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SOMBRA
April 11th, 2012
Ele olhava para trás de tempos em tempos, tentando divisar na multidão por quem
estava sendo seguido. Do outro lado da rua, eu estava seguro que não ia ser visto.
Eu olhei para trás exagerando o movimento. Sabia que isso deixaria meu perseguidor
tranquilo, achando que não estava sendo visto. Aproveitava os reflexos das vitrines de
lojas ocasionais para observá-lo do outro lado da rua. Esse jogo terminava hoje.
Ele seguia por um caminho novo, diferente do habitual. Não estava indo para o
escritório e, muito menos, para a casa de alguma das “habituais”. Meu único receio era
que pegasse um táxi. Isso iria dificultar as coisas para mim.
No meio de um caso eu percebi que estava sendo seguido. Tentei continuar meu
trabalho, investigando o sujeito e lidar com isso depois, mas descobri que meu
perseguidor estava fazendo perguntas ao meu respeito. Decidi que seria melhor
conseguir algumas respostas eu mesmo.
Quando recebi a ligação achei que seria mais um marido pulando a cerca. A voz era
feminina e tinha aquela rouquidão chorosa. Achei irônico quando descobri que o sujeito
também era um detetive particular.
Quando parei a investigação, já tinha descoberto quase tudo sobre o alvo: nome Marcos
Arantes do Nascimento, 38 anos, pé-rapado, expulso da polícia, largou a faculdade de
direito, virou detetive particular. Irônico.
E perigoso, andava armado, suspeito de desaparecer com alguns clientes caloteiros.
Nada contra. Também odeio clientes caloteiros.
Descobri que ele tinha mentido para algumas clientes sobre a fidelidade dos maridos
para estimular a infidelidade delas. Talvez tenha sido algum desses maridos ou esposas
que tenha me contratado para investigar o sujeito. Talvez tenha sido algum deles que
tenha contratado esse cara para me seguir. Não importa, depois de hoje ele não seguia
mais ninguém.
Um desses clientes inclusive era um velho conhecido meu. A esposa tinha pedido para
eu descobrir se ele andava visitando outros galinheiros. Menti e acabei cantando de
galo. Mundo pequeno. Por via das dúvidas, também passei a andar armado. Marcos
Arantes do Nascimento não nasceu ontem.

FOCO
March 28th, 2012
Ganhou a câmera de aniversário. Era um modelo semiprofissional, sua esposa explicou.
É usada, mas o “moço” disse que está bem conservada. Mas cadê as outras lentes? Que
outras? As outras? Não tem outras. E olhou para a câmera com a teleobjetiva de
200mm em sua mão.
A partir daquele dia, virou o fotógrafo oficial da família. Cadê o Carlos, com aquela
câmera legal dele? Perguntavam. E o Carlos estava do lado de fora da casa, do outro
lado da rua, para conseguir foco.
Se tornou, ao mesmo tempo, a sensação e o alienado de todas as festas. As fotos
parecem de revista. Comentavam. Pareciam de revista mesmo, NationalGeographic.
Sentado no banco da praça, tirava fotos da prima no altar da igreja. Na janela do hotel,
tirava fotos da esposa e filhos deitados na praia. Era a presença e a ausência, sempre
sentidas. Às vezes, acenava.
Tentou aprender a ler lábios para passar o tempo. Um dia, a solidão bateu mais forte e
foi para casa. Ninguém notou. Depois disso, parou de ir em festas e eventos da família.
No dia seguinte, cobravam as fotos. Ele desconversava. Tá no pendrive. Quando passar
pro computador, eu mando. Mas nunca mandava.

PÚBLICO-ALVO
February 7th, 2012
Foi utilizada a tecnologia mais avançada do mundo. Não se economizou dinheiro no
experimento. A criação do animal de estimação perfeito: um gato falante.
Os gatos já são os preferidos pelas pessoas solitárias, a lógica diz que um gato falante
seria ainda mais eficiente. Mas, por algum motivo, o gato não falava.
Todos os fios estavam no lugar, o tratamento foi um sucesso aparente. Apesar disso, os
cientistas tentavam conversar em vão com o gato que olhava com desdém e voltava a
dormir. Eles testavam todos os testes e experimentavam todos os experimentos, mas
nada do gato falar.
Até que um dia, a filha de um dos cientistas visitava o laboratório e o gato finalmente
falou. Conversou com ela por horas. Mas quando os cientistas tentavam falar com o
gato, este nada.
A idéia foi da garotinha: “Se vocês quiserem, eu posso perguntar pra ele porque ele não
fala com vocês.” A resposta do gato foi a pior possível.
O gato explicou porque ele não falava com os cientistas: “Porque vocês não tem nada
de interessante para dizer.” O experimento, enfim, se provou um fracasso. Um animal
de estimação falante que só fala com quem ele quer não é um produto muito bom.
Deram o gato para a garotinha e alteraram o projeto.
Tudo indicava que dessa vez, acertariam. Para a surpresa de todos, outro fracasso. Ao
contrário do gato, o cachorro nunca parava de falar e, o que é pior, só conversava sobre
o BBB.

