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O 1998 by Arquivo Nacional
Rua Azeredo Coutinho, 77
CEP 20230-170 - Rio de Janeiro - RJ - Brasil
Presidente da R e p ú b l i c a
Fernando Henrique Cardoso
Ministro da J u s t i ç a
J o s é Renan Vasconcelos Calheiros
Dlretor-Geral do Arquivo Nacional
Jaime Antunes da Silva
Editora
Maria do Carmo T. Rainho
Conselho Editorial
Ingrid Beck. J o s é Ivan Calou Filho, Maria do Carmo T. Rainho, Maria Isabel F a l c ã o , Maria Izabel
de Oliveira, Nilda Sampaio Barbosa, Sílvia Ninita de Moura E s t e v ã o , Verone G o n ç a l v e s Cauville
Conselho Consultivo
Ana Maria Camargo, Angela Maria de Castro Gomes, Boris Kossoy, Célia Maria Leite Costa,
Elizabeth Carvalho, Francisco Falcon, Francisco Iglesias, Helena Ferrez, Helena C o r r ê a Machado,
H e l o í s a Liberalli Belotto, limar Rohloff de Mattos, Jaime Spinelli, Joaquim Marcai Ferreira de
Andrade, J o s é Carlos Avelar, J o s é S e b a s t i ã o Witter, L é a de Aquino, Lena Vânia Pinheiro,
Margarida de Souza Neves, Maria Inez Turazzi, Marilena Leite Paes, Regina Maria M. P. Wanderley,
Solange Z ú n i g a
Projeto G r á f i c o
A n d r é Villas Boas
E d i t o r a ç ã o E l e t r ô n i c a , Capa e I l u s t r a ç ã o
Qisele Teixeira de Souza
Revisão
Alba Gisele Qouget, J o s é C l á u d i o da Silveira Mattar, J o s é Ivan Calou Filho e T â n i a Maria Cuba
Bittencourt
Resumos
Carlos Peixoto de Castro, Flávia Roncarati Gomes e J o s é C l á u d i o da Silveira Mattar ( v e r s ã o em
i n g l ê s ) e Flávia Roncarati Gomes e Léa Porto de Abreu Novaes ( v e r s ã o em f r a n c ê s )
Reprodução Fotográfica
Agnaldo Neves Santos, C í c e r o Bispo, Flavio Ferreira Lopes e Marcello Lago
Secretaria
Jeane D'Arc Cordeiro

Acervo: revista do Arquivo nacional. —
v. 10, n. 2 (jul./dez. 1997). — Rio de Janeiro: Arquivo
nacional. 1998.
v.; 26 cm
Semestral
Cada número possui um tema distinto
ISSn 0102-700-X
1. Imigraçáo - Brasil - I. Arquivo nacional
CDD 323-1
Ministério da J u s t i ç a

Arquivo Nacional

ACERVO
R E V I S T A

D O A R Q U I V O

N A C I O N A L

RIO DE JANEIRO, V.10, NÚMERO 02, JULHO/DEZEMBRO 1997
S

U

M

Á

R

I

O

01
Apresentação
03
Bastidores
U m outro olhar sobre a i m i g r a ç ã o no R i o de Janeiro
Lená Medeiros de Menezes
17
Camisas-Verdes
O integralismo no S u l do Brasil •
Carla Brandalise
37
O U n i v e r s o do T r a b a l h o do Imigrante em Itu - S P ( 1 8 7 6 - 1 9 3 0 )
Maria Antonieta de Toledo Ribeiro Bastos
53
"Proverbial H o s p i t a l i d a d e " ?
A Revista Jc Imigração

e Colonização

c o discurso oficial sobre o imigrante ( 1 9 4 5 -

1955)
Elena Pájaro Peres
71
"Inimigos M a s c a r a d o s com o T í t u l o de C i d a d ã o s "
A v i g i l â n c i a c o controle sobre os portugueses no R i o de Janeiro do Primeiro Reinado
Qladys Sabina Ribeiro
97
I m i g r a ç ã o Portuguesa e M o v i m e n t o O p e r á r i o no B r a s i l
Fontes c arquivos de Lisboa
Fernando Teixeira da Silva
109
Portugueses no B r a s i l
I m a g i n á r i o social c t á t i c a s cotidianas ( 1 8 8 0 - 1 8 9 5 )
Maria Manuela R. de Sousa Silva
119
A ç o n a n o s e M a d eirenses no S u l do B r a s i l
Walter F. Piazza
129
A

C r i a ç ã o do E s t r a n h a m e n t o

e a C o n s t r u ç ã o do E s p a ç o

Público

Os japoneses no Estado Novo
Adriano Luiz Duarte
147
L i t e r a t u r a de I m i g r a ç ã o
M e m ó r i a s dc uma diáspora
Maria Luiza Tucci Carneiro
165
I m i g r a ç ã o A l e m ã e C o n s t r u ç ã o do E s t a d o N a c i o n a l

Brasileiro

R i o Grande do S u l , s é c u l o
Helga Iracema Landgraf Piccolo
179
Breves R e f l e x õ e s Sohre o P r o h l e m a da I m i g r a ç ã o U r b a n a
O caso dos e s p a n h ó i s no R i o dc Janeiro ( 1 8 8 0 - 1 9 1 4 )
Lúcia Maria Paschoal Q u i m a r ã e s
199
M u l t i p l i c i d a d e É t n i c a no l  i o de J a n e i r o
U m estudo sobre o 'Saara'
Paula Ribeiro
213
Perfil Institucional
M e m o r i a l do Imigrante
Marco Antônio Xavier
219
Perfil Institucional
M u seu e A r q u i v o H i s t ó r i c o M u n i c i p a l de C a x i a s do S u l
Juventino Dal Bó
223
Fontes para E s t u d o s da E n t r a d a de Estrangeiros e de Imigrantes no B r a s i l
229
Bibliografia
A

P

R

E

S

E

N

T

A

Ç

Ã

O

Como afirma Boris Fausto, a imigração

Tentando contribuir para divulgar o que

tardou a constituir um campo específico

vem sendo produzido nas universidades

da pesquisa a c a d ê m i c a . Durante muito

e centros de pesquisa sobre imigração,

tempo — podemos dizer, a t é meados da

esse n ú m e r o da Acervo traz 13 artigos,

d é c a d a de 1960 — era objeto apenas de

além de dedicar a seção Perfil Institucional

grandes i n t e r p r e t a ç õ e s s o c i o l ó g i c a s ,

a entidades que se destacam pela riqueza

destacando-se as obras de Roger Bastide

de seus acervos como o Memorial do

e Florestan Fernandes.

Imigrante e o Museu e Arquivo Histórico

A partir dos trabalhos dos brazilianistas
que, ainda segundo Fausto, se relacionam
com o desenvolvimento de estudos sobre
etnias nos Estados Unidos, o tema da

Municipal de Caxias do Sul. Para finalizar,
a p r e s e n t a u m r o t e i r o dos

núcleos

documentais custodiados pelo Arquivo
nacional, de interesse para o tema.

imigração passa a constituir-se em objeto

Abre esse n ú m e r o , o texto da professora

de análise não subordinado.

Lená Medeiros de Menezes que utiliza os

Dentre os estudos desenvolvidos por

processos de expulsão de imigrantes para

pesquisadores

e s t u d a r as formas de i m p o s i ç ã o da

brasileiros, chama a

a t e n ç ã o o de J o s é de Souza Martins que,

disciplina no e s p a ç o urbano do Rio de

a partir da d é c a d a de 1970, toma a

Janeiro, durante a Primeira República.

imigração

central,

A seguir, C a r l a B r a n d a l i s e a n a l i s a a

analisando n ã o apenas as r e l a ç õ e s de

inserção do movimento integralista no Rio

p r o d u ç ã o pós-escravistas, como t a m b é m

Qrande do Sul na d é c a d a de 1930 e a sua

os o b s t á c u l o s e i m p o s s i b i l i d a d e s de

a t u a ç ã o nas á r e a s ocupadas por colonos

a s c e n s ã o social dos imigrantes pobres.

a l e m ã e s e italianos.

Atualmente,

como

a

objeto

imigração

é

tema

recorrente nos trabalhos de historiadores,
a n t r o p ó l o g o s e sociólogos, que ampliam
o e s p a ç o geográfico enfocado — o qual
centrou-se, por muito tempo, em S ã o
Paulo, Rio de Janeiro e Rio Qrande do Sul
—, e incorporam novas abordagens como

O artigo da geógrafa Maria Antonieta de
Toledo Ribeiro Bastos traça um perfil dos
trabalhadores imigrantes em Itu, entre
1876 e 1930, em particular os italianos
que dedicaram-se, em grande parte, ao
trabalho agrícola.

as n o ç õ e s de etnicidade e pluralismo

Elena

cultural.

regulamentação

Pájaro

Peres
do

analisa

a

movimento
imigratório no Brasil, a partir da Revista

eliminar

de Imigração

'derrotistas'.

e Colonização

que circulou

entre 1940 e 1955 e visava e s b o ç a r as
características do imigrante desejável.
y

f i s i c a m e n t e os

chamados

A literatura de imigração, especialmente
aquela produzida por imigrantes judeus

T r ê s a r t i g o s e n f o c a m os i m i g r a n t e s

que se refugiaram do nazismo no Brasil,

portugueses no Brasil: o de Qladys Sabina

nas d é c a d a s de 1930 e 1940, é o tema da

Ribeiro analisa a vigilância e o controle

professora Maria Luiza Tucci Carneiro que

que sofreram durante o Primeiro Reinado;

analisa o conteúdo dessas obras e o perfil

o texto de Fernando Teixeira da Silva

dos seus autores.

aponta as possibilidades de pesquisa
sobre a relação entre movimento operário
e

imigração

portuguesa,

nas

três

O processo de imigração alemã para o Rio
Qrande do Sul durante o século XIX é o

p r i m e i r a s d é c a d a s do s é c u l o XX, em

tema de tlelga Iracema Landgraf Piccolo,

Santos; e, finalmente, o artigo de Maria

onde se destaca o pequeno proprietário

Manuela R. de Sousa e Silva aborda as

imigrante como fiel da balança, na relação

t e n s õ e s existentes na r e l a ç ã o entre

entre o governo imperial e os grandes

brasileiros e portugueses a partir de

senhores de terra, muitos deles escravistas.

enfrentamentos cotidianos ocorridos no

Os e s p a n h ó i s n ã o foram esquecidos pela

Rio de Janeiro, no final do século XIX.

Acervo e e s t ã o presentes no artigo de

Walter Piazza trabalha a história da vinda

Lúcia Maria Paschoal G u i m a r ã e s que,

de imigrantes a ç o r i a n o s e madeirenses

tendo como e s p a ç o o Rio de Janeiro na

para o sul do Brasil no século XVIII, suas

virada do século XIX, pretende demonstrar

bases sociais e políticas, e os resultados

que a emigração urbana se constituiu num

desse movimento migratório.

fator

Os imigrantes japoneses durante o Estado
Movo s ã o o objeto do texto de Adriano Luiz

concorrente

da

mão-de-obra

nacional, especialmente aquela que fora
liberada pela abolição.

Duarte. Esses imigrantes, com o fim da

Fecha este n ú m e r o o texto de Paula

Segunda Guerra, dividiram-se em dois

Ribeiro

que parte

dos r e l a t o s

dos

grupos: aqueles que não acreditavam na

imigrantes sírios e libaneses c r i s t ã o s ,

derrota japonesa e os que, conformados

judeus sefaradim

com a situação, desejavam esquecê-la. É

para traçar um perfil desses homens que,

interessante destacar os dados que o

desde fins do século XIX, t ê m - s e dedicado

autor apresenta sobre a

ao comércio de armarinhos e de g ê n e r o s

Shindô-Remmei,

o r g a n i z a ç ã o que t i n h a por o b j e t i v o

e seus descendentes,

alimentícios.

Maria do Carmo T. Rainho
Editora
Lená Medeiros de Menezes
Professora Adjunta
do Departamento de História da UERJ. Doutora em História Social.

. . B a s t i d o r e s

U m

outro oUiar sotre a imigração no
R i o cie J a n e i r o

A

pós residir 38 anos na

bre a defesa da ordem e da segu-

cidade do Rio de Janeiro, Manuel Real, portu-

rança nacional, a prática da expulV

g u ê s , analfabeto, solteiro, padeiro

s ã o representou uma das faces da
excludência implantada pelo regi-

por profissão, mas sem residência fixa, foi

me republicano: aquela que atingia os es-

expulso do Brasil como mendigo incorri-

trangeiros pobres, transformados em al-

gível, regressando à terra natal, com 64

vos das políticas de higiene social e n t ã o

anos, apenas com a roupa do corpo. Mui-

desenvolvidas, numa cidade que conhe-

to mais brasileiro que português, foi obri-

cia um tempo de m u d a n ç a s visíveis no ser,

gado a voltar à Europa, de onde saíra com

no fazer, no sentir e no estar. Tempo mar-

a idade de 26 anos, para enterrar, em

cado por luzes e sombras, fugas e bus-

outro solo que n ã o o brasileiro, a falên-

cas, por distanciamentos profundos en-

cia de seus sonhos, expectativas e espe-

tre o discurso legal, que contemplava pos-

ranças.

1

tulados liberais, e as práticas políticas au-

História de vida como a de Manuel Real
não foi um caso isolado na capital brasileira, ao longo de seu t ã o aclamado processo civilizatório. Além do discurso so-

toritárias do cotidiano, enraizadas n u m a
mentalidade escravista e latifundiária.
lio processo de imigração em massa que

Acervo, Rio de J a n e i r o , v. 10, n ° 2, pp. 0 3 - 1 6 , Jul/dez 1997

- pág.3
marcou a virada do século, a proclama-

tado, em muito, da r e p r e s e n t a ç ã o ideali-

ção e a consolidação da república brasi-

zada de m ã o - d e - o b r a superior, promoto-

leira corresponderam à terceira^ onda dos

ra do progresso, que compunha os dis-

movimentos m i g r a t ó r i o s que do Velho

cursos imigrantistas na é p o c a imperial.

