1) Os movimentos de massa no Brasil continuam apesar da redução das tarifas de transporte e querem avançar em reivindicações econômicas, políticas e sociais. 2) O Brasil vive uma situação pré-revolucionária com o povo não aceitando mais ser governado como antes. 3) Os movimentos de massa podem se dissipar sem vitórias maiores devido à falta de objetivos claros e à repressão, enquanto o governo fica enfraquecido.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Ocaso poder político e lideranças Brasil
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O OCASO DOS PARTIDOS, DAS LIDERANÇAS POLÍTICAS TRADICIONAIS
E DO PODER POLÍTICO NO BRASIL
Fernando Alcoforado*
Os movimentos de massa não refluíram no Brasil mesmo após a decisão dos governos
de rever o valor das tarifas de transporte. Este fato demonstra que os movimentos de
massa em várias cidades do Brasil querem avançar nas suas reivindicações
incorporando objetivos de natureza econômica, política e social. Dos acontecimentos
que abalam a nação no momento, pode-se extrair a conclusão de que “os de baixo” na
escala social não aceitam mais ser governados como antes e “os de cima” não podem
governar mais como sempre governaram no Brasil ao longo de sua história. Nestas
circunstâncias, pode-se afirmar que O Brasil vive uma situação pré-revolucionária.
Tudo o que vem acontecendo nos últimos sete dias demonstra que os movimentos de
massa estão se transformando em uma revolta popular de difícil superação porque, de
um lado, não possui um foco claramente definido quanto aos objetivos a atingir e a
estratégia política a desenvolver e, de outro, o governo federal não acena com a
realização de mudanças na sua malfadada política econômica e social. Com o tempo,
haverá desgaste dos movimentos de massa que não conquistarão maiores vitórias, além
do que já conquistou com a redução das tarifas do sistema de transporte e desgaste dos
próprios detentores do poder que ficarão sitiados e obrigados a reprimir violentamente
os revoltosos.
Os acontecimentos que abalam a nação brasileira no momento demonstram o divórcio
profundo que existe entre o Estado e a Sociedade Civil no Brasil. Em um contexto em
que os detentores do poder não podem governar como antes e a Sociedade Civil está
rebelada não aceitando ser governada como antes, o governo tende a lançar mão de um
instrumento de todos os governos que temem a força do povo: a decretação do estado de
sítio, inclusive com a instauração do toque de recolher. Na prática, a frágil democracia
que existe no Brasil seria profundamente golpeada com a institucionalização da ditadura
pelos atuais detentores do poder. Este é o cenário que pode acontecer no curto prazo no
Brasil com o governo tentando manter a ordem a todo o custo.
Guardadas as devidas proporções, as revoltas atuais no Brasil se assemelham aos
acontecimentos de maio de 1968 que começaram com greves estudantis em Paris
seguidas de confrontos com a polícia, enquanto no Brasil a rebelião teve início na luta
pela redução das tarifas do sistema de transporte em São Paulo seguida de confrontos
com a polícia. A França da década de 1960 era caracterizada por um regime político
autoritário personificado na figura do General de Gaulle, enquanto o Brasil
contemporâneo é personificado no regime político autoritário personificado na figura da
presidente Dilma Roussef.
Muitos historiadores e filósofos consideram a rebelião de maio de 1968 como o
acontecimento revolucionário mais importante do século XX porque eclodiu uma
insurreição popular que superou barreiras étnicas, culturais, de idade e de classe. A
rebelião atual do Brasil é também um acontecimento revolucionário que envolveu
amplos setores da população. A tentativa do governo Charles de Gaule de esmagar
essas greves com várias ações no Quartier Latin em Paris levou a uma escalada do
conflito que culminou em uma greve geral de estudantes e em greves com ocupações de
fábricas em toda a França, às quais aderiram dez milhões de trabalhadores,
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aproximadamente dois terços dos trabalhadores franceses. No Brasil a tentativa do
governo de esmagar o movimento de massa pode não culminar com uma greve geral
como ocorreu na França em 1968 porque o movimento sindical foi cooptado e
desorganizado desde que Lula assumiu o poder no Brasil.
Os protestos chegaram ao ponto de levar o general de Gaulle a criar um quartel general
de operações militares para obstar à insurreição, dissolver a Assembleia Nacional e
marcar eleições parlamentares para 23 de junho de 1968. O governo estava em vias de
colapso ao ponto do general de Gaulle chegar a se refugiar temporariamente numa base
da força aérea na Alemanha, mas a situação revolucionária dissipou-se quase tão
rapidamente quanto havia surgido pela falta de um programa político claramente
definido e pelo esforço de desmobilização realizado pelo Partido Comunista Francês e
pela CGT- Confederação Geral dos Trabalhadores. No Brasil, o governo pode chegar ao
colapso que pode levá-lo à decretar o estado de sítio e os movimentos de massa poderão
se dissipar com o tempo pelo falta de um programa político claramente definido e
também pela ação da repressão governamental.
No caso da rebelião de maio de 1968, o pano de fundo deste evento era a primeira crise
profunda da economia capitalista desde a Segunda Guerra Mundial. Em 1966 uma
recessão abalou a economia mundial. A maioria dos insurretos viam o evento como uma
oportunidade para sacudir os valores da "velha sociedade", formulando idéias avançadas
sobre a educação e a sexualidade, entre outras bandeiras. O movimento de 1968 também
deixou rastros na esfera cultural e na vida social como um todo. Varreu a atmosfera
sufocante das décadas de 1950 e 1960, trazendo melhorias importantes nos direitos das
mulheres e das minorias. Como resultado da revolta de maio de 1968, Universidades
foram expandidas e foram abertas a camadas mais amplas da sociedade. Porém, o
domínio capitalista e as relações de propriedade mantiveram-se intactas. A burguesia foi
forçada a fazer concessões políticas e sociais, mas manteve-se no poder.
No caso da rebelião atual no Brasil, o pano de fundo deste evento é a economia
brasileira em declínio e a desmoralização dos partidos políticos, das lideranças e das
instituições políticas cuja característica é a corrupção e a malversação de recursos
públicos. A maioria dos insurretos no Brasil buscam com o movimento de massa mudar
a situação reinante no Brasil sacudindo os valores da "velha sociedade" apresentando
idéias avançadas sobre a educação, saúde, obras de infraestrutura e combate à
corrupção, entre outras bandeiras. Como resultado da rebelião no Brasil, o governo
poderá adotar três tipos de atitudes: 1) fazer todas as concessões exigidas pelos
movimentos de massa; 2) fazer algumas concessões aos movimentos de massa como já
aconteceu com a redução das tarifas de transporte; e, 3) não fazer concessões aos
movimentos de massa para não admitir sua derrota política.
A atitude do governo de aceitar todas as concessões só acontecerá se os movimentos de
massa demonstrarem força suficiente para dobrar a vontade do governo. Esta atitude
dificilmente ocorrerá porque os detentores do poder não farão concessões que
comprometam os interesses das classes dominantes, sobretudo do capital financeiro.
Algumas concessões poderão ser feitas desde que não afetem os objetivos do governo e
das classes dominantes. Esta atitude é a mais provável que aconteça porque o PT e seus
aliados não desejarão ser responsabilizados pelo retrocesso político-institucional que
haveria se o governo não fizer concessão alguma aos movimentos sociais. Os próximos
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dias serão decisivos para saber os rumos que os movimentos de massa tomarão e as
atitudes a serem assumidas pelos detentores do poder.
*Fernando Alcoforado, 73, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional
pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico,
planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos
livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem
Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000),
Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the
Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e
combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e
Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre
outros.S