SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 61
Downloaden Sie, um offline zu lesen
2      As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo




     “As Transnacionais nas
    Universidades: A Educação
              Contra o Povo”




             Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

        Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo   3
    Expediente:
Realização:
Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal – ABEEF
Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil – FEAB


Descrição:
Cartilha de textos de subsídio aos debates sobre As Transnacionais nas
Universidades


Edição e Diagramação:
Coordenação Nacional da FEAB – Gestão 2008/2009 – Aracaju/SE
Coordenação Nacional da ABEEF – Gestão 2008/2009 – Piracicaba/SP


E-mails:
ABEEF – cn_abeef@yahoo.com.br
FEAB – cnfeab@yahoo.com.br




                   Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

              Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
4                  As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo

      Sumário


Apresentação ....................................................................................................................... 5



Apresentação das executivas:

    ABEEF ..................................................................................................................... 7

    FEAB .................................................................................................................... 10

    CONCLAEA .......................................................................................................... 14



Textos:

       As Transnacionais ao volante do Brasil ....................................................... 16

       As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo ........... 20

       Conferindo caráter “científico” aos interesses econômicos: como as

corporações se apoderam das universidades ...................................................... 25

       As Transnacionais nas Universidades: Notícias e Dados ........................... 33

       Agronegócios, Quem te Pariu? ...................................................................... 49

       Transnacionais e a Agricultura Brasileira ................................................... 51

       Ciência          &       Tecnologia:             Atuação           do       Movimento              Estudantil            nas

Universidades ......................................................................................................... 57



                                                      Boa Leitura!!!
                                                     Bons Estudos!!!



                             Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

                     Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo         5
    Apresentação
    "...É tempo sobretudo
    de deixar de ser apenas
    a solitária vanguarda
    de nós mesmos.
    Se trata de ir ao encontro.
    (Dura no peito, arde a límpida
    verdade dos nossos erros.)
    Se trata de abrir o rumo.
    Os que virão, serão povo,
    e saber serão, lutando."
    É com esta orientação na mente, coração e pés que o poeta Thiago de Melo
embeleza o inacabável trilho das lutas populares. Assim nós da FEAB (Federação
dos Estudantes de Agronomia do Brasil) e ABEEF (Associação Brasileira dos
Estudantes de Engenharia Florestal) fortalecemos nossas lutas, mística e horizonte.
    Trata-se de abrir o rumo, e assim faremos!
    Trata-se de destruir os velhos muros das universidades.
    Trata-se de não perder de vista a luz que paira nos horizontes dos
acampamentos que insistem em nos apontar o caminho da vitória, logo ali onde o
mais severo vendaval não apaga uma brasa sequer.
    Também se trata de não esquecermos de onde viemos e para onde vamos.
    Nós, estudantes, temos com esta Campanha/Luta a justeza entre as palavras e o
passo para conquistas concretas compartilharmos com o povo. E não teríamos
momento melhor para debatermos a educação que temos e que queremos para o
POVO. Mas não basta debatermos! Sabemos que existe um gigante entre nós e a
palavra, que nos exige grandes tarefas.
     A América Latina, já cansada de entregar seu sangue, não suporta mais a
predação exploradora das grandes empresas do norte. Os seus índios já não tem o
direito de pisar em seu solo, beber da água límpida e sequer podem semear os
grãos que a natureza lhes presenteou.
    Os estudantes por sua vez não podem conviver se avizinhado com os piratas do
século XXI. Estes que não precisam de navios, espadas e lendas; mas de poder,
pesquisas, fundações, patentes e latifúndios. É tempo de lutar contra as
CORPORAÇÕES TRANSNACIONAIS nos campos e cidades; e nós das
universidades, de mãos dadas, também não exitaremos em montar nossas
barricadas.


                  Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

             Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
6          As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo

                              Aos poetas clássicos
                                                            Patativa do Assaré
                                                    (Antônio Gonçalves da Silva)

“...Poeta niversitaro,                        Meu caro amigo poeta,
Poeta de cademia,                             Qui faz poesia branca,
De rico vocabularo                            Não me chame de pateta
Cheio de mitologia,                           Por esta opinião franca.
Tarvez este meu livrinho                      Nasci entre a natureza,
Não vá recebê carinho,                        Sempre adorando as beleza
Nem lugio e nem istima,                       Das obra do Criadô,
Mas garanto sê fié                            Uvindo o vento na serva
E não istruí papé                             E vendo no campo a reva
Com poesia sem rima.                          Pintadinha de fulô.

Cheio de rima e sintindo                      Sou um caboco rocêro,
Quero iscrevê meu volume,                     Sem letra e sem istrução;
Pra não ficá parecido                         O meu verso tem o chêro
Com a fulô sem perfume;                       Da poêra do sertão;
A poesia sem rima,                            Vivo nesta solidade
Bastante me disanima                          Bem destante da cidade
E alegria não me dá;                          Onde a ciença guverna.
Não tem sabô a leitura,                       Tudo meu é naturá,
Parece uma noite iscura                       Não sou capaz de gostá
Sem istrela e sem luá.                        Da poesia moderna.

Se um dotô me perguntá                        Deste jeito Deus me quis
Se o verso sem rima presta,                   E assim eu me sinto bem;
Calado eu não vou ficá,                       Me considero feliz
A minha resposta é esta:                      Sem nunca invejá quem tem
— Sem a rima, a poesia                        Profundo conhecimento.
Perde arguma simpatia                         Ou ligêro como o vento
E uma parte do primô;                         Ou divagá como a lesma,
Não merece munta parma,                       Tudo sofre a mesma prova,
É como o corpo sem arma                       Vai batê na fria cova;
E o coração sem amô.                          Esta vida é sempre a mesma.




                 Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

            Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo        7
  ABEEF – Associação Brasileira dos Estudantes de
Engenharia Florestal




    A Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal - ABEEF,
fundada em 03 de abril de 1971, entidade sem fins lucrativos, surgiu da
necessidade de organizar e articular nacionalmente, regionalmente e localmente os
estudantes de Engenharia Florestal do Brasil. Assim, ao longo de sua história a
Associação atuou em torno do objetivo de construir uma sociedade justa,
igualitária, sem exploradores e explorados e que utilize os recursos naturais de
forma equilibrada, harmônica e sustentável. Ainda hoje esses objetivos se mantem
firmes, e definem o horizonte de trabalho de nossa organização bem como a nossa
forma de atuação. Para isso, a ABEEF tem a universidade como principal área de
atuação, entendendo que todos devem ter direito a uma educação pública, gratuita,
autônoma e de qualidade, mas não a enxerga como uma bolha isolada dentro da
sociedade em que vivemos e por isso expande seus horizontes para além dos muros
da universidade.
     Através de diversas atividades e eventos (como os Estágios Interdisciplinares
de Vivencia, Cursos de Formação Política, Curso de Formação em Agroecologia,
Encontros Regionais, etc), a ABEEF vem trabalhando para que os estudantes de
Engenharia Florestal tenham uma formação ética e política, para compreender e
atuar sobre a realidade social de nosso país, uma vez que a Universidade nos
moldes atuais, cada vez menos cumpre papel de construção de sujeitos críticos à
realidade na qual estão inseridos. É Nesse contexto também, que atualmente a
Associação tem se aproximado dos movimentos sociais populares ligados ao
campo, à floresta e à cidade, além de estreitar ainda mais os laços com outras
entidades do Movimento Estudantil. Esta parceria além de estar proporcionando
uma maior compreensão do papel dos estudantes no processo de transformação
social, principalmente de nós que atuamos na área da Engenharia Florestal;
também esta nos trazendo a clareza da necessidade de articular com os movimentos
parceiros lutas mais amplas que acumulem para a transformação que queremos.
   Como exemplo concreto mais recente, temos a inserção da ABEEF na Via
Campesina Brasil, participando de espaços nacionais como reuniões, seminários e

                  Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

             Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
8          As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo

jornadas de lutas, bem como das articulações estaduais onde elas existem. Isso
estreitou ainda a nossa aproximação com os movimentos que compõem a Via,
principalmente da FEAB, MST e MAB. Isso se deve ao fato de entendermos que
nossas lutas devem estar vinculadas à disputa de um projeto de sociedade, e que
além de sermos estudantes, somos parte da juventude brasileira, juventude que é o
potencial de transformação social ao mesmo tempo em que é o setor da sociedade
em que a dominação ideológica se dá de forma mais intensa, e acima de tudo
somos futuros trabalhadores. É a partir dessa compreensão, que acreditamos que
devemos expandir os horizontes de nossa atuação enquanto um movimento
organizado.
    Para conseguir fazer nosso caminho e alcançar os objetivos que nos
colocamos, temos uma estrutura organizativa com base nos grupos que constroem
a ABEEF localmente e com algumas instâncias descritas abaixo:
    •   Estrutura Organizativa:
     Coordenação Nacional (CN): Tem como função representar a Associação
nacionalmente, planejar e executar atividades e projetos definidos no Seminário de
Planejamento, efetivando as decisões do CBEEF. A CN também deve auxiliar as
Coordenações Regionais, fazendo articulação nas escolas transmitindo um
sentimento mais concreto de ABEEF, bem como convocar e coordenar as
instâncias em espaços nacionais da Associação encaminhando as deliberações.
Além da articulação e integração interna, a CN e responsável por iniciar e/ou
manter relações com outros movimentos e entidades que lutem por uma sociedade
melhor.
    Coordenação Regional (CR): Tem como função representar a Associação
regionalmente, fazendo a articulação nas e entre as escolas da região. As CR’s
devem realizar passadas freqüentes para transmitir o “sentimento de ABEEF” e
acompanhar os trabalhos que são feitos pelos estudantes dos CA’s e DA’s) –
Entidades de base, sem as quais não existiria Associação. Além de levar ao
conhecimento das novas escolas as políticas da ABEEF, bem como transmitir a
importância da organização estudantil.
    Atualmente a ABEEF esta estruturada em cinco regionais:
    - Regional Amazônia (PA, AM, AC, RO, AP, RR);
    - Regional Caatinga (BA, SE, AL, PE, PA, RN, CE, PI, MA);
    - Regional Cerrado (DF, GO, MT, TO, MS);
    - Regional Mata Atlântica (SP, RJ, MG, ES);
    - Regional Araucária (PR, SC, RS);
    Núcleo de Conjuntura Política (NCP): Tem como função coletar,

                  Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

             Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo        9
sistematizar, produzir e divulgar materiais que sirvam de subsídio para as
atividades da Associação, servir de órgão consultivo para as ações das instâncias,
bem como pensar eventos que permitam a formação política dos estudantes.
     Núcleo de Trabalho em Agroecologia (NTA): Tem como função coletar,
sistematizar, produzir e divulgar materiais que sirvam de subsidio para as
atividades da Associação, bem como pensar e participar de eventos que permitam a
discussão sobre a matriz tecnológica e produtiva em que nossa sociedade está
atualmente inserida, sendo propositivo para inversão da mesma, assim cuidando da
formação agroecológica e política dos estudantes.
    Núcleo Arquivo Histórico (NAH): Localizado permanentemente na UFMT -
Cuiabá, este núcleo reúne o acervo histórico da Associação. Tem como função
guardar e organizar o acervo da Associação de modo a facilitar o acesso e pesquisa
de seus documentos, além de sempre realizar nos eventos da ABEEF apresentações
que permitam aos estudantes conhecer a história de luta da Associação.
     CBEEF: O Congresso Brasileiro dos Estudantes de Engenharia Florestal é a
instância máxima de deliberação da Associação, por reunir o maior número de
estudantes. Acontece anualmente numa das escolas de Engenharia Florestal e
permite aos estudantes um aprofundamento a respeito das linhas defendidas pela
ABEEF, definindo as políticas sobre as mesmas que serão encaminhadas no
período até o próximo CBEEF. A sua realização é feita pela comissão organizadora
formada por estudantes da escola sede e representantes das Coordenações Nacional
e Regional. Seu eixo temático é definido nos conselhos da Associação. A sucessão
das instâncias da ABEEF ocorre no CBEEF.


    Por fim, vale falar um pouco da linha de ação que a ABEEF definiu para
trabalhar nesse ano de gestão. Além das bandeiras históricas que nós trabalhamos
em nossa organização (o debate de gênero, questão agrária, agroecologia,
universidade e sociedade, movimento estudantil, etc.) nessa gestão, nós definimos
em nosso seminário de planejamento, uma linha central de trabalho que serviria de
eixo central de nossas ações e permearia todas s nossas bandeiras. Esse eixo foi o
do debate em torno do agronegócio florestal, que norteou nossas atividades durante
esse ano. Nesse contexto, buscando avançar nesse debate e acumular forças em
nossa luta, que nos envolvemos nessa campanha e conjunto com nossos parceiros
da FEAB, que pretende amarrar nosso ano de trabalho discutindo esse tema das
transnacionais e sua interferência em nossa formação profissional e na disputa da
universidade.




                  Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

             Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
10         As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo

  FEAB – Federação dos Estudantes de Agronomia do
Brasil




     •   Histórico
    A organização dos estudantes de Agronomia teve inicio há mais de 50 anos. A
primeira organização estudantil ocorreu juntamente com os estudantes de Medicina
Veterinária, onde foi criada em 1951 a União dos Estudantes de Agronomia e
Veterinária do Brasil (UEVAB) durante o II Congresso dos estudantes de
Agronomia e Veterinária.
     Essa organização durou somente até 1955, onde os estudantes de Agronomia
criaram sua própria organização. Em 1954 os estudantes de Agronomia realizaram
seu primeiro congresso, na época o CBEA – Congresso Brasileiro de Estudantes de
Agronomia. Durante o II CBEA foi criado o Diretório Central dos Estudantes de
Agronomia do Brasil (DCEAB). O DCEAB sofreu duros golpes durante o regime
militar, onde a exemplo da União Nacional dos Estudantes (UNE), movimentos
sociais populares e partidos políticos, em 1968 caíram na clandestinidade, através
do Ato Institucional número 5 (AI-5). Este decreto proibiu a reunião de pessoas
para fins políticos. Ocorreu ainda, prisão de líderes estudantis e o roubo dos
materiais dos arquivos. As atividades dos estudantes de agronomia foram quase
totalmente interrompidas entre os anos de 1968 e 1971.
    Em 1972 realizou-se o 15° Congresso Nacional dos Estudantes de Agronomia
– CONEA, em Santa Maria/RS. Neste evento retorna-se o movimento a nível
nacional, com a fundação da Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil –
FEAB.
     Desde sua fundação a entidade é protagonista de inúmeras conquistas que
asseguram mudanças no curso de agronomia, tais como: o fim da Lei do Boi (cota
de 50 por cento de vagas para filhos de fazendeiros), o Currículo Mínimo da
Agronomia, a Lei dos Agrotóxicos (receituário agronômico); a discussão
diferenciada de Ciência e Tecnologia, frente à necessidade de modelos agrícolas
alternativos ao da “revolução verde”; a participação na construção da


                  Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

             Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo      11
Agroecologia, entre outras.
    Durante seu processo histórico travou várias lutas junto aos movimentos
sociais populares do campo, a exemplo da campanha nacional de reflexão sobre o
gênero; campanha nacional pelo limite da propriedade da terra; campanha nacional
“Sementes Patrimônio da Humanidade”. Além de contribuir com a organização
dos estudantes na América Latina com a criação de uma entidade que abrange as
federações de estudantes de agronomia dos países latinos e Caribe, a CONCLAEA
– Confederação Caribenha e Latino Americana de Estudantes de Agronomia.
Sendo assim, sua atuação é um marco na luta em defesa da Educação e nas ações
do movimento estudantil brasileiro e internacional.
    •   Objetivo
     A FEAB tem como objetivo a construção do socialismo, entendendo-o como
uma sociedade onde não haja a exploração do ser humano pelo ser humano e não
exista a propriedade privada dos meios de produção. Para chegar ao nosso objetivo
temos como foco a transformação da universidade, com vistas a atender as
demandas da classe trabalhadora oprimida. Para isso é necessária a realização de
lutas em conjunto com as demais organizações de estudantes, movimentos sociais
populares, e demais organizações que possuam afinidades políticas com a FEAB.
Atuando dessa forma, para fortalecer o ME através da realização de lutas sociais
que concretizem uma coesão organizativa e reivindicatória e que construa uma
política constante de formação em defesa da universidade pública financiada pelo
Estado, de qualidade, socialmente referenciada, democratizada em seu acesso e
popular.
    •   Estrutura organizacional
    A FEAB está estruturada através de uma Coordenação Nacional (CN), 8
Superintendências Regionais, 8 Núcleos de Trabalho Permanente (NTP’s), os
Centros e Diretórios Acadêmicos – CA’s e DA’s e alguns outros grupos
organizados nas escolas de Agronomia.
    Coordenação Nacional: Responsável por operacionalizar as políticas
deliberadas no Congresso, possui sede em uma única escola, durante a gestão de
um ano, hoje sediada na Universidade Federal de Sergipe (UFS) em Aracaju/SE.
    Superintendência Regional: Cada superintendência tem uma Coordenação
Regional (CR) que é responsável por encaminhar as políticas deliberadas no
Congresso em uma determinada região geográfica, possui sede em uma única
escola. Segue abaixo, a relação das superintendências regionais, com a sua
respectiva área de abrangência e escola sede da Coordenação Regional:


                   Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

             Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
12          As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo

     - Regional I: RS – CR: Porto Alegre – RS
     - Regional II: PR e SC – CR: Curitiba - PR
     - Regional III: MG, RJ e ES – CR: Seropédica – RJ
     - Regional IV: DF, GO, MT, MS, RO e AC – CR: Tangará da Serra - MT
     - Regional V: PE, RN, PB, PI e CE – CR: Recife - PE
     - Regional VI: MA, PA, AM e TO – CR: Marabá - PA
     - Regional VII: SP – CR: Botucatu - SP
     - Regional VIII: BA, SE e AL – CR: Cruz das Almas - BA
    Núcleos de Trabalho Permanente: Constituem-se em órgãos consultivos e de
elaboração teórica sobre as bandeiras de luta da federação. Os NTP’s possuem sede
numa única escola. Segue abaixo os NTP’s e suas respectivas sedes atuais:
     - Arquivo e Histórico: Curitiba - PR
     - Educação: Montes Claros - MG
     - Estudos Amazônicos: Cuiabá - MT
     - Ciência e Tecnologia: Campos - RJ
     - Relações Internacionais: Lavras - MG
     - Juventude e Cultura: Florianópolis - SC
     - Movimentos Sociais Populares: Diamantina - MG
     - Agroecologia: Belém - PA
     •   Os Eventos
     A instância máxima de deliberação da FEAB é o CONEA – Congresso
Nacional dos Estudantes de Agronomia. É o encontro anual de todos os estudantes
de agronomia do Brasil de cunho integrativo onde se discute questões inerentes ao
curso, a conjuntura nacional, a situação agrária e agrícola regional e nacional, a
educação, avaliando e apontando perspectivas, com o intuito de apresentar
propostas e formas de encaminhamentos que visem solucionar os problemas
levantados no evento.
    Dentre as principais atividades promovidas atualmente pela FEAB, estão os
ERA’s (Encontros Regionais de Agroecologia), os EREA’s (Encontros Regionais
dos Estudantes de Agronomia), os Seminários de Questão Agrária, os CEPA’s
(Curso de Economia Política e Agricultura) e os EIV’s (Estágios interdisciplinares

                   Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

              Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo      13
de vivência) em comunidades de pequenos agricultores (as) e assentamentos de
reforma agrária. Os EIV’s foram premiados pela UNESCO em 1992, como
iniciativa de destaque da juventude latino-americana.
    •   As Bandeiras de Luta
    São as linhas norteadoras das discussões realizadas pela FEAB, deliberadas no
CONEA, e que devem ser colocadas em prática por todas as entidades que
compõem a FEAB. Devendo, assim, serem priorizadas pela coordenação nacional
e pelas coordenações regionais. Algumas de nossas principais bandeiras são:
    - Formação Profissional
    - Ciência e Tecnologia
    - Universidade
    - Juventude, Cultura, Valores, Raça e Etnia
    - Agroecologia
    - Movimentos Sociais
    - Relações Internacionais
    - Gênero e Sexualidade




                  Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

             Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
14         As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo

  CONCLAEA – Confederação Caribenha e Latino
Americana de Estudantes de Agronomia




     •   Histórico
     O movimento estudantil da agronomia discute o tema de relações
internacionais desde os anos 60, quando se realizou a 1ª Convenção Latino
Americana de Estudantes de Agronomia, evento de teor acadêmico, visando a
questão agrária e o ensino agronômico principalmente. Uma segunda edição foi
realizada no México posteriormente, mas o período de regimes militares que já
começava a se instalar no continente interrompeu esta articulação e colocou na
clandestinidade diversas organizações estudantis na América Latina.
    É no ano de 1989, durante o XIII Festival Mundial da Juventude, realizado na
República Popular da Coréia, que sete países, dentre eles o Brasil, assinam um
manifesto para a realização do I Congresso Latino Americano e Caribenho de
Entidades Estudantis de Agronomia – CLACEEA. Também neste ano são criados
os Núcleos de Trabalho Permanente da FEAB, dentre estes o NTP de Relações
Internacionais, sediado em Pelotas, onde se realiza este primeiro congresso em
1991. Pela participação de poucos países, optou-se por realizar o II CLACEEA, no
ano seguinte, em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia. Surge então, em 1992, a
Confederação Caribenha e Latino Americana de Estudantes de Agronomia –
CONCLAEA.
     •   Lutas
     A CONCLAEA nasce como uma articulação do movimento estudantil de
agronomia, que luta pela transformação do ensino agronômico, em defesa de uma
universidade pública, autônoma, democrática e de qualidade, pela soberania dos
povos e relação com os movimentos sociais. Ao longo destes anos a CONCLAEA
tratou de se consolidar, crescer e definir politicamente, levantando bandeiras
próprias do movimento estudantil e buscando os meios para se vincular com os
setores populares. Tem um papel importante de intercâmbio de experiências
(políticas, organizativas, sociais e culturais) dos modelos de resistência dos
diversos países, a exemplo dos estágios de vivencias, realizados também na
            Argentina e Colômbia.

                  Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

             Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo       15
    •   Organização
     CLACEEA - Todos os anos realiza-se o congresso que é o fórum de
deliberação da confederação. É também um espaço para discussão política e
intercâmbio, além de realizar estágios, junto com os movimentos sociais do país de
acolhimento.
   Pré-CLACEEA - Espaço para a organização conjunta do CLACEEA. Mas é
também um espaço de articulação e discussão.
     Coordenação Geral (CG) - A GC tem um papel de facilitar as organizações
dos países; bem como coordenar e executar as deliberações do CLACEEA; além
de fazer a articulação e comunicação entre os países.
    Coordenações Sul e Norte – Estas coordenações, assim como a CG, têm como
função facilitar a organização da CONCLAEA, mas, em suas regiões. A
Coordenação Sul inclui os países da América do Sul e a Coordenação Norte
envolve os países da América Central e Caribe.
     No ano de 2008 a FEAB esteve com a coordenação geral da CONCLAEA, e
alguns de nossos companheiros estiveram por nossa América Latina, fazendo
passadas nas universidades e contribuindo para a organização dos estudantes nos
diversos países. Em janeiro de 2009, no XIX CLACEEA realizado em Tunja,
Colômbia, a FEAB assumiu a Coordenação Sul. O pré-CLACEEA, segunda
instância da confederação, será realizado no México, e o XX CLACEEA, no
Instituto de Agroecologia da América Latina da Via Campesina, em Barinas,
Venezuela.
    Sigamos em frente, a levar a bandeira do internacionalismo e da CONCLAEA,
a resgatar a cultura mochileira e a sair pelos caminhos da América, a conhecer
nuestros hermanos e a lutar juntos...