Mundo atingiram a América. Esta onda,

Com pouco conhecimento dos códigos ur-

diferente das anteriores, caracterizou-se

banos, precária qualificação profissional

pelo êxodo em massa das á r e a s agrícolas

e ausência de laços familiares na nova ter-

da Europa mediterrânea, que e n t ã o co-

ra, muitos desses estrangeiros compuse-

nhecia a acelerada d e s e s t r u t u r a ç ã o da

ram um proletariado miserável, fornecen-

comunidade camponesa tradicional, fia

do grandes contingentes ao lumpesinato

cidade do Rio de Janeiro, ela represen-

existente na cidade.

tou o afluxo predominante de indivíduos
pobres provenientes dos campos do norte e noroeste de Portugal, com destaque
para o Minho, Douro e Trás-os-Montes, seguindo-se as á r e a s rurais da Espanha,
principalmente da Qaliza, e as províncias
m e r i d i o n a i s de C o z e n z a , S a l e r n o e
Potenza, na Itália.

2

Sobras do arranjo social

nos países de

origem, grande parte deles permaneceu
à margem dos benefícios trazidos pelo
progresso, numa cidade que conhecia a
carestia, o déficit habitacional e um mercado de trabalho m a g m á t i c o , marcado
pela superexploração, baixos salários, longas jornadas e desemprego recorrente. Essa

De acordo com os registros existentes, o

conjugação perversa tornou-os objetos pri-

imigrante pobre que chegou ao Rio de Ja-

vilegiados da ação disciplinar conduzida

neiro, pobre tendeu a permanecer, afas-

pelas elites; alvos destacados da vigilância

Manuel Real em 1928.

p á g . A, j u l / d e z

1997

Fotografias Integrantes d o seu processo de expulsão. Arquivo Nacional.
o

V

Benaneti tinha 62 anos quando foi expul-

policial e das leis de expulsão.
Como em outras cidades do mundo influenciadas pela Europa, a história do Rio
de Janeiro, début de siècle,

foi marcada

pela importação de produtos e bens, homens e mulheres, usos e costumes, fazeres e lazeres, crimes e c o n t r a v e n ç õ e s ,

so em 1929 como vadio. Era solteiro,
analfabeto, carroceiro e havia entrado no
país em 1922, j á com idade a v a n ç a d a .
Segundo o depoimento por ele prestado,
chegara ao Rio de Janeiro vindo de Santos, onde um acidente, ocorrido em 1925,
o impossibilitara de continuar trabalhan-

valores e visões de mundo.

do, razão pela qual, sozinho e sem alterCivilizar a cidade, neste contexto de mudança, foi um processo que caminhou em
dois sentidos principais. Em primeiro lugar, no da criação de um e s p a ç o moderno, racional e funcional, em que os negócios encontraram um lugar especializado e privilegiado para florescer, distanciado dos becos e ruelas tradicionais. Em
segundo

lugar,

no

sentido

dó

desencadeamento de uma proposta de
a d a p t a ç ã o da p o p u l a ç ã o urbana aos
c â n o n e s de um novo viver, através de sua
s u b m i s s ã o a um código legal que, contraposto ao popular, criminalizou comportamentos tradicionais, atingindo fortemente os estrangeiros, num modelo- de
república

que

passou

a utilizar a

alteridade como instrumento de construção artificial da identidade nacional, principalmente nos anos que precederam e
se seguiram à Primeira Querra Mundial.

nativas de trabalho, lançou-se à mendicância.

3

natural de uma pequena freguesia do distrito de Braga, A. Cardoso tinha 25 anos
quando foi obrigado a voltar para Portugal, 12 anos depois de chegar ao Brasil,
aos 13 anos de idade, junto com os pais.
R e c é m - c h e g a d o , empregou-se em uma
fábrica de louças no bairro de São Cristóvão, onde trabalhou por algum tempo,
sendo colocado na rua logo depois da família ter retornado a Portugal. Só e desamparado, viu-se numa "situação financeira deplorável", segundo as declarações
que prestou, no ano de 1922, com 17
anos, preso e processado, acusado de ferir um companheiro em a r r u a ç a s de rua,
foi recolhido à Casa de Detenção. Influenciado pelos nouos amigos que lá conheceu, não mais procurou emprego ao
deixar a prisão, passando a viver exclusi-

Várias histórias de vida contadas nos pro-

vamente do produto dos furtos que prati-

cessos de expulsão exemplificam bem as

cava. Processado várias outras vezes, foi

dificuldades encontradas por centenas de

c o n d e n a d o a d o i s anos em c o l ô n i a

imigrantes pobres no Rio de Janeiro, ao

correcional situada no interior do estado.

tempo da Belle Époque,

como as que

Preso novamente, ao passar o conto-do-

c o m p õ e m os processos de H. Benanan,

uigário em um patrício, de quem furtou

A. Cardoso, A. Santos e J . M. Melo:

setecentos mil réis em moeda brasileira

F r a n c ê s de T ú n i s , H. Benanan ou A.

e oitocentos escudos portugueses, aca-

Acervo, Rio de J a n e i r o , v. 10. n ° 2. pp. 0 3 - 1 6 . j u l / d e z 1997

- pág.5
C

A

bou expulso como vadio incorrigível no
ano de 1930.

4

são. Foi expulso com a idade de 27 anos,
acusado de ser um dos responsáveis pela
onda de e x p l o s õ e s ocorrida no ano de

nascido na aldeia de Travanca, conselho
de Vinhães, na província de Trás-os-Montes, seu c o n t e r r â n e o A. Santos contava 26
anos quando vislumbrou, pela última vez,
os contornos majestosos dos morros que
a b r a ç a m a cidade do Rio de Janeiro. Era
solteiro, alfabetizado, e havia chegado ao
país com 12 anos. Segundo suas declaraç õ e s , t ã o logo desembarcou na capital
brasileira, foi residir com um tio, com
quem permaneceu por cerca de dois anos.
Em 1917, com 14 anos, s ó na vida, "deuse à vadiagem". Preso por ter furtado vinte
mil réis de um alfaiate estabelecido no
centro da cidade e recolhido, pela polícia, a um patronato, ali ficou a t é princípi-

1920. Segundo o depoimento por ele
prestado, tão logo chegou ao Brasil empregou-se numa fábrica de tecidos, e,
depois, em padarias, tendo-se filiado à
Sociedade dos Padeiros. Acusado de ter
colocado uma bomba numa padaria situada na rua V o l u n t á r i o s da Pátria, em
Botafogo, foi preso em maio de 1920,
passando a integrar a lista negra dos agitadores que circulava entre os empregadores, n ã o conseguindo mais nenhum
tipo de emprego. Desesperado com a s i tuação, "pois não ganhava para comer",
«1 não querendo mais "ter fama sem proveito", resolveu vingar-se dos p a t r õ e s ,

os de 1920, sendo desligado a p ó s ter con-

passando a fabricar bombas e a colocá-

cluído o curso de arado e de agricultura

las em lugares considerados estratégicos.

o f e r e c i d o pela i n s t i t u i ç ã o .

Fora do

A primeira bomba, fabricada com massa

patronato, empregou-se por cerca de qua-

de vidro, dinamite e pregos, n ã o explo-

tro meses. Posto em liberdade, mergulhou

diu por defeito de fabricação. Com a se-

no jogo por "considerar-se fraco para o

gunda, conseguiu seu intento, causando

trabalho braçal" e ter verdadeira fascina-

vários prejuízos numa padaria do bairro

ção pelo jogo, "pelos lucros fáceis que

de Vila Isabel. A terceira, finalmente, de-

este proporcionava, lucros que lhe per-

positada na residência do gerente da fá-

mitiam luxos e prazeres" interditados à s

brica de tecidos Minerva, na Tijuca, va-

classes trabalhadoras, iniciando-se outra

leu-lhe a expulsão, efetuada no ano de

série de d e t e n ç õ e s e uma nova estada na

1920. Megando ser anarquista, J . M. Melo

colônia Dois Rios Em 1926, foi remetido

definiu-se como um sindicalista revolta-

para Clevelândia, situada em zona de

do com as condições de vida dos traba-

fronteira. Voltando à cidade, e preso no-

lhadores.

vamente, foi Finalmente expulso. Corria o

Parte significativa das sobras de um ar-

ano de 1929.

5

6

ranjo social tecido por pactos de elites,
homens como Benanan, Cardoso, Santos

Português de Figueira, J . M. Melo era sol-

e Melo compunham o grupo dos indese-

teiro, alfabetizado e padeiro por profis-

jáveis, ou seja, dos estrangeiros que, de

p á g . e . Jul/dez

1997
O

V

R

alguma forma, contestavam a ordem

onde outros estrangeiros, com destaque

estabelecida. Muma vertente deste pro-

para os italianos e e s p a n h ó i s , colocaram-

cesso, a da contestação política, alinha-

se à frente do processo de organização

vam-se trabalhadores envolvidos com a

operária.

constituição do operariado enquanto clas-

Comparadas várias histórias de vida nar-

se, com destaque aos anarquistas que, de

radas nos processos de expulsão, algu-

posse de um discurso e uma prática re-

mas recorrências sobressaem significati-

volucionárias, constituíram-se em perigo

vamente no conjunto, proporcionando um

permanente para o regime.

exercício prosopográfico que, através de

Ma outra dimensão, a do crime e da con-

casos exemplares, mergulhados em som-

travenção, somavam-se vadios, mendigos,

bras e trevas, permite a reconstrução dos

ladrões, gatunos, vigaristas, b ê b a d o s , j o -

bastidores da imigração.

gadores e cáftens. Com exceção dos últi-

Em primeiro lugar, a pobreza mostrava-

mos, agentes do crime internacional or-

se companheira inseparável em suas v i -

ganizado, os indesejáveis, regra geral,

das. Os processados, geralmente, nada

eram indivíduos pobres que, perdidos

mais eram que homens pobres que che-

seus sonhos de uma vida melhor ou de

gados ao país

retorno vitorioso à terra natal, voltavam-

se ao longo da vida, posicionados como

se, de várias formas, contra as condições

m ã o - d e - o b r a barata em serviços antes

de vida que lhes eram oferecidas, afas-

realizados por escravos. Todos haviam

tando-se, com sua atitude de desafio à or-

emigrado buscando o paraíso do outro

dem, do protótipo de imigrante deseja-

lado do Atlântico. Muito raramente eram

do: paciente, obediente, ordeiro e resignado.

criminosos ou anarquistas radicais. Casos

lios delitos que guardavam vínculos mais

como o de J . Monteiro, que entrou no Bra-

estreitos com a pobreza vivida na cidade,

sil em 1911, fugido de Portugal por seu

os portugueses destacaram-se do conjun-

ativismo político, ou de L. Arena, que no

to dos indesejáveis, reproduzindo as ten-

ato da expulsão j á registrava prisões por

dências gerais da imigração para a cidade.

7

na pobreza mantiveram-

furto em Buenos Aires, s ã o absoluta exceção no conjunto dos indesejáveis que

Os anarquistas constituíram-se a principal base da militância de origem estran-

deixaram o registro de sua passagem pela
capital federal."

geira, principalmente no ramo das padarias e da construção civil, em que mais

Quanto à procedência, a maior parte dos

fortemente enraizou-se o sindicalismo re-

processados havia nascido nos campos

volucionário. A p r e s e n ç a marcante dos

europeus. Mesta perspectiva, os proces-

portugueses nos sindicatos, que encami-

sos de expulsão refletem, com exatidão,

nhavam o discurso revolucionário, distan-

as t e n d ê n c i a s globais da imigração para

ciou a capital de outras cidades do país.

a cidade, no final do século XIX e nas pri-

Acervo. Rio de J a n e i r o , v. 10, n ° 2. pp. 0 3 - 1 6 . J u l / d e i

1997

- pág.7
meiras d é c a d a s do século XX, onde os

num espírito de total aventura. Sem as

portugueses, seguidos por italianos e es-

s a n ç õ e s familiares ou qualquer p a d r ã o

p a n h ó i s provenientes das á r e a s rurais,

referencial da vida urbana, eles tornaram-

constituíam a maioria dos que se desti-

se uma importante d i m e n s ã o da imigra-

navam ao Rio de Janeiro. A conjugação

ção urbana. Verdadeiros agregados urba-

de condicionantes estruturais relativas à

nos, dormiam e faziam suas refeições nos

posse e d i v i s ã o da terra com fatores

locais de trabalho, cumprindo longas e

conjunturais e com o exemplo dado pe-

duras jornadas, que chegavam a se es-

los 'brasileiros' de torna-viagem, envol-

tender por 16 horas no comércio a vare-

vidos no manto dos sucessos obtidos no

jo. Mão raras vezes, optavam por fugir

a l é m - m a r , principalmente em Portugal,

devido à s duras condições de vida, ou en-

pressionaram ou incentivaram a popula-

tão eram despedidos e, privados de teto

ção rural a emigrar.

e comida, passavam a vagar pelas ruas,
alternando períodos de reclusão em estabelecimentos penais com intervalos de
liberdade, num circuito contínuo de reincidência.

Distribuição dos Estrangeiros por
Nacionalidade

A grande presença de jovens desocupados nas ruas, a maioria constituída por
estrangeiros, marcou a história da Belle
Époque

carioca. Personagens constantes

nas crônicas sobre a capital, os jovens
Fonte Brasil Ministério da Agricultura. Indústria e Comerão Diretoria
Geral de Estatística Recenseamento de 1920

abandonados à própria sorte tornaram-se
alvo das p r e o c u p a ç õ e s policiais, devido à
facilidade com que tendiam a ingressar

Com relação à idade dos imigrantes, grande parte dos processados havia entrado

no mundo do crime ou a aquecer os motins e os quebra-quebras recorrentes.