Mártires da democracia – Artigo de João UBaldo
Ribeiro
November 25, 2013 by carlosvitor de castro · Leave a comment

Sabemos todos que a História muda segundo quem a observa. Para os
contemporâneos dos fatos, a importância que lhes é dada frequentemente é bem
distinta da que terá dentro de poucas décadas. O que era invisível aparece, o que
não tinha importância a adquire, o que era básico se torna acessório, quem era
tratado como gênio ou esperança nem mais é lembrado. E o anedotário de todos os
povos armazena uma fartura de previsões hoje estapafúrdias, vaticínios que se
demonstraram asneiras descomunais, afirmações definitivas cuja validade mal
chegou a aniversariar. Mas isto não impede que continue irresistível a tentação de
dar palpites sobre o chamado veredito da História, é uma …
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A hora íntima – Poema de Vinícius de Moraes
November 23, 2013 by carlosvitor de castro · Leave a comment

Quem pagará o enterro e as flores Se eu me morrer de amores? Quem, dentre
amigos, tão amigo Para estar no caixão comigo? Quem, em meio ao funeral Dirá de
mim: – Nunca fez mal… Quem, bêbedo, chorará em voz alta De não me ter trazido
nada? Quem virá despetalar pétalas No meu túmulo de poeta? Quem jogará
timidamente Na terra um grão de semente? Quem elevará o olhar covarde Até a
estrela da tarde? Quem me dirá palavras mágicas Capazes de empalidecer o
mármore? Quem, oculta em véus escuros Se crucificará nos muros? Quem,
macerada de desgosto Sorrirá: – Rei morto, rei posto… Quantas, debruçadas sobre
o báratro Sentirão …
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Posted in Poesia, Vinicius de Moraes. Taggedwith A hora íntima Vinícius de Moraes, poema de Vinicius de
Moraes.

Fatos e lendas – Artigo de Luis Fernando Veríssimo
November 21, 2013 by carlosvitor de castro · 1 Comment

No dia 22 de novembro de 1963, a Lucia e eu éramos as únicas pessoas felizes numa
certa rua de Copacabana. Todas as outras (está bem, imagino que quase todas as
outras) estavam no mínimo preocupadas com o que tinham acabado de saber, a
notícia da morte do presidente Kennedy em Dallas. Pobre do presidente Kennedy.
Tão moço, tão simpático, com uma família tão bonita. O que significava aquela
morte? O que viria depois daquilo? Era um golpe? Não era um golpe? Que país
maluco! A Lucia e eu tínhamos acabado de ficar noivos. É, naquela época se
noivava. Já estávamos com as alianças, compradas numa joalheria da Santa Clara,
…
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Luis Fernando Verissimo, Fatos e lendas.

Por que se matam presidentes? – Artigo de Roberto
Damatta
November 20, 2013 by carlosvitor de castro · Leave a comment

Escrevo numa quarta-feira, 13, uma história que você está lendo hoje, quarta-feira
20, sobre a morte jamais conjeturada do 35.º presidente dos Estados Unidos –
John F. Kennedy -, ocorrida no dia 22 de novembro de 1963, nesta próxima sextafeira. Só nós, humanos, combinamos com tanta desenvoltura o presente com um
passado tão eloquentemente marcado por 50 anos. Meio século de um tempo que,
visto da perspectiva deste mundo no qual as tragédias são diárias e o terrorismo
político e a hipocrisia são moedas correntes, ele nos parece distante e até mesmo
incompreensível. De fato, para quem, como eu, aprendeu com o pai que um homem
só deve ter uma …
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Fumando escondido – Artigo de Roberto Damatta
October 31, 2013 by carlos vitor de castro · Leave a comment

Eles ainda eram cinco quando a tia solteirona e magra viu a fumaça saindo da
cabana que os sobrinhos tinham construído no terreno baldio ao lado da casa onde
moravam. Viviam na Belo Horizonte dos anos 40 e, mesmo um bairro nobre da
cidade, em torno do Minas Tênis Clube, muitos lotes cheios de ―mato‖ esperavam as
construções que hoje sombreiam a cidade. A turma de 12 meninos que os cinco
irmãos naturalmente atraíam havia construído as paredes de restos de caixote e
caixas de papelão, o telhado de folhas de bananeira e de galhos arrancados dos
arbustos. Um muro servia como fundo e arrimo da tal cabana que saltava …
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escondido Roberto Damatta.

