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Agrupamento de Escolas de Samora Correia
        EB 2, 3 Prof. João Fernandes Pratas


  Dia 21 de maio de 2012, o escritor
     Xico Braga estará na nossa
         Biblioteca Escolar!




“Nasceu em 1950.

É professor na Escola Secundária Moinho de Maré. Mora no
Concelho do Seixal. Escreveu uns pequeninos livros de poesia. É
avô desde Outubro de 2005 e está a gostar muito.”

É o que se pode ler na capa do seu livro Estórias de um avô.
5 minutos de estória é o seu último livro.




     Estes dois livros do escritor estarão à venda na
Biblioteca até ao dia 21 de maio. Haverá uma sessão de
autógrafo no final da atividade, destinada aos alunos do
2º ciclo.

       Reserva ou compra já o teu exemplar!
Do livro 5 minutos de estória                           (textos cedidos pelo autor)


A minhoca preguiçosa

       “Meninas! Depressa e bem… ninguém” respondia ela, altiva, quando as outras a
repreendiam da morosidade com que cavava os seus túneis na terra tão fresquinha, onde moravam.
       Era, pois era – todas as outras o diziam –, uma minhoca amiga do seu amigo, simpática, com
sentido de humor, boa contadora de estórias quando se juntavam a conversar depois das tarefas do
dia. Mas, c‟os diachos! tão preguiçosa que fazia impressão. Pareciam metros, os centímetros que ela
tinha de escavar; perdia-se a meio do impulso e ficava parada, tempos infindos até, por fim, o corpo
se estender, perfurando, por ação da própria inércia do seu impulso inicial, a maciez daquela terra
bem drenada. Depois, ali ficava à espera da vontade de criar um novo impulso.
       Todos os três dias, as minhocas tinham de subir à superfície, para, daí, arrancarem para nova
etapa de perfuração da terra. Ela lá vinha, um pouco mais ligeira usando um furo já cavado e,
depois de três ou quatro suspiros profundos a provocar o sorriso gozão das companheiras, lá
tomava o difícil balanço para romper a terra. Naquele dia…
       O calor que as recebeu quando vieram à luz do dia apressou-as. Deram graças por terem
subido depois de uma rega recente, a facilitar-lhes a tarefa. A mais velha, líder dos trabalhos, pensou
de imediato na nossa minhoca e gritou-lhe:
       – Despacha-te! O Sol vai abrasar.
       Ela suspirava, a ganhar alento. Por fim, já todas as outras tinham mergulhado, respirou
fundo e enfiou-se pelo meio de dois bracinhos duma raiz de erva juvenil.
       Meio corpo já penetrou a terra, o outro meio está estendido no solo em desafio a pássaro
caçador; ao fim de um tempo longo, um bom pedaço do seu corpo, em bamboleios lentos, lá se vai
afundando; de fora, ainda fica um centímetro esquecido da cauda, que começa a ser coberto pela
luz viva do Sol. Impiedosa, furando entra as folhas do arbusto, a luz aquece a cauda da minhoca,
perdida na indecisão de continuar a escavar a terra. Quando a dor da queimadura a faz gritar, e só
então mergulhar a cauda, já não pode evitar as risadas das amigas que, alarmadas, vieram junto a ela,
solidárias e, agora, percebendo o que acontecera, miram, jocosas, o resultado ardente da preguiça.
Pela primeira vez, sentiu-se envergonhada.
       Durante dois dias, foi dispensada das tarefas de perfuração para sarar a ferida e esquecer as
dores. Quando a líder a veio visitar, para saber se já estava melhor, e a olhou com aquele seu ar
muito sério, a impor respeito, mas a abraçá-la de bondade, ela sentiu um formigueiro pelo corpo
todo e disse, num tom sincero e envergonhado:
       – Eu aprendi a lição. Eu vou mudar, prometo.
       Na verdade, ela continua vagarosa a perfurar a terra, mas… agora, quando vêm à superfície,
é a primeira a mergulhar.
O para-raios

        Lá estavam, um no cimo da torre da igreja e, ainda mais alto, outro no cimo da chaminé da
fábrica. Eram os para-raios que havia na terra onde eu morava. Eram a coisa mais alta, no cimo das
construções mais altas que lá havia. De quando em vez, deitados no chão, debaixo duma oliveira
grande, a descansarmos das brincadeiras, era neles que os nossos olhos descansavam a alargar
horizontes de fascínio, antes de os comentários surgirem a expressar os nossos desejos das alturas.
Sim, pelo menos uma meia dúzia entre nós queria ser aviador.
        Eu morava perto da fábrica e sabia que, em caso de tempestade, o para-raios protegia-me. Só
não sabia exatamente de quê. Até que...
        A eletricidade fora-se. A minha mãe acendera o candeeiro a petróleo e ia alinhavando as
bainhas das calças que estava a fazer. Nós, eu e as minhas irmãs, fingíamos que não tínhamos medo.
E era preciso muito fingimento pois o temporal era medonho. Ouvia-se a chuva forte a bater sobre
o telhado e o vento silvava com requintes de malvadez.
        O primeiro raio brilhou muito antes de ouvirmos a sua foz rouca. Estava longe a trovoada.
Mas, pouco a pouco, foi diminuindo o intervalo entre a luz que entrava pelas frestas das janelas e
do postigo da porta e os rugidos furiosos do trovão. Começou a ser difícil fingir.
        Depois sucederam três coisas em simultâneo: uma luz intensa, um barulho nunca ouvido, um
saltar do banco em que estávamos sentados. Seguiram-se os nossos gritos e a corrida para os braços
da nossa mãe, também ela assustada. Esquecemo-nos de fingir e mostrávamos todos o medo que
sentíamos.
        – Foi um raio que caiu aqui mesmo junto a nós – disse ela.
        Mais dois ou três raios e trovões ainda perto; depois, foi-se afastando a trovoada e os nossos
corações retomavam o seu bater normal. Lembro-me e ter dormido profundamente, nessa noite,
cansado do medo que senti.
        No outro dia... No outro dia, já estava tudo bem, esquecidos os cagaços. Era a notícia do
bairro: tinha caído um raio no para-raios da fábrica.
        “Eu não tive medo” “Só me assustei, não estava à espera” “Medo? Eu sei que com os para-
raios não há azar.” Assim basofávamos uns com os outros em afirmações de valentia.
        – A minha irmã até chorou! – disse eu quando me perguntaram se eu tivera medo. Era
verdade e não fiquei mal visto.
        Olhei o para-raios em cima da fábrica. E não é que me apeteceu agradecer-lhe?
A Tesoura

        Recortava, recortava, umas vezes a direito, outras vezes a desenhar largos círculos ou ovais.
Dependia muito da mão que a manejava. Às vezes, e disso ela gostava particularmente, limitava-se a
cortar um fio, no final duma costura. Sentia-se como um ponto final parágrafo.
        Um dia teve de fazer das tripas coração. Nunca soube explicar quais as circunstâncias que a
isso a obrigaram, mas teve de cortar cabelo atrás de cabelo, um preto, outro aloirado, mas todo ele
com um cheirinho a pedir muita água, muito sabão. Ainda por cima, além da côr diferente, um era
liso, outro cheio de caracóis.
        Não, não gostou. Foi uma experiência muito desagradável.
        Felizmente, logo depois, recebeu uma inesperada recompensa: foi afiada. Ui! Que sensação
mais gostosa – como dizia uma sua prima brasileira – ser afiada pelas carícias daquela pedra a
rodar, a rodar. Sentiu-se nova.
      Durante anos, recortou, seguindo o traço de giz nos tecidos: fez calças e casacos,
camisas, robes, vestidos, saias, e roupões. Cortou papéis, fios, cartão. Numa emergência,
um dia, cortou rabos de bacalhau seco. Achou piada à sensação.
      Sim, às vezes, recebia a sua paga boa. Sempre que a afiavam, sentia-se recompensada.
      Um dia, foi fechada numa gaveta e dormiu uns anos bons, esquecida.
       Hoje acordou. Há um movimento estranho. Olhou para si e viu-se cheia de ferrugem. Sorriu.
“Tinha de ser” pensou. “Os anos que já levo”.
       À sua volta há conversas variadas. Vêm de facas, garfos, colheres, púcaros, castiçais,
fechaduras, chaves, ferraduras, enxadas, sachos, forquilhas, enchós, serras, serrotes, martelos, maços,
picaretas, e outras tesouras como ela.
       Sentem todas um nervoso miudinho. Que ferramenta irão ser, depois de nova fundição?
       “Eu gostava tanto de voltar a ser uma tesoura de alfaiate” pensava, a imaginar-se desenhando
um elegante colete, com o seu bolsinho para o relógio. Estremeceu, emocionada, mas, de imediato,
se deu conta do seu erro. Ela havia cumprido o seu dever, como tesoura. Agora, o seu metal, a
renascer, estaria pronto para aquilo que viesse a ser preciso.
       Um garfo, de dente partido, começou a contar, com uma alegria imensa, a história da
primeira vez que tinha sido usado. Ela sorriu, a recordar o seu primeiro corte, e pensou: “Como é
importante gostarmos de ser quem somos”.
O botão