9

no país durante a adolescência ou a infância. Este dado significativo, registrado

Tomado o universo profissional como ob-

no conjunto da d o c u m e n t a ç ã o , é encon-

jeto central de análise, finalmente, mere-

trado, t a m b é m , nos recenseamentos rea-

ce destaque a pequena qualificação para

lizados entre 1872 e 1920, que registram

o trabalho registrada nas fontes, ao que

um enorme contingente de jovens na fai-

se acrescenta a alta incidência de analfa-

xa dos 12 aos 18 anos no grupo dos es-

betos, m a i s de 2 0 % d o t o t a l . Este

trangeiros. Eram os caixeirinhos portu-

despreparo para o mercado de trabalho

gueses ou galegos desta faixa etária que

tinha como conseqüência imediata a ab-

chegavam ao Brasil, ao chamado de al-

sorção dos estrangeiros pobres nas ativi-

gum parente ou conhecido, ou mesmo

dades desvalorizadas, com t e n d ê n c i a à

p á g . 8 . Jul/dez

1 997
O

V

R

superexploração e à pouca fixação no em-

ços os salários eram baixos, os aciden-

prego, em atendimento a demandas cir-

tes de trabalho muito comuns e o de-

cunstanciais do mercado de trabalho. É

semprego uma possibilidade sempre

bastante f r e q ü e n t e na d o c u m e n t a ç ã o

presente, tornando enormes as possi-

pesquisada, por exemplo, o registro de pro-

bilidades do ingresso do imigrante no

fissões sem quaisquer relações intrínsecas,

mundo marginal do não-trabalho, como

desenvolvidas por um mesmo indivíduo ao

registra A noite no ano de 1914:

longo da vida. J . S. Querra foi jardineiro e
gerente de hotel;

10

outros foram sapatei-

ros e pintores, ou condutores de bondes e
trabalhadores em pedreiras, alternando,
freqüentemente, empregos ocasionais com
períodos de desemprego.

Trata-se de um dos mais s é r i o s problemas do nosso proletariado. V ã o de
m a n h ã cedo aos logradouros p ú b l i cos, correm o Passeio, a p r a ç a XV de
liovembro, os diversos cais, o mercado velho e novo, a praia de Santa Lu-

A pouca ou nenhuma qualificação profissio-

zia, e depois dizem que dolorosa im-

nal de grande parte dos imigrantes encon-

p r e s s ã o trouxeram de lá. Mós vimos e

tra-se apontada, t a m b é m , nos recensea-

contamos cem o p e r á r i o s que dormi-

mentos realizados no período. O de 1906

am ao relento. C o n v e r s a m o s

totaliza 39.707 indivíduos sem qualificação,

muitos deles. Todos contam a mesma

e o de 1920 aponta a cifra de 13.619 com

h i s t ó r i a : a fábrica, o trabalho, espe-

profissão mal definida, 10.951 sem profis-

r a n ç a de arranjar s e r v i ç o para o futu-

s ã o declarada e 57.030 sem profissão,

ro [...] Mão se trata, [sic] absolutamen-

totalizando

te, de vagabundos, trata-se [sic]

81.600

estrangeiros

desqualificados para as ocupações urbanas,
o que representa cerca de 35% do universo dos imigrantes residentes na cidade.

com

de

operários."

A descrição da lamentável situação feita pelo periódico encontra correspon-

O desemprego recorrente e as p é s s i m a s

dência direta em várias histórias de vida

c o n d i ç õ e s de t r a b a l h o n u m m e r c a d o

narradas nos processos analisados,

magmático, no qual a oferta suplantava a

como no de A. Sarmento, espanhol de

demanda, tenderam a aquecer os movi-

40 anos, residente há 13 anos no país

mentos contestatórios na cidade e a em-

no momento de sua expulsão, que de-

purrar muitos indivíduos para as atividades

clarou, em seu depoimento, que fora

ilícitas e a mendicância.

sempre um trabalhador, n ã o lhe caben-

O comércio, a construção civil, as docas,
as pedreiras e os transportes foram os se-

do culpa por estar desempregado no
momento de sua p r i s ã o .

12

tores formais do mercado de trabalho que

Consideradas as q u e s t õ e s destacadas,

registraram a maior a b s o r ç ã o da m ã o - d e -

impõe-se como conclusão que qualquer

obra estrangeira. Justamente nestes espa-

estudo sobre a imigração estará incom-

Acervo, Rio de J a n e i r o , v. 10, n ° 2. pp. 0 3 - 1 6 , Jul/dez

1997 - pag.9
pleto se contemplar apenas a história vis-

arcar com os custos dos aluguéis, como

ta de cima, ou seja, a história dos suces-

narra com grande sensibilidade o Correio

sos escritos sob as luzes da modernidade.

da Manhã:

Além das vitórias cantadas em prosa e
verso pelos que voltaram ricos à terra
natal, ou pelos que fixaram-se na nova
terra como p r o p r i e t á r i o s , é n e c e s s á r i o
que, virado o processo pelo avesso, seja
contemplada uma história vista de baixo,
capaz de dar visibilidade à pobreza dos
bastidores, mergulhados nas sombras do
silêncio e do esquecimento.

Grande parte dessa gente, trabalhadores e o p e r á r i o s , sem casa, sem nenhum
abrigo, sem p ã o e sem e s p e r a n ç a s , dorme ao relento sob a relva da avenida
do Mangue ou fazendo cama com as ervas que crescem livremente nos terrenos devolutos, ou pernoita nos portais
das casas desabitadas, se n ã o se lhes
depara mais c o n f o r t á v e l retiro nas ruí-

Muitos foram os condutores de bondes,

nas de qualquer casa que o fogo ou o

padeiros, calceteiros, pedreiros, caixeiros

tempo d e s t r u í r a m .

1 3

e trabalhadores afeitos ao trabalho bra-

Porém, muitos imigrantes, apesar das

çal que amargaram difíceis condições de

condições adversas, continuaram traba-

existência, em sua luta permanente con-

lhando duro, tecendo c o n d i ç õ e s de vida

tra a carestia, trágica em algumas con-

mais amenas para seus descendentes.

junturas, morando na periferia pobre ou

Outros buscaram, pela via revolucionária,

dormindo ao relento, quando, desempre-

alterar de imediato as condições adver-

gados ou sub-empregados, não podiam

sas, influenciados pelo ideário anarquis-



S.

0

i
'

•

Embarque de emigrantes italianos para o Brasil. Reprodução de A Ilustração brasileira, 15 de fevereiro d e 1910.

p á g . 10. J u l / d e z

1997
R

O

V

ta que apontava a revolução como única

marginalidade por motivos alheios a sua

possibilidade de r e d e n ç ã o . A violência

vontade, como R. V. Castro: casado, alfa-

adotada por muitos expressava, de algu-

betizado e sem residência, o p o r t u g u ê s

ma forma, as frustrações acumuladas ao

R. V. Castro tinha 26 anos quando foi pre-

longo da vida, e o desejo de alcançar o

so e expulso. Segundo suas declarações,

paraíso na terra, ainda que fosse pela di-

chegara ao Brasil com um tio, aos oito

namite.

anos de idade, tendo trabalhado no comércio a t é a idade adulta, quando, e n t ã o ,

Os vínculos existentes entre condições de
vida e radicalização ideológica encontram-se presentes em alguns processos

desempregado, caiu na marginalidade,
terminando por ser expulso por vadiagem
e furto.

15

de expulsão, principalmente naqueles movidos contra os padeiros, sujeitos a lon-

Se em alguns casos a expulsão tinha jus-

gas jornadas noturnas e a duras condi-

tificativas, em outros ela definia-se como

ç õ e s de trabalho, seguindo-se operários

um ato e x t r e m a m e n t e

não qualificados da construção civil. En-

inconstitucional.

tre os padeiros, é significativa a m e n ç ã o

trangeiros que acabaram sendo expulsos,

a u m a s o c i e d a d e s e c r e t a de nome

muitos sofreram perseguição sem tréguas

Carbonária Padeiral, que aparece no pro-

por sua miséria ou luta contra as injustas

cesso contra A. R. Santos, acusado de ser

condições de trabalho e de vida, ou, ain-

um dos dinamitadores por o c a s i ã o da

da, por enganos ou perseguições circuns-

onda de e x p l o s õ e s em padarias, cujos

tanciais, embora estas últimas represen-

panfletos

s ã o de extrema r e v o l t a ,

tassem uma afronta violenta aos postula-

explicitando muito do vale-tudo desespe-

dos do direito internacional. Veja-se o

rado assumido por imigrantes no jogo da

relato de J . Madeira, encaminhado ao

1

m u d a n ç a revolucionária. *

16

arbitrário e

Mo conjunto dos es-

deputado Maurício de Lacerda que depois
o enviou à Mesa da Câmara de Deputados:

Considerada a outra vertente da desordem urbana, a das atividades, ilícitas, do

Envolvido na onda m i g r a t ó r i a que em

crime e da vadiagem, o comportamento

1912

desviante podia apresentar-se como de-

Brasil, embarquei a 17 de fevereiro des-

c o r r ê n c i a de uma primeira prisão, por

se mesmo ano no porto de Lisboa e de-

a r r u a ç a s de rua, com a c o n s e q ü e n t e pas-

sembarquei no Rio a 2 de m a r ç o , inici-

sagem pela verdadeira 'escola' que se

ando uma vida de trabalho e economia

constituía a Casa de Detenção, quanto por

(...). Depois de pouco mais de dois

motivos involuntários ou circunstanciais

anos, a crise de trabalho que se deu

como desemprego, acidentes de trabalho,

nessa cidade e em toda a parte veio

d o e n ç a s , velhice e embriaguez. Muitos fo-

roubar-me as i l u s õ e s antes sonhadas

ram os que romperam a fronteira da

(...). Compareci a alguns c o m í c i o s p ú -

se efetuava de Portugal para o

Acervo, Rio de J a n e i r o , v. 10, n ° 2. p p . 0 3 - 1 6 , Jul/dez

1997 - p á g . 1 1
C

A

blicos e, no dia 11 de maio, estando

ros em território nacional. Estas traziam

para assistir a um comício em Vila Isa-

enumeradas como motivos explícitos para

bel, vi prender três operários que sou-

a expulsão, além daqueles concernentes

be serem os oradores que iam falar

ao que se pudesse constituir em a m e a ç a

nesse comício: chegada a hora do iní-

para o regime, a c o n d e n a ç ã o por tribu-

cio do mesmo, dispus-me a explicar aos

nais brasileiros de crimes ou delitos de

operários o motivo por que não se rea-

natureza comum, como a vagabundagem,

lizava o comício (...)•

a mendicidade e o lenocínio competentemente verificados, sendo relevante res-

Desta data em diante passei a ser um

saltar o fato do homicídio n ã o se consti-

dos chamados 'oradores operários' (...)"

tuir em motivo de expulsão, por ser um
Transformado em "orador improvisado', J .

crime de alcance individual que n ã o ame-

Madeira tornou-se alvo da vigilância per-

açava a ordem urbana.

18

manente das autoridades policiais, terminando por ser expulso no ano de 1920.

Anarquistas, militantes operários, vadios,

Anarquista "por força das circunstâncias",

ladrões, gatunos, vigaristas, jogadores,

se considerarmos verdadeiro o teor de sua

ébrios, mendigos e cáftens eram vistos

carta, ou anarquista por convicção, J .

pelo discurso oficial, com o respaldo do

Madeira, independente de sua opção ideo-

discurso científico da época, como hós-

lógica, era um trabalhador humilde dis-

pedes perigosos,

posto a lutar por um lugar ao sol. Muitos

tecido social, principais responsáveis pela

como ele, a partir da s u s p e i ç ã o e de uma

desordem urbana. Dentre todos, os anar-

primeira prisão, não raras vezes aciden-

quistas mereceram uma a t e n ç ã o especial

tal, tornaram-se personagens cativos das

por parte das autoridades constituídas de-

diligências policiais, transformados em

vido à sua e x t r e m a

anarquistas profissionais por força do dis-

advinda do fato de serem definidos como

curso repressivo.

corruptores de n a ç õ e s inteiras, reprodu-

vírus contaminados

do

perlculosidade,

zindo, no cotidiano da prática política, as
A c o m p r e e n s ã o ampla do que se configurava como (des)ordem permitiu que, no

teorizações feitas por Lombroso acerca do
crime político.

19

mesmo grupo dos indesejáveis, ao lado
dos militantes operários, fossem englo-

Considerado o conjunto dos imigrantes

bados

e

que foram alvo das leis de expulsão, al-

contraventores variados. Todos eles so-

guns podiam ser de fato nocivos e peri-

freram uma repressão ininterrupta no pro-

gosos, tomados os valores em processo

cesso de estabelecimento de disciplina

de s e d i m e n t a ç ã o como referenciais. Ou-

sobre o mundo do trabalho e as ruas, con-

tros foram objeto dos desmandos produ-

templados nas leis que regulamentavam

zidos por um regime que priorizava a or-

a entrada e a permanência dos estrangei-

dem em vez da lei. A maior parte, p o r é m .

criminosos

p i g . 12. J u l / d e z

1997

comuns
O

V

K

era fruto direto das condições adversas

cipalmente em relação ao caftismo, que

no Rio de Janeiro.

transformara a cidade em um dos pontos

Messe contexto, a expulsão definiu-se,
a l é m de um p r o c e s s o de s e l e ç ã o
posteriori,

a

como uma estratégia privile-

giada de limpeza urbana'. Conjugada à
deportação,

20

ela possibilitou um melhor

controle social, através do processo de
eliminação de todo aquele que, conside-

de chegada das rotas internacionais do
tráfico de brancas.

22

Também era verda-

deira a versão de que as idéias revolucionárias que seduziam a classe operária em
formação eram importadas, com destaque
para

o

comunismo-anárquico

de

Kropotkin.

rado sobra do arranjo social, pudesse ser

Mão correspondia à realidade, entretan-

definido como elemento perigoso à or-

to, a explicação oficial de que a desordem

dem política, social ou moral. O ideal de

reinante no Rio de Janeiro devia-se à sim-

c o n s t r u ç ã o de uma cidade disciplinar

ples importação de indivíduos viciosos e

norteou práticas autoritárias, destinadas

anarquistas profissionais; aues de arriba-

ao esvaziamento político da capital, que

ção chegadas na vasa da i m i g r a ç ã o , ver-

atingiram tanto o mundo do trabalho

s ã o que mascarava as contradições inter-

quanto o do não-trabalho, separados por

nas existentes que apanhavam os estran-

fronteiras fluidas e móveis que tendiam a

geiros pobres em suas malhas.

desaparecer nos momentos de contestação ampla, marcados por quebra-quebras
generalizados, nos quais os excluídos
demonstravam toda a sua revolta e descontentamento.

A a n á l i s e dos processos de e x p u l s ã o ,
excetuados aqueles movidos aos cáftens,
não corrobora a consagrada tese da contaminação por agentes exógenos.

