1) O documento discute duas grandes ameaças à humanidade: a crise econômica global e a degradação ambiental do planeta.
2) A crise econômica pode levar a uma nova guerra mundial, enquanto a exploração insustentável de recursos naturais já ameaça a sobrevivência humana.
3) O autor defende a implantação de uma sociedade e governo mundial sustentáveis como forma de superar essas ameaças e construir a paz global.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Sociedade global sustentável e governo mundial requisitos para a paz mundial
1. 1
SOCIEDADE SUSTENTÁVEL E GOVERNO MUNDIAL: REQUISITOS PARA
A PAZ MUNDIAL
Fernando Alcoforado
O mundo se defronta com duas grandes ameaças. Uma delas, de natureza econômica,
diz respeito à crise geral do sistema capitalista mundial que tende a conduzir a economia
global à depressão com a falência dos governos, a quebradeira de empresas, o
desemprego em massa e até mesmo uma nova conflagração mundial. Outra ameaça, de
natureza ambiental, é representada pelo aumento desmesurado da população planetária,
pela exaustão dos recursos naturais do planeta, pela escassez da água, pelo crescimento
desordenado das cidades e pela catastrófica mudança climática global durante o século
XXI que tende a produzir graves repercussões sobre as atividades econômicas e o
agravamento dos problemas sociais da humanidade com a geração de conflitos internos
e internacionais.
Sobre a ameaça de natureza econômica, pode-se afirmar que a crise atual é pior do que a
de 1929-1933, porque é absolutamente global. O sistema financeiro internacional já não
funciona mais. Segundo Hobsbawn, para haver uma mudança no sentido de uma nova
economia mundial, será preciso muito tempo. A crise econômica mundial que se
instalou em 1929 só terminou com a eclosão da 2ª Guerra Mundial. Na atualidade, a
humanidade terá que enfrentar uma nova conflagração mundial para salvar o sistema
capitalista mundial? A depressão atual pode levar, segundo Hobsbawn, a um novo
sistema mundial. Há que se redesenhar tudo em direção ao futuro (HOBSBAWN, Eric.
En la tercera crisis. Entrevista a Eric J. Hobsbawn. Revista “El Viejo Topo”
disponível no website <www.elviejotopo.com>, 2009).
Sobre a ameaça de natureza ambiental, um dos seus problemas fundamentais diz
respeito à exaustão dos recursos naturais do planeta que resultou do crescimento
desmesurado da população mundial que aumentou, de 1800 a 2010, sete vezes (de 1
bilhão para 7 bilhões de habitantes) e do crescimento exponencial do PIB mundial que
cresceu 112 vezes de 1750 a 2010. Se a escalada da demanda de recursos naturais
continuar no ritmo atual, em 2030, com uma população planetária estimada em 8,3
bilhões de pessoas, serão necessárias duas Terras para satisfazê-la. Um fato indiscutível
é o de que a humanidade já consome mais recursos naturais do que o planeta é capaz de
repor.
O ritmo atual de consumo dos recursos naturais do planeta é uma ameaça para a
prosperidade futura da humanidade. Nos últimos 45 anos, a demanda mundial pelos
recursos naturais dobrou, devido à elevação do padrão de vida nos países ricos e
emergentes e ao aumento da população mundial. Hoje a humanidade utiliza 50% da
água doce do planeta. Em 40 anos utilizará 80%. A distribuição geográfica da água doce
é desigual. Atualmente 1/3 da população mundial vive em regiões onde ela é escassa. A
escassez de água poderá ser uma das principais fontes de conflitos do século XXI. Sua
escassez em um grande número de países, principalmente na África e no Oriente Médio,
poderá ser a principal causa de conflitos econômicos e até militares (VEJA.COM. Cai
do Céu, mas pode faltar. Disponível no website
<http://veja.abril.com.br/300108/p_086.shtml>).
A competição por recursos minerais como o petróleo é, atualmente, a maior fonte
potencial de conflitos mundiais. O crescimento da demanda por petróleo vai superar a
oferta global em 2020 ou 2025, apontando que o mundo vive "o crepúsculo do
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petróleo", isto é, um momento de transição entre a abundância e a escassez. A disputa
por recursos minerais, sobretudo pelo petróleo que ainda resta, levará a um estado de
guerra permanente, caracterizada pela presença de grandes potências em suas regiões
produtoras. (BRAFMAN, Luciana. Disputa por petróleo leva a estado de guerra
permanente. Disponível no web site
<http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1710200520.htm>).