A flor do embiruçu – Poema de Machado de Assis
October 29, 2013 by carlos vitor de castro · Leave a comment

Noite, melhor que o dia, quem não te ama? FIL. ELIS. Quando a noturna sombra
envolve a terra E à paz convida o lavrador cansado, À fresca brisa o seio delicado A
branca flor do embiruçu descerra. E das límpidas lágrimas que chora A noite amiga,
ela recolhe alguma; A vida bebe na ligeira bruma, Até que rompe no horizonte a
aurora. Então, à luz nascente, a flor modesta, Quando tudo o que vive alma recobra,
Languidamente as suas folhas dobra, E busca o sono quando tudo é festa. Suave
imagem da alma que suspira E odeia a turba vã! da alma que sente Agitar-se-lhe a
asa impaciente E a …
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de Machado de Assis.

Amor e medo – Poema de Casimiro de Abreu
October 27, 2013 by carlos vitor de castro · Leave a comment

Quando eu te vejo e me desvio cauto Da luz de fogo que te cerca, ó bela, Contigo
dizes, suspirando amores: — ―Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!‖ Como te
enganas! meu amor, é chama Que se alimenta no voraz segredo, E se te fujo é que te
adoro louco… És bela — eu moço; tens amor, eu — medo… Tenho medo de mim, de
ti, de tudo, Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes. Das folhas secas, do chorar das
fontes, Das horas longas a correr velozes. O véu da noite me atormenta em dores A
luz da aurora me enternece os seios, E ao vento fresco …
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Casimiro de Abreu.

A morte no Calvário – Poema de Machado de Assis
October 27, 2013 by carlos vitor de castro · Leave a comment
Semana Santa, 1858 Ao meu amigo o padre Silveira sarmento Consummatum est! I
Ei-lo, vai sobre o alto Calvário Morrer piedoso e calmo em uma cruz! Povos!
naquele fúnebre sudário Envolto vai um sol de eterna luz! Ali toda descansa a
humanidade; É o seu salvador, o seu Moisés! Aquela cruz é o sol da liberdade Ante
o qual são iguais povos e reis! Povos, olhai! — As fachas mortuárias São-lhe os
louros, as palmas, e os troféus! Povos, olhai! — As púrpuras cesáreas Valem acaso
em face do Homem-Deus? Vede! mana-lhe o sangue das feridas Como o preço da
nossa redenção. Ide banhar os braços parricidas Nas águas desse …
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Assis,poema de Machado de Assis.

Vinte anos sem Fellini – Artigo de Arnaldo Jabor
October 22, 2013 by carlos vitor de castro · Leave a comment

Fellini morreu há vinte anos. Tinha recebido o Oscar pelo conjunto da obra, mas
sua vida estava acabando. Logo depois, teve um infarto e foi-se. Giulietta Masina,
sua mulher por 50 anos, já estava doente e morreu logo depois dele. Já faz vinte
anos. Tudo agora faz vinte anos e parece outra era, a era analógica, quase uma préhistória de hoje. Era outro cinema; ele, Bergman, Antonioni tinham uma grandeza
hoje perdida. Eu me alimentava de Fellini; meu primeiro filme se chamava O Circo,
onde fui atrás das gordas rumbeiras do subúrbio carioca, dos vagabundos da arena,
dos palhaços sem graça e dos ―bacalhaus‖ maltratados, fui em busca desse grotesco
…
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Posted in ArnaldoJabor, Artigo.Taggedwith artigo de Arnaldo Jabor, Vinte anos sem Fellini, Vinte anos sem
Fellini Arnaldo Jabor.