A mai-

oria dos cidadãos processados, principal-

O medo de um levante global dos excluí-

mente os portugueses, tinha uma longa

e alimentado

residência no país. Sua opção ideológica

pelo i d e á r i o a n a r q u i s t a , que via no

ou ingresso na marginalidade eram, em

lumpesinato uma força revolucionária,

última instância, uma decorrência das d i -

tornou-se um fantasma permanente a

ficuldades e embates travados na própria

povoar a mente das elites. Esvaziar a ca-

cidade; a expulsão, uma intervenção

pital, portanto, livrando-a dos 'elementos'

rúrgica capaz de eliminar parasitas e er-

desordeiros, dentre os quais sobressaí-

vas daninhas.

dos, ensaiado em 1904

21

ram-se os estrangeiros, era uma necessidade a um s ó tempo r e p r e s s i v a e
profilática, que visava transformar o Rio
de Janeiro no cartão de visitas do Brasil.

ci-

Messe contexto de excludência, o período
que vai de 1907 a 1930 marca, no plano
das relações intersocietais, um capítulo
de violência da nossa história. Aos ho-

É certo que o Rio de Janeiro sofria a atu-

mens que, expulsos, voltavam à Europa,

a ç ã o de criminosos internacionais, prin-

depois de anos vividos no Brasil, restava

Acervo, Rio de J a n e i r o , v. 10, n ° 2, pp. 0 3 - 1 6 , j u l / d e z 1997

- p á g . 13
C

A

a pobreza, a fadiga e o desalento. Pobre-

rios matizes permitiram sua r o t u l a ç ã o

za que com eles cruzava, mais uma vez,

como nocivos e/ou perigosos, colocados

o oceano. Fadiga e desalento por muitos

barra a fora como indesejáveis, mesmo

anos de frustrações e derrotas, j á que, em

que a maior parte de suas vidas tivesse

sua grande maioria, os estrangeiros que

sido passada no Brasil, na maioria dos

retornavam como indesejáveis não havi-

casos, haviam cruzado os mares embala-

am cruzado a estreita entrada da baía da

dos pelo sonho de uma vida melhor, su-

Guanabara como desordeiros ou crimino-

portando, com resignação, as dificulda-

sos. Mo momento de sua chegada, eram

des da travessia oceânica. Muito diferen-

tão somente camponeses pobres que, na

te era a viagem de volta, sem utopias ou

conjuntura de encurtamento das distân-

sonhos para o futuro, embarcados para

cias possibilitada pelo avanço técnico,

p a í s e s que j á n ã o podiam considerar

transformaram os portos num ponto de

como pátrias, sem a certeza sequer de

passagem no processo de busca de suas

que poderiam desembarcar do outro lado

utopias no além-mar. Dificuldades de vá-

do Atlântico."

N

O

T

A

s

7

1. Arquivo Nacional. SPJ. Módulo 101, pacotilha IJJ 169.
2.

Este conceito era utilizado pelos chefes de polícia, na época estudada, para caracterizar os
que se posicionavam à margem da sociedade organizada, cujos limites colocavam-se na fron-

p á g . 14, J u l / d e z

1997
O

V

R

teira entre o trabalho e o n ã o - t r a b a l h o . Meste mesmo aspecto, é c a r a c t e r í s t i c a a p r e o c u p a ç ã o
constante das elites p o l í t i c a s e de parte significativa da elite intelectual em apartar os anarquistas, qualificados como agitadores profissionais infiltrados no conjunto da classe trabalhadora.
3.

Arquivo nacional. SPJ. Módulo 101, pacotilha IJJ

7

156.

Idem. Pacotilha IJJ

7

132.

Idem. Pacotilha IJJ

7

136.

6.

Idem. Pacotilha IJJ

7

163.

7.

Esta q u a n t i f i c a ç ã o e s t á baseada em s e l e ç ã o feita na d o c u m e n t a ç ã o que c o m p õ e o m ó d u l o 101
do Arquivo nacional relativa a estrangeiros processados e residentes na capital, que totaliza
531 i n d i v í d u o s . Esta amostra foi a base principal de tese de doutoramento defendida na USP
acerca dos i n d e s e j á v e i s , d i s t r i b u í d o s em vadios, mendigos, vigaristas, l a d r õ e s e gatunos, por
n ó s englobados na categoria freqüentadores
assíduos
dos cárceres
(248), c á f t e n s (194) e anarquistas e/ou comunistas (79), demonstrando que a e x p u l s ã o na capital brasileira posicionouse como instrumento global de limpeza social e n ã o simplesmente como p o l í t i c a direcionada
para a p e r s e g u i ç ã o p o l í t i c o - i d e o l ó g i c a como tradicionalmente se supunha, neste conjunto, os
portugueses representam 45,9% do primeiro grupo; 11,3% do segundo e 59% do terceiro. Ver
L e n á Medeiros de Menezes, Indesejáveis
desclassificados da modernidade: protesto, crime e
e x p u l s ã o na capital federal (1890-1930), Rio de Janeiro, ESDUERJ, 1997.

8.

Arquivo nacional. SPJ. M ó d u l o 101, pacotilha IJJ

9.

Lima Barreto, Recordações

4.
5.

do escrivão

7

163.

/saias Caminha. S á o Paulo, Brasiliense, 1976, p. 166.
7

10. Arquivo nacional. SPJ. Módulo 101, pacotilha IJJ 163.
11. A noite, 2 de maio de 1914.
12. Arquivo nacional. SPJ. M ó d u l o 101, pacotilha IJJ
13. Correio da Manhã.

7

129.

18 de fevereiro de 1917.

14. Cf. Arquivo nacional. SPJ. Módulo 101, pacotilha IJJ
15. Idem. Pacotilha IJJ

7

7

168.

151.

16. A C o n s t i t u i ç ã o Federal, em seu artigo 72, garantia igualdade de direitos a nacionais e estrangeiros residentes.
17. Brasil, Anais da C â m a r a dos Deputados de 1920, s e s s ã o de 12 de agosto. Rio de Janeiro,
Imprensa nacional, 1921, p. 504.
18. Decreto n ° 1.641, de 7 de janeiro de 1907. Brasil. C o l e ç ã o das Leis da R e p ú b l i c a , Rio de Janeiro, Imprensa nacional, 1908.
19. Sobre o tema, ver Cesare Lombroso e R. Laschi. Crime politique
Librairie Félix Alcan, 1892.

et les revoluttons.

Paris,

20. Havia uma d i f e r e n c i a ç ã o entre e x p u l s ã o e d e p o r t a ç ã o . A primeira atingia os estrangeiros; a
segunda, os nacionais enviados para c o l ô n i a s penais situadas em zonas de fronteira. Ambas
conjugaram-se, p o r é m , como e s t r a t é g i a s c i r ú r g i c a s complementares no processo de limpeza
urbana que acompanhou as reformas urbanas a partir da virada republicana e, mais especificamente, depois da a d m i n i s t r a ç ã o de Pereira Passos (1902-1906).
21. A r e f e r ê n c i a é a revolta popular contra o decreto de v a c i n a ç ã o o b r i g a t ó r i a ocorrida naquele
ano. Sobre o tema, ver, entre outras obras, nicolau Sevcenko, A revolta da vacina: mentes
insanas em corpos rebeldes, S á o Paulo, Brasiliense, 1984. [Tudo é História, 89].
22. Sobre o tráfico de brancas no Rio de Janeiro, ver Lená M. de Menezes, Os estrangeiros e o
comércio
do prazer nas ruas do Rio. Rio de Janeiro, Arquivo nacional, 1992, P r ê m i o Arquivo
nacional de Pesquisa, 2.
23. C o m r e l a ç ã o aos relatos acerca de todo o processual da e x p u l s ã o , ver Everardo Dias, " M e m ó rias de um exilado". E p i s ó d i o s da d e p o r t a ç ã o de Everardo Dias contados por ele mesmo à Voz
do Povo, 20-24 de fevereiro de 1920.

Acervo. Rio de J a n e i r o , v. 10, n ° 2. pp. 0 3 - 1 6 , Jul/dez 1997 - p á g . 1 5
Carla Brandalise
Professora do Departamento de História
da Universidade Federal do Rio Qrande do Sul.

Camisas~er<cles
O iníegralisnio no S u l cio B r a s i l

""^ idéia corrente ter sido o Ri

constante ação repressiva desencadeada

J"^

Qrande do Sul uma região

pelo poder público estadual. Vamos,

1 Si

tp desenvolvimento, por

assim, analisar os fatores que propi-

-

excelência, da Ação Integralista Brasilei-

ciaram este quadro peculiar.

ra (AIB) — uma organização política de

A organização oficial da AIB no Rio Qran-

âmbito nacional da década de 1930, que

de do Sul ocorreu de modo relativamen-

Esta

te tardio em relação a outras regiões do

idéia enfrentou, antes, a forte competi-

país. Somente em meados de 1934- é

ção de um sistema partidário consolida-

constituído

do. A h i s t ó r i c a p r e s e n ç a de partidos

"Triunvirato Provincial', base da adminis-

oligárquicos baseados na lealdade e na

tração integralista nos diversos estados.

fidelidade à s lideranças autocráticas do

Em sua reduzida composição urbana ini-

estado limitou, consideravelmente, a di-

cial j á se definia o público que preferen-

fusão do integralismo. lio entanto, é in-

cialmente optaria pelo integralismo. De

discutível que naquelas á r e a s ocupadas

modo geral, predominavam profissionais

pelo processo ulterior de colonização ale-

liberais, estudantes, bancários, emprega-

mã e italiana, o apelo doutrinário da AIB

dos do c o m é r c i o e alguns o p e r á r i o s .

obteve ampla receptividade, apesar da

Como ponto comum, estes segmentos

apresentava um c a r á t e r fascista.

1

em

Porto

Alegre

Acervo. Rio de J a n e i r o , v. 10. n ° 2. pp. 17-36. Jul/dez 1997

um

- pág.17
A

C

E

sociais médios partilhavam um sentimen-

primórdios pelos litígios fronteiriços en-

to de frustração política ensejada ora pela

tre Espanha e Portugal. Tais lutas cons-

percepção da marginalização político-par-

tantes

tidária, ora pela visão do fracasso e de-

militarizada e autocrática, medida pela

cadência dos partidos oligárquicos. Em

hierarquia da força. Ao mesmo tempo, foi

termos discursivos, a AIB pretendia orga-

possível a esta p o p u l a ç ã o aproveitar eco-

nizar-se no estado como uma alternativa

n o m i c a m e n t e o gado s e l v a g e m

político-ideológica ao tentar objetar as

disseminara-se em larga escala na á r e a .

formas partidárias vigentes em favor de

Desta c o m b i n a ç ã o caracterizou-se

um modo de participação radicalmente

Campanha a figura do 'militar-estanciei-

novo. A a t u a ç ã o dos indivíduos n ã o seria

ro', que d o m i n a v a as a t i v i d a d e s e c o -

mais mediada por políticos profissionais

n ô m i c a s g a ú c h a s sob o regime

e influências oligárquicas. Pelo contrário,

grande p r o p r i e d a d e .

geraram

uma

sociedade

que
na

da

iria constituir-se através do compromis-

interesse do povo, e o voto ocasional e

A

secreto

centro do país. A partir do início do s é c u -

so e dedicação total ao movimento, porque

a

prática

política

tradicional

obstaculizava a e x p r e s s ã o do verdadeiro
implicava

no

reduzido

envolvimento com o destino da nação.

segunda formação social, de
origem mais tardia, estabe-

.leceu-se sem a aprovação dos

estancieiros locais e por deliberação do
lo XIX, foram introduzidos no estado os
imigrantes a l e m ã e s e italianos. Eles cons-

A partir de Porto Alegre, a AIB expandese pelo interior do estado. Porém, o movimento assume um caráter estacionário,
salvo nas zonas de imigração italiana e
alemã.

A inserção

do

movimento

integralista no Rio Qrande do Sul, com
grande a c e i t a ç ã o em algumas á r e a s e
quase nenhuma em outras, encontra suas
origens no processo interno de formação
sociopolítico. A o c u p a ç ã o territorial do
estado fez surgir dois tipos básicos de
sociedade, os quais, por muito tempo,
conviveram lado a lado sem

maiores

interações e c o n ô m i c a s e culturais.

2

tituíram uma sociedade baseada nas pequenas e médias propriedades, na produção agropastoril diversificada e no trabalho familiar. A c o l o n i z a ç ã o

ítalo-

germânica expandiu-se nas serras do Sudeste e na Depressão Central. Entre as
duas formações sociais houve, desde o
início, um certo antagonismo. Os estancieiros n ã o apenas constrangiam a fixação dos colonos europeus em terras impróprias à prática da pecuária extensiva,
como também procuravam desacelerar ou
mesmo impedir o movimento migratório.
Os imigrantes, por sua vez, manifestavam

A primeira formação social desenvolveu-

uma tendência ao isolamento, à circuns-

se na região Sul, na denominada 'zona da

crição a sua própria cultura, preservando

Campanha', sendo condicionada em seus

os valores da pátria de origem.

p á g . 1 8. J u l / d e z 1 997
A

C

E

mobilização constante, sua retórica anti-

pios europeus ou por meio do domínio

oligárquica e c o n d e n a t ó r i a do sistema

direto da Alemanha ou Itália sobre o Bra-

partidário republicano, encontra nesses

sil, mas pela valorização a u t ô n o m a das

indivíduos campo fértil a sua expansão.

potencialidades e características nacio-

Apesar das c o n d i ç õ e s s o c i o e c o n ô m i c a s
favoráveis, o interesse pela AIB nas zonas coloniais n ã o pode ser explicado sem
a variável étnico-cultural, sob o risco de
descaracterizar a complexidade do problema. Se o contexto conjuntural da região propiciou certos requisitos básicos
ao fomento do integralismo, a q u e s t ã o
étnica sobredeterminou a sua aceitação.
Tal especificidade deve ser analisada a
partir da m o í í u a ç ã o que levou estes setores intermediários a aderir à AIB.

nais. Os integralistas de descendência alemã ou italiana admiravam os movimentos considerados como correlatos em
seus países de origem, p o r é m a n a ç ã o
brasileira deveria engendrar a sua 'regen e r a ç ã o ' e 'transformação' de modo independente, com a exaltação das tradições e costumes do país. Mão havia, assim, a princípio, contradição entre o discurso nacionalista da AIB e a d e s c e n d ê n cia étnica desses adeptos. Messe sentido,
as lideranças do integralismo no Rio Qrande do Sul prezavam de forma pública e

Quanto aos simpatizantes de origem ita-

aberta os movimentos europeus, contra-

liana e a l e m ã , o movimento n ã o lhes

riando a cúpula nacional que procurava

atraía enquanto uma forma de resistên-

geralmente

cia à integração em sua nova pátria. Pelo

c i a ç ã o direta.

