o diagnóstico da API em neutropênicos com doenças hematológicas. Outras doenças infecciosas apresentam esse sinal e entram como diagnóstico diferencial (zigomicetos, Fusarium spp., Scedosporium spp., Pseudomonas aeruginosa e Nocardia spp.)(1,2) A detecção de galactomanana, polissacarídeo da parede do Aspergillus spp., contribuiu como marcador para diagnóstico de API na ausência da cultura. Esse teste apresenta boa sensibilidade para API em portadores de doença hematológica maligna. Dois grupos de autores, em 2003, relataram uma sensibilidade de 73% J Bras Pneumol. 2009;35(12):1238-1244
  • 3. 1240 Sales MPU e 66,7% e uma especificidade de 96% e 98% respectivamente. Os valores preditivos positivos e negativos foram, respectivamente, de 73% e 98% e de 66,7% e 98%.(4,5) Além de facilitar o diagnóstico precoce, a antigenemia seriada com galactomanana pode ajudar na avaliação da resposta terapêutica. Portanto, a duração do tratamento pode ser determinada pela normalização da antigenemia, assim como a resolução do quadro clínico e radiológico.(1,2) A combinação da antigenemia e TC de tórax deverá permitir o diagnóstico e o tratamento precoces.(1,2) Outro marcador potencial é o β-D-glucana. Sua presença significa infecção fúngica invasiva, mas o teste não é específico.(1,2) A utilização de PCR é promissora, mas ainda está sem padronização.(1,2) Recomendações chave A confirmação diagnóstica requer a documentação histopatológica da infecção e a cultura positiva de espécime de material estéril.(6) Para estabelecer-se um diagnóstico provável, é necessário o preenchimento de três critérios: fatores de risco do hospedeiro; manifestações clínicas e radiológicas; e evidência microbiológica (cultura/antigenemia). Tratamento Em virtude do potencial de progressão da doença, recomenda-se o tratamento precoce nos casos altamente suspeitos, enquanto a avaliação diagnóstica é conduzida. Um ensaio clínico controlado randomizado mostrou que o voriconazol, quando comparado à anfotericina B, apresenta melhor resposta terapêutica, melhor sobrevida e maior segurança.(1,6,7) O voriconazol é indicado como tratamento de primeira escolha. A formulação endovenosa é recomendada para pacientes graves.(8) O voriconazol é também indicado como tratamento de primeira escolha em casos de manifestações incomuns da aspergilose invasiva, como osteomielite e endocardite.(1) A anfotericina B lipossomal pode ser considerada como alternativa para o tratamento de primeira escolha em alguns casos.(1) Em caso de hepatopatia ou de outra contraindicação ao uso de voriconazol, as formulações lipídicas da anfotericina são efetivas e menos tóxicas do que sua a forma convencional.(1) Em casos refratários, o manejo inclui a alteração da via de administração (para i.v.), J Bras Pneumol. 2009;35(12):1238-1244 o monitoramento dos níveis da medicação, a alteração da classe do medicamento e/ou a combinação medicamentosa.(1) Em caso de intolerância ou refratariedade, o diagnóstico deverá sempre ser confirmado, e são indicadas as formulações lipídicas da anfotericina, posaconazol ou itraconazol, exceto nos casos de uso prévio de voriconazol, caspofungina ou micafungina.(1) A combinação terapêutica não é rotineiramente recomendada como primeira escolha, mas a recomendação é válida nas situações de intolerância ou refratariedade.(1) O tratamento primário de infecção causada por A. terreus deve ser realizado com derivados triazólicos em virtude da resistência desse fungo à anfotericina.(1) A duração do tratamento não está definida, em geral 6-12 semanas, sendo que nos imunodeprimidos deve-se manter o medicamento até que ocorra melhora da imunossupressão e reabsorção das lesões.(1) A monitorização da resposta terapêutica inclui a avaliação dos sintomas e sinais, assim como dos aspectos radiológicos, em intervalos regulares. O aumento progressivo da antigenemia significa mau prognóstico; porém, a normalização da mesma não pode ser utilizada como critério único para cessar o tratamento.(1) Para aqueles com tratamento prévio para API e que serão submetidos à imunossupressão, a utilização de antifúngico previne a infecção recorrente.