Canção de barco e de olvido – Poema de Mário
Quintana
October 22, 2013 by carlos vitor de castro · Leave a comment

Para Augusto Meyer Não quero a negra desnuda. Não quero o baú do morto. Eu
quero o mapa das nuvens E um barco bem vagaroso. Ai esquinas esquecidas… Ai
lampiões de fins de linha… Quem me abana das antigas Janelas de guilhotina? Que
eu vou passando e passando, Como em busca de outros ares… Sempre de barco
passando, Cantando os meus quintanares… No mesmo instante olvidando Tudo o
de que te lembrares.
Posted in Mário Quintana, Poesia. Taggedwith Canção de barco e de olvido, Canção de barco e de olvido Mário
Quintana, Poema de Mário Quintana.

A Cidade Antiga – Poema de Vinícius de Moraes
October 19, 2013 by carlos vitor de castro · Leave a comment

Houve tempo em que a cidade tinha pêlo na axila E em que os parques usavam
cinto de castidade As gaivotas do Pharoux não contavam em absoluto Com a
posterior invenção dos kamikazes De resto, a metrópole era inexpugnável Com
Joãozinho da Lapa e Ataliba de Lara. Houve tempo em que se dizia: LU-GO-LI-NA
U, loura; O, morena; I, ruiva; A, mulata! Vogais! tônico para o cabelo da poesia Já
escrevi, certa vez, vossa triste balada Entre os minuetos sutis do comércio imediato
As portadoras de êxtase e de permanganato! Houve um tempo em que um morro
era apenas um morro E não um camelô de colete brilhante Piscando intermitente …
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Posted in Poesia, Vinicius de Moraes. Taggedwith A Cidade Antiga Vinícius de Moraes, poema de Vinicius de
Moraes.

A escolinha da doutora Dilma – Artigo de ElioGaspari
October 16, 2013 by carlos vitor de castro · Leave a comment

A doutora Dilma entrou pela borda no debate da própria sucessão, mandando um
recado às pessoas que pretendem ocupar sua cadeira: ―Elas têm que estudar
muito.‖ É o velho discurso da competência. Quem está no governo desqualifica
quem não está sob o argumento do eu-sei-do-que-estou-falando. Foi usado à
exaustão para desqualificar um torneiro mecânico monoglota, mal relacionado com
a gramática, cuja biblioteca cabia numa mochila escolar. É a ele que a doutora deve
a presidência. Todos os governos prometem coisas que não cumprem ou metem-se
em projetos fracassados. Até aí, tudo bem. O que a doutora não precisa é recorrer à
desqualificação como a lavanda mistificadora. Se é assim, conviria …
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Posted in Artigo, ElioGaspari.

Paradoxos – Artigo de Roberto Damatta
October 16, 2013 by carlos vitor de castro · Leave a comment

Quando cheguei em Harvard em 1963, um jovem instrutor que tinha interesse num
país obscuro e confuso chamado Brasil teve a gentileza de me mostrar a
universidade. Aqui morou Agassiz, ali Galbraith, acolá TalcottParsons, indicava
meu anfitrião. Vi o PeabodyMuseum, onde estudei e, finalmente, como uma
apoteose, fui levado à maior biblioteca universitária do planeta: a Widener Library,
com seus 30 mil metros quadrados e seus 3 milhões de livros, que, mudos e
alinhavados em imensas prateleiras, formam um labirinto de 92 quilômetros. Essa
é apenas uma parte dos mais de 16 milhões de volumes do sistema de bibliotecas da
universidade, explicou meu generoso guia. Só fiquei tão …
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Posted in Artigo, Roberto Damatta. Taggedwith Artigo de Roberto Damatta, Paradoxos Roberto Damatta.

Republicanos: os homens-bomba da América – Artigo
de Arnaldo Jabor
October 15, 2013 by carlos vitor de castro · Leave a comment

Estamos vendo hoje a loucura da América republicana. Eles topam destruir o país
para impedir um bom governo para o Obama. Os republicanos estão provando que
são os homens-bomba americanos. Morrem junto com o calote da dívida, com a
crise profunda que estão programando, mas nem se tocam. Não conseguem aceitar
o plano de saúde, uma espécie de SUS, o ―Obamacare‖, para proteger 30 milhões de
americanos que não têm seguro-saúde. Eu já morei nos EUA, antes dos anos 60, no
coração da ―América profunda‖, na Flórida, e vi como o americano médio tem a
―alma republicana‖. A cidade era igual aquela do Truman Show. As ruas, pessoas,
rituais, sorrisos …
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Detetive particular investiga outro detetive