n ã o incorrer numa

asso-

contrário, o integralismo aparecia como
a forma mais viável de se tornarem 'brasileiros de fato' através da participação na
vida política do país. A q u e s t ã o por eles
reconhecida de que a AIB apresentava
s e m e l h a n ç a s visíveis com os movimentos
fascistas da 'pátria-mãe' reforçava sobremaneira o interesse por esta força política que se introduzia no estado. Ma sua
concepção, as realizações tidas como benéficas do fascismo italiano e do nazismo
a l e m ã o , amplamente divulgadas por periódicos especializados, evidenciavam a
viabilidade da construção de uma nova ordem mundial. O integralismo deveria concretizar no país esta ordem, n ã o através

O conjunto desses fatores revela-se nos
depoimentos prestados pelos adeptos do
integralismo. Para o caso da zona a l e m ã '
s ã o representativas as reflexões do chefe
municipal da AIB da cidade de Qramado,
Alcides Arendt, para quem:
O integralismo teve r e c e p ç ã o fácil na
zona de c o l o n i z a ç ã o a l e m ã porque a
Alemanha naquela é p o c a tinha o nazismo. Durante o integralismo eu via com
simpatia o Hitler em muitas coisas, n ã o
que q u e r í a m o s imitar, o nosso movimento surgiu como um movimento ind í g e n a , o objetivo de P l í n i o Salgado
nunca foi imitar. A luta do integralismo

da r e p r o d u ç ã o pura e simples dos princíera de formar, educar a juventude. O

p á g . 20 . J u l / d e z

1 997
o

V

Hitler fez coisas boas, levantou a Ale-

intra-oligárquica. Um dos momentos cul-

manha organizando o trabalho.*

minantes da prática coercitiva ocorreu em

O

projeto, de acordo com Arendt,
era introduzir os pontos altos
do

nazismo,

como

o

corporativismo, a valorização da autoridade e do trabalho, o combate ao liberalismo e ao comunismo, sem a interferência da Alemanha. Outros militantes creditavam confiabilidade à AIB pela identificação direta que faziam entre o movimento e o nazismo, reconhecendo a autonomia do integralismo. Este é o caso
do professor Maximiliano Hahan, da cida-

fevereiro de 1935 por ocasião de um grande encontro estadual de integralistas na
cidade de São Sebastião do Cai, região
de imigração alemã. Durante uma passeata, que contou com mais de trezentas
pessoas, houve um tumulto, com troca de
tiros entre a polícia e os militantes. O saldo foi a morte de dois policiais e de um
ativista. O prefeito do Cai, Morais Forte
(PRL), denunciou os integralistas por tumultuar a cidade e provocar o incidente,
pois teriam comparecido ao desfile fortemente armados. Argumentava tratar-se de

de de Canela, que revela:

agitadores dirigidos por elementos es... falando a verdade, eu entrei na AIB

trangeiros, representando uma a m e a ç a na

por causa do nazismo. O integralismo

medida em que atacavam o governo, o

era da mesma ordem, a disciplina, as

Exército e as instituições republicanas, rio

m i l í c i a s , o corporativismo. E Hitler sal-

seu relato a Flores da Cunha, o prefeito

vou a Alemanha do caos. Hitler era ver-

revela que prendera mais de cinqüenta

dadeiramente um grande homem, mas

pessoas, porque "... a concentração aqui

eu preferia o Plínio. O Hitler era muito

realizada tinha por fim menosprezar as

violento. As i d é i a s do Plínio eram mui-

autoridades locais devido a uma repres-

to

O

são feita no interior do município num

integralismo queria justamente o patri-

núcleo integralista que estava atentando

superiores

otismo.

ao

nazismo.

6

contra a ordem". O chefe municipal da

5

Ao mesmo tempo, o visível crescimento
da AIB nas á r e a s coloniais chama a atenção das autoridades públicas que logo
desencadeiam uma onda de repressão ao
m o v i m e n t o . Flores da C u n h a , e n t ã o
interventor do estado e líder do partido
governista, o Partido Republicano Liberal
(PRL), n ã o p r e t e n d i a

renunciar

ao

AIB, o médico Metzler, confirma em parte
o objetivo da passeata. Ha sua versão,
pretendia-se prestar solidariedade pacífica aos integralistas da vila de liova
Petrópolis, pois estes teriam sofrido violência injustificada por parte das autoridades:
Devido ao incremento tomado pelas

enquadramento e ao rígido controle das

nossas i d é i a s , o prefeito do m u n i c í p i o

suas bases eleitorais nesta zona, cada vez

começou

mais indispensáveis na disputa política

integralistas de Mova P e t r ó p o l i s . Em vis-

a

perseguir

todos

Acervo. Rio de J a n e i r o , v. 10. n ° 2. pp. 17-36. j u l / d e z 1997

os

- pág.21
ta disso, a chefia provincial resolveu

lia perspectiva da acirrada c o m p e t i ç ã o

fazer um grande desfile no Cai para dar

pelo e s p a ç o político na zona colonial que

uma demonstração de apoio moral aos

se estabeleceu entre a AIB e o PRL, o caso

perseguidos.

7

de Nova Petrópolis revela-se interessan-

Apesar dos esforços do chefe nacional,

te. O subdistrito da cidade do Cai, uma

Plínio Salgado, para que fosse mantida no

pequena comunidade de imigração ale-

Rio Qrande do Sul a liberdade de expres-

mã voltada basicamente para a p r o d u ç ã o

são, o interventor Flores da Cunha decla-

rural, apresentava um elevado índice de

ra ser a AIB perniciosa à s e g u r a n ç a inter-

a d e s ã o ao integralismo. Dados oficiais do

na do estado. Proíbe, desta maneira, o uso

movimento contabilizavam 320 inscritos

da camisa-verde' (símbolo do movimen-

no subnúcleo local, resultado este obtido

to), as passeatas, os comícios e as mani-

pelos esforços do professor

festações em lugares públicos. Pela reso-

que propagava o integralismo enquanto

Straatman,

lução, as reuniões ficavam limitadas à s

ensinava p o r t u g u ê s aos agricultores.

sedes integralistas. Isto restringia a pro-

Como elemento a incentivar o interesse

paganda da AIB, que utilizava teatros e

pelo novo partido, estava o fato de os co-

cinemas para congregar o maior n ú m e r o

lonos visualizarem a possibilidade de

de pessoas. Sem a evolução das milícias

romper com a exigência das autoridades

organizadas, com seus tambores e hinos,

estaduais quanto ao voto compulsório no

tirava-se do integralismo o apelo visual,

partido situacionista, no caso, o PRL. Em

tão importante na divulgação da doutrina.

época de eleição garantia-se o voto do pe-

Plínlo S a l g a d o | c e n t r o | e Integralistas. P e t r ó p o l i s (RJ), m a r ç o d e 1935. Correio d a M a n h ã , A r q u i v o
Nacional.

p á g . 22 . J u l / d e z

1997
o

V

queno agricultor com práticas compensa-

com relato de Elisabeth K. Evers:

tórias ou repressivas. Após a votação, era

Quando alguém náo queria mais

oferecido o 'churrasco eleitoral', como des-

acompanhar, sua ficha e sua camisa-

creve Felipe Stahl, "quando a gente chega-

verde eram queimadas sob maldição.

va ao local de votação, recebia-se as cha-

Os que saíam eram evitados pelos

pas... Elas j á estavam prontas. Havia fis-

outros. Os integralistas não pagavam

cais mas tudo j á estava combinado. A gen-

imposto algum, nem contribuição

te votava e daí podia comer o churrasco".

8

para comunidade, nem taxas escola-

Caso fosse descoberta uma ação contrária,

res. Mas festas mais simples ou nos

as autoridades policiais n ã o tardavam a

cultos dominicais apareciam os cha-

desencadear a r e p r e s s ã o , como atesta o

mados camisas-verdes, fechados, em

depoimento de Irmgard Schuch:

uniformes, eles marchavam para den-

A urna ficava num canto fechado com um

tro e ficavam lá (...) notava-se clara-

pano, a pessoa ia lá (...) em cima do só-

mente como o partido aumentava em

táo fizeram um furo e o cara deitado ali

número aqui em nosso município e

com o olho no furo, ele olhava que chapa

estavam conscientes de sua força.

o cara botava no envelope, se botava a
chapa certa, ele saía, se o cara botava a
chapa errada, deixava cair um pouco de
farinha no chapéu ou na camisa, e aí
quando o cara chegava na rua e tinha farinha de trigo, ele entrava no laço.'

10

Para efeito de c o m p a r a ç ã o , observa-se
que este quadro conjuntural se manifesta em outra importante zona de imigração alemã, no estado de Santa Catarina.
Em relatórios enviados a Roma,

11

o en-

t ã o e m b a i x a d o r i t a l i a n o no B r a s i l ,

Tal estado de coisas, vigente na República

Roberto Cantalupo, descreve o "parti-

Velha, permaneceu como regra na década

cular desenvolvimento" do integralismo

de 1930. Com a chegada da AIB, ensaiou-

naquele estado, onde nas eleições de

se uma resistência, onde as 'chapas pron-

1935 o movimento teria vencido em oito

tas' eram discretamente trocadas pela cha-

municípios sobre 11, contando em suas

pa dos i n t e g r a l i s t a s . A e x i s t ê n c i a do

fileiras com maioria absoluta de descen-

integralismo, no entanto, estava longe de

dentes de a l e m ã e s . Segundo Cantalupo,

ser um consenso entre esta mesma popu-

vários eram os fatores que explicavam

lação seja pelo assim considerado caráter

esta rápida expansão, entre eles o de-

de f a n a t i s m o , seja p e l a a s s o c i a ç ã o

sejo desses militantes em implantar um

c o m o m o v i m e n t o nazista. Straatman

sistema social baseado na ordem, justi-

e r a a c u s a d o de o r g a n i z a r a m i l í c i a

ça e honestidade; o medo do comunis-

integralista nos moldes da força de cho-

mo que p o d e r i a fazer sua v i o l e n t a

que do nazismo a l e m ã o e de cultuar a

irrupção no país e a q u e s t ã o racial, onde

i m a g e m de Hitler. E, ainda, de acordo

"não seria uma q u e s t ã o de raça, mas an-

Acervo. Rio de J a n e i r o , v. 10. n ° 2. pp. 17-36. Jul/dez 1997

- pág.23
,

A

C

E

tes uma q u e s t ã o de mentalidade com uma

movimentos e u r o p e u s . lio

natural simpatia pelos regimes fascista e

parecia uma s a l v a ç ã o . Hitler tinha pres-

nacional-socialista". Segundo sua análi-

t í g i o no mundo inteiro, n ó s aqui s e n t í -

se, os integrantes da AIB poderiam sem-

amos esta i n f l u ê n c i a . A c h á v a m o s

princípio

que

pre contar com o clero "que faz constan-

um regime que era bom para um p a í s

te e m e t ó d i c a obra de propaganda em

que j á contava com mil anos de exis-

favor do integralismo, protegendo os va-

t ê n c i a , t a m b é m seria bom aqui. Mas

lores da religião". For todas essas razões,

n ã o se pode falar em simbiose entre

a s e s s ã o catarinense da AIB representa-

integralismo e nazismo. Havia certas

ria "uma reserva moral" na influência dos

afinidades.

outros estados.
A ênfase étnica e a identificação com o
nazi-fascismo dada pelo embaixador confirma-se no depoimento dos militantes de
Santa Catarina. Segundo o secretário de
imprensa da AIB, Enrico Muller:

C

13

omo c a r a c t e r í s t i c a s c o m u n s
Ferreira da Silva aponta a tendência

anti-semita,

o

corporativismo, a representação classista,
a estrutura organizativa, o antiliberalismo,
a indumentária, a estrutura paramilitar e,

Havia em Blumenau certa t e n d ê n c i a de

principalmente, afirma que "o nazismo e

aceitar o integralismo pela semelhan-

o integralismo eram espiritualistas".

ç a com o nazismo. Quando um c i d a d ã o
descende de uma outra r a ç a , de um
outro pais, ele, se é uma pessoa de
acordo, de exata c o n s c i ê n c i a , tem simpatia (...) a maioria tinha simpatia pela
Alemanha, pelo Hitler, era natural."

um movimento singular e a u t ô n o m o j á
que a doutrina integralista seria "... puramente brasileira, com origens na nossa história, adaptada ao povo brasileiro,
lião era um movimento estrangeiro, n ó s
p r e g á v a m o s justamente a integração, ens i n á v a m o s aos o p e r á r i o s e aos colonos o
hino nacional". As mesmas c o n c e p ç õ e s
aparecem no depoimento de J o s é Ferreira
da Silva, e n t ã o secretário de Educação e
Cultura da AIB em Blumenau:

p á g . 2 4 . Jul/dez

1997

foco de análise para as zonas de colonização italiana do Rio Qrande do Sul, é
possível, mais uma vez, constatar uma coincidência de valores quanto à s motivações de a d e s ã o à AIB. Em relação ao ca-

Todavia, t a m b é m para Muller, a AIB era

O clima aqui era de simpatia com

Deixando Santa Catarina e dirigindo o

ráter de participação política alternativa
oferecido pelo integralismo, um artigo do
militante Luís Compagnoni, publicado em
fevereiro de 1935 no jornal do movimento, O Bandeirante, em Caxias do Sul, revela o desagrado com a onipotência dos
partidos tradicionais. Estes s ó se interessariam em quantificar votos em é p o c a s
eleitorais, menosprezando os problemas
da comunidade a p ó s a vitória nas urnas.
A AIB, inversamente, permitiria a representação direta das demandas locais. Isto

os

porque a organização interna e os assun-
V

o

tos prioritários para o movimento depen-

dos. O integralismo poderia ter feito o

deriam, antes, do consenso e da partici-

mesmo pelo Brasil, tirar o povo da mi-

pação de todos os seus membros e n ã o

s é r i a , dar trabalho para todo mundo,

apenas de a l g u n s poucos l í d e r e s . O

naquela é p o c a o fascismo e o nazismo

integralismo, por fim, representaria a

estavam em grande ê x i t o no mundo, por

t r a n s c e n d ê n c i a da simples politicagem

isso n ã o havia argumento contra n ó s .

regional:

nossos a d v e r s á r i o s eram obrigados a
ver isto.