(1) Em caso de imunossupressão crônica, a terapia antifúngica durante o período de imunossupressão parece estar associada com uma evolução mais favorável. A antigenemia com galactomanana constitui um recurso promissor.(1) A ressecção cirúrgica deve ser considerada em casos de lesão contígua a grandes vasos e/ou ao pericárdio, de lesão única que causa hemoptise ou de invasão da parede torácica.(1) Fatores que aumentam o risco de morte São fatores que aumentam o risco de morte a infecção após transplante; sua rejeição; neutropenia; infecção por citomegalovírus; uso prolongado de corticoides e imunossupressores; API disseminada; monocitopenia; carga fúngica; derrame pleural associado; insuficiência renal; infecção bacteriana de repetição; e idade avançada.(1)
  • 4. Capítulo 5 - Aspergilose: do diagnóstico ao tratamento API e DPOC Atualmente, observa-se um aumento do registro de API em pacientes sem os fatores de riscos conhecidos, como no caso dos portadores de DPOC. O uso crônico de corticoide oral com dose média acima de 20 mg/dia, a exacerbação da doença, a antibioticoterapia e a presença de comorbidades podem ser alguns dos fatores de risco.(3,9) Diagnóstico O diagnóstico é realizado com o isolamento de hifas de Aspergillus spp. em tecido ou em material estéril associado a um quadro clínico compatível. É considerado como diagnóstico provável o isolamento de Aspergillus spp. em cultura ou material citológico de secreções respiratórias (escarro, lavado broncoalveolar e aspirado traqueal) associado a um quadro clínico-radiológico compatível. O quadro radiológico apresenta-se alterado em 78% dos casos. Em radiografia/TC de tórax, há a presença de infiltrado/consolidação em 43%; lesões cavitárias em 20%; e nódulos múltiplos ou nódulo solitário em 4%. A presença do sinal do halo é mais comum em neutropênicos, na fase aguda (primeira semana) da API. Microbiologia/sorologia/PCR O valor preditivo positivo da cultura positiva para Aspergillus spp. em material respiratório não-estéril é proporcional à imunidade do paciente. O exame é altamente preditivo em imunodeprimidos e pode indicar o tratamento antifúngico. O achado de Aspergillus spp. em secreções do trato respiratório inferior deve ser avaliado cuidadosamente para excluir API. A cultura negativa nesses espécimes não exclui o diagnóstico. Nesses casos, deve-se considerar um quadro clínico compatível e os resultados das imagens de TC de tórax, da sorologia e da broncoscopia. Iniciar o tratamento com antifúngico naqueles criticamente enfermos. Em portadores de DPOC, o material de LBA positivo para Aspergillus spp., associado ou não à biópsia transbrônquica, pode ser útil para o diagnostico e o tratamento em pacientes clinica e radiologicamente suspeitos que não respondem a antibioticoterapia convencional. 1241 Os valores preditivos positivos e negativos para antigenemia com galactomanana são, respectivamente, de 25-62% e de 92-98%. Os valores preditivos positivos e negativos para PCR no sangue e no material de LBA são, respectivamente, de 67-100% e de 55-95%. A PCR não discrimina colonização de infecção. Em uma revisão da literatura de 65 casos de DPOC associado à API, mostrou-se que 43 pacientes tiveram diagnóstico de API confirmado, e 22 tiveram diagnóstico provável; 46  (71%) foram tratados com antifúngicos e 19  (30%) com múltiplos agentes. Dos 65  pacientes, 49 (91%) morreram (provavelmente em virtude do diagnóstico tardio, idade elevada, presença de comorbidades ou reserva pulmonar comprometida) e 31 (48%) receberam ventilação mecânica. Todos os que sobreviveram apresentavam API comprovada. API e imunossupressão A reversão da imunossupressão é um fator importante para o sucesso terapêutico da API.(1) Pacientes com neutropenia prolongada (> 10 dias) e risco para API podem se beneficiar do uso de GM-CSF. Há registro de casos individualizados de uso de IFN-δ como terapia adjuvante ao antifúngico para API em imunodeprimidos não-neutropênicos, em particular naqueles com doença granulomatosa crônica. A suspensão ou a redução de corticoide é crítica para o sucesso terapêutico da API. Tratamento empírico para neutropênicos com suspeita de API Recomendações chave O uso empírico de anfotericina B lipossomal, voriconazol, itraconazol ou caspofungina é recomendado para pacientes de alto risco que apresentam neutropenia prolongada e febre persistente, a despeito da antibioticoterapia de amplo espectro (Quadro 1) enquanto a investigação diagnóstica é conduzida.(1) O tratamento empírico não é recomendado para pacientes com neutropenia de curto prazo (menos de 10 dias), exceto na presença de achados indicativos de API. Profilaxia da API A seleção de pacientes de alto risco é um desafio. J Bras Pneumol. 2009;35(12):1238-1244
