SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 28
Downloaden Sie, um offline zu lesen
283
Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 19, nº 38, p. 283-310. 1999
Entre retratos e cadáveres: a
fotografia na Guerra do Paraguai
AndréAmaraldeToral
Doutor em História Social pela FFLCH – USP
RESUMO
Oregistrofotográficodaguerrado
ParaguaicontraaTrípliceAliança
(1864-1870)foi,emtermosgerais,
umacontinuidadedotipodefoto-
grafiaquesefazianaépoca.Mas
foi, também, mais do que isso. A
cobertura in loco e a força do as-
suntotrouxerammaneirasinova-
dorasdeserepresentaroconflito,
oquecolaborouparaaconstitui-
çãodeumalinguagemfotográfica
comcaracterísticasprópriasemre-
laçãoàpinturaougravuradoperí-
ododedicadasàguerra.
Palavras-chave:GuerradaTríplice
Aliança;GuerradoParaguai;Fotogra-
fiadoséculoXIX;Foto-jornalismo.
ABSTRACT
Photographic registers of the
Triple Alliance War (1864-1870),
whichinvolvedBrazil,Argentina
and Uruguay against Paraguay,
were, in a general sense, part of
the same genre of commercial
photographyfromtheperiod.But
it were, also, more than this. The
work at the field, among armies
and corpses, brought new man-
nersofseeingthewaranddevelo-
ped the photography as autono-
mousvisuallanguage,withmany
differencescomparingwithpaint-
ingorengraving.
Keywords: Triple Alliance War;
Paraguay’sWar;XIXcenturypho-
tography;Photo-journalism.
A TRANSCENDÊNCIA AO ALCANCE DE TODOS
Apartirdainvençãododaguerreótipoem1839,impressãoda
imagememmetal,afotografiadeixoudeserapenasexperimenta-
çãoetornou-seatividadeprofissional.Jáapartirde1842,daguerreo-
tipistasnorte-americanosanunciavamseusserviçosnoBrasil;em
1847,oAlmanaqueLaemmertanuncioutrêsoficinasespecializadas
noRiodeJaneiro1
.
Odaguerreótipo,quesópermitiaumoriginalmontadocomo
jóiaemestojosespeciais,teve,noentanto,circulaçãorestrita.A
284
técnica que permitiu a expansão da fotografia nas décadas de
1860 e 1870 foi a “dobradinha”, negativo de colódio úmido e
cópiasobrepapelalbuminado2
.Aelaboraçãodeumnegativoà
basedecolódiosobrechapasdevidrooumetaleapossibilidade
deproduçãodemúltiplasampliaçõessobrepapelagilizouapro-
duçãoereproduçãoderegistrosfotográficos,possibilitandoum
rentávelaproveitamentocomercial.
A reprodução de sua própria imagem, antes privilégio dos
quepodiamfazer-seretratarporumartista,amplia-separaum
públicomaisamplo.Apartirde1854,popularizam-sepequenos
retratos, chamados carte-de-visitepor terem o tamanho de um
cartãodevisita.Eramdestinadosaseremoferecidosaamigose
parentes com indefectíveis dedicatórias escritas no verso onde
apareciacomoprovadeamizade,despedida,saudaçãoousimples-
menteparamarcarumcompromisso.
O costume, comum nos dias de hoje, de se trocar retratos
compessoassignificativas,oudecolecioná-los,umavezquenão
haviapublicaçãodefotografias,formou-seexplosivamenteentre
1850 e 1870. A descoberta da disponibilidade da própria ima-
gem,paraumpúblicoquenuncatinhatidoacessoaumretrato,
eraumacoisaquasemágica,queiaalémdaquiloqueseconsidera-
vapossível.Porintermédiodafotografia,cadafamíliatinhapossibi-
lidade de construir uma crônica de si mesma, “coleção portátil
deimagensquetestemunhasuacoesão”3
.
BorisKossoyafirmaque“oretratoapresentadodessaforma
tornou-seamodamaispopularqueafotografiaassistiuemtodo
oséculopassado”.Seuamploconsumotrariaapadronizaçãodo
produtofotográficoedeseuconteúdo,estereotipandocenários
eposesdosretratados4
.
A troca de cartões e o problema de como acondicioná-los
dariainícioaosálbunsdefotografias,destinadosaostemasmais
diversoscomofamília,amigos,autoridadesepersonalidades,pai-
sagens,tiposhumanospitorescos,guerra,eróticoetc.
Comoresultadodapopularidadedoscarte-de-visite,multi-
plicavam-seosestúdiosnamaioriadascapitaiseuropéiase,princi-
palmente,nosEstadosUnidos.Paraseterumaidéiadarapidezdo
processo,nesseúltimopaís,ototaldefotógrafospassade938em
285
1851 para 7.558 em 1870. Em Londres, os 66 fotógrafos de 1855
aumentarampara284em1866.EmParis,em1861,33milpessoas
viviamdaproduçãodefotografias5
.Chegandoaumtalgraude
desenvolvimentodomercadoprodutordefotografias,eradese
esperarquepelomenosumapartedessegrandenúmerodeprofis-
sionaissevoltasseàexploraçãodemercadosaindanãosaturados.
TodasascapitaisdospaísesenvolvidosnaguerradoParaguai,
eboapartedesuasprovíncias,receberamavisitadessesprofissio-
nais itinerantes vindos da Europa e dos Estados Unidos, que se
anunciavampelaimprensaepartiamdepoisde“fazerapraça”.
Aomesmotempoqueexecutavamseusretratos,procuravamregis-
trarcostumesoulugares,paraaproveitamentofuturo,comoma-
terial de gênero pitoresco, vendidas em álbuns ou foto por foto,
no seu retorno aos seus países de origem.
O Rio de Janeiro, embora em parâmetros mais modestos,
tambémexperimentouumcrescimentonoseunúmerodefotógra-
fos: 11 em 1857 e 30 em 18646
.Em1869,oprimeirocensonacio-
naldaArgentinaregistrou190fotógrafosnopaís,130dosquais
concentradosemBuenosAires7
.Montevideo,quelucravacomos
fornecimentosparaaguerra,tambématraiuumbomnúmerode
fotógrafosentre1863e1870.OParaguai,maisisolado,recebeu,
entre 1846 e 1870, cerca de sete fotógrafos itinerantes: norte-
americanos,franceses,italianoseingleses.Apenasumdeles,Pedro
Bernadet, ao que se sabe, chegou a estabelecer estúdio em
Asunción, entre 1865 e 708
.
DosmuitosestúdiosatuantesnoBrasilnasegundametade
doséculopassado,valedestacar,utilizando-seoslevantamentos
deBórisKossoy,emSãoPaulo,odeMilitãoAugustodeAzevedo,
Renouleau,CarlosHoenen;noRio,capitaldafotografianoImpé-
rio,osdeJoséFerreiraGuimarães,JoaquimInsleyPacheco,Car-
neiro&Gaspar,AlbertoHenschel&Cia.;emSalvador,Lindemann,
Wilhelm Gaensly, João Goston; no Recife, Augusto Stahl, João
FerreiraVillela,Labadie;emPortoAlegre,LuizTerragno,Virgílio
Calegari,entreoutros9
.
Movendo-se entre as capitais de províncias do Brasil e da
Argentina,essesfotógrafos,cujotrabalhoemboapartepermane-
ceanônimo,produziramconsiderávelquantidadederetratosde
286
autoridades,tiposhumanosutilizadosparafotografiasdegênero
pitoresco(muitopróximasdaspinturasedesenhosdemesmogê-
nero) como índios e negros, soldados e principalmente de ho-
mensemulheresdeclassesmédiasurbanas.NaArgentina,noUru-
guaienoBrasil,osestúdiosencontravam-se,emsuamaioria,nas
mãosdeestrangeiros,principalmentenorte-americanos,alemães,
portuguesesefranceses.
Além dos retratos, no mundo inteiro, um outro gênero de
fotografiasdepaisagensurbanasedanatureza,panoramas,tipose
lugarespitorescos,vendidasunitariamenteouemtiragensmonta-
dascomoálbunstambémtiveramgrandeaceitação.Seuformato
podiaserodecarte-de-visiteouocabinetsize,umpoucomaior.
Afotografiadesenvolveu-secomoatividadecomercialparticu-
lar, sendo muito poucos os casos em que foi subvencionada por
governantes.Oúnicotrabalhoquerecebeuapoiooficial,embora
nenhumasubvenção,foinoUruguai,ondeumafirmanorte-ame-
ricanateveapoioparadocumentaçãodaguerradoParaguai.
Surpreendentemente, mesmo no Brasil, onde o imperador
erafotógrafoamadorecolecionador,afotografiarecebeupouco
apoiooficial.D.PedroIIconheciaostrabalhosdosprofissionais
mais renomados estabelecidos no Rio de Janeiro ou que visita-
vam a cidade. Fez-se retratar por boa parte deles. Concedeu o
título “fotógrafo da Casa Imperial” a mais de duas dezenas de
fotógrafosentre1851e188910
.Todasuacoleçãoparticular,inti-
tulada Coleção Teresa Cristina, com mais de vinte mil fotos, foi
doada,apósaproclamaçãodaRepúblicaeoexílio,àBiblioteca
NacionaleaoMuseuNacionalprincipalmente.
Fala-se muito no “mecenato” do Imperador11
mas, além de
colecionador e entusiasta conhece-se apenas um fotógrafo que
D. Pedro II teria apoiado efetivamente como “mecenas”. Entre
1857 e 1862, gastou cerca de 12 contos e 27 mil réis por um
trabalhodeVictorFrond,umfrancêsquetinhaoprojetodefoto-
grafar os “cantos mais longínquos do Império”. Até hoje, não se
conhecenenhumoriginaldotrabalho,apenasaslitografiasfeitas
apartirdasfotosqueseencontramnoálbum“BrasilPittoresco”,
impressoemParis.
287
O CARTE-DE-VISITE VAI À GUERRA
Énessequadrodecrescimentodaimportânciacomercialda
fotografiaquesedeveserbuscarasorigensdotipodecobertura
dadaàguerradoParaguai.Comosededuzfacilmente,amaior
partedadocumentaçãofotográficadaguerraérepresentadape-
losmilharesdecarte-de-visitedesoldadosageneraisfeitosentre
1864e1870.Asmelhorescoleçõesdematerialfotográficosobre
aguerrasãoosálbuns,formadosdecarte-de-visitededicadosao
tema,quesesalvaramnotempo.
Denovembrode1864atéofinaldoanoseguinte,asdeclara-
ções de guerra do Paraguai, seguidas de invasões ao Brasil e à
Argentina,causaramumaondadeindignaçãonaopiniãopública
dessesdoispaíses.Exigia-seumarespostamilitar.MitreeD.Pedro
IIexperimentaramumefêmeromomentodegrandepopularida-
de, como defensores de seus respectivos países, ameaçados por
umataque“traiçoeiro”,emboraperfeitamenteesperado.
Osfotógrafosaproveitavamesseclimadepatriotismoinicial
que imperava nas capitais dos países que formariam a Tríplice
Aliança.Empraticamentetodasascidadeshaviamuitaprocura
deretratosdossoldadosquepartiamparaaguerraouquejáse
encontravamemcampanha.
Diversos estúdios ofereciam retratos dos governantes que
formavamaAliança,oucarte-de-visitedepersonagenspolíticos
oucomandantesmilitares,vendidosseparadamente.Nosjornais
doBrasiledaArgentina,anunciavam-sedescontosespeciaispara
retratosdesoldados.
Esse clima contagiou até o severo D. Pedro II que, como
muitosoutrossoldados,fez-seretrataremtrajesmilitares,“unifor-
me de gala e traje de campanha”, em dois carte-de-visite feitos
porLuizTerragno,em1865,provavelmenteemPortoAlegre.Pro-
curandodaroexemplocomo“primeirovoluntáriodapátria”,o
imperador brasileiro tentava se identificar com o cotidiano de
soldados e oficiais, ao menos nos seus sinais exteriores, como
vestiruniformeetirarfotografias.
Aguerra,evidentemente,eraumgrandenegócioparaosfotó-
grafos.Enaquelemomento,eraamelhorcoisaaparecidadesdea
invenção do carte-de-visite.Oconflitoinaugurou umacompeti-
288
çãoferoz12
entre os fotógrafos que disputavam o enorme merca-
do, representado pelos milhares de soldados. Durante todo o
períododemobilizaçãodetropas,essesprofissionaisfizeramex-
celentes negócios, fotografando os jovens soldados em seus fla-
mantesuniformes.
Aquantidadedecarte-de-visiteretratandomilitaresnomun-
dointeiro,apartirde1860,foitãograndequechegouamarcar,
segundoalgunsautores,osurgimentodafotografiamilitar.Nes-
seaspecto,aguerradoParaguaifoiamaisfotografadadaAméri-
ca,deformasimilaràguerradaSecessãonosEstadosUnidos13
.
Aguerra,deresto,jáserviacomotemaàfotografiahábastante
tempo. A produção de retratos e de paisagens, cenas do front e
outrostemasmilitaresiniciou-seprovavelmentecomosdaguer-
reótipos sobre a guerra entre México e Estados Unidos (1846-
48),prosseguindodepoiscomasguerrasSikh(1848-49)naÍndia
inglesa,guerradaBirmânia(1852),guerradaCriméia(1854-56),
ondeInglaterra,FrançaeTurquialutaramcontraaRússia,rebelião
dosCipaiosouIndianMutinynaÍndiainglesa(1857-59)efinal-
mente,aguerracivilnorte-americana(1860-65)14
.Corresponden-
tesfotográficosdoTheTimesedoIllustratedLondonNewsacom-
panharaminlocoasoperaçõesmilitaresdaguerradaCriméia,que
teveamaiorquantidadedeimagens.Osretratos,dadaaimpossibi-
lidadetécnicadeseremreproduzidospelaimprensanaépoca,eram
copiadosatravésdelitografiasepublicados.
Ointeressenaproduçãoedivulgaçãodematerialsobreguer-
ra,emgeral,foidescobertopelosfotógrafosepelaimprensailus-
tradanoBrasilemfunçãodoconflitocomoParaguai.Terminadaa
guerra,osjornaiscomeçaram,imediatamente,adivulgarimagens
sobreoconflitofranco-prussianoqueentãoseiniciava.Emtermos
deimagens,comoseverámelhornapartededicadaàimprensa
ilustrada,havianecessidadedeumaguerra,qualqueruma.
OregistrodaguerradoParaguaifoidepequenointeressepara
oswarcorresponsalseuropeusenorte-americanos.Apenasuma
firmanorte-americanasediadaemMontevideomandoucorres-
pondentespararegistraraguerra,enãosóparatirarretratoscomo
todososoutrosfotografosquefizeramacampanhadoParaguai.
Issonãoquerdizerquenãohaviainteresseemimagensdoconfli-
289
tonaEuropa.Aocontrário.Revistasfrancesas,comoL’Illustration,
TourdeMonde,entreoutras,reproduziramemlitografias,entre
1864e1870,abundantematerialapartirdefotossobreaguerra.A
imprensainglesaenorte-americanapublicava,desigualeespora-
dicamente,litografiasfeitassobrefotos.
EM TENDAS E BARRACOS: OS FOTÓGRAFOS NO “TEATRO DE OPERAÇÕES”
Osfotógrafosseguiramosexércitosaliadospelosseisanosque
durouoconflito,de1864e1870,noBrasil,naArgentinaeinterior
doParaguai.Durantetodoessetempo,fotógrafosqueestiveramno