n ó s representamos

15

muito mais que a

i m p l a n t a ç ã o de um regime p o l í t i c o . Um

O processo de organização oficial da Ação

camisa-verde que passa é uma consci-

Integralista na área de imigração italiana

ê n c i a reta e pura que serve de conde-

efetuou-se a partir da principal cidade da

n a ç ã o à imoralidade, à c o r r u p ç ã o . O

região — Caxias do Sul, propagando-se

povo v ê em n ó s o restabelecimento do

rapidamente pela zona rural. Essa área

e q u i l í b r i o e da harmonia na vida mo-

concentrou o maior n ú m e r o de adeptos

ral, e c o n ô m i c a e cultural. O povo sabe

no estado e foi a base do movimento po-

que n ã o estamos neste movimento para

lítico de oposição por excelência devido,

obter vantagem material (...) no atual

entre outras coisas, à ausência de outro

regime n i n g u é m deposita c o n f i a n ç a _e

partido o p o s i c i o n i s t a c o m r e p r e s e n -

dos homens que dele fazem parte pou-

tatividade. A grande e x p a n s ã o

cos se salvam. É a n ó s , exclusivamente

integralismo entre os pequenos produto-

do

a n ó s , que cabe a tarefa de expurgar,

res rurais dependeu n ã o somente de uma

de varrer, de demolir, de construir, de

atitude centrípeta maior em relação à cul-

aprovar e de desaprovar."

tura originária italiana, mas t a m b é m da

Da mesma forma, a aproximação entre
integralismo e fascismo justifica-se pelas
conquistas j á empreendidas pelos movi-

influência decisiva do clero católico, em
particular

da

Congregação

dos

Capuchinhos.

mentos europeus. Segundo o depoimen-

O assentamento dos colonos italianos no

to de um ativo militante local, Oswaldino

Sul

Ártico:

direcionado à encosta superior do nordes-

do p a í s ,

iniciado

em

1875 e

O integralismo é parecido com o fas-

te, área de difícil acesso e coberta de in-

cismo. Aqui todo mundo achava, as idéi-

tensa vegetação, bem como o descaso das

as, o uniforme, a o r g a n i z a ç ã o do movi-

autoridades governamentais concorreram

mento. Mussolini fez muita coisa pela

para confinar os imigrantes a um quase

Itália, tornou o p a í s moderno, tirou da

total isolamento, condição esta reforçada

m i s é r i a o povo italiano, antes eles ti-

pela heterogeneidade do grupo. Vindos de

nham que sair do p a í s , ir embora; de-

diferentes regiões da Itália, com costu-

pois tinha trabalho e riqueza para to-

mes e dialetos próprios, os colonos nem

Acervo. Rio de J a n e i r o , v. 10. n ° 2. pp. 17-36, Jul/dez 1997 - p á g . 2 5
A

C

E

mesmo associavam-se entre si com faci-

leitores era muito maior. Os que sabi-

lidade. Assim, foi a religião comum, o

am ler, liam para os que n ã o sabiam

catolicismo, que acabou desempenhando

ou contavam as n o t í c i a s . O jornal era

o elo preponderante na interação socio-

d i s t r i b u í d o a t é por o c a s i ã o da missa do-

cultural. Tal papel, obviamente, conferiu

minical, era levado a t é a igreja.

à Igreja um poder ainda maior de persua s ã o sobre seus fiéis. O desenvolvimento
da região colonial, com a abertura de estradas e o crescimento da indústria e do
comércio, fez com que esta influência d i m i n u í s s e consideravelmente o fluxo de
novos contatos culturais nos centros urbanos, lia área rural, no entanto, a instituição m a n t é m a sua importância originária, sendo os freis capuchinhos os mais
atuantes. Além de manter núcleos de inst r u ç ã o religiosa, voltados basicamente

18

Influenciados pela a d e s ã o manifesta do
clero da Itália ao regime de Mussolini, os
capuchinhos não s ó acolheram este sistema político, como associaram-no ao
integralismo, o qual representava, para os
freis da Ordem, o fascismo brasileiro. A
AIB pretenderia defender os mesmos princípios, ou seja, lutar pela grandeza da
pátria e da família, e estruturar-se de
acordo com as leis de Deus. Em janeiro
de 1934, o Stafetta apresenta o novo movimento:

para os filhos dos pequenos agricultores,
a Ordem possuía um destacado ó r g ã o de

A A ç ã o Integralista Brasileira tem suas

imprensa,

primeiras

o

Riograndense,

periódico

Stafetta

publicado em italiano. O

j o r n a l , s e g u n d o d e p o i m e n t o de frei

m a n i f e s t a ç õ e s no estado,

com a r e a l i z a ç ã o de um primeiro encontro

em

Porto

Alegre

(...)

o

integralismo é fascismo, mas um fas-

Alberto,

cismo com c a r á t e r nacional. O progra(...)

era

o p o r t a - v o z da c o l ô n i a . O

jornal va-

lia mais do que um co-

mício.

liavia naquela é p o c a

entre

ma do partido n á o apenas d á um lugar
de honra à r e l i g i ã o , mas é nela que se
inspira.

17

15 mil a 20 mil assinaturas, mas o n ú mero

de

Pelo testemunho de Carlos Fabris, podese observar que os pequenos produtores
rurais endossaram.

-jil-jil

Porto A l e g r e em a g o s t o d e 1 9 3 5 . Correio d a M a n h a , A r q u i v o N a c i o n a l .

p á g . 2 6 . Jul/dez

1997
V

R

andava de camisa

gação daquela ideologia. Ma visão da Igre-

preta, pregava no meu povoado em

ja, o comunismo avançava sem t r é g u a s e

Conceição.

o

para destruí-lo não bastava reprimir as

integralismo e n ó s p e n s á v a m o s que era

suas manifestações. Era preciso eliminar

a

o

quaquer foco que pudesse favorecê-lo,

integralismo, nosso, brasileiro e n t ã o ,

como a injustiça social e econômica. As

Eu era fascista (...)

mesma

Mas,

coisa

então

e

com o Plínio Salgado.

veio

fomos

para

disposições gerais do integralismo eram

18

Ou ainda, a associação entre os dois movimentos é evidenciada no relato de frei
Veronese:

apontadas como a grande e s p e r a n ç a de
transformação nacional. Tratava-se de um
movimento que obedeceria o ideal da verdade, da liberdade, da disciplina e do

A AIB foi muito aceita na zona italiana,

nacionalismo. Num mundo subordinado

com

facilidade o c o l o n o recebeu o

aos problemas de ordem material, onde

integralismo, pois havia o exemplo do

as correntes políticas agiam à luz de pro-

fascismo italiano. Mussolini, enquanto

blemas imediatistas e os princípios mo-

n ã o desbordou de seu sentido, tinha

rais eram relegados a segundo plano, os

belas i d é i a s , fez muito pela Itália, de-

postulados cristãos integralistas poderi-

senvolveu a agricultura, o trigo. Depois

am reconduzir a humanidade a seus al-

desbordou... Havia muita simpatia por

tos destinos, afastando-a, portanto, do

Mussolini na zona italiana.

19

O apoio dado ao integralismo pela Ordem
dos Capuchinhos e, de resto, por membros de todo o clero brasileiro deveu-se
não s ó à simpatia com o fascismo italiano, mas t a m b é m a uma convergência de
idéias. A análise da realidade brasileira e
das possíveis s o l u ç õ e s aos problemas
nacionais eram semelhantes. Da mesma
forma que a AIB, a Igreja católica considerava serem responsáveis pela situação
crítica do país o enfraquecimento do princípio de autoridade, a carência de leis
constitucionais, a fraqueza da hierarquia

ateísmo comunista. Combater as mazelas sociais, nessa perspectiva, significava
t a m b é m incentivar a população a exercer
seu poder de voto:
O lugar dos c a t ó l i c o s e de todos os brasileiros que ainda amam a integridade
da pátria é na batalha das urnas em
defesa da nossa t r a d i ç ã o . . . A r e l i g i ã o
n ã o impede nem i m p õ e a a d e s ã o

dos

c a t ó l i c o s ao integralismo (...) mas pode
ser de grande alcance ao futuro do Brasil que ingressem no movimento

os

c a t ó l i c o s leigos que tenham v o c a ç ã o
política.

20

e da ordem e a infiltração comunista. Sobretudo esse último fator, o suposto pe-

Aos que acusassem os r e l i g i o s o s de

rigo iminente do comunismo, alterava a

extrapolar suas funções ao imiscuir-se em

classe sacerdotal. Medidas urgentes de-

atividades políticas, os freis capuchinhos

veriam ser tomadas para evitar a propa-

alegavam que o estágio a que chegara o

Acervo, Rio de J a n e i r o , v. 10. n ° 2, pp. 17-36, j u l / d e z 1997

- pág.27
C

A

E

fascismo italiano fora alcançado principal-

capuchinhos na zona rural. Quando os

mente com a ajuda do clero. Este traba-

integralistas da sede chegavam para alar-

lhara junto ao povo, incentivando-o a

dear a nova causa, encontravam invaria-

melhorar seu sistema de cultura, instru-

velmente grupos de pessoas predispos-

indo-o e dando o exemplo direto. O go-

tas à conversão imediata. Tratava-se, en-

verno nacional deveria, portanto, seguir

tão, de oficializar o trabalho de divulga-

o exemplo e aproveitar a válida coopera-

ção feito pelo clero. Referindo-se a essa

ção dos padres. Por fim, o integralismo

fase, o integralista cidadino Oswaldino

encampava uma defesa cara à Igreja ca-

Ártico comenta:

tólica, a defesa do sistema corporativo, o
N ó s p a s s á v a m o s os domingos envolvi-

qual era considerado o modo ideal de
dos com isto. í a m o s todos depois da

organização política. As corporações esmissa falar e distribuir folhetos. D e i x á -

tabeleceriam a paz e a justiça, diminuinvamos l i d e r a n ç a s locais encarregadas

do os conflitos entre p a t r õ e s e empregade organizar o movimento. í a m o s

em

dos; objetivando a composição orgânica
dois ou t r ê s c a m i n h õ e s cheios de 'ca-

da sociedade, eliminariam as lutas de
misas-verdes'. Era um movimento ca-

classe. Frente a tal c o m u n h ã o de interest ó l i c o e aqui é r a m o s todos c a t ó l i c o s . A

ses, a AIB aparecia como uma alternativa
Igreja nos recebia muito bem,

éramos

viável na resolução dos impasses nacioum b a t a l h ã o de frente da Igreja. As i d é i -

nais, como demonstra o depoimento de
as nos empolgavam, a linguagem era

frei Alberto:
diferente, falava-se em modernidade,
Quando surgiu o integralismo houve

civismo... Em Garibaldi, o movimento

grande receptividade... no clero secu-

não

lar

ao

Compagnoni fomos lá fazer propagan-

integralismo, devido ao lema 'Deus,

da, depois da missa d i s t r i b u í m o s folhe-

Pátria e F a m í l i a ' . A t r a v é s do

tos.

a

maioria

era

simpática

Stafetta

e n d o s s á v a m o s com grande e s p e r a n ç a

estava

organizado,

eu

e

o

Mas j á estavam todos esperando

por n ó s , pelo movimento.

22

as i d é i a s do integralismo, pois acredit á v a m o s que seriam capazes de endireitar o Brasil, e n t ã o em crise. Isto n ã o
era s ó exprimido em palavras, havia
t a m b é m um certo ar de ufanismo. Havia a c o n v i c ç ã o , aqui no Rio Grande do
Sul, de que o integralismo iria triunfar.

21

A relação estabelecida entre o fascismo
italiano e o 'fascismo nacional' ajudou o
integralismo na canalização das hostilidades latentes destes colonos a muitas d é cadas de descaso das autoridades municipais e estaduais. A AIB aparecia como o
movimento político que lhes proporcio-

lieste quadro favorável, os 'camisas-ver-

n a r i a m e l h o r e s c o n d i ç õ e s de

des' da cidade empenhavam-se em refor-

ensejando, para tanto, a participação nas

çar

atividades partidárias da região. Os colo-

a

propaganda

p á g . 28 . J u l / d e z

1997

já

feita

pelos

vida,
o

V

nos acreditavam ter encontrado na AIB

AIB, a doutrina e o sentido político do

uma forma de manifestação de seus di-

novo movimento eram objeto de anima-

reitos frente aos partidos tradicionais.

do debate. Tais líderes, em geral empre-

Com dificuldades nas técnicas de plantio,

gados especializados do comércio e da in-

problemas de escoamento da produção

dústria, acreditavam que o integralismo

conjugados com os baixos preços dos pro-

prosseguia os ideais da Revolução de

dutos agrícolas, os pequenos agriculto-

1930, dando ao episódio o seu verdadei-

res desconfiavam da assim denominada

ro significado. Decepcionados com os ru-

'política dos brasileiros' que pouco con-

mos da política nacional na conjuntura do

tribuía para a solução de seus problemas.

pós-1930, classificavam uma outra revo-

A d e s a t e n ç á o e a r e p r e s s ã o por parte das

lução, a Constitucionalista de 1932, como

autoridades governamentais diminuíra o

o momento revelador da c a r ê n c i a de

interesse político dos colonos. Sem fide-

substrato ideológico das elites dirigentes

lidades partidárias enraizadas e mesmo

do país. Essas visualizariam na prática

avessos aos partidos regionais, constitu-

partidária apenas a o b t e n ç ã o de vanta-

íam-se num público em disponibilidade

gens e proveitos pessoais. Em meio a

política, lias palavras de frei Dionísio

busca de alguma manifestação política

Veronese:

que lhes atraísse, haviam, inclusive, flertado com o comunismo, julgado pelo gru-

lio interior, na zona rural, n ã o havia

po, em última análise, como por demais

partido. O colono n ã o se ligava a ne-

violento e materialista. J á as c o n c e p ç õ e s

nhum partido. Mão tinha interesse na

e os partidos liberais apareciam como 'an-

p o l í t i c a do p a í s . Sua vida era cuidar da

tigos', 'ultrapassados', destituídos de va-

família, do trabalho. Para eles a políti-

lor com seus 'políticos profissionais'. Sen-

ca era c o n f u s ã o , n ã o queriam se meter

do esses últimos responsáveis por todas

em c o n f u s ã o . O pouco contato que ti-

as mazelas e entraves nacionais, n ã o

nham com a política nacional s ó decep-

mereceriam confiança. Ao invés disso, o

cionava os colonos. O fato era que o

integralismo, conhecido através dos jor-

colono sentia-se muito prejudicado pela

nais, expressaria uma 'mudança de men-

falta de c o n d i ç õ e s , de transportes, de

talidade', um 'partido dotado de unidade

conhecimentos. As melhorias n ã o che-

de idéias' e, acima de tudo, o primeiro

gavam na c o l ô n i a . A política partidária

partido que surgia no mundo fundamen-

em nada adiantava para o colono, fo-

tado numa 'filosofia espiritualista'. Em

ram muito mal tratados. Se tinham que

contraposição ao agnosticismo comunis-

votar, votavam e pronto. Havia muita

ta, defendia a crença em Deus. Da mes-

r e p r e s s ã o , perseguiam e matavam."

ma forma, o grupo era receptivo quanto

Por sua vez, entre o pequeno grupo urbano responsável pela organização local da

à identificação entre a AIB e os movimentos europeus.

