A atual crise mundial evidenciou um vazio teórico das esquerdas. Frente à crise das teses neoliberais, a velha esquerda nada apresentou como alternativa. Alguns partidos da velha esquerda no Brasil liderados pelo PT abdicaram inteiramente da revolução social como caminho para realizar as mudanças sociais abandonando este objetivo substituindo-o por um projeto de poder para usufruir de suas vantagens como ficou evidenciado no processo do mensalão e do petrolão. O PT e seus aliados da velha esquerda passaram a constituir a nova direita no Brasil porque, no poder, colaboram com as classes dominantes e contribuem para desmobilizar os movimentos sociais na luta pelos seus interesses. Um governo verdadeiramente de esquerda não se dobraria aos ditames do capital financeiro internacional como tem feito os governos Lula e Dilma Roussef. Nunca na história do Brasil, os bancos ganharam tanto dinheiro quanto nos governos do PT.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Libelo contra a esquerda no brasil na era contemporânea
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LIBELO CONTRA A ESQUERDA NO BRASIL NA ERA CONTEMPORÂNEA
Fernando Alcoforado*
Esquerda e Direita são uma forma comum de classificar posições políticas, ideológicas,
ou partidos políticos. Esses termos surgiram com o advento da Revolução Francesa.
Durante o reinado de Luis XVI, os membros do Terceiro Estado, que indicava as
pessoas que não faziam parte do clero (Primeiro Estado) nem da nobreza (Segundo
Estado), se sentavam à esquerda do rei enquanto os do clero e da nobreza se sentavam à
direita. Os mais radicais que normalmente eram contra as decisões do rei ficaram
conhecidos como a esquerda enquanto os favoráveis às decisões eram os de direita.
A Revolução Francesa abriu a caixa de Pandora e fez surgir as aspirações, expectativas
e esperanças populares que todas as autoridades constituídas- tanto conservadoras
quanto liberais- tiveram dificuldade de conter. Neste estágio, a direita era representada
pelos conservadores e o centro pelos liberais. A esquerda, que ainda não havia assumido
identidade própria, estava inserida entre os liberais como seu setor mais radical. Essa
luta entre conservadores e liberais das minorias governantes ocorreu em todos os países
do mundo entre 1815 e 1848. As Revoluções de 1848 constituiram, portanto, o
momento de emergência de uma terceira ideologia, uma ideologia de esquerda que
rompeu os laços que era então considerado um liberalismo centrista e se estabeleceu em
oposição tanto a esse liberalismo como ao conservadorismo de direita.
No período pós-1848, surgiram dois modelos bem claros. Por um lado, havia uma triade
de ideologias- conservadores, liberais, socialistas- competindo politicamente em quase
todas as partes. A partir de 1848, agudizou-se em todo o mundo o confronto entre a
direita, representada pelos conservadores, e a esquerda, representada pelos socialistas,
enquanto os liberais centristas se posicionavam entre as duas correntes ideológicas
tendendo mais para as posições dos conservadores. A diferença fundamental entre
esquerda e direita é a de que a primeira é defensora intransigente da igualdade e a direita
não. A esquerda acredita que a maior parte das desigualdades é social e, enquanto tal,
eliminável e a direita acha que a maior parte delas é natural e portanto ineliminável.
Mudar o mundo através do Estado foi o paradigma que predominou no âmbito dos
partidos políticos de esquerda do século XVIII até a década de 1990 do século XX. A
tese dos partidos políticos de esquerda que fundamentava essas concepções é simples:
conquista-se o Estado que até então era um instrumento da burguesia e o transforma em
um instrumento da classe trabalhadora através da Reforma ou da Revolução Social. A
tese de considerar o Estado como centro irradiador da mudança foi um rotundo fracasso
em todas as partes do mundo, tanto nos países que tentaram construir o socialismo,
quanto nos países periféricos que adotaram uma postura nacionalista na promoção de
seu desenvolvimento.
Ambos os enfoques, o reformista e o revolucionário fracassaram no seu projeto de
mudar pacificamente ou radicalmente a sociedade. Com o fim do socialismo real na
década de 1990, os grandes partidos de esquerda em todos os países do mundo
abandonaram não apenas as teses revolucionárias, mas também as reformistas visando
as mudanças sociais. Muitos partidos de esquerda no mundo se tornaram partidos da
ordem dominante. A partir da década de 1990, a esquerda que nasceu em 1848 e
conquistou o poder em vários países perdeu o rumo devido sobretudo à falta de um
projeto alternativo ao que foi implantado na União Soviética e em outros países.