“teatrodeoperações”militaresatuaramapartirdeUruguaiana,
CorrienteseRosário,nafaseinicialdaguerra;depois,noextremo
suldoterritórioparaguaio,Tuiuti,PasodaPátriaeTuiu-cuê,acampan-
dojuntoaosexércitosaliados;estiveramemHumaitásitiadaeocupa-
dae,finalmente,emAsunciónnaúltimafase.
Devidoàitinerânciadosfotógrafoseàsdificuldadesdere-
gistrodesuaspassagens,nuncasesaberáaocertoquantosequais
profissionaisestiveramnaguerradoParaguai.Aidentificaçãodo
materialquechegouaosnossosdiastambéméproblemática.Uma
boapartedos carte-de-visitepermanececomautoriaanônima.
Autoresdosmaisconhecidos,comoEstebanGarciaesuaequipe
enviadosporBate&Cia.,têmdiversasatribuiçõesduvidosas.
Enquantoaguerradesenrolou-senoRioGrandedoSul,até
arendiçãodacolunainvasoradeEstigarríbiaemUruguaiana,em
setembrode1865,muitosfotógrafosgaúchoseuruguaiosforam
favorecidos pela proximidade com o front. É o caso, entre ou-
tros,deLuizTerragnoqueretratouoimperadoremPortoAlegre;
e, em Montevideo, de Saturnino Masoni, que editou uma série
de cópias com a imagem do Gal. Venancio Flores, presidente e
comandantedoexércitouruguaio.
Montevideo,comoportodepassagem,recebeumilharesde
soldadosdaAliançadurantetodaaguerra.OsestúdiosdeDesiderio
Jouant,Chutte&BrookseBate&Ciarealizaramcentenasderetra-
tos15
.Alémdisso,forammencionadosoutrosprofissionaisquetra-
balharamcomoretratistasnacapitalorientalduranteaguerra,como
Alfredo Vigouroux, Anselmo Fleurquin, Enrique Schikendantz,
MartínezyBidart,GeorgeBateeJuanWanderWeyde.
290
Osfotógrafosargentinos,ouqueapartirdaArgentinafaziam
seusnegócios,tambémforamfavorecidospelaproximidadecom
seusestúdiosnaprimeirafasedaguerra.Éocaso,dentreoutros,
emRosário,doalemãoJorgeEnriqueAlfed,eemCorrientes,de
PedroBernadet16
.
DepoisdarendiçãodacolunadeEstigarríbia,algunsprisionei-
rosparaguaiosforamlevadosaPortoAlegreefotografadospela
iniciativa de um oficial brasileiro, cujo nome se perdeu. O fotó-
grafotambémédesconhecido.Umadasfotostrazalegenda:“Sol-
dadoparaguaioAntonioGomes,prisioneiroemUruguaiana.Tem
21anosdeidade.NaturaldaviladeJaguarão,noParaguai.Man-
dei tirar este retrato em Porto Alegre, em 27 de abril de 1867”.
Comoarendiçãoparaguaiaocorreuem18desetembrode1865,
este e os outros que compõem uma série de aproximadamente
seisretratosdeprisioneiros,atualmentenaBibliotecaNacional
noRiodeJaneiro,esperaramsetemesesparaseremfeitos.
Oretratodeprisioneirosparaguaiosparecetersetornado
práticacomumentreosretratistasqueatuaramaoladodastro-
pasdaaliança.Diversosprofissionais,todosanônimos,retrata-
vamoficiaisesoldadosparaguaios,vendendoasfotosemforma-
to carte-de-visite.
ApósaderrotadosaliadosemCurupaití,emsetembrode1866,
aguerrasofreuumaparada,emqueosaliadostrocaramseusco-
mandantesereorganizaramseuexército.Asoperaçõesmilitares
decisivassóseriamretomadasapartirdesetembrode1867.Esse
período,emqueosaliadospermaneceramestacionadosemTuiutí,
representouumaverdadeirabençãoparaosfotógrafos:erammi-
lharesdepotenciaisclientesacantonados.Foigrandeaprodução
nesseperíodo.Centenasdecarte-de-visite retratamossoldados
aliados,comoacampamentocomofundo.Ocotidianodogrande
exércitoimobilizadofoiregistradopordiversosfotógrafosanôni-
mos:aruadocomércio,umaprocissãonoacampamento,aguar-
dadogeneralCaxias,soldadosaoredordofogoetc.
Outrasfotos,comoaquelevaalegenda“officiaesbrasileiros,
devoltadeumadescoberta”,apesardeevidentementearranjadas,
sãoumatentativadesechegarpertodaaçãonofront,aoretratar
homensqueretornamdeumapatrulhajuntoàslinhasinimigas.
291
Após a conquista de Humaitá, em julho de 1868, a guerra
mudouseu curso:umasériedevitóriasaliadasfoi oprenúncio
dofimdoconflito.CarlosCesar,fotógrafodoRiodeJaneiro,esteve
emHumaitáocupadanesseano,fazendoretratosdeexteriore
interiordaigrejadestruídanaantigafortalezaparaguaiaenoacam-
pamentobrasileiroemTuiu-cuê,fotografandooficiaisbrasileiros
emsuasbarracaseranchos.
Ascriançasparaguaias,quedisfarçadasdesoldadoscombar-
bapostiçaeriflesdemadeiralutaramnaúltimafasedaguerra,
também foram retratadas. No Museu Histórico de Buenos Aires
conservam-seasduasfotografiasemformatocarte-de-visiteque
mostramcorposlaceradosdemeninos,aoquetudoindicainfan-
tessobreviventesdasbatalhasdeLomasValentinaseAcostañu.
Cuarterolo afirmaquesetratadoúnicoexemploque sobrevive
dousodaimagemcomo“instrumentopolítico”duranteaguerra
doParaguai17
.Issodevidoaoempregoquefoidadoaosretratos,
utilizados como “prova” de que o regime de López não tinha o
menorescrúpuloemsacrificarqualquerhabitantedoParaguai
parasemanternopoder.
Nofinal,numaAsunciónocupada,apareceuuminglêsradica-
doemMontevideo,JohnFitzpatrick,querealizoufotografiasda
cidade,dosprisioneirosetc.Numerosasvistasdacidadeforam
tambémproduzidasporfotógrafosanônimos,mostrandoaesta-
çãodetrens,acatedraletc.
Apartirde1869eaté1870,apareceumasériedefotostoma-
dasnoParaguai,deautoriaanônima,quemostravaopaísderrota-
do e os sinais do afastamento de López do poder: o palácio de
Lópezocupadopelainfantariabrasileiraecomumatorreamenos,
efeitodosbombardeiosdaesquadraimperial,apropriedaderural
demadameLynchemPatiño-Cuecercadadetendasdoexército
brasileiro,festasecomemoraçõesdemilitares,trincheirasaliadas
etropasbrasileirasemmanobraspróximasàcapitalparaguaia.
OfrancêsPedroBernadet,quetambémtrabalhouemCorrientes,
realizou,emAsunción,umasériedefotosdomarechalLópez,de
seufilhoPanchito,demadameLyncheoutrospersonagensentre
1865e187018
.UmaconhecidafotodeFranciscoLópez,taciturno,
poucotempoantesdesuamorte,tambémfoidesuaautoria.
292
ESTEBAN GARCIA: FOTÓGRAFO DE BATE & CIA.
AdocumentaçãofotográficadaguerradoParaguai,apesardo
volumederetratosproduzidos,ficoumarcadapelainiciativado
estúdioefirmaBate&Cia.deMontevideo,quemandouEsteban
Garcia,umtécnicouruguaio,paraproduzirumasériedefotografias
sobreoconflitoentreabrilesetembrode1866.
ChegadosaoPrataem1859,osnorte-americanosBateestabe-
leceram-se como fotógrafos em Montevideo em junho de 1861.
O estúdio era de propriedade de George Thomas Bate e seu ir-
mão,doqualnãoseconheceoprenome.Aempresatinhasucur-
saisemLondreseemLaHavana,aoquetudoindicaacargodo
irmãodeGeorgeBate,queretornouàInglaterraem186119
.
No final de 1864 e início do ano seguinte, os fotógrafos de
Bate&Cia.registraramobombardeiodePaisandu,cidadeuru-
guaiaqueresistiaàsforçasdeFlores,apoiadoporbrasileirose
argentinos.Seisimagensforameditadascomotítulo“Paysandú,
2 de enero de 1865” e postas à venda. O “Álbum de Paysandú”,
noArquivoHistóricodelaArmadaArgentina,trazestasfotografi-
aseoutrasreferentesaoepisódio20
.
Alémdessaexperiência,certamenteosirmãosBateconheci-
amotrabalhodosfotógrafosbritânicosnaguerradaCriméiae
deMathewBradyesuaequipenaguerradeSecessão.Em1865,
Wander Weyde passou a ser o proprietário de Bate & Cia., que
continuoumantendoonomedosantigosproprietários.
FoiWanderWeyde,umquímicobelga,quemrealizouasges-
tõesjuntoaogovernouruguaioparaobtençãodesalvo-conduto
a fim de que seus fotógrafos pudessem presenciar as operações
dosudesteparaguaio.Apesardenãotercaráteroficial,aexpedi-
çãocontoucomauxíliodetransportedasautoridades,obtendo,
inclusive,aexclusividadedecomercializaçãodasfotosatéseis
mesesdepoisdefinalizadaaguerra.
Emboraaempresafosse,naépoca,propriedadedeWeyde,foi
inegávelaparticipaçãodosBatenoprojetodefazerumregistroda
guerra.EstebanGarcia,omaishábilprofissionaldafirma,chefiava
ostrabalhos,realizadosentremaioesetembrode1866,dezesseis
mesesdepoisdePaisandu21
.Naverdade,operíodoemqueGarcia
estevenaguerraéalgonebuloso.Diversasfotografiasquelhefo-
293
ramatribuídastêmdatasposterioresaesseperíodo.Éocasoda
foto que registra a saída do comboio do Marquês de Caxias de
Tuiu-cuê,ondeosaliadossóchegariamemjulhode1867.
Garciadeixouregistradaacruezadavidadetrincheira:ossol-
dadoseoficiaisuruguaios,brasileiroseargentinos,hospitaise
missas,prisioneirosparaguaios,bateriasdeartilharia,ofrontcom
aslinhasinimigasaofundo,cadáveresparaguaiosabandonados
etc.ValemençãoespecialumafotodaLegiãoparaguaia,formada
porFloreseintegradaporparaguaiosadversáriosdeLópez.
Também dedicou atenção especial às paisagens que servi-
ram de palco para os combates, como as ruínas da tomada de
Itapiru(18deabrilde1866)oudabatalhadoSauce,ouBoqueirão
(18 de julho de 1866).
Garciaconseguiutambémoprimeiro“instantâneo”daguer-
ra,aoretratarocoroneluruguaioLeónPallejanoexatoinstante
que,feridomortalmentenabatalhadoBoqueirão,foilevadonuma
macaparaaretaguarda.Soldadosnegrosdobatalhãouruguaio
Floridaapresentamarmasaorespeitadooficial,umdosmelho-
rescronistasdaprimeirafasedaguerra.
Mas a foto mais impressionante do conjunto, e de toda a
guerratalvez,éaqueseintitula“montóndecadáveresparaguayos”
equeretratouprecisamentecorposressecadosdesoldadosmal
cobertosporpanos,provavelmentevítimasinsepultasdoscomba-
tes de 24 de maio de 1866. Esta foto e a que mostra as crianças
paraguaias sobreviventes dos combates de Lomas Valentinas e
Acosta-ñu, de autoria desconhecida, são, sem dúvida, os regis-
trosfotográficosmaisdramáticosdaviolênciadaguerra.
Garciatrabalhavacomgrandesnegativosdecolódioúmido
sobreplacadevidrode20por14cm,emprecárioslaboratórios
montadosemtendasdecampanha.Acampavajuntoàstropasuru-
guaias.Aocontráriodeseuscolegas,nãoparecetertiradoretratos
desoldados,dedicando-seexclusivamenteàs“vistasdaguerra”.
Nofinalde1866,aprimeirasériededezfotografiasfoiposta
àvenda,emcópiasnotamanhooriginaldonegativo.Aoquetudo
indica, o empreendimento não teve muito êxito. Depois de
Curupaiti (22 de setembro de 1866) e da morte de milhares de
jovensnastrincheirasparaguaias,“aguerraseconverteuemum
294
assuntoimpopularparaasociedaderioplatense”22
.Seasfotosnão
venderamcomooesperado,pelomenospareceteremsidorepro-
duzidasemvolumeconsiderável,inclusiveemformatocarte-de-
visite,atémuitotempodepoisdavendadoestúdio.
Rarascoleçõesparticularesdaépocanãotrazempelomenos
uma das fotos tiradas por Bate & Cia. As coleções pessoais de
Mitre e de D. D. Pedro II, por exemplo, não são exceções. A últi-
mapossuioálbum“LaguerracontraelParaguay.Bate&Cia.W,
Montevideo”, com 12 fotos.
Em fevereiro de 1867, Weyde anunciou a venda do estúdio.
O novo proprietário, de posse dos negativos do Paraguai e
Paisandu,anunciouumanovacoleçãode21vistasdaguerra.Os
atoresmudavam,osnegóciosprosseguem.
O FOTÓGRAFO NO ACAMPAMENTO
Anovidadeparaosfotógrafositinerantesenvolvidosnacober-
turadaguerra,era,digamos,asituaçãodecampo.Acostumados
àscondiçõesdevidaemcidades,tiveramquesetransportareao
seuequipamentoemcarrosdeboipormilharesdequilômetros
atéosacampamentosdastropas,ondeseacomodavamcomopo-
diamemtendasouemdesmanteladosbarracosdepalha,meio
cobertosporlonas.Umalitografia,feitasobrefotografia,epubli-
cada na Vida Fluminense em 1866, dá uma imagem das duras
condiçõesdevidadosfotógrafosnopobreranchodescritocomo
“EstabelecimentodeErdmann&Catermole”,nailhaSerrito.
Osprofissionaisdoscarte-de-visiteestabeleciam-sepróximos
às“ruasdoComércio”,existentenosacampamentosdastropasda
Aliançadurantequasetodaaguerra.Recebiamaclientelaemseus
precáriosestúdiosouindoatésuastendasebarracas.Àsfotosfei-
tasemestúdio,comcortinascomdesenhos geométricosgregas,
colunasebalaustradasgreco-romanas,agorasesomavamaquelas
feitascomfundonaturaledeinspiraçãoguerreira:tendas,foguei-
ras,sarilhos,espadaspenduradas,enfim,oacampamentoesuas
rústicascondições.Outrosfotógrafos,comoosenviadosporBate
& Cia. de Montevideo em 1866, montaram sua tenda em pleno
acampamentodetropasemTuiuti,juntoaumpostodeobserva-
çãoelevado,mangrullo.
295
Se,paraprofissionaisbrasileirosouqueatuavamnoBrasil,a
situaçãodefotografarnumaguerraeraumanovidade,omesmo
nãopodeserditodosargentinos.Existia,naArgentina,umatradi-
çãoderegistrosfotográficosdeconflitosinternos,anterioràguerra
doParaguai23
.De1853a1862,durantealutadosestadosargentinos
(comosFederalistasdaConfederaçãoArgentina,comcapitalnacida-
dedeParaná,disputandoocontroledanaçãocomosUnitáriosdo
EstadodeBuenosAires,sediadosnacidadedemesmonome),da-
guerreotipistasefotógrafosregistraramcontinuamenteretratosde
caudilhos,montonerosinsurretoseexércitosregulares.
AsprimeirasfotografiastomadasemBuenosAiresjápodiam
serconsideradasfotografiasmilitares,vistoqueumadelasmos-
traoexércitodeUrquizaentrandonacidadeapósaderrotade
Rosaseoutraéoretratodovencedor24
.Oformatocarte-de-visite
veioacentuaraproduçãoderetratosmilitares,masnãofundouo
gênero, como no Brasil.
Alémdesaíremdoestúdiodascidadesedesetransportarem
paraosacampamentosmilitares,osfotógrafosdaguerrasoube-
ramincorporarnovidadesnacomposiçãodeseustrabalhos,que
ganhavamemrealismo,deixandodeserapenas“retratos”.Atéo