Acervo, Rio de J a n e i r o , v. 10, n ° 2. pp. 17-36. Jul/dez

1997 - p á g . 2 9
C

A

E

Para Arthur Rech, militante do grupo, as

eleições municipais de 1935. Como ban-

ligações entre o integralismo e o fascis-

deira eleitoral, a moralidade e o controle

mo eram evidentes e positivas, pois mos-

dos gastos públicos: combatiam o aumen-

travam a universalidade de uma idéia, de

to de impostos, a criação de novas tribu-

uma doutrina que deveria vingar no mundo:

tações e a proliferação de funcionários;

Mesmo sendo os movimentos da mesma ordem, n ã o q u e r í a m o s uma identif i c a ç ã o direta, nossa m i s s ã o era com o
Brasil. O verde simbolizava a terra brasileira.

Queríamos

ser

pessoas

marcadas na sociedade pelo exemplo:
virtude, religiosidade, disciplina, amor
pelo trabalho, isto o integralismo pregava. Q u e r í a m o s tudo nativo, é r a m o s
brasileiros e n ã o italianos. Os imigrantes passaram a aderir à camisa-verde,
deixaram de usar a camisa-parda. O
nosso movimento era melhor, era mais
democrático."

defendiam a n ã o sobrecarga de impostos
aos colonos agricultores e a política do
equilíbrio orçamentário, com a compress ã o de todos os gastos. Para um partido
que havia se organizado em apenas um
ano na região, os resultados do pleito
eleitoral foram extremamentes favoráveis,
sendo os melhores que o partido obteve
no estado. A AIB elegeu em Caxias do Sul
três vereadores, Arthur Rech (representante comercial), Humberto Bassanesi
(empregado do comércio) e Emílio Pezzi
(comerciante), contra quatro vereadores
do partido situacionista, o PRL, equiparando praticamente o público de eleito-

O ponto focai de interesse do grupo re-

res. Ha votação geral, os vereadores do

pousava antes no que era percebido como

PRL receberam 1.470 votos enquanto os

um apurado sentido nacionalista da AIB,

vereadores da AIB obtiveram 1.218.

preocupada com assuntos de toda a na-

A partir desse resultado e da atuação sem-

ção e concebendo a idéia de partido na-

pre

cional', longe, portanto, das a m b i ç õ e s

integralistas na c â m a r a municipal, a hos-

restritivas e dos imediatismos dos parti-

tilidade do partido governista, a t é e n t ã o

dos regionais. O comunismo, mais uma

relativamente contida em função da pre-

vez, ia de encontro a esses princípios,

sença do clero nas fileiras da AIB, tornou-

mostrando-se 'internacionalista'. Assim,

se ostensiva. As rivalidades latentes tor-

dentro do quadro político da época, a AIB

naram-se explícitas e o movimento

teria se mostrado ao grupo como a op-

integralista passou a ser alvo de ataques

ção mais promissora.

constantes que visavam d e s a c r e d i t á - l o ,

entusiasmados com a numerosa a d e s ã o

pondo em dúvida suas atitudes e seu ca-

ao movimento na zona rural, com o apoio

ráter. O PRL procurava identificar a AIB

de uma parcela do clero e com a sempre

ao comunismo, explicando que, em am-

crescente inserção na própria zona urba-

bos os movimentos, o governo deixava de

na, os integralistas articulam-se para as

ser uma e x p r e s s ã o da vontade da maio-

p á g . 3 0 . jul/dez

1997

contrastante

dos

25

vereadores
O

V

R

ria. Passava, antes, a representar apenas
os interesses de uma oligarquia, que impunha o seu poder através da violência e
da força. Da mesma forma, a AIB é acusada de servir aos propósitos do fascismo italiano, preparando as condições à
infiltração

e s t r a n g e i r a no p a í s .

Os

integralistas seriam apenas versões mal
acabadas dos fascistas europeus, conduzidos por um mitomaníaco disfarçado de
salvador: Plínio Salgado, lia verdade, denunciavam, a AIB teria se afirmado com-

da ingenuidade do clero:
A Igreja aconselha a i m p l a n t a ç ã o
integralismo no Brasil. Que
a

palavra

Deus

na

do

significará

prática

integralismo o dia em que ele

do

estiver

no poder? Por ventura, Mussolini j á n á o
ameaçou

a

Igreja?

Os

regimes

m i n o r i t á r i o s jamais p o d e r ã o

tolerar

uma Igreja prestigiosa e popular, lia democracia nada tem a Igreja a temer. A
legenda integralista 'Deus, Pátria e Família' é mais um e n g o d o .

28

batendo os operários, os negros, os j u deus, a democracia, a liberdade e a inte-

Em editorial, O Momento aponta quais

ligência. Era, portanto, um movimento

seriam

perigoso, destituído de respeitabilidade e

integralismo. De acordo com sua visão,

motivado por intenções escusas. Parecia,

muitas pessoas eram atraídas ingenua-

assim, i n c o m p r e e n s í v e l o apoio que a

mente em função da novidade política, da

Igreja oferecia à AIB. O jornal oficial do

oportunidade de aparecer, da falácia dos

PRL colocava nesses termos a considera-

postulados morais. Porém, as lideranças

as

razões

E x p o s i ç ã o anti-Integralista n o Teatro M u n i c i p a l . Rio de Janeiro, o u t u b r o d e 1957.
Arquivo

de

adesão

ao

Correio da M a n h ã ,

Nacional.

Acervo. Rio de J a n e i r o , v. 10.

n ° 2, pp.

17-36. Jul/dez 1997

- pág.31
C

A

E

que difundiram o movimento na região

cidamente I n ú t e i s , nada mais justo e

seriam indivíduos condenados ao ostra-

natural que sua e x t i n ç ã o . *

cismo por evidente falta de qualidade
política e moral. Segundo esse raciocínio,
o jornal sentenciava com veemência os
dirigentes do integralismo local, mas tentava eximir a massa de seus adeptos, os
quais não passariam de "inocentes úteis".

2

nessa lógica, os membros da AIB negavam que sua organização fosse um partido político. Apenas se inscrevera como tal
a fim de propagar legalmente suas idéias. A política ocupava somente uma seção do movimento, agora extinta. A AIB

Em meio as a g r e s s õ e s constantes, os

passava a ser, no novo sistema, uma as-

integralistas tentam relativizar seus an-

sociação de estudos, de e d u c a ç ã o moral

tagonistas, argumentando que perturba-

e esportiva. Por sua vez, o PRL conside-

vam estes velhos políticos por não parti-

rou a dissolução dos partidos políticos

ciparem na "falsa vida política do país e

uma prova cabal do espírito d e m o c r á t i c o

lutarem para reerguer a nação do caos

do governo Vargas. O fim do integralismo

provocado pelo regime liberal":

como partido foi comemorado como uma

O alarme na família liberal é grande.

medida ímpar. Os i n ú m e r o s incidentes

Todos os meios de defesa e s t ã o sendo

entre o governo federal e a AIB a p ó s a

mobilizados. Os jornais da terra atacam

d e c r e t a ç ã o do Estado Movo renovaram as

os ' p e r i g o s í s s i m o s '

a c u s a ç õ e s ao integralismo na região:

camisas-verdes,

nunca pusemos em d ú v i d a estes políticos, apenas negamos a e f i c i ê n c i a

de-

les em meio aos partidos p o l í t i c o s que
dividem e semeiam o ó d i o .

Prossegue por todo o p a í s a campanha
que o governo desenvolveu contra

os

adeptos do 'pano verde'. Precisamos

2 7

olhar com firmeza ao redor,

verificar

Às animosidades generalizadas das forças

bem de perto quem eram os adeptos

políticas dominantes na região agregou-

de ontem e os inimigos de hoje; mais

se o advento do Estado Movo em novem-

cuidado deve ter o governo, debaixo de

bro de 1937. Porém, tanto a AIB quanto o

d e m o n s t r a ç õ e s h i p ó c r i t a s pode estar

PRL locais apoiaram, no início, o novo re-

escondido aquele que mais tarde po-

gime. Para os integralistas, o fim das prá-

deria ser o portador do punhal homici-

ticas político-partidárias no país viera ao

da contra o povo que n ã o quer o regi-

encontro de seus princípios:

me estrangeiro e contra o governo que

Os homens de partido n ã o trepidavam

se inicia e que trabalha.

29

em p ô r em e x e c u ç ã o os meios violen-

Concomitante aos acontecimentos do

tos, sacudindo o p a í s , de tempos em

p a í s , a d e s a r t i c u l a ç ã o d e f i n i t i v a do

tempos, com movimentos armados que

integralismo na zona colonial italiana su-

pertubavam o ritmo normal da vida da

cedeu-se com o fracasso do golpe de maio

n a ç ã o (...) se os partidos eram reconhe-

de 1938, ocasião em que as lideranças da

p á g . 32 . J u l / d e z

1997
o

V

AIB rebelaram-se contra o governo fede-

determinadas regiões do país onde esta

ral na expectativa de tomar o poder. No

fase de transição mostrou-se mais agu-

planejamento nacional do golpe, alguns

da, a receptividade à AIB foi, em geral,

integralistas desta área de imigração fo-

mais intensa dado o seu caráter de movi-

ram convocados ao Rio de Janeiro a fim

mento político tido como alternativo ao

de receber instruções. Segundo depoi-

status

mento de Oswaldino Ártico:

postas doutrinárias consideradas radical-

quo

vigente. Suas práticas e pro-

Em Caxias, ficamos reunidos esperan-

mente novas forneceram um projeto po-

do o sinal da rádio Mairink Veiga para

lítico a u t ô n o m o para segmentos sociais

c o m e ç a r m o s a r e v o l u ç ã o . Iniciava no

emergentes que se identificaram com este

Rio. O sinal n ã o foi feito. N ó s n ã o t í n h a -

tipo de apelo. Essa realidade, presente ém

mos armas. Nada organizado. Na hora,

maior ou menor grau nas á r e a s onde a

í a m o s pensar no que fazer, mas nada

AIB encontrou aceitação, não pôde impe-

aconteceu. Eicou por isto mesmo e o

dir o reconhecimento das particularida-

movimento integralista terminou para

des locais que diferenciaram e enrique-

sempre.

ceram

30

a

análise

da

natureza

do

O integralismo representou ao longo de

integralismo. Qual seja, no caso das zo-

sua existência legal (1932-1938) a mani-

nas de imigração alemã e italiana, pare-

festação de uma sociedade mais comple-

ce evidente a importância da q u e s t ã o ét-

xa engendrada com as t r a n s f o r m a ç õ e s

nico-cultural sobredeterminando as mo-

sociopolíticas e econômicas ocorridas ao

tivações de a d e s ã o ao novo movimento

longo das d é c a d a s de 1920 e 1930. Em

brasileiro.

N
1.

O

T

A

S

O integralismo tem sido nas ú l t i m a s d é c a d a s objeto de interesse em uma perspectiva nacional
e, mais recentemente, em a n á l i s e s comparativas com os movimentos fascistas europeus. Ver
entre outros: tlelgio Trindade, Integralismo: o fascismo brasileiro na d é c a d a de 30, 2 ed., S ã o
Paulo, Difel, 1977; J o s é Chasin, O integralismo de Plínio Salgado: forma de regressividade no
capitalismo hipertardio, S á o Paulo, Editora C i ê n c i a s Humanas, 1978; Ricardo Benzaquen de
Araújo, A cor da e s p e r a n ç a : totalitarismo e r e v o l u ç ã o no integralismo de Plínio Salgado, Rio de
Janeiro, CPDOC/PGV, 1984; Elmer Broxson, Plínio Salgado and brazilian integralism (1932-1938).
a

Acervo, Rio de J a n e i r o , v. 10, n ° 2, pp. 17-36, Jul/dez

1997

- pág.33
C

E

Washington. The Catholic University of America, 1972; Juan Linz, "O integralismo e o fascismo
internacional". Porto Alegre, Revista IFCtl. J.1976; Walter Laqueur (ed.), Tasc/smo: a reader's
guide, University of Califórnia Press, 1976; Pierre Milza, Les fascisme. Paris, Impremerie
Nationale, 1985; Stanley Payne, El fascimo, Madrid, Alianza Editorial, 1982.
2. Sobre a formação histórica do Rio Qrande do Sul ver: Joseph Love. O regionalismo
gaúcho,
São Paulo, Perspectiva, 1975; Paul Singer, Desenvolvimento econômico
e evolução
urbana, 2
ed., São Paulo, Companhia nacional Editora, 1977; Helga Piccolo, "A política rio-grandense no
Império", em J. Dacanal e S. Gonzaga, Rio Qrande do sul: economia e política. Porto Alegre,
Ed. Mercado Aberto, 1979; Sandra Pesavento, Rio Qrande do Sul: economia e poder nos anos
30, Porto Alegre, Ed. Mercado Aberto, 1980.
a

3. Jean Roche, A colonização

alemã

e o Rio Qrande do Sul,

vol. II, Porto Alegre, Ed. Qlobo, 1969.

4.

Entrevista de Alcides Arendt (1969). Arquivo AlB/Helgio Trindade, nUPEROS/COnsUL/Universidade Federal do Rio Qrande do Sul.

5.

Entrevista de Maximiliano Hahan (1969). Arquivo AlB/Helgio Trindade, nUPERQS/COnSUL/ Universidade Federal do Rio Qrande do Sul.