                  Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

             Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
16           As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo

     As Transnacionais ao Volante do Brasil
         "Sem sombra de dúvida, a vontade do capitalista consiste em encher os bolsos, o
         mais que possa. E o que temos a fazer não é divagar acerca da sua vontade, mas
                investigar o seu poder, os limites desse poder e o caráter desses limites."
                                                                                Karl Marx

     Corporação Multinacional, Corporação Global, Transnacional e Empresa
Internacional; são termos que as novas gerações brasileiras viram tornar-se comum
no cotidiano da sociedade, quase como um termo natural e iliquidável. Na
literatura sobre o tema costuma-se utilizar o termo CMN (Corporações
Multinacionais). Os autores que não permitem que se dilua caráter dominante e
inerente, dessas corporações, preferem utilizar o termo Corporações
Transnacionais em detrimento de Multinacionais.
     •   A origem
     A modernização do sistema produtivo após a 2ª guerra mundial nos trouxe
novos parâmetros para a produção industrial. Após a queima massiva da produção
de guerra, a superprodução tecnológica e as ampliações de bases militares, aliada
as alianças decorrentes da guerra; abriu-se terreno para um novo modelo de relação
mercantil e de dominação política no momento em que ainda havia uma forte
disputa entre o bloco capitalista (EUA e aliados) e socialista (URSS e aliados).
Este foi o marco da nova forma que as indústrias, até então nacionais, começavam
a adquirir e/ou maturar. Foi o momento em que as indústrias se deslocaram,
amadureceram e ramificaram seus negócios para o restante do globo na tentativa de
hegemonização do modelo.
    Logo este modelo teve que se ampliar diante de territórios em disputa e com
características interessantes para seu desenvolvimento, como o caso da América
Latina e África; algumas das condições observadas:
    - Abundância de mão-de-obra com baixos custos, em comparação aos salários
pagos em países desenvolvidos.
    - Riqueza em matéria-prima (água, minérios, energia, agricultura, dentre
outros).
     - Infra-estrutura promovida pelo governo do país onde a empresa se instala.
     - Leis ambientais brandas.
     - Incentivos tributários, como isenção parcial ou total de impostos.
     - Permissão para enviar os lucros aos seus países de origem.


                    Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

              Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo                     17
    Todas estas características compõem implicitamente as regras gerais e vitais
para o desenvolvimento das corporações transnacionais, cujas explicitaremos mais
adiante.
     Em primeiro plano identificamos a origem aliada ao domínio militar que por
muitas vezes fora utilizado severamente para a inserção e controle político dessas
corporações, porém o sistema capitalista aperfeiçoou-se de um ponto onde a
rigidez política antidemocrática e ditatorial assegurasse a inserção e ideológica,
para um ponto em que condicionasse o território para o crescimento sorrateiro da
nova lógica, já com a sociedade impregnada ideologicamente, e com uma falsa
idéia de democracia diante de um povo anestesiado.
     Algumas tarefas, ou problemas, a serem resolvidos pelos novos imperialistas
era a relação com os estados nacionais e com as massas populares.
       •     As Transnacionais e o estado
    A atuação destas empresas se dá em todos os âmbitos da sociedade, o que é
uma característica fecunda para esta forma de organização do capital. Como nos
traz Herbert J. de Souza: “No momento em que o capital mundial já é uma
realidade em centenas de países (isto é, já é a forma dominante de produção em
centenas de países) a grande contradição que ele enfrenta é a de como fazer
coexistir a sua vocação e suas necessidades mundiais com os limites e as
necessidades “nacionais” das sociedades onde opera. Esta contradição tem sua
dimensão econômica (as necessidades da economia pensada em termos mundiais
não correspondem necessariamente às necessidades pensadas em termos
nacionais) e política. Para poder existir nos espaços nacionais, o capital mundial
necessita do fiat do poder político de cada país. E aí onde começa o nosso
problema, o da relação entre as corporações transnacionais e os estados
nacionais.”1.
    Depois de instalado nos países - podemos extrair essa análise de inúmeras
experiências latinas - o perfil do sistema de poder transnacional nos deixou as
seguintes características:
    - Os processos eleitorais foram banidos por algum tempo e com o passar das
etapas, controlados de forma a não ameaçar o núcleo do poder executivo.
   - Os movimentos e partidos populares foram submetidos à lógica das leis de
Segurança Nacional. O inimigo, agora interno, é o próprio povo.




1
    SOUZA, Herbert José de. O Capital transnacional e o estado. Petrópolis: Vozes, 1985. 160 p.

                        Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

                  Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
18            As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo

    - Por algum Tempo os órgãos de formação de opinião pública foram
submetidos à censura e posteriormente controlados diretamente pelas corporações,
sob à cunha da liberdade crítica enquanto conquista popular.
     - E obviamente que para todo o processo de inserção, o estado militarizado
tratou toda e qualquer ameaça popular como caso de guerra.
    - Por fim sintetizamos essa herança com a perda da soberania nacional, perda
de movimento popular e perda de substância democrática.
     •    Formas e estratégias de controle político do capital Transnacional na
          atualidade
    O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio
Pochmann em conversa com alguns partidos políticos sobre a crise, afirmou:
“Diferente da crise de 1929, que teve início no setor produtivo e avançou para o
setor financeiro, a atual crise foi explodida no mercado financeiro, atinge o setor
produtivo e provoca graves e sérios problemas sobre a geração de emprego,
manutenção de postos de trabalho e distribuição de renda”.
    E continou: “hoje, as 500 maiores corporações do mundo detêm o faturamento
de 46% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial. No Brasil, apenas três maiores
empresas transnacionais acumulam o valor correspondente ao PIB brasileiro”.
    Hoje a América Latina é um dos palcos centrais para as mais profundas e
diversas disputas entre organizações populares e corporações de capital
transnacionalizado. Inclusive temos alguns países que mantém uma postura rígida
junto às empresas estrangeiras, como o caso do Equador quando proibiu a presença
de transgênicos (tecnologia dominada pelas transnacionais) no auxílio escolar
alimentar. Esta medida compõe parte da recente Lei de Segurança Alimentar
aprovada pelo congresso e construída, também, por organizações indígenas e
camponesas.
    O Brasil, como pólo estratégico, é um grande território sem porteiras para a
atuação das CMNs. Podemos hoje, com clareza, identificar a participação destas
corporações nos principais meios de decisão e pesquisa do estado. Estas empresas
tem passe livre nas Universidades, compõem indiretamente a CTNBio2 (A
composição desta Comissão é atrelada a indicações do “estado”), formam seletos
grupos detentores de ações da Petrobrás, Vale, etc; além de financiarem inúmeras



2
  Comissão Técnica Nacional de Biossegurança composta por integrantes indicados pelo governo,
e parte deles são professores de universidades que também fazem pesquisas com transgênicos junto
comas transnacionais.

                      Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

                Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo    19
campanhas eleitorais para a ramificação, ampliação e controle das políticas
essenciais do estado preferencialmente estabilizado.
    Toda dominação de povos se dá na esfera econômica e ideológica trazendo
inúmeras características necessárias para essa relação. As formas globais ou
hegemonizantes do capital nada mais é do que o seguro imperialista dos países
ricos para absorção dos lucros das operações em questão. Por mais que se dêem
novos nomes ao modelo capitalista, ele sempre se pautará na sua característica
fundamental, a maximização dos lucros através da expropriação de capital e
acumulação, em primeiro lugar.
    É interessante refletirmos sobre esta pauta justamente para observarmos os
elos que a história nos deu. Nunca é demais exercitar a memória e vasculhar as
raízes da Bancada Ruralista, da CTNBio, dos Canaviais, democracia, partidos,
privatizações logo após as ditaduras e também as raízes das mobilizações e lutas
populares. Hoje em dia ainda nos espanta observar a incrível sistematicidade das
ações dessas corporações. Daí nos perguntamos: Ninguém ta vendo isso? A
CTNBio, o MEC, as Câmaras, o estado e o povo? Esse é ponto da questão, as
CMNs estão inseridas em todas as brechas do estado, ou seja, elas respondem e
executam com a retaguarda coberta pelo estado, quando não são o próprio. Mas e o
povo? Na história o povo sempre foi perigoso para a ordem, por isso o povo deve
se curtir apenas da participação eleitoral – longe de negá-la enquanto conquista -
depositando lá suas perspectivas de mudanças longe das grandes mobilizações e
organizações.
    O espetáculo democrático brasileiro (apelido que rede/corporação globo
concedeu às eleições) concretizou seu papel, como apontavam os estudiosos
contrários às CMNs; mais do que nunca podemos falar que o “espetáculo
democrático” não ameaça o projeto hegemônico, ou melhor, alicerça e legítima as
operações.
    A Aracruz lidera a lista de doações para campanhas eleitorais. Foram mais de
R$ 900 mil doados a campanhas de deputados estaduais e federais. Entre os
candidatos que receberam dinheiro da Aracruz, 21 elegeram-se deputados
estaduais (do PP, PMDB, PSDB, PPS, PT e PDT) e 14 deputados federais (do
PSB, PFL, PDT, PMDB, PSDB e PP). A Votorantim destinou R$ 348 mil para
campanhas eleitorais no RS e a Stora Enso, R$ 103 mil. Uma das campeãs de
doações em todo o país, a Aracruz divulgou uma nota oficial afirmando que as
doações são uma “contribuição ao amadurecimento do processo democrático” 3.



3
    Marco Aurélio Weissheimer, Carta Maior, 8 de dezembro de 2006

                       Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

                  Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
20          As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo

     AS TRANSNACIONAIS NAS UNIVERSIDADES:
     A EDUCAÇÃO CONTRA O POVO
         “Tenho que dizer que se pinte de negro, que se pinte de mulato, não só entre os
alunos, mas também entre professores; que se pinte de operário e camponês, que se pinte
      de povo, porque a Universidade não é patrimônio de ninguém e pertence ao povo”
                                                                           Che Guevara

     A ação ofensiva do capital internacional na América Latina e no Brasil, que é
visto como campo estratégico de exploração econômica, a exemplo das
Transnacionais, como a Votorantim em Rondônia, Suez em Manaus, Aracruz
Celulose no Rio Grande do Sul, Bahia, Espírito Santo, nos mostra como este tipo
de organização política hegemonista vem interferindo na nossa soberania territorial
e popular, e para além também nos encalça em todos os âmbitos, inclusive nas
universidades.
     Como já debatemos inúmeras vezes na FEAB/ABEEF e no combativo
Movimento Estudantil geral, não é novidade a fragmentação da Reforma
Universitária para driblar a oposição dos Movimentos pela educação. Mas neste
momento chamamos a atenção para os pontos que permitiram, permitem e
permitirão a aproximação sorrateira do capital transnacional com a educação e
conseqüentemente com o estado cumprindo sua meta de inserir-se no poder
político de cada país onde atua.
     •   As Transnacionais, a Educação e as Fundações de Apoio
     De acordo com a socióloga Marilena Chauí, a educação atual é colocada no
campo dos Serviços Não-Exclusivos do Estado, isto é, aqueles que podem ser
executados por instituições não-estatais, na qualidade de prestadoras de serviços, o
Estado provê tais serviços, mas não executa uma política, nem executa diretamente
o serviço. Nestes serviços estão incluídas a educação, a saúde, a cultura, as
utilidades públicas; portanto o estado se desobriga de uma atividade
eminentemente política, uma vez que pretende desfazer a articulação democrática
entre poder e direito. Dessa maneira, ao colocar a educação no campo de serviços,
deixa de considerá-la um direito dos cidadãos e passa a tratá-la como qualquer
outro serviço público, que pode ser terceirizado ou privatizado. A educação, nesta
forma, são organizações sociais prestadoras de serviços que mantêm uma relação
de contrato de gestão com o estado, denominando, portanto, uma nova conotação à
autonomia, resumindo-a ao gerenciamento empresarial das instituições. A
‘’autonomia’’ prevê que, para cumprir as metas e alcançar os indicadores impostos
pelo contrato de gestão, a universidade tem ‘’autonomia’’ para ‘’captar recursos’’
de outras fontes, fazendo parcerias com empresas privadas. Cria-se também um

                   Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

              Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo                          21
Fundo de Apoio Universitário, com recursos públicos que podem ser repassados
a qualquer universidade, desde que ela se apresente como prestadora de serviços e
cumpridora das cláusulas do contrato de gestão. Estas cláusulas são baseadas nas
diretrizes Tempo/Qualidade/Quantidade, onde os estudantes se caracterizam
enquanto mercadoria, e consequentemente incorporados de preceitos industriais
como: Padronização, especificação (como no modelo industrial fordista4),
acumulação, valorização, desvalorização, etc. Nesta ordem temos claramente a
idéia que os estudantes ficam alheios aos anseios populares na medida em que
viram peças do mercado.
    Dentre os pontos que destacamos abaixo poderemos ver claramente as brechas
que vão se completando logicamente para dar sentido ao fortalecimento do capital
privado. Iniciando pela compra de vagas nas grandes instituições/corporações
privadas através do PROUNI; em seguida pela legitimação da ineficiência do
ensino público através da precária avaliação chamada SINAES, que aponta como
solução para as metas não atingidas a captação de recursos privados que também
coloca em jogo os interesses de lucro; pela certificação jurídica atribuída pelas
PPP’s e por fim a lei de inovação tecnológica que permite as patentes e sigilo dos
resultados de pesquisas dentro das estruturas do estado, ou melhor, do povo
brasileiro!
     1- Prouni (Programa Universidade Para Todos) onde uma importante parcela
de atribuições que hoje cabem ao Estado, por força da Constituição, está sendo
transferida para a iniciativa privada.. Em decorrência, o princípio da
universalização da oferta dos serviços públicos poderá ser abandonado, cabendo ao
Estado tão somente o investimento em ações focais através de programas
assistenciais destinados à população mais pobre e miserável. (MANCEBO;
SILVA, 2004).
     2 - Sinaes (Sistema Nacional da Educação Superior) regulamenta a avaliação
institucional e de alunos de modo tal que, na prática, anula a autonomia
universitária, criando comissões de avaliação que, no limite, são superiores aos
Conselhos Universitários 5.
    3 - As PPP’s (Parcerias Público-Privadas) que transferem atribuições do
Estado em todos os tipos de empreendimento e gestão à iniciativa privada,


4
    Modelo forjado pela indústria automobilística norte americana (ford) na intenção de otimizar os
lucros enquanto reorganizava a produção e relações de trabalho. Neste modelo identificamos a
especialização dos trabalhadores e incorporação dos mesmos no valor de mercadoria. Na educação
tivemos a departamentalização do ensino, a mercantilização e diversas características fabris nas relações
sociais.
5
  http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2004/10/292112.shtml

                       Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

                 Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
22              As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo

inclusive no que diz respeito a serviços públicos sociais como saúde e educação.
Através do projeto, a produção e os serviços de natureza pública e coletiva da
pesquisa e desenvolvimento tecnológico, assim como a defesa do meio ambiente,
do patrimônio histórico e cultural, dos interesses da Nação junto aos órgãos
internacionais ficarão abertos à parcerias. Apenas a regulamentação, legislação e
policiamento continuarão sob o monopólio do Estado, que fica claro o
investimento e abertura do governo pra o capital internacional, onde a universidade
perdem seu papel perante à sociedade 6.
     4 - Lei de Inovação Tecnológica que aprofunda o processo de privatização da
universidade pública, tem o intuito de transformar a pesquisa realizada nas
universidades públicas (que se enquadram no que a lei chama de Instituições
Científicas Tecnológicas – ICT’s) mais adaptáveis às leis de mercado. Já no seu 3º
artigo, a lei prevê “alianças estratégicas” entre universidades, empresas nacionais
ou multinacionais sem fins lucrativos. O artigo prevê parcerias na produção de
conhecimento, bem como a utilização de laboratórios e equipamentos das
universidades públicas por essas empresas. O capítulo 3º regimenta todo o tipo de
criação de patentes (artigo 6º) sobre a produção científica das instituições públicas.
Além disso, institucionaliza possíveis remunerações extras recebidos aos
pesquisadores envolvidos com projetos lucrativos (artigo 8º §2º). Isso contraria a
lógica na qual a produção de conhecimento está calcada: pública e com imediata
publicização (publicações em revistas e apresentações em congressos).
     O governo coloca a discussão desta lei descolando-a do processo de Reforma
Universitária. Outra forma de alienar todos estes processos de privatização das
universidades. Delegar a outro ministério, que não o da Educação, a questão da
inovação tecnológica e discuti-la de maneira desarticulada da questão da Reforma
Universitária, pode acarretar em graves conseqüências para produção tecnológica
na universidade, bem como para formação profissional. Trata-se do
empobrecimento do ensino, aprofundamento da mercantilização do conhecimento
e arrefecimento do potencial crítico da universidade.
       •     As Transnacionais
    Agora ordem é o estado limpar o meio de campo para os “Mercadores da
educação”. Com a educação transformada em mercadoria e as portas abertas para
os investimentos privados, todo conhecimento produzido nas universidades com a
nossa mão de obra barata, servirá para as grandes empresas aumentarem cada vez
mais seus lucros longe das necessidades reais dos trabalhadores que pagam seus
pontuais impostos.


6
    http:// www.enecos.org.br/docs/barrar_reforma.doc

                        Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

                  Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo                    23
    Como claro e, infelizmente, corriqueiro exemplo, temos abaixo a notícia de um
lançamento e patenteamento de um produto fruto da parceria (PPP’s) de 30
universidades com empresa Syngenta:
    “A multinacional Syngenta está lançando no mercado nacional o produto
Actara (Tiamethoxam). Esse produto é eficiente na proteção do cultivo e pouco
tóxico ao meio. A nova tecnologia é fruto de mais de dez anos de pesquisas,
envolvendo 30 universidades brasileiras e uma alemã, e resultou no
desenvolvimento de um produto único, o primeiro bioativiador para cana-de-
açúcar do mercado. Os estudos científicos foram realizados pela Syngenta em
parceria com entidades de pesquisa e tecnologia agrícola, tais como Escola
Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), Universidade Estadual
Paulista (Unesp), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa),
Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal (Unipinhal), entre
outras, e confirmaram que o Tiamethoxam contribui para o aumento da
produtividade da cana em até 12% por hectare.”7.
     Esse exemplo apesar de corriqueiro e sedutor para uma promessa de
desenvolvimento para o Brasil, merece alguns complementos, cujo não
encontramos nos editais para estagiários, nem tampouco nos seus boletins
eletrônicos diários. A Syngenta lidera as pesquisas e a produção de sementes
transgênicas com aval da CTNBio, além de ser uma das maiores empresas com
patente sobre a tecnologia Terminator8 . Esta mesma empresa também foi acusada
de fazer experimentos com transgênicos em áreas de amortecimento de uma
reserva ambiental no Paraná, protegidas inclusive pela lei. E ainda pior, em 2007
foi acusada por ter contratado uma empresa de segurança para executar o
camponês e militante do MST Valmir Mota, o Keno, que se encontrava acampado
na região onde o Movimento e a Via Campesina faziam denúncias sobre as
infrações da Syngenta.
    A FEAB e a ABEEF já lançou diversas campanhas contra a reforma
Universitária, pela qualidade do ensino, entre outras lutas. No ano passado
lançamos a campanha “Qual o Papel da CTNBio?” denunciando o papel que o
estado vem cumprindo em desacordo com o povo, e agora além destas lutas, que
são permanentes, estamos levantando outro eixo polêmico, “As Transnacionais nas
Universidades: A educação contra o Povo!” Fazendo uma denúncia direta ao
projeto que rege inclusive os governos.

7
  http://ethanolbrasil.blogspot.com/2008/02/syngenta-lana-produto-para-cana-de-acar.html
8
  A tecnologia Terminator, também conhecida como sementes suicidas, são sementes modificadas para
germinar somente uma vez, por esta razão foram banidas de vários países por interferir na soberania
alimentar dos povos.


                     Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

                Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
24         As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo

     Esta a campanha deverá se complementar, a partir do nosso lócus de ação, com
outras lutas de organizações populares, formando uma unidade que há muito têm
sido esquecida entre o Movimento Estudantil e demais Movimentos Sociais. Para
tanto é preciso demarcar nosso campo objetivo de atuação na esfera das
instituições de ensino e sob a pauta educacional, mapeando e publicisando os
gastos e pesquisas de professores com Transnacionais nas Universidades, trazendo
à tona o que acontece diariamente, mas quase secretamente, sem que façamos o
devido debate que é de responsabilidade de todos.
     Temos uma grande tarefa pela frente, a responsabilidade com a educação
popular que liberta, com os milhares de camponeses que morrem envenenados ou
assassinados, com o meio ambiente e sempre com os trabalhadores e trabalhadoras.
Por tanto, nossa tarefa está posta, contribuir com a denúncia contra a atuação
desenfreada e desrespeitosa das Corporações Transnacionais.
          Juventude que ousa LUTAR! Constrói o poder POPULAR!



                                    O POVO
Passeava o povo suas bandeiras rubras
e entre elas na pedra que tocaram
estive, na jornada fragorosa
e nas altas canções da luta.
Vi como passo a passo conquistavam.
Somente a resistência dele era um caminho,
E isolados eram como troços partidos
Duma estrela, sem bocas e sem brilho.
Juntos na unidade feita em silêncio,
Entre o fogo, o canto indestrutível,
O lento passo do homem na terra
Feito profundidades e batalhas.
Eram a dignidade que combatia
O que foi pisoteado, e despertava
Como um sistema, a ordem das vidas
Que tocavam as portas e se sentavam
Na sala central com suas bandeiras.
Pablo Neruda, “Canto Geral – XIV”

                  Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

             Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo                    25
   Conferindo caráter “científico” aos interesses
econômicos: como as corporações se apoderam das
universidades∗
                                                                   Roberto Leher (UFRJ) 9
     “Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar. É da
     empresa privada o seu passo em frente, seu pão e seu salário. E agora não contentes
    querem privatizar o conhecimento, a sabedoria, o pensamento, que só à humanidade
                                                                               pertence.”
                                                                           Bertold Brecht

    A relação das universidade com empresas e com o complexo militar é algo já
muito conhecido na literatura acadêmica (ver a este respeito o clássico trabalho de
Horowitz, 1969). O comprometimento das universidades com as corporações
tornou-se muito mais importante no contexto neoliberal, quando as corporações
passaram a estabelecer contratos com as instituições universitárias mediados
muitas vezes pelos órgãos de fomento do Estado. Muitos desses contratos
estabelecem que as universidades públicas podem e devem atuar diretamente como
suporte para a Pesquisa e Desenvolvimento das corporações, seja engajando-se na
produção de mercadorias tangíveis (extração e beneficiamento de minérios,
sementes, insumos agroquímicos, equipamentos), seja na de mercadorias
simbólicas (processos industriais, patentes, certificações, pareceres favoráveis
diante de controvérsias ambientais e para a saúde humana, produção no campo das
ideologias).
    Como muitas vezes a universidade é chamada a emprestar seu prestígio social
para validar negócios das corporações que os movimentos consideram nefastos, os
conflitos com as universidades têm sido cada vez mais comuns, envolvendo
confronto com populações indígenas, camponeses, moradores de regiões atingidas
por barragens etc. Em virtude da amplitude dos conflitos, o presente estudo
privilegiou os que vêm acontecendo nos eixos econômicos do IIRSA, notadamente
na área do agronegócio, particularmente soja e etanol, e da exploração mineral
(Leher, 2007). Na América Latina, esses conflitos vieram à tona, frequentemente,
em virtude de lutas sociais que denunciaram os efeitos ambientais, sociais e para a
saúde da expansão da fronteira agrícola da soja e do etanol e dos projetos de
extração mineral.
    Congruente com a teoria do capitalismo dependente é possível propugnar que

9
  Professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Doutor em Educação
pela Universidade de São Paulo, coordena o GT Universidade e Sociedade do CLACSO e foi dirigente
do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior do Brasil (2000-2002).

