O Inferno de Dante Alighieri na Divina Comédia pode ser comparado com a situação vivida pelo Brasil na era contemporânea cujo governo se vê perdido diante da incapacidade de solucionar as crises política, econômica, de gestão do setor público e ética e moral que enfrenta no momento as quais resultaram de não ter adotado as estratégias necessárias para evitar sua ocorrência e manter o País no caminho certo. A situação do governo Dilma Rousseff no momento atual é similar à de Dante no inferno.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
O inferno de dante alighieri e o do governo dilma rousseff no brasil
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O INFERNO DE DANTE ALIGHIERI E O DO GOVERNO DILMA ROUSSEFF
NO BRASIL
Fernando Alcoforado*
A Divina Comédia, poema épico e obra-prima de Dante Alighieri, foi escrita
provavelmente entre 1307 e 1321. O poema passou a ser conhecido como Divina
Comédia apenas em sua primeira edição impressa, em 1555. O poema descreve uma
viagem onde se sucedem diversos acontecimentos. Sua força está na riqueza
das alegorias, que tornam o relato atemporal (Ver o artigo A Divina Comédia- Poema
épico de Dante Alighieri elaborado por Helder da Rocha disponível no website
<http://www.stelle.com.br/pt/index_comedia.html>).
A Divina Comédia é um poema narrativo rigorosamente simétrico e planejado que narra
uma odisseia pelo Inferno, Purgatório e Paraíso. Dante, o personagem da história, é
guiado pelo inferno e purgatório pelo poeta romano Virgílio, e no céu por Beatriz, musa
em várias de suas obras. No Inferno, Dante se vê perdido em uma floresta escura, e sua
vida havia deixado de seguir o caminho certo. Ao tentar escapar da selva, ele encontra
uma montanha que teria de escalar para se salvar, mas é logo impedido de subir por três
feras: um leopardo, um leão e uma loba.
O Inferno de Dante pode ser comparado com a situação vivida pelo Brasil na era
contemporânea cujo governo se vê perdido diante da incapacidade de solucionar as
crises política, econômica, de gestão do setor público e ética e moral que enfrenta no
momento as quais resultaram de não ter adotado as estratégias necessárias para evitar
sua ocorrência e manter o País no caminho certo. A situação do governo Dilma
Rousseff no momento atual é similar à de Dante no inferno.
Ao tentar superar as crises para se manter no poder, o governo Dilma Rousseff adotou
um ajuste fiscal que agravou ainda mais a crise econômica em que vive o Brasil ao
ameaçar a sobrevivência das empresas, elevar vertiginosamente os níveis de
desemprego e levar o País à bancarrota.Ao adotar o ajuste fiscal que seria sua
“montanha” a escalar para se salvar, o governo Dilma Rousseff se defronta com três
“feras”: o Congresso Nacional onde não dispõe da maioria necessária para aprovar o
ajuste fiscal, a Operação Lava Jato que desnuda a corrupção sistêmica existente em seu
governo e o povo brasileiro que a rejeita como presidente da República.
Na Divina Comédia, prestes a desistir e voltar para a selva, Dante é surpreendido pelo
espírito de Virgílio - poeta da Antiguidade que ele admira - disposto a guiá-lo por um
caminho alternativo. Saindo do inferno, Dante e Virgílio se veem diante de uma
altíssima montanha: o Purgatório. A montanha é tão alta que ultrapassa a esfera do ar e
penetra na esfera do fogo chegando a alcançar o céu. Virgílio foi chamado por Beatriz,
paixão da infância de Dante, que o viu em apuros e decidiu ajudá-lo. Ela desceu do Céu
e foi buscar Virgílio no Limbo. O caminho proposto por Virgílio consiste em fazer uma
viagem pelo centro da terra. Iniciando nos portais do inferno, atravessariam o mundo
subterrâneo até chegar aos pés do monte do purgatório. Dali, Virgílio guiaria Dante até
as portas do céu.
O Virgílio do governo Dilma Rousseff é o ex-presidente Lula que tenta guiar a atual
presidente por um caminho alternativo capaz de mantê-la no poder e evitar sua
deposição através de impeachment. Este caminho alternativo foi anunciado hoje (02/10)
por Dilma Rousseff com a composição do novo ministério que traduz sua capitulação
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perante o PMDB e também em relação a Lula que voltou a mandar no Palácio do
Planalto. Na prática, Dilma Rousseff abdicou do poder passando a exercer apenas
nominalmente a presidência da República.