        Desde que saíra da fábrica, permanecera, ali, alinhado com os outros, à espera de cumprir o
seu destino. Era assim que se pensava, espantado com a indiferença dos outros em relação ao seu
futuro.
        Nascera grande, castanho muito escuro, luzidio; ao centro, abriam-se-lhe quatro furos à
espera da linha que o uniria à peça de roupa onde cumpriria o seu dever. Pelo tamanho, adivinhava-
se que seria, pr'aí, um sobretudo.
        O frenesim ansioso dos seus dias foi-se atenuando com o passar do tempo e, pouco a pouco,
influenciado pelo suave ressonar dos seus parceiros, acabou ele próprio por adormecer com um
sorriso nos seus lábios imaginários.
        Acordou estremunhado e a tremer. Não percebera ainda o que estava a acontecer, sentiu-se
lançado para o meio duma confusão onde, que coisa!, todos pareciam entender-se. A tremedeira
conduzia-os. Entrou num tubo vertical e viu-se a descer em sobressaltos, centímetro a centímetro,
até ser agarrado por dois braços e imobilizado sobre um tecido fofo. Uma agulha caiu sobre ele
com entusiasmo e precisão e enlaçou os seus quatro furos com uma linha grossa, fixando-o com
vigor.
        Sentiu que chegara o seu momento de ser botão. E no entanto...
        Não conseguia compreender que espécie de botão era, não conseguia entender em que tipo
de lugar encontrara o seu futuro. À sua volta via apenas o tecido macio e cremoso a que a agulha o
prendera.
        Uma modorra muito insinuante e boa, uma preguiça muito agradável o invadiu. Deixou-se
estar, assim, a sentir-se muito repousado, muito senhor de si. Até que...
        Uma humidade doce, a repenicar uma e outra vez sobre si, vinda de uns lábios muito macios,
muito quentinhos e beijoqueiros, despertou-o a tempo de ouvir uma vozita dizer:
      – Gosto muito de ti, meu cãozinho. Tens um narizito tão bonito!
      Um narizito? Ele era um botão-nariz? De um boneco de peluche? Ele era o nariz de
um cão-brinquedo?
      Sentiu a vibração de um entusiasmo desconhecido e começou a sentir-se invadido
por uma alegria desconhecida e um desejo maravilhoso de aventuras. É que ele adivinhava
as fantásticas peripécias que iria viver com o seu dono, em imaginárias estórias de buscas e
salvamentos em que ele, nariz de faro apurado...
      Um arzinho quente soprava sobre si. Tinha de adiar as aventuras. Pelos vistos, o seu
dono adormecera abraçado ao cãozito de que ele era o botão, desculpem! o nariz, o nariz-
botão.
      Imaginou-se a sorrir e perguntou, curioso, a si mesmo: “Como se chamará este
menino, o meu dono? Que idade terá?”
      Para se entreter, pôs-se a cheirar, aos bocadinhos, o ar que o menino mandava fora
com os sonhos.
Meu amor disse que sim

       Eu não sei, nem isso me interessa muito, se o que fazemos e sentimos o começamos a fazer
e a sentir para imitarmos os adultos. Quero eu dizer, não sei se será tudo assim, por imitação. É
evidente que a maior parte das coisas que fazemos – as coisas triviais, do dia a dia – as aprendemos
a ver os outros, sobretudo a vermos os nossos pais e os outros adultos. Mas...quem é que eu
imitava, quando comecei a sentir um nervoso miudinho, sempre que olhava para ela?
       Pois é! Eu ficava assim, a modos que meio assarapantado, quando ela sorria com os olhos
postos em mim. Os olhos castanhos...
       Foi por causa deles que eu escrevi no meu primeiro poema. Ainda hoje o sei de cor, tantas
vezes eu lho disse a ela depois de ter sido capaz de lhe pedir para ser minha namorada.
       Dizia assim o meu poema:
       Tens uns lindos olhos castanhos
       que te guiam o andar
       Quando eles olham para mim
       só me apetece sonhar.
       Ela gostou muito e eu fiquei muito feliz, como devem calcular. Mesmo hoje, eu gosto do
meu primeiro poema, apesar da métrica não ser a melhor, apesar de todos os defeitos que tem. O
primeiro é o primeiro, não é?
       A verdade é que eu passei muitos dias sem ter a coragem de lhe pedir para ser minha
namorada. Que eu gostava dela, todos os meus amigos sabiam porque eu era incapaz de disfarçar. E
todos gozavam comigo, porque... vocês sabem! Às vezes somos muito mauzinhos uns para os
outros. Enfim! Lá consegui, um dia, depois da aula de matemática e de uns resultados muito bons
num teste, meus e delas, fazer com que os meus passos emparelhassem com os dela para lhe dar os
parabéns. Ela retribuiu com um sorriso que se pegou ao meu. Nem sou capaz de dizer como é que
aconteceu, mas, quando dei por mim, estava sentado ao lado dela no autocarro em sentido
contrário ao da minha casa. Eu disse-lhe que gostava de francês e de história e ela disse que a sua
disciplina favorita era ciências.
       Só na paragem ao pé da casa dela, eu percebi onde é que estava. Ela riu-se, eu ri-me e, num
repente perguntei-lhe se queria ser a minha namorada.
       Eu tremi todo, e o meu sorriso foi tão grande que até me doeram as bochechas quando ela
disse que sim.
       Quando, no dia seguinte, chegámos à escola de mãos dadas, os meus amigos fartaram-se de
gozar comigo a dizer em cantilena repetida: “O menino já namora”. Eu só fui capaz de sorrir e de
me sentir importante.
Do livro Estórias para um neto (Textos cedidos pelo autor)

      As galinhas poedeiras



           Quando eu era uma criança como tu, vivia numa aldeia com casas de telhados de telha
    vã e paredes muito grossas, caiadas de branco com uma cintura de azul.

           A minha casa tinha um grande quintal com uma oliveira ao meio, um tanque de
    cimento, para lavar a roupa, e uma grande capoeira onde havia sempre muitas galinhas e sua
    respetiva prole de pintainhos saltitantes.

           Ao chegar da escola, gostava de ir brincar com eles, pegar-lhes ao colo, dar-lhes uns
    farelinhos extra e, quando se me atazanavam os neurónios diabretes, correr atrás deles, feito
    raposa predadora.

          Um dia, levei a brincadeira longe de mais e, quando a minha mãe gritou o meu nome
    com a voz acusadora, saltavam as galinhas à minha frente fugindo da minha desnorteada
    brincadeira, aflitas com tamanha perseguição: saltavam dos poleiros, molhavam-se nos
    bebedoiros, atiravam-se, aflitas, contra a rede, chocavam umas com as outras, feitas tontas.

          – Vai já para o teu quarto, malvado rapaz! Nem sabes o que fizeste.

          Era a voz exaltada da minha mãe.

           Fui para o quarto e abri o caderno dos deveres. Sabia ter feito asneira grossa pela
    forma de me ralhar, mas não entendia muito bem por que se tinha ela zangado assim. Eu só
    tinha chateado um bocadinho as galinhas!

           Ouvi os seus desabafos com uma vizinha e, pouco a pouco, comecei a entender a
    zanga. Eu podia ter causado uma grave falta de ovos nos próximos tempos. Eu podia ter
    posto as galinhas chocas.

           Eu explico: algumas das minhas vítimas eram ótimas galinhas poedeiras, daquelas que
    não falham a pôr os belos ovos que eu gostava de recolher todos os dias para encher o cesto
    que a minha mãe levava à senhora Rosa, vendedora com banca no mercado. Segundo
    percebi, o susto podia levar as galinhas a interromper a postura e a quererem antes chocar os
    ovos a fazerem pintainhos. Assim, uma razoável e necessária fonte de rendimento da família
    estaria estragada, por culpa minha. E eu sabia como era difícil a vida na minha casa.

           Deitado na minha cama, chorei, chorei... até a minha mãe me chamar para jantar. Ela
    viu os meus olhos vermelhos a pedirem desculpa e a prometerem mais juízo no futuro, deu-
    me um beijo de mãe que perdoa, e eu senti-me aliviado.

          Felizmente, no dia seguinte, havia ovos. Eu aprendi a lição e nunca mais fiz aventuras
    com as galinhas poedeiras.
O pinheiro voador



     Da lareira vinha um calor bom, e um cheirinho doce nascia do crepitar da madeira, a arder com
mansidão. Estava-se ali tão bem! As labaredas dançavam à volta do tronco do pinheiro, e, jurava,
eram risos o que eu ouvia no fumo a subir, sem pressas, pela chaminé. Pouco a pouco, fui-me
sentindo leve, leve, tão leve que, de certeza, adormeci.