maisprosaico carte-de-visitepassava,porforçadomomento,a
adquirirsignificadoespecialcomoumdocumentohistórico.
OS RETRATOS DA GUERRA
Até a guerra do Paraguai, nunca se tinha visto imagens de
tropasdoBrasilcombatendo,muitomenosnoexterior.NaArgen-
tinaenoUruguaijáseconheciamdaguerreótiposefotografias
de episódios militares da conturbada vida política desses dois
paísesentreasdécadasde1840a1860.Opúblicodessespaíses
podia ver, por meio das fotografias, não só as tropas nacionais
mastambémo“inimigo”.
Mesmoexplorandogênerosetemasdefotografiasjáconsoli-
dados, como retratos e paisagens sobre temas militares, o con-
juntodematerialproduzidoapresentasignificativasdiferenças
emrelaçãoàproduçãoanterioroudostemposdepaz.Qualquer
quefosseoassunto,aguerracomoquetransformouaqualidade
domaterialproduzido.
296
Astentativas,aindaquehojenospareçamprecárias,desecap-
tar a ação nas linhas de combate são significativas. As fotos de
“officiaesbrasileiros,devoltadeumadescoberta”,deumoficial
argentino,pretensamenteemcombateearmadodesabreerevól-
ver,ouoretratodamortedocoronelPallejasãotentativasdefazer
oregistrofotográficoganharagilidade,escapandodaprevisibilidade
eimobilidadedoestúdio.
Osfotógrafosabandonaramumacertarigideznacomposição
dasfotosemambientesfechadosepassaram,dadasascondições,a
fazerretratosemcampoaberto,emmeioatendas,bateriasdeca-
nhões,cadáveres,barracasesoldados.Muitasfotos,infelizmente
anônimas,fizeramdocotidianodoacampamentoguerreirooseu
fundo. Temos fotos que, ao contrário do que era feito na época,
cultivavamumarealidadesemretoques,comospersonagensem
situaçõesapresentadascomoespontâneas,nãoemposesrígidas.
Paraafotografiadaépoca,cujoenquadramentoecomposi-
çãoeramregidospelalógicadecomposiçãodapinturaacadêmi-
ca,aquiloeraumamudança.Nãoeraumaalteraçãonopanora-
mainternacionaldafotografia,umavezquetrabalhoscomoode
MathewBradysobreaguerracivilnorte-americanajátraziammui-
tasdessas“novidades”.Eraumainovação,noentanto,notipode
fotografiaquesefazianoconesulnasdécadasde1850e60.
Emtermosformais,aguerradoParaguaiarejouascomposi-
çõesdasfotosmasoassuntotornou-asmaispesadas,mais“históri-
cas”.Dequalquerforma,osprofissionaisenvolvidos,pelascondi-
çõesepeloassunto,foramforçadosaadotarsoluçõesoriginais
paraumasituaçãonova,queamaioriadelesnuncahaviafotografa-
do: retratar civis em trajes domingueiros num estúdio era bem
diferentederetratarsoldadosnocampodebatalha.
Asparticularidadesdoacompanhamentodaguerrafaziam
osfotógrafos,principalmenteosqueatuavampróximosaofront,
arepensaremalgunsdosfundamentosdoofício:comotrabalhar
comoinstávelcolódionocaloreumidade,comofazeracomposi-
çãodasfotosforadoestúdio,comofazerretratos“naturais”de
soldados e paisagens, como fotografar novas poses e assuntos
pedidos pelos próprios soldados etc.
297
Mesmoossimplesretratosganhavamdramaticidade.Muitos
dosretratados,amaioriaoficiaisquepodiampagarparaterem
suaimagemimortalizada,morriampoucotempodepoisemcom-
bate ou por doenças. A imprensa ilustrada, principalmente no
BrasilemenosnaArgentinaenoUruguai,reproduzialitografias
dosbravosquemorriambaseadosemcópiasdecarte-de-visite.
Os heróis agora tinham um rosto e os mortos deixavam de ser
anônimos.Aindividualizaçãodasvítimasdaguerrafaziaseuscus-
toshumanospareceremmaiores.
Afotoganhavaimportância,enfim,comoúltimaimagemdos
muitosquenãovoltaram.Oscarte-de-visitetransformaram-seem
testemunhos de que aquelas pessoas, tão comuns, conviveram,
no entanto, com algo extraordinário. Seu valor como objeto de
afetoedocumentohistóricomuda,secomparadoaosrealizados
em tempo de paz.
Osretratostransformaram-seemalgonovo.Asfotosdeprisio-
neirosparaguaios,feitasemPortoAlegreemencionadasatrás,são
umexemplodisso.Avisãodo“inimigo”,subitamentetransforma-
doemserhumano,tocavaatéosmaisdurosdefensoresdaguerra.
Ocarte-de-visitetransforma-seemdocumentohistórico,emteste-
munhoedenúncia.Comonestecaso,muitosdosoutrosregistros,
deretratosapaisagens,feitosporevidenteinteressecomercial,
tornaram-se,involuntariamente,documentosdecríticadaguerra.
Isso porque, ao mesmo tempo que registravam o heroísmo
doscombatentes,registravamtambémoacampamentomambem-
be, a precariedade dos exércitos, os homens desmazelados, os
milhares de mortos, a miséria, enfim, de todos os contendores.
Avisãocríticatrazidapelosregistrosfotográficoseaimpopu-
laridade do conflito devido ao número de baixas, ausência de
vitóriaseoiníciodosrecrutamentoscompulsórios,jáapartirde
setembrode1865,ajudamaexplicaropoucosucessodeedições
defotosexclusivamentededicadasàguerra,comodeBate&Cia.
Jábastavamasnotíciastextuaisdoconflitointerminável.
Asimagensdaguerranãopermitiamufanismo,mesmoasde
sua fase inicial. Vendo o inimigo prisioneiro, ou em pilhas de
cadáveres, só se conseguia sentir pena. Longe de emularem os
espíritosguerreiros,asfotosfaziamdesejarapaz.
298
Asfotosdoconflitotambéminauguraramapossibilidadede
suautilizaçãocomopropagandadeguerra.Osregistrosdaguer-
radoParaguai,mesmoaquelesqueforamutilizadosempropa-
gandaanti-López,iammuitoalémdosseusfinsideológicosime-
diatos.Denunciavamaestupidezdaguerra.
Nãosedevesubestimaraimportânciadoregistrofotográfi-
co,emformatocarte-de-visiteoupormeiodesuacópiaepublica-
çãoemlitografiaspelaimprensadaépoca,naformaçãodeuma
opiniãopúblicacontráriaàcontinuidadedoconflitonospaíses
daAliança,apenasumanodepoisdeseuinício.
Acruezadoassunto,emresumo,fezcomquegênerosdefo-
tografiasjáconhecidos,comoretratosepaisagens,setransformas-
sememalgonovo.Aguerra“arejou”afotografiaemtermosformais,
dando-lheliberdadedecomposiçãoeescolhadeassuntosnovos.
Aotrazerafotografiaparaocampodonoticiário,fezcomquedeixasse
decircularapenascomoprovadeafetoentrepessoas.
AguerradoParaguaiestabeleceuaimportânciadautilização
jornalística da fotografia de guerra, mesmo por intermédio de
cópias, em litografias, dos originais, no Brasil, na Argentina e,
numgraumenor,noUruguai.Aimprensailustrada,agravuraea
pinturadevemmuitoàfotografiadoperíodo,utilizadaporquase
todos os autores do período como referência.
Masafotografiatambémdesenvolveuumalinguagempró-
pria,pormeiodosálbuns,baseadanaagilidadedoregistroede
suarentabilidadecomercial.Enquantoassunto,deixoudeseruma
coisafamiliareprivadaetransformou-seemcoisadeinteresse
público.Aguerra,semdúvida,ampliouoslimitesdeproduçãoe
consumodafotografianoconesul.
AguerradoParaguaicomaTrípliceAliançaocorreucontem-
poraneamenteàdescobertadeprocessostécnicosquepermitiram,
noperíodo,umaofertadeimagensatéentãoinédita,pormeioda
imprensailustradaedagravura,dapinturaedafotografia.
Resultado de projetos nacionalistas oficiais e do próspero
mercadodeimagens,aiconografiadaguerradoParaguainão
inovouapenasemtrazeraguerraparajuntodaopiniãopública.
Arentabilidadecomercialdoassuntoinaugurouacoberturavi-
sualdeconflitos,aomesmotempoquelançoueviabilizouastéc-
299
nicas,afotografiaealitografia,quepossibilitariamsuacontinuida-
de.Apintura,apesardasaltastaxasdevisitaçãodasexposições,
estevelongedepoderacompanhararapidezcomqueseproduziam
imagensemestúdiosfotográficosouemredaçõesdejornais.Tor-
nava-seimpossível,aosgovernos,evitara“subversãoimagística”
trazidapelafotografiaepelaimprensailustrada.Agora,asocieda-
detinhaoutrasimagensparacontraporàiconografia“oficial”.
Diante da massa desordenada de informações e de novos
assuntostrazidospelafotografia,aspinturasacadêmicastransfor-
maram-seemalegoriasdestinadasaprédioserepartiçõespúbli-
cas.Nãoestiveramaoalcancedopúblicoduranteaguerraanão
seremexposiçõesnacorteeemfeirasinternacionais.
Talvezamaiorherançadeixadaporessa“febredeimagens”
do período foi, primeiramente, esta possibilidade do seu uso
jornalístico,ocorridasimultaneamentecomumacerta“laicização”,
nosentidodasuamaiorindependênciaemrelaçãoàsrepresenta-
çõesquaseoficiaisdapátria.Nãoeramsóosgovernos,afinal,os
responsáveispelaformulaçãodoqueseriamascaracterísticasna-
cionaisdessespaíses.
ApinturaacadêmicasubvencionadapeloEstadoperdeusua
hegemoniadeumaformabrusca,comoformaderepresentação
danação.Extratosmédiosdapopulaçãourbana,tecnicamente
qualificadosepoliticamenteexcluídos,buscavam,comonocaso
brasileiro,formasderepresentatividadeecidadanianumpaísreal,
longedasidealizaçõesclassicistasouromânticas.O“realismo”
pretendidopelafotografiacombinavacomatarefadelevantar,
cientificamente,osproblemasnacionaisaquepretendiaopensa-
mentoprogressistadaépoca.
NOTAS
1
KOSSOY,Bóris.OrigenseexpansãodafotografianoBrasil.SéculoXIX.Funarte,
Rio de Janeiro, 1980, p. 29.
2
VASQUEZ,Pedro.D.D.PedroIIeaFotografia.RiodeJaneiro,FundaçãoRoberto
MarinhoeCompanhiaInternacionaldeSeguros/EditoraIndexImprinta,Rio
de Janeiro, 1986, p. 19. VASQUEZ, Pedro. “A Fotografia no Brasil do século
dezenove-doParáaSãoPaulo”.InAFotografianoBrasildoséculoXIX.São
Paulo,PinacotecadoEstadodeSãoPaulo,1993.
300
3
SONTAG, Susan Apud Amaral, Aracy Abreu. “Aspectos da comunicação visual
numacoleçãoderetratos”.InMOURA,CarlosEugênioMarcondesde(org.).
Retratos quase inocentes. São Paulo, Ed. Nobel, 1983, p.118.
4
KOSSOY. op. cit. p. 42.
5
Idem. p. 38 e VASQUEZ. op. cit., p. 20.
6
KOSSOY. op. cit., p. 38 e VASQUEZ. op. cit., p. 20.
7
Cuarterolo,MiguelAngel.“UnaGuerraenelLienzo-Lafotografiaysuinfluenciaen
laiconografíadelaGuerradelParaguay”.InElArteentreloPúblicoyloPrivado.
VIJornadasdeTeoríaeHistoriadelasArtes.BuenosAires,1995,p.95.CASABALIE,
AmadoBecquereCUARTEROLO,MiguelAngel.ImágenesdelriodelaPlata.
Crónicadelafotografiarioplatense.EditorialdelFotografo,BuenosAires,1985.
8
GESUALDO, Vicente. Historia de la Fotografia en America. Desde Alaska hasta
Tierra del Fuego en siglo XIX. Cap. Paraguay. Buenos Aires, Editorial Sui
Generis, 1990, p. 234.
9
KOSSOY. op. cit.
10
FERREIRADEANDRADE,JoaquimMarçal.“AColeçãodoImperador”.InBiblio-
teca Nacional, AColeçãodoImperador:fotografiabrasileiraeestrangeira
no século XIX (catálogo). Biblioteca Nacional e Centro Cultural Banco do
Brasil,RiodeJaneiro,1997,p.02.
11
Idem e VASQUEZ, op. cit.
12
CUARTEROLO. op. cit., p. 98.
13
LUQUI-LAGLEYZE,JulioM.“Uniformologíayfotografiaantigua:unafelizalianza
recíproca”.InIIo.CongresodeHistoriadelaFotografia.OrganizadoporelComite
EjecutivoPermanentedeCongresosdeHistoriadelaFotografiaenlaArgentina
conelauspiciodelaFederacionArgentinadeFotografiaF.A.F.yelCirculoMedi-
codeVicenteLopez.Ed.MundoTécnicoS.R.L.,BuenosAires,1994,p.150.
14
LUQUI-LAGLEYZE. op. cit., p. 150.
15
CUARTEROLO, Miguel Angel. “Iconografía de Guerra- Fotografías de la Triple
Alianza 1865- 1870”. In Memoria Io. Congreso de Historia de la Fotografia.
23-24mayo1992.Florida-Pcia.BuenosAires,p.57.
16
CUATEROLO. op. cit., p. 95.
17
CUARTEROLO. op. cit., p. 58.
18
GESUALDO. op. cit., p. 234.
19
CUARTEROLO. op. cit., p. 55.
20
LUQUI-LAGLEYZE, Julio M. e LUX-WURM, Mirta S. Larrandart de.El álbun del
bombardeodePaysandúdelacoleccióndelComodoroD.JoséMurature(1864-
1865),CongresodeHistoriadelaFotografia.OrganizadoporelComiteEjecutivo
PermanentedeCongresosdeHistoriadelaFotografiaenlaArgentinaconel
auspiciodelaFederacionArgentinadeFotografiaF.A.F.yelCirculoMedicode
Vicente Lopez. Ed. Mundo Técnico S.R.L., Buenos Aires, 1994, p.129.
21
CUARTEROLO. op. cit., p. 55.
22
CUARTEROLO. op. cit., p. 97.
23
LUQUI-LAGLEYZE. El álbun..., Uniformologia..., op. cit., p. 150.
24
Idem.
Artigo recebido em 08/98 e aprovado em 06/99.
301
1.Litografia
de Daumier
inBoulevard
nº 06 de 25/
05/1862
2. Autor desc.
(circa 1860):
carte-de-visite
com retrato
em albúmem
deFranciscoS.
López. IHGB
RJ.
302
3. Autordesc.(1867):carte-de-visitecom
retratodoparaguaioAntonioGomes.Bi-
bliotecaNacionalRiodeJaneiro.
4.Autor desc. (circa 1867): dois cartes-de visite mostran-
dosoldadoeoficialparaguaioscapturadosporoficiaisbra-
sileiroeargentinorespectivamente.BibliotecaNacionalRio
deJaneiro.
303
5.Autor desc. (circa
1867): procissão no
acampamento em
TuiutíBibliotecaNaci-
onalRiodeJaneiro.
304
6.Autordesc.(circa1867):oficiaisargentinosemTuiutí.BibliotecaNacionalRiodeJaneiro.
305
7.Autor desc.
(circa1869):pa-
lácio dos López
ocupadoportro-
pas brasileiras.
BibliotecaNacio-
nalRiodeJanei-
ro.
306
8.EstebanGarcia(1866):amortedocel.LeónPalleja.BibliotecaNacionalRiodeJaneiro.
307
9. Esteban
Garcia (1866):
montón de ca-
dáveres para-
guayos. Biblio-
teca Nacional
Montevideo.
308
10.EstebanGarcia
(1866): grupo de
prisioneirospara-
guaios.Biblioteca
Nacional Monte-
video.
309
11.Esteban Garcia
(1866): tenda da
equipe de fotógra-
fos de Bate & Cia.
Junto a um posto
deobservaçãomili-
tar.BibliotecaNaci-
onalMontevideo.
310