  • 1. SOMBRA April 11th, 2012 Ele olhava para trás de tempos em tempos, tentando divisar na multidão por quem estava sendo seguido. Do outro lado da rua, eu estava seguro que não ia ser visto. Eu olhei para trás exagerando o movimento. Sabia que isso deixaria meu perseguidor tranquilo, achando que não estava sendo visto. Aproveitava os reflexos das vitrines de lojas ocasionais para observá-lo do outro lado da rua. Esse jogo terminava hoje. Ele seguia por um caminho novo, diferente do habitual. Não estava indo para o escritório e, muito menos, para a casa de alguma das “habituais”. Meu único receio era que pegasse um táxi. Isso iria dificultar as coisas para mim. No meio de um caso eu percebi que estava sendo seguido. Tentei continuar meu trabalho, investigando o sujeito e lidar com isso depois, mas descobri que meu perseguidor estava fazendo perguntas ao meu respeito. Decidi que seria melhor conseguir algumas respostas eu mesmo. Quando recebi a ligação achei que seria mais um marido pulando a cerca. A voz era feminina e tinha aquela rouquidão chorosa. Achei irônico quando descobri que o sujeito também era um detetive particular. Quando parei a investigação, já tinha descoberto quase tudo sobre o alvo: nome Marcos Arantes do Nascimento, 38 anos, pé-rapado, expulso da polícia, largou a faculdade de direito, virou detetive particular. Irônico. E perigoso, andava armado, suspeito de desaparecer com alguns clientes caloteiros. Nada contra. Também odeio clientes caloteiros. Descobri que ele tinha mentido para algumas clientes sobre a fidelidade dos maridos para estimular a infidelidade delas. Talvez tenha sido algum desses maridos ou esposas que tenha me contratado para investigar o sujeito. Talvez tenha sido algum deles que tenha contratado esse cara para me seguir. Não importa, depois de hoje ele não seguia mais ninguém. Um desses clientes inclusive era um velho conhecido meu. A esposa tinha pedido para eu descobrir se ele andava visitando outros galinheiros. Menti e acabei cantando de galo. Mundo pequeno. Por via das dúvidas, também passei a andar armado. Marcos Arantes do Nascimento não nasceu ontem. FOCO March 28th, 2012
  • 2. Ganhou a câmera de aniversário. Era um modelo semiprofissional, sua esposa explicou. É usada, mas o “moço” disse que está bem conservada. Mas cadê as outras lentes? Que outras? As outras? Não tem outras. E olhou para a câmera com a teleobjetiva de 200mm em sua mão. A partir daquele dia, virou o fotógrafo oficial da família. Cadê o Carlos, com aquela câmera legal dele? Perguntavam. E o Carlos estava do lado de fora da casa, do outro lado da rua, para conseguir foco. Se tornou, ao mesmo tempo, a sensação e o alienado de todas as festas. As fotos parecem de revista. Comentavam. Pareciam de revista mesmo, NationalGeographic. Sentado no banco da praça, tirava fotos da prima no altar da igreja. Na janela do hotel, tirava fotos da esposa e filhos deitados na praia. Era a presença e a ausência, sempre sentidas. Às vezes, acenava. Tentou aprender a ler lábios para passar o tempo. Um dia, a solidão bateu mais forte e foi para casa. Ninguém notou. Depois disso, parou de ir em festas e eventos da família. No dia seguinte, cobravam as fotos. Ele desconversava. Tá no pendrive. Quando passar pro computador, eu mando. Mas nunca mandava. PÚBLICO-ALVO February 7th, 2012 Foi utilizada a tecnologia mais avançada do mundo. Não se economizou dinheiro no experimento. A criação do animal de estimação perfeito: um gato falante. Os gatos já são os preferidos pelas pessoas solitárias, a lógica diz que um gato falante seria ainda mais eficiente. Mas, por algum motivo, o gato não falava. Todos os fios estavam no lugar, o tratamento foi um sucesso aparente. Apesar disso, os cientistas tentavam conversar em vão com o gato que olhava com desdém e voltava a dormir. Eles testavam todos os testes e experimentavam todos os experimentos, mas nada do gato falar. Até que um dia, a filha de um dos cientistas visitava o laboratório e o gato finalmente falou. Conversou com ela por horas. Mas quando os cientistas tentavam falar com o gato, este nada. A idéia foi da garotinha: “Se vocês quiserem, eu posso perguntar pra ele porque ele não fala com vocês.” A resposta do gato foi a pior possível. O gato explicou porque ele não falava com os cientistas: “Porque vocês não tem nada de interessante para dizer.” O experimento, enfim, se provou um fracasso. Um animal