    – Olá, vou contar-te a minha história, já que gostas do calorzinho que te dou.

    Quando acordei, com um sorriso feliz a agarrar-me o corpo todo, levantei-me e fui colocar
mais um toro na lareira, para avivar o fogo. Agora, eu sabia uma história fantástica que me fora
contada entre sonos; aquele pinheiro que ali ardia na minha lareira estava a cumprir o seu sonho:
voar. O fumo saindo pela chaminé não era outra coisa senão o voo fantástico do pinheiro voador.

    Eu conto, como ele me contou a mim.

     “Desde pequenino que o meu sonho era voar como os pássaros que às vezes vinham pousar
em mim, ou como os milhafres a voar lá tão alto antes de mergulharem como loucos para apanhar
as suas presas.

    Se não fossem as minhas raízes, eu já teria voado há mais tempo, mas assim... Foi preciso a
grande tempestade, a ciclónica ventania, para me arrancar da terra e me atirar pelos ares. Foi o meu
primeiro voo, um voo muito pouco bonito, mas... ir pelos ares... que sensação! Depois cortaram-me
nestes toros iguais e eu soube que iria transformar-me neste calor e neste fumo que se espalham
pelos ares em voo suave, em sonho. Agora, na tua lareira, transformo-me em ar, em calor, em vida.”

    Lá fora faz frio. Aqui, à lareira, vendo o voo deste pinheiro diferente, um pinheiro com
vocação de pássaro, é que estou bem. Sinto que vou, de novo, adormecer.
O caramelo azarado



     Era uma vez um caramelo, doce como o mel mais doce. Sofria de um azar muito azarento:
não havia meio de ser comprado e ser comido por um qualquer miúdo do bairro onde ficava a
loja dona do frasco em que vivia. Sempre que chegava quase a sua vez de ser vendido, o
merceeiro voltava a encher o frasco e ele lá ficava no fundo, cada vez mais no fundo.

    – Eu não deveria ter vindo para venda avulso – pensava o caramelo, lamentando não ter
sido embalado nos saquitos de doze caramelos que a sua fábrica comercializava.

     – Ainda seco e perco qualidades e ninguém me vai saborear e fazer-me derreter de
felicidade, como é meu sonho e meu desejo.

    Passaram-se tempos, até que um dia...

    Primeiro, viu-se fechado num grande saco de papel, depois, percebeu-se a ser transportado
daqui para ali e, de repente, inundado de luz e gritaria bem-disposta. Juntamente com mais dois
companheiros, sentiu-se agarrado por uma mão de criança, uma menina que logo o retirou do
papel, o seu fato desde sempre. Viu-se levado para a boca da menina e começou a derreter-se
cheio de cócegas e felicidade.

    – Este caramelo é tão bom! – ouviu a menina dizer.

    Depois... deixou de haver caramelo que se transformou nesta estória.
Um coelho atencioso



     Uma vez, fui apanhar flores silvestres para levar para a escola. Os campos à volta da aldeia
onde eu morava estavam cheiinhos de papoilas e malmequeres. Havia também largos lençóis de
alecrim perfumando aquela tarde.

     Sentado debaixo de uma oliveira, entretinha-me a roer uns talos de azedas que me
causavam um curioso fungar com gosto, quando sinto um toque amistoso nas costas. Voltei-
me e, com surpresa grande e embasbacada, vejo um coelho a olhar para mim, muito atento e
sério. Era todo branco, exceto uma larga mancha acinzentada que lhe dividia a cabeça em duas
metades simétricas.

    − Olá rapaz, como te chamas? – diz-me ele, de repente.

   Escusado será dizer-vos, pensei estar a sonhar. Gosto de inventar coisas, mas nem eu
mesmo seria capaz de uma destas. Os animais só falam nas estórias e nos versos.

    Estendi a mão para o agarrar e ele, sem tentar fugir, disse:

    − Tem cuidado que tenho o peito ferido!

    − O que é que aconteceu? – perguntei.

    Sem dar por isso, sem estranhar, como se fosse a coisa mais natural do mundo, comecei a
conversar com o coelho numa conversa de amigos de longa data. Ele sabia quem eu era, onde
eu morava, aliás, tinha sido num arame farpado perto de minha casa que se espetara ao aterrar
de um salto descuidado. Já me tinha visto a brincar nos campos e, disse-me ele, ficara com o
desejo de me conhecer quando, um dia, me viu recolher um passarito e subir a árvore para o
pôr no ninho donde caíra.

     Disse-lhe o meu nome, contei-lhe porque tinha apanhado as flores e como projetava vir
brincar, no dia seguinte, com os meus amigos aos cobóis. Disse-me, então:

    – Não vais poder vir amanhã, pois vai cair um temporal terrível.

    – Como é que sabes? – perguntei, cheio de curiosidade.

     – Tenho uma pata que adivinha – respondeu rindo, acrescentando, antes de eu poder dizer
fosse o que fosse: – Faz-se tarde, tenho de ir. Um dia, quem sabe, voltaremos a ver-nos. Adeus.

    E partiu devagarinho, mas decidido.

    No dia seguinte, choveu a bom chover, mostrando a verdade da sua atenciosa informação.

   Só muito mais tarde eu aprendi o que queria dizer “ter uma pata que adivinha”, já que os
meus ossos, hoje, percebem também eles as mudanças do tempo.

      (Nota: É a primeira vez que eu conto isto a alguém. Como já se passaram tantos anos,
quase chego a ter dúvidas da veracidade desta estória. No entanto, uma coisa é certa: continuo
a ir ao campo colher flores silvestres.)
A sombra assustada



        Como tu sabes, o Sol lança os seus raios de luz sobre os objetos e destes se forma a
   respetiva sombra, maior ou menor, consoante o ângulo de incidência dos raios solares. Isto é
   simples de entender, mas no mundo das estórias, acontecem as coisas mais espantosas e
   estranhas que podemos imaginar.

       Aconteceu que…

        Uma sombra olhou-se, numa tarde quente de verão, projetada numa rua. “Como era
   grande!” Pensou; achou muita piada à forma como se contorcia sobre os carros estacionados,
   sentiu cócegas ao subir os degraus da grande escadaria da Praça e deleitou-se na parede da casa
   apalaçada, lugar central da cidade onde morava.

       Ali ficou olhando outras sombras que passavam. Sentia-se muito bem consigo própria,
   mas um pouco fatigada. Fechou os olhos e dormitou.

        Estás já a imaginar o que aconteceu, não estás? Pois bem, foi isso mesmo. Dormindo aos
   poucos, numa bela modorra de comprazimento, o tempo passou e o Sol foi-se a iluminar
   outras paragens. A sombra acordou e viu uma pálida imagem de si mesma; deu um grito e
   levantou-se; era uma ténue mancha moribunda, em desfalecimento aflito. Aflito, porque ela
   estava aflita, melhor dizendo, assustada, melhor ainda, em pânico, sentindo-se a perder a
   existência.

       E o Sol partiu de todo.

        Passaram-se horas, tantas quantas a noite tem, e o astro chamado Rei acordou a manhã
   para mais um dia de luz e cor.

       A sombra desta estória sentiu que os cinzentos do seu ser enegreciam e abriu os olhos,
   temerosa. Nada viu e o seu susto aumentou. Porém, quase sem querer, virou os olhos e
   descobriu-se no outro lado, em projeção revigorante.

       Oh! Que alegria! O seu susto terminou.



       Não vou contar mais nada. Nem é preciso, pois não? É claro, tu sabes bem que esta
   sombra tontita sofreu por ignorância. Se ela fosse como tu, que procuras saber as causas dos
   fenómenos naturais, e que sabes, até, ver as horas pela sombra de um ponteiro de um relógio
   de Sol e tantas coisas mais…

       Quando a encontrares, explica-lhe a sua razão de existir. Vale?
Do livro Estórias de um avô (Textos cedidos pelo autor)

  O meu sorriso

  Há coisas que sabemos apenas porque no-las disseram aqueles que nos querem bem e nos
conhecem desde o momento em que nascemos. É este o caso. Disseram-mo elas – a minha mãe, a
enfermeira Irene, parteira-diplomada, e a menina Hortense, sua ajudante – que eu nasci com um
sorriso grande, grande como um comboio, e, mesmo a chorar o primeiro choro (elas o juram), o
meu sorriso estava lá na minha boca desdentada.
  Eu sorri nos primeiros vinte anos da minha vida. Depois, sem que eu consiga explicar porquê –
embora eu pense que o ter ido à guerra e ter visto coisas tristes e terríveis tenha muito a ver com
isso – o meu sorriso foi-se apagando lentamente.
       Vivi durante muitos anos de cara séria e olhar sisudo a ponto de me esquecer que eu já fora
uma fonte de alegria para o olhar de quem me via. E como é tão verdadeira esta frase que até rima!
Ora, no outro dia, quando eu fui à terra onde nasci e passei a minha infância, encontrei uma senhora
velhinha a quem hoje chamam Dona, a Dona Hortense que me disse: – Então rapaz (para os mais
velhos somos sempre muito novos!) que é feito do sorriso que era o teu?
  Caí em mim, sem saber o que dizer. E, então, disse-lhe coisas, muitas delas apenas por dizer, tais
como “é a vida”, “as coisas mudam”, “já nem me lembro”.
  Depois, chegado a casa, olhei-me ao espelho e de repente recordei-me e senti saudades grandes a
pesarem com muita força no meu peito. Tentei sorrir, mas nada. O mesmo ar sério a responder-me.
  Mas, num relâmpago: “Eureka!”, gritei; de tal maneira que o meu gato saiu esbaforido a pensar
que eu estava louco. “Já sei qual é a
solução. São as crianças quem sabe o que é sorrir. Se eu lhes pedir que desenhem um sorriso para
me dar...”
  Pus um anúncio no jornal a pedir que me deem um sorriso e escrevi esta estória verdadeira. E
estou à espera.
  Eu sei que, de volta, de novo irei ter o meu sorriso.
O cd-rom que só rodava às vezes