Weitere ähnliche Inhalte

Mehr von Fantoches de Luz

Mauricio Lamberg - Fotografias de Pernambuco
Mauricio Lamberg - Fotografias de PernambucoMauricio Lamberg - Fotografias de Pernambuco
Mauricio Lamberg - Fotografias de PernambucoFantoches de Luz
 
A ética no fotojornalismo da era digital
A ética no fotojornalismo da era digitalA ética no fotojornalismo da era digital
A ética no fotojornalismo da era digitalFantoches de Luz
 
Viagem de S. S. A. A. Reaes Duque de Saxe e Seu Augusto irmão Luiz Philippe...
Viagem de S. S. A. A. Reaes   Duque de Saxe e Seu Augusto irmão Luiz Philippe...Viagem de S. S. A. A. Reaes   Duque de Saxe e Seu Augusto irmão Luiz Philippe...
Viagem de S. S. A. A. Reaes Duque de Saxe e Seu Augusto irmão Luiz Philippe...Fantoches de Luz
 
Através da Imagem - Fotografia e História
Através da Imagem - Fotografia e HistóriaAtravés da Imagem - Fotografia e História
Através da Imagem - Fotografia e HistóriaFantoches de Luz
 
Estágios de desenvolvimento do fotojornalismo na internet
Estágios de desenvolvimento do fotojornalismo na internetEstágios de desenvolvimento do fotojornalismo na internet
Estágios de desenvolvimento do fotojornalismo na internetFantoches de Luz
 
História Crítica do Fotojornalismo Ocidental
História Crítica do Fotojornalismo OcidentalHistória Crítica do Fotojornalismo Ocidental
História Crítica do Fotojornalismo OcidentalFantoches de Luz
 
O uso da fotografia na pesquisa em psicologia
O uso da fotografia na pesquisa em  psicologiaO uso da fotografia na pesquisa em  psicologia
O uso da fotografia na pesquisa em psicologiaFantoches de Luz
 
Christo Redemptor - Exposição
Christo Redemptor - ExposiçãoChristo Redemptor - Exposição
Christo Redemptor - ExposiçãoFantoches de Luz
 
A encruzilhada do fotojornalismo
A encruzilhada do fotojornalismoA encruzilhada do fotojornalismo
A encruzilhada do fotojornalismoFantoches de Luz
 
Postais de São Paulo - Guilherme Gaensly
Postais de São Paulo - Guilherme GaenslyPostais de São Paulo - Guilherme Gaensly
Postais de São Paulo - Guilherme GaenslyFantoches de Luz
 
Arlindo Machado - A fotografia como expressão do conceito
Arlindo Machado - A fotografia como expressão do conceitoArlindo Machado - A fotografia como expressão do conceito
Arlindo Machado - A fotografia como expressão do conceitoFantoches de Luz
 
Fotografia jornalística e mídia impressa
Fotografia jornalística e mídia impressaFotografia jornalística e mídia impressa
Fotografia jornalística e mídia impressaFantoches de Luz
 
Vistas de Petrópolis - Pedro Hees
Vistas de Petrópolis - Pedro HeesVistas de Petrópolis - Pedro Hees
Vistas de Petrópolis - Pedro HeesFantoches de Luz
 
Robert capa - novas polêmicas
Robert capa -  novas polêmicasRobert capa -  novas polêmicas
Robert capa - novas polêmicasFantoches de Luz
 
Diálogos e Conflitos entre fotografia artistica e fotojornalismo
Diálogos  e Conflitos entre fotografia artistica e fotojornalismoDiálogos  e Conflitos entre fotografia artistica e fotojornalismo
Diálogos e Conflitos entre fotografia artistica e fotojornalismoFantoches de Luz
 

Mehr von Fantoches de Luz (20)

Mauricio Lamberg - Fotografias de Pernambuco
Mauricio Lamberg - Fotografias de PernambucoMauricio Lamberg - Fotografias de Pernambuco
Mauricio Lamberg - Fotografias de Pernambuco
 
A ética no fotojornalismo da era digital
A ética no fotojornalismo da era digitalA ética no fotojornalismo da era digital
A ética no fotojornalismo da era digital
 
Viagem de S. S. A. A. Reaes Duque de Saxe e Seu Augusto irmão Luiz Philippe...
Viagem de S. S. A. A. Reaes   Duque de Saxe e Seu Augusto irmão Luiz Philippe...Viagem de S. S. A. A. Reaes   Duque de Saxe e Seu Augusto irmão Luiz Philippe...
Viagem de S. S. A. A. Reaes Duque de Saxe e Seu Augusto irmão Luiz Philippe...
 