  • 3. de estimação falante que só fala com quem ele quer não é um produto muito bom. Deram o gato para a garotinha e alteraram o projeto. Tudo indicava que dessa vez, acertariam. Para a surpresa de todos, outro fracasso. Ao contrário do gato, o cachorro nunca parava de falar e, o que é pior, só conversava sobre o BBB. Mártires da democracia – Artigo de João UBaldo Ribeiro November 25, 2013 by carlosvitor de castro · Leave a comment Sabemos todos que a História muda segundo quem a observa. Para os contemporâneos dos fatos, a importância que lhes é dada frequentemente é bem distinta da que terá dentro de poucas décadas. O que era invisível aparece, o que não tinha importância a adquire, o que era básico se torna acessório, quem era tratado como gênio ou esperança nem mais é lembrado. E o anedotário de todos os povos armazena uma fartura de previsões hoje estapafúrdias, vaticínios que se demonstraram asneiras descomunais, afirmações definitivas cuja validade mal chegou a aniversariar. Mas isto não impede que continue irresistível a tentação de dar palpites sobre o chamado veredito da História, é uma … Continue reading → Posted in Artigo, João Ubaldo Ribeiro. Taggedwith artigo de João Ubaldo Ribeiro, Mártires da democracia. A hora íntima – Poema de Vinícius de Moraes November 23, 2013 by carlosvitor de castro · Leave a comment Quem pagará o enterro e as flores Se eu me morrer de amores? Quem, dentre amigos, tão amigo Para estar no caixão comigo? Quem, em meio ao funeral Dirá de mim: – Nunca fez mal… Quem, bêbedo, chorará em voz alta De não me ter trazido nada? Quem virá despetalar pétalas No meu túmulo de poeta? Quem jogará timidamente Na terra um grão de semente? Quem elevará o olhar covarde Até a estrela da tarde? Quem me dirá palavras mágicas Capazes de empalidecer o mármore? Quem, oculta em véus escuros Se crucificará nos muros? Quem, macerada de desgosto Sorrirá: – Rei morto, rei posto… Quantas, debruçadas sobre o báratro Sentirão … Continue reading → Posted in Poesia, Vinicius de Moraes. Taggedwith A hora íntima Vinícius de Moraes, poema de Vinicius de Moraes. Fatos e lendas – Artigo de Luis Fernando Veríssimo
  • 4. November 21, 2013 by carlosvitor de castro · 1 Comment No dia 22 de novembro de 1963, a Lucia e eu éramos as únicas pessoas felizes numa certa rua de Copacabana. Todas as outras (está bem, imagino que quase todas as outras) estavam no mínimo preocupadas com o que tinham acabado de saber, a notícia da morte do presidente Kennedy em Dallas. Pobre do presidente Kennedy. Tão moço, tão simpático, com uma família tão bonita. O que significava aquela morte? O que viria depois daquilo? Era um golpe? Não era um golpe? Que país maluco! A Lucia e eu tínhamos acabado de ficar noivos. É, naquela época se noivava. Já estávamos com as alianças, compradas numa joalheria da Santa Clara, … Continue reading → Posted in Artigo, Crônica, Luis Fernando Verissimo. Taggedwith artigo de Luis Fernando Veríssimo, crônica de Luis Fernando Verissimo, Fatos e lendas. Por que se matam presidentes? – Artigo de Roberto Damatta November 20, 2013 by carlosvitor de castro · Leave a comment Escrevo numa quarta-feira, 13, uma história que você está lendo hoje, quarta-feira 20, sobre a morte jamais conjeturada do 35.º presidente dos Estados Unidos – John F. Kennedy -, ocorrida no dia 22 de novembro de 1963, nesta próxima sextafeira. Só nós, humanos, combinamos com tanta desenvoltura o presente com um passado tão eloquentemente marcado por 50 anos. Meio século de um tempo que, visto da perspectiva deste mundo no qual as tragédias são diárias e o terrorismo político e a hipocrisia são moedas correntes, ele nos parece distante e até mesmo incompreensível. De fato, para quem, como eu, aprendeu com o pai que um homem só deve ter uma … Continue reading → Fumando escondido – Artigo de Roberto Damatta October 31, 2013 by carlos vitor de castro · Leave a comment Eles ainda eram cinco quando a tia solteirona e magra viu a fumaça saindo da cabana que os sobrinhos tinham construído no terreno baldio ao lado da casa onde moravam. Viviam na Belo Horizonte dos anos 40 e, mesmo um bairro nobre da cidade, em torno do Minas Tênis Clube, muitos lotes cheios de ―mato‖ esperavam as construções que hoje sombreiam a cidade. A turma de 12 meninos que os cinco irmãos naturalmente atraíam havia construído as paredes de restos de caixote e