   Um dia, um amigo meu, cantor e „dizedor‟ de poesia (palavra inventada por quem acha que se
deve dizer, e não declamar, os poemas) ofereceu-me um Cd-Rom que ele tinha gravado com
poemas sobre as diversas estações do ano, escritos por muitos poetas portugueses.
   Podíamos ouvi-lo a dizer os poemas, ao mesmo tempo que líamos o seu texto, ou pequenos
filmes mostrando paisagens e cenas campestres características das estações tratadas nos poemas.
Além disso, era possível, ainda, vermos fotos dos poetas, ou gravuras dos poetas mais antigos, e
notas biográficas e literárias de todos eles.
   Eu, que gosto de poesia e da forma como o meu amigo a diz, fiquei todo contente e curioso e,
primeira coisa que fiz quando cheguei
a casa, fui logo para o computador, para ouvir e ver o Cd.Rom.
   Vocês não imaginam como eu fiquei! Não é que o meu amigo tinha incluído um poema da minha
autoria sobre a primavera, sem nada me dizer?!
   Lá estavam os meus versos a serem ditos enquanto passavam fotos de papoilas e mimosas nos
campos do Alentejo; e lá estava um retrato meu, com data de nascimento, chamando-me poeta e
escritor. Lá estava eu, ao lado dos poetas que eu amo.
   Comovi-me e, devo confessar, inchei de orgulho e satisfação. Os dias passavam e eu, sempre com
mesmo sentimento de vaidade, assim que chegava a casa ligava o computador, punha o Cd.Rom e
lá aparecia eu e o meu poema. Sempre eu e o meu poema. O Cd. Rom não avançava dali, não
mostrava os outros poemas, não rodava.
   Achei tão estranho que pedi ao meu vizinho que visse o Cd. Rom
no seu computador. Assim fez, dizendo-me depois:
   – Belo trabalho este, do seu amigo.
   – Mas viu tudo? – perguntei.
   – Sim, tudo funcionou perfeitamente.
   Intrigado, comecei a pensar: “Mas porque é que não funciona no meu computador e apareço
sempre eu?”
   Bem!... Penso que já descobriram a resposta.
   Confesso que me sinto envergonhado por me ter deixado levar pela vaidade. Exagerei, sim. Mas
continuo a gostar muito dos poetas da minha terra.
O coração dorminhoco
  Noutros tempos, quando os animais falavam e serviam de exemplo para os homens, havia a
possibilidade de mudar de coração. Se, por exemplo, eu fosse um gato e quisesse ter um coração de
cão, podia trocar. Claro que se eu fosse um hamster e quisesse ter um coração de leão, isso era
impossível porque não me cabia no peito. Isto aconteceu-me nas minhas vidas anteriores, há muito,
muito tempo. Talvez eu vos conte mais tarde essas histórias; agora, não interessam.
  Como eu dizia, havia uma lojinha num jardim sempre florido que vendia os corações que eram
criados numa pequena oficina onde dez artistas trabalhavam. E era tudo o que se sabia: pequena
fábrica, dez artistas. Onde ficava, porquê fabricados por artistas, eram perguntas sem resposta.
  A loja dos corações pertencia a uma gata siamesa que não deixava fazer qualquer barulho.
  – Para não perturbar os meus queridinhos. – dizia.
  Ora, um dia, um lagarto que se sentia muito cansado porque percorria o país inteiro a inspecionar
os cursos de água – tarefa muito importante para prevenir inundações fora da estação das chuvas –
entrou na loja e, num sussurro, disse à gata:
  – Dona Gata, preciso de um coração forte, mas sossegado, que me dê algum descanso.
  A Gata, que conhecia o trabalho do lagarto, ao vê-lo tão cansado, disse:
  – Veja este, aqui, tão dorminhoco.
  Foi amor à primeira vista.
  Entraram no gabinete de mudança, o lagarto deitou-se na marquesa, abriu o peito (isso fazia-se
apenas com um ato de vontade) e a Gata mudou-lhe o coração.
  Quando o lagarto saiu da lojinha, com o seu coração novo, sentiu uma grande vontade de se ir
deitar em cima de um muro a apanhar sol. Fechou os olhos e deixou-se estar a sentir o coração a
bater muito devagarinho. Daí a nada, adormeceu.
  No dia seguinte, o lagarto reformou-se, e passou a dormitar ao sol com imenso prazer que lhe
vinha do seu coração dorminhoco.
       Nunca mais quis mudar de coração e é por isso que hoje podemos ver os lagartos a apanhar
sol. E é por isso, também, que, às vezes, há inundações fora da época das chuvas: ninguém mais
inspecionou os veios de água.
A bomba da gasolina

  Era novinha em folha. E grande. Era alta, mais alta do que é costume. Estava toda pintada de
azul claro sobre o qual nasciam pintas em dois tons de azul mais escuro, que mudavam de sítio,
hora a hora, enquanto houvesse dia.
  À entrada havia um grande letreiro onde se lia, em letras de azul escuríssimo: ‟Só abastece
condutores bem-dispostos‟.
  No início, quando construíram a bomba (ninguém conhece os donos), havia sempre uma bicha
de quilómetros, à espera de vez. É que...
  Os carros paravam e todos os condutores saíam com um grande sorriso. No entanto, só alguns,
muito poucos, ela abastecia. E que espanto! A gasolina enchia o depósito e o marcador do dinheiro
andava devagarinho. A conta era sempre pequena. Depois... depois o carro andava, andava e
gastava muito menos que metade do que era seu costume.
  Está-se mesmo a ver que isto ia ter importância, muita importância.
  Pouco a pouco, as pessoas começaram a ser simpáticas ao volante, a respeitar os peões, a circular
com atenção, sem ultrapassar os limites de velocidade. As ruas e as estradas da região passaram a ser
seguras.
  E eram cada vez mais as pessoas que conseguiam abastecer-se na bomba azul dos encantos e dos
condutores felizes.
  Perguntas: onde é que fica esta bomba encantada?
       Bem, para já, fica aqui, nesta página, e na nossa imaginação. Depois, quando quisermos...
talvez possamos nós ser os seus donos. Quem sabe?
O piolho

   – Mas qual é a utilidade do piolho? – Perguntava um homenzinho muito estranho que vivia no
meu bairro e que tinha esta mania de vir para a rua e “lançar à ventania” (era sua esta expressão)
perguntas variadas.
         Eu, normalmente, ria-me destes atos meio tresloucados do pobre homem e seguia a minha
vida, mas, hoje, deu-me para ficar
intrigado e resolvi aceitar o desafio e lançar-me em busca de uma
resposta.
   De piolhos só me lembrava daquela vez, era eu miúdo, há quantidade de anos que isso foi!, que a
minha mãe me levou ao barbeiro para uma grande carecada por causa de tão feias e chatas criaturas,
cansada que ela estava de me catar à caça dos ditos cujos que nasciam às dezenas, em partos
contínuos, nas cabeças de tudo o que era garotada. Penso, agora, que os adultos também os tinham
com fartura. E nesses tempos não havia as mezinhas que hoje existem para matar os bichos. Nem
havia os champôs, os sabonetes cheirosos, os secadores de cabelo, as toalhas tão grandes e macias
que hoje temos para nos limparmos. Nesses tempos, os piolhos existiam em quantidades de meter
susto, podemos bem
dizê-lo, porque eram muito más as condições de higiene à nossa
disposição.
   Havia uma grande luta contra os piolhos.
   Tinha eu resolvido ir até à farmácia perguntar ao meu amigo doutor farmacêutico se uma
qualquer epidemia de piolhos teria surgido, por aqui, nas redondezas, quando, na mesa mesmo ao
meu lado, no café, uma senhora contava à sua amiga ter descoberto piolhos na filha, depois de a ter
visto coçar a cabeça duas ou três vezes. E diz assim a amiga, num tom de voz de mãe zangada com
os filhos:
   – Se ao menos, assim, eles perceberem que têm cabeça?
   Eu fiquei quase tão surpreendido como a senhora primeira que falou, mas não fiz o ar espantado
que ela fez a olhar para a outra que caiu em si e se apressou a explicar:
   – Desculpa, estou preocupada com o meu Pedro que me
apanhou negativa a
matemática. E tudo porque se esqueceu que tinha teste e não estudou. E também lhe descobri
piolhos, outro dia.
   Eu ouvi isto e sorri cá para mim mesmo. Afinal já estava ali uma boa resposta: os piolhos servem
para nos
 lembrarmos que temos cabeça. Cabeça para pensar.
        Se é para isso, viva o piolho! Não é?




Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.

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Escritor na biblioteca

  • 1. Agrupamento de Escolas de Samora Correia EB 2, 3 Prof. João Fernandes Pratas Dia 21 de maio de 2012, o escritor Xico Braga estará na nossa Biblioteca Escolar! “Nasceu em 1950. É professor na Escola Secundária Moinho de Maré. Mora no Concelho do Seixal. Escreveu uns pequeninos livros de poesia. É avô desde Outubro de 2005 e está a gostar muito.” É o que se pode ler na capa do seu livro Estórias de um avô.
  • 2. 5 minutos de estória é o seu último livro. Estes dois livros do escritor estarão à venda na Biblioteca até ao dia 21 de maio. Haverá uma sessão de autógrafo no final da atividade, destinada aos alunos do 2º ciclo. Reserva ou compra já o teu exemplar!
  • 3. Do livro 5 minutos de estória (textos cedidos pelo autor) A minhoca preguiçosa “Meninas! Depressa e bem… ninguém” respondia ela, altiva, quando as outras a repreendiam da morosidade com que cavava os seus túneis na terra tão fresquinha, onde moravam. Era, pois era – todas as outras o diziam –, uma minhoca amiga do seu amigo, simpática, com sentido de humor, boa contadora de estórias quando se juntavam a conversar depois das tarefas do dia. Mas, c‟os diachos! tão preguiçosa que fazia impressão. Pareciam metros, os centímetros que ela tinha de escavar; perdia-se a meio do impulso e ficava parada, tempos infindos até, por fim, o corpo se estender, perfurando, por ação da própria inércia do seu impulso inicial, a maciez daquela terra bem drenada. Depois, ali ficava à espera da vontade de criar um novo impulso. Todos os três dias, as minhocas tinham de subir à superfície, para, daí, arrancarem para nova etapa de perfuração da terra. Ela lá vinha, um pouco mais ligeira usando um furo já cavado e, depois de três ou quatro suspiros profundos a provocar o sorriso gozão das companheiras, lá tomava o difícil balanço para romper a terra. Naquele dia… O calor que as recebeu quando vieram à luz do dia apressou-as. Deram graças por terem subido depois de uma rega recente, a facilitar-lhes a tarefa. A mais velha, líder dos trabalhos, pensou de imediato na nossa minhoca e gritou-lhe: – Despacha-te! O Sol vai abrasar. Ela suspirava, a ganhar alento. Por fim, já todas as outras tinham mergulhado, respirou fundo e enfiou-se pelo meio de dois bracinhos duma raiz de erva juvenil. Meio corpo já penetrou a terra, o outro meio está estendido no solo em desafio a pássaro caçador; ao fim de um tempo longo, um bom pedaço do seu corpo, em bamboleios lentos, lá se vai afundando; de fora, ainda fica um centímetro esquecido da cauda, que começa a ser coberto pela luz viva do Sol. Impiedosa, furando entra as folhas do arbusto, a luz aquece a cauda da minhoca, perdida na indecisão de continuar a escavar a terra. Quando a dor da queimadura a faz gritar, e só então mergulhar a cauda, já não pode evitar as risadas das amigas que, alarmadas, vieram junto a ela, solidárias e, agora, percebendo o que acontecera, miram, jocosas, o resultado ardente da preguiça. Pela primeira vez, sentiu-se envergonhada. Durante dois dias, foi dispensada das tarefas de perfuração para sarar a ferida e esquecer as dores. Quando a líder a veio visitar, para saber se já estava melhor, e a olhou com aquele seu ar muito sério, a impor respeito, mas a abraçá-la de bondade, ela sentiu um formigueiro pelo corpo todo e disse, num tom sincero e envergonhado: – Eu aprendi a lição. Eu vou mudar, prometo. Na verdade, ela continua vagarosa a perfurar a terra, mas… agora, quando vêm à superfície, é a primeira a mergulhar.
  • 4. O para-raios Lá estavam, um no cimo da torre da igreja e, ainda mais alto, outro no cimo da chaminé da fábrica. Eram os para-raios que havia na terra onde eu morava. Eram a coisa mais alta, no cimo das construções mais altas que lá havia. De quando em vez, deitados no chão, debaixo duma oliveira grande, a descansarmos das brincadeiras, era neles que os nossos olhos descansavam a alargar horizontes de fascínio, antes de os comentários surgirem a expressar os nossos desejos das alturas. Sim, pelo menos uma meia dúzia entre nós queria ser aviador. Eu morava perto da fábrica e sabia que, em caso de tempestade, o para-raios protegia-me. Só não sabia exatamente de quê. Até que... A eletricidade fora-se. A minha mãe acendera o candeeiro a petróleo e ia alinhavando as bainhas das calças que estava a fazer. Nós, eu e as minhas irmãs, fingíamos que não tínhamos medo. E era preciso muito fingimento pois o temporal era medonho. Ouvia-se a chuva forte a bater sobre o telhado e o vento silvava com requintes de malvadez. O primeiro raio brilhou muito antes de ouvirmos a sua foz rouca. Estava longe a trovoada. Mas, pouco a pouco, foi diminuindo o intervalo entre a luz que entrava pelas frestas das janelas e do postigo da porta e os rugidos furiosos do trovão. Começou a ser difícil fingir. Depois sucederam três coisas em simultâneo: uma luz intensa, um barulho nunca ouvido, um saltar do banco em que estávamos sentados. Seguiram-se os nossos gritos e a corrida para os braços da nossa mãe, também ela assustada. Esquecemo-nos de fingir e mostrávamos todos o medo que sentíamos. – Foi um raio que caiu aqui mesmo junto a nós – disse ela. Mais dois ou três raios e trovões ainda perto; depois, foi-se afastando a trovoada e os nossos corações retomavam o seu bater normal. Lembro-me e ter dormido profundamente, nessa noite, cansado do medo que senti. No outro dia... No outro dia, já estava tudo bem, esquecidos os cagaços. Era a notícia do bairro: tinha caído um raio no para-raios da fábrica. “Eu não tive medo” “Só me assustei, não estava à espera” “Medo? Eu sei que com os para- raios não há azar.” Assim basofávamos uns com os outros em afirmações de valentia. – A minha irmã até chorou! – disse eu quando me perguntaram se eu tivera medo. Era verdade e não fiquei mal visto. Olhei o para-raios em cima da fábrica. E não é que me apeteceu agradecer-lhe?
  • 5. A Tesoura Recortava, recortava, umas vezes a direito, outras vezes a desenhar largos círculos ou ovais. Dependia muito da mão que a manejava. Às vezes, e disso ela gostava particularmente, limitava-se a cortar um fio, no final duma costura. Sentia-se como um ponto final parágrafo. Um dia teve de fazer das tripas coração. Nunca soube explicar quais as circunstâncias que a isso a obrigaram, mas teve de cortar cabelo atrás de cabelo, um preto, outro aloirado, mas todo ele com um cheirinho a pedir muita água, muito sabão. Ainda por cima, além da côr diferente, um era liso, outro cheio de caracóis. Não, não gostou. Foi uma experiência muito desagradável. Felizmente, logo depois, recebeu uma inesperada recompensa: foi afiada. Ui! Que sensação mais gostosa – como dizia uma sua prima brasileira – ser afiada pelas carícias daquela pedra a rodar, a rodar. Sentiu-se nova. Durante anos, recortou, seguindo o traço de giz nos tecidos: fez calças e casacos, camisas, robes, vestidos, saias, e roupões. Cortou papéis, fios, cartão. Numa emergência, um dia, cortou rabos de bacalhau seco. Achou piada à sensação. Sim, às vezes, recebia a sua paga boa. Sempre que a afiavam, sentia-se recompensada. Um dia, foi fechada numa gaveta e dormiu uns anos bons, esquecida. Hoje acordou. Há um movimento estranho. Olhou para si e viu-se cheia de ferrugem. Sorriu. “Tinha de ser” pensou. “Os anos que já levo”. À sua volta há conversas variadas. Vêm de facas, garfos, colheres, púcaros, castiçais, fechaduras, chaves, ferraduras, enxadas, sachos, forquilhas, enchós, serras, serrotes, martelos, maços, picaretas, e outras tesouras como ela. Sentem todas um nervoso miudinho. Que ferramenta irão ser, depois de nova fundição? “Eu gostava tanto de voltar a ser uma tesoura de alfaiate” pensava, a imaginar-se desenhando um elegante colete, com o seu bolsinho para o relógio. Estremeceu, emocionada, mas, de imediato, se deu conta do seu erro. Ela havia cumprido o seu dever, como tesoura. Agora, o seu metal, a renascer, estaria pronto para aquilo que viesse a ser preciso. Um garfo, de dente partido, começou a contar, com uma alegria imensa, a história da primeira vez que tinha sido usado. Ela sorriu, a recordar o seu primeiro corte, e pensou: “Como é importante gostarmos de ser quem somos”.
