1) O documento discute as críticas do autor ao pensamento pós-moderno, argumentando que ele promove a fragmentação dos movimentos sociais e a submissão ao neoliberalismo.
2) Defensores do pós-modernismo rejeitam ideias como revolução e luta de classes, preferindo ações voluntárias. 3) O autor também critica a visão pós-moderna de que o proletariado estaria desaparecendo, o que é um equívoco segundo ele.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Reinvenção do Iluminismo contra pós-modernismo
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O IMPERATIVO DA REINVENÇÃO DO ILUMINISMO PARA ENFRENTAR E
VENCER O NEOLIBERALISMO E O PENSAMENTO PÓS-MODERNO
Fernando Alcoforado*
Em seu artigo Para entender o pós-modernismo, publicado no website
<http://www.espacoacademico.com.br/035/35eraylima.htm>, Raymundo de Lima,
psicanalista, afirma que os sinais da Pós-Modernidade se apresentam de forma clara no
campo político com atitude desinteressada, despolitizada, destacando que os pós-
modernistas descartam a ideia de revolução como passaporte necessário para a
construção de uma “nova sociedade", um "novo homem” e uma “nova felicidade
realista” “sem classes” e “sem desigualdade”. Além desta descrença, existe o fato de as
revoluções ocorridas no socialismo real, resultaram em totalitarismos, fracasso
econômico e decepção da população obrigada a conviver com a falta de liberdade.
Raymundo de Lima afirma que a ação política pós-moderna, descrente da ação política
tradicional (partidos políticos, sindicatos, eleição de representantes, etc), prefere atuar
através de ações voluntárias através de ONGs, bem como nos atos mais ou menos
espontâneos de grupos e de sujeitos que investem, por exemplo, em melhorar a saúde da
sociedade. São as ações pró-educação para diminuir a violência no trânsito, ações pró-
educação ambiental, a luta pela extinção do tabagismo e das drogas, a prevenção da
DST e AIDS, a participação de ações contra a fome, prestar serviço para a eliminação
do analfabetismo, etc, podem ser de inspiração pós-modernista.
Segundo Raymundo de Lima, na Pós-Modernidade a perversão e o estresse são
sintomas resultantes da falta de lei, da falta de tempo, e da falta de perspectiva de
futuro. Nossa sociedade é regida mais pela ânsia de “espetáculo”. Existe a ânsia de
prazer a qualquer preço. Todos se sentem na obrigação de se divertir, de “curtir a vida
adoidado” e de “trabalhar muito para ter dinheiro ou prestígio social”. Na sociedade
ocidental Pós-Moderna a visibilidade de cenas tende a ser obscena, quando exclui a
dimensão da subjetividade e da privacidade das pessoas. Ou seja, anula-se a dimensão
do privado, tornando “tudo” público, do cotidiano dos ansiosos por fama dos ex-
anônimos do programa televisivo Big Brother.
Em seu artigo Os movimentos sociais e os processos revolucionários na América
Latina: uma crítica aos pós-modernistas, publicado no website
<http://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/uma-critica-a-ideologia-pos-modernista>,
Edmilson Costa, doutor em Economia pela Unicamp, afirma que a ideologia pós-
modernista é responsável por grande parte das derrotas dos movimentos sociais nestas
duas décadas. Não só porque a Pós-Modernidade influenciou boa parte da juventude e
lideranças dos movimentos sociais, como também porque levou à frustração milhares de
lutadores sociais porque as lutas fragmentadas tem uma trajetória de ascensão no início
e vai enfraquecendo até ser absorvido pelo sistema como aconteceu nas manifestações
políticas de 2013 contra o governo e o sistema político no Brasil.
Edmilson Costa afirma que a Pós-Modernidade, como movimento teórico e político,
envolveu forças difusas, mas influentes junto à juventude e vários movimentos sociais.
O objetivo era desconstruir o discurso dos partidos políticos revolucionários, do
movimento sindical e do próprio marxismo, como síntese teórica da revolução social.
