1. Ataque Oculto `s Institui¸˜es
a co
Hakim Bey
Os n´
ıveis da organiza¸˜o imediatista:
ca
1. O encontro. Pode ser qualquer coisa desde uma festa a uma revolta. Pode ser plane-
jado ou n˜o-planejado mas depende da espontaneidade para ”realmente acontecer”.
a
Exemplos: encontro anarquista, celebra¸˜o neopag˜, Rave, revolta urbana breve ou
ca a
demonstra¸˜o espontˆnea. Os melhores encontros, ´ claro, tornam-se TAZ’s, tais
ca a e
como algumas das Be-Ins dos anos 60, os primeiros encontros da tribo Rainbow ou
a revolta de Stonewall.
2. O potlach horizontal. Uma unica reuni˜o de um grupo de amigos para a troca de
´ a
presentes. Uma orgia planejada pode entrar nesta categoria, sendo o presente o
prazer sexual - ou um banquete, sendo o presente a comida.
3. A Bee. Como uma quilting bee, a Bee Imediatista consiste em um grupo de amigos
encontrando-se regularmente para colaborar em um projeto espec´
ıfico. A Bee pode
servir como um comitˆ de organiza¸˜o para um encontro ou um potlach, ou como
e ca
uma colabora¸˜o criativa, um grupo de afinidade para a¸˜o direta, etc. A Bee ´
ca ca e
como uma s´rie passional no sistema de Fourier: um grupo unido por uma paix˜o
e a
compartilhada que s´ pode ser realizada pelo grupo.
o
4. Quando a Bee adquire um grupo de membros mais ou menos permanente e um
prop´sito maior do que somente um unico projeto - um projeto em andamento, va-
o ´
mos dizer -, ela pode tanto se tornar um ”clube”como uma gesellschaft organizada
n˜o-hierarquicamente para atividades abertas, ou, ainda, como uma ”Tong”organizada
a
de forma n˜o hierarquica mas clandestina para atividades secretas. A Tong ´ de in-
a e
teresse mais imediato para n´s agora por quest˜es t´ticas, e tamb´m porque o clube
o o a e
opera sob o risco de ”instituicionaliza¸˜o”e, portanto, (nos termos de Ivan Illich)
ca
em ”contra-produtividade paradoxal”. (Quer dizer, como a institui¸˜o aproxima-se
ca
da rigidez e do monop´lio, ela come¸a a ter o efeito oposto ao seu prop´sito original.
o c o
Sociedades fundadas para a ”liberdade”tornam-se autorit´rias, etc.). A Tong tradi-
a
cional tamb´m est´ sujeita a esta trajet´ria, mas a Tong Imediatista ´ construida,
e a o e
por assim dizer, para se autodestruir quando n˜o for mais capaz de servir ao seu
a
prop´sito.
o
5. A TAZ pode surgir de uma ou de todas as formas mencionadas acima de maneira
individual, em sequˆncia ou em um padr˜o complexo. Ainda que eu tenha dito que
e a
a TAZ pode ser breve como um noite ou longa como alguns anos, esta ´ apenas uma
e
regra r´
ıgida, e provavelmente a maioria dos exemplos se situe entre os dois citados.
1
2. Uma TAZ ´ maior do que qualquer uma das quatro formas. Entretanto, enquanto
e
dura, ela preenche o horizonte de aten¸˜o de todos os seus participantes; ela se torna
ca
(apesar de breve) uma sociedade completa.
6. Enfim, na subleva¸˜o, a TAZ quebra suas pr´prias fronteiras e flui (ou deseja fluir)
ca o
atrav´s do ”mundo todo”, o inteiro tempo/espa¸o imediato dispon´
e c ıvel. Enquanto
o levante dura e n˜o se vˆ derrotado ou transformado em ”Revolu¸˜o”(que aspira
a e ca
a
` permanˆncia), a Inssurrei¸˜o mant´m a consciˆncia da maioria dos seus entusi-
e ca e e
astas, espontaneamente ligados `quele outro modo elusivo de intensidade, clareza,
a
aten¸˜o, realiza¸˜o individual e do grupo, e, para ser franco, `quela felicidade t˜o
ca ca a a
caracter´ıstica de grandes revoltas sociais tais como a Comuna ou Maio de 68. De
um ponto de vista existencial (e aqui evocamos Stirner, Nietzsche e Camus), essa
felicidade ´, de fato, o prop´sito da subleva¸˜o.
e o ca
Os objetivos da organiza¸˜o Imediatista s˜o:
ca a
a) Convivˆncia: a reuni˜o em uma proximidade f´
e a ısica do grupo para o aprimoramento
sinerg´tico do prazer de seus membros.
e
b) Cria¸˜o: a produ¸˜o em colabora¸˜o, direta e n˜o-mediada, da beleza necess´ria,
ca ca ca a a
fora das estruturas de hipermedia¸˜o, aliena¸˜o e commoditiza¸˜o. J´ estamos bastante
ca ca ca a
cansados de insistir nos pequenos detalhes dos termos. Se vocˆ n˜o sabe o que n´s
e a o
queremos dizer por ”beleza necess´ria”, pode muito bem parar de ler por aqui. A ”Arte”´
a e
apenas uma poss´ subcategoria deste mist´rio e n˜o necessariamente a mais vital.