  • 6. O botão Desde que saíra da fábrica, permanecera, ali, alinhado com os outros, à espera de cumprir o seu destino. Era assim que se pensava, espantado com a indiferença dos outros em relação ao seu futuro. Nascera grande, castanho muito escuro, luzidio; ao centro, abriam-se-lhe quatro furos à espera da linha que o uniria à peça de roupa onde cumpriria o seu dever. Pelo tamanho, adivinhava- se que seria, pr'aí, um sobretudo. O frenesim ansioso dos seus dias foi-se atenuando com o passar do tempo e, pouco a pouco, influenciado pelo suave ressonar dos seus parceiros, acabou ele próprio por adormecer com um sorriso nos seus lábios imaginários. Acordou estremunhado e a tremer. Não percebera ainda o que estava a acontecer, sentiu-se lançado para o meio duma confusão onde, que coisa!, todos pareciam entender-se. A tremedeira conduzia-os. Entrou num tubo vertical e viu-se a descer em sobressaltos, centímetro a centímetro, até ser agarrado por dois braços e imobilizado sobre um tecido fofo. Uma agulha caiu sobre ele com entusiasmo e precisão e enlaçou os seus quatro furos com uma linha grossa, fixando-o com vigor. Sentiu que chegara o seu momento de ser botão. E no entanto... Não conseguia compreender que espécie de botão era, não conseguia entender em que tipo de lugar encontrara o seu futuro. À sua volta via apenas o tecido macio e cremoso a que a agulha o prendera. Uma modorra muito insinuante e boa, uma preguiça muito agradável o invadiu. Deixou-se estar, assim, a sentir-se muito repousado, muito senhor de si. Até que... Uma humidade doce, a repenicar uma e outra vez sobre si, vinda de uns lábios muito macios, muito quentinhos e beijoqueiros, despertou-o a tempo de ouvir uma vozita dizer: – Gosto muito de ti, meu cãozinho. Tens um narizito tão bonito! Um narizito? Ele era um botão-nariz? De um boneco de peluche? Ele era o nariz de um cão-brinquedo? Sentiu a vibração de um entusiasmo desconhecido e começou a sentir-se invadido por uma alegria desconhecida e um desejo maravilhoso de aventuras. É que ele adivinhava as fantásticas peripécias que iria viver com o seu dono, em imaginárias estórias de buscas e salvamentos em que ele, nariz de faro apurado... Um arzinho quente soprava sobre si. Tinha de adiar as aventuras. Pelos vistos, o seu dono adormecera abraçado ao cãozito de que ele era o botão, desculpem! o nariz, o nariz- botão. Imaginou-se a sorrir e perguntou, curioso, a si mesmo: “Como se chamará este menino, o meu dono? Que idade terá?” Para se entreter, pôs-se a cheirar, aos bocadinhos, o ar que o menino mandava fora com os sonhos.
  • 7. Meu amor disse que sim Eu não sei, nem isso me interessa muito, se o que fazemos e sentimos o começamos a fazer e a sentir para imitarmos os adultos. Quero eu dizer, não sei se será tudo assim, por imitação. É evidente que a maior parte das coisas que fazemos – as coisas triviais, do dia a dia – as aprendemos a ver os outros, sobretudo a vermos os nossos pais e os outros adultos. Mas...quem é que eu imitava, quando comecei a sentir um nervoso miudinho, sempre que olhava para ela? Pois é! Eu ficava assim, a modos que meio assarapantado, quando ela sorria com os olhos postos em mim. Os olhos castanhos... Foi por causa deles que eu escrevi no meu primeiro poema. Ainda hoje o sei de cor, tantas vezes eu lho disse a ela depois de ter sido capaz de lhe pedir para ser minha namorada. Dizia assim o meu poema: Tens uns lindos olhos castanhos que te guiam o andar Quando eles olham para mim só me apetece sonhar. Ela gostou muito e eu fiquei muito feliz, como devem calcular. Mesmo hoje, eu gosto do meu primeiro poema, apesar da métrica não ser a melhor, apesar de todos os defeitos que tem. O primeiro é o primeiro, não é? A verdade é que eu passei muitos dias sem ter a coragem de lhe pedir para ser minha namorada. Que eu gostava dela, todos os meus amigos sabiam porque eu era incapaz de disfarçar. E todos gozavam comigo, porque... vocês sabem! Às vezes somos muito mauzinhos uns para os outros. Enfim! Lá consegui, um dia, depois da aula de matemática e de uns resultados muito bons num teste, meus e delas, fazer com que os meus passos emparelhassem com os dela para lhe dar os parabéns. Ela retribuiu com um sorriso que se pegou ao meu. Nem sou capaz de dizer como é que aconteceu, mas, quando dei por mim, estava sentado ao lado dela no autocarro em sentido contrário ao da minha casa. Eu disse-lhe que gostava de francês e de história e ela disse que a sua disciplina favorita era ciências. Só na paragem ao pé da casa dela, eu percebi onde é que estava. Ela riu-se, eu ri-me e, num repente perguntei-lhe se queria ser a minha namorada. Eu tremi todo, e o meu sorriso foi tão grande que até me doeram as bochechas quando ela disse que sim. Quando, no dia seguinte, chegámos à escola de mãos dadas, os meus amigos fartaram-se de gozar comigo a dizer em cantilena repetida: “O menino já namora”. Eu só fui capaz de sorrir e de me sentir importante.
  • 8. Do livro Estórias para um neto (Textos cedidos pelo autor) As galinhas poedeiras Quando eu era uma criança como tu, vivia numa aldeia com casas de telhados de telha vã e paredes muito grossas, caiadas de branco com uma cintura de azul. A minha casa tinha um grande quintal com uma oliveira ao meio, um tanque de cimento, para lavar a roupa, e uma grande capoeira onde havia sempre muitas galinhas e sua respetiva prole de pintainhos saltitantes. Ao chegar da escola, gostava de ir brincar com eles, pegar-lhes ao colo, dar-lhes uns farelinhos extra e, quando se me atazanavam os neurónios diabretes, correr atrás deles, feito raposa predadora. Um dia, levei a brincadeira longe de mais e, quando a minha mãe gritou o meu nome com a voz acusadora, saltavam as galinhas à minha frente fugindo da minha desnorteada brincadeira, aflitas com tamanha perseguição: saltavam dos poleiros, molhavam-se nos bebedoiros, atiravam-se, aflitas, contra a rede, chocavam umas com as outras, feitas tontas. – Vai já para o teu quarto, malvado rapaz! Nem sabes o que fizeste. Era a voz exaltada da minha mãe. Fui para o quarto e abri o caderno dos deveres. Sabia ter feito asneira grossa pela forma de me ralhar, mas não entendia muito bem por que se tinha ela zangado assim. Eu só tinha chateado um bocadinho as galinhas! Ouvi os seus desabafos com uma vizinha e, pouco a pouco, comecei a entender a zanga. Eu podia ter causado uma grave falta de ovos nos próximos tempos. Eu podia ter posto as galinhas chocas. Eu explico: algumas das minhas vítimas eram ótimas galinhas poedeiras, daquelas que não falham a pôr os belos ovos que eu gostava de recolher todos os dias para encher o cesto que a minha mãe levava à senhora Rosa, vendedora com banca no mercado. Segundo percebi, o susto podia levar as galinhas a interromper a postura e a quererem antes chocar os ovos a fazerem pintainhos. Assim, uma razoável e necessária fonte de rendimento da família estaria estragada, por culpa minha. E eu sabia como era difícil a vida na minha casa. Deitado na minha cama, chorei, chorei... até a minha mãe me chamar para jantar. Ela viu os meus olhos vermelhos a pedirem desculpa e a prometerem mais juízo no futuro, deu- me um beijo de mãe que perdoa, e eu senti-me aliviado. Felizmente, no dia seguinte, havia ovos. Eu aprendi a lição e nunca mais fiz aventuras com as galinhas poedeiras.