Outro grande problema a afetar o futuro da humanidade diz respeito ao crescimento
desordenado das cidades que se tornaram o principal habitat da humanidade. Pela
primeira vez na história da humanidade, mais da metade da população está vivendo em
cidades. Esse número, 3,3 bilhões de pessoas, deve ultrapassar a marca dos 5 bilhões em
2030. No começo do século XX a população urbana não ultrapassava 220 milhões de
pessoas. Grande parte dos problemas ambientais globais tem origem nas cidades o que
faz com que dificilmente se possa atingir a sustentabilidade ao nível global sem torná-
las sustentáveis (BEAUJEU-GARNIER. J. Geografia Urbana. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 1980).
A crescente ampliação das áreas urbanas tem contribuído para o crescimento de
impactos ambientais negativos. Ressalte-se que 70% do dióxido de carbono expelido na
atmosfera são provenientes das concentrações urbanas, e por isso a discussão sobre
modelos de cidades sustentáveis é um dos temas centrais para combater as mudanças
climáticas. Em 2010, a atividade urbana foi responsável pela emissão de 25 bilhões de
toneladas métricas de CO2 na atmosfera, comparado a 15 bilhões em 1990. Se não
houver alterações nesses padrões, esse índice será de 36,5 bilhões em 2030.
Outro gigantesco problema para a humanidade diz respeito à mudança climática global
que deverá acontecer em consequência do aquecimento global que resulta do efeito
estufa provocado pela retenção de calor na baixa atmosfera da Terra causada pela
concentração de gases de diversos tipos. É em função deste fenômeno natural, o efeito
estufa, que temos uma temperatura média da Terra na faixa de 15 ºC. Se nada for feito
até 2030 para reverter o aquecimento global, a temperatura média do planeta Terra
deverá evoluir de 15 ºC para 19 ºC com suas consequências catastróficas do ponto de
vista climático como o degelo dos polos e das cordilheiras, a elevação do nível dos
mares e a multiplicação de furações, entre outras.
Com o modelo atual de desenvolvimento não há como superar a crise econômica
mundial que tende a levar o mundo a uma nova conflagração mundial, bem como evitar
a degradação do meio ambiente do planeta que tende a gerar conflitos internos e
internacionais. Para superar este problema, é preciso adotar um novo modelo econômico
que concilie as exigências do desenvolvimento com as do meio ambiente. As duas
ameaças, econômica e ambiental, tendem a produzir uma verdadeira crise de
humanidade que faz com que se torne um imperativo a construção em todo o planeta de
uma sociedade sustentável diferente da atual em que todos os países atuem de forma
interdependente e racionalmente com objetivos comuns em escala planetária sem a qual
poderá ser colocado em xeque a sobrevivência dos seres humanos e da vida na Terra.
É por tudo isto que se torna um imperativo a implantação de uma sociedade sustentável
em escala mundial que é aquela que satisfaz as necessidades da geração atual sem
diminuir as possibilidades das gerações futuras de satisfazer as delas e, desta forma,
contribuir para a construção da paz mundial. Como construir uma sociedade sustentável
global? A nova Sociedade Sustentável Global poderá nascer com base na pressão da
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comunidade internacional devido à sua imperiosa necessidade ou, então, virá após
catástrofes que possam vir a ocorrer nos ambientes econômico, social e ecológico
mundial e com as guerras em cascata que poderão crescer no futuro, se nada for feito.
A nova Sociedade Sustentável Global deve ser capaz de regular a economia mundial e
as relações internacionais baseadas em um Contrato Social Planetário visando promover
a prosperidade econômica global com base no modelo de desenvolvimento sustentável
em benefício de todos os seres humanos. Este Contrato Social Planetário deveria
resultar da vontade da Assembleia geral da ONU que se constituiria no novo Parlamento
Mundial que elegeria um Governo Mundial representativo da vontade de todos os povos
do mundo. Com um Governo Mundial, será possível combater a guerra e acabar com o
banho de sangue que tem caracterizado a história da humanidade ao longo da história.
Nessas circunstâncias, todos os países do mundo teriam suas soberanias compartilhadas
entre si através do parlamento e governo mundial.
*Fernando Alcoforado, 73, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional
pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico,
planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos
livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem
Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000),
Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the
Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e
combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e
Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre
outros.S