O agravamento da crise política e econômica do País fez com que a ameaça de golpismo
para remoção de Dilma Rousseff do poder que estaria sendo patrocinada, segundo as
forças governistas, pelas forças de oposição ao governo, foi protagonizada pelo PMDB
e por Lula que hoje mandam no governo Dilma Rousseff. A composição do novo
ministério traduz esta situação. Em outras palavras, o golpe contra Dilma Rousseff foi
realizada por Lula e pelo PMDB para impedir a abertura de um processo de
impeachment contra Dilma pela Câmara dos Deputados e não pelas forças de oposição
ao governo. Se conseguir impedir o impeachment, Dilma Rousseff poderia ganhar
sobrevida para enfrentar seu maior desafio: a crise econômica. Será uma missão quase
impossível, Dilma Rousseff sair do Purgatório das crises política e econômica, impedir
o impeachment e promover o desenvolvimento do País, isto é alçar ao Céu.
Na Divina Comédia, No último círculo do purgatório, Dante se despede de Virgílio e
segue acompanhado por um anjo que o leva através de um fogo que separa o purgatório
do paraíso terrestre. Finalmente, Dante encontra Beatriz e se purifica, banhando-se nas
águas do rio Letes para que possa prosseguir viagem e subir às estrelas. Ao contrário de
Dante que conseguiu se salvar alçando do Purgatório ao Céu, muito dificilmente o
governo Dilma Rousseff conseguirá superar sua “montanha” (o Purgatório) para
alcançar o Céu.
A “montanha” do governo Dilma Rousseff é representada pelos 4 tipos de crises que
precisam ser superadas: 1) crise econômica que ameaça a sobrevivência das famílias
com a escalada da inflação e do desemprego em massa, a falência das empresas com o
avanço da recessão rumo à depressão e a desestruturação do próprio País com a
estagnação econômica e o endividamento público crescentes; 2) crise política que
ameaça lançar o País no caos da ingovernabilidade total e da violência e gerar
retrocesso político-institucional para manter a ordem; 3) crise de gestão devido à
ineficiência e ineficácia das estruturas dos governos federal, estadual e municipal e à
existência de governantes incompetentes que demonstram incapacidade para propor
soluções para a crise atual e muito menos apontar novos rumos para o País; e, 4) crise
ética e moral resultante da existência de corrupção sistêmica generalizada em todas as
instâncias do governo e no seio da sociedade brasileira.
A trajetória futura do Brasil é de instabilidade política crescente porque a crise
econômica brasileira tem raízes estruturais, é sistêmica e o governo Dilma Rousseff não
reúne competência política e gerencial para superá-la. A incapacidade do governo
brasileiro se manifesta não apenas na solução dos problemas da atualidade, mas,
sobretudo por comprometer o futuro da nação. O tempo conspira contra o governo
Dilma Rousseff cuja tendência é a de piora da situação atual e de queda na aceitação de
seu governo por parte da população brasileira como já se constatou nas pesquisas
recentes em que apenas 7% da população brasileira aprovam seu governo. A população
brasileira se posiciona contra o governo Dilma Rousseff que é visto como responsável
pela corrupção e quebradeira da Petrobras e também por suas desastrosas decisões
econômicas no período pós-eleitoral contrárias aos interesses do povo (aumento de
tributos, bloqueio provisório de gastos, energia mais cara com corte de subsídios para o
setor elétrico e mudanças nas regras de benefícios sociais).
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Esta situação só chegará ao fim com a existência no Brasil de um governo que seja
capaz de unir a nação em torno de um projeto comum de desenvolvimento econômico,
político e social e seja constituído por gente competente no comando da nação. Diante
da incapacidade do governo Dilma Rousseff de evitar o caos econômico e social em
curso que tende a se agravar, assegurar a governabilidade política do País e unir a nação
em torno de um projeto comum de desenvolvimento, torna-se-á cada vez mais
improvável sua permanência no poder. Pelo exposto, o governo Dilma Rousseff não
conseguirá sair do Inferno em que se encontra e, se alcançar o Purgatório, dificilmente
galgará o Céu.
* Fernando Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel,
São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG,
Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora,
Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do
Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no Brasil-
Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015).