ıvel e a
c) Destrui¸˜o: N´s dever´
ca o ıamos ir al´m de Bakunin e dizer que n˜o existe cria¸˜o sem
e a ca
destrui¸˜o. A no¸˜o de trazer alguma beleza nova para a existˆncia implica em descartar
ca ca e
ou explodir toda a velha fealdade. A beleza define-se em parte (mas precisamente) pela
destrui¸˜o da fealdade a qual n˜o ´ ela mesma. Em nossa vers˜o do mito soreliano da
ca a e a
violˆncia social, n´s sugerimos que nenhum ato Imediatista ´ completamente autˆntico
e o e e
e efetivo sem a cria¸˜o e a destrui¸˜o: toda a dial´tica Imediatista est´ implicada em
ca ca e a
qualquer ”a¸˜o direta”Imediatista, tanto na cria¸˜o-na-destrui¸˜o, como na destrui¸˜o-
ca ca ca ca
na-cria¸˜o. Da´ o ”terrorismo po´tico”, por exemplo. Logo, o objetivo real ou o telos de
ca ı e
todas as nossas formas organizacionais ´:e
d) A constru¸˜o de valores. O ”pico de experiˆncia”masloviano forma valores em
ca e
n´ıvel individual; a concretude existencial da Bee, Tong, TAZ ou subleva¸˜o permite a
ca
”reavalia¸˜o de valores”para fluir desde sua intensidade coletiva. Outra forma de colocar
ca
isto: a transforma¸˜o da vida cotidiana.
ca
A liga¸˜o entre a organiza¸˜o e o seu objetivo ´ a t´tica. Em termos simples, o que a faz
ca ca e a
a organiza¸˜o Imediatista? Nossa estrat´gia ´ a de otimizar as condi¸˜es para a emergˆncia
ca e e co e
da TAZ (ou at´ mesmo da Inssurrei¸˜o). Mas, quais s˜o as a¸˜es espec´
e ca a co ıficas que podem ser
levadas a cabo para a constru¸˜o dessa estrat´gia? Sem t´tica, a organiza¸˜o Imediatista
ca e a ca
pode muito bem se dispersar. A ”a¸˜o direta”deve complementar o ”causa”assim como
ca
deve, por ela mesma, manter todo o potencial para o desabrochar da causa por ela mesma.
De fato, cada ato deve estar in potentia tanto apontado para o objetivo, como ser
idˆntico a ele. N´s n˜o podemos utilizar t´ticas que est˜o limitadas ` media¸˜o. Cada a¸˜o
e o a a a a ca ca
2
3. deve imediatamente compreender o objetivo, pelo menos em algum aspecto, a menos que
n´s estejamos trabalhando por abstra¸˜es e, at´ mesmo, simula¸˜es de nosso prop´sito. E
o co e co o
todas as diferentes t´ticas e a¸˜es deveriam, ainda, adicionar mais do que a soma de suas
a co
partes; deveriam dar vida ` TAZ ou ` subleva¸˜o. Assim como organiza¸˜es ordin´rias n˜o
a a ca co a a
podem nos fornecer as estruturas de que necessitamos, as t´ticas ordin´rias n˜o podem
a a a
satisfazer nossa demanda por ”situa¸˜es”insurretas e imediatas.
co
Convivˆncia ´ tanto uma t´tica como um objetivo. Nobre em si mesma, ela pode
e e a
servir tanto como uma forma ou como um conte´do para modos de organiza¸˜o, tais
u ca
como o encontro, o potlach, o baquete. Mas a convivˆncia em si n˜o possui a energia de
e a
transforma¸˜o que geralmente surge somente de um complexo de a¸˜es, as quais incluem o
ca co
que n´s chamamos de ”destrui¸˜o”assim como ”cria¸˜o”. A organiza¸˜o Imediatista ideal
o ca ca ca
aponta para esse objetivo mais complexo, e assume a convivˆncia como uma estrutura
e
necess´ria.
a
Em outras palavras, encontrar-se com um grupo para planejar uma potencial TAZ para
um grupo ainda maior j´ ´ um ato Imediatista que envolve convivˆncia - como o reino dos
ae e
c´us, ´ reunido todo esfor¸o sincero para descobertas mais elevadas. Parece, entretanto,
e e c
que a quintessˆncia do ato ou t´tica Imediatista envolver´ cria¸˜o e destrui¸˜o de forma
e a a ca ca
simultˆnea, ao inv´s de apenas convivˆncia - da´ resulta que a Bee e a Tong s˜o formas
a e e ı a
organizacionais mais ”altas”do que o encontro e o potlach.
Na Bee, a ˆnfase est´ na cria¸˜o - a colcha de retalhos, por assim dizer - o projeto de
e a ca
arte colaborativo, o ato de generosidade do grupo direcionado a si mesmo e a realidade
ao inv´s de ser direcionado a uma ”audiˆncia”de consumidores mediados. A Bee pode, ´
e e e
claro, considerar e empregar a¸˜es destruitivas ou ”criminosas”. Mas quando ela o faz,
co
talvez j´ tenha dado o primeiro passo para tornar-se uma sociedade secreta ou uma Tong
a
Imediatista.
Por essa raz˜o eu acho que a Tong ´ a mais complexa (ou a mais ”alta”) forma de
a e
organiza¸˜o Imediatista, a qual pode ser pre-determinada em um n´ significante. A
ca ıvel
TAZ e a subleva¸˜o dependem, em ultima instˆncia, de muitos fatores que, no processo
ca ´ a
organizacional, devem ser alcan¸ados sem ”sorte”. Como eu tenho dito, n´s podemos
c o
maximizar as possibilidades para a TAZ ou a Insurrei¸˜o, mas n˜o podemos ”organiz´-
ca a a
las”realmente ou fazˆ-las acontecer. A Tong entretanto pode ser claramente definida e
e
organizada para levar a cabo a¸˜es complexas, tanto materiais como simb´licas, tanto
co o
criativas como destrutivas. A Tong n˜o pode garantir a TAZ, tampouco a Insurrei¸˜o,
a ca
mas ela pode certamente satisfazer muitos - ou a maioria - dos desejos imediatos de menor
complexidade. E, no final das contas, ela pode ter sucesso em precipitar o grande evento
da TAZ, a Comuna, a restaura¸˜o Ming como o grande festival da Consciˆncia, o objetivo
ca e
correlato de todo desejo.
