O documento discute o conceito de gramática, explicando que originalmente se referia às regras para escrita do alfabeto grego, mas passou a incluir as regras para o bom uso da língua. No entanto, o que constitui o "bom uso" depende do contexto, já que cada situação comunicativa requer uma organização diferente dos textos. O documento usa um exemplo da obra de Monteiro Lobato para ilustrar que a língua falada nem sempre segue rigidamente as regras gramaticais.
1. O QUE É GRAMÁTICA
Professor Especialista - Rafael
Vasconcelos
Vasconcelos.professor@gmail.com
2. A palavra “gramática” originou-se do grego grammatiké
(gramma=letra / tekne=arte/técnica). Surgiu na Grécia
entre os século v e IV a.C., para nominar a técnica de
escrita do alfabeto grego.
A princípio, a função da gramática limitava-se ao estudo dos
desenhos das letras, bem com a organização das palavras
e das sentenças.
3.
4. Com o tempo, passou a abarcar o conjunto de regras
para o bom uso da língua. Mais tarde, com o avanço das
pesquisas linguísticas, alguns questionamentos surgiram,
como, por exemplo: Se a gramática é um conjunto de
regras que garantem o bom uso da língua, o que seria,
então, esse bom uso da língua? Se o objetivo de toda
língua é a comunicação, essa comunicação ocorre da
mesma forma em diferentes contextos?
6. Gramática: concepções e usos
O bom uso da língua está subordinado a um contexto.
Para cada tipo de uso, há uma organização específica dos
textos a fim de tornar a comunicação eficiente. Assim, se
há diferentes organizações para diferentes usos, há,
também, uma gramática diferente para dar conta dessa
diversidade. Vejamos:
7. Há mais de um conceito de gramática -
e isso é coisa que muita gente não
sabe.
Para explicar como isso é possível, vamos dar um
exemplo do "Sítio do Picapau Amarelo", uma das
obras mais famosas de Monteiro Lobato. No
trecho abaixo, Narizinho acusa sua avó, a Dona
Benta, por ter feito um...
8. "Erro" de gramática:
"Pilhei a senhora num erro!", gritou Narizinho. "A senhora disse: 'Deixe estar que já te
curo!' Começou com o Você e acabou com o Tu, coisa que os gramáticos não
admitem. O 'te' é do 'Tu', não é do 'Você'"...
"E como queria que eu dissesse, minha filha?"
"Para estar bem com a gramática, a senhora devia dizer: 'Deixa estar que já te curo'."
"Muito bem. Gramaticalmente é assim, mas na prática não é. Quando falamos
naturalmente, o que nos sai da boca é ora o você, ora o tu; e as frases ficam muito
mais jeitosinhas quando há essa combinação do você e do tu. Não acha?"
"Acho, sim, vovó, e é como falo. Mas a gramática..."
"A gramática, minha filha, é uma criada da língua e não uma dona. O dono da língua
somos nós, o povo; e a gramática - o que tem a fazer é, humildemente, ir registrando
o nosso modo de falar. Quem manda é o uso geral e não a gramática. Se todos nós
começarmos a usar o tu e o você misturados, a gramática só tem uma coisa a fazer..."
"Eu sei o que é que ela tem a fazer, vovó!", gritou Pedrinho. "É pôr o rabo entre as
pernas e murchar as orelhas..."
Dona Benta aprovou. (...)
(Monteiro Lobato. Obra Completa. "Fábulas", São Paulo, Editora Brasiliense)
9. No Brasil, é comum usar às vezes "tu" e às vezes
"você. E esse é apenas um exemplo da diferença
que há entre o que diz a regra da gramática
normativa e a língua falada.
12. Gramática: Estrutura
A gramática normativa é dividida em:
• Fonologia e Fonética – estudo dos sons da
língua.
• Morfologia – estudo da estrutura das palavras e
sua classificação de acordo com a função exercida na
frase.
• Sintaxe – estudo da organização e das relações
entre as palavras na frase.
• Semântica – estudo dos sentidos produzidos pelas
inúmeras possibilidades de organização das palavras
nas frases.