Através da Imagem - Fotografia e História
Através da Imagem - Fotografia e HistóriaAtravés da Imagem - Fotografia e História
Através da Imagem - Fotografia e História
 
Alberto Henschel
Alberto HenschelAlberto Henschel
Alberto Henschel
 
Estágios de desenvolvimento do fotojornalismo na internet
Estágios de desenvolvimento do fotojornalismo na internetEstágios de desenvolvimento do fotojornalismo na internet
Estágios de desenvolvimento do fotojornalismo na internet
 
História Crítica do Fotojornalismo Ocidental
História Crítica do Fotojornalismo OcidentalHistória Crítica do Fotojornalismo Ocidental
História Crítica do Fotojornalismo Ocidental
 
Revert Klumb
Revert KlumbRevert Klumb
Revert Klumb
 
O uso da fotografia na pesquisa em psicologia
O uso da fotografia na pesquisa em  psicologiaO uso da fotografia na pesquisa em  psicologia
O uso da fotografia na pesquisa em psicologia
 
C R Savage
C R SavageC R Savage
C R Savage
 
Christo Redemptor - Exposição
Christo Redemptor - ExposiçãoChristo Redemptor - Exposição
Christo Redemptor - Exposição
 
A encruzilhada do fotojornalismo
A encruzilhada do fotojornalismoA encruzilhada do fotojornalismo
A encruzilhada do fotojornalismo
 
Postais de São Paulo - Guilherme Gaensly
Postais de São Paulo - Guilherme GaenslyPostais de São Paulo - Guilherme Gaensly
Postais de São Paulo - Guilherme Gaensly
 
Arlindo Machado - A fotografia como expressão do conceito
Arlindo Machado - A fotografia como expressão do conceitoArlindo Machado - A fotografia como expressão do conceito
Arlindo Machado - A fotografia como expressão do conceito
 
Fotografia jornalística e mídia impressa
Fotografia jornalística e mídia impressaFotografia jornalística e mídia impressa
Fotografia jornalística e mídia impressa
 
Vistas de Petrópolis - Pedro Hees
Vistas de Petrópolis - Pedro HeesVistas de Petrópolis - Pedro Hees
Vistas de Petrópolis - Pedro Hees
 
Robert capa - novas polêmicas
Robert capa -  novas polêmicasRobert capa -  novas polêmicas
Robert capa - novas polêmicas
 
Diálogos e Conflitos entre fotografia artistica e fotojornalismo
Diálogos  e Conflitos entre fotografia artistica e fotojornalismoDiálogos  e Conflitos entre fotografia artistica e fotojornalismo
Diálogos e Conflitos entre fotografia artistica e fotojornalismo
 
Siège de Paris - Parte 1
Siège de Paris - Parte 1Siège de Paris - Parte 1
Siège de Paris - Parte 1
 
Siège de Paris - Parte 2
Siège de Paris - Parte 2Siège de Paris - Parte 2
Siège de Paris - Parte 2
 

Kürzlich hochgeladen

Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxSlides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptx
Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptxEducação Financeira - Cartão de crédito665933.pptx
Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptxMarcosLemes28
 
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdfmarlene54545
 
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Estudar, para quê?  Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2Estudar, para quê?  Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2Maria Teresa Thomaz
 
E a chuva ... (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
E a chuva ...  (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...E a chuva ...  (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
E a chuva ... (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...andreiavys
 
6ano variação linguística ensino fundamental.pptx
6ano variação linguística ensino fundamental.pptx6ano variação linguística ensino fundamental.pptx
6ano variação linguística ensino fundamental.pptxJssicaCassiano2
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdfHELENO FAVACHO
 
Sistema de Bibliotecas UCS - Cantos do fim do século
Sistema de Bibliotecas UCS  - Cantos do fim do séculoSistema de Bibliotecas UCS  - Cantos do fim do século
Sistema de Bibliotecas UCS - Cantos do fim do séculoBiblioteca UCS
 
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptxM0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptxJustinoTeixeira1
 
A Revolução Francesa. Liberdade, Igualdade e Fraternidade são os direitos que...
A Revolução Francesa. Liberdade, Igualdade e Fraternidade são os direitos que...A Revolução Francesa. Liberdade, Igualdade e Fraternidade são os direitos que...
A Revolução Francesa. Liberdade, Igualdade e Fraternidade são os direitos que...DirceuNascimento5
 
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...PatriciaCaetano18
 
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdfProjeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdfHELENO FAVACHO
 
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de HotéisAbout Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéisines09cachapa
 
LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...
LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...
LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...Francisco Márcio Bezerra Oliveira
 
TCC_MusicaComoLinguagemNaAlfabetização-ARAUJOfranklin-UFBA.pdf
TCC_MusicaComoLinguagemNaAlfabetização-ARAUJOfranklin-UFBA.pdfTCC_MusicaComoLinguagemNaAlfabetização-ARAUJOfranklin-UFBA.pdf
TCC_MusicaComoLinguagemNaAlfabetização-ARAUJOfranklin-UFBA.pdfamarianegodoi
 
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.pptaula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.pptssuser2b53fe
 
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdfApresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdfcomercial400681
 
Slide - SAEB. língua portuguesa e matemática
Slide - SAEB. língua portuguesa e matemáticaSlide - SAEB. língua portuguesa e matemática
Slide - SAEB. língua portuguesa e matemáticash5kpmr7w7
 
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptxSlides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptx
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptxSeminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptx
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptxReinaldoMuller1
 

Kürzlich hochgeladen (20)

Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxSlides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
 
Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptx
Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptxEducação Financeira - Cartão de crédito665933.pptx
Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptx
 
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
 
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Estudar, para quê?  Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2Estudar, para quê?  Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
 
E a chuva ... (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
E a chuva ...  (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...E a chuva ...  (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
E a chuva ... (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
 
6ano variação linguística ensino fundamental.pptx
6ano variação linguística ensino fundamental.pptx6ano variação linguística ensino fundamental.pptx
6ano variação linguística ensino fundamental.pptx
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
 
Sistema de Bibliotecas UCS - Cantos do fim do século
Sistema de Bibliotecas UCS  - Cantos do fim do séculoSistema de Bibliotecas UCS  - Cantos do fim do século
Sistema de Bibliotecas UCS - Cantos do fim do século
 
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptxM0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
 
A Revolução Francesa. Liberdade, Igualdade e Fraternidade são os direitos que...
A Revolução Francesa. Liberdade, Igualdade e Fraternidade são os direitos que...A Revolução Francesa. Liberdade, Igualdade e Fraternidade são os direitos que...
A Revolução Francesa. Liberdade, Igualdade e Fraternidade são os direitos que...
 
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
 
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdfProjeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
 
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de HotéisAbout Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
 
LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...
LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...
LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...
 
TCC_MusicaComoLinguagemNaAlfabetização-ARAUJOfranklin-UFBA.pdf
TCC_MusicaComoLinguagemNaAlfabetização-ARAUJOfranklin-UFBA.pdfTCC_MusicaComoLinguagemNaAlfabetização-ARAUJOfranklin-UFBA.pdf
TCC_MusicaComoLinguagemNaAlfabetização-ARAUJOfranklin-UFBA.pdf
 
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.pptaula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
 
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdfApresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
 
Slide - SAEB. língua portuguesa e matemática
Slide - SAEB. língua portuguesa e matemáticaSlide - SAEB. língua portuguesa e matemática
Slide - SAEB. língua portuguesa e matemática
 
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptxSlides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
 
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptx
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptxSeminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptx
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptx
 