Vamos tentar imaginar e ent˜o criticar - mantendo tudo isso em mente - t´ticas
a a
poss´ıveis para o grupo Imediatista, e idealmente para toda a Tong semi-permanente e
bem-organizada, para uma rede de afinidade ou para um grupo de a¸˜o clandestina,
ca
capaz de tentar a¸˜es diretas complexas, completamente evolu´
co ıdas, em uma estrat´gia
e
articulada. Cada uma dessas a¸˜es deve, simultˆneamente, danificar ou destruir algum
co a
tempo/espa¸o real ou imagin´rio do ”inimigo”, mesmo que isso simultaneamente crie
c a
para seus perpetradores a forte chance do pico de experiˆncia ou ”aventura”. Logo, cada
e
3
4. t´tica, em um sentido, move-se para apropria¸˜o e a deslocamento do espa¸o do inimigo,
a ca c
eventualmente, para ocup´-lo e transform´-lo. Cada t´tica ou a¸˜o j´ ´ potencialmente
a a a ca a e
o caminho completo da autonomia em si, da mesma forma que a evoca¸˜o do Real j´
ca a
cont´m a completude do caminho espiritual (de acordo com a ”gnosis”do Ismailismo e do
e
sufismo heterodoxo).
Mas espere! Primeiro: quem ´ o inimigo? Tudo bem cochichar sobre as conspira¸˜es
e co
do Establishment ou das redes de controle ps´ ıquico. N´s estamos falando sobre a¸˜es
o co
diretas em tempo real que devem ser levadas a cabo contra nodos identific´veis de poder
a
em tempo real. A discuss˜o sobre inimigos abstratos, como o Estado, n˜o vai nos levar
a a
a lugar algum. Eu n˜o sou oprimido (ou alienado) diretamente por nenhuma entidade
a
concreta chamada Estado, mas por grupos espec´ ıficos tais como professores, a pol´
ıcia,
os chefes, etc. Uma ”Revolu¸˜o”pode objetivar a derrubada do ”Estado”. No entanto,
ca
a Insurrei¸˜o e todos os seus grupos de a¸˜o Imediatistas ter˜o de descobrir algum alvo
ca ca a
que n˜o seja uma id´ia, um peda¸o de papel, uma assombra¸˜o que nos acorrenta aos
a e c ca
nossos pr´prios sonhos ruins sobre poder e impotˆncia. Sim, n´s vamos lutar na guerra
o e o
de imagens. Mas as imagens surgem e fluem atrav´s de nexos espec´
e ıficos. O espet´culo
a
tem uma estrutura e a estrutura tem juntas, cruzamentos, padr˜es, n´
o ıveis. O espet´culo
a
talvez at´ tenha - algumas vezes - um endere¸o. Ele n˜o ´ real como a TAZ ´ real. Mas
e c a e e
´ real o suficiente para um ataque.
e
Como os textos imediatistas tˆm sido amplamente endere¸ados aos ”artistas”assim
e c
como aos ”n˜o-autorit´rios”, e como o Imediatismo n˜o ´ um movimento pol´
a a a e ıtico mas um
jogo, seria ´bvio procurarmos pelo inimigo na m´
o ıdia, especialmente naquela m´ que n´s
ıdia o
consideramos diretamente opressora. Por exemplo, para o estudante, a m´ ıdia opressora e
alienante ´ a ”educa¸˜o”, e o nexo (o ponto de press˜o) deve ser, pois, a escola. Para o
e ca a
artista, a fonte direta de aliena¸˜o ´ vista como o complexo que n´s geralmente chamamos
ca e o
de M´ ıdia, a qual tem usurpado o tempo e o espa¸o da arte tal como n´s desejar´
c o ıamos
pratic´-la, a qual tem redefinido todas as formas de comunica¸˜o criativa para uma troca
a ca
de commodities ou imagens alienantes, a qual tem envenenado o ”discurso”.
No passado, a m´ ıdia alienante foi a igreja, e a insurrei¸˜o expressava-se na linguagem
ca
da espiritualidade her´tica versus a religi˜o organizada. Hoje, a M´
e a ıdia assume o papel
da Igreja na circula¸˜o das imagens. Como a Igreja certa vez contou uma est´ria sobre a
ca o
escassez da santidade ou da salva¸˜o, a M´
ca ıdia, por sua vez, constr´i uma falsa hist´ria de
o o
escassez de valores ou ”significado”. Como a Igreja certa vez tentou impor o monop´lio o
do esp´
ırito, a M´ıdia quer refazer a linguagem como mente pura, separada do corpo.
A m´ ıdia nega significado ` corporalidade, ` vida cotidiana, da mesma forma como
a a
a Igreja uma vez definiu o corpo como demon´ ıaco e a vida cotidiana como pecado. A
m´ıdia se autodefine, ou ao seu discurso, como o universo real. N´s - meros consumidores
o
- vivemos em um mundo de ilus˜o, com televisores funcionando como olhos atrav´s das
a e
quais n´s observamos o mundo da vida, os ”ricos & famosos”, o real. Da mesma forma
o
a religi˜o definiu o mundo como ilus˜o e s´ o c´u como real - real, mas t˜o distante. Se
a a o e a
a insurrei¸˜o soou certa vez para a Igreja como heresia, ela deve agora, por conseguinte,
ca
falar ` m´
a ıdia. Certa vez colonos revoltados queimaram igrejas. Mas o que s˜o exatamente
a
as igrejas da M´ıdia?
´ a
E f´cil sentir nostalgia por um inimigo certa vez t˜o esplˆndido como a Igreja Cat´lica
a e o
4
5. Romana. Eu tenho at´ mesmo tentado me convencer que o pretencioso e fracassado
e
combate ao sexo ainda merece que conspiremos contra ele. Infiltre-se na igreja; encha o
ofert´rio como belos flyers pornˆ intitulados: ”Esta ´ a face de Deus”; esconda objetos
a o e
vudu/dada embaixo dos bancos e atr´s do altar; envie manifestos ocultos ao Bispo e ao
a
cl´rigo; publique amea¸as satˆnicas na imprensa idiota; deixe evidˆncias incriminando os
e c a e
Illuminati. Um alvo ainda mais satisfat´rio pode ser os Mormons, que est˜o completa-
o a
mente entorpecidos pelo commtech hipermediado e ainda intensamente sens´ ıveis ` ”magia
a
negra”.