  • 5. J Bras Pneumol. 2009;35(12):1238-1244 Itraconazol ou voriconazol Crônica: APCC Itraconazol Ressecção cirúrgica Crônica: Aspergiloma Voriconazol: 6 mg/kg i.v. 12/12 h, seguida por 3 mg/kg i.v. 12/12 h e 200 mg v.o. 12/12 h. Posaconazol: 200 mg 8/8 h Itraconazol: 200 mg i.v./dia ou 12/12 h; Caspofungina: ataque: 70 mg i.v./dia, seguida de 50 mg i.v./dia; Eficaz em neutropênicos; portadores de LMA e síndrome mielodisplásica 12/12 h Similar à API Itraconazol: 200 mg i.v. 12/12 h/2 dias; a seguir: 200 mg i.v./dia ou 200 mg v.o. 12/12h; Uso em população de alto risco para AI Voriconazol: 200 mg v.o. Similar à APNC. Como o tratamento é prolongado, prefere-se a administração oral de um triazólico (voriconazol ou itraconazol) Observações A ressecção cirúrgica pode resultar em alta morbidade e mortalidade Associação com corticosteroide Itraconazol ou voriconazol, em dose similar à API Similar à API Itraconazol: dose dependente da formulação Similar à API Similar à API Caspofungina: ataque: 70 mg i.v./dia, seguida de 50 mg i.v./dia; Tratamento Alternativa ANBL: 3-5 mg/kg i.v./dia; ANBC: 5 mg/kg i.v./dia; Micafungina: 50 mg i.v./dia API: aspergilose pulmonar invasiva; ANBL: anfotericina B lipossomal; ANBC: anfotericina B complexo lipídico; APNC: aspergilose pulmonar necrotizante crônica; APCC: aspergilose pulmonar cavitária crônica; ABPA: aspergilose broncopulmonar alérgica: AI: aspergilose invasiva; e LMA: leucemia mieloide aguda. Profilaxia para AI Tratamento empírico para AI ANBC: 5 mg/kg i.v./dia; ANBL: 3-5 mg/kg i.v./dia; ABPA Aspergiloma complexo Similar à API Similar à API Aspergilose traqueobrônquica Crônica: APNC Quadro 1 - Sumário das recomendações para o tratamento da aspergilose.(1,8) Forma de apresentação Primeira escolha API Voriconazol: 6mg/kg i.v. 12/12 h, seguida por 4 mg/kg i.v. 12/12 h e 200 mg v.o. 12/12 h 1242 Sales MPU
  • 6. Capítulo 5 - Aspergilose: do diagnóstico ao tratamento 1243 O posaconazol pode ser recomendado em transplantados de medula óssea que apresentam rejeição, uso prolongado de altas doses de corticoide, portadores de leucemia mieloide aguda ou de síndrome mielodisplásica que apresentam alto risco para API.(1) O itraconazol pode ser efetivo; porém, a tolerabilidade limita seu uso. Outros tratamentos descritos são a instilação intracavitária de anfotericina e, mais recentemente, o uso de voriconazol. Aspergilose traqueobrônquica Usualmente, esses pacientes apresentam uma doença pulmonar subjacente, lesão cavitária tuberculosa, histoplasmose, sarcoidose, bolha enfisematosa ou doença pulmonar fibrótica.(1) Dentre as complicações com risco de morte incluem-se: hemoptise, fibrose pulmonar e aspergilose invasiva. Os pacientes de risco são aqueles portadores de HIV, neutropênicos e transplantados de pulmão. Há três formas de apresentação: obstrutiva, pseudomembranosa e ulcerativa.(1) Diagnóstico A broncoscopia é o exame inicial mais importante, e a TC de tórax é útil para avaliar se há falha na progressão da lesão na via aérea. O tratamento precoce previne a ruptura da anastomose brônquica e a perda do enxerto, além de resolver as lesões ulcerativas em transplantados de pulmão. Recomendações chave O voriconazol é recomendado como tratamento de primeira escolha.(1) Em virtude da nefrotoxicidade da anfotericina B convencional, o composto lipossomal é recomendado em portadores de transplante pulmonar. A redução da imunossupressão é importante para melhorar a resposta terapêutica. O uso de anfotericina em aerossol pode ser benéfico pelo fato de liberar alta concentração do medicamento no sítio da infecção, mas ainda não há padronização. Aspergilose pulmonar necrotizante crônica A aspergilose pulmonar necrotizante crônica (APNC) tem como característica a destruição lentamente progressiva do pulmão em pacientes com doença pulmonar crônica e leve grau de imunossupressão, como no uso prolongado de corticosteroide sistêmico ou em paciente diabético.