Entre retratos e cadáveres - A fotografia na guerra do Paraguai

  • 1. 283 Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 19, nº 38, p. 283-310. 1999 Entre retratos e cadáveres: a fotografia na Guerra do Paraguai AndréAmaraldeToral Doutor em História Social pela FFLCH – USP RESUMO Oregistrofotográficodaguerrado ParaguaicontraaTrípliceAliança (1864-1870)foi,emtermosgerais, umacontinuidadedotipodefoto- grafiaquesefazianaépoca.Mas foi, também, mais do que isso. A cobertura in loco e a força do as- suntotrouxerammaneirasinova- dorasdeserepresentaroconflito, oquecolaborouparaaconstitui- çãodeumalinguagemfotográfica comcaracterísticasprópriasemre- laçãoàpinturaougravuradoperí- ododedicadasàguerra. Palavras-chave:GuerradaTríplice Aliança;GuerradoParaguai;Fotogra- fiadoséculoXIX;Foto-jornalismo. ABSTRACT Photographic registers of the Triple Alliance War (1864-1870), whichinvolvedBrazil,Argentina and Uruguay against Paraguay, were, in a general sense, part of the same genre of commercial photographyfromtheperiod.But it were, also, more than this. The work at the field, among armies and corpses, brought new man- nersofseeingthewaranddevelo- ped the photography as autono- mousvisuallanguage,withmany differencescomparingwithpaint- ingorengraving. Keywords: Triple Alliance War; Paraguay’sWar;XIXcenturypho- tography;Photo-journalism. A TRANSCENDÊNCIA AO ALCANCE DE TODOS Apartirdainvençãododaguerreótipoem1839,impressãoda imagememmetal,afotografiadeixoudeserapenasexperimenta- çãoetornou-seatividadeprofissional.Jáapartirde1842,daguerreo- tipistasnorte-americanosanunciavamseusserviçosnoBrasil;em 1847,oAlmanaqueLaemmertanuncioutrêsoficinasespecializadas noRiodeJaneiro1 . Odaguerreótipo,quesópermitiaumoriginalmontadocomo jóiaemestojosespeciais,teve,noentanto,circulaçãorestrita.A
  • 2. 284 técnica que permitiu a expansão da fotografia nas décadas de 1860 e 1870 foi a “dobradinha”, negativo de colódio úmido e cópiasobrepapelalbuminado2 .Aelaboraçãodeumnegativoà basedecolódiosobrechapasdevidrooumetaleapossibilidade deproduçãodemúltiplasampliaçõessobrepapelagilizouapro- duçãoereproduçãoderegistrosfotográficos,possibilitandoum rentávelaproveitamentocomercial. A reprodução de sua própria imagem, antes privilégio dos quepodiamfazer-seretratarporumartista,amplia-separaum públicomaisamplo.Apartirde1854,popularizam-sepequenos retratos, chamados carte-de-visitepor terem o tamanho de um cartãodevisita.Eramdestinadosaseremoferecidosaamigose parentes com indefectíveis dedicatórias escritas no verso onde apareciacomoprovadeamizade,despedida,saudaçãoousimples- menteparamarcarumcompromisso. O costume, comum nos dias de hoje, de se trocar retratos compessoassignificativas,oudecolecioná-los,umavezquenão haviapublicaçãodefotografias,formou-seexplosivamenteentre 1850 e 1870. A descoberta da disponibilidade da própria ima- gem,paraumpúblicoquenuncatinhatidoacessoaumretrato, eraumacoisaquasemágica,queiaalémdaquiloqueseconsidera- vapossível.Porintermédiodafotografia,cadafamíliatinhapossibi- lidade de construir uma crônica de si mesma, “coleção portátil deimagensquetestemunhasuacoesão”3 . BorisKossoyafirmaque“oretratoapresentadodessaforma tornou-seamodamaispopularqueafotografiaassistiuemtodo oséculopassado”.Seuamploconsumotrariaapadronizaçãodo produtofotográficoedeseuconteúdo,estereotipandocenários eposesdosretratados4 . A troca de cartões e o problema de como acondicioná-los dariainícioaosálbunsdefotografias,destinadosaostemasmais diversoscomofamília,amigos,autoridadesepersonalidades,pai- sagens,tiposhumanospitorescos,guerra,eróticoetc. Comoresultadodapopularidadedoscarte-de-visite,multi- plicavam-seosestúdiosnamaioriadascapitaiseuropéiase,princi- palmente,nosEstadosUnidos.Paraseterumaidéiadarapidezdo processo,nesseúltimopaís,ototaldefotógrafospassade938em
  • 3. 285 1851 para 7.558 em 1870. Em Londres, os 66 fotógrafos de 1855 aumentarampara284em1866.EmParis,em1861,33milpessoas viviamdaproduçãodefotografias5 .Chegandoaumtalgraude desenvolvimentodomercadoprodutordefotografias,eradese esperarquepelomenosumapartedessegrandenúmerodeprofis- sionaissevoltasseàexploraçãodemercadosaindanãosaturados. TodasascapitaisdospaísesenvolvidosnaguerradoParaguai, eboapartedesuasprovíncias,receberamavisitadessesprofissio- nais itinerantes vindos da Europa e dos Estados Unidos, que se anunciavampelaimprensaepartiamdepoisde“fazerapraça”. Aomesmotempoqueexecutavamseusretratos,procuravamregis- trarcostumesoulugares,paraaproveitamentofuturo,comoma- terial de gênero pitoresco, vendidas em álbuns ou foto por foto, no seu retorno aos seus países de origem. O Rio de Janeiro, embora em parâmetros mais modestos, tambémexperimentouumcrescimentonoseunúmerodefotógra- fos: 11 em 1857 e 30 em 18646 .Em1869,oprimeirocensonacio- naldaArgentinaregistrou190fotógrafosnopaís,130dosquais concentradosemBuenosAires7 .Montevideo,quelucravacomos fornecimentosparaaguerra,tambématraiuumbomnúmerode fotógrafosentre1863e1870.OParaguai,maisisolado,recebeu, entre 1846 e 1870, cerca de sete fotógrafos itinerantes: norte- americanos,franceses,italianoseingleses.Apenasumdeles,Pedro Bernadet, ao que se sabe, chegou a estabelecer estúdio em Asunción, entre 1865 e 708 . DosmuitosestúdiosatuantesnoBrasilnasegundametade doséculopassado,valedestacar,utilizando-seoslevantamentos deBórisKossoy,emSãoPaulo,odeMilitãoAugustodeAzevedo, Renouleau,CarlosHoenen;noRio,capitaldafotografianoImpé- rio,osdeJoséFerreiraGuimarães,JoaquimInsleyPacheco,Car- neiro&Gaspar,AlbertoHenschel&Cia.;emSalvador,Lindemann, Wilhelm Gaensly, João Goston; no Recife, Augusto Stahl, João FerreiraVillela,Labadie;emPortoAlegre,LuizTerragno,Virgílio Calegari,entreoutros9 . Movendo-se entre as capitais de províncias do Brasil e da Argentina,essesfotógrafos,cujotrabalhoemboapartepermane- ceanônimo,produziramconsiderávelquantidadederetratosde
  • 4. 286 autoridades,tiposhumanosutilizadosparafotografiasdegênero pitoresco(muitopróximasdaspinturasedesenhosdemesmogê- nero) como índios e negros, soldados e principalmente de ho- mensemulheresdeclassesmédiasurbanas.NaArgentina,noUru- guaienoBrasil,osestúdiosencontravam-se,emsuamaioria,nas mãosdeestrangeiros,principalmentenorte-americanos,alemães, portuguesesefranceses. Além dos retratos, no mundo inteiro, um outro gênero de fotografiasdepaisagensurbanasedanatureza,panoramas,tipose lugarespitorescos,vendidasunitariamenteouemtiragensmonta- dascomoálbunstambémtiveramgrandeaceitação.Seuformato podiaserodecarte-de-visiteouocabinetsize,umpoucomaior. Afotografiadesenvolveu-secomoatividadecomercialparticu- lar, sendo muito poucos os casos em que foi subvencionada por governantes.Oúnicotrabalhoquerecebeuapoiooficial,embora nenhumasubvenção,foinoUruguai,ondeumafirmanorte-ame- ricanateveapoioparadocumentaçãodaguerradoParaguai. Surpreendentemente, mesmo no Brasil, onde o imperador erafotógrafoamadorecolecionador,afotografiarecebeupouco apoiooficial.D.PedroIIconheciaostrabalhosdosprofissionais mais renomados estabelecidos no Rio de Janeiro ou que visita- vam a cidade. Fez-se retratar por boa parte deles. Concedeu o título “fotógrafo da Casa Imperial” a mais de duas dezenas de fotógrafosentre1851e188910 .Todasuacoleçãoparticular,inti- tulada Coleção Teresa Cristina, com mais de vinte mil fotos, foi doada,apósaproclamaçãodaRepúblicaeoexílio,àBiblioteca NacionaleaoMuseuNacionalprincipalmente. Fala-se muito no “mecenato” do Imperador11 mas, além de colecionador e entusiasta conhece-se apenas um fotógrafo que D. Pedro II teria apoiado efetivamente como “mecenas”. Entre 1857 e 1862, gastou cerca de 12 contos e 27 mil réis por um trabalhodeVictorFrond,umfrancêsquetinhaoprojetodefoto- grafar os “cantos mais longínquos do Império”. Até hoje, não se conhecenenhumoriginaldotrabalho,apenasaslitografiasfeitas apartirdasfotosqueseencontramnoálbum“BrasilPittoresco”, impressoemParis.
  • 5. 287 O CARTE-DE-VISITE VAI À GUERRA Énessequadrodecrescimentodaimportânciacomercialda fotografiaquesedeveserbuscarasorigensdotipodecobertura dadaàguerradoParaguai.Comosededuzfacilmente,amaior partedadocumentaçãofotográficadaguerraérepresentadape- losmilharesdecarte-de-visitedesoldadosageneraisfeitosentre 1864e1870.Asmelhorescoleçõesdematerialfotográficosobre aguerrasãoosálbuns,formadosdecarte-de-visitededicadosao tema,quesesalvaramnotempo. Denovembrode1864atéofinaldoanoseguinte,asdeclara- ções de guerra do Paraguai, seguidas de invasões ao Brasil e à Argentina,causaramumaondadeindignaçãonaopiniãopública dessesdoispaíses.Exigia-seumarespostamilitar.MitreeD.Pedro IIexperimentaramumefêmeromomentodegrandepopularida- de, como defensores de seus respectivos países, ameaçados por umataque“traiçoeiro”,emboraperfeitamenteesperado. Osfotógrafosaproveitavamesseclimadepatriotismoinicial que imperava nas capitais dos países que formariam a Tríplice Aliança.Empraticamentetodasascidadeshaviamuitaprocura deretratosdossoldadosquepartiamparaaguerraouquejáse encontravamemcampanha. Diversos estúdios ofereciam retratos dos governantes que formavamaAliança,oucarte-de-visitedepersonagenspolíticos oucomandantesmilitares,vendidosseparadamente.Nosjornais doBrasiledaArgentina,anunciavam-sedescontosespeciaispara retratosdesoldados. Esse clima contagiou até o severo D. Pedro II que, como muitosoutrossoldados,fez-seretrataremtrajesmilitares,“unifor- me de gala e traje de campanha”, em dois carte-de-visite feitos porLuizTerragno,em1865,provavelmenteemPortoAlegre.Pro- curandodaroexemplocomo“primeirovoluntáriodapátria”,o imperador brasileiro tentava se identificar com o cotidiano de soldados e oficiais, ao menos nos seus sinais exteriores, como vestiruniformeetirarfotografias. Aguerra,evidentemente,eraumgrandenegócioparaosfotó- grafos.Enaquelemomento,eraamelhorcoisaaparecidadesdea invenção do carte-de-visite.Oconflitoinaugurou umacompeti-
  • 6. 288 çãoferoz12 entre os fotógrafos que disputavam o enorme merca- do, representado pelos milhares de soldados. Durante todo o períododemobilizaçãodetropas,essesprofissionaisfizeramex- celentes negócios, fotografando os jovens soldados em seus fla- mantesuniformes. Aquantidadedecarte-de-visiteretratandomilitaresnomun- dointeiro,apartirde1860,foitãograndequechegouamarcar, segundoalgunsautores,osurgimentodafotografiamilitar.Nes- seaspecto,aguerradoParaguaifoiamaisfotografadadaAméri- ca,deformasimilaràguerradaSecessãonosEstadosUnidos13 . Aguerra,deresto,jáserviacomotemaàfotografiahábastante tempo. A produção de retratos e de paisagens, cenas do front e outrostemasmilitaresiniciou-seprovavelmentecomosdaguer- reótipos sobre a guerra entre México e Estados Unidos (1846- 48),prosseguindodepoiscomasguerrasSikh(1848-49)naÍndia inglesa,guerradaBirmânia(1852),guerradaCriméia(1854-56), ondeInglaterra,FrançaeTurquialutaramcontraaRússia,rebelião dosCipaiosouIndianMutinynaÍndiainglesa(1857-59)efinal- mente,aguerracivilnorte-americana(1860-65)14 .Corresponden- tesfotográficosdoTheTimesedoIllustratedLondonNewsacom- panharaminlocoasoperaçõesmilitaresdaguerradaCriméia,que teveamaiorquantidadedeimagens.Osretratos,dadaaimpossibi- lidadetécnicadeseremreproduzidospelaimprensanaépoca,eram copiadosatravésdelitografiasepublicados. Ointeressenaproduçãoedivulgaçãodematerialsobreguer- ra,emgeral,foidescobertopelosfotógrafosepelaimprensailus- tradanoBrasilemfunçãodoconflitocomoParaguai.Terminadaa guerra,osjornaiscomeçaram,imediatamente,adivulgarimagens sobreoconflitofranco-prussianoqueentãoseiniciava.Emtermos deimagens,comoseverámelhornapartededicadaàimprensa ilustrada,havianecessidadedeumaguerra,qualqueruma. OregistrodaguerradoParaguaifoidepequenointeressepara oswarcorresponsalseuropeusenorte-americanos.Apenasuma firmanorte-americanasediadaemMontevideomandoucorres- pondentespararegistraraguerra,enãosóparatirarretratoscomo todososoutrosfotografosquefizeramacampanhadoParaguai. Issonãoquerdizerquenãohaviainteresseemimagensdoconfli-