                     Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

               Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
26         As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo

o tipo de convênio entre as corporações e as universidades nos países centrais é
distinto do presente nos países capitalistas dependentes, envolvendo somas
consideravelmente maiores e, sobretudo, objetivos “acadêmicos” distintos; isso não
significa, contudo, que as pesquisas nas universidades latino-americanas sejam
apenas operacionais e afastadas das chamadas fronteiras do conhecimento e que
inexistam capilaridades entre os projetos estratégicos das instituições dos países
centrais e as universidades latino-americanas. A rigor, esses nexos são
imprescindíveis para que os objetivos das corporações sejam alcançados, pois,
concretamente, precisam interferir em territórios determinados, concretos e as
universidades locais podem ser úteis a esses propósitos.
    O caso relatado a seguir é ilustrativo do grau de interferência das corporações
no campo universitário. O convênio da British Petroleum (BP) com as
universidades da Califórnia e de Illinois, em nome de um pool de corporações dos
setores de sementes, insumos, combustíveis e automobilístico, está inscrito na luta
pelo monopólio do promissor mercado planetário de agrocombustíveis e, por isso
possui um forte braço no Brasil, pais estratégico para a produção dos
agrocombustíveis.
     O recente acordo entre o MCT e a FAPESP não está desvinculado da iniciativa
da BP e das universidades de Berkeley e Illinois. No contexto do mega-projeto
liderado pela BP a corporação fez uma associação com uma empresa estratégica no
Brasil e, considerando as vantagens relativas do país na produção do etanol a partir
da cana-de-açúcar, inclusive climático-ambientais, necessitou, também, de uma
consistente base de Pesquisa e Desenvolvimento no país. A instituição escolhida
para este fim foi a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade
de São Paulo. Com este acordo foi possível conformar um complexo de empresas e
universidades localizadas nos países hegemônicos e nos capitalistas dependentes.
    Miguel A. Altieri, professor da Universidade da Califórnia, Berkeley, e Eric
Holt-Gimenez (2007), Diretor Executivo da "Food First", Oakland, relatam o
contexto em que se deu o citado acordo da British Petroleum com a Universidade
da Califórnia em Berkeley, em fevereiro de 2007. A BP doou uma enorme soma de
recursos, a primeira instituição público-privada desta escala no mundo, totalizando
U$ 500 milhões, para os fundos de pesquisa da referida universidade, para os
Laboratórios Lawrence Livermore e para a Universidade de Illinois, instituição em
que está situado um dos maiores bancos genéticos do mundo. O objetivo do
convênio é desenvolver novas fontes de energia, concretamente agrocombustível,
por meio da biotecnologia. Os recursos serão aplicados em grande parte em um
centro exclusivamente criado para esse fim: o Energy Biosciences Institute (EBI).
"Ao lançar este instituto visionário, a BP está criando um novo modelo de
cooperação universidade-indústria", disse Beth Burnside, UC Berkeley Vice-

                  Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

             Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo                     27
Chanceler de Pesquisa (Holleman e Clausen, 2008).
    Este Instituto (EBI) é a primeira instituição mundial de investigação
exclusivamente dedicada ao novo campo de energia produzida por manipulação da
biomassa, e focaliza inicialmente o desenvolvimento da próxima geração de
biocombustíveis, mas também vislumbrará as várias aplicações da biologia para o
setor de energia. O EBI acolhe cerca de 25 equipes de investigação, alojados na
Universidade da Califórnia, Berkeley, no campus e na Universidade de Illinois.10
     Altieri e Holt-Gimenez (2007) observam que o acordo da universidade com a
BP resultou de uma associação inter-corporativa de amplitude inédita, constituída
em tempo recorde e sem qualquer fiscalização pública. Nesta iniciativa estão as
maiores corporações mundiais do agronegócio (como a ADM, Cargill y Bunge), de
biotecnologia (Monsanto, Syngenta, Bayer, Dupont), e do petróleo (BP, TOTAL,
Shell) e das indústrias automobilísticas (Volkswagen, Peugeot, Citroen, Renault,
SAAB). É importante salientar que o referido acordo compreende os principais
operadores dos agrocombustíveis mundiais. Monsanto, Dupont-Pioneer y
Syngenta, são as três maiores empresas em transgênicos e também lideram o setor
de sementes tradicionais. Somente a Monsanto controla quase 90% das sementes
transgênicas; juntas, estas empresas controlam 39% do mercado mundial de
sementes e 44% das sementes sob propriedade intelectual (Ribeiro, 2008). As
corporações e financeiras que atualmente comandam o avanço dos
agrocombustíveis em escala planetária – e por isso pressionam os governos a não
ceder em relação à reforma agrária que, no Brasil está, de fato, paralisada – não
ultrapassam duas dúzias: ADM, Cargill, Bunge, ConAgra, Dreyfus, DuPont,
Syngenta, Monsanto, Marubenji, Tate & Lyle, Wyerhauser, Tembec, British
Petroleum, Misui, Royal Dutch Shell, Chevron, Mitsubishi, Petrobras, Total,
Barclays, Morgan Stanley, Goldman Sachs, Societe Generale, and the Carlyle
Group.
    Com esse convênio, a BP e as empresas coligadas esperam obter, para seus
próprios fins, conhecimentos produzidos durante décadas com recursos públicos
nas universidades, convertendo-os em seus patrimônios, pois têm preferência no
registro das patentes e, principalmente, adquirirão conhecimentos para ampliar a
produção de etanol em diversas partes do planeta, fortalecendo, desse modo, o
monopólio de sementes e cultivares adequados a diversos tipos de ambiente.
    Mais preocupante para os críticos é a estrutura de governo e de supervisão
destacadas no convênio descrita como "um ponto de partida para a discussão", o
que significa que a BP poderia forçar ter ainda mais controle. No momento, a

10
    Ver http://www.fapesp.br/english/materia/4683/research-innovation/realizing-cellulosic-biofuels-
and-benefiting-the-environment-november-17-2008-.htm

                      Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

                Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
28         As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo

proposta diz que a EBI seria dirigido por um diretor selecionado pela BP e o
diretor adjunto seria sugerido pela empresa, o que expressa que a BP teria mais
influência sobre a alocação de financiamentos e da direção de pesquisas do que
quaisquer das instituições públicas. Ademais, cinqüenta pesquisadores da BP
comporão a equipe do EBI, ampliando a esfera da ingerência e de controle no
cotidiano do fazer científico.
Todas as publicações que saiam da EBI serão submetidas a "revisão da pré-
publicação" na qual a BP "será capaz de analisar se as publicações não incluem
quaisquer informações confidenciais incluídas inadvertidamente e pertencentes à
BP”. O mesmo vale para as patentes. Mais significativamente, a “BP terá em
primeiro lugar o direito, exclusivo, de duração limitada, de exercer uma opção pré-
definida para a obtenção de uma licença exclusiva” para quaisquer invenções
totalmente financiadas pela BP.
    Jennifer Washburn, examinando a corrupção corporativa do ensino superior,
explica que o negócio com a BP irá ampliar o controle que as empresas privadas
exercem sobre as agendas das universidades (Washburn, 2007). Na verdade, como
os cientistas Richard Levins e Richard Lewontin salientam no seu livro mais
recente, “Biology Under the Influence” (2007), as chamadas parcerias público-
privado estão aumentando e em virtude do financiamento, um fator importante na
orientação das investigações, estão cada vez mais determinadas pelas necessidades
da indústria privada e com o apoio dos governos. Essas "parcerias" são
ideologicamente aceitas e promovidas, como foram os primeiros fechamentos dos
campos na Inglaterra e os esquemas de privatização contemporâneos, como
evolução natural e inevitável das instituições da sociedade. Os debates sobre a
viabilidade cultural, política, tecnológica de soluções baseadas no mercado para os
problemas ambientais e sociais são diretamente influenciados pela forma como a
ciência interage com a ideologia dominante para moldar e reforçar decisões que
afetam o mundo. O processo aparentemente natural das tendências degradantes de
desenvolvimento capitalista deve ser confrontado.
    No momento em que a maior parte da sociedade está cada vez mais dominada
pelos imperativos de um sistema opressivo da propriedade privada, "o
conhecimento e a ignorância são determinados, como em todas as pesquisas
científicas, por quem detém a investigação da indústria, que comanda a produção
do conhecimento." Na verdade, "há luta de classe nos debates em torno de que tipo
de investigação deve ser feita" (Lewontin e Levins, 2007: 319, apud Holleman e
Clausen, 2008).
    Em um contexto em que em todo planeta os embates sobre a energia, os
transgênicos, a oligopolização da produção de alimentos e o futuro da água estão
pulsando, mais do que nunca os povos necessitam de suas universidades públicas

                  Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

             Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo        29
para que o debate possa ter fundamentação científica desinteressada (pois não
atrelada aos interesses das corporações). Entretanto, dificilmente os laboratórios
beneficiados pelo mega acordo com a BP estarão à frente da denúncia de que os
agrocombustíveis não satisfarão as necessidades energéticas dos povos, reduzirão a
produção de alimentos e não estarão contribuindo para a melhoria do meio
ambiente, inclusive para a redução do aquecimento global.
     Historicamente, as universidades públicas cumpriram com limites e
contradições, é certo, a função imprescindível de serem espaços críticos das
sociedades e da busca realista pela verdade. A critica à política econômica da
ditadura empresarial-militar, ao seu modelo educacional, às suas prioridades em
termos de C&T etc., por exemplo, não teria tido a profundidade e consistência que
teve sem a universidade; a rigor, não existem outras instituições que possam
antecipar o que podem ser grandes problemas para os povos e de denunciar
problemas provocados por interesses particularistas com a legitimidade, a
sistematicidade e a amplitude das universidades. Com a perda da autonomia, que
outras vozes poderão questionar os fundamentos técnicos e científicos desse
modelo que já acarretam graves problemas para toda humanidade?
     O referido contrato da BP com Berkeley e Illinois, distintamente, tem como
pressuposto a ofensiva das corporações em direção aos países capitalistas
dependentes. Como os EUA não poderão satisfazer suas incessantes demandas de
agrocombustível com o plantio interno, está subentendido no contrato que o plantio
desses agrocombustíveis será localizado nos países periféricos, por meio de
extensas plantações de cana-de-açúcar, de soja etc., ampliando a fronteira agrícola
e agropecuária, em detrimento das matas nativas e, não menos significativo,
recrudescendo a expropriação de terras camponesas e indígenas. Por isso, o
referido mega-projeto de “pesquisa” encabeçado pela BP para alcançar seus
objetivos de difundir nos países capitalistas dependentes o agrocombustível,
atrelado às corporações do agronegócio, precisa ter bases de apoio nas
universidades mais relevantes dos países produtores.
     Imediatamente após o acordo com a BP, as universidades de Berkeley e
Illinois saíram a campo para se associar às universidades dos países escolhidos
para serem o celeiro das plantas que produzirão etanol e diesel vegetal. Como era
de se esperar, contudo, não explicitaram que, a rigor, estão representando os
interesses das maiores corporações de transgênicos, sementes, agrotóxicos e
automobilísticas que, explicitamente, financiam o projeto.
    Como assinalado, na última década a presença das grandes corporações
mundiais no setor do agrocombustível teve um crescimento extraordinário que,
entretanto, ganhou ainda maior presença no governo de Lula da Silva. Em seu
primeiro mandato (2003-2007) o Ministro da Agricultura foi Roberto Rodrigues,

                  Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

             Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
30              As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo

membro da Comissão Interamericana do Etanol por ele coordenada juntamente
com o governador da Flórida, Jeb Bush e com Luis Moreno, atualmente presidente
do BID, uma coordenação que expressa um largo espectro de forças envolvido na
concretização da iniciativa.
     Segundo um relatório conjunto de 2008 da U.S.-based Oakland Institute e
Terra de Direitos do Brasil, "O plano de agroenergia brasileiro (2006-2011) é a
mais ambiciosa política pública em Agroenergia do mundo." (Moreno e Mittal,
2008). Desse modo, o convênio da Universidade de Illinois com a Escola Superior
de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo, não foi um fato
isolado. Além de ser a mais prestigiosa instituição que produz conhecimento e
quadros para a organização do agronegócio no país, não casualmente esta
instituição foi escolhida pelo governo Federal para sediar o Pólo Nacional de
Biocombustíveis, instituição com fortes conexões com as empresas do setor.
    O braço “acadêmico” desse mega-projeto das corporações estruturado pela BP
no Brasil, a ESALQ-USP, foi conduzido por intermédio de Harris Lewin, diretor
do The Institute for Genomic Biology da UIUC, um centro envolvido no acordo
com a BP. Na ESALQ o projeto está estruturado no Núcleo de Apoio à Pesquisa
em Biologia Celular e Molecular na Agropecuária e Ambiente (Biocema)11.
     A divulgação desse mega acordo com a universidade de Illinois-ACES,
firmado em 24 de julho de 2007, no boletim da Assessoria de Comunicação da
ESALQ-USP omite o fato de que o projeto “desinteressado” de Illinois é parte do
mega projeto das corporações organizado pela BP e que tem suscitado forte
polêmica nos EUA. Meses antes, em julho, o referido boletim informou a
existência de um convênio de cooperação internacional que levaria a criação de
uma representação “dentro do campus da ESALQ” da Universidade de Illinois em
Urbana-Champaign (UIUC), através do College of Agricultural, Consumer and
Environmental Sciences (ACES), mas, igualmente, não há qualquer menção ao
fato de que o UIUC/ACES é parte do mega projeto liderado pela BP.
     As conexões entre as corporações lideradas pela BP, as universidades
estadunidenses, e de uma destas com uma prestigiosa instituição brasileira, ao
mesmo tempo em que a corporação amplia sua presença mundial e local no setor
do agrocombustível, colocam em questão a função social das universidades e a
ética na produção do conhecimento. Não se trata de fazer um juízo moral sobre os
pesquisadores envolvidos, nem, tampouco, criticar a instituição brasileira, mais
ampla do que o grupo comprometido com os objetivos da UIUC/ACES.
Entretanto, é sumanente grave que um projeto de forte propósito imperialista –
parte de uma iniciativa planetária para controle do mercado de agrocombustível,

11
     Ver http://www.esalq.usp.br/destaques.php?id=245&ano=2007 (14/12/07).

                       Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

                  Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo         31
sementes e cultivares transgênicos, defensivos agrícolas, abertamente liderado por
uma coalizão de corporações – seja apresentado ao público como um programa de
colaboração acadêmica, destituído de interesses materiais e geopolíticos, como se
não colocasse em risco a soberania alimentar e o meio ambiente no país. Tal como
sublinhado para o caso de Berkeley as implicações acadêmicas são de uma
gravidade sem precedentes, comprometendo o que é mais fundamental em uma
universidade: sua autonomia acadêmica.
    O comprometimento das universidades com dispositivos de poder do capital,
em um contexto de aprofundamento do capitalismo dependente, como expresso no
IIRSA, reconfigura a função social da universidade e reatualiza o debate realizado
nas lutas de Córdoba (1918). Naquela ocasião, os estudantes criticavam o apego da
universidade à ordem estabelecida, em especial aos interesses das oligarquias e da
Igreja, mas foi a sua ala mais radical – José Ingenieros, Aníbal Ponce, Julio Mella e
Mariátegui – que concluiu que uma universidade de fato comprometida com os
problemas dos povos somente seria possível com o fim do imperialismo e, por isso
associaram as lutas pela reforma universitária as lutas antiimperialistas (Leher,
2008).
     Passados noventa anos das lutas de Córdoba, a universidade pública está
crescentemente conformada e ajustada ao padrão de acumulação que caracteriza
econômica, ambiental e socialmente o brutal imperialismo de hoje. Neste contexto,
as palavras dos radicais de Córdoba a respeito do necessário protagonismo anti-
sistêmico parecem ter sido proferidas no presente. De fato, as universidades
somente têm recuado de acordos espúrios com corporações que provocam
devastação ambiental, energética e agravam os problemas sociais quando
confrontadas pelos movimentos sociais.
     Por ásperos, fragmentados e incipientes que sejam os conflitos entre os
movimentos sociais e por mais débeis que sejam os laços dos setores acadêmicos
com as lutas sociais, é certo que o futuro da universidade pública latino-americana
dependerá, fortemente, do avanço desses nexos virtuosos entre a universidade e as
lutas anti-imperialistas e anti-capitalistas. O contexto de crise estrutural pode ter
um efeito destrutivo sobre essas expectativas, caso a imagem da crise seja a dos
dominantes; alternativamente, caso prevaleça a imagem de que a crise é do
capitalismo como um todo e, socialmente, que as lutas tenham organicidade e
capacidade organizativa autônoma, novas páginas da história das universidades
poderão ser escritas por muito mais mãos, notadamente as mãos calejadas dos que
são explorados e expropriados do conhecimento científico, tecnológico, artístico,
cultural e histórico-social. Assim estaremos consolidando as melhores utopias dos
reformadores radicais de Córdoba no século XXI.
    ∗ Excerto do texto Universidade pública e negócios privados: um poderoso

                  Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

             Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
32           As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo

obstáculo para o pensamento crítico apresentado para publicação do GT
Universidade e Sociedade do CLACSO, Reunião Anual, UAM, México D.F.
(2008/2009) sob a coordenação de Hugo Aboites.
     Bibliografia
     Altieri, Miguel A. e Holt-Gimenez, Eric 2007 “Los benefactores de la biotecnología y
el biocombustible de la U. de California: El poder de las grandes finanzas y las malas ideas”
en ALAI, 2/9/07. En http://alainet.org/active/15541&lang=es, acesso em 10 de fevereiro de
2009.
    Holleman, Hannah e Clausen, Rebecca 2008 “Biofuels, BP-Berkeley, and the New
Ecological Imperialism” em http://mrzine.monthlyreview.org/hc160108.html.
     Horowitz, Irving L. 1969 Ascensão e queda do projeto Camelot (Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira).
    Leher, Roberto 2007 “Iniciativa para a Integração da Infra-Estrutura Regional da
América Latina, Plano de Aceleração do Crescimento e a Questão Ambiental: Desafios
Epistêmicos”       em       Loureiro,        Carlos         Frederico      B.        (org)
A questão ambiental no pensamento crítico - natureza, trabalho e educação (Rio de Janeiro:
Quartet).
    Leher, Roberto 2008 “Reforma universitária de Córdoba, noventa anos. Um
acontecimento fundacional para a Universidade Latino-americanista”. Aboites, Hugo y
Gentili, Pablo y Sader, Emir (comp.) La reforma universitária: desafios y perspectivas
noventa años después (Buenos Aires: Consejo Latinoamericano de Ciências Sociales –
CLACSO).
    Moreno, Camila e Mittal, Anuradha 2008 “Food & Energy Sovereignty Now: Brazilian
Grassroots Position on Agroenergy” in http://oaklandinstitute.org/pdfs/biofuels_report.pdf .
     Ribeiro, Silvia 2008 “Quiere bajar la producción? ¡Use transgénicos!” en La Jornada,
9/7/08.                                                                               En:
http://www.jornada.unam.mx/2008/07/19/index.php?section=opinion&article=021a1eco,
acesso em 10/02/09.
     Washburn, Jennifer 2007 “An Unholy Alliance – UC Berkeley's $500-Million Deal
with BP Challenges Traditional Public-Private Partnerships”, April 8, 2007,
http://www.newamerica.net/publications/articles/2007/an_unholy_alliance_5134.




                    Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

               Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo               33
  AS TRANSNACIONAIS NAS UNIVERSIDADES:
NOTÍCIAS E DADOS
        "Ou os estudantes se identificam com o destino do seu povo, com ele sofrendo a
      mesma luta, ou se dissociam do seu povo, e nesse caso, serão aliados daqueles que
                                                                      exploram o povo."
                                                                    Florestan Fernandes

   1 - Relação da UFV (Universidade Federal de Viçosa) com as
Transnacionais (Sociedade de Investigação Florestal)
     Trabalho de Conclusão de Curso do ex-militante da ABEEF Vladimir Filho12.
     Em 1974 é fundada a Sociedade de Investigações Florestais - SIF, uma
fundação de direito privado que não têm papel de captar quantidade significativa
de recursos para as Instituições, e sim aos seus membros (os professores do
Departamento do Engenharia Florestal da UFV – DEF-UFV), que se aproveitam
do peso institucional da Universidade para auferir ampliações salariais, muitas
vezes de forma ilegal. Em grande medida, é através dela que penetra a concepção e
se arraiga a lógica privatista dentro desta instituição pública.
    Além de quebrar a isonomia salarial, as atividades privadas (cursos pagos,
projetos de consultoria e outras) vêm induzindo modificações na graduação e na
pós-graduação gratuitas, afetando a grade curricular, o programa das disciplinas
e a relação entre docentes e alunos, bem como o objeto das pesquisas, que passou
a ser determinado, em larga escala, pelo “mercado”; (ADUSP, 2004, p. 9)
     A SIF possui hoje cerca de 70 empresas vinculadas entre “associadas” e “co-
participantes”. Dentre elas estão os principais grupos econômicos transnacionais
como a Vale, V&M, Arcelor-Mittal, Grupo Votorantim, entre outros e também
nacionais. A maioria deles possui ficha corrida quanto a passivos ambientais e
trabalhistas (FASE, 2003; 2006; KOOPMANS, 2005; WRM, 2003; 2005).
     O Gráfico 1 abaixo representa a participação de cada setor no financiamento
das pesquisas registradas pelo DEF. Ele mostra que dos quase doze milhões de
reais que foram investidos no período, 83% tem origem de algum órgão público e
17% (cerca de dois milhões de reais) de instituições privadas, o que é bastante
significativo. Mas devemos lembrar que o mais pesado é sempre infra-estrutura,
pagamento de salários, e todo o investimento na formação até o doutoramento, o
que não está contabilizado e são pagos com dinheiro público. Neste mesmo gráfico
podemos observar que as empresas privadas apossam-se de 53% da verba pública

12
   OGANAUSKAS FILHO, Vladimir. A Racionalidade Privada no Departamento de Engenharia
Florestal da Universidade Federal de Viçosa. Orientador: Dileno Dustan Lucas de Souza.

                    Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

               Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
34         As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo

destinada à pesquisas no Departamento, ou seja, ao longo dos últimos oito anos e
sete meses, a iniciativa privada abocanhou 251% a mais do que investiu.




