3. Definição
A história oral é uma metodologia de pesquisa
que consiste em registrar, através de entrevistas,
testemunhos sobre acontecimentos,
conjunturas, instituições, modos de vida ou
outros aspectos da história contemporânea..
Seria uma prática de pesquisa para a apreensão
de narrativas feita com meios eletrônicos
(gravadores, filmadoras) e destinada à
elaboração de documentos.
4. É um procedimento metodológico que busca
registrar, através de narrativas induzidas e
estimuladas, testemunhos, versões e
interpretações sobre a História em diversos
aspectos: de vida, social, cultural e outros.
Privilegia a realização de entrevistas e
depoimentos com pessoas que participaram de
processos históricos ou testemunharam
acontecimentos.
6. Primórdios: tradição oral de sociedades
africanas e grupos ágrafos.
A História se constituiu cientificamente a
partir da crítica da tradição oral e
do testemunho.
Século XIX criação da profissão
acadêmica de historiador: Leopold von
Ranke, Langlois e Seignobos: primazia
do documento escrito.
7. Os testemunhos orais no século XX
receberam novos sentidos com o surgimento
dos meios eletrônicos de gravação.
Os primeiros estudos de história oral
ocorreram nos E.U.A, os precursores. As
pesquisas eram da área de Ciência Política e
concentravam-se na memória dos ex-combatentes
da 2ª Guerra e de pessoas
notáveis. Tais estudos não se distanciavam de
uma história positivista dos heróis.
8. Paralelamente, desenvolveram-se estudos
ligados à Antropologia, contemplando grupos
sociais negligenciados pela outra tendência.
No México, desde 1956, os arquivos sonoros
do Departamento de Antropologia registravam
as recordações dos chefes da Revolução
Mexicana.
Na Itália, sociólogos e antropólogos utilizaram
a pesquisa oral para reconstituir a cultura
popular.
9. Anos 60 - desenvolve-se uma concepção associada à
perspectiva da história vista de baixo, que dá voz às
minorias e grupos marginalizados
Anos 70 - a história oral passa a ser considerada uma
nova metodologia para a pesquisa histórica. Surgem
associações, revistas, projetos e institutos dedicados a
história oral em vários países.
Anos 80 – período que promoveu reflexões
epistemológicas e metodológicas. Na França e na
Itália se tornou um meio eficiente para motivar os
alunos de história.
10. Anos 90 - Muitos estudos passaram a privilegiar
a questão da subjetividade dos sujeitos. O Fim
da Guerra Fria propiciou à pesquisa oral as
condições de liberdade necessárias e novos
campos de estudos.
As câmeras filmadoras permitiram a
multiplicação dos videogramas, que
complementaram ou mesmo substituíram os
fonogramas.
11. Da influência da Escola
francesa dos Annales
Não se pode separar o
progresso da história oral
Do restabelecimento
/desenvolvimento da
democracia
13. Em 1975 criou-se na Fundação Getúlio Vargas o
primeiro programa de história oral destinado a
colher depoimentos de líderes políticos.
Criação do CPDOC - Centro de Pesquisa e
Documentação de História Contem_ porânea do
Brasil.
Influência da Ciência Política – intenção de criar
um arquivo de documentos orais sobre a história
política brasileira.
14. Maior emprego da História Oral no início dos
anos 80, período da abertura política
brasileira, o que marca a História Oral com um
caráter democrático.
São produzidos estudos a partir de entrevistas
de exilados que retornavam ao país após a
Anistia.
15. A partir dos anos 1990, o movimento em
torno da história oral cresceu muito. Em 1994,
foi criada a Associação Brasileira de História
Oral, que congrega membros de todas as
regiões do país, reúne-se periodicamente em
encontros regionais e nacionais, e edita
revistas e boletins.
Em 1996, foi criada a Associação Internacioal
de História, que realiza congressos bianuais.
18. Especificidades
A fonte oral é singular e não se presta a
generalizações.
Contribui para relativizar conceitos e
pressupostos que tendem a universalizar e
a generalizar as experiências humanas.
São visões particulares dos processos
coletivos. As narrativas possuem
dimensões individuais e coletivas.
19. Duas temporalidades: época do acontecido e da
narração sobre o acontecido.
Predomínio da subjetividade: entendida como o
espaço íntimo do individuo com o qual ele se
relaciona com o mundo social, resultando tanto em
marcas singulares na sua formação quanto na
construção de crenças e valores compartilhados na
dimensão cultural que vão constituir a experiência
histórica e coletiva dos grupos. A subjetividade é o
mundo interno do ser humano. Este mundo interno é
composto por emoções, sentimentos e
pensamentos.
20. Importância do registro subjetivo
O modo como as pessoas olham para a sua
vida. O modo como falam dela, a ordenação
que lhe dão, aquilo que enfatizam, aquilo de
que não falam, as palavras que escolhem, são
importantes na compreensão de qualquer
entrevista.