O Televangelismo oferece uma mistura tentadora de m´ e religi˜o ruim. Mas quando
ıdia a
ele se torna o poder real, as igrejas se sentem completamente vazias. Deus as abandonou.
Deus tem seu pr´prio talk-show agora, seus pr´prias corpora¸˜es patrocinadoras, sua
o o co
pr´pria rede. O real alvo ´ a M´
o e ıdia.
O ”ataque m´gico”entretanto se mant´m como uma t´tica promissora contra a nova
a e a
igreja e a ”nova inquisi¸˜o- precisamente porque a M´
ca ıdia, como a Igreja, faz o seu trabalho
atrav´s da ”m´gica”, a manipula¸˜o de imagens. Nosso maior problema em atacar a
e a ca
M´ıdia na realidade ser´ o de inventar uma t´tica que n˜o possa ser recuperada pela
a a a
Babilˆnia e transformada em benef´ de seu pr´prio poder. Uma apressada reportagem
o ıcio o
”ao-vivo”de que a CBS foi atacada por feiticeiros tornar-se-ia simplesmente parte do
espet´culo da dissidˆncia, o drama do discurso da simula¸˜o. A melhor defesa t´tica contra
a e ca a
a coopta¸˜o ser´ a sutil complexidade e a profundidade est´tica de nosso simbolismo, o
ca a e
qual dever´ conter dimens˜es fractais intraduz´
a o ıveis para a imagem/linguagem chata do
televisor. Mesmo se ”eles”tentarem se apropriar de nosso conjunto de imagens, ele vai
carregar um fragmento inesperado de texto ”viral”que ir´ infectar todas as tentativas de
a
recupera¸˜o com a nauseante mazela da incerteza - um ”terror po´tico”.
ca e
Uma id´ia simples seria a de explodir uma torre de transmiss˜o de TV, e, ent˜o, cre-
e a a
ditar a a¸˜o em nome da Sociedade Americana de Poesia (quem deveria estar explodindo
ca
torres de TV); mas um ato puramente destrutivo como esse n˜o tem o aspecto criativo
a
da t´tica realmente imediatista. Cada ato puramente destrutivo deveria idealmente ser
a
tamb´m um ato de cria¸˜o. Suponhamos que n´s pud´ssemos impedir a transmiss˜o da
e ca o e a
TV em uma vizinhan¸a e, ao mesmo tempo, sugerir um festival miraculoso, liberando e
c
transformando o centro comercial local em uma TAZ de uma noite de dura¸˜o - nossa a¸˜o
ca ca
combinaria, por conseguinte, destrui¸˜o e cria¸˜o em uma ”a¸˜o direta”verdadeiramente
ca ca ca
Imediatista de beleza e terror - Bakuniana, situacionista, real dada pelo menos. A m´ ıdia
poderia tentar distorcˆ-la e se apropriar de seu poder, mas mesmo que o fizesse, ela nunca
e
poderia apagar a experiˆncia de uma vizinhan¸a e de suas pessoas libertas - e as chances
e c
s˜o de que, depois de tudo, a m´
a ıdia permane¸a em silˆncio, uma vez que o evento todo
c e
parecer´ muito complexo para ela o digerir e cagar como ”not´
a ıcia”.
Tal a¸˜o imensamente complexa poderia estar al´m das capacidades de todos, exceto
ca e
do mais rico e bem-desenvolvido Tong Imediatista. Mas o princ´ pode ser aplicado em
ıpio
n´ıveis mais baixos de complexidade. Por exemplo, imagine que um grupo de estudantes
deseja protestar contra o efeito imbecilizante da m´ıdia da educa¸˜o, interrompendo ou
ca
fechando a escola por algum tempo - de realiza¸˜o f´cil, como muitos ilustres sabotadores
ca a
de col´gio tˆm descoberto. Se levado a cabo como uma a¸˜o puramente negativa, o gesto
e e ca
pode ser interpretado como ”delinq¨ˆncia”pelas autoridades e, logo, a sua energia pode
ue
ser recuperada em benef´ do Controle. Os sabotadores deveriam fazer um ”ponto de
ıcio
5
6. simultaneidade”, provendo informa¸˜es valiosas, beleza e um senso de aventura. Pelo
co
menos, panfletos anˆnimos sobre o anarquismo, ”ensino em casa”, cr´
o ıtica da m´ıdia ou
algo desse tipo podem ser ”deixado na cena”ou distribu´ para outros estudantes, grupo
ıdo
de professores e at´ mesmo para a imprensa. Na melhor das hip´teses, uma alternativa
e o
para a escola deveria ser sugerida, atrav´s da convivˆncia, do festival, do aprendizado
e e
livre, da criatividade compartilhada.