6. Telegrama de Morais Forte a Flores da Cunha, publicado no jornal
gre, (26/2/1935).
7.

Entrevista de Metzler ao jornal

8.

Relato de Felipe Stahl. Contribuição
para
nova Petrópolis. EDUCS. 1985. p. 245.

9.

Correio do Povo.

Porto Ale-

Relato de Irmgard Schuch, ibidem, p. 249.

Correio do Povo,
a história

Porto Alegre, (26/2/1935).
de Mova Petrópolis,

Prefeitura Municipal de

10. Relato de Elizabeth K. Evers, ibidem, p. 256.
11. Telespresso n° 2.085/656 (Rio de Janeiro, 21 de setembro de 1936) e Telespresso n° 235.417
(Rio de Janeiro, 24 de outubro de 1936), Arquivo Histórico do Ministério de Relações Exteriores-Roma.
12. Entrevista de Enrico Muller (1969). Arquivo AlB/Helgio Trindade, NUPERQS/COnSUL/ Universidade Federal do Rio Qrande do Sul.
13. Entrevista de José Ferreira da Silva (1969). Arquivo AlB/Helgio Trindade, nUPERQS/COMSUL/
Universidade Federal do Rio Qrande do Sul. Integralista de Blumenau, o diretor da Biblioteca
Pública, Ferreira da Silva, era luso por descendência paterna e alemão pela linha materna.
14. "Os homens somos nós" de Luís Compagnoni, publicado no jornal O Bandeirante, (10/2/1935).
15. Entrevista de Oswaldino Ártico, concedida em 1991.
16. Entrevista de frei Alberto Stawiski, concedida em 1991. De origem polonesa, formou-se no
curso de Filosofia e Teologia da cidade de Qaribaldi em 1925.
17.

Stafetta Riograndense,

Caxias do Sul, (12/9/1934).

18. Entrevista de Carlos Fabris (1969). Arquivo AlB/Helgio Trindade, nUPERQS/COnSUL/ Universidade Federal do Rio Qrande do Sul. Fabris tornou-se chefe do integralismo no distrito de Conceição, interior de Caxias do Sul.
19. Entrevista de frei Dionísio Veronese, concedida em 1991. Para o frei capuchinho: "Os líderes
do integralismo estavam nas cidades, mas a penetração do integralismo era principalmente
nas colônias, no interior. Eram agricultores, os colonos que entravam para o integralismo".
Oswaldino Ártico, por sua vez, observa: "A gente aqui em Caxias dirigia o integralismo, mas
nas colônias, nestes vilarejos, havia muitos integralistas. Os colonos eram todos integralistas
por causa da Igreja".
20. Jornal Stafetta Riograndense, (21/3/1934). Segundo a reportagem *(...) diversos países europeus sofreram uma profunda revolução política transformando-se em estados corporativos,
como a Itália, a Alemanha. O movimento deveria ampliar-se (...) a AIB que vem surgindo defende o sistema corporativo".
21. Entrevista de frei Alberto Stawiski.
22. Entrevista de Oswaldino Ártico.
23. Entrevista de frei Dionísio Veronese.
24. Entrevista de Arthur Rech (1969). Arquivo AlB/Helgio Trindade, MUPERQS/COnSUL/Universidade Federal do Rio Qrande do Sul.

p á g . 3 4 . Jul/dez

1997
O

V

R

25. Jornal O Momento, Caxias do Sul. (5/12/1935).
26. Jornal O Momento, Caxias do Sul, (9/8/1936).
27. Jornal O Bandeirante, (31/7/1936), p u b l i c a ç ã o oficial do integralismo na r e g i ã o colonial italiana.
28. Jornal O Bandeirante.

(18/11/1937).

29. Jornal O Momento, (6/12/1937).
30. Entrevista de Oswaldino Ártico.

B

I

B

L

I

O

G

R

A

F

I

A

1. Arquivo Histórico Municipal de Caxias do Sul (Setor de Bibliografias): Arthur Rech;
Humberto Bassanesi; Emílio Germano Pezzi.
2. Arquivo Histórico Municipal de Caxias do Sul (Setor de Periódicos e Documentos).
3. Anais da Câmara Municipal de Caxias do Sul: 1935, 1936, 1937.
4. Arquivo AIB/Helgio Trindade. riUPERQS/COHSUL/Universidade Federal do Rio Grande
do Sul.
5. Arquivo Flores da Cunha. MUPERQS/COHSUL/ Universidade Federal do Rio Qrande do
Sul.
6. Arquivo de Pesquisa Histórica do Departamento de História da Universidade de Caxias
do Sul.
7. Jornais regionais integralistas: A Luta (Porto Alegre), A Revolução

(Porto Alegre), O

Integralista (Porto Alegre), O Bandeirante (Caxias do Sul).
8. Jornais regionais: O Momento (Caxias do Sul), // O/orna/e delVAgrlcoltore (Caxias do
Sul), Stafetta Riograndense (Caxias do Sul), Correio do Povo (Porto Alegre), Diário de
notícias

(Porto Alegre).

9. Boletins informativos: Cinqüentenário

delia Colonlzzazlone

dei Sud, Porto Alegre, Qlobo, 1925; Documentário Histórico
do Sul, 1875-1950,

Italiana nel Rio Qrande
do Município

Sáo Leopoldo, Artegráflca, 1950; De Província

de Caxias

de São Pedro a

Estado do Rio Qrande do Sul, censos do Rio Qrande do Sul, 1803-1950.
Acervo. Rio de J a n e i r o , v. 10. n ° 2. pp. 17-36, J u l / d e i

1897 - p á g . 3 5
A

B

^

T

R

A

C

T

The essay describes the setting of the Brazilian Integralist Action (AIB) of Plínio Salgado wlthin the
social and political context of Rio Qrande do Sul in the 1930s. The analysis places the í n t e g r a l l s m
in the same category as the fascists movements. Thus, the subject is focused on the problems
encountered by the movement during its regional expansion process, considering the particularities
of that moment in history.

R

É

S

U

M

É

Lessai entend d é c r i r e la mise en place de 1'Action I n t é g r a l i s t e B r é s i i i e n n e (AIB) de Plínio Salgado,
dans le contexte social et politique de 1'état du Rio Qrande do Sul pendant la d é c a d e de 1930.
Lanalyse situe 1'intégralisme dans la c a t é g o r i e des mouvements fascistes. Par rapport à cette i d é e ,
le sujet est centre dans les vicissitudes qui connait le mouvement au cours de son processus
dexpansion r é g i o n a l e , en fonction des p a r t i c u l a r i t é s de ce moment historique.
Maria Antonieta de Toledo Ribeiro Bastos
Geógrafa do Museu Paulista da Universidade de São Paulo.

O U n i v e r s o do T r a b a l h o do
làa - S P
(1876/1930)

A

paulista, até e n t ã o essencialmen-

nalisar o universo do

2

trabalho imigrante,

te rural.

na cidade de Itu, de

A expulsão desses imigrantes

uma forma mais ampla, no pe-

de seus p a í s e s de origem,
notadamente da Itália, foi

ríodo de 1876 a 1930, é uma
tarefa extremamente exaustiva, cuja di-

causada pela e x p a n s ã o do capitalismo

m e n s ã o extrapola a abrangência de um

a p ó s 1850 e c o n s e q ü e n t e divisão inter-

artigo. Porém, a pesquisa realizada a par-

nacional do trabalho. O fato de eles n ã o

tir das fontes p r i m á r i a s resgatou dados

se

essenciais para a análise das diferentes

proletarização em sua terra natal esti-

categorias de trabalho, da composição da

mulou a emigração para o Brasil, rece-

1

submeterem

ao

processo

de

3

população imigrante por nacionalidade e

bendo esse movimento pleno apoio go-

de alguns aspectos de sua trajetória ao

vernamental, tanto no país receptor como

c h e g a r ao B r a s i l . O corte t e m p o r a l

no expulsor. Em 1871, sancionava-se

corresponde à fase de transição da m ã o -

uma lei em que o governo brasileiro era

de-obra escrava para a mão-de-obra l i -

autorizado a emitir apólices de a t é seis-

vre, m o m e n t o em que as correntes

centos contos, visando o pagamento de

imigratórias tornaram-se mais expressi-

passagens de imigrantes, dando-se pre-

vas, povoando grande parte do interior

ferência aos do norte europeu. Messe

Acervo. Rio de J a n e i r o , v. X0. n ° 2. pp. 37-52, J u l / d e i 1997 - p á g . 3 7
Um olhar sobre a disciplina urbana no Rio de Janeiro
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Um olhar sobre a disciplina urbana no Rio de Janeiro

  • 1.
  • 2. O 1998 by Arquivo Nacional Rua Azeredo Coutinho, 77 CEP 20230-170 - Rio de Janeiro - RJ - Brasil Presidente da R e p ú b l i c a Fernando Henrique Cardoso Ministro da J u s t i ç a J o s é Renan Vasconcelos Calheiros Dlretor-Geral do Arquivo Nacional Jaime Antunes da Silva Editora Maria do Carmo T. Rainho Conselho Editorial Ingrid Beck. J o s é Ivan Calou Filho, Maria do Carmo T. Rainho, Maria Isabel F a l c ã o , Maria Izabel de Oliveira, Nilda Sampaio Barbosa, Sílvia Ninita de Moura E s t e v ã o , Verone G o n ç a l v e s Cauville Conselho Consultivo Ana Maria Camargo, Angela Maria de Castro Gomes, Boris Kossoy, Célia Maria Leite Costa, Elizabeth Carvalho, Francisco Falcon, Francisco Iglesias, Helena Ferrez, Helena C o r r ê a Machado, H e l o í s a Liberalli Belotto, limar Rohloff de Mattos, Jaime Spinelli, Joaquim Marcai Ferreira de Andrade, J o s é Carlos Avelar, J o s é S e b a s t i ã o Witter, L é a de Aquino, Lena Vânia Pinheiro, Margarida de Souza Neves, Maria Inez Turazzi, Marilena Leite Paes, Regina Maria M. P. Wanderley, Solange Z ú n i g a Projeto G r á f i c o A n d r é Villas Boas E d i t o r a ç ã o E l e t r ô n i c a , Capa e I l u s t r a ç ã o Qisele Teixeira de Souza Revisão Alba Gisele Qouget, J o s é C l á u d i o da Silveira Mattar, J o s é Ivan Calou Filho e T â n i a Maria Cuba Bittencourt Resumos Carlos Peixoto de Castro, Flávia Roncarati Gomes e J o s é C l á u d i o da Silveira Mattar ( v e r s ã o em i n g l ê s ) e Flávia Roncarati Gomes e Léa Porto de Abreu Novaes ( v e r s ã o em f r a n c ê s ) Reprodução Fotográfica Agnaldo Neves Santos, C í c e r o Bispo, Flavio Ferreira Lopes e Marcello Lago Secretaria Jeane D'Arc Cordeiro Acervo: revista do Arquivo nacional. — v. 10, n. 2 (jul./dez. 1997). — Rio de Janeiro: Arquivo nacional. 1998. v.; 26 cm Semestral Cada número possui um tema distinto ISSn 0102-700-X 1. Imigraçáo - Brasil - I. Arquivo nacional CDD 323-1
  • 3. Ministério da J u s t i ç a Arquivo Nacional ACERVO R E V I S T A D O A R Q U I V O N A C I O N A L RIO DE JANEIRO, V.10, NÚMERO 02, JULHO/DEZEMBRO 1997
  • 4. S U M Á R I O 01 Apresentação 03 Bastidores U m outro olhar sobre a i m i g r a ç ã o no R i o de Janeiro Lená Medeiros de Menezes 17 Camisas-Verdes O integralismo no S u l do Brasil • Carla Brandalise 37 O U n i v e r s o do T r a b a l h o do Imigrante em Itu - S P ( 1 8 7 6 - 1 9 3 0 ) Maria Antonieta de Toledo Ribeiro Bastos 53 "Proverbial H o s p i t a l i d a d e " ? A Revista Jc Imigração e Colonização c o discurso oficial sobre o imigrante ( 1 9 4 5 - 1955) Elena Pájaro Peres 71 "Inimigos M a s c a r a d o s com o T í t u l o de C i d a d ã o s " A v i g i l â n c i a c o controle sobre os portugueses no R i o de Janeiro do Primeiro Reinado Qladys Sabina Ribeiro 97 I m i g r a ç ã o Portuguesa e M o v i m e n t o O p e r á r i o no B r a s i l Fontes c arquivos de Lisboa Fernando Teixeira da Silva 109 Portugueses no B r a s i l I m a g i n á r i o social c t á t i c a s cotidianas ( 1 8 8 0 - 1 8 9 5 ) Maria Manuela R. de Sousa Silva
  • 5. 119 A ç o n a n o s e M a d eirenses no S u l do B r a s i l Walter F. Piazza 129 A C r i a ç ã o do E s t r a n h a m e n t o e a C o n s t r u ç ã o do E s p a ç o Público Os japoneses no Estado Novo Adriano Luiz Duarte 147 L i t e r a t u r a de I m i g r a ç ã o M e m ó r i a s dc uma diáspora Maria Luiza Tucci Carneiro 165 I m i g r a ç ã o A l e m ã e C o n s t r u ç ã o do E s t a d o N a c i o n a l Brasileiro R i o Grande do S u l , s é c u l o Helga Iracema Landgraf Piccolo 179 Breves R e f l e x õ e s Sohre o P r o h l e m a da I m i g r a ç ã o U r b a n a O caso dos e s p a n h ó i s no R i o dc Janeiro ( 1 8 8 0 - 1 9 1 4 ) Lúcia Maria Paschoal Q u i m a r ã e s 199 M u l t i p l i c i d a d e É t n i c a no l i o de J a n e i r o U m estudo sobre o 'Saara' Paula Ribeiro 213 Perfil Institucional M e m o r i a l do Imigrante Marco Antônio Xavier 219 Perfil Institucional M u seu e A r q u i v o H i s t ó r i c o M u n i c i p a l de C a x i a s do S u l Juventino Dal Bó 223 Fontes para E s t u d o s da E n t r a d a de Estrangeiros e de Imigrantes no B r a s i l 229 Bibliografia
  • 6. A P R E S E N T A Ç Ã O Como afirma Boris Fausto, a imigração Tentando contribuir para divulgar o que tardou a constituir um campo específico vem sendo produzido nas universidades da pesquisa a c a d ê m i