Gráfico 1 – Recursos investidos em pesquisa totais por setor (público e
privado) e a apropriação deles no DEF-UFV – jan. 2000 – jul. 2008
    Diante de tudo isso, são necessárias muitas disputas, embates, disposição e
ousadia, como vem demonstrando o movimento estudantil ao realizar o trabalho
militante do dia a dia na construção e fortalecimento das suas entidades
representativas em todos os níveis, através de diversas assembléias, debates e
congressos sobre estas questões, e ações como passeatas, as mais diversas formas
de manifestações culturais, ocupação de reitorias, e mais recentemente a ocupação
de uma fundação, como foi o caso da SIF em 2007.
    Essa luta dos estudantes culminou num manifesto assinado por várias
entidades:
     •   Manifesto:
    A universidade pública a serviço dos lucros transnacionais não serve ao
povo.
    A Universidade Pública tem sido alvo das reformas políticas e sociais do
projeto neoliberal. As organizações internacionais detentoras da hegemonia do
capital, conforme documentos do Banco Mundial, "sugerem" – leia-se impõem -
diretrizes para as políticas de ensino superior no Brasil. A meta é camuflar a

                  Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

             Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo        35
privatização das universidades através das Parcerias Público-Privadas (PPP),
que aparelham e corroem o caráter público da universidade.
     A política neoliberal aplicada ao Estado brasileiro diminuiu e cortou diversos
investimentos na universidade pública, invibializando o exercício de uma
autonomia universitária, precarizando enormemente a assistência estudantil e a
qualidade de ensino. As ordens de ampliação desenfreada dos cursos não foram
acompanhadas da ampliação dos alojamentos, restaurantes universitários,
contratação de professores e servidores, ampliação de bibliotecas e laboratórios.
Esta desresponsabilização do ensino pelo Estado enseja uma medida de concessão
para que as empresas privadas interfiram no setor e possam gozar de liberdade na
definição dos rumos das instituições públicas de ensino, a critério de seus
interesses.
     Situação exemplar é o caso da Sociedade de Investigações Florestais (SIF) –
uma entidade de direito privado marcada pela presença de transnacionais como a
Acesita S.A, V&M Florestal e Aracruz Celulose - que sobre consentimento do
poder público, manifestado nas ações do Departamento de Engenharia Florestal
(DEF) da UFV, detém os recursos materiais e humanos do curso de engenharia
florestal, além de vincular todos os conteúdos acadêmicos a hegemonia política e
ideológica do Capital.
    Uma ocupação da sede da Acesita S.A. em Belo Horizonte (19/01) realizada
por diversos estudantes presentes no IV Estágio Interdisciplinar de Vivência do
Estado de Minas Gerais*, atingiu o ego desta transnacional, que reagiu em
confluência com o DEF na perseguição política dos estudantes. Saindo em defesa
das transnacionais, o DEF reprimiu e puniu abertamente a entidade
representativa dos estudantes de Engenharia Florestal – Associação Brasileira
dos Estudantes de Engenharia Florestal (ABEEF) – ao deliberar pela expulsão da
sala que tinham dentro do Departamento.
    Com esse fato, que deixou claro as formas de intervenção das transnacionais
na Universidade Pública, o movimento estudantil da UFV, com apoio do
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, e da Associação dos Servidores
Administrativos de Viçosa ocupou a SIF e a chefia do departamento, apresentando
uma pauta de reivindicações, exigindo como pontos principais: retirada da V&M
das empresas associadas à SIF (Sociedade de Investigação Florestal) por
assassinar um trabalhador camponês em suas terras, inquérito de empresas
associadas às fundações na UFV e que a UFV não firme contratos com empresas
que tenham passivos ambientais, trabalhistas e sociais, retirada das medidas que
caracterizam perseguição política aos estudantes universitários como processo na
polícia federal.


                  Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

             Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
36             As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo

     Certamente entendemos esta manifestação como legítima e necessária à
soberania nacional da população, por compreender a importância da educação
que edifique no estudante um senso de perspectiva histórica, de consciência
crítica, um instrumento pedagógico transformador e libertador, elemento
preponderante na contribuição à superação das injustiças e desigualdades sociais.
       Entidades que assinam essa carta:

DCE – Gestão Voz Ativa
ABEEF – Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal
FEAB – Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil
CMA – Comissão dos Moradores de Alojamento
ITCP – Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares
MEH – Movimento de Estudantes de Humanas
ALA – Articulação Local de Agroecologia

       •    Algumas declarações13:
    "É um movimento de denúncia, para alertar a comunidade sobre as
empresas transnacionais que se beneficiam do conhecimento da universidade
para promover seus próprios lucros" Antonio David, na época diretor de
Políticas Educacionais da UNE.
    Segundo a Diretora de Comunicação do DCE da UFV na época, Vivian
Fernandes, “A influência dessas empresas na Universidade está também
causando o sucateamento de alguns setores da instituição, impedindo a
distribuição de recursos e prejudicando outros setores como a assistência
estudantil”.
       2 - USP e MONSANTO 14
     Recentemente a USP assinou um convênio com a Monsanto e o banco
Santander para o financiamento de um projeto de pré-iniciação científica para
estudantes da rede estadual de São Paulo. O primeiro contrato entre a universidade
e a Monsanto, obtido pela reportagem, submetia a universidade a uma lei
estadunidense, garantia à transnacional o direito de supervisionar “o bom
andamento” do projeto e exigia sigilo das partes envolvidas. O contrato foi
rejeitado no Conselho de Pesquisa. Algumas cláusulas foram alteradas, mas a de
sigilo permaneceu.


13
     http://www.une.org.br/home3/movimento_estudantil/movimento_estudantil_2007/m_8769.html
14
     http://www.eca.usp.br/jc/342_univ_monsanto.asp

                       Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

                 Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo                     37
     Fonte: Jornal do Campus, edição 342 – 1º quinzena de setembro de 2008.
     •    Descrição do Projeto15
    Nº. do Projeto: 1842. Título: “Pré-Iniciação Científica da USP”. Objetivo: O
presente projeto tem como objetivo a realização de atividades visando desenvolver
a pré-iniciação científica da USP, através da participação dos alunos e professores
de ensino médio da rede pública estadual de São Paulo em atividades científicas
desenvolvidas na USP, com a participação efetiva da Pró-Reitoria de Pesquisa.
Coordenador: Pedro Primo Bombonato. Unidade/Núcleo: PRP – Pró-Reitoria de
Pesquisa. Financiador: Monsanto do Brasil Ltda. Data de Início: 06/08/2008
Data de Término: 05/08/2009 Valor: R$ 220.000,00.
     •    Algumas declarações16/17:
    A professora Lisete Arelaro, da Faculdade de Educação, disse que ficou muito
surpresa com a parceria, “porque para se poupar e evitar problemas e críticas,
a USP, a princípio, se resguarda e evita parcerias com empresas polêmicas.
Não dá para nós, professores, dizermos que não sabemos quem é a Monsanto,
nem ignorarmos todas as críticas em relação à empresa, até porque somos
pagos pelo povo para sermos bem informados. O que eu estranhei também é
uma certa recusa da própria Pró-Reitoria [de Pesquisa] em prestar as
informações que ela deveria”
    O professor Wilson da Costa Bueno, da ECA, disse que esse tipo de parceria
é uma estratégia comum de algumas empresas privadas que querem se
aproximar do setor acadêmico, pois, ao ligar seu nome a uma instituição de
prestígio, acabam se beneficiando. Ele acredita que muitas limpam seu nome
quando se aliam à USP. “Temos o direito de suspeitar quando as coisas não
são transparentes”, afirmou.
    “Ela atua num campo de atividades econômicas que está no cerne de uma
problemática mundial. Há uma vasta bibliografia sobre a forma nefasta,
irresponsável, antisocial e antiambiental que a Monsanto atua no mundo. Esse
convênio soa como uma derrota de projeto da universidade pública pelo fato
dela recorrer financeiramente a uma empresa como essa” Roberto Leher,
professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) que já foi presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições
de Ensino Superior (Andes) e é doutor pela USP.

15
   http://www.fusp.org.br/detproj-1.php3?wcodigo=1842
16
   http://www.eca.usp.br/jc/342_univ_monsanto.asp
17
  http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/nacional/educadores-criticam-convenio-da-usp-com-a-
transnacional-monsanto

                     Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

                Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
38             As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo

       3 - ESALQ e Votorantim Celulose e Papel
       VCP investe em laboratório18
    Com o investimento de R$ 1,2 milhão, patrocinado pela Votorantim Celulose e
Papel (VCP), a ESALQ reinaugurou o novo Laboratório de Química, Celulose e
Energia (LQCE). Pertencente ao departamento de Ciências Florestais (LCF), o
centro de pesquisa é referência nacional em formação de recursos humanos na área
de celulose e papel, química da madeira e produtos florestais não-madeireiros,
carvão vegetal e energia da biomassa florestal. Os recursos foram utilizados na
ampliação e na modernização do laboratório, cujo projeto gerou um acréscimo dos
atuais 600 para 1.800 m² de área construída.
     Para o professor José Otávio Brito, responsável pelo laboratório, "as novas
instalações trarão para a universidade um significativo incremento no campo da
pesquisa e formação de recursos humanos, que estimulam a todos os seus
integrantes a imaginarem, futuramente, novos desafios nas áreas de graduação e
pós-graduação".
       Fonte: ESALQ Notícias, Agosto de 2008.
       4 - USP e VALE
    Dados retirados do Site da FUSP (Fundação de Apoio à Universidade de
São Paulo).
       •    Projeto: “Formação Acadêmica nas Áreas de Mineração Geologia e
            Química”.
       Descrição do Projeto19:
    Nº. do Projeto: 1836. Título: “Formação Acadêmica nas Áreas de Mineração
Geologia e Química”. Objetivo: O presente projeto tem como objetivo a realização
de atividades visando o desenvolvimento de trabalhos de pesquisa e formação
acadêmica nas áreas de mineração, geologia e química, através de bolsas de
estudos - programa de bolsas. Coordenador: Colombo Celso Gaeta Tassinari.
Unidade/Núcleo: IGc - Instituto de Geociências da USP. Financiador: VALE -
Cia Vale do Rio Doce. Data de Início: 05/08/2008 Data de Término: 04/08/2009
Valor: R$ 95.884,80
       •    Projeto: “Execução, pela USP, da Segunda Fase do Plano de
            Desenvolvimento Portuário Contemplando 4 Sub-Projetos”.


18
     http://www.esalq.usp.br/acom/docs/ESALQNoticias14.pdf
19
     http://www.fusp.org.br/detproj-1.php3?wcodigo=1836

                       Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

                 Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo     39
       Descrição do Projeto20:
    Nº. do Projeto: 1834. Título: “Execução, pela USP, da Segunda Fase do
Plano de Desenvolvimento Portuário Contemplando 4 Sub-Projetos”. Objetivo: O
presente projeto tem como objetivo a realização de atividades visando o
desenvolvimento de trabalhos de atualização do plano diretor de expansões
portuárias no que diz respeito aos terminais Praia Mole e terminal de produtos
diversos TPD3. Coordenador: Marcos Mendes de Oliveira Pinto.
Unidade/Núcleo: EP/PNV - Departamento de Engenharia Naval e Oceânica.
Financiador: VALE - Cia Vale do Rio Doce. Data de Início: 10/05/2008 Data
de Término: 09/05/2010 Valor: R$ 2.412.000,00
       5 - PESQUISAS COM EUCALIPITO TRANSGÊNICOS21
    As plantações de eucalipto ocupam, no Brasil, mais de 3,7 milhões de hectares,
segundo a Abraf (Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas), e
são responsáveis por 70% da exportação de produtos derivados de florestas
plantadas, que somou US$ 6,1 bilhões em 2007. Mesmo com este ótimo
desempenho, os especialistas dizem que é possível ir além.
     De acordo com Cesar Augusto dos Reis, diretor-executivo da Abraf, “as
florestas de eucalipto estão em franca expansão, tendo em vista as novas unidades
industriais em construção nas áreas de celulose e papel, siderurgia a carvão vegetal
e indústrias de painéis de madeira reconstituída, todas consumidoras de eucalipto”.
    “O Brasil deu um salto grande quando começou a realizar clonagem de
eucalipto, pois conseguiu plantas e florestas uniformes, gerando mais
produtividade”, explica Luciana Di Ciero, engenheira agrônoma, Mestre em
Agronomia e Doutora em Ciências. “Mas o melhoramento genético, depois de
atingir um patamar de excelência, estacionou e agora acreditamos que a
biotecnologia será o diferencial para a continuidade do avanço agronômico desta
cultura”, completa.
     Segundo Cesar Augusto dos Reis, da Abraf, muitas ONG’s e movimentos
sociais impõem resistência ao eucalipto e o excesso de burocracia no
licenciamento, colheita e transporte da madeira para as pesquisas com variedades
transgênicas podem atrasar o processo.
    O “aspecto positivo”, para o executivo, é que há centros de excelência em
pesquisa e desenvolvimento de produtividade de eucalipto, como a SIF (Sociedade
de Investigações Florestais)/UFV (Universidade Federal de Viçosa), IPEF

20
     http://www.fusp.org.br/detproj-1.php3?wcodigo=1834
21
     http://www.cib.org.br/midia.php?ID=37195&data=20080919

                      Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

                 Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
40              As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo

(Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais)/ESALQ (Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz da USP), Fupef (Fundação de Pesquisas
Florestais), Cepef (Centro de Pesquisas Florestais) e Universidade Federal de
Lavras (UFL). Grande parte dos estudos é promovida pelas próprias
empresas envolvidas neste ramo.
       6 - Parceria UFRGS - Aracruz é suspensa22
    No dia 8 de março, mulheres da Via Campesina e estudantes da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul conseguiram a suspensão de um protocolo de
cooperação entre a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a
Aracruz Celulose. Em audiência com o reitor da UFRGS, José Carlos Hennemann,
e o vice-reitor, Pedro Fonseca, foi manifestada a preocupação com o aumento dos
desertos verdes no Rio Grande do Sul.
    As integrantes da Via Campesina e os estudantes alertaram que a expansão da
monocultura do eucalipto já estaria provocando nefastas conseqüências no estado,
como intensificação da concentração de terras, aumento das secas, elevação das
temperaturas e destruição do Bioma Pampa, que só existe nas terras gaúchas. E
questionaram a natureza e os objetivos de um acordo com a empresa de celulose.
    Os manifestantes defenderam que estabelecer uma parceria com a Aracruz
significa concordar com a destruição ambiental e social provocada pelas
multinacionais do eucalipto. Os estudantes também lembraram “as práticas de
violações aos direitos humanos que marcam a trajetória da Aracruz Celulose em
todos os estados, em especial contra indígenas e quilombolas no Espírito Santo”.
    O reitor e o vice da UFRGS se comprometeram em suspender o protocolo com
a Aracruz que seria votado na próxima reunião no Conselho da Universidade. “A
UFRGS tem uma história de defesa do meio ambiente, tem cursos e pesquisas
voltadas para a ecologia. Inclusive nos jornais da universidade têm sido publicadas
matérias sobre os eucaliptos no estado. Creio que precisamos aprofundar o debate
deste tema na comunidade universitária. Por isso o processo está suspenso. Não
vamos assinar nenhum protocolo ou convênio para pesquisas que sejam
prejudiciais a sociedade”, disse Hennemann.
    A jornada de luta das mulheres da Via Campesina no Estado foi encerrada com
o lançamento, de uma campanha em defesa da produção de alimentos saudáveis.
“O agronegócio gera os desertos verdes, a agricultura camponesa produz
alimentos, cultiva a vida. Queremos que a universidade forme profissionais para
trabalhar para a vida não para o projeto de morte das transnacionais”, defende a
Via Campesina.

22
     http://www.adur-rj.org.br/5com/pop-up/universidades_acao_celulose.htm

                       Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

                  Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
Transnacionais na Educação
Transnacionais na Educação
Transnacionais na Educação
Transnacionais na Educação
Transnacionais na Educação
Transnacionais na Educação
Transnacionais na Educação
Transnacionais na Educação
Transnacionais na Educação
Transnacionais na Educação
Transnacionais na Educação
Transnacionais na Educação
Transnacionais na Educação
Transnacionais na Educação
Transnacionais na Educação
Transnacionais na Educação
Transnacionais na Educação
Transnacionais na Educação
Transnacionais na Educação
Transnacionais na Educação
Transnacionais na Educação

Weitere ähnliche Inhalte

Was ist angesagt?

Apresentacao jagaurao outubro de 2013
Apresentacao jagaurao   outubro de 2013Apresentacao jagaurao   outubro de 2013
Apresentacao jagaurao outubro de 2013gisianevieiraanana
 
Caderno1 educador agricultura_familiar
Caderno1 educador agricultura_familiarCaderno1 educador agricultura_familiar
Caderno1 educador agricultura_familiarRaimundo Junior
 
Ssa 1 composição 1 dia (2)
Ssa 1 composição 1 dia (2)Ssa 1 composição 1 dia (2)
Ssa 1 composição 1 dia (2)Portal NE10
 
Periódico Extensão Rural 2011-1
Periódico Extensão Rural 2011-1Periódico Extensão Rural 2011-1
Periódico Extensão Rural 2011-1Ezequiel Redin
 
Folhetim do Estudante - Ano III - Núm. 36
Folhetim do Estudante - Ano III - Núm. 36Folhetim do Estudante - Ano III - Núm. 36
Folhetim do Estudante - Ano III - Núm. 36Valter Gomes
 
Pescadores Artesanais da Lagoa Mirim Etnoecologia e Resiliência
Pescadores Artesanais da Lagoa Mirim Etnoecologia e ResiliênciaPescadores Artesanais da Lagoa Mirim Etnoecologia e Resiliência
Pescadores Artesanais da Lagoa Mirim Etnoecologia e Resiliênciaiicabrasil
 
Jornal escolar 22.ª ed.
Jornal escolar 22.ª ed.Jornal escolar 22.ª ed.
Jornal escolar 22.ª ed.Max Teles Teles
 
Jornal escolar palavras d'encantar 17.ª ed.
Jornal escolar palavras d'encantar 17.ª ed.Jornal escolar palavras d'encantar 17.ª ed.
Jornal escolar palavras d'encantar 17.ª ed.Max Teles Teles
 
Monografia Edineide Pedagogia Itiúba 2012
Monografia Edineide Pedagogia Itiúba 2012Monografia Edineide Pedagogia Itiúba 2012
Monografia Edineide Pedagogia Itiúba 2012Biblioteca Campus VII
 
Jornal escolar palavras d'encantar 15.º ed.
Jornal escolar   palavras d'encantar 15.º ed.Jornal escolar   palavras d'encantar 15.º ed.
Jornal escolar palavras d'encantar 15.º ed.Max Teles Teles
 

Was ist angesagt? (13)

Apresentacao jagaurao outubro de 2013
Apresentacao jagaurao   outubro de 2013Apresentacao jagaurao   outubro de 2013
Apresentacao jagaurao outubro de 2013
 
Caderno1 educador agricultura_familiar
Caderno1 educador agricultura_familiarCaderno1 educador agricultura_familiar
Caderno1 educador agricultura_familiar
 
Ssa 1 composição 1 dia (2)
Ssa 1 composição 1 dia (2)Ssa 1 composição 1 dia (2)
Ssa 1 composição 1 dia (2)
 
Jornal escola
Jornal escolaJornal escola
Jornal escola
 
Engenhos de rapadura do cariri cearense
Engenhos de rapadura do cariri cearenseEngenhos de rapadura do cariri cearense
Engenhos de rapadura do cariri cearense
 
Periódico Extensão Rural 2011-1
Periódico Extensão Rural 2011-1Periódico Extensão Rural 2011-1
Periódico Extensão Rural 2011-1
 
Folhetim do Estudante - Ano III - Núm. 36
Folhetim do Estudante - Ano III - Núm. 36Folhetim do Estudante - Ano III - Núm. 36
Folhetim do Estudante - Ano III - Núm. 36
 
Pescadores Artesanais da Lagoa Mirim Etnoecologia e Resiliência
Pescadores Artesanais da Lagoa Mirim Etnoecologia e ResiliênciaPescadores Artesanais da Lagoa Mirim Etnoecologia e Resiliência
Pescadores Artesanais da Lagoa Mirim Etnoecologia e Resiliência
 
Jornal escolar 22.ª ed.
Jornal escolar 22.ª ed.Jornal escolar 22.ª ed.
Jornal escolar 22.ª ed.
 
Jornal escolar palavras d'encantar 17.ª ed.
Jornal escolar palavras d'encantar 17.ª ed.Jornal escolar palavras d'encantar 17.ª ed.
Jornal escolar palavras d'encantar 17.ª ed.
 
Monografia Edineide Pedagogia Itiúba 2012
Monografia Edineide Pedagogia Itiúba 2012Monografia Edineide Pedagogia Itiúba 2012
Monografia Edineide Pedagogia Itiúba 2012
 
1 4900284082434343096
1 49002840824343430961 4900284082434343096
1 4900284082434343096
 
Jornal escolar palavras d'encantar 15.º ed.
Jornal escolar   palavras d'encantar 15.º ed.Jornal escolar   palavras d'encantar 15.º ed.
Jornal escolar palavras d'encantar 15.º ed.
 

Andere mochten auch

Relatoria do SC 53º CONEA - Santa Maria/RS,
Relatoria do SC 53º CONEA - Santa Maria/RS, Relatoria do SC 53º CONEA - Santa Maria/RS,
Relatoria do SC 53º CONEA - Santa Maria/RS, Feab Brasil
 
CONVOCATÓRIA CNF, 2012.
CONVOCATÓRIA CNF, 2012.CONVOCATÓRIA CNF, 2012.
CONVOCATÓRIA CNF, 2012.Feab Brasil
 
A Maldição dos AGROTÓXICOS ou o que faz o AGRONEGÓCIO - Cordel, 2011.
A Maldição dos AGROTÓXICOS ou o que faz o AGRONEGÓCIO - Cordel, 2011.A Maldição dos AGROTÓXICOS ou o que faz o AGRONEGÓCIO - Cordel, 2011.
A Maldição dos AGROTÓXICOS ou o que faz o AGRONEGÓCIO - Cordel, 2011.Feab Brasil
 
Jornal Contra o Uso de Agrotóxicos, 2011.
Jornal Contra o Uso de Agrotóxicos, 2011.Jornal Contra o Uso de Agrotóxicos, 2011.
Jornal Contra o Uso de Agrotóxicos, 2011.Feab Brasil
 
Carta Agroecológica de Curitiba, 2009.
Carta Agroecológica de Curitiba, 2009.Carta Agroecológica de Curitiba, 2009.
Carta Agroecológica de Curitiba, 2009.Feab Brasil
 
Documento Final do I Encontro dos Estudantes de Agronomia do Cone Sul
Documento Final do I Encontro dos Estudantes de Agronomia do Cone SulDocumento Final do I Encontro dos Estudantes de Agronomia do Cone Sul
Documento Final do I Encontro dos Estudantes de Agronomia do Cone SulFeab Brasil
 
2008 (UFLA) Por Um Brasil Livre de Transgênico
2008 (UFLA)   Por Um Brasil Livre de Transgênico2008 (UFLA)   Por Um Brasil Livre de Transgênico
2008 (UFLA) Por Um Brasil Livre de TransgênicoFeab Brasil
 
Sobre o GT em Formação Política da FEAB.
Sobre o GT em Formação Política da FEAB.Sobre o GT em Formação Política da FEAB.
Sobre o GT em Formação Política da FEAB.Feab Brasil
 
Moção de Solidariedade ao Povo Haitiano, 2009.
Moção de Solidariedade ao Povo Haitiano, 2009.Moção de Solidariedade ao Povo Haitiano, 2009.
Moção de Solidariedade ao Povo Haitiano, 2009.Feab Brasil
 
Transgênicos Para Quem? Agricultura, Ciência e Sociedade, 2011.
Transgênicos Para Quem? Agricultura, Ciência e Sociedade, 2011.Transgênicos Para Quem? Agricultura, Ciência e Sociedade, 2011.
Transgênicos Para Quem? Agricultura, Ciência e Sociedade, 2011.Feab Brasil
 
Relatoria do sc do cff diamantina mg
Relatoria do sc do cff   diamantina mgRelatoria do sc do cff   diamantina mg
Relatoria do sc do cff diamantina mgFeab Brasil
 
DELIBERAÇÕES DO 54º CONEA - BELÉM/PA, 2011.
DELIBERAÇÕES DO 54º CONEA - BELÉM/PA, 2011.DELIBERAÇÕES DO 54º CONEA - BELÉM/PA, 2011.
DELIBERAÇÕES DO 54º CONEA - BELÉM/PA, 2011.Feab Brasil
 
Alerta ao Projeto da Bancada Ruralista, 2010.
Alerta ao Projeto da Bancada Ruralista, 2010.Alerta ao Projeto da Bancada Ruralista, 2010.
Alerta ao Projeto da Bancada Ruralista, 2010.Feab Brasil
 
Relatoria da PNEB de Aracaju/SE, 2010.
Relatoria da PNEB de Aracaju/SE, 2010.Relatoria da PNEB de Aracaju/SE, 2010.
Relatoria da PNEB de Aracaju/SE, 2010.Feab Brasil
 
Revista Agriculturas - Ensino da Agroecologia V7. N4. 2010.
Revista Agriculturas - Ensino da Agroecologia V7. N4. 2010.Revista Agriculturas - Ensino da Agroecologia V7. N4. 2010.
Revista Agriculturas - Ensino da Agroecologia V7. N4. 2010.Feab Brasil
 
Cartilha Pré-CONEA - Belém/PA, 2011.
Cartilha Pré-CONEA - Belém/PA, 2011.Cartilha Pré-CONEA - Belém/PA, 2011.
Cartilha Pré-CONEA - Belém/PA, 2011.Feab Brasil
 
Relatoria ps 2012
Relatoria ps 2012Relatoria ps 2012
Relatoria ps 2012Feab Brasil
 
2008 - A Caminho da Educação Popular
2008 - A Caminho da Educação Popular2008 - A Caminho da Educação Popular
2008 - A Caminho da Educação PopularFeab Brasil
 
RELATORIA PNEB - CUIABÁ/MT 2012
RELATORIA PNEB - CUIABÁ/MT 2012RELATORIA PNEB - CUIABÁ/MT 2012
RELATORIA PNEB - CUIABÁ/MT 2012Feab Brasil
 

Andere mochten auch (20)

Relatoria do SC 53º CONEA - Santa Maria/RS,
Relatoria do SC 53º CONEA - Santa Maria/RS, Relatoria do SC 53º CONEA - Santa Maria/RS,
Relatoria do SC 53º CONEA - Santa Maria/RS,
 
CONVOCATÓRIA CNF, 2012.
CONVOCATÓRIA CNF, 2012.CONVOCATÓRIA CNF, 2012.
CONVOCATÓRIA CNF, 2012.
 