(1) Há uma maior evidência para o tratamento com itraconazol oral. Em virtude de o tratamento medicamentoso ser prolongado, a preferência é pela utilização da via oral. Formas crônicas e saprofíticas: Aspergilose pulmonar cavitária crônica (aspergiloma complexo) e aspergiloma Aspergiloma O aspergiloma é um conglomerado de hifas de Aspergillus spp., muco, fibrina e restos celulares no interior de cavidades pulmonares, em cistos e bronquiectasias. Diagnóstico Tosse produtiva crônica, hemoptise em portador de doença pulmonar crônica, associada à alteração radiológica, caracterizada por massa arredondada, algumas vezes móvel, com densidade líquida, dentro de uma cavidade, e separada da parede por espaço aéreo (sinal do crescente), além de espessamento pleural adjacente à cavidade. Aspergilose pulmonar cavitária crônica (aspergiloma complexo) Apresenta-se com múltiplas cavidades contendo ou não aspergiloma, associadas a sintomas pulmonares e sistêmicos e ao aumento de marcadores inflamatórios. Sem tratamento, essas cavidades podem aumentar de tamanho e coalescer. O diagnóstico diferencial deve ser feito com APNC. Tratamento para aspergiloma simples e complexo Dispõem-se, atualmente, de publicações de relatos de casos e de ensaios clínicos não-controlados. A ressecção cirúrgica é o tratamento definitivo para o aspergiloma simples e deve ser selecionado em casos especiais de aspergiloma complexo em virtude da alta morbidade e J Bras Pneumol. 2009;35(12):1238-1244
  • 7. 1244 Sales MPU mortalidade. O uso de itraconazol, voriconazol e, presumivelmente, de posaconazol promove algum beneficio terapêutico com mínimo risco para aqueles não selecionados para cirurgia. A embolização de artéria brônquica é recomendada para aqueles com hemoptise com risco de morte e que deverão receber tratamento medicamentoso ou cirúrgico, em caso de estabilização da hemoptise. A instilação endobrônquica ou intracavitária de anfotericina tem sido relatada em casos isolados com algum sucesso. O tratamento antifúngico prolongado com itraconazol ou voriconazol, talvez até por toda a vida, é recomendado para aspergilose pulmonar cavitária crônica. Referências 1. Walsh TJ, Anaissie EJ, Denning DW, Herbrecht R, Kontoyiannis DP, Marr KA, et al. Treatment of aspergillosis: clinical practice guidelines of the Infectious Diseases Society of America. Clin Infect Dis. 2008;46(3):327-60. 2. Barnes PD, Marr KA. Aspergillosis: spectrum of disease, diagnosis, and treatment. Infect Dis Clin North Am. 2006;20(3):545-61, vi. Sobre a autora Maria da Penha Uchoa Sales Pneumologista. Hospital de Messejana, Fortaleza (CE) Brasil. J Bras Pneumol. 2009;35(12):1238-1244 3. Samarakoon P, Soubani AO. Invasive pulmonary aspergillosis in patients with COPD: a report of five cases and systematic review of the literature. Chron Respir Dis. 2008;5(1):19-27. 4. Pazos C, del Palacio A. Diagnóstico precoz de la aspegilosis invasora en enfermos neutropénicos mediante la detección bisemanal de galactomanano en suero con Platelia® Aspergillus. Rer Iberoam Micol. 2003;20(3):99102. 5. Dolores Moragues M, Amutio E, García-Ruiz JC, Pontón J. Utilidad de la detección de galactomanano en el diagnóstico y seguimiento de la aspergilosis invasora em pacientes hematológicos. Rer Iberoam Micol. 2003;20(3):103-110. 6. Herbrecht R, Denning DW, Patterson TF, Bennett JE, Greene RE, Oestmann JW, et al. Voriconazole versus amphotericin B for primary therapy of invasive aspergillosis. N Engl J Med. 2002;347(6):408-15. 7. Sambatakou H, Dupont B, Lode H, Denning DW. Voriconazole treatment for subacute invasive and chronic pulmonary aspergillosis. Am J Med. 2006;119(6):527. e17-24. 8. Martinez R. An update on the use of antifungal agents. J Bras Pneumol. 2006;32(5):449-60. 9. Ader F, Nseir S, Le Berre R, Leroy S, Tillie-Leblond I, Marquette CH, et al. Invasive pulmonary aspergillosis in chronic obstructive pulmonary disease: an emerging fungal pathogen. Clin Microbiol Infect. 2005;11(6):427-9.