  • 9. O pinheiro voador Da lareira vinha um calor bom, e um cheirinho doce nascia do crepitar da madeira, a arder com mansidão. Estava-se ali tão bem! As labaredas dançavam à volta do tronco do pinheiro, e, jurava, eram risos o que eu ouvia no fumo a subir, sem pressas, pela chaminé. Pouco a pouco, fui-me sentindo leve, leve, tão leve que, de certeza, adormeci. – Olá, vou contar-te a minha história, já que gostas do calorzinho que te dou. Quando acordei, com um sorriso feliz a agarrar-me o corpo todo, levantei-me e fui colocar mais um toro na lareira, para avivar o fogo. Agora, eu sabia uma história fantástica que me fora contada entre sonos; aquele pinheiro que ali ardia na minha lareira estava a cumprir o seu sonho: voar. O fumo saindo pela chaminé não era outra coisa senão o voo fantástico do pinheiro voador. Eu conto, como ele me contou a mim. “Desde pequenino que o meu sonho era voar como os pássaros que às vezes vinham pousar em mim, ou como os milhafres a voar lá tão alto antes de mergulharem como loucos para apanhar as suas presas. Se não fossem as minhas raízes, eu já teria voado há mais tempo, mas assim... Foi preciso a grande tempestade, a ciclónica ventania, para me arrancar da terra e me atirar pelos ares. Foi o meu primeiro voo, um voo muito pouco bonito, mas... ir pelos ares... que sensação! Depois cortaram-me nestes toros iguais e eu soube que iria transformar-me neste calor e neste fumo que se espalham pelos ares em voo suave, em sonho. Agora, na tua lareira, transformo-me em ar, em calor, em vida.” Lá fora faz frio. Aqui, à lareira, vendo o voo deste pinheiro diferente, um pinheiro com vocação de pássaro, é que estou bem. Sinto que vou, de novo, adormecer.
  • 10. O caramelo azarado Era uma vez um caramelo, doce como o mel mais doce. Sofria de um azar muito azarento: não havia meio de ser comprado e ser comido por um qualquer miúdo do bairro onde ficava a loja dona do frasco em que vivia. Sempre que chegava quase a sua vez de ser vendido, o merceeiro voltava a encher o frasco e ele lá ficava no fundo, cada vez mais no fundo. – Eu não deveria ter vindo para venda avulso – pensava o caramelo, lamentando não ter sido embalado nos saquitos de doze caramelos que a sua fábrica comercializava. – Ainda seco e perco qualidades e ninguém me vai saborear e fazer-me derreter de felicidade, como é meu sonho e meu desejo. Passaram-se tempos, até que um dia... Primeiro, viu-se fechado num grande saco de papel, depois, percebeu-se a ser transportado daqui para ali e, de repente, inundado de luz e gritaria bem-disposta. Juntamente com mais dois companheiros, sentiu-se agarrado por uma mão de criança, uma menina que logo o retirou do papel, o seu fato desde sempre. Viu-se levado para a boca da menina e começou a derreter-se cheio de cócegas e felicidade. – Este caramelo é tão bom! – ouviu a menina dizer. Depois... deixou de haver caramelo que se transformou nesta estória.
  • 11. Um coelho atencioso Uma vez, fui apanhar flores silvestres para levar para a escola. Os campos à volta da aldeia onde eu morava estavam cheiinhos de papoilas e malmequeres. Havia também largos lençóis de alecrim perfumando aquela tarde. Sentado debaixo de uma oliveira, entretinha-me a roer uns talos de azedas que me causavam um curioso fungar com gosto, quando sinto um toque amistoso nas costas. Voltei- me e, com surpresa grande e embasbacada, vejo um coelho a olhar para mim, muito atento e sério. Era todo branco, exceto uma larga mancha acinzentada que lhe dividia a cabeça em duas metades simétricas. − Olá rapaz, como te chamas? – diz-me ele, de repente. Escusado será dizer-vos, pensei estar a sonhar. Gosto de inventar coisas, mas nem eu mesmo seria capaz de uma destas. Os animais só falam nas estórias e nos versos. Estendi a mão para o agarrar e ele, sem tentar fugir, disse: − Tem cuidado que tenho o peito ferido! − O que é que aconteceu? – perguntei. Sem dar por isso, sem estranhar, como se fosse a coisa mais natural do mundo, comecei a conversar com o coelho numa conversa de amigos de longa data. Ele sabia quem eu era, onde eu morava, aliás, tinha sido num arame farpado perto de minha casa que se espetara ao aterrar de um salto descuidado. Já me tinha visto a brincar nos campos e, disse-me ele, ficara com o desejo de me conhecer quando, um dia, me viu recolher um passarito e subir a árvore para o pôr no ninho donde caíra. Disse-lhe o meu nome, contei-lhe porque tinha apanhado as flores e como projetava vir brincar, no dia seguinte, com os meus amigos aos cobóis. Disse-me, então: – Não vais poder vir amanhã, pois vai cair um temporal terrível. – Como é que sabes? – perguntei, cheio de curiosidade. – Tenho uma pata que adivinha – respondeu rindo, acrescentando, antes de eu poder dizer fosse o que fosse: – Faz-se tarde, tenho de ir. Um dia, quem sabe, voltaremos a ver-nos. Adeus. E partiu devagarinho, mas decidido. No dia seguinte, choveu a bom chover, mostrando a verdade da sua atenciosa informação. Só muito mais tarde eu aprendi o que queria dizer “ter uma pata que adivinha”, já que os meus ossos, hoje, percebem também eles as mudanças do tempo. (Nota: É a primeira vez que eu conto isto a alguém. Como já se passaram tantos anos, quase chego a ter dúvidas da veracidade desta estória. No entanto, uma coisa é certa: continuo a ir ao campo colher flores silvestres.)
  • 12. A sombra assustada Como tu sabes, o Sol lança os seus raios de luz sobre os objetos e destes se forma a respetiva sombra, maior ou menor, consoante o ângulo de incidência dos raios solares. Isto é simples de entender, mas no mundo das estórias, acontecem as coisas mais espantosas e estranhas que podemos imaginar. Aconteceu que… Uma sombra olhou-se, numa tarde quente de verão, projetada numa rua. “Como era grande!” Pensou; achou muita piada à forma como se contorcia sobre os carros estacionados, sentiu cócegas ao subir os degraus da grande escadaria da Praça e deleitou-se na parede da casa apalaçada, lugar central da cidade onde morava. Ali ficou olhando outras sombras que passavam. Sentia-se muito bem consigo própria, mas um pouco fatigada. Fechou os olhos e dormitou. Estás já a imaginar o que aconteceu, não estás? Pois bem, foi isso mesmo. Dormindo aos poucos, numa bela modorra de comprazimento, o tempo passou e o Sol foi-se a iluminar outras paragens. A sombra acordou e viu uma pálida imagem de si mesma; deu um grito e levantou-se; era uma ténue mancha moribunda, em desfalecimento aflito. Aflito, porque ela estava aflita, melhor dizendo, assustada, melhor ainda, em pânico, sentindo-se a perder a existência. E o Sol partiu de todo. Passaram-se horas, tantas quantas a noite tem, e o astro chamado Rei acordou a manhã para mais um dia de luz e cor. A sombra desta estória sentiu que os cinzentos do seu ser enegreciam e abriu os olhos, temerosa. Nada viu e o seu susto aumentou. Porém, quase sem querer, virou os olhos e descobriu-se no outro lado, em projeção revigorante. Oh! Que alegria! O seu susto terminou. Não vou contar mais nada. Nem é preciso, pois não? É claro, tu sabes bem que esta sombra tontita sofreu por ignorância. Se ela fosse como tu, que procuras saber as causas dos fenómenos naturais, e que sabes, até, ver as horas pela sombra de um ponteiro de um relógio de Sol e tantas coisas mais… Quando a encontrares, explica-lhe a sua razão de existir. Vale?
  • 13. Do livro Estórias de um avô (Textos cedidos pelo autor) O meu sorriso Há coisas que sabemos apenas porque no-las disseram aqueles que nos querem bem e nos conhecem desde o momento em que nascemos. É este o caso. Disseram-mo elas – a minha mãe, a enfermeira Irene, parteira-diplomada, e a menina Hortense, sua ajudante – que eu nasci com um sorriso grande, grande como um comboio, e, mesmo a chorar o primeiro choro (elas o juram), o meu sorriso estava lá na minha boca desdentada. Eu sorri nos primeiros vinte anos da minha vida. Depois, sem que eu consiga explicar porquê – embora eu pense que o ter ido à guerra e ter visto coisas tristes e terríveis tenha muito a ver com isso – o meu sorriso foi-se apagando lentamente. Vivi durante muitos anos de cara séria e olhar sisudo a ponto de me esquecer que eu já fora uma fonte de alegria para o olhar de quem me via. E como é tão verdadeira esta frase que até rima! Ora, no outro dia, quando eu fui à terra onde nasci e passei a minha infância, encontrei uma senhora velhinha a quem hoje chamam Dona, a Dona Hortense que me disse: – Então rapaz (para os mais velhos somos sempre muito novos!) que é feito do sorriso que era o teu? Caí em mim, sem saber o que dizer. E, então, disse-lhe coisas, muitas delas apenas por dizer, tais como “é a vida”, “as coisas mudam”, “já nem me lembro”. Depois, chegado a casa, olhei-me ao espelho e de repente recordei-me e senti saudades grandes a pesarem com muita força no meu peito. Tentei sorrir, mas nada. O mesmo ar sério a responder-me. Mas, num relâmpago: “Eureka!”, gritei; de tal maneira que o meu gato saiu esbaforido a pensar que eu estava louco. “Já sei qual é a solução. São as crianças quem sabe o que é sorrir. Se eu lhes pedir que desenhem um sorriso para me dar...” Pus um anúncio no jornal a pedir que me deem um sorriso e escrevi esta estória verdadeira. E estou à espera. Eu sei que, de volta, de novo irei ter o meu sorriso.