A Maldição dos AGROTÓXICOS ou o que faz o AGRONEGÓCIO - Cordel, 2011.
A Maldição dos AGROTÓXICOS ou o que faz o AGRONEGÓCIO - Cordel, 2011.A Maldição dos AGROTÓXICOS ou o que faz o AGRONEGÓCIO - Cordel, 2011.
A Maldição dos AGROTÓXICOS ou o que faz o AGRONEGÓCIO - Cordel, 2011.
 
2010 conclaea
2010   conclaea2010   conclaea
2010 conclaea
 
Jornal Contra o Uso de Agrotóxicos, 2011.
Jornal Contra o Uso de Agrotóxicos, 2011.Jornal Contra o Uso de Agrotóxicos, 2011.
Jornal Contra o Uso de Agrotóxicos, 2011.
 
Carta Agroecológica de Curitiba, 2009.
Carta Agroecológica de Curitiba, 2009.Carta Agroecológica de Curitiba, 2009.
Carta Agroecológica de Curitiba, 2009.
 
Documento Final do I Encontro dos Estudantes de Agronomia do Cone Sul
Documento Final do I Encontro dos Estudantes de Agronomia do Cone SulDocumento Final do I Encontro dos Estudantes de Agronomia do Cone Sul
Documento Final do I Encontro dos Estudantes de Agronomia do Cone Sul
 
2008 (UFLA) Por Um Brasil Livre de Transgênico
2008 (UFLA)   Por Um Brasil Livre de Transgênico2008 (UFLA)   Por Um Brasil Livre de Transgênico
2008 (UFLA) Por Um Brasil Livre de Transgênico
 
Sobre o GT em Formação Política da FEAB.
Sobre o GT em Formação Política da FEAB.Sobre o GT em Formação Política da FEAB.
Sobre o GT em Formação Política da FEAB.
 
Moção de Solidariedade ao Povo Haitiano, 2009.
Moção de Solidariedade ao Povo Haitiano, 2009.Moção de Solidariedade ao Povo Haitiano, 2009.
Moção de Solidariedade ao Povo Haitiano, 2009.
 
Transgênicos Para Quem? Agricultura, Ciência e Sociedade, 2011.
Transgênicos Para Quem? Agricultura, Ciência e Sociedade, 2011.Transgênicos Para Quem? Agricultura, Ciência e Sociedade, 2011.
Transgênicos Para Quem? Agricultura, Ciência e Sociedade, 2011.
 
Relatoria do sc do cff diamantina mg
Relatoria do sc do cff   diamantina mgRelatoria do sc do cff   diamantina mg
Relatoria do sc do cff diamantina mg
 
DELIBERAÇÕES DO 54º CONEA - BELÉM/PA, 2011.
DELIBERAÇÕES DO 54º CONEA - BELÉM/PA, 2011.DELIBERAÇÕES DO 54º CONEA - BELÉM/PA, 2011.
DELIBERAÇÕES DO 54º CONEA - BELÉM/PA, 2011.
 
Alerta ao Projeto da Bancada Ruralista, 2010.
Alerta ao Projeto da Bancada Ruralista, 2010.Alerta ao Projeto da Bancada Ruralista, 2010.
Alerta ao Projeto da Bancada Ruralista, 2010.
 
Relatoria da PNEB de Aracaju/SE, 2010.
Relatoria da PNEB de Aracaju/SE, 2010.Relatoria da PNEB de Aracaju/SE, 2010.
Relatoria da PNEB de Aracaju/SE, 2010.
 
Revista Agriculturas - Ensino da Agroecologia V7. N4. 2010.
Revista Agriculturas - Ensino da Agroecologia V7. N4. 2010.Revista Agriculturas - Ensino da Agroecologia V7. N4. 2010.
Revista Agriculturas - Ensino da Agroecologia V7. N4. 2010.
 
Cartilha Pré-CONEA - Belém/PA, 2011.
Cartilha Pré-CONEA - Belém/PA, 2011.Cartilha Pré-CONEA - Belém/PA, 2011.
Cartilha Pré-CONEA - Belém/PA, 2011.
 
Relatoria ps 2012
Relatoria ps 2012Relatoria ps 2012
Relatoria ps 2012
 
2008 - A Caminho da Educação Popular
2008 - A Caminho da Educação Popular2008 - A Caminho da Educação Popular
2008 - A Caminho da Educação Popular
 
RELATORIA PNEB - CUIABÁ/MT 2012
RELATORIA PNEB - CUIABÁ/MT 2012RELATORIA PNEB - CUIABÁ/MT 2012
RELATORIA PNEB - CUIABÁ/MT 2012
 

Ähnlich wie Transnacionais na Educação

Ähnlich wie Transnacionais na Educação (20)

Cartilha PRÉ- TEXTOS I ERA AMAZÔNICO - CORRIGIDA
Cartilha PRÉ- TEXTOS I ERA AMAZÔNICO - CORRIGIDACartilha PRÉ- TEXTOS I ERA AMAZÔNICO - CORRIGIDA
Cartilha PRÉ- TEXTOS I ERA AMAZÔNICO - CORRIGIDA
 
CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO
CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICOCARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO
CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO
 
498 an 22_outubro_2014.ok
498 an 22_outubro_2014.ok498 an 22_outubro_2014.ok
498 an 22_outubro_2014.ok
 
A Pliade Antologia Potica
A  Pliade    Antologia  PoticaA  Pliade    Antologia  Potica
A Pliade Antologia Potica
 
Csr news
Csr news Csr news
Csr news
 
O que pode um corpo diante do Afeticídio Urbano?
O que pode um corpo diante do Afeticídio Urbano?O que pode um corpo diante do Afeticídio Urbano?
O que pode um corpo diante do Afeticídio Urbano?
 
Tipo Carioca - outubro 2013
Tipo Carioca - outubro 2013Tipo Carioca - outubro 2013
Tipo Carioca - outubro 2013
 
Dissertação de patrícia cabral de arruda na sociologia da un b em 2012
Dissertação de patrícia cabral de arruda na sociologia da un b em 2012Dissertação de patrícia cabral de arruda na sociologia da un b em 2012
Dissertação de patrícia cabral de arruda na sociologia da un b em 2012
 
Desabafo De Um Velho
Desabafo De Um VelhoDesabafo De Um Velho
Desabafo De Um Velho
 
Brasil Chorando
Brasil ChorandoBrasil Chorando
Brasil Chorando
 
DeClara nº44 junho 2021
DeClara nº44 junho 2021DeClara nº44 junho 2021
DeClara nº44 junho 2021
 
Brasil5
Brasil5Brasil5
Brasil5
 
Brasil
BrasilBrasil
Brasil
 
Brasil 1
Brasil 1Brasil 1
Brasil 1
 
Brasil
BrasilBrasil
Brasil
 
Antologia Poetica Poesia Pau Brasil # Org. Antonio Cabral Filho - RJ
Antologia Poetica Poesia Pau Brasil # Org. Antonio Cabral Filho - RJAntologia Poetica Poesia Pau Brasil # Org. Antonio Cabral Filho - RJ
Antologia Poetica Poesia Pau Brasil # Org. Antonio Cabral Filho - RJ
 
Tese de denise maria antunes cordeiro na educação da uff em 2008
Tese de denise maria antunes cordeiro na educação da uff em 2008Tese de denise maria antunes cordeiro na educação da uff em 2008
Tese de denise maria antunes cordeiro na educação da uff em 2008
 
O prisma f
O prisma fO prisma f
O prisma f
 
O prisma b
O prisma bO prisma b
O prisma b
 
Desabafo de um_velho2
Desabafo de um_velho2Desabafo de um_velho2
Desabafo de um_velho2
 

Mehr von Feab Brasil

Relatoria - PNEB 2013 - Curitiba PR
Relatoria - PNEB 2013 - Curitiba PRRelatoria - PNEB 2013 - Curitiba PR
Relatoria - PNEB 2013 - Curitiba PRFeab Brasil
 
55º CONEA - Deliberações
55º CONEA - Deliberações55º CONEA - Deliberações
55º CONEA - DeliberaçõesFeab Brasil
 
Convocatória - Seminário de Construção do CLACEEA
Convocatória  - Seminário de Construção do CLACEEAConvocatória  - Seminário de Construção do CLACEEA
Convocatória - Seminário de Construção do CLACEEAFeab Brasil
 
Circular CONCLAEA
Circular CONCLAEACircular CONCLAEA
Circular CONCLAEAFeab Brasil
 
Carta Política I CFF
Carta Política I CFFCarta Política I CFF
Carta Política I CFFFeab Brasil
 
Cartilha preparatória - 56º CONEA
Cartilha preparatória - 56º CONEACartilha preparatória - 56º CONEA
Cartilha preparatória - 56º CONEAFeab Brasil
 
Convocatória iii era sul
Convocatória iii era sulConvocatória iii era sul
Convocatória iii era sulFeab Brasil
 
Elementos Sobre a Semana Nacional de Mobilização, 2010.
Elementos Sobre a Semana Nacional de Mobilização, 2010.Elementos Sobre a Semana Nacional de Mobilização, 2010.
Elementos Sobre a Semana Nacional de Mobilização, 2010.Feab Brasil
 
Relatoria do GT de Formação - Aracaju, 2010.
Relatoria do GT de Formação - Aracaju, 2010.Relatoria do GT de Formação - Aracaju, 2010.
Relatoria do GT de Formação - Aracaju, 2010.Feab Brasil
 
Folder de Apresentação da FEAB 2010/11
Folder de Apresentação da FEAB 2010/11Folder de Apresentação da FEAB 2010/11
Folder de Apresentação da FEAB 2010/11Feab Brasil
 
Estatuto da FEAB
Estatuto da FEABEstatuto da FEAB
Estatuto da FEABFeab Brasil
 
A Defesa do Código Florestal e a Produção de Alimentos Saudáveis Pela Agricul...
A Defesa do Código Florestal e a Produção de Alimentos Saudáveis Pela Agricul...A Defesa do Código Florestal e a Produção de Alimentos Saudáveis Pela Agricul...
A Defesa do Código Florestal e a Produção de Alimentos Saudáveis Pela Agricul...Feab Brasil
 
Documento Político: Sobre a Temática do 53º CONEA, 2010.
Documento Político: Sobre a Temática do 53º CONEA, 2010.Documento Político: Sobre a Temática do 53º CONEA, 2010.
Documento Político: Sobre a Temática do 53º CONEA, 2010.Feab Brasil
 
O Livro Cinza do Agronegócio, 2010.
O Livro Cinza do Agronegócio, 2010.O Livro Cinza do Agronegócio, 2010.
O Livro Cinza do Agronegócio, 2010.Feab Brasil
 

Mehr von Feab Brasil (14)

Relatoria - PNEB 2013 - Curitiba PR
Relatoria - PNEB 2013 - Curitiba PRRelatoria - PNEB 2013 - Curitiba PR
Relatoria - PNEB 2013 - Curitiba PR
 
55º CONEA - Deliberações
55º CONEA - Deliberações55º CONEA - Deliberações
55º CONEA - Deliberações
 
Convocatória - Seminário de Construção do CLACEEA
Convocatória  - Seminário de Construção do CLACEEAConvocatória  - Seminário de Construção do CLACEEA
Convocatória - Seminário de Construção do CLACEEA
 
Circular CONCLAEA
Circular CONCLAEACircular CONCLAEA
Circular CONCLAEA
 
Carta Política I CFF
Carta Política I CFFCarta Política I CFF
Carta Política I CFF
 
Cartilha preparatória - 56º CONEA
Cartilha preparatória - 56º CONEACartilha preparatória - 56º CONEA
Cartilha preparatória - 56º CONEA
 
Convocatória iii era sul
Convocatória iii era sulConvocatória iii era sul
Convocatória iii era sul
 
Elementos Sobre a Semana Nacional de Mobilização, 2010.
Elementos Sobre a Semana Nacional de Mobilização, 2010.Elementos Sobre a Semana Nacional de Mobilização, 2010.
Elementos Sobre a Semana Nacional de Mobilização, 2010.
 
Relatoria do GT de Formação - Aracaju, 2010.
Relatoria do GT de Formação - Aracaju, 2010.Relatoria do GT de Formação - Aracaju, 2010.
Relatoria do GT de Formação - Aracaju, 2010.
 
Folder de Apresentação da FEAB 2010/11
Folder de Apresentação da FEAB 2010/11Folder de Apresentação da FEAB 2010/11
Folder de Apresentação da FEAB 2010/11
 
Estatuto da FEAB
Estatuto da FEABEstatuto da FEAB
Estatuto da FEAB
 
A Defesa do Código Florestal e a Produção de Alimentos Saudáveis Pela Agricul...
A Defesa do Código Florestal e a Produção de Alimentos Saudáveis Pela Agricul...A Defesa do Código Florestal e a Produção de Alimentos Saudáveis Pela Agricul...
A Defesa do Código Florestal e a Produção de Alimentos Saudáveis Pela Agricul...
 
Documento Político: Sobre a Temática do 53º CONEA, 2010.
Documento Político: Sobre a Temática do 53º CONEA, 2010.Documento Político: Sobre a Temática do 53º CONEA, 2010.
Documento Político: Sobre a Temática do 53º CONEA, 2010.
 
O Livro Cinza do Agronegócio, 2010.
O Livro Cinza do Agronegócio, 2010.O Livro Cinza do Agronegócio, 2010.
O Livro Cinza do Agronegócio, 2010.
 