  • 5. caixas de papelão, o telhado de folhas de bananeira e de galhos arrancados dos arbustos. Um muro servia como fundo e arrimo da tal cabana que saltava … Continue reading → Posted in Artigo, Roberto Damatta. Taggedwith Artigo de Roberto Damatta, Fumando escondido, Fumando escondido Roberto Damatta. A flor do embiruçu – Poema de Machado de Assis October 29, 2013 by carlos vitor de castro · Leave a comment Noite, melhor que o dia, quem não te ama? FIL. ELIS. Quando a noturna sombra envolve a terra E à paz convida o lavrador cansado, À fresca brisa o seio delicado A branca flor do embiruçu descerra. E das límpidas lágrimas que chora A noite amiga, ela recolhe alguma; A vida bebe na ligeira bruma, Até que rompe no horizonte a aurora. Então, à luz nascente, a flor modesta, Quando tudo o que vive alma recobra, Languidamente as suas folhas dobra, E busca o sono quando tudo é festa. Suave imagem da alma que suspira E odeia a turba vã! da alma que sente Agitar-se-lhe a asa impaciente E a … Continue reading → Posted in Machado de Assis, Poesia. Taggedwith A flor do embiruçu, A flor do embiruçu Machado de Assis,poema de Machado de Assis. Amor e medo – Poema de Casimiro de Abreu October 27, 2013 by carlos vitor de castro · Leave a comment Quando eu te vejo e me desvio cauto Da luz de fogo que te cerca, ó bela, Contigo dizes, suspirando amores: — ―Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!‖ Como te enganas! meu amor, é chama Que se alimenta no voraz segredo, E se te fujo é que te adoro louco… És bela — eu moço; tens amor, eu — medo… Tenho medo de mim, de ti, de tudo, Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes. Das folhas secas, do chorar das fontes, Das horas longas a correr velozes. O véu da noite me atormenta em dores A luz da aurora me enternece os seios, E ao vento fresco … Continue reading → Posted in Casimiro de Abreu, Poesia. Taggedwith Amor e medo, Amor e medo Casimiro de Abreu, poema de Casimiro de Abreu. A morte no Calvário – Poema de Machado de Assis October 27, 2013 by carlos vitor de castro · Leave a comment
  • 6. Semana Santa, 1858 Ao meu amigo o padre Silveira sarmento Consummatum est! I Ei-lo, vai sobre o alto Calvário Morrer piedoso e calmo em uma cruz! Povos! naquele fúnebre sudário Envolto vai um sol de eterna luz! Ali toda descansa a humanidade; É o seu salvador, o seu Moisés! Aquela cruz é o sol da liberdade Ante o qual são iguais povos e reis! Povos, olhai! — As fachas mortuárias São-lhe os louros, as palmas, e os troféus! Povos, olhai! — As púrpuras cesáreas Valem acaso em face do Homem-Deus? Vede! mana-lhe o sangue das feridas Como o preço da nossa redenção. Ide banhar os braços parricidas Nas águas desse … Continue reading → Posted in Machado de Assis, Poesia. Taggedwith A morte no Calvário, A morte no Calvário Machado de Assis,poema de Machado de Assis. Vinte anos sem Fellini – Artigo de Arnaldo Jabor October 22, 2013 by carlos vitor de castro · Leave a comment Fellini morreu há vinte anos. Tinha recebido o Oscar pelo conjunto da obra, mas sua vida estava acabando. Logo depois, teve um infarto e foi-se. Giulietta Masina, sua mulher por 50 anos, já estava doente e morreu logo depois dele. Já faz vinte anos. Tudo agora faz vinte anos e parece outra era, a era analógica, quase uma préhistória de hoje. Era outro cinema; ele, Bergman, Antonioni tinham uma grandeza hoje perdida. Eu me alimentava de Fellini; meu primeiro filme se chamava O Circo, onde fui atrás das gordas rumbeiras do subúrbio carioca, dos vagabundos da arena, dos palhaços sem graça e dos ―bacalhaus‖ maltratados, fui em busca desse grotesco … Continue reading → Posted in ArnaldoJabor, Artigo.Taggedwith artigo de Arnaldo Jabor, Vinte anos sem Fellini, Vinte anos sem Fellini Arnaldo Jabor. Canção de barco e de olvido – Poema de Mário Quintana October 22, 2013 by carlos vitor de castro · Leave a comment Para Augusto Meyer Não quero a negra desnuda. Não quero o baú do morto. Eu quero o mapa das nuvens E um barco bem vagaroso. Ai esquinas esquecidas… Ai lampiões de fins de linha… Quem me abana das antigas Janelas de guilhotina? Que eu vou passando e passando, Como em busca de outros ares… Sempre de barco passando, Cantando os meus quintanares… No mesmo instante olvidando Tudo o de que te lembrares.