Voltando ao projeto do ”ataque m´gico”` m´
a a ıdia, ou m´ıdia-hex: ele tamb´m deveria
e
combinar em um gesto tanto elementos destrutivos como criativos da efetiva obra de arte
Imediatista ou do trabalho do terrorismo po´tico. Dessa forma, ele ir´ (n´s esperamos)
e a o
demonstrar-se muito complexo para o usual processo de recupera¸˜o. Seria, por exemplo,
ca
f´til bombardiar o alvo midi´tico com imagens de horror, chacina, assassinatos em s´rie,
u a e
abuso sexual ”alien”, sadomasoquismo e coisas do tipo, uma vez que a M´ ´ o pr´prio
ıdia e o
distribuidor desse conjunto de imagens. O demi-satanismo de Guignol cabe bem neste
espectro do ”horror-como-controle”, onde a maioria das transmiss˜es ocorre. Vocˆ n˜o
o e a
pode competir com as ”Not´ ıcias”por imagens desagrad´veis, repulsivas, de pˆnico at´vico
a a a
ou de po¸as de sangue. A m´
c ıdia (se ´ que podemos personific´-la por um instante) pode
e a
inicialmente se surpreender que algu´m se importe em espelhar essa porcaria de volta -
e
mas isso n˜o teria nenhum efeito oculto. (IV)
a
Vamos imaginar (outro ”experimento no pensamento!”) que um grupo Imediatista de
algum tamanho e seriedade tenha, de alguma forma desconhecida, descolado os endere¸os c
(incluindo fax, telefone, e-mail, etc.) de um grupo criativo e executivo de um programa de
TV que n´s consideramos o ´pice da aliena¸˜o e do veneno ps´
o a ca ıquico (vamos dizer, ”NYPD
Blue”). Em The Malay Black Djinn Curse eu sugiro o envio de pacotes com objetos
dada/vudu para tais pessoas, juntamente com avisos de que o seu local de trabalho foi
amaldi¸oado. Naquele tempo, eu relutava em recomendar feiti¸os contra indiv´
c c ıduos. No
entanto, vou recomendar agora algo ainda pior.
Al´m disso, para esses magnatas da m´
e ıdia, eu bem que prefiro algo como um conjunto
de imagens mu¸ulmanas/her´ticas do r´ptil rastejante da selva, que eu sintetizei como a
c e e
opera¸˜o ”Djinn Negro- uma vez que a m´ demonstra medo pelo terror mu¸ulmano as-
ca ıdia c
sim como intolerˆncia contra mu¸ulmanos. N˜o obstante eu deveria agora fazer todo
a c a
o cen´rio e o conjunto de imagens muito mais complexos. Aos executivos da TV e
a
seus escritores, deveriam ser enviados objetos perturbadores e extraordin´rios como ”cai-
a
xas”surrealistas, contendo imagens belas mas ”ilegais”de prazer sexual (V) e simbolismo
espiritual intrincado. Imagens que evocam a autonomia e o prazer na auto-realiza¸˜o, ca
tudo muito sutil, sinuoso e misterioso. Estes objetos devem ser feitos com alta inspira¸˜o
ca
e fervor art´ıstico real, e cada um deve ser feito para uma pessoa apenas - a v´ ıtima da
macumba.
Os destinat´rios podem ficar abalados com estes ”presentes”anˆnimos, mas prova-
a o
velmente n˜o os ir˜o destruir nem discutir de uma vez. Nenhum preju´ para o nosso
a a ızo
esquema se eles o fizerem. Mas esses objetos podem muito bem parecer legais, muito
”caros”para serem destru´ ıdos - ou muito ”sujos”para se mostrar a algu´m. No pr´ximo
e o
dia, cada um dos destinat´rios-v´
a ıtima ir´ receber uma carta explicando que o recebimento
a
dos objetos efetuou a entrega de uma maldi¸˜o. A macumba ir´ despertar seus desejos
ca a
verdadeiros, simbolizados pelos objetos m´gicos. Eles ir˜o tamb´m perceber que eles est˜o
a a e a
agindo como inimigos da ra¸a humana ao transformarem em mercadoria o desejo e tra-
c
6
7. balhar como agentes no controle das almas. Os objetos de arte m´gicos v˜o se entrela¸ar
a a c
com seus sonhos e desejos, tornando seus empregos agora parecerem n˜o apenas chatos
a
e envenenados como tamb´m moralmente destrutivos. Seus desejos, despertos agora de
e
forma m´gica, ir˜o arruin´-los para trabalhar na m´
a a a ıdia - a menos que eles se voltem para
a subvers˜o e a sabotagem. Na melhor das hip´teses eles podem desistir. Isto pode sal-
a o
var sua sanidade sob o pre¸o de suas ”carreiras”sem significado. Se eles continuarem na
c
m´ıdia, eles ir˜o se perder em desejos n˜o satisfeitos, vergonha e culpa.
a a
Ou ent˜o se tornar˜o rebeldes e aprender˜o a lutar contra o Olho da Babilˆnia a
a a a o
partir da barriga do ´ ıdolo. Enquanto isso, seu ”show”vai sendo tomado por ataques de
magia negra de um grupo de feiticeiros xiitas terroristas, de um esquadr˜o de choque
a
´
vudu libiano, ou algo desse tipo. E claro, seria legal ter um agente l´ dentro para criar
a
“evidˆncias”e espionar informa¸˜es, mas alguma varia¸˜o neste esquema pode ser reali-
e co ca
zado sem infiltra¸˜o ativa na institui¸˜o. O ataque inicial pode ser talvez seguido de uma
ca ca
mala direta com propaganda antim´ ıdia ou at´ artigos Imediatistas. Se poss´
e ıvel, ´ claro,
e
algum azar poderia ser produzido para as v´ ıtimas ou para a sua institui¸˜o. Vocˆs sabem:
ca e
trapa¸as. Mas, novamente, isto n˜o ´ necess´rio, e pode at´ mesmo tomar o caminho de
c a e a e
um puro experimento nosso em mind-fuck e manipula¸˜o de imagens. Deixe os bastardos
ca
produzirem seu pr´prio azar desde sua tristeza interior, por serem estes grandiosos cuz˜es
o o
demon´ ıacos, a partir de sua supersti¸˜o at´vica (sem a qual eles n˜o seriam estes grandes
ca a a
magos da m´ ıdia), de seu medo da alteridade, de sua sexualidade reprimida. Vocˆ pode e
ter certeza de que eles ir˜o lembrar da ”maldi¸˜o”toda vez que algo ruim acontecer para
a ca
eles.