21. As potencialidades metodológicas
e cognitivas da fonte oral
Recuperar memórias locais,
comunitárias, étnicas, de gênero, entre
outras, sob diferentes óticas e versões.
Recuperar informações sobre
acontecimentos e processos que não se
encontram registrados em outros tipos
de documentos.
22. Contemplar o registro de visões de
personagens ou testemunhas da
história, invisibilizados pela história
oficial.
Apresentar revisões através de novas
versões e interpretações sobre
determinado assunto ou tema.
23. Limites da História Oral
Aplicabilidade do método somente às
épocas contemporâneas, à história do
tempo presente;
Predomínio da subjetividade;
Possível influência, mesmo que
involuntária, do transcritor da entrevista;
Influência da conjuntura sobre o
documento produzido.
24. Tipos de entrevista
História oral de vida – relatos dos sujeitos acerca da
própria existência, pelos quais se pode conhecer suas
relações com seu grupo, profissão, classe e sociedade
em que vivem. Caracteriza-se por depoimentos
prolongados, orientados por roteiros mais abertos, que
objetivam reconstituir a trajetória de vida de
determinado sujeito.
São 3 tipos:
Depoimento biográfico único,
Pesquisa biográfica múltipla,
Pesquisa biográfica complementar.
25. Entrevistas temáticas
São entrevistas que se referem a experiências ou
processos específicos vividos ou testemunhados
pelos entrevistados. São conduzidas a partir de um
tema específico produzindo informações e dados
mais delimitados.
Ex: O imaginário sobre Getúlio Vargas; Memórias
sobre a repressão política; O Holocausto; A
explosão da bomba atômica em Hiroshima; A
participação dos pracinhas na Segunda Guerra,
etc.
27. Preparar um projeto/pesquisa
Escolher um tema / definir objeto de estudo.
Contato com entrevistas já feitas.
Decidir quem será entrevistado (estipular
critérios).
Estabelecer contatos preliminares com os
entrevistados para explicar a intenção do
projeto.
28. Conseguir equipamento para gravação,
aprender a manuseá-lo;
Preparar roteiro de perguntas;
Conhecer o assunto pesquisado para o bom
andamento da entrevista. História oral e
pesquisa documental caminham juntas.
Levar material de apoio para auxiliar o
entrevistado a rememorar.
29. No momento da entrevista
Registrar, no início da entrevista, para o
gravador, os seguintes dados: data, nome do
entrevistador, nome do depoente, local, tema,
tipo do gravador.
Manter-se neutro, evitar demonstrações de
espanto, discordância, etc.
Ser flexível para rever roteiros.
Respeitar as idiossincrasias e as características
da personalidade dos sujeitos.
30. Considerar os imaginários, os limites, as
identidades, as diferenças que caracterizam
aquele sujeito ou grupo social.
Não interromper o entrevistado e respeitar os
momentos de emoção, silêncio e esquecimento;
Evitar perguntas longas e indiretas, formular
perguntas que provoquem respostas.
Produzir imagens do encontro.
31. Recomenda-se que as entrevistas sejam
realizadas por 2 pesquisadores:
O primeiro conduzirá o depoimento,
formulando questões
O segundo ficará responsável pelas atividades
de apoio, tais como controle do gravador,
registro de informações significativas no
caderno de campo.
32. Caderno de campo
Necessário para anotações
complementares: afirmações não-gravadas
mais significativas ou de foro
confidencial, bem como os gestos e as
expressões, os silêncios e as hesitações,
as insistências e as repetições, o tom
peremptório ou evasivo.
33. Carta de Cessão
Ao término de uma entrevista é necessário
apresentar ao entrevistado, para sua
anuência, uma carta de cessão, que deve ser
clara e fazer referência às diferentes
possibilidades de utilização e socialização da
entrevista. É um documento imprescindível
para a divulgação e uso da entrevista.
34. As tarefas podem ser divididas de acordo com
as aptidões de cada um:
Tirar fotos,
Fazer gravações
Elaborar questões
Entrevistar
Escrever no caderno de campo
Transcrição / Tratamento do material
gravado
36. Transcrição
Transposição: código oral escrito
Versão escrita dos depoimentos, buscando
reproduzir com fidelidade, tudo o que foi
dito, sem cortes nem acréscimos.
37. Passagens pouco claras: colchetes [ ]
Dúvidas, silêncios e hesitações: reticências
(...)
Risos: identificados em parênteses (risos)
Negrito: para palavras e frases com forte
entonação;
Atenção com a pontuação (.,;!?), procurando
não alterar o sentido das palavras ou frases.
38. Análise das entrevistas
Através dos depoimentos é possível:
Agrupar entrevistas com aproximação
• temática.
Construir evidências
Estabelecer correlações, comparar versões
Analisar narrativas a partir dos temas
• definidos anteriormente, fazendo a
• interlocução com os materiais estudados.