  • 7. Posted in Mário Quintana, Poesia. Taggedwith Canção de barco e de olvido, Canção de barco e de olvido Mário Quintana, Poema de Mário Quintana. A Cidade Antiga – Poema de Vinícius de Moraes October 19, 2013 by carlos vitor de castro · Leave a comment Houve tempo em que a cidade tinha pêlo na axila E em que os parques usavam cinto de castidade As gaivotas do Pharoux não contavam em absoluto Com a posterior invenção dos kamikazes De resto, a metrópole era inexpugnável Com Joãozinho da Lapa e Ataliba de Lara. Houve tempo em que se dizia: LU-GO-LI-NA U, loura; O, morena; I, ruiva; A, mulata! Vogais! tônico para o cabelo da poesia Já escrevi, certa vez, vossa triste balada Entre os minuetos sutis do comércio imediato As portadoras de êxtase e de permanganato! Houve um tempo em que um morro era apenas um morro E não um camelô de colete brilhante Piscando intermitente … Continue reading → Posted in Poesia, Vinicius de Moraes. Taggedwith A Cidade Antiga Vinícius de Moraes, poema de Vinicius de Moraes. A escolinha da doutora Dilma – Artigo de ElioGaspari October 16, 2013 by carlos vitor de castro · Leave a comment A doutora Dilma entrou pela borda no debate da própria sucessão, mandando um recado às pessoas que pretendem ocupar sua cadeira: ―Elas têm que estudar muito.‖ É o velho discurso da competência. Quem está no governo desqualifica quem não está sob o argumento do eu-sei-do-que-estou-falando. Foi usado à exaustão para desqualificar um torneiro mecânico monoglota, mal relacionado com a gramática, cuja biblioteca cabia numa mochila escolar. É a ele que a doutora deve a presidência. Todos os governos prometem coisas que não cumprem ou metem-se em projetos fracassados. Até aí, tudo bem. O que a doutora não precisa é recorrer à desqualificação como a lavanda mistificadora. Se é assim, conviria … Continue reading → Posted in Artigo, ElioGaspari. Paradoxos – Artigo de Roberto Damatta October 16, 2013 by carlos vitor de castro · Leave a comment Quando cheguei em Harvard em 1963, um jovem instrutor que tinha interesse num país obscuro e confuso chamado Brasil teve a gentileza de me mostrar a universidade. Aqui morou Agassiz, ali Galbraith, acolá TalcottParsons, indicava meu anfitrião. Vi o PeabodyMuseum, onde estudei e, finalmente, como uma
  • 8. apoteose, fui levado à maior biblioteca universitária do planeta: a Widener Library, com seus 30 mil metros quadrados e seus 3 milhões de livros, que, mudos e alinhavados em imensas prateleiras, formam um labirinto de 92 quilômetros. Essa é apenas uma parte dos mais de 16 milhões de volumes do sistema de bibliotecas da universidade, explicou meu generoso guia. Só fiquei tão … Continue reading → Posted in Artigo, Roberto Damatta. Taggedwith Artigo de Roberto Damatta, Paradoxos Roberto Damatta. Republicanos: os homens-bomba da América – Artigo de Arnaldo Jabor October 15, 2013 by carlos vitor de castro · Leave a comment Estamos vendo hoje a loucura da América republicana. Eles topam destruir o país para impedir um bom governo para o Obama. Os republicanos estão provando que são os homens-bomba americanos. Morrem junto com o calote da dívida, com a crise profunda que estão programando, mas nem se tocam. Não conseguem aceitar o plano de saúde, uma espécie de SUS, o ―Obamacare‖, para proteger 30 milhões de americanos que não têm seguro-saúde. Eu já morei nos EUA, antes dos anos 60, no coração da ―América profunda‖, na Flórida, e vi como o americano médio tem a ―alma republicana‖. A cidade era igual aquela do Truman Show. As ruas, pessoas, rituais, sorrisos … Continue reading →