O princ´ ıpio geral pode ser aplicado para outras m´ıdias diferentes da TV. Uma com-
panhia de inform´tica, por exemplo, pode ser amaldi¸oada atrav´s de seus computadores
a c e
por um hacker de talento - este deve evitar cen´rios de fic¸˜o cient´
a ca ıfica, tais como o ci-
berespa¸o assombrado de William Gibson - muito barroco. Companhias de publicidade
c
funcionam sob m´gica pura, film-makers, firmas PR, galerias de arte, advogados e at´
a e
pol´
ıticos. (VI) Qualquer opressor que trabalha atrav´s da imagem ´ suscet´ ao poder
e e ıvel
da imagem.
Deve ser enfatizado que n´s n˜o descrevemos aqui a Revolu¸˜o, ou uma a¸˜o pol´
o a ca ca ıtica
revolucion´ria, ou mesmo a Subleva¸˜o. Este ´ meramente um novo tipo de proposi¸˜o de
a ca e ca
agita¸˜o neo-herm´tica, uma proposta para um novo tipo de ”arte pol´
ca e ıtica”, um projeto
para uma Tong de artistas rebeldes, um experimento no jogo do Imediatismo. Outros
indiv´
ıduos ir˜o lutar contra a opress˜o em seus pr´prios campos de experiˆncia, trabalho,
a a o e
discurso, vida. Como artistas, n´s escolhemos lutar com a ”arte”, com o mundo da m´
o ıdia,
contra a aliena¸˜o que nos oprime de forma mais direta. N´s escolhemos batalhar onde n´s
ca o o
vivemos, ao inv´s de teorizar sobre a opress˜o em algum outro lugar. Eu tenho procurado
e a
sugerir uma estrat´gia e imaginar certas t´ticas que levem adiante a luta. Nenhum outro
e a
chamado ´ feito, e nenhum detalhe adicional deve ser revelado. O resto ´ para a Tong.
e e
Eu admitirei que o meu gosto se inclina para uma abordagem ainda mais violenta da
M´ do que a proposta neste texto. Pessoas falam sobre tomar o controle de esta¸˜es de
ıdia co
TV, mas nenhuma delas tˆm conseguido. Pode fazer mais sentido atirar televisores contra
e
as vitrines das lojas de eletro-dom´sticos, rid´
e ıculo assim como parece, do que sonhar em
7
8. dominar os est´dios de TV. Eu esbocei algumas formas sugerindo atentados contra os
u
fascistas da not´ıcia, ou mesmo matando o cachorro de Geraldo, por muitas raz˜es que
o
ainda parecem suficientes para mim. Eu tenho lembrado das considera¸˜es de Nietzsche
co
acerca da futilidade e da inferioridade da vingan¸a como doutrina pol´
c ıtica. Uma mera
rea¸˜o nunca ´ uma resposta suficiente - tampouco um caminho nobre. Al´m disso, ela
ca e e
n˜o funcionaria: seria vista como um ”ataque ` liberdade de express˜o”.
a a a
O projeto aqui proposto inclui, em suas estruturas, a possibilidade de mudar alguma
coisa de fato - mesmo que apenas algumas ”mentes”. Em outras palavras, ele possui um
aspecto construtivo integralmente limitado por um aspecto destrutivo, de forma que os
dois n˜o podem ser separados. Nossos objetos dada/vudu s˜o tanto um ataque como uma
a a
sedu¸˜o, e ambos ser˜o exaustivamente explicados nas cartas ou flyers que os acompa-
ca a
nham. No final das contas, existe a chance de convertermos algu´m. N´s podemos, ´ claro,
e o e
facilmente falhar no projeto tamb´m. Todos os nossos esfor¸os podem acabar no lixo, es-
e c
quecidos pelas mentes t˜o bem armadas at´ para sentir os momentos de nervosismo. Isto
a e
´, no final das contas, um mero experimento do pensamento, ou um experimento no pen-
e
samento. Vocˆ pode demonin´-lo, se preferir, como uma mera forma de cr´
e a ıtica est´tica
e
dirigida aos perpetradores, ao inv´s de aos consumidores, de arte ruim. O tempo da
e
violˆncia real n˜o ´ agora, s´ porque a produ¸˜o da violˆncia se mant´m como monop´lio
e a e o ca e e o
das Institui¸˜es. N˜o h´ raz˜o para colocar a cabe¸a ` prˆmio, ostentando uma arma, se
co a a a c a e
se est´ diante de um raio da morte de um sat´lite de guerra nas estrelas. (VII)
a e
Nossa tarefa ´ a de alargar as fissuras do pseudo monolito do discurso social, gradati-
e
vamente descobrir pequenas partes de espet´culo vazio, rotular formas sutis de controle
a
mental, mapeando rotas de fuga, estilha¸ar as cristaliza¸˜es da imagem sufocadora, ba-
c co
ter em panelas e frigideiras para acordar os cidad˜os do transe da m´
a ıdia, usar a ”m´ıdia
´
ıntima”(VIII) para orquestrar nossos ataques ` Grande M´ e `s suas Grandes Mentiras;
a ıdia a
aprender novamente a respirarmos juntos, a vivermos em nossos corpos, a resistirmos ` a
imagem-hero´ da ”informa¸˜o”.