Transnacionais na Educação

  • 1.
  • 2. 2 As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo “As Transnacionais nas Universidades: A Educação Contra o Povo” Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 3. As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo 3 Expediente: Realização: Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal – ABEEF Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil – FEAB Descrição: Cartilha de textos de subsídio aos debates sobre As Transnacionais nas Universidades Edição e Diagramação: Coordenação Nacional da FEAB – Gestão 2008/2009 – Aracaju/SE Coordenação Nacional da ABEEF – Gestão 2008/2009 – Piracicaba/SP E-mails: ABEEF – cn_abeef@yahoo.com.br FEAB – cnfeab@yahoo.com.br Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 4. 4 As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo Sumário Apresentação ....................................................................................................................... 5 Apresentação das executivas: ABEEF ..................................................................................................................... 7 FEAB .................................................................................................................... 10 CONCLAEA .......................................................................................................... 14 Textos: As Transnacionais ao volante do Brasil ....................................................... 16 As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo ........... 20 Conferindo caráter “científico” aos interesses econômicos: como as corporações se apoderam das universidades ...................................................... 25 As Transnacionais nas Universidades: Notícias e Dados ........................... 33 Agronegócios, Quem te Pariu? ...................................................................... 49 Transnacionais e a Agricultura Brasileira ................................................... 51 Ciência & Tecnologia: Atuação do Movimento Estudantil nas Universidades ......................................................................................................... 57 Boa Leitura!!! Bons Estudos!!! Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 5. As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo 5 Apresentação "...É tempo sobretudo de deixar de ser apenas a solitária vanguarda de nós mesmos. Se trata de ir ao encontro. (Dura no peito, arde a límpida verdade dos nossos erros.) Se trata de abrir o rumo. Os que virão, serão povo, e saber serão, lutando." É com esta orientação na mente, coração e pés que o poeta Thiago de Melo embeleza o inacabável trilho das lutas populares. Assim nós da FEAB (Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil) e ABEEF (Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal) fortalecemos nossas lutas, mística e horizonte. Trata-se de abrir o rumo, e assim faremos! Trata-se de destruir os velhos muros das universidades. Trata-se de não perder de vista a luz que paira nos horizontes dos acampamentos que insistem em nos apontar o caminho da vitória, logo ali onde o mais severo vendaval não apaga uma brasa sequer. Também se trata de não esquecermos de onde viemos e para onde vamos. Nós, estudantes, temos com esta Campanha/Luta a justeza entre as palavras e o passo para conquistas concretas compartilharmos com o povo. E não teríamos momento melhor para debatermos a educação que temos e que queremos para o POVO. Mas não basta debatermos! Sabemos que existe um gigante entre nós e a palavra, que nos exige grandes tarefas. A América Latina, já cansada de entregar seu sangue, não suporta mais a predação exploradora das grandes empresas do norte. Os seus índios já não tem o direito de pisar em seu solo, beber da água límpida e sequer podem semear os grãos que a natureza lhes presenteou. Os estudantes por sua vez não podem conviver se avizinhado com os piratas do século XXI. Estes que não precisam de navios, espadas e lendas; mas de poder, pesquisas, fundações, patentes e latifúndios. É tempo de lutar contra as CORPORAÇÕES TRANSNACIONAIS nos campos e cidades; e nós das universidades, de mãos dadas, também não exitaremos em montar nossas barricadas. Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 6. 6 As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo Aos poetas clássicos Patativa do Assaré (Antônio Gonçalves da Silva) “...Poeta niversitaro, Meu caro amigo poeta, Poeta de cademia, Qui faz poesia branca, De rico vocabularo Não me chame de pateta Cheio de mitologia, Por esta opinião franca. Tarvez este meu livrinho Nasci entre a natureza, Não vá recebê carinho, Sempre adorando as beleza Nem lugio e nem istima, Das obra do Criadô, Mas garanto sê fié Uvindo o vento na serva E não istruí papé E vendo no campo a reva Com poesia sem rima. Pintadinha de fulô. Cheio de rima e sintindo Sou um caboco rocêro, Quero iscrevê meu volume, Sem letra e sem istrução; Pra não ficá parecido O meu verso tem o chêro Com a fulô sem perfume; Da poêra do sertão; A poesia sem rima, Vivo nesta solidade Bastante me disanima Bem destante da cidade E alegria não me dá; Onde a ciença guverna. Não tem sabô a leitura, Tudo meu é naturá, Parece uma noite iscura Não sou capaz de gostá Sem istrela e sem luá. Da poesia moderna. Se um dotô me perguntá Deste jeito Deus me quis Se o verso sem rima presta, E assim eu me sinto bem; Calado eu não vou ficá, Me considero feliz A minha resposta é esta: Sem nunca invejá quem tem — Sem a rima, a poesia Profundo conhecimento. Perde arguma simpatia Ou ligêro como o vento E uma parte do primô; Ou divagá como a lesma, Não merece munta parma, Tudo sofre a mesma prova, É como o corpo sem arma Vai batê na fria cova; E o coração sem amô. Esta vida é sempre a mesma. Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 7. As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo 7 ABEEF – Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal A Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal - ABEEF, fundada em 03 de abril de 1971, entidade sem fins lucrativos, surgiu da necessidade de organizar e articular nacionalmente, regionalmente e localmente os estudantes de Engenharia Florestal do Brasil. Assim, ao longo de sua história a Associação atuou em torno do objetivo de construir uma sociedade justa, igualitária, sem exploradores e explorados e que utilize os recursos naturais de forma equilibrada, harmônica e sustentável. Ainda hoje esses objetivos se mantem firmes, e definem o horizonte de trabalho de nossa organização bem como a nossa forma de atuação. Para isso, a ABEEF tem a universidade como principal área de atuação, entendendo que todos devem ter direito a uma educação pública, gratuita, autônoma e de qualidade, mas não a enxerga como uma bolha isolada dentro da sociedade em que vivemos e por isso expande seus horizontes para além dos muros da universidade. Através de diversas atividades e eventos (como os Estágios Interdisciplinares de Vivencia, Cursos de Formação Política, Curso de Formação em Agroecologia, Encontros Regionais, etc), a ABEEF vem trabalhando para que os estudantes de Engenharia Florestal tenham uma formação ética e política, para compreender e atuar sobre a realidade social de nosso país, uma vez que a Universidade nos moldes atuais, cada vez menos cumpre papel de construção de sujeitos críticos à realidade na qual estão inseridos. É Nesse contexto também, que atualmente a Associação tem se aproximado dos movimentos sociais populares ligados ao campo, à floresta e à cidade, além de estreitar ainda mais os laços com outras entidades do Movimento Estudantil. Esta parceria além de estar proporcionando uma maior compreensão do papel dos estudantes no processo de transformação social, principalmente de nós que atuamos na área da Engenharia Florestal; também esta nos trazendo a clareza da necessidade de articular com os movimentos parceiros lutas mais amplas que acumulem para a transformação que queremos. Como exemplo concreto mais recente, temos a inserção da ABEEF na Via Campesina Brasil, participando de espaços nacionais como reuniões, seminários e Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 8. 8 As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo jornadas de lutas, bem como das articulações estaduais onde elas existem. Isso estreitou ainda a nossa aproximação com os movimentos que compõem a Via, principalmente da FEAB, MST e MAB. Isso se deve ao fato de entendermos que nossas lutas devem estar vinculadas à disputa de um projeto de sociedade, e que além de sermos estudantes, somos parte da juventude brasileira, juventude que é o potencial de transformação social ao mesmo tempo em que é o setor da sociedade em que a dominação ideológica se dá de forma mais intensa, e acima de tudo somos futuros trabalhadores. É a partir dessa compreensão, que acreditamos que devemos expandir os horizontes de nossa atuação enquanto um movimento organizado. Para conseguir fazer nosso caminho e alcançar os objetivos que nos colocamos, temos uma estrutura organizativa com base nos grupos que constroem a ABEEF localmente e com algumas instâncias descritas abaixo: • Estrutura Organizativa: Coordenação Nacional (CN): Tem como função representar a Associação nacionalmente, planejar e executar atividades e projetos definidos no Seminário de Planejamento, efetivando as decisões do CBEEF. A CN também deve auxiliar as Coordenações Regionais, fazendo articulação nas escolas transmitindo um sentimento mais concreto de ABEEF, bem como convocar e coordenar as instâncias em espaços nacionais da Associação encaminhando as deliberações. Além da articulação e integração interna, a CN e responsável por iniciar e/ou manter relações com outros movimentos e entidades que lutem por uma sociedade melhor. Coordenação Regional (CR): Tem como função representar a Associação regionalmente, fazendo a articulação nas e entre as escolas da região. As CR’s devem realizar passadas freqüentes para transmitir o “sentimento de ABEEF” e acompanhar os trabalhos que são feitos pelos estudantes dos CA’s e DA’s) – Entidades de base, sem as quais não existiria Associação. Além de levar ao conhecimento das novas escolas as políticas da ABEEF, bem como transmitir a importância da organização estudantil. Atualmente a ABEEF esta estruturada em cinco regionais: - Regional Amazônia (PA, AM, AC, RO, AP, RR); - Regional Caatinga (BA, SE, AL, PE, PA, RN, CE, PI, MA); - Regional Cerrado (DF, GO, MT, TO, MS); - Regional Mata Atlântica (SP, RJ, MG, ES); - Regional Araucária (PR, SC, RS); Núcleo de Conjuntura Política (NCP): Tem como função coletar, Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 9. As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo 9 sistematizar, produzir e divulgar materiais que sirvam de subsídio para as atividades da Associação, servir de órgão consultivo para as ações das instâncias, bem como pensar eventos que permitam a formação política dos estudantes. Núcleo de Trabalho em Agroecologia (NTA): Tem como função coletar, sistematizar, produzir e divulgar materiais que sirvam de subsidio para as atividades da Associação, bem como pensar e participar de eventos que permitam a discussão sobre a matriz tecnológica e produtiva em que nossa sociedade está atualmente inserida, sendo propositivo para inversão da mesma, assim cuidando da formação agroecológica e política dos estudantes. Núcleo Arquivo Histórico (NAH): Localizado permanentemente na UFMT - Cuiabá, este núcleo reúne o acervo histórico da Associação. Tem como função guardar e organizar o acervo da Associação de modo a facilitar o acesso e pesquisa de seus documentos, além de sempre realizar nos eventos da ABEEF apresentações que permitam aos estudantes conhecer a história de luta da Associação. CBEEF: O Congresso Brasileiro dos Estudantes de Engenharia Florestal é a instância máxima de deliberação da Associação, por reunir o maior número de estudantes. Acontece anualmente numa das escolas de Engenharia Florestal e permite aos estudantes um aprofundamento a respeito das linhas defendidas pela ABEEF, definindo as políticas sobre as mesmas que serão encaminhadas no período até o próximo CBEEF. A sua realização é feita pela comissão organizadora formada por estudantes da escola sede e representantes das Coordenações Nacional e Regional. Seu eixo temático é definido nos conselhos da Associação. A sucessão das instâncias da ABEEF ocorre no CBEEF. Por fim, vale falar um pouco da linha de ação que a ABEEF definiu para trabalhar nesse ano de gestão. Além das bandeiras históricas que nós trabalhamos em nossa organização (o debate de gênero, questão agrária, agroecologia, universidade e sociedade, movimento estudantil, etc.) nessa gestão, nós definimos em nosso seminário de planejamento, uma linha central de trabalho que serviria de eixo central de nossas ações e permearia todas s nossas bandeiras. Esse eixo foi o do debate em torno do agronegócio florestal, que norteou nossas atividades durante esse ano. Nesse contexto, buscando avançar nesse debate e acumular forças em nossa luta, que nos envolvemos nessa campanha e conjunto com nossos parceiros da FEAB, que pretende amarrar nosso ano de trabalho discutindo esse tema das transnacionais e sua interferência em nossa formação profissional e na disputa da universidade. Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 10. 10 As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo FEAB – Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil • Histórico A organização dos estudantes de Agronomia teve inicio há mais de 50 anos. A primeira organização estudantil ocorreu juntamente com os estudantes de Medicina Veterinária, onde foi criada em 1951 a União dos Estudantes de Agronomia e Veterinária do Brasil (UEVAB) durante o II Congresso dos estudantes de Agronomia e Veterinária. Essa organização durou somente até 1955, onde os estudantes de Agronomia criaram sua própria organização. Em 1954 os estudantes de Agronomia realizaram seu primeiro congresso, na época o CBEA – Congresso Brasileiro de Estudantes de Agronomia. Durante o II CBEA foi criado o Diretório Central dos Estudantes de Agronomia do Brasil (DCEAB). O DCEAB sofreu duros golpes durante o regime militar, onde a exemplo da União Nacional dos Estudantes (UNE), movimentos sociais populares e partidos políticos, em 1968 caíram na clandestinidade, através do Ato Institucional número 5 (AI-5). Este decreto proibiu a reunião de pessoas para fins políticos. Ocorreu ainda, prisão de líderes estudantis e o roubo dos materiais dos arquivos. As atividades dos estudantes de agronomia foram quase totalmente interrompidas entre os anos de 1968 e 1971. Em 1972 realizou-se o 15° Congresso Nacional dos Estudantes de Agronomia – CONEA, em Santa Maria/RS. Neste evento retorna-se o movimento a nível nacional, com a fundação da Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil – FEAB. Desde sua fundação a entidade é protagonista de inúmeras conquistas que asseguram mudanças no curso de agronomia, tais como: o fim da Lei do Boi (cota de 50 por cento de vagas para filhos de fazendeiros), o Currículo Mínimo da Agronomia, a Lei dos Agrotóxicos (receituário agronômico); a discussão diferenciada de Ciência e Tecnologia, frente à necessidade de modelos agrícolas alternativos ao da “revolução verde”; a participação na construção da Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 11. As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo 11 Agroecologia, entre outras. Durante seu processo histórico travou várias lutas junto aos movimentos sociais populares do campo, a exemplo da campanha nacional de reflexão sobre o gênero; campanha nacional pelo limite da propriedade da terra; campanha nacional “Sementes Patrimônio da Humanidade”. Além de contribuir com a organização dos estudantes na América Latina com a criação de uma entidade que abrange as federações de estudantes de agronomia dos países latinos e Caribe, a CONCLAEA – Confederação Caribenha e Latino Americana de Estudantes de Agronomia. Sendo assim, sua atuação é um marco na luta em defesa da Educação e nas ações do movimento estudantil brasileiro e internacional. • Objetivo A FEAB tem como objetivo a construção do socialismo, entendendo-o como uma sociedade onde não haja a exploração do ser humano pelo ser humano e não exista a propriedade privada dos meios de produção. Para chegar ao nosso objetivo temos como foco a transformação da universidade, com vistas a atender as demandas da classe trabalhadora oprimida. Para isso é necessária a realização de lutas em conjunto com as demais organizações de estudantes, movimentos sociais populares, e demais organizações que possuam afinidades políticas com a FEAB. Atuando dessa forma, para fortalecer o ME através da realização de lutas sociais que concretizem uma coesão organizativa e reivindicatória e que construa uma política constante de formação em defesa da universidade pública financiada pelo Estado, de qualidade, socialmente referenciada, democratizada em seu acesso e popular. • Estrutura organizacional A FEAB está estruturada através de uma Coordenação Nacional (CN), 8 Superintendências Regionais, 8 Núcleos de Trabalho Permanente (NTP’s), os Centros e Diretórios Acadêmicos – CA’s e DA’s e alguns outros grupos organizados nas escolas de Agronomia. Coordenação Nacional: Responsável por operacionalizar as políticas deliberadas no Congresso, possui sede em uma única escola, durante a gestão de um ano, hoje sediada na Universidade Federal de Sergipe (UFS) em Aracaju/SE. Superintendência Regional: Cada superintendência tem uma Coordenação Regional (CR) que é responsável por encaminhar as políticas deliberadas no Congresso em uma determinada região geográfica, possui sede em uma única escola. Segue abaixo, a relação das superintendências regionais, com a sua respectiva área de abrangência e escola sede da Coordenação Regional: Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 12. 12 As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo - Regional I: RS – CR: Porto Alegre – RS - Regional II: PR e SC – CR: Curitiba - PR - Regional III: MG, RJ e ES – CR: Seropédica – RJ - Regional IV: DF, GO, MT, MS, RO e AC – CR: Tangará da Serra - MT - Regional V: PE, RN, PB, PI e CE – CR: Recife - PE - Regional VI: MA, PA, AM e TO – CR: Marabá - PA - Regional VII: SP – CR: Botucatu - SP - Regional VIII: BA, SE e AL – CR: Cruz das Almas - BA Núcleos de Trabalho Permanente: Constituem-se em órgãos consultivos e de elaboração teórica sobre as bandeiras de luta da federação. Os NTP’s possuem sede numa única escola. Segue abaixo os NTP’s e suas respectivas sedes atuais: - Arquivo e Histórico: Curitiba - PR - Educação: Montes Claros - MG - Estudos Amazônicos: Cuiabá - MT - Ciência e Tecnologia: Campos - RJ - Relações Internacionais: Lavras - MG - Juventude e Cultura: Florianópolis - SC - Movimentos Sociais Populares: Diamantina - MG - Agroecologia: Belém - PA • Os Eventos A instância máxima de deliberação da FEAB é o CONEA – Congresso Nacional dos Estudantes de Agronomia. É o encontro anual de todos os estudantes de agronomia do Brasil de cunho integrativo onde se discute questões inerentes ao curso, a conjuntura nacional, a situação agrária e agrícola regional e nacional, a educação, avaliando e apontando perspectivas, com o intuito de apresentar propostas e formas de encaminhamentos que visem solucionar os problemas levantados no evento. Dentre as principais atividades promovidas atualmente pela FEAB, estão os ERA’s (Encontros Regionais de Agroecologia), os EREA’s (Encontros Regionais dos Estudantes de Agronomia), os Seminários de Questão Agrária, os CEPA’s (Curso de Economia Política e Agricultura) e os EIV’s (Estágios interdisciplinares Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 13. As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo 13 de vivência) em comunidades de pequenos agricultores (as) e assentamentos de reforma agrária. Os EIV’s foram premiados pela UNESCO em 1992, como iniciativa de destaque da juventude latino-americana. • As Bandeiras de Luta São as linhas norteadoras das discussões realizadas pela FEAB, deliberadas no CONEA, e que devem ser colocadas em prática por todas as entidades que compõem a FEAB. Devendo, assim, serem priorizadas pela coordenação nacional e pelas coordenações regionais. Algumas de nossas principais bandeiras são: - Formação Profissional - Ciência e Tecnologia - Universidade - Juventude, Cultura, Valores, Raça e Etnia - Agroecologia - Movimentos Sociais - Relações Internacionais - Gênero e Sexualidade Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 14. 14 As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo CONCLAEA – Confederação Caribenha e Latino Americana de Estudantes de Agronomia • Histórico O movimento estudantil da agronomia discute o tema de relações internacionais desde os anos 60, quando se realizou a 1ª Convenção Latino Americana de Estudantes de Agronomia, evento de teor acadêmico, visando a questão agrária e o ensino agronômico principalmente. Uma segunda edição foi realizada no México posteriormente, mas o período de regimes militares que já começava a se instalar no continente interrompeu esta articulação e colocou na clandestinidade diversas organizações estudantis na América Latina. É no ano de 1989, durante o XIII Festival Mundial da Juventude, realizado na República Popular da Coréia, que sete países, dentre eles o Brasil, assinam um manifesto para a realização do I Congresso Latino Americano e Caribenho de Entidades Estudantis de Agronomia – CLACEEA. Também neste ano são criados os Núcleos de Trabalho Permanente da FEAB, dentre estes o NTP de Relações Internacionais, sediado em Pelotas, onde se realiza este primeiro congresso em 1991. Pela participação de poucos países, optou-se por realizar o II CLACEEA, no ano seguinte, em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia. Surge então, em 1992, a Confederação Caribenha e Latino Americana de Estudantes de Agronomia – CONCLAEA. • Lutas A CONCLAEA nasce como uma articulação do movimento estudantil de agronomia, que luta pela transformação do ensino agronômico, em defesa de uma universidade pública, autônoma, democrática e de qualidade, pela soberania dos povos e relação com os movimentos sociais. Ao longo destes anos a CONCLAEA tratou de se consolidar, crescer e definir politicamente, levantando bandeiras próprias do movimento estudantil e buscando os meios para se vincular com os setores populares. Tem um papel importante de intercâmbio de experiências (políticas, organizativas, sociais e culturais) dos modelos de resistência dos diversos países, a exemplo dos estágios de vivencias, realizados também na Argentina e Colômbia. Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 15. As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo 15 • Organização CLACEEA - Todos os anos realiza-se o congresso que é o fórum de deliberação da confederação. É também um espaço para discussão política e intercâmbio, além de realizar estágios, junto com os movimentos sociais do país de acolhimento. Pré-CLACEEA - Espaço para a organização conjunta do CLACEEA. Mas é também um espaço de articulação e discussão. Coordenação Geral (CG) - A GC tem um papel de facilitar as organizações dos países; bem como coordenar e executar as deliberações do CLACEEA; além de fazer a articulação e comunicação entre os países. Coordenações Sul e Norte – Estas coordenações, assim como a CG, têm como função facilitar a organização da CONCLAEA, mas, em suas regiões. A Coordenação Sul inclui os países da América do Sul e a Coordenação Norte envolve os países da América Central e Caribe. No ano de 2008 a FEAB esteve com a coordenação geral da CONCLAEA, e alguns de nossos companheiros estiveram por nossa América Latina, fazendo passadas nas universidades e contribuindo para a organização dos estudantes nos diversos países. Em janeiro de 2009, no XIX CLACEEA realizado em Tunja, Colômbia, a FEAB assumiu a Coordenação Sul. O pré-CLACEEA, segunda instância da confederação, será realizado no México, e o XX CLACEEA, no Instituto de Agroecologia da América Latina da Via Campesina, em Barinas, Venezuela. Sigamos em frente, a levar a bandeira do internacionalismo e da CONCLAEA, a resgatar a cultura mochileira e a sair pelos caminhos da América, a conhecer nuestros hermanos e a lutar juntos... Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 16. 16 As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo As Transnacionais ao Volante do Brasil "Sem sombra de dúvida, a vontade do capitalista consiste em encher os bolsos, o mais que possa. E o que temos a fazer não é divagar acerca da sua vontade, mas investigar o seu poder, os limites desse poder e o caráter desses limites." Karl Marx Corporação Multinacional, Corporação Global, Transnacional e Empresa Internacional; são termos que as novas gerações brasileiras viram tornar-se comum no cotidiano da sociedade, quase como um termo natural e iliquidável. Na literatura sobre o tema costuma-se utilizar o termo CMN (Corporações Multinacionais). Os autores que não permitem que se dilua caráter dominante e inerente, dessas corporações, preferem utilizar o termo Corporações Transnacionais em detrimento de Multinacionais. • A origem A modernização do sistema produtivo após a 2ª guerra mundial nos trouxe novos parâmetros para a produção industrial. Após a queima massiva da produção de guerra, a superprodução tecnológica e as ampliações de bases militares, aliada as alianças decorrentes da guerra; abriu-se terreno para um novo modelo de relação mercantil e de dominação política no momento em que ainda havia uma forte disputa entre o bloco capitalista (EUA e aliados) e socialista (URSS e aliados). Este foi o marco da nova forma que as indústrias, até então nacionais, começavam a adquirir e/ou maturar. Foi o momento em que as indústrias se deslocaram, amadureceram e ramificaram seus negócios para o restante do globo na tentativa de hegemonização do modelo. Logo este modelo teve que se ampliar diante de territórios em disputa e com características interessantes para seu desenvolvimento, como o caso da América Latina e África; algumas das condições observadas: - Abundância de mão-de-obra com baixos custos, em comparação aos salários pagos em países desenvolvidos. - Riqueza em matéria-prima (água, minérios, energia, agricultura, dentre outros). - Infra-estrutura promovida pelo governo do país onde a empresa se instala. - Leis ambientais brandas. - Incentivos tributários, como isenção parcial ou total de impostos. - Permissão para enviar os lucros aos seus países de origem. Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 17. As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo 17 Todas estas características compõem implicitamente as regras gerais e vitais para o desenvolvimento das corporações transnacionais, cujas explicitaremos mais adiante. Em primeiro plano identificamos a origem aliada ao domínio militar que por muitas vezes fora utilizado severamente para a inserção e controle político dessas corporações, porém o sistema capitalista aperfeiçoou-se de um ponto onde a rigidez política antidemocrática e ditatorial assegurasse a inserção e ideológica, para um ponto em que condicionasse o território para o crescimento sorrateiro da nova lógica, já com a sociedade impregnada ideologicamente, e com uma falsa idéia de democracia diante de um povo anestesiado. Algumas tarefas, ou problemas, a serem resolvidos pelos novos imperialistas era a relação com os estados nacionais e com as massas populares. • As Transnacionais e o estado A atuação destas empresas se dá em todos os âmbitos da sociedade, o que é uma característica fecunda para esta forma de organização do capital. Como nos traz Herbert J. de Souza: “No momento em que o capital mundial já é uma realidade em centenas de países (isto é, já é a forma dominante de produção em centenas de países) a grande contradição que ele enfrenta é a de como fazer coexistir a sua vocação e suas necessidades mundiais com os limites e as necessidades “nacionais” das sociedades onde opera. Esta contradição tem sua dimensão econômica (as necessidades da economia pensada em termos mundiais não correspondem necessariamente às necessidades pensadas em termos nacionais) e política. Para poder existir nos espaços nacionais, o capital mundial necessita do fiat do poder político de cada país. E aí onde começa o nosso problema, o da relação entre as corporações transnacionais e os estados nacionais.”1. Depois de instalado nos países - podemos extrair essa análise de inúmeras experiências latinas - o perfil do sistema de poder transnacional nos deixou as seguintes características: - Os processos eleitorais foram banidos por algum tempo e com o passar das etapas, controlados de forma a não ameaçar o núcleo do poder executivo. - Os movimentos e partidos populares foram submetidos à lógica das leis de Segurança Nacional. O inimigo, agora interno, é o próprio povo. 1 SOUZA, Herbert José de. O Capital transnacional e o estado. Petrópolis: Vozes, 1985. 160 p. Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 18. 