  • 7. 289 tonaEuropa.Aocontrário.Revistasfrancesas,comoL’Illustration, TourdeMonde,entreoutras,reproduziramemlitografias,entre 1864e1870,abundantematerialapartirdefotossobreaguerra.A imprensainglesaenorte-americanapublicava,desigualeespora- dicamente,litografiasfeitassobrefotos. EM TENDAS E BARRACOS: OS FOTÓGRAFOS NO “TEATRO DE OPERAÇÕES” Osfotógrafosseguiramosexércitosaliadospelosseisanosque durouoconflito,de1864e1870,noBrasil,naArgentinaeinterior doParaguai.Durantetodoessetempo,fotógrafosqueestiveramno “teatrodeoperações”militaresatuaramapartirdeUruguaiana, CorrienteseRosário,nafaseinicialdaguerra;depois,noextremo suldoterritórioparaguaio,Tuiuti,PasodaPátriaeTuiu-cuê,acampan- dojuntoaosexércitosaliados;estiveramemHumaitásitiadaeocupa- dae,finalmente,emAsunciónnaúltimafase. Devidoàitinerânciadosfotógrafoseàsdificuldadesdere- gistrodesuaspassagens,nuncasesaberáaocertoquantosequais profissionaisestiveramnaguerradoParaguai.Aidentificaçãodo materialquechegouaosnossosdiastambéméproblemática.Uma boapartedos carte-de-visitepermanececomautoriaanônima. Autoresdosmaisconhecidos,comoEstebanGarciaesuaequipe enviadosporBate&Cia.,têmdiversasatribuiçõesduvidosas. Enquantoaguerradesenrolou-senoRioGrandedoSul,até arendiçãodacolunainvasoradeEstigarríbiaemUruguaiana,em setembrode1865,muitosfotógrafosgaúchoseuruguaiosforam favorecidos pela proximidade com o front. É o caso, entre ou- tros,deLuizTerragnoqueretratouoimperadoremPortoAlegre; e, em Montevideo, de Saturnino Masoni, que editou uma série de cópias com a imagem do Gal. Venancio Flores, presidente e comandantedoexércitouruguaio. Montevideo,comoportodepassagem,recebeumilharesde soldadosdaAliançadurantetodaaguerra.OsestúdiosdeDesiderio Jouant,Chutte&BrookseBate&Ciarealizaramcentenasderetra- tos15 .Alémdisso,forammencionadosoutrosprofissionaisquetra- balharamcomoretratistasnacapitalorientalduranteaguerra,como Alfredo Vigouroux, Anselmo Fleurquin, Enrique Schikendantz, MartínezyBidart,GeorgeBateeJuanWanderWeyde.
  • 8. 290 Osfotógrafosargentinos,ouqueapartirdaArgentinafaziam seusnegócios,tambémforamfavorecidospelaproximidadecom seusestúdiosnaprimeirafasedaguerra.Éocaso,dentreoutros, emRosário,doalemãoJorgeEnriqueAlfed,eemCorrientes,de PedroBernadet16 . DepoisdarendiçãodacolunadeEstigarríbia,algunsprisionei- rosparaguaiosforamlevadosaPortoAlegreefotografadospela iniciativa de um oficial brasileiro, cujo nome se perdeu. O fotó- grafotambémédesconhecido.Umadasfotostrazalegenda:“Sol- dadoparaguaioAntonioGomes,prisioneiroemUruguaiana.Tem 21anosdeidade.NaturaldaviladeJaguarão,noParaguai.Man- dei tirar este retrato em Porto Alegre, em 27 de abril de 1867”. Comoarendiçãoparaguaiaocorreuem18desetembrode1865, este e os outros que compõem uma série de aproximadamente seisretratosdeprisioneiros,atualmentenaBibliotecaNacional noRiodeJaneiro,esperaramsetemesesparaseremfeitos. Oretratodeprisioneirosparaguaiosparecetersetornado práticacomumentreosretratistasqueatuaramaoladodastro- pasdaaliança.Diversosprofissionais,todosanônimos,retrata- vamoficiaisesoldadosparaguaios,vendendoasfotosemforma- to carte-de-visite. ApósaderrotadosaliadosemCurupaití,emsetembrode1866, aguerrasofreuumaparada,emqueosaliadostrocaramseusco- mandantesereorganizaramseuexército.Asoperaçõesmilitares decisivassóseriamretomadasapartirdesetembrode1867.Esse período,emqueosaliadospermaneceramestacionadosemTuiutí, representouumaverdadeirabençãoparaosfotógrafos:erammi- lharesdepotenciaisclientesacantonados.Foigrandeaprodução nesseperíodo.Centenasdecarte-de-visite retratamossoldados aliados,comoacampamentocomofundo.Ocotidianodogrande exércitoimobilizadofoiregistradopordiversosfotógrafosanôni- mos:aruadocomércio,umaprocissãonoacampamento,aguar- dadogeneralCaxias,soldadosaoredordofogoetc. Outrasfotos,comoaquelevaalegenda“officiaesbrasileiros, devoltadeumadescoberta”,apesardeevidentementearranjadas, sãoumatentativadesechegarpertodaaçãonofront,aoretratar homensqueretornamdeumapatrulhajuntoàslinhasinimigas.
  • 9. 291 Após a conquista de Humaitá, em julho de 1868, a guerra mudouseu curso:umasériedevitóriasaliadasfoi oprenúncio dofimdoconflito.CarlosCesar,fotógrafodoRiodeJaneiro,esteve emHumaitáocupadanesseano,fazendoretratosdeexteriore interiordaigrejadestruídanaantigafortalezaparaguaiaenoacam- pamentobrasileiroemTuiu-cuê,fotografandooficiaisbrasileiros emsuasbarracaseranchos. Ascriançasparaguaias,quedisfarçadasdesoldadoscombar- bapostiçaeriflesdemadeiralutaramnaúltimafasedaguerra, também foram retratadas. No Museu Histórico de Buenos Aires conservam-seasduasfotografiasemformatocarte-de-visiteque mostramcorposlaceradosdemeninos,aoquetudoindicainfan- tessobreviventesdasbatalhasdeLomasValentinaseAcostañu. Cuarterolo afirmaquesetratadoúnicoexemploque sobrevive dousodaimagemcomo“instrumentopolítico”duranteaguerra doParaguai17 .Issodevidoaoempregoquefoidadoaosretratos, utilizados como “prova” de que o regime de López não tinha o menorescrúpuloemsacrificarqualquerhabitantedoParaguai parasemanternopoder. Nofinal,numaAsunciónocupada,apareceuuminglêsradica- doemMontevideo,JohnFitzpatrick,querealizoufotografiasda cidade,dosprisioneirosetc.Numerosasvistasdacidadeforam tambémproduzidasporfotógrafosanônimos,mostrandoaesta- çãodetrens,acatedraletc. Apartirde1869eaté1870,apareceumasériedefotostoma- dasnoParaguai,deautoriaanônima,quemostravaopaísderrota- do e os sinais do afastamento de López do poder: o palácio de Lópezocupadopelainfantariabrasileiraecomumatorreamenos, efeitodosbombardeiosdaesquadraimperial,apropriedaderural demadameLynchemPatiño-Cuecercadadetendasdoexército brasileiro,festasecomemoraçõesdemilitares,trincheirasaliadas etropasbrasileirasemmanobraspróximasàcapitalparaguaia. OfrancêsPedroBernadet,quetambémtrabalhouemCorrientes, realizou,emAsunción,umasériedefotosdomarechalLópez,de seufilhoPanchito,demadameLyncheoutrospersonagensentre 1865e187018 .UmaconhecidafotodeFranciscoLópez,taciturno, poucotempoantesdesuamorte,tambémfoidesuaautoria.
  • 10. 292 ESTEBAN GARCIA: FOTÓGRAFO DE BATE & CIA. AdocumentaçãofotográficadaguerradoParaguai,apesardo volumederetratosproduzidos,ficoumarcadapelainiciativado estúdioefirmaBate&Cia.deMontevideo,quemandouEsteban Garcia,umtécnicouruguaio,paraproduzirumasériedefotografias sobreoconflitoentreabrilesetembrode1866. ChegadosaoPrataem1859,osnorte-americanosBateestabe- leceram-se como fotógrafos em Montevideo em junho de 1861. O estúdio era de propriedade de George Thomas Bate e seu ir- mão,doqualnãoseconheceoprenome.Aempresatinhasucur- saisemLondreseemLaHavana,aoquetudoindicaacargodo irmãodeGeorgeBate,queretornouàInglaterraem186119 . No final de 1864 e início do ano seguinte, os fotógrafos de Bate&Cia.registraramobombardeiodePaisandu,cidadeuru- guaiaqueresistiaàsforçasdeFlores,apoiadoporbrasileirose argentinos.Seisimagensforameditadascomotítulo“Paysandú, 2 de enero de 1865” e postas à venda. O “Álbum de Paysandú”, noArquivoHistóricodelaArmadaArgentina,trazestasfotografi- aseoutrasreferentesaoepisódio20 . Alémdessaexperiência,certamenteosirmãosBateconheci- amotrabalhodosfotógrafosbritânicosnaguerradaCriméiae deMathewBradyesuaequipenaguerradeSecessão.Em1865, Wander Weyde passou a ser o proprietário de Bate & Cia., que continuoumantendoonomedosantigosproprietários. FoiWanderWeyde,umquímicobelga,quemrealizouasges- tõesjuntoaogovernouruguaioparaobtençãodesalvo-conduto a fim de que seus fotógrafos pudessem presenciar as operações dosudesteparaguaio.Apesardenãotercaráteroficial,aexpedi- çãocontoucomauxíliodetransportedasautoridades,obtendo, inclusive,aexclusividadedecomercializaçãodasfotosatéseis mesesdepoisdefinalizadaaguerra. Emboraaempresafosse,naépoca,propriedadedeWeyde,foi inegávelaparticipaçãodosBatenoprojetodefazerumregistroda guerra.EstebanGarcia,omaishábilprofissionaldafirma,chefiava ostrabalhos,realizadosentremaioesetembrode1866,dezesseis mesesdepoisdePaisandu21 .Naverdade,operíodoemqueGarcia estevenaguerraéalgonebuloso.Diversasfotografiasquelhefo-
  • 11. 293 ramatribuídastêmdatasposterioresaesseperíodo.Éocasoda foto que registra a saída do comboio do Marquês de Caxias de Tuiu-cuê,ondeosaliadossóchegariamemjulhode1867. Garciadeixouregistradaacruezadavidadetrincheira:ossol- dadoseoficiaisuruguaios,brasileiroseargentinos,hospitaise missas,prisioneirosparaguaios,bateriasdeartilharia,ofrontcom aslinhasinimigasaofundo,cadáveresparaguaiosabandonados etc.ValemençãoespecialumafotodaLegiãoparaguaia,formada porFloreseintegradaporparaguaiosadversáriosdeLópez. Também dedicou atenção especial às paisagens que servi- ram de palco para os combates, como as ruínas da tomada de Itapiru(18deabrilde1866)oudabatalhadoSauce,ouBoqueirão (18 de julho de 1866). Garciaconseguiutambémoprimeiro“instantâneo”daguer- ra,aoretratarocoroneluruguaioLeónPallejanoexatoinstante que,feridomortalmentenabatalhadoBoqueirão,foilevadonuma macaparaaretaguarda.Soldadosnegrosdobatalhãouruguaio Floridaapresentamarmasaorespeitadooficial,umdosmelho- rescronistasdaprimeirafasedaguerra. Mas a foto mais impressionante do conjunto, e de toda a guerratalvez,éaqueseintitula“montóndecadáveresparaguayos” equeretratouprecisamentecorposressecadosdesoldadosmal cobertosporpanos,provavelmentevítimasinsepultasdoscomba- tes de 24 de maio de 1866. Esta foto e a que mostra as crianças paraguaias sobreviventes dos combates de Lomas Valentinas e Acosta-ñu, de autoria desconhecida, são, sem dúvida, os regis- trosfotográficosmaisdramáticosdaviolênciadaguerra. Garciatrabalhavacomgrandesnegativosdecolódioúmido sobreplacadevidrode20por14cm,emprecárioslaboratórios montadosemtendasdecampanha.Acampavajuntoàstropasuru- guaias.Aocontráriodeseuscolegas,nãoparecetertiradoretratos desoldados,dedicando-seexclusivamenteàs“vistasdaguerra”. Nofinalde1866,aprimeirasériededezfotografiasfoiposta àvenda,emcópiasnotamanhooriginaldonegativo.Aoquetudo indica, o empreendimento não teve muito êxito. Depois de Curupaiti (22 de setembro de 1866) e da morte de milhares de jovensnastrincheirasparaguaias,“aguerraseconverteuemum
  • 12. 294 assuntoimpopularparaasociedaderioplatense”22 .Seasfotosnão venderamcomooesperado,pelomenospareceteremsidorepro- duzidasemvolumeconsiderável,inclusiveemformatocarte-de- visite,atémuitotempodepoisdavendadoestúdio. Rarascoleçõesparticularesdaépocanãotrazempelomenos uma das fotos tiradas por Bate & Cia. As coleções pessoais de Mitre e de D. D. Pedro II, por exemplo, não são exceções. A últi- mapossuioálbum“LaguerracontraelParaguay.Bate&Cia.W, Montevideo”, com 12 fotos. Em fevereiro de 1867, Weyde anunciou a venda do estúdio. O novo proprietário, de posse dos negativos do Paraguai e Paisandu,anunciouumanovacoleçãode21vistasdaguerra.Os atoresmudavam,osnegóciosprosseguem. O FOTÓGRAFO NO ACAMPAMENTO Anovidadeparaosfotógrafositinerantesenvolvidosnacober- turadaguerra,era,digamos,asituaçãodecampo.Acostumados àscondiçõesdevidaemcidades,tiveramquesetransportareao seuequipamentoemcarrosdeboipormilharesdequilômetros atéosacampamentosdastropas,ondeseacomodavamcomopo- diamemtendasouemdesmanteladosbarracosdepalha,meio cobertosporlonas.Umalitografia,feitasobrefotografia,epubli- cada na Vida Fluminense em 1866, dá uma imagem das duras condiçõesdevidadosfotógrafosnopobreranchodescritocomo “EstabelecimentodeErdmann&Catermole”,nailhaSerrito. Osprofissionaisdoscarte-de-visiteestabeleciam-sepróximos às“ruasdoComércio”,existentenosacampamentosdastropasda Aliançadurantequasetodaaguerra.Recebiamaclientelaemseus precáriosestúdiosouindoatésuastendasebarracas.Àsfotosfei- tasemestúdio,comcortinascomdesenhos geométricosgregas, colunasebalaustradasgreco-romanas,agorasesomavamaquelas feitascomfundonaturaledeinspiraçãoguerreira:tendas,foguei- ras,sarilhos,espadaspenduradas,enfim,oacampamentoesuas rústicascondições.Outrosfotógrafos,comoosenviadosporBate & Cia. de Montevideo em 1866, montaram sua tenda em pleno acampamentodetropasemTuiuti,juntoaumpostodeobserva- çãoelevado,mangrullo.
  • 13. 295 Se,paraprofissionaisbrasileirosouqueatuavamnoBrasil,a situaçãodefotografarnumaguerraeraumanovidade,omesmo nãopodeserditodosargentinos.Existia,naArgentina,umatradi- çãoderegistrosfotográficosdeconflitosinternos,anterioràguerra doParaguai23 .De1853a1862,durantealutadosestadosargentinos (comosFederalistasdaConfederaçãoArgentina,comcapitalnacida- dedeParaná,disputandoocontroledanaçãocomosUnitáriosdo EstadodeBuenosAires,sediadosnacidadedemesmonome),da- guerreotipistasefotógrafosregistraramcontinuamenteretratosde caudilhos,montonerosinsurretoseexércitosregulares. AsprimeirasfotografiastomadasemBuenosAiresjápodiam serconsideradasfotografiasmilitares,vistoqueumadelasmos- traoexércitodeUrquizaentrandonacidadeapósaderrotade Rosaseoutraéoretratodovencedor24 .Oformatocarte-de-visite veioacentuaraproduçãoderetratosmilitares,masnãofundouo gênero, como no Brasil. Alémdesaíremdoestúdiodascidadesedesetransportarem paraosacampamentosmilitares,osfotógrafosdaguerrasoube- ramincorporarnovidadesnacomposiçãodeseustrabalhos,que ganhavamemrealismo,deixandodeserapenas“retratos”.Atéo maisprosaico carte-de-visitepassava,porforçadomomento,a adquirirsignificadoespecialcomoumdocumentohistórico. OS RETRATOS DA GUERRA Até a guerra do Paraguai, nunca se tinha visto imagens de tropasdoBrasilcombatendo,muitomenosnoexterior.NaArgen- tinaenoUruguaijáseconheciamdaguerreótiposefotografias de episódios militares da conturbada vida política desses dois paísesentreasdécadasde1840a1860.Opúblicodessespaíses podia ver, por meio das fotografias, não só as tropas nacionais mastambémo“inimigo”. Mesmoexplorandogênerosetemasdefotografiasjáconsoli- dados, como retratos e paisagens sobre temas militares, o con- juntodematerialproduzidoapresentasignificativasdiferenças emrelaçãoàproduçãoanterioroudostemposdepaz.Qualquer quefosseoassunto,aguerracomoquetransformouaqualidade domaterialproduzido.
  • 14. 296 Astentativas,aindaquehojenospareçamprecárias,desecap- tar a ação nas linhas de combate são significativas. As fotos de “officiaesbrasileiros,devoltadeumadescoberta”,deumoficial argentino,pretensamenteemcombateearmadodesabreerevól- ver,ouoretratodamortedocoronelPallejasãotentativasdefazer oregistrofotográficoganharagilidade,escapandodaprevisibilidade eimobilidadedoestúdio. Osfotógrafosabandonaramumacertarigideznacomposição dasfotosemambientesfechadosepassaram,dadasascondições,a fazerretratosemcampoaberto,emmeioatendas,bateriasdeca- nhões,cadáveres,barracasesoldados.Muitasfotos,infelizmente anônimas,fizeramdocotidianodoacampamentoguerreirooseu fundo. Temos fotos que, ao contrário do que era feito na época, cultivavamumarealidadesemretoques,comospersonagensem situaçõesapresentadascomoespontâneas,nãoemposesrígidas. Paraafotografiadaépoca,cujoenquadramentoecomposi- çãoeramregidospelalógicadecomposiçãodapinturaacadêmi- ca,aquiloeraumamudança.Nãoeraumaalteraçãonopanora- mainternacionaldafotografia,umavezquetrabalhoscomoode MathewBradysobreaguerracivilnorte-americanajátraziammui- tasdessas“novidades”.Eraumainovação,noentanto,notipode fotografiaquesefazianoconesulnasdécadasde1850e60. Emtermosformais,aguerradoParaguaiarejouascomposi- çõesdasfotosmasoassuntotornou-asmaispesadas,mais“históri- cas”.Dequalquerforma,osprofissionaisenvolvidos,pelascondi- çõesepeloassunto,foramforçadosaadotarsoluçõesoriginais paraumasituaçãonova,queamaioriadelesnuncahaviafotografa- do: retratar civis em trajes domingueiros num estúdio era bem diferentederetratarsoldadosnocampodebatalha. Asparticularidadesdoacompanhamentodaguerrafaziam osfotógrafos,principalmenteosqueatuavampróximosaofront, arepensaremalgunsdosfundamentosdoofício:comotrabalhar comoinstávelcolódionocaloreumidade,comofazeracomposi- çãodasfotosforadoestúdio,comofazerretratos“naturais”de soldados e paisagens, como fotografar novas poses e assuntos pedidos pelos próprios soldados etc.
  • 15. 297 Mesmoossimplesretratosganhavamdramaticidade.Muitos dosretratados,amaioriaoficiaisquepodiampagarparaterem suaimagemimortalizada,morriampoucotempodepoisemcom- bate ou por doenças. A imprensa ilustrada, principalmente no BrasilemenosnaArgentinaenoUruguai,reproduzialitografias dosbravosquemorriambaseadosemcópiasdecarte-de-visite. Os heróis agora tinham um rosto e os mortos deixavam de ser anônimos.Aindividualizaçãodasvítimasdaguerrafaziaseuscus- toshumanospareceremmaiores. Afotoganhavaimportância,enfim,comoúltimaimagemdos muitosquenãovoltaram.Oscarte-de-visitetransformaram-seem testemunhos de que aquelas pessoas, tão comuns, conviveram, no entanto, com algo extraordinário. Seu valor como objeto de afetoedocumentohistóricomuda,secomparadoaosrealizados em tempo de paz. Osretratostransformaram-seemalgonovo.Asfotosdeprisio- neirosparaguaios,feitasemPortoAlegreemencionadasatrás,são umexemplodisso.Avisãodo“inimigo”,subitamentetransforma- doemserhumano,tocavaatéosmaisdurosdefensoresdaguerra. Ocarte-de-visitetransforma-seemdocumentohistórico,emteste- munhoedenúncia.Comonestecaso,muitosdosoutrosregistros, deretratosapaisagens,feitosporevidenteinteressecomercial, tornaram-se,involuntariamente,documentosdecríticadaguerra. Isso porque, ao mesmo tempo que registravam o heroísmo doscombatentes,registravamtambémoacampamentomambem- be, a precariedade dos exércitos, os homens desmazelados, os milhares de mortos, a miséria, enfim, de todos os contendores. Avisãocríticatrazidapelosregistrosfotográficoseaimpopu- laridade do conflito devido ao número de baixas, ausência de vitóriaseoiníciodosrecrutamentoscompulsórios,jáapartirde setembrode1865,ajudamaexplicaropoucosucessodeedições defotosexclusivamentededicadasàguerra,comodeBate&Cia. Jábastavamasnotíciastextuaisdoconflitointerminável. Asimagensdaguerranãopermitiamufanismo,mesmoasde sua fase inicial. Vendo o inimigo prisioneiro, ou em pilhas de cadáveres, só se conseguia sentir pena. Longe de emularem os espíritosguerreiros,asfotosfaziamdesejarapaz.
  • 16. 298 Asfotosdoconflitotambéminauguraramapossibilidadede suautilizaçãocomopropagandadeguerra.Osregistrosdaguer- radoParaguai,mesmoaquelesqueforamutilizadosempropa- gandaanti-López,iammuitoalémdosseusfinsideológicosime- diatos.Denunciavamaestupidezdaguerra. Nãosedevesubestimaraimportânciadoregistrofotográfi- co,emformatocarte-de-visiteoupormeiodesuacópiaepublica- çãoemlitografiaspelaimprensadaépoca,naformaçãodeuma opiniãopúblicacontráriaàcontinuidadedoconflitonospaíses daAliança,apenasumanodepoisdeseuinício. Acruezadoassunto,emresumo,fezcomquegênerosdefo- tografiasjáconhecidos,comoretratosepaisagens,setransformas- sememalgonovo.Aguerra“arejou”afotografiaemtermosformais, dando-lheliberdadedecomposiçãoeescolhadeassuntosnovos. Aotrazerafotografiaparaocampodonoticiário,fezcomquedeixasse decircularapenascomoprovadeafetoentrepessoas. AguerradoParaguaiestabeleceuaimportânciadautilização jornalística da fotografia de guerra, mesmo por intermédio de cópias, em litografias, dos originais, no Brasil, na Argentina e, numgraumenor,noUruguai.Aimprensailustrada,agravuraea pinturadevemmuitoàfotografiadoperíodo,utilizadaporquase todos os autores do período como referência. Masafotografiatambémdesenvolveuumalinguagempró- pria,pormeiodosálbuns,baseadanaagilidadedoregistroede suarentabilidadecomercial.Enquantoassunto,deixoudeseruma coisafamiliareprivadaetransformou-seemcoisadeinteresse público.Aguerra,semdúvida,ampliouoslimitesdeproduçãoe consumodafotografianoconesul. AguerradoParaguaicomaTrípliceAliançaocorreucontem- poraneamenteàdescobertadeprocessostécnicosquepermitiram, noperíodo,umaofertadeimagensatéentãoinédita,pormeioda imprensailustradaedagravura,dapinturaedafotografia. Resultado de projetos nacionalistas oficiais e do próspero mercadodeimagens,aiconografiadaguerradoParaguainão inovouapenasemtrazeraguerraparajuntodaopiniãopública. Arentabilidadecomercialdoassuntoinaugurouacoberturavi- sualdeconflitos,aomesmotempoquelançoueviabilizouastéc-
  • 17. 299 nicas,afotografiaealitografia,quepossibilitariamsuacontinuida- de.Apintura,apesardasaltastaxasdevisitaçãodasexposições, estevelongedepoderacompanhararapidezcomqueseproduziam imagensemestúdiosfotográficosouemredaçõesdejornais.Tor- nava-seimpossível,aosgovernos,evitara“subversãoimagística” trazidapelafotografiaepelaimprensailustrada.Agora,asocieda- detinhaoutrasimagensparacontraporàiconografia“oficial”. Diante da massa desordenada de informações e de novos assuntostrazidospelafotografia,aspinturasacadêmicastransfor- maram-seemalegoriasdestinadasaprédioserepartiçõespúbli- cas.Nãoestiveramaoalcancedopúblicoduranteaguerraanão seremexposiçõesnacorteeemfeirasinternacionais. Talvezamaiorherançadeixadaporessa“febredeimagens” do período foi, primeiramente, esta possibilidade do seu uso jornalístico,ocorridasimultaneamentecomumacerta“laicização”, nosentidodasuamaiorindependênciaemrelaçãoàsrepresenta- çõesquaseoficiaisdapátria.Nãoeramsóosgovernos,afinal,os responsáveispelaformulaçãodoqueseriamascaracterísticasna- cionaisdessespaíses. ApinturaacadêmicasubvencionadapeloEstadoperdeusua hegemoniadeumaformabrusca,comoformaderepresentação danação.Extratosmédiosdapopulaçãourbana,tecnicamente qualificadosepoliticamenteexcluídos,buscavam,comonocaso brasileiro,formasderepresentatividadeecidadanianumpaísreal, longedasidealizaçõesclassicistasouromânticas.O“realismo” pretendidopelafotografiacombinavacomatarefadelevantar, cientificamente,osproblemasnacionaisaquepretendiaopensa- mentoprogressistadaépoca. NOTAS 1 KOSSOY,Bóris.OrigenseexpansãodafotografianoBrasil.SéculoXIX.Funarte, Rio de Janeiro, 1980, p. 29. 2 VASQUEZ,Pedro.D.D.PedroIIeaFotografia.RiodeJaneiro,FundaçãoRoberto MarinhoeCompanhiaInternacionaldeSeguros/EditoraIndexImprinta,Rio de Janeiro, 1986, p. 19. VASQUEZ, Pedro. “A Fotografia no Brasil do século dezenove-doParáaSãoPaulo”.InAFotografianoBrasildoséculoXIX.São Paulo,PinacotecadoEstadodeSãoPaulo,1993.
  • 18. 300 3 SONTAG, Susan Apud Amaral, Aracy Abreu. “Aspectos da comunicação visual numacoleçãoderetratos”.InMOURA,CarlosEugênioMarcondesde(org.). Retratos quase inocentes. São Paulo, Ed. Nobel, 1983, p.118. 4 KOSSOY. op. cit. p. 42. 5 Idem. p. 38 e VASQUEZ. op. cit., p. 20. 6 KOSSOY. op. cit., p. 38 e VASQUEZ. op. cit., p. 20. 7 Cuarterolo,MiguelAngel.“UnaGuerraenelLienzo-Lafotografiaysuinfluenciaen laiconografíadelaGuerradelParaguay”.InElArteentreloPúblicoyloPrivado. VIJornadasdeTeoríaeHistoriadelasArtes.BuenosAires,1995,p.95.CASABALIE, AmadoBecquereCUARTEROLO,MiguelAngel.ImágenesdelriodelaPlata. Crónicadelafotografiarioplatense.EditorialdelFotografo,BuenosAires,1985. 8 GESUALDO, Vicente. Historia de la Fotografia en America. Desde Alaska hasta Tierra del Fuego en siglo XIX. Cap. Paraguay. Buenos Aires, Editorial Sui Generis, 1990, p. 234. 9 KOSSOY. op. cit. 10 FERREIRADEANDRADE,JoaquimMarçal.“AColeçãodoImperador”.InBiblio- teca Nacional, AColeçãodoImperador:fotografiabrasileiraeestrangeira no século XIX (catálogo). Biblioteca Nacional e Centro Cultural Banco do Brasil,RiodeJaneiro,1997,p.02. 11 Idem e VASQUEZ, op. cit. 12 CUARTEROLO. op. cit., p. 98. 13 LUQUI-LAGLEYZE,JulioM.“Uniformologíayfotografiaantigua:unafelizalianza recíproca”.InIIo.CongresodeHistoriadelaFotografia.OrganizadoporelComite EjecutivoPermanentedeCongresosdeHistoriadelaFotografiaenlaArgentina conelauspiciodelaFederacionArgentinadeFotografiaF.A.F.yelCirculoMedi- codeVicenteLopez.Ed.MundoTécnicoS.R.L.,BuenosAires,1994,p.150. 14 LUQUI-LAGLEYZE. op. cit., p. 150. 15 CUARTEROLO, Miguel Angel. “Iconografía de Guerra- Fotografías de la Triple Alianza 1865- 1870”. In Memoria Io. Congreso de Historia de la Fotografia. 23-24mayo1992.Florida-Pcia.BuenosAires,p.57. 16 CUATEROLO. op. cit., p. 95. 17 CUARTEROLO. op. cit., p. 58. 18 GESUALDO. op. cit., p. 234. 19 CUARTEROLO. op. cit., p. 55. 20 LUQUI-LAGLEYZE, Julio M. e LUX-WURM, Mirta S. Larrandart de.El álbun del bombardeodePaysandúdelacoleccióndelComodoroD.JoséMurature(1864- 1865),CongresodeHistoriadelaFotografia.OrganizadoporelComiteEjecutivo PermanentedeCongresosdeHistoriadelaFotografiaenlaArgentinaconel auspiciodelaFederacionArgentinadeFotografiaF.A.F.yelCirculoMedicode Vicente Lopez. Ed. Mundo Técnico S.R.L., Buenos Aires, 1994, p.129. 21 CUARTEROLO. op. cit., p. 55. 22 CUARTEROLO. op. cit., p. 97. 23 LUQUI-LAGLEYZE. El álbun..., Uniformologia..., op. cit., p. 150. 24 Idem. Artigo recebido em 08/98 e aprovado em 06/99.
  • 19. 301 1.Litografia de Daumier inBoulevard nº 06 de 25/ 05/1862 2. Autor desc. (circa 1860): carte-de-visite com retrato em albúmem deFranciscoS. López. IHGB RJ.
  • 20. 302 3. Autordesc.(1867):carte-de-visitecom retratodoparaguaioAntonioGomes.Bi- bliotecaNacionalRiodeJaneiro. 4.Autor desc. (circa 1867): dois cartes-de visite mostran- dosoldadoeoficialparaguaioscapturadosporoficiaisbra- sileiroeargentinorespectivamente.BibliotecaNacionalRio deJaneiro.
  • 21. 303 5.Autor desc. (circa 1867): procissão no acampamento em TuiutíBibliotecaNaci- onalRiodeJaneiro.
  • 23. 305 7.Autor desc. (circa1869):pa- lácio dos López ocupadoportro- pas brasileiras. BibliotecaNacio- nalRiodeJanei- ro.
  • 25. 307 9. Esteban Garcia (1866): montón de ca- dáveres para- guayos. Biblio- teca Nacional Montevideo.
  • 27. 309 11.Esteban Garcia (1866): tenda da equipe de fotógra- fos de Bate & Cia. Junto a um posto deobservaçãomili- tar.BibliotecaNaci- onalMontevideo.
  • 28. 310