ına ca
De fato, o que n´s chamamos de ”a¸˜o direta”pode ser aqui melhor conhecida como
o ca
a¸˜o indireta, viral, oculta, simb´lica e sutil, ao inv´s de atual, que fere, militante e
ca o e
aberta. Se n´s e nossos aliados naturais gostamos at´ dos pequenos sucessos, entretanto,
o e
a superestrutura pode eventualmente perder muito de sua coerˆncia e tamb´m da garantia
e e
de que seu poder vai come¸ar a se perder.
c
O dia pode chegar (quem teria imaginado que, em uma manh˜ de 1989, o Comunismo
a
iria evaporar?), o dia quando o Capitalismo muito-tardio come¸ar a derreter - afinal isto
c
tudo ´ apenas marxismo e fascismo que perdura porque ´ ainda mais est´pido - um dia
e e u
a pr´pria f´brica do consenso pode come¸ar a se desfazer, junto com a economia e com
o a c
o meio-ambiente. Um dia o colosso pode tremer, balan¸ar como uma velha est´tua de
c a
Stalin em um quarteir˜o de uma cidade provinciana. E, talvez, nesse dia a esta¸˜o de TV
a ca
explodir´ e permanecer´ explodida. At´ l´: um, dez, mil ataques ocultos `s institui¸˜es.
a a e a a co
Notas
I. Eu n˜o estou usando o termo hiperm´
a ıdia aqui no sentido atribu´ a ele por nossos
ıdo
camaradas da Xexoxial Endarchy, os quais chamam de hiperm´ ıdia a apropria¸˜o de sim-
ca
8
9. plesmente toda a m´ıdia criativa para um unico efeito (por exemplo: o pr´ximo est´gio
´ o a
al´m da ”m´
e ıdia misturada”)... Eu estou usando ”hipermedia¸˜o”para significar a repre-
ca
senta¸˜o exacerbada a ponto de uma aliena¸˜o, tal como na imagem da comoditiza¸˜o.
ca ca ca
II. O Mormonismo foi fundado por patifes ocultistas Freemason, e os l´
ıderes Mormon
permanecem extremamente suscet´ ıveis `s insinua¸˜es de um passado enterrado que pode
a co
retornar para assombr´-los. A Igreja Cat´lica Romana poderia, por milˆnios, dar de
a o e
ombros, com sofistica¸˜o, ao ”ataque m´gico- mas os Mormons pegariam em armas.
ca a
´
III. E importante n˜o ser pego pois isso neutraliza qualquer poder que possamos ter
a
obtido ou procurado expressar, e at´ mesmo coloca o nosso pr´prio poder contra n´s.
e o o
Uma boa a¸˜o Imediatista deveria ser relativamente impec´vel. Ser expulso da escola
ca a
pode estragar o efeito. O Imediatismo quer ser uma arte marcial, n˜o a estrada para o
a
mart´ırio.
IV. O problema com a maior parte da arte ”transgressora”´ que ela n˜o transgride
e a
nenhum dos valores consensuais - ela nada mais faz do que exager´-los ou, na melhor das
a
hip´teses, exacerb´-los. A obsess˜o est´tica com a ”Morte”forja uma mercadoria perfeita
o a a e
(imagem-sem-substˆncia), uma vez que o significado da entrega da imagem colocaria, de
a
fato, um fim ao consumidor. Comprar a morte ´ comprar o fracasso ou o fascismo - um
e
precip´ sobre o qual Bataille tremeu com a falta doentia de equil´
ıcio ıbrio. Eu digo isso
apesar da admira¸˜o por Bataille.
ca
V. Isto ir´ prevenir as imagens de at´ mesmo aparecerem na TV ou em fotos de not´
a e ıcia.
Isto tamb´m ir´, por coincidˆncia, fazer a declara¸˜o sobre a rela¸˜o entre ”beleza”e
e a e ca ca
”obscenidade”e entre ”arte”e ”censura”, etc., etc.
VI. Geralmente n˜o vale a pena atacarmos como ”pol´
a ıticos”, porque eles s˜o, afinal de
a
contas, meros ”tigres de papel- mas talvez valha a pena atacarmos como tigres de papel.
VII. Todo o respeito aos ativistas que destru´
ıram um grande sat´lite, na Calif´rnia,
e o
com machados. Infelizmente, eles foram pegos e sua puni¸˜o foi ter de pagar o custo da
ca
destrui¸˜o com seus sal´rios. Nada bom.
ca a
VIII. A m´ ´
ıdia ıntima, por defini¸˜o, n˜o alcan¸a a massa n˜o-consciente como a TV,
ca a c a
os filmes e os jornais. R´dio FM, v´
a ıdeo por cabo de acesso p´blico, imprensa ”nanica”,
u
CDs e fitas cassete, software e outras tecnologias de comunica¸˜o podem ser usadas como
ca
m´ ”´
ıdia ıntima”. Aqui, a id´ia da Xexoxial Endarchy de ”hiperm´
e ıdia”como uma ferramenta
para a insurrei¸˜o encontra seu verdadeiro papel. Existem duas fac¸˜es em luta dentro
ca co
da teoria n˜o-autorit´ria no momento: os primitivistas anti-tech (Fifth Estate, Anarchy:
a a
A journal of Desire Armed, John Zerzan) e os pro-tech futurologistas (incluindo tanto a
esquerda anarco-sindicalista, como os anarco-libert´rios de direita).
a
Eu considero todos os argumentos amplamente informativos e inspiradores. Em TAZ
e em algum outro lugar, eu tentei reconciliar ambas posi¸˜es em meu pr´prio pensamento.
co o
Eu sugeriria agora que a quest˜o proposta por esses argumentos n˜o pode ser respondida
a a
a n˜o ser no processo de transforma¸˜o a uma praxis (ou politique) do desejo. Vamos
a ca
imaginar que a ”Revolu¸˜o”instaurou-se. N´s somos livres para escolher nosso n´ de
ca o ıvel
tecnologia em um espectro que compreende desde a pr´-idade do gelo primitiva at´ a
e e
fic¸˜o cient´
ca ıfica p´s-industrial. Ir˜o os neo-paleol´
o a ıticos for¸ar os futuristas a desistirem de
c
9
10. sua tecnologia? Ir˜o os cadetes do espa¸o for¸ar os Zerzanites ` comprarem roupas VR?
a c c a
Devotamente, espera-se que n˜o. A quest˜o, ao contr´rio, ser´: o quanto n´s desejamos
a a a a o
a vida de ca¸a e coleta? Ou a vida ciberevolucion´ria?