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A ação política da velha esquerda no Brasil e no mundo ficou reduzida
fundamentalmente à sua participação nas eleições parlamentares defendendo teses
liberais centristas ou neoliberais e abdicando das teses nacionalistas e da revolução
social que sempre foram os principais móveis de sua atuação política no passado. Em
vários países do mundo, partidos de esquerda que conquistaram o poder, adotam teses
liberais ou neoliberais com a concessão de amplas benesses às classes dominantes,
sobretudo as do setor financeiro, e de “esmolas” aos “de baixo” na escala social, para
neutralizar convulsões sociais como ocorre atualmente no Brasil com o “Bolsa Familia”
ou cooptá-los eleitoralmente.
A atual crise mundial evidenciou um vazio teórico das esquerdas. Frente à crise das
teses neoliberais, a velha esquerda nada apresentou como alternativa. Alguns partidos
da velha esquerda no Brasil liderados pelo PT abdicaram inteiramente da revolução
social como caminho para realizar as mudanças sociais abandonando este objetivo
substituindo-o por um projeto de poder para usufruir de suas vantagens como ficou
evidenciado no processo do mensalão e do petrolão. O PT e seus aliados da velha
esquerda passaram a constituir a nova direita no Brasil porque, no poder, colaboram
com as classes dominantes e contribuem para desmobilizar os movimentos sociais na
luta pelos seus interesses. Um governo verdadeiramente de esquerda não se dobraria aos
ditames do capital financeiro internacional como tem feito os governos Lula e Dilma
Roussef. Nunca na história do Brasil, os bancos ganharam tanto dinheiro quanto nos
governos do PT.
Um governo verdadeiramente de esquerda não aderiria às teses neoliberais como os
governos do PT que abdicaram de intervir na economia com a elaboração de um plano
nacional desenvolvimentista capaz de promover o progresso econômico e social do País
em que fosse assegurada a soberania nacional. Um governo verdadeiramente de
esquerda não permitiria a desnacionalização da economia brasileira, o desmantelamento
da indústria nacional, a privatização do petróleo do campo de libra do Pré-sal, como
ocorreu durante os governos do PT. Um governo verdadeiramente de esquerda não
combateria a desigualdade social com um programa de transferência de renda como o
“Bolsa Família” que é utilizado como um instrumento de cooptação política do
lumpenproletariado para se manter no poder, mas, sim promoveria o crescimento
econômico em taxas elevadas para gerar emprego e renda para a população.
Um governo verdadeiramente de esquerda não faria as alianças espúrias como as
realizadas pelo PT com José Sarney, Renan Calheiros, Fernando Collor, Paulo Maluf,
entre outros, para se manter no poder, nem permitiria a existência do mar de lama da
corrupção em que se transformou os governos do PT conforme ficou comprovado com
o mensalão e a corrupção na Petrobras. Durante as últimas eleições presidenciais, muita
gente afirmava ingenuamente que iria sufragar o nome de Dilma Rousseff porque Aécio
Neves e o PSDB eram de direita quando, na realidade o PT e o PSDB são ambos
partidos de direita porque estão a serviço do capital nacional e internacional.
Na recente manifestação popular contra o descalabro dos governos do PT, foram
colocados os mesmos argumentos de que a massa que se mobilizou era de direita
reforçados pela tese de que era composta pela elite branca de olhos azuis que se opõe ao
atual governo que é defensor intransigente dos pobres. O lamentável é que existem
pessoas supostamente inteligentes que acreditam nisso e reforçam esta visão. Quem faz
esta afirmativa está comprometido política e ideologicamente com o PT ou desconhece
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o que se passou ou se passa nas entranhas dos governos do PT de Lula e Dilma Roussef.
O PT e seus aliados da velha esquerda perderam o rumo da história e a autoridade moral
para se colocar como autênticos representantes da esquerda no Brasil na era
contemporânea. Uma nova esquerda tem que ser reinventada no Brasil.
* Fernando Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel,
São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG,
Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora,
Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do
Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.
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