  • 14. O cd-rom que só rodava às vezes Um dia, um amigo meu, cantor e „dizedor‟ de poesia (palavra inventada por quem acha que se deve dizer, e não declamar, os poemas) ofereceu-me um Cd-Rom que ele tinha gravado com poemas sobre as diversas estações do ano, escritos por muitos poetas portugueses. Podíamos ouvi-lo a dizer os poemas, ao mesmo tempo que líamos o seu texto, ou pequenos filmes mostrando paisagens e cenas campestres características das estações tratadas nos poemas. Além disso, era possível, ainda, vermos fotos dos poetas, ou gravuras dos poetas mais antigos, e notas biográficas e literárias de todos eles. Eu, que gosto de poesia e da forma como o meu amigo a diz, fiquei todo contente e curioso e, primeira coisa que fiz quando cheguei a casa, fui logo para o computador, para ouvir e ver o Cd.Rom. Vocês não imaginam como eu fiquei! Não é que o meu amigo tinha incluído um poema da minha autoria sobre a primavera, sem nada me dizer?! Lá estavam os meus versos a serem ditos enquanto passavam fotos de papoilas e mimosas nos campos do Alentejo; e lá estava um retrato meu, com data de nascimento, chamando-me poeta e escritor. Lá estava eu, ao lado dos poetas que eu amo. Comovi-me e, devo confessar, inchei de orgulho e satisfação. Os dias passavam e eu, sempre com mesmo sentimento de vaidade, assim que chegava a casa ligava o computador, punha o Cd.Rom e lá aparecia eu e o meu poema. Sempre eu e o meu poema. O Cd. Rom não avançava dali, não mostrava os outros poemas, não rodava. Achei tão estranho que pedi ao meu vizinho que visse o Cd. Rom no seu computador. Assim fez, dizendo-me depois: – Belo trabalho este, do seu amigo. – Mas viu tudo? – perguntei. – Sim, tudo funcionou perfeitamente. Intrigado, comecei a pensar: “Mas porque é que não funciona no meu computador e apareço sempre eu?” Bem!... Penso que já descobriram a resposta. Confesso que me sinto envergonhado por me ter deixado levar pela vaidade. Exagerei, sim. Mas continuo a gostar muito dos poetas da minha terra.
  • 15. O coração dorminhoco Noutros tempos, quando os animais falavam e serviam de exemplo para os homens, havia a possibilidade de mudar de coração. Se, por exemplo, eu fosse um gato e quisesse ter um coração de cão, podia trocar. Claro que se eu fosse um hamster e quisesse ter um coração de leão, isso era impossível porque não me cabia no peito. Isto aconteceu-me nas minhas vidas anteriores, há muito, muito tempo. Talvez eu vos conte mais tarde essas histórias; agora, não interessam. Como eu dizia, havia uma lojinha num jardim sempre florido que vendia os corações que eram criados numa pequena oficina onde dez artistas trabalhavam. E era tudo o que se sabia: pequena fábrica, dez artistas. Onde ficava, porquê fabricados por artistas, eram perguntas sem resposta. A loja dos corações pertencia a uma gata siamesa que não deixava fazer qualquer barulho. – Para não perturbar os meus queridinhos. – dizia. Ora, um dia, um lagarto que se sentia muito cansado porque percorria o país inteiro a inspecionar os cursos de água – tarefa muito importante para prevenir inundações fora da estação das chuvas – entrou na loja e, num sussurro, disse à gata: – Dona Gata, preciso de um coração forte, mas sossegado, que me dê algum descanso. A Gata, que conhecia o trabalho do lagarto, ao vê-lo tão cansado, disse: – Veja este, aqui, tão dorminhoco. Foi amor à primeira vista. Entraram no gabinete de mudança, o lagarto deitou-se na marquesa, abriu o peito (isso fazia-se apenas com um ato de vontade) e a Gata mudou-lhe o coração. Quando o lagarto saiu da lojinha, com o seu coração novo, sentiu uma grande vontade de se ir deitar em cima de um muro a apanhar sol. Fechou os olhos e deixou-se estar a sentir o coração a bater muito devagarinho. Daí a nada, adormeceu. No dia seguinte, o lagarto reformou-se, e passou a dormitar ao sol com imenso prazer que lhe vinha do seu coração dorminhoco. Nunca mais quis mudar de coração e é por isso que hoje podemos ver os lagartos a apanhar sol. E é por isso, também, que, às vezes, há inundações fora da época das chuvas: ninguém mais inspecionou os veios de água.
  • 16. A bomba da gasolina Era novinha em folha. E grande. Era alta, mais alta do que é costume. Estava toda pintada de azul claro sobre o qual nasciam pintas em dois tons de azul mais escuro, que mudavam de sítio, hora a hora, enquanto houvesse dia. À entrada havia um grande letreiro onde se lia, em letras de azul escuríssimo: ‟Só abastece condutores bem-dispostos‟. No início, quando construíram a bomba (ninguém conhece os donos), havia sempre uma bicha de quilómetros, à espera de vez. É que... Os carros paravam e todos os condutores saíam com um grande sorriso. No entanto, só alguns, muito poucos, ela abastecia. E que espanto! A gasolina enchia o depósito e o marcador do dinheiro andava devagarinho. A conta era sempre pequena. Depois... depois o carro andava, andava e gastava muito menos que metade do que era seu costume. Está-se mesmo a ver que isto ia ter importância, muita importância. Pouco a pouco, as pessoas começaram a ser simpáticas ao volante, a respeitar os peões, a circular com atenção, sem ultrapassar os limites de velocidade. As ruas e as estradas da região passaram a ser seguras. E eram cada vez mais as pessoas que conseguiam abastecer-se na bomba azul dos encantos e dos condutores felizes. Perguntas: onde é que fica esta bomba encantada? Bem, para já, fica aqui, nesta página, e na nossa imaginação. Depois, quando quisermos... talvez possamos nós ser os seus donos. Quem sabe?
  • 17. O piolho – Mas qual é a utilidade do piolho? – Perguntava um homenzinho muito estranho que vivia no meu bairro e que tinha esta mania de vir para a rua e “lançar à ventania” (era sua esta expressão) perguntas variadas. Eu, normalmente, ria-me destes atos meio tresloucados do pobre homem e seguia a minha vida, mas, hoje, deu-me para ficar intrigado e resolvi aceitar o desafio e lançar-me em busca de uma resposta. De piolhos só me lembrava daquela vez, era eu miúdo, há quantidade de anos que isso foi!, que a minha mãe me levou ao barbeiro para uma grande carecada por causa de tão feias e chatas criaturas, cansada que ela estava de me catar à caça dos ditos cujos que nasciam às dezenas, em partos contínuos, nas cabeças de tudo o que era garotada. Penso, agora, que os adultos também os tinham com fartura. E nesses tempos não havia as mezinhas que hoje existem para matar os bichos. Nem havia os champôs, os sabonetes cheirosos, os secadores de cabelo, as toalhas tão grandes e macias que hoje temos para nos limparmos. Nesses tempos, os piolhos existiam em quantidades de meter susto, podemos bem dizê-lo, porque eram muito más as condições de higiene à nossa disposição. Havia uma grande luta contra os piolhos. Tinha eu resolvido ir até à farmácia perguntar ao meu amigo doutor farmacêutico se uma qualquer epidemia de piolhos teria surgido, por aqui, nas redondezas, quando, na mesa mesmo ao meu lado, no café, uma senhora contava à sua amiga ter descoberto piolhos na filha, depois de a ter visto coçar a cabeça duas ou três vezes. E diz assim a amiga, num tom de voz de mãe zangada com os filhos: – Se ao menos, assim, eles perceberem que têm cabeça? Eu fiquei quase tão surpreendido como a senhora primeira que falou, mas não fiz o ar espantado que ela fez a olhar para a outra que caiu em si e se apressou a explicar: – Desculpa, estou preocupada com o meu Pedro que me apanhou negativa a matemática. E tudo porque se esqueceu que tinha teste e não estudou. E também lhe descobri piolhos, outro dia. Eu ouvi isto e sorri cá para mim mesmo. Afinal já estava ali uma boa resposta: os piolhos servem para nos lembrarmos que temos cabeça. Cabeça para pensar. Se é para isso, viva o piolho! Não é? Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.