18 As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo - Por algum Tempo os órgãos de formação de opinião pública foram submetidos à censura e posteriormente controlados diretamente pelas corporações, sob à cunha da liberdade crítica enquanto conquista popular. - E obviamente que para todo o processo de inserção, o estado militarizado tratou toda e qualquer ameaça popular como caso de guerra. - Por fim sintetizamos essa herança com a perda da soberania nacional, perda de movimento popular e perda de substância democrática. • Formas e estratégias de controle político do capital Transnacional na atualidade O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann em conversa com alguns partidos políticos sobre a crise, afirmou: “Diferente da crise de 1929, que teve início no setor produtivo e avançou para o setor financeiro, a atual crise foi explodida no mercado financeiro, atinge o setor produtivo e provoca graves e sérios problemas sobre a geração de emprego, manutenção de postos de trabalho e distribuição de renda”. E continou: “hoje, as 500 maiores corporações do mundo detêm o faturamento de 46% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial. No Brasil, apenas três maiores empresas transnacionais acumulam o valor correspondente ao PIB brasileiro”. Hoje a América Latina é um dos palcos centrais para as mais profundas e diversas disputas entre organizações populares e corporações de capital transnacionalizado. Inclusive temos alguns países que mantém uma postura rígida junto às empresas estrangeiras, como o caso do Equador quando proibiu a presença de transgênicos (tecnologia dominada pelas transnacionais) no auxílio escolar alimentar. Esta medida compõe parte da recente Lei de Segurança Alimentar aprovada pelo congresso e construída, também, por organizações indígenas e camponesas. O Brasil, como pólo estratégico, é um grande território sem porteiras para a atuação das CMNs. Podemos hoje, com clareza, identificar a participação destas corporações nos principais meios de decisão e pesquisa do estado. Estas empresas tem passe livre nas Universidades, compõem indiretamente a CTNBio2 (A composição desta Comissão é atrelada a indicações do “estado”), formam seletos grupos detentores de ações da Petrobrás, Vale, etc; além de financiarem inúmeras 2 Comissão Técnica Nacional de Biossegurança composta por integrantes indicados pelo governo, e parte deles são professores de universidades que também fazem pesquisas com transgênicos junto comas transnacionais. Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 19. As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo 19 campanhas eleitorais para a ramificação, ampliação e controle das políticas essenciais do estado preferencialmente estabilizado. Toda dominação de povos se dá na esfera econômica e ideológica trazendo inúmeras características necessárias para essa relação. As formas globais ou hegemonizantes do capital nada mais é do que o seguro imperialista dos países ricos para absorção dos lucros das operações em questão. Por mais que se dêem novos nomes ao modelo capitalista, ele sempre se pautará na sua característica fundamental, a maximização dos lucros através da expropriação de capital e acumulação, em primeiro lugar. É interessante refletirmos sobre esta pauta justamente para observarmos os elos que a história nos deu. Nunca é demais exercitar a memória e vasculhar as raízes da Bancada Ruralista, da CTNBio, dos Canaviais, democracia, partidos, privatizações logo após as ditaduras e também as raízes das mobilizações e lutas populares. Hoje em dia ainda nos espanta observar a incrível sistematicidade das ações dessas corporações. Daí nos perguntamos: Ninguém ta vendo isso? A CTNBio, o MEC, as Câmaras, o estado e o povo? Esse é ponto da questão, as CMNs estão inseridas em todas as brechas do estado, ou seja, elas respondem e executam com a retaguarda coberta pelo estado, quando não são o próprio. Mas e o povo? Na história o povo sempre foi perigoso para a ordem, por isso o povo deve se curtir apenas da participação eleitoral – longe de negá-la enquanto conquista - depositando lá suas perspectivas de mudanças longe das grandes mobilizações e organizações. O espetáculo democrático brasileiro (apelido que rede/corporação globo concedeu às eleições) concretizou seu papel, como apontavam os estudiosos contrários às CMNs; mais do que nunca podemos falar que o “espetáculo democrático” não ameaça o projeto hegemônico, ou melhor, alicerça e legítima as operações. A Aracruz lidera a lista de doações para campanhas eleitorais. Foram mais de R$ 900 mil doados a campanhas de deputados estaduais e federais. Entre os candidatos que receberam dinheiro da Aracruz, 21 elegeram-se deputados estaduais (do PP, PMDB, PSDB, PPS, PT e PDT) e 14 deputados federais (do PSB, PFL, PDT, PMDB, PSDB e PP). A Votorantim destinou R$ 348 mil para campanhas eleitorais no RS e a Stora Enso, R$ 103 mil. Uma das campeãs de doações em todo o país, a Aracruz divulgou uma nota oficial afirmando que as doações são uma “contribuição ao amadurecimento do processo democrático” 3. 3 Marco Aurélio Weissheimer, Carta Maior, 8 de dezembro de 2006 Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 20. 20 As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo AS TRANSNACIONAIS NAS UNIVERSIDADES: A EDUCAÇÃO CONTRA O POVO “Tenho que dizer que se pinte de negro, que se pinte de mulato, não só entre os alunos, mas também entre professores; que se pinte de operário e camponês, que se pinte de povo, porque a Universidade não é patrimônio de ninguém e pertence ao povo” Che Guevara A ação ofensiva do capital internacional na América Latina e no Brasil, que é visto como campo estratégico de exploração econômica, a exemplo das Transnacionais, como a Votorantim em Rondônia, Suez em Manaus, Aracruz Celulose no Rio Grande do Sul, Bahia, Espírito Santo, nos mostra como este tipo de organização política hegemonista vem interferindo na nossa soberania territorial e popular, e para além também nos encalça em todos os âmbitos, inclusive nas universidades. Como já debatemos inúmeras vezes na FEAB/ABEEF e no combativo Movimento Estudantil geral, não é novidade a fragmentação da Reforma Universitária para driblar a oposição dos Movimentos pela educação. Mas neste momento chamamos a atenção para os pontos que permitiram, permitem e permitirão a aproximação sorrateira do capital transnacional com a educação e conseqüentemente com o estado cumprindo sua meta de inserir-se no poder político de cada país onde atua. • As Transnacionais, a Educação e as Fundações de Apoio De acordo com a socióloga Marilena Chauí, a educação atual é colocada no campo dos Serviços Não-Exclusivos do Estado, isto é, aqueles que podem ser executados por instituições não-estatais, na qualidade de prestadoras de serviços, o Estado provê tais serviços, mas não executa uma política, nem executa diretamente o serviço. Nestes serviços estão incluídas a educação, a saúde, a cultura, as utilidades públicas; portanto o estado se desobriga de uma atividade eminentemente política, uma vez que pretende desfazer a articulação democrática entre poder e direito. Dessa maneira, ao colocar a educação no campo de serviços, deixa de considerá-la um direito dos cidadãos e passa a tratá-la como qualquer outro serviço público, que pode ser terceirizado ou privatizado. A educação, nesta forma, são organizações sociais prestadoras de serviços que mantêm uma relação de contrato de gestão com o estado, denominando, portanto, uma nova conotação à autonomia, resumindo-a ao gerenciamento empresarial das instituições. A ‘’autonomia’’ prevê que, para cumprir as metas e alcançar os indicadores impostos pelo contrato de gestão, a universidade tem ‘’autonomia’’ para ‘’captar recursos’’ de outras fontes, fazendo parcerias com empresas privadas. Cria-se também um Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 21. As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo 21 Fundo de Apoio Universitário, com recursos públicos que podem ser repassados a qualquer universidade, desde que ela se apresente como prestadora de serviços e cumpridora das cláusulas do contrato de gestão. Estas cláusulas são baseadas nas diretrizes Tempo/Qualidade/Quantidade, onde os estudantes se caracterizam enquanto mercadoria, e consequentemente incorporados de preceitos industriais como: Padronização, especificação (como no modelo industrial fordista4), acumulação, valorização, desvalorização, etc. Nesta ordem temos claramente a idéia que os estudantes ficam alheios aos anseios populares na medida em que viram peças do mercado. Dentre os pontos que destacamos abaixo poderemos ver claramente as brechas que vão se completando logicamente para dar sentido ao fortalecimento do capital privado. Iniciando pela compra de vagas nas grandes instituições/corporações privadas através do PROUNI; em seguida pela legitimação da ineficiência do ensino público através da precária avaliação chamada SINAES, que aponta como solução para as metas não atingidas a captação de recursos privados que também coloca em jogo os interesses de lucro; pela certificação jurídica atribuída pelas PPP’s e por fim a lei de inovação tecnológica que permite as patentes e sigilo dos resultados de pesquisas dentro das estruturas do estado, ou melhor, do povo brasileiro! 1- Prouni (Programa Universidade Para Todos) onde uma importante parcela de atribuições que hoje cabem ao Estado, por força da Constituição, está sendo transferida para a iniciativa privada.. Em decorrência, o princípio da universalização da oferta dos serviços públicos poderá ser abandonado, cabendo ao Estado tão somente o investimento em ações focais através de programas assistenciais destinados à população mais pobre e miserável. (MANCEBO; SILVA, 2004). 2 - Sinaes (Sistema Nacional da Educação Superior) regulamenta a avaliação institucional e de alunos de modo tal que, na prática, anula a autonomia universitária, criando comissões de avaliação que, no limite, são superiores aos Conselhos Universitários 5. 3 - As PPP’s (Parcerias Público-Privadas) que transferem atribuições do Estado em todos os tipos de empreendimento e gestão à iniciativa privada, 4 Modelo forjado pela indústria automobilística norte americana (ford) na intenção de otimizar os lucros enquanto reorganizava a produção e relações de trabalho. Neste modelo identificamos a especialização dos trabalhadores e incorporação dos mesmos no valor de mercadoria. Na educação tivemos a departamentalização do ensino, a mercantilização e diversas características fabris nas relações sociais. 5 http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2004/10/292112.shtml Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 22. 22 As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo inclusive no que diz respeito a serviços públicos sociais como saúde e educação. Através do projeto, a produção e os serviços de natureza pública e coletiva da pesquisa e desenvolvimento tecnológico, assim como a defesa do meio ambiente, do patrimônio histórico e cultural, dos interesses da Nação junto aos órgãos internacionais ficarão abertos à parcerias. Apenas a regulamentação, legislação e policiamento continuarão sob o monopólio do Estado, que fica claro o investimento e abertura do governo pra o capital internacional, onde a universidade perdem seu papel perante à sociedade 6. 4 - Lei de Inovação Tecnológica que aprofunda o processo de privatização da universidade pública, tem o intuito de transformar a pesquisa realizada nas universidades públicas (que se enquadram no que a lei chama de Instituições Científicas Tecnológicas – ICT’s) mais adaptáveis às leis de mercado. Já no seu 3º artigo, a lei prevê “alianças estratégicas” entre universidades, empresas nacionais ou multinacionais sem fins lucrativos. O artigo prevê parcerias na produção de conhecimento, bem como a utilização de laboratórios e equipamentos das universidades públicas por essas empresas. O capítulo 3º regimenta todo o tipo de criação de patentes (artigo 6º) sobre a produção científica das instituições públicas. Além disso, institucionaliza possíveis remunerações extras recebidos aos pesquisadores envolvidos com projetos lucrativos (artigo 8º §2º). Isso contraria a lógica na qual a produção de conhecimento está calcada: pública e com imediata publicização (publicações em revistas e apresentações em congressos). O governo coloca a discussão desta lei descolando-a do processo de Reforma Universitária. Outra forma de alienar todos estes processos de privatização das universidades. Delegar a outro ministério, que não o da Educação, a questão da inovação tecnológica e discuti-la de maneira desarticulada da questão da Reforma Universitária, pode acarretar em graves conseqüências para produção tecnológica na universidade, bem como para formação profissional. Trata-se do empobrecimento do ensino, aprofundamento da mercantilização do conhecimento e arrefecimento do potencial crítico da universidade. • As Transnacionais Agora ordem é o estado limpar o meio de campo para os “Mercadores da educação”. Com a educação transformada em mercadoria e as portas abertas para os investimentos privados, todo conhecimento produzido nas universidades com a nossa mão de obra barata, servirá para as grandes empresas aumentarem cada vez mais seus lucros longe das necessidades reais dos trabalhadores que pagam seus pontuais impostos. 6 http:// www.enecos.org.br/docs/barrar_reforma.doc Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 23. As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo 23 Como claro e, infelizmente, corriqueiro exemplo, temos abaixo a notícia de um lançamento e patenteamento de um produto fruto da parceria (PPP’s) de 30 universidades com empresa Syngenta: “A multinacional Syngenta está lançando no mercado nacional o produto Actara (Tiamethoxam). Esse produto é eficiente na proteção do cultivo e pouco tóxico ao meio. A nova tecnologia é fruto de mais de dez anos de pesquisas, envolvendo 30 universidades brasileiras e uma alemã, e resultou no desenvolvimento de um produto único, o primeiro bioativiador para cana-de- açúcar do mercado. Os estudos científicos foram realizados pela Syngenta em parceria com entidades de pesquisa e tecnologia agrícola, tais como Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), Universidade Estadual Paulista (Unesp), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal (Unipinhal), entre outras, e confirmaram que o Tiamethoxam contribui para o aumento da produtividade da cana em até 12% por hectare.”7. Esse exemplo apesar de corriqueiro e sedutor para uma promessa de desenvolvimento para o Brasil, merece alguns complementos, cujo não encontramos nos editais para estagiários, nem tampouco nos seus boletins eletrônicos diários. A Syngenta lidera as pesquisas e a produção de sementes transgênicas com aval da CTNBio, além de ser uma das maiores empresas com patente sobre a tecnologia Terminator8 . Esta mesma empresa também foi acusada de fazer experimentos com transgênicos em áreas de amortecimento de uma reserva ambiental no Paraná, protegidas inclusive pela lei. E ainda pior, em 2007 foi acusada por ter contratado uma empresa de segurança para executar o camponês e militante do MST Valmir Mota, o Keno, que se encontrava acampado na região onde o Movimento e a Via Campesina faziam denúncias sobre as infrações da Syngenta. A FEAB e a ABEEF já lançou diversas campanhas contra a reforma Universitária, pela qualidade do ensino, entre outras lutas. No ano passado lançamos a campanha “Qual o Papel da CTNBio?” denunciando o papel que o estado vem cumprindo em desacordo com o povo, e agora além destas lutas, que são permanentes, estamos levantando outro eixo polêmico, “As Transnacionais nas Universidades: A educação contra o Povo!” Fazendo uma denúncia direta ao projeto que rege inclusive os governos. 7 http://ethanolbrasil.blogspot.com/2008/02/syngenta-lana-produto-para-cana-de-acar.html 8 A tecnologia Terminator, também conhecida como sementes suicidas, são sementes modificadas para germinar somente uma vez, por esta razão foram banidas de vários países por interferir na soberania alimentar dos povos. Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 24. 24 As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo Esta a campanha deverá se complementar, a partir do nosso lócus de ação, com outras lutas de organizações populares, formando uma unidade que há muito têm sido esquecida entre o Movimento Estudantil e demais Movimentos Sociais. Para tanto é preciso demarcar nosso campo objetivo de atuação na esfera das instituições de ensino e sob a pauta educacional, mapeando e publicisando os gastos e pesquisas de professores com Transnacionais nas Universidades, trazendo à tona o que acontece diariamente, mas quase secretamente, sem que façamos o devido debate que é de responsabilidade de todos. Temos uma grande tarefa pela frente, a responsabilidade com a educação popular que liberta, com os milhares de camponeses que morrem envenenados ou assassinados, com o meio ambiente e sempre com os trabalhadores e trabalhadoras. Por tanto, nossa tarefa está posta, contribuir com a denúncia contra a atuação desenfreada e desrespeitosa das Corporações Transnacionais. Juventude que ousa LUTAR! Constrói o poder POPULAR! O POVO Passeava o povo suas bandeiras rubras e entre elas na pedra que tocaram estive, na jornada fragorosa e nas altas canções da luta. Vi como passo a passo conquistavam. Somente a resistência dele era um caminho, E isolados eram como troços partidos Duma estrela, sem bocas e sem brilho. Juntos na unidade feita em silêncio, Entre o fogo, o canto indestrutível, O lento passo do homem na terra Feito profundidades e batalhas. Eram a dignidade que combatia O que foi pisoteado, e despertava Como um sistema, a ordem das vidas Que tocavam as portas e se sentavam Na sala central com suas bandeiras. Pablo Neruda, “Canto Geral – XIV” Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 25. As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo 25 Conferindo caráter “científico” aos interesses econômicos: como as corporações se apoderam das universidades∗ Roberto Leher (UFRJ) 9 “Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar. É da empresa privada o seu passo em frente, seu pão e seu salário. E agora não contentes querem privatizar o conhecimento, a sabedoria, o pensamento, que só à humanidade pertence.” Bertold Brecht A relação das universidade com empresas e com o complexo militar é algo já muito conhecido na literatura acadêmica (ver a este respeito o clássico trabalho de Horowitz, 1969). O comprometimento das universidades com as corporações tornou-se muito mais importante no contexto neoliberal, quando as corporações passaram a estabelecer contratos com as instituições universitárias mediados muitas vezes pelos órgãos de fomento do Estado. Muitos desses contratos estabelecem que as universidades públicas podem e devem atuar diretamente como suporte para a Pesquisa e Desenvolvimento das corporações, seja engajando-se na produção de mercadorias tangíveis (extração e beneficiamento de minérios, sementes, insumos agroquímicos, equipamentos), seja na de mercadorias simbólicas (processos industriais, patentes, certificações, pareceres favoráveis diante de controvérsias ambientais e para a saúde humana, produção no campo das ideologias). Como muitas vezes a universidade é chamada a emprestar seu prestígio social para validar negócios das corporações que os movimentos consideram nefastos, os conflitos com as universidades têm sido cada vez mais comuns, envolvendo confronto com populações indígenas, camponeses, moradores de regiões atingidas por barragens etc. Em virtude da amplitude dos conflitos, o presente estudo privilegiou os que vêm acontecendo nos eixos econômicos do IIRSA, notadamente na área do agronegócio, particularmente soja e etanol, e da exploração mineral (Leher, 2007). Na América Latina, esses conflitos vieram à tona, frequentemente, em virtude de lutas sociais que denunciaram os efeitos ambientais, sociais e para a saúde da expansão da fronteira agrícola da soja e do etanol e dos projetos de extração mineral. Congruente com a teoria do capitalismo dependente é possível propugnar que 9 Professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo, coordena o GT Universidade e Sociedade do CLACSO e foi dirigente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior do Brasil (2000-2002). Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 26. 26 As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo o tipo de convênio entre as corporações e as universidades nos países centrais é distinto do presente nos países capitalistas dependentes, envolvendo somas consideravelmente maiores e, sobretudo, objetivos “acadêmicos” distintos; isso não significa, contudo, que as pesquisas nas universidades latino-americanas sejam apenas operacionais e afastadas das chamadas fronteiras do conhecimento e que inexistam capilaridades entre os projetos estratégicos das instituições dos países centrais e as universidades latino-americanas. A rigor, esses nexos são imprescindíveis para que os objetivos das corporações sejam alcançados, pois, concretamente, precisam interferir em territórios determinados, concretos e as universidades locais podem ser úteis a esses propósitos. O caso relatado a seguir é ilustrativo do grau de interferência das corporações no campo universitário. O convênio da British Petroleum (BP) com as universidades da Califórnia e de Illinois, em nome de um pool de corporações dos setores de sementes, insumos, combustíveis e automobilístico, está inscrito na luta pelo monopólio do promissor mercado planetário de agrocombustíveis e, por isso possui um forte braço no Brasil, pais estratégico para a produção dos agrocombustíveis. O recente acordo entre o MCT e a FAPESP não está desvinculado da iniciativa da BP e das universidades de Berkeley e Illinois. No contexto do mega-projeto liderado pela BP a corporação fez uma associação com uma empresa estratégica no Brasil e, considerando as vantagens relativas do país na produção do etanol a partir da cana-de-açúcar, inclusive climático-ambientais, necessitou, também, de uma consistente base de Pesquisa e Desenvolvimento no país. A instituição escolhida para este fim foi a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo. Com este acordo foi possível conformar um complexo de empresas e universidades localizadas nos países hegemônicos e nos capitalistas dependentes. Miguel A. Altieri, professor da Universidade da Califórnia, Berkeley, e Eric Holt-Gimenez (2007), Diretor Executivo da "Food First", Oakland, relatam o contexto em que se deu o citado acordo da British Petroleum com a Universidade da Califórnia em Berkeley, em fevereiro de 2007. A BP doou uma enorme soma de recursos, a primeira instituição público-privada desta escala no mundo, totalizando U$ 500 milhões, para os fundos de pesquisa da referida universidade, para os Laboratórios Lawrence Livermore e para a Universidade de Illinois, instituição em que está situado um dos maiores bancos genéticos do mundo. O objetivo do convênio é desenvolver novas fontes de energia, concretamente agrocombustível, por meio da biotecnologia. Os recursos serão aplicados em grande parte em um centro exclusivamente criado para esse fim: o Energy Biosciences Institute (EBI). "Ao lançar este instituto visionário, a BP está criando um novo modelo de cooperação universidade-indústria", disse Beth Burnside, UC Berkeley Vice- Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 27. As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo 27 Chanceler de Pesquisa (Holleman e Clausen, 2008). Este Instituto (EBI) é a primeira instituição mundial de investigação exclusivamente dedicada ao novo campo de energia produzida por manipulação da biomassa, e focaliza inicialmente o desenvolvimento da próxima geração de biocombustíveis, mas também vislumbrará as várias aplicações da biologia para o setor de energia. O EBI acolhe cerca de 25 equipes de investigação, alojados na Universidade da Califórnia, Berkeley, no campus e na Universidade de Illinois.10 Altieri e Holt-Gimenez (2007) observam que o acordo da universidade com a BP resultou de uma associação inter-corporativa de amplitude inédita, constituída em tempo recorde e sem qualquer fiscalização pública. Nesta iniciativa estão as maiores corporações mundiais do agronegócio (como a ADM, Cargill y Bunge), de biotecnologia (Monsanto, Syngenta, Bayer, Dupont), e do petróleo (BP, TOTAL, Shell) e das indústrias automobilísticas (Volkswagen, Peugeot, Citroen, Renault, SAAB). É importante salientar que o referido acordo compreende os principais operadores dos agrocombustíveis mundiais. Monsanto, Dupont-Pioneer y Syngenta, são as três maiores empresas em transgênicos e também lideram o setor de sementes tradicionais. Somente a Monsanto controla quase 90% das sementes transgênicas; juntas, estas empresas controlam 39% do mercado mundial de sementes e 44% das sementes sob propriedade intelectual (Ribeiro, 2008). As corporações e financeiras que atualmente comandam o avanço dos agrocombustíveis em escala planetária – e por isso pressionam os governos a não ceder em relação à reforma agrária que, no Brasil está, de fato, paralisada – não ultrapassam duas dúzias: ADM, Cargill, Bunge, ConAgra, Dreyfus, DuPont, Syngenta, Monsanto, Marubenji, Tate & Lyle, Wyerhauser, Tembec, British Petroleum, Misui, Royal Dutch Shell, Chevron, Mitsubishi, Petrobras, Total, Barclays, Morgan Stanley, Goldman Sachs, Societe Generale, and the Carlyle Group. Com esse convênio, a BP e as empresas coligadas esperam obter, para seus próprios fins, conhecimentos produzidos durante décadas com recursos públicos nas universidades, convertendo-os em seus patrimônios, pois têm preferência no registro das patentes e, principalmente, adquirirão conhecimentos para ampliar a produção de etanol em diversas partes do planeta, fortalecendo, desse modo, o monopólio de sementes e cultivares adequados a diversos tipos de ambiente. Mais preocupante para os críticos é a estrutura de governo e de supervisão destacadas no convênio descrita como "um ponto de partida para a discussão", o que significa que a BP poderia forçar ter ainda mais controle. No momento, a 10 Ver http://www.fapesp.br/english/materia/4683/research-innovation/realizing-cellulosic-biofuels- and-benefiting-the-environment-november-17-2008-.htm Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 28. 28 As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo proposta diz que a EBI seria dirigido por um diretor selecionado pela BP e o diretor adjunto seria sugerido pela empresa, o que expressa que a BP teria mais influência sobre a alocação de financiamentos e da direção de pesquisas do que quaisquer das instituições públicas. Ademais, cinqüenta pesquisadores da BP comporão a equipe do EBI, ampliando a esfera da ingerência e de controle no cotidiano do fazer científico. Todas as publicações que saiam da EBI serão submetidas a "revisão da pré- publicação" na qual a BP "será capaz de analisar se as publicações não incluem quaisquer informações confidenciais incluídas inadvertidamente e pertencentes à BP”. O mesmo vale para as patentes. Mais significativamente, a “BP terá em primeiro lugar o direito, exclusivo, de duração limitada, de exercer uma opção pré- definida para a obtenção de uma licença exclusiva” para quaisquer invenções totalmente financiadas pela BP. Jennifer Washburn, examinando a corrupção corporativa do ensino superior, explica que o negócio com a BP irá ampliar o controle que as empresas privadas exercem sobre as agendas das universidades (Washburn, 2007). Na verdade, como os cientistas Richard Levins e Richard Lewontin salientam no seu livro mais recente, “Biology Under the Influence” (2007), as chamadas parcerias público- privado estão aumentando e em virtude do financiamento, um fator importante na orientação das investigações, estão cada vez mais determinadas pelas necessidades da indústria privada e com o apoio dos governos. Essas "parcerias" são ideologicamente aceitas e promovidas, como foram os primeiros fechamentos dos campos na Inglaterra e os esquemas de privatização contemporâneos, como evolução natural e inevitável das instituições da sociedade. Os debates sobre a viabilidade cultural, política, tecnológica de soluções baseadas no mercado para os problemas ambientais e sociais são diretamente influenciados pela forma como a ciência interage com a ideologia dominante para moldar e reforçar decisões que afetam o mundo. O processo aparentemente natural das tendências degradantes de desenvolvimento capitalista deve ser confrontado. No momento em que a maior parte da sociedade está cada vez mais dominada pelos imperativos de um sistema opressivo da propriedade privada, "o conhecimento e a ignorância são determinados, como em todas as pesquisas científicas, por quem detém a investigação da indústria, que comanda a produção do conhecimento." Na verdade, "há luta de classe nos debates em torno de que tipo de investigação deve ser feita" (Lewontin e Levins, 2007: 319, apud Holleman e Clausen, 2008). Em um contexto em que em todo planeta os embates sobre a energia, os transgênicos, a oligopolização da produção de alimentos e o futuro da água estão pulsando, mais do que nunca os povos necessitam de suas universidades públicas Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 29. As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo 29 para que o debate possa ter fundamentação científica desinteressada (pois não atrelada aos interesses das corporações). Entretanto, dificilmente os laboratórios beneficiados pelo mega acordo com a BP estarão à frente da denúncia de que os agrocombustíveis não satisfarão as necessidades energéticas dos povos, reduzirão a produção de alimentos e não estarão contribuindo para a melhoria do meio ambiente, inclusive para a redução do aquecimento global. Historicamente, as universidades públicas cumpriram com limites e contradições, é certo, a função imprescindível de serem espaços críticos das sociedades e da busca realista pela verdade. A critica à política econômica da ditadura empresarial-militar, ao seu modelo educacional, às suas prioridades em termos de C&T etc., por exemplo, não teria tido a profundidade e consistência que teve sem a universidade; a rigor, não existem outras instituições que possam antecipar o que podem ser grandes problemas para os povos e de denunciar problemas provocados por interesses particularistas com a legitimidade, a sistematicidade e a amplitude das universidades. Com a perda da autonomia, que outras vozes poderão questionar os fundamentos técnicos e científicos desse modelo que já acarretam graves problemas para toda humanidade? O referido contrato da BP com Berkeley e Illinois, distintamente, tem como pressuposto a ofensiva das corporações em direção aos países capitalistas dependentes. Como os EUA não poderão satisfazer suas incessantes demandas de agrocombustível com o plantio interno, está subentendido no contrato que o plantio desses agrocombustíveis será localizado nos países periféricos, por meio de extensas plantações de cana-de-açúcar, de soja etc., ampliando a fronteira agrícola e agropecuária, em detrimento das matas nativas e, não menos significativo, recrudescendo a expropriação de terras camponesas e indígenas. Por isso, o referido mega-projeto de “pesquisa” encabeçado pela BP para alcançar seus objetivos de difundir nos países capitalistas dependentes o agrocombustível, atrelado às corporações do agronegócio, precisa ter bases de apoio nas universidades mais relevantes dos países produtores. Imediatamente após o acordo com a BP, as universidades de Berkeley e Illinois saíram a campo para se associar às universidades dos países escolhidos para serem o celeiro das plantas que produzirão etanol e diesel vegetal. Como era de se esperar, contudo, não explicitaram que, a rigor, estão representando os interesses das maiores corporações de transgênicos, sementes, agrotóxicos e automobilísticas que, explicitamente, financiam o projeto. Como assinalado, na última década a presença das grandes corporações mundiais no setor do agrocombustível teve um crescimento extraordinário que, entretanto, ganhou ainda maior presença no governo de Lula da Silva. Em seu primeiro mandato (2003-2007) o Ministro da Agricultura foi Roberto Rodrigues, Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 30. 