c a
N´s desejamos computadores suficientes para forjar n´s mesmos chips de sil´
o o ıcio? Por-
que, depois da revolu¸˜o, ningu´m vai aceitar trabalho alienado. A respeito disso, todas as
ca e
tendˆncias n˜o-autorit´rias concordam. Vocˆ deseja uma floresta repleta de jogos? Vocˆ
e a a e e
´ respons´vel por sua fecundidade e sua selvageria. Vocˆ deseja uma espa¸o-nave? Vocˆ
e a e c e
´ respons´vel por sua fabrica¸˜o, desde a busca de min´rios at´ a solda do cone de sua
e a ca e e
extremidade. De todas as maneiras, forma-se a comuna ou o trabalho em rede. De todas
as formas, existe a demanda de que o meu n´ de tecnologia n˜o interfira no seu. Afora
ıvel a
estas regras b´sicas para evitar uma guerra civil, a sociedade n˜o-autorit´ria n˜o depende
a a a a
em nada, a n˜o ser no desejo de dar forma a sua techne. Como Fourier colocaria, o n´
a ıvel
de complexidade econˆmica da sociedade ut´pica estar´ em harmonia com a totalidade
o o a
das paix˜es. Eu n˜o posso prever exatamente o que pode emergir. Tudo que eu posso
o a
imaginar ´ que eu sou capaz de desejar ao ponto de estar pronto para trabalhar em sua
e
realiza¸˜o.
ca
Pessoalmente (por uma quest˜o de gosto), eu imagino algo muito parecido com bolo’bolo
a
- infinita variedade em um contexto revolucion´rio b´sico de liberdade positiva. Por de-
a a
fini¸˜o, n˜o poder´ existir l´ algo como uma NASA-bolo ou um Wall-Street-bolo, porque
ca a a a
a NASA e Wall-Street dependem da aliena¸˜o para existirem. Eu esperaria algo de baixa
ca
tecnologia ou de tecnologia apropriada (imaginada pelos teoristas dos anos 60, como Il-
lich) tornar-se o padr˜o Ut´pico, com asas extremas ocupando uma selvageria restaurada
a o
de um lado, e a Lua de outro lado...
De qualquer forma, ´ tudo fic¸˜o cient´
e ca ıfica. Em meus escritos eu tento imaginar t´ticas
a
que possam ser usadas agora, e por qualquer tendˆncia n˜o-autorit´ria. A ”Tong”e o
e a a
ataque a m´ ıdia devem apelar tanto para os primitivistas como para os techies. E eu
discuto o uso da magia e dos computadores porque ambos existem no mundo em que
habito e ambos ser˜o utilizados na luta pela libera¸˜o. N˜o apenas o futuro, mas mesmo o
a ca a
presente mant´m muitas possibilidades, muitos recursos, um superabundante-redundante
e
excesso de potenciais, para serem limitados pela ideologia. Uma teoria da tecnologia ´ e
muito restritiva. O imediatismo oferece em troca uma est´tica da tecnologia, e prefere a
e
pr´xis a teoria.
a
Nota Sobre a Arquitetura da TAZ
Obviamente a TAZ costuma deixar n˜o apenas buracos para tr´s. A constru¸˜o n˜o ´
a a ca a e
sua prioridade mais alta. E, ainda, todo o espa¸o vivido ´ arquitetura - espa¸o constru´
c e c ıdo,
espa¸o feito -, e a TAZ, por defini¸˜o, tem sua presen¸a no espa¸o e no tempo real.
c ca c c
O acampamento nˆmade pode talvez servir como um prot´tipo primordial. Barracas,
o o
Traillers, Motorhomes, casas-barco. O velho circo ou carnaval itinerante pode oferecer
um modelo para a arquitetura da TAZ. No meio urbano, organizar um squat se torna a
op¸˜o mais comum de espa¸o para os nossos prop´sitos, mas na Am´rica, n˜o importa o
ca c o e a
que aconte¸a, a lei da propriedade faz de um squat um espa¸o quase pobre. A TAZ deseja
c c
um espa¸o rico, n˜o t˜o rico em articula¸˜o (como no espa¸o do controle, a constru¸˜o
c a a ca c ca
oficial do capital, da religi˜o, do estado) mas rico em express˜o.
a a
10
11. Os espa¸os de atua¸˜o tempor´rios propostos por situacionistas e urbanistas radicais
c ca a
nos anos 60 tinham certo potencial, mas finalmente se demonstraram muito caros ou muito
planejados. A arquitetura ur-TAZ ´ aquela da comuna de Paris. A microvizinhan¸a ´
e c e
fechada por barricadas. As casas idˆnticas dos pobres s˜o ent˜o conectadas por passarelas
e a a
atrav´s de todas elas, conectando muros ao ch˜o. Estas passarelas nos lembram as arcadas
e a
de Fourier, pelas quais os Planasterians circulariam atrav´s de seu pal´cio comum, do
e a
espa¸o privado ao p´blico e vice-versa. A Comuna bloqueando a cidade tornou-se uma
c u
TAZ fortificada com espa¸o militar p´blico no n´
c u ıvel do ch˜o (e telhados) e o espa¸o
a c
privado em hist´rias superiores, com as ruas fechadas como espa¸o do festival. Este plano
o c
influencia a arquitetura da ”P.M.’s bolo’bolo”, onde o bloco da comuna torna-se uma
comuna ut´pica urbana mais permanente. Assim como a TAZ, ela ´ afetada por um
o e
tipo de fechamento, mas projeta-se paradoxalmente atrav´s de aberturas. Ela escapa do
e
asfixiante enclausuramento do Capital, e da tr´gica fealdade do espa¸o industrial. Sua
a c
arquitetura ´ suave, n˜o estriada - por essa raz˜o a tenda, n˜o a pris˜o, a passarela e n˜o
e a a a a a
o portal, a barricada, n˜o os boulevards de Haussman.
a
Traduzido por fido
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