Para os adeptos da Pós-Modernidade, os discursos de temas abrangentes, como a
igualdade, o socialismo, a emancipação humana, os valores históricos do proletariado,
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as soluções coletivas contra a opressão humana, eram coisa do passado e produto de um
mundo que já não existia mais. No lugar desses velhos temas, tornava-se necessário
colocar um novo discurso, como forma de reconhecer a fragmentação da realidade e do
conhecimento, a constatação da diferença, a emergência de novos sujeitos sociais, com
características, valores e reivindicações específicas, como os movimentos sociais, de
gênero, raça, etnia, etc, e novas formas de luta, inclusive com renúncia à tomada do
poder.
O fim da centralidade do trabalho é um dos temas mais destacados pelos pós-
modernistas com o argumento de que as tecnologias da informação, a reestruturação
produtiva e a inserção acelerada de ciência no processo produtivo tornaram obsoleto o
conceito de classe operária e proletariado, até mesmo porque esses atores estão se
tornando residuais num mundo globalizado onde impera a robótica, a internet e a
informática avançada. Baseado no argumento de que a classe operária está diminuindo
em todo o mundo, os pós-modernistas chegaram a dar adeus ao proletariado, que seria
um conceito típico da Segunda Revolução Industrial. Trata-se de um tremendo equívoco
chegar a esta conclusão pelo fato de não considerarem que o proletariado está
diminuindo nos países capitalistas centrais da Europa, Estados Unidos e Japão, mas está
crescendo de maneira expressiva em termos mundiais, com o deslocamento de milhares
de indústrias dos Estados Unidos e da Europa para a Ásia, processo que está
incorporando ao mundo do trabalho centenas de milhões de trabalhadores na China, na
Índia e em toda a Ásia, num movimento que está mudando a conjuntura mundial.
Outro grande absurdo é não considerar que, quanto mais se moderniza, quanto mais
insere ciência e tecnologia na produção e mais amplia sua composição orgânica do
capital, mais pressiona as taxas de lucro para baixo. Por isso, o capitalismo não pode
existir sem seu contraponto, o proletariado que á fonte de seu lucro. Se o capitalismo
automatizasse todas suas fábricas o sistema entraria em colapso, pois os robôs são mais
disciplinados que os seres humanos, são capazes de trabalhar sem descanso, não
reivindicam salário, nem fazem greve, mas também tem seu calcanhar de Aquiles: não
consomem bens e serviços. Se não tem consumidores, os capitalistas não têm para quem
vender suas mercadorias. Ou seja, antes de uma automatização total, o sistema entraria
em colapso em função de suas próprias contradições.
O pós-modernismo é o fetiche ideológico típico dos tempos de neoliberalismo e
representa a ideologia pequeno-burguesa da submissão sofisticada à ordem do capital. A
aprovação recente pela Câmara dos Deputados do projeto de lei da terceirização do
trabalho representa a submissão do parlamento brasileiro aos ditames do capital se
constituindo em imenso retrocesso em prejuízo dos trabalhadores. Na verdade, todos
que seguem esse ritual, de maneira direta ou indireta, estão se subordinando à ideologia
neoliberal à serviço do capital financeiro nacional e internacional, abrem mão de um
projeto emancipatório e escondem sua impotência mediante um discurso cheio de
abstrações sociológicas, mas muito conveniente para o capital. Por isso, combatem as
lutas de caráter geral, para fragmentá-las em lutas específicas, que não afrontam
abertamente o sistema dominante.
O desaparecimento no mundo de hoje das ultimas reservas de racionalidade crítica
preconizada pelo Iluminismo e pela Modernidade, que se degradaram em sucessivos
processos de autodestruição ao longo do tempo, abriram caminho para a Pós-
Modernidade que representa o aumento do calvário a que estão submetidos os seres
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humanos e, também, uma gigantesca ameaça para o progresso da humanidade. Diante
deste fato, trata-se de um imenso desafio para os pensadores contemporâneos
estabelecer novos paradigmas e novos valores de comportamento racional a serem
formulados para a sociedade humana na era atual visando derrotar a nefasta influência
política e ideológica da Pós-Modernidade que, segundo seus ideólogos, não existem
verdades, que todos os sistemas anteriores estavam errados e que nada pode ser
conhecido. Os pensadores contemporâneos precisam se mobilizar na reinvenção de um
novo projeto iluminista como fizeram os pensadores do século XVIII visando a
construção de um mundo novo que leve ao fim o calvário da humanidade.
* Fernando Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel,
São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG,
Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora,
Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do
Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.