•
39. Mediação
Nessa etapa final serão apresentados os
resultados e a sistematização final, levantando
os pontos em comum e as diferenças
encontradas nas entrevistas.
O professor assumirá o papel de mediador,
apontando o que achou interessante,
perguntando o que os alunos consideraram
relevante, discutindo com a turma o que se
aprendeu, as dificuldades encontradas, etc.
40. Finalização e devolução
Promover a integração entre a escola e a
comunidade que gerou o trabalho por meio de
um produto histórico – um folder, um texto,
uma exposição, uma palestra, dando acesso
público aos resultados do trabalho. A
finalização do projeto pode acontecer em um
seminário ou feira. Assim a história oral pode
ser aliada na valorização das histórias e dos
saberes locais.
•
41. Resgata experiências individuais e coletivas,
fazendo o aluno vê-las como constitutivas de
uma realidade histórica mais ampla.
Facilita a percepção de continuidades,
mudanças, conflitos e permanências;
Produz um conhecimento que contribui para a
construção da consciência histórica.
42. Gera atitudes investigativas. Alunos e
professores deixam de ser reprodutores do
conhecimento histórico para assumirem juntos
o papel de pesquisadores.
Pode ser instrumento para construção de uma
história mais plural, menos homogênea, que não
silencie a multiplicidade de vozes dos diferentes
sujeitos da História;
43. Interdisciplinariedade
A história oral pode estar presente nos estudos
de outras disciplinas. Há possibilidades de
trabalho com:
Ciências Sociais: análises sociais e
antropológicas.
Arte: Registros fotográficos e desenhos.
Geografia: Estudo de espaços, mapas,
localidades;
Matemática:Tabulação de dados, cálculos,
estatísticas.
Português: produção de textos, narrativas
44. ANÁLISE DE TRECHOS DE FILME:
Narradores de Javé
Drama, Brasil, 2003, 100 min. Diretora: Eliane Caffé.
45. Javé é uma localidade fictícia, no sertão
nordestino, que está prestes a ser inundada
pela construção de uma hidrelétrica. Para
alterar a direção dos acontecimentos, seus
poucos moradores resolvem escrever a história
da cidade, com o objetivo de transformá-la em
patrimônio histórico e preservá-la. Com a
necessidade de escrever um documento
"científico", Biá inicia suas entrevistas com
alguns moradores antigos, tentando reescrever
a história de Vale de Javé.
46. O problema é que as histórias (são 5 versões
diferentes) sobre os personagens se
contradizem e o "escrevinhador" se vê diante
da difícil tarefa de reunir, a partir das versões
escutadas, uma única história e registrá-la na
forma de “documento científico”. Ao longo de
todo o filme, a diretora aborda a questão da
história oficial e os excluídos dessa história,
estabelecendo uma relação entre a oralidade e
a escrita.
47. Trecho 1 - Narradores de Javé - Escrita da
história
Nesse trecho, Antonio Biá anota a história sobre
o herói Indalécio e ao escrever o texto sugere ao
narrador algumas adaptações ao fato. Fragmento
relevante para identificar a distância entre a fala
e a escrita na perspectiva da história oral.
48. Trecho 2 - Narradores de Javé - Questão de
gênero
Nesse trecho, o escrivão Biá escuta, sem muito
interesse, a versão relatada por uma mulher do
povoado. Nesta versão da história da fundação de
Javé, a grande heroína é Maria Dina.
49. Trecho 3 - Narradores de Javé - Oxum
Na versão de um morador negro do povoado de
Javé, o herói seria um líder africano chamado
Indalêo e não Indaleu. Nesta história, surge a
oralidade da memória como praticada por
culturas milenares. O narrador canta a história
em seu dialeto africano.
50. Rompendo o silêncio
Série de 5 Documentários, EUA,
2001, 280 min. Produção:
Steven Spielberg.
51. Projeto de registro audiovisual de depoimentos
da Shoah realizado por Steven Spielberg.
Rompendo o silêncio retrata os horrores do
Holocausto sob o ponto de vista de quem o
vivenciou de perto.
O Holocausto é o tema da segunda guerra que
suscita cada vez mais pesquisas orais, não só
gravadas mas filmadas.
Outras obras sobre o tema:
Silêncio da memória – Nicole Lapider
O universo dos campos de concentração – Michael
Pollack
Shoah – Claude Lanzmann
52. Vídeo - Programa do Globo Universidade:
Pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas, no Rio,
estudam o movimento negro através dos relatos dos
integrantes
História Oral
Programa televisivo, Brasil, 2010, 24 min.
53. Alessandro Euzébio
Mestrando em Educação pela UNINOVE
Especialista em Identidade, Cultura, Políticas Sociais e Serviço Social
Especialista em Educação no Ensino Superior
aeuzebio@bol.com.br