30 As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo membro da Comissão Interamericana do Etanol por ele coordenada juntamente com o governador da Flórida, Jeb Bush e com Luis Moreno, atualmente presidente do BID, uma coordenação que expressa um largo espectro de forças envolvido na concretização da iniciativa. Segundo um relatório conjunto de 2008 da U.S.-based Oakland Institute e Terra de Direitos do Brasil, "O plano de agroenergia brasileiro (2006-2011) é a mais ambiciosa política pública em Agroenergia do mundo." (Moreno e Mittal, 2008). Desse modo, o convênio da Universidade de Illinois com a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo, não foi um fato isolado. Além de ser a mais prestigiosa instituição que produz conhecimento e quadros para a organização do agronegócio no país, não casualmente esta instituição foi escolhida pelo governo Federal para sediar o Pólo Nacional de Biocombustíveis, instituição com fortes conexões com as empresas do setor. O braço “acadêmico” desse mega-projeto das corporações estruturado pela BP no Brasil, a ESALQ-USP, foi conduzido por intermédio de Harris Lewin, diretor do The Institute for Genomic Biology da UIUC, um centro envolvido no acordo com a BP. Na ESALQ o projeto está estruturado no Núcleo de Apoio à Pesquisa em Biologia Celular e Molecular na Agropecuária e Ambiente (Biocema)11. A divulgação desse mega acordo com a universidade de Illinois-ACES, firmado em 24 de julho de 2007, no boletim da Assessoria de Comunicação da ESALQ-USP omite o fato de que o projeto “desinteressado” de Illinois é parte do mega projeto das corporações organizado pela BP e que tem suscitado forte polêmica nos EUA. Meses antes, em julho, o referido boletim informou a existência de um convênio de cooperação internacional que levaria a criação de uma representação “dentro do campus da ESALQ” da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign (UIUC), através do College of Agricultural, Consumer and Environmental Sciences (ACES), mas, igualmente, não há qualquer menção ao fato de que o UIUC/ACES é parte do mega projeto liderado pela BP. As conexões entre as corporações lideradas pela BP, as universidades estadunidenses, e de uma destas com uma prestigiosa instituição brasileira, ao mesmo tempo em que a corporação amplia sua presença mundial e local no setor do agrocombustível, colocam em questão a função social das universidades e a ética na produção do conhecimento. Não se trata de fazer um juízo moral sobre os pesquisadores envolvidos, nem, tampouco, criticar a instituição brasileira, mais ampla do que o grupo comprometido com os objetivos da UIUC/ACES. Entretanto, é sumanente grave que um projeto de forte propósito imperialista – parte de uma iniciativa planetária para controle do mercado de agrocombustível, 11 Ver http://www.esalq.usp.br/destaques.php?id=245&ano=2007 (14/12/07). Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 31. As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo 31 sementes e cultivares transgênicos, defensivos agrícolas, abertamente liderado por uma coalizão de corporações – seja apresentado ao público como um programa de colaboração acadêmica, destituído de interesses materiais e geopolíticos, como se não colocasse em risco a soberania alimentar e o meio ambiente no país. Tal como sublinhado para o caso de Berkeley as implicações acadêmicas são de uma gravidade sem precedentes, comprometendo o que é mais fundamental em uma universidade: sua autonomia acadêmica. O comprometimento das universidades com dispositivos de poder do capital, em um contexto de aprofundamento do capitalismo dependente, como expresso no IIRSA, reconfigura a função social da universidade e reatualiza o debate realizado nas lutas de Córdoba (1918). Naquela ocasião, os estudantes criticavam o apego da universidade à ordem estabelecida, em especial aos interesses das oligarquias e da Igreja, mas foi a sua ala mais radical – José Ingenieros, Aníbal Ponce, Julio Mella e Mariátegui – que concluiu que uma universidade de fato comprometida com os problemas dos povos somente seria possível com o fim do imperialismo e, por isso associaram as lutas pela reforma universitária as lutas antiimperialistas (Leher, 2008). Passados noventa anos das lutas de Córdoba, a universidade pública está crescentemente conformada e ajustada ao padrão de acumulação que caracteriza econômica, ambiental e socialmente o brutal imperialismo de hoje. Neste contexto, as palavras dos radicais de Córdoba a respeito do necessário protagonismo anti- sistêmico parecem ter sido proferidas no presente. De fato, as universidades somente têm recuado de acordos espúrios com corporações que provocam devastação ambiental, energética e agravam os problemas sociais quando confrontadas pelos movimentos sociais. Por ásperos, fragmentados e incipientes que sejam os conflitos entre os movimentos sociais e por mais débeis que sejam os laços dos setores acadêmicos com as lutas sociais, é certo que o futuro da universidade pública latino-americana dependerá, fortemente, do avanço desses nexos virtuosos entre a universidade e as lutas anti-imperialistas e anti-capitalistas. O contexto de crise estrutural pode ter um efeito destrutivo sobre essas expectativas, caso a imagem da crise seja a dos dominantes; alternativamente, caso prevaleça a imagem de que a crise é do capitalismo como um todo e, socialmente, que as lutas tenham organicidade e capacidade organizativa autônoma, novas páginas da história das universidades poderão ser escritas por muito mais mãos, notadamente as mãos calejadas dos que são explorados e expropriados do conhecimento científico, tecnológico, artístico, cultural e histórico-social. Assim estaremos consolidando as melhores utopias dos reformadores radicais de Córdoba no século XXI. ∗ Excerto do texto Universidade pública e negócios privados: um poderoso Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 32. 32 As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo obstáculo para o pensamento crítico apresentado para publicação do GT Universidade e Sociedade do CLACSO, Reunião Anual, UAM, México D.F. (2008/2009) sob a coordenação de Hugo Aboites. Bibliografia Altieri, Miguel A. e Holt-Gimenez, Eric 2007 “Los benefactores de la biotecnología y el biocombustible de la U. de California: El poder de las grandes finanzas y las malas ideas” en ALAI, 2/9/07. En http://alainet.org/active/15541&lang=es, acesso em 10 de fevereiro de 2009. Holleman, Hannah e Clausen, Rebecca 2008 “Biofuels, BP-Berkeley, and the New Ecological Imperialism” em http://mrzine.monthlyreview.org/hc160108.html. Horowitz, Irving L. 1969 Ascensão e queda do projeto Camelot (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira). Leher, Roberto 2007 “Iniciativa para a Integração da Infra-Estrutura Regional da América Latina, Plano de Aceleração do Crescimento e a Questão Ambiental: Desafios Epistêmicos” em Loureiro, Carlos Frederico B. (org) A questão ambiental no pensamento crítico - natureza, trabalho e educação (Rio de Janeiro: Quartet). Leher, Roberto 2008 “Reforma universitária de Córdoba, noventa anos. Um acontecimento fundacional para a Universidade Latino-americanista”. Aboites, Hugo y Gentili, Pablo y Sader, Emir (comp.) La reforma universitária: desafios y perspectivas noventa años después (Buenos Aires: Consejo Latinoamericano de Ciências Sociales – CLACSO). Moreno, Camila e Mittal, Anuradha 2008 “Food & Energy Sovereignty Now: Brazilian Grassroots Position on Agroenergy” in http://oaklandinstitute.org/pdfs/biofuels_report.pdf . Ribeiro, Silvia 2008 “Quiere bajar la producción? ¡Use transgénicos!” en La Jornada, 9/7/08. En: http://www.jornada.unam.mx/2008/07/19/index.php?section=opinion&article=021a1eco, acesso em 10/02/09. Washburn, Jennifer 2007 “An Unholy Alliance – UC Berkeley's $500-Million Deal with BP Challenges Traditional Public-Private Partnerships”, April 8, 2007, http://www.newamerica.net/publications/articles/2007/an_unholy_alliance_5134. Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 33. As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo 33 AS TRANSNACIONAIS NAS UNIVERSIDADES: NOTÍCIAS E DADOS "Ou os estudantes se identificam com o destino do seu povo, com ele sofrendo a mesma luta, ou se dissociam do seu povo, e nesse caso, serão aliados daqueles que exploram o povo." Florestan Fernandes 1 - Relação da UFV (Universidade Federal de Viçosa) com as Transnacionais (Sociedade de Investigação Florestal) Trabalho de Conclusão de Curso do ex-militante da ABEEF Vladimir Filho12. Em 1974 é fundada a Sociedade de Investigações Florestais - SIF, uma fundação de direito privado que não têm papel de captar quantidade significativa de recursos para as Instituições, e sim aos seus membros (os professores do Departamento do Engenharia Florestal da UFV – DEF-UFV), que se aproveitam do peso institucional da Universidade para auferir ampliações salariais, muitas vezes de forma ilegal. Em grande medida, é através dela que penetra a concepção e se arraiga a lógica privatista dentro desta instituição pública. Além de quebrar a isonomia salarial, as atividades privadas (cursos pagos, projetos de consultoria e outras) vêm induzindo modificações na graduação e na pós-graduação gratuitas, afetando a grade curricular, o programa das disciplinas e a relação entre docentes e alunos, bem como o objeto das pesquisas, que passou a ser determinado, em larga escala, pelo “mercado”; (ADUSP, 2004, p. 9) A SIF possui hoje cerca de 70 empresas vinculadas entre “associadas” e “co- participantes”. Dentre elas estão os principais grupos econômicos transnacionais como a Vale, V&M, Arcelor-Mittal, Grupo Votorantim, entre outros e também nacionais. A maioria deles possui ficha corrida quanto a passivos ambientais e trabalhistas (FASE, 2003; 2006; KOOPMANS, 2005; WRM, 2003; 2005). O Gráfico 1 abaixo representa a participação de cada setor no financiamento das pesquisas registradas pelo DEF. Ele mostra que dos quase doze milhões de reais que foram investidos no período, 83% tem origem de algum órgão público e 17% (cerca de dois milhões de reais) de instituições privadas, o que é bastante significativo. Mas devemos lembrar que o mais pesado é sempre infra-estrutura, pagamento de salários, e todo o investimento na formação até o doutoramento, o que não está contabilizado e são pagos com dinheiro público. Neste mesmo gráfico podemos observar que as empresas privadas apossam-se de 53% da verba pública 12 OGANAUSKAS FILHO, Vladimir. A Racionalidade Privada no Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa. Orientador: Dileno Dustan Lucas de Souza. Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 34. 34 As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo destinada à pesquisas no Departamento, ou seja, ao longo dos últimos oito anos e sete meses, a iniciativa privada abocanhou 251% a mais do que investiu. Gráfico 1 – Recursos investidos em pesquisa totais por setor (público e privado) e a apropriação deles no DEF-UFV – jan. 2000 – jul. 2008 Diante de tudo isso, são necessárias muitas disputas, embates, disposição e ousadia, como vem demonstrando o movimento estudantil ao realizar o trabalho militante do dia a dia na construção e fortalecimento das suas entidades representativas em todos os níveis, através de diversas assembléias, debates e congressos sobre estas questões, e ações como passeatas, as mais diversas formas de manifestações culturais, ocupação de reitorias, e mais recentemente a ocupação de uma fundação, como foi o caso da SIF em 2007. Essa luta dos estudantes culminou num manifesto assinado por várias entidades: • Manifesto: A universidade pública a serviço dos lucros transnacionais não serve ao povo. A Universidade Pública tem sido alvo das reformas políticas e sociais do projeto neoliberal. As organizações internacionais detentoras da hegemonia do capital, conforme documentos do Banco Mundial, "sugerem" – leia-se impõem - diretrizes para as políticas de ensino superior no Brasil. A meta é camuflar a Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 35. As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo 35 privatização das universidades através das Parcerias Público-Privadas (PPP), que aparelham e corroem o caráter público da universidade. A política neoliberal aplicada ao Estado brasileiro diminuiu e cortou diversos investimentos na universidade pública, invibializando o exercício de uma autonomia universitária, precarizando enormemente a assistência estudantil e a qualidade de ensino. As ordens de ampliação desenfreada dos cursos não foram acompanhadas da ampliação dos alojamentos, restaurantes universitários, contratação de professores e servidores, ampliação de bibliotecas e laboratórios. Esta desresponsabilização do ensino pelo Estado enseja uma medida de concessão para que as empresas privadas interfiram no setor e possam gozar de liberdade na definição dos rumos das instituições públicas de ensino, a critério de seus interesses. Situação exemplar é o caso da Sociedade de Investigações Florestais (SIF) – uma entidade de direito privado marcada pela presença de transnacionais como a Acesita S.A, V&M Florestal e Aracruz Celulose - que sobre consentimento do poder público, manifestado nas ações do Departamento de Engenharia Florestal (DEF) da UFV, detém os recursos materiais e humanos do curso de engenharia florestal, além de vincular todos os conteúdos acadêmicos a hegemonia política e ideológica do Capital. Uma ocupação da sede da Acesita S.A. em Belo Horizonte (19/01) realizada por diversos estudantes presentes no IV Estágio Interdisciplinar de Vivência do Estado de Minas Gerais*, atingiu o ego desta transnacional, que reagiu em confluência com o DEF na perseguição política dos estudantes. Saindo em defesa das transnacionais, o DEF reprimiu e puniu abertamente a entidade representativa dos estudantes de Engenharia Florestal – Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal (ABEEF) – ao deliberar pela expulsão da sala que tinham dentro do Departamento. Com esse fato, que deixou claro as formas de intervenção das transnacionais na Universidade Pública, o movimento estudantil da UFV, com apoio do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, e da Associação dos Servidores Administrativos de Viçosa ocupou a SIF e a chefia do departamento, apresentando uma pauta de reivindicações, exigindo como pontos principais: retirada da V&M das empresas associadas à SIF (Sociedade de Investigação Florestal) por assassinar um trabalhador camponês em suas terras, inquérito de empresas associadas às fundações na UFV e que a UFV não firme contratos com empresas que tenham passivos ambientais, trabalhistas e sociais, retirada das medidas que caracterizam perseguição política aos estudantes universitários como processo na polícia federal. Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 36. 36 As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo Certamente entendemos esta manifestação como legítima e necessária à soberania nacional da população, por compreender a importância da educação que edifique no estudante um senso de perspectiva histórica, de consciência crítica, um instrumento pedagógico transformador e libertador, elemento preponderante na contribuição à superação das injustiças e desigualdades sociais. Entidades que assinam essa carta: DCE – Gestão Voz Ativa ABEEF – Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal FEAB – Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil CMA – Comissão dos Moradores de Alojamento ITCP – Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares MEH – Movimento de Estudantes de Humanas ALA – Articulação Local de Agroecologia • Algumas declarações13: "É um movimento de denúncia, para alertar a comunidade sobre as empresas transnacionais que se beneficiam do conhecimento da universidade para promover seus próprios lucros" Antonio David, na época diretor de Políticas Educacionais da UNE. Segundo a Diretora de Comunicação do DCE da UFV na época, Vivian Fernandes, “A influência dessas empresas na Universidade está também causando o sucateamento de alguns setores da instituição, impedindo a distribuição de recursos e prejudicando outros setores como a assistência estudantil”. 2 - USP e MONSANTO 14 Recentemente a USP assinou um convênio com a Monsanto e o banco Santander para o financiamento de um projeto de pré-iniciação científica para estudantes da rede estadual de São Paulo. O primeiro contrato entre a universidade e a Monsanto, obtido pela reportagem, submetia a universidade a uma lei estadunidense, garantia à transnacional o direito de supervisionar “o bom andamento” do projeto e exigia sigilo das partes envolvidas. O contrato foi rejeitado no Conselho de Pesquisa. Algumas cláusulas foram alteradas, mas a de sigilo permaneceu. 13 http://www.une.org.br/home3/movimento_estudantil/movimento_estudantil_2007/m_8769.html 14 http://www.eca.usp.br/jc/342_univ_monsanto.asp Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 37. As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo 37 Fonte: Jornal do Campus, edição 342 – 1º quinzena de setembro de 2008. • Descrição do Projeto15 Nº. do Projeto: 1842. Título: “Pré-Iniciação Científica da USP”. Objetivo: O presente projeto tem como objetivo a realização de atividades visando desenvolver a pré-iniciação científica da USP, através da participação dos alunos e professores de ensino médio da rede pública estadual de São Paulo em atividades científicas desenvolvidas na USP, com a participação efetiva da Pró-Reitoria de Pesquisa. Coordenador: Pedro Primo Bombonato. Unidade/Núcleo: PRP – Pró-Reitoria de Pesquisa. Financiador: Monsanto do Brasil Ltda. Data de Início: 06/08/2008 Data de Término: 05/08/2009 Valor: R$ 220.000,00. • Algumas declarações16/17: A professora Lisete Arelaro, da Faculdade de Educação, disse que ficou muito surpresa com a parceria, “porque para se poupar e evitar problemas e críticas, a USP, a princípio, se resguarda e evita parcerias com empresas polêmicas. Não dá para nós, professores, dizermos que não sabemos quem é a Monsanto, nem ignorarmos todas as críticas em relação à empresa, até porque somos pagos pelo povo para sermos bem informados. O que eu estranhei também é uma certa recusa da própria Pró-Reitoria [de Pesquisa] em prestar as informações que ela deveria” O professor Wilson da Costa Bueno, da ECA, disse que esse tipo de parceria é uma estratégia comum de algumas empresas privadas que querem se aproximar do setor acadêmico, pois, ao ligar seu nome a uma instituição de prestígio, acabam se beneficiando. Ele acredita que muitas limpam seu nome quando se aliam à USP. “Temos o direito de suspeitar quando as coisas não são transparentes”, afirmou. “Ela atua num campo de atividades econômicas que está no cerne de uma problemática mundial. Há uma vasta bibliografia sobre a forma nefasta, irresponsável, antisocial e antiambiental que a Monsanto atua no mundo. Esse convênio soa como uma derrota de projeto da universidade pública pelo fato dela recorrer financeiramente a uma empresa como essa” Roberto Leher, professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que já foi presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) e é doutor pela USP. 15 http://www.fusp.org.br/detproj-1.php3?wcodigo=1842 16 http://www.eca.usp.br/jc/342_univ_monsanto.asp 17 http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/nacional/educadores-criticam-convenio-da-usp-com-a- transnacional-monsanto Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 38. 38 As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo 3 - ESALQ e Votorantim Celulose e Papel VCP investe em laboratório18 Com o investimento de R$ 1,2 milhão, patrocinado pela Votorantim Celulose e Papel (VCP), a ESALQ reinaugurou o novo Laboratório de Química, Celulose e Energia (LQCE). Pertencente ao departamento de Ciências Florestais (LCF), o centro de pesquisa é referência nacional em formação de recursos humanos na área de celulose e papel, química da madeira e produtos florestais não-madeireiros, carvão vegetal e energia da biomassa florestal. Os recursos foram utilizados na ampliação e na modernização do laboratório, cujo projeto gerou um acréscimo dos atuais 600 para 1.800 m² de área construída. Para o professor José Otávio Brito, responsável pelo laboratório, "as novas instalações trarão para a universidade um significativo incremento no campo da pesquisa e formação de recursos humanos, que estimulam a todos os seus integrantes a imaginarem, futuramente, novos desafios nas áreas de graduação e pós-graduação". Fonte: ESALQ Notícias, Agosto de 2008. 4 - USP e VALE Dados retirados do Site da FUSP (Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo). • Projeto: “Formação Acadêmica nas Áreas de Mineração Geologia e Química”. Descrição do Projeto19: Nº. do Projeto: 1836. Título: “Formação Acadêmica nas Áreas de Mineração Geologia e Química”. Objetivo: O presente projeto tem como objetivo a realização de atividades visando o desenvolvimento de trabalhos de pesquisa e formação acadêmica nas áreas de mineração, geologia e química, através de bolsas de estudos - programa de bolsas. Coordenador: Colombo Celso Gaeta Tassinari. Unidade/Núcleo: IGc - Instituto de Geociências da USP. Financiador: VALE - Cia Vale do Rio Doce. Data de Início: 05/08/2008 Data de Término: 04/08/2009 Valor: R$ 95.884,80 • Projeto: “Execução, pela USP, da Segunda Fase do Plano de Desenvolvimento Portuário Contemplando 4 Sub-Projetos”. 18 http://www.esalq.usp.br/acom/docs/ESALQNoticias14.pdf 19 http://www.fusp.org.br/detproj-1.php3?wcodigo=1836 Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 39. As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo 39 Descrição do Projeto20: Nº. do Projeto: 1834. Título: “Execução, pela USP, da Segunda Fase do Plano de Desenvolvimento Portuário Contemplando 4 Sub-Projetos”. Objetivo: O presente projeto tem como objetivo a realização de atividades visando o desenvolvimento de trabalhos de atualização do plano diretor de expansões portuárias no que diz respeito aos terminais Praia Mole e terminal de produtos diversos TPD3. Coordenador: Marcos Mendes de Oliveira Pinto. Unidade/Núcleo: EP/PNV - Departamento de Engenharia Naval e Oceânica. Financiador: VALE - Cia Vale do Rio Doce. Data de Início: 10/05/2008 Data de Término: 09/05/2010 Valor: R$ 2.412.000,00 5 - PESQUISAS COM EUCALIPITO TRANSGÊNICOS21 As plantações de eucalipto ocupam, no Brasil, mais de 3,7 milhões de hectares, segundo a Abraf (Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas), e são responsáveis por 70% da exportação de produtos derivados de florestas plantadas, que somou US$ 6,1 bilhões em 2007. Mesmo com este ótimo desempenho, os especialistas dizem que é possível ir além. De acordo com Cesar Augusto dos Reis, diretor-executivo da Abraf, “as florestas de eucalipto estão em franca expansão, tendo em vista as novas unidades industriais em construção nas áreas de celulose e papel, siderurgia a carvão vegetal e indústrias de painéis de madeira reconstituída, todas consumidoras de eucalipto”. “O Brasil deu um salto grande quando começou a realizar clonagem de eucalipto, pois conseguiu plantas e florestas uniformes, gerando mais produtividade”, explica Luciana Di Ciero, engenheira agrônoma, Mestre em Agronomia e Doutora em Ciências. “Mas o melhoramento genético, depois de atingir um patamar de excelência, estacionou e agora acreditamos que a biotecnologia será o diferencial para a continuidade do avanço agronômico desta cultura”, completa. Segundo Cesar Augusto dos Reis, da Abraf, muitas ONG’s e movimentos sociais impõem resistência ao eucalipto e o excesso de burocracia no licenciamento, colheita e transporte da madeira para as pesquisas com variedades transgênicas podem atrasar o processo. O “aspecto positivo”, para o executivo, é que há centros de excelência em pesquisa e desenvolvimento de produtividade de eucalipto, como a SIF (Sociedade de Investigações Florestais)/UFV (Universidade Federal de Viçosa), IPEF 20 http://www.fusp.org.br/detproj-1.php3?wcodigo=1834 21 http://www.cib.org.br/midia.php?ID=37195&data=20080919 Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil
  • 40. 40 As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo (Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais)/ESALQ (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP), Fupef (Fundação de Pesquisas Florestais), Cepef (Centro de Pesquisas Florestais) e Universidade Federal de Lavras (UFL). Grande parte dos estudos é promovida pelas próprias empresas envolvidas neste ramo. 6 - Parceria UFRGS - Aracruz é suspensa22 No dia 8 de março, mulheres da Via Campesina e estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul conseguiram a suspensão de um protocolo de cooperação entre a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Aracruz Celulose. Em audiência com o reitor da UFRGS, José Carlos Hennemann, e o vice-reitor, Pedro Fonseca, foi manifestada a preocupação com o aumento dos desertos verdes no Rio Grande do Sul. As integrantes da Via Campesina e os estudantes alertaram que a expansão da monocultura do eucalipto já estaria provocando nefastas conseqüências no estado, como intensificação da concentração de terras, aumento das secas, elevação das temperaturas e destruição do Bioma Pampa, que só existe nas terras gaúchas. E questionaram a natureza e os objetivos de um acordo com a empresa de celulose. Os manifestantes defenderam que estabelecer uma parceria com a Aracruz significa concordar com a destruição ambiental e social provocada pelas multinacionais do eucalipto. Os estudantes também lembraram “as práticas de violações aos direitos humanos que marcam a trajetória da Aracruz Celulose em todos os estados, em especial contra indígenas e quilombolas no Espírito Santo”. O reitor e o vice da UFRGS se comprometeram em suspender o protocolo com a Aracruz que seria votado na próxima reunião no Conselho da Universidade. “A UFRGS tem uma história de defesa do meio ambiente, tem cursos e pesquisas voltadas para a ecologia. Inclusive nos jornais da universidade têm sido publicadas matérias sobre os eucaliptos no estado. Creio que precisamos aprofundar o debate deste tema na comunidade universitária. Por isso o processo está suspenso. Não vamos assinar nenhum protocolo ou convênio para pesquisas que sejam prejudiciais a sociedade”, disse Hennemann. A jornada de luta das mulheres da Via Campesina no Estado foi encerrada com o lançamento, de uma campanha em defesa da produção de alimentos saudáveis. “O agronegócio gera os desertos verdes, a agricultura camponesa produz alimentos, cultiva a vida. Queremos que a universidade forme profissionais para trabalhar para a vida não para o projeto de morte das transnacionais”, defende a Via Campesina. 22 http://www.adur-rj.org.br/5com/pop-up/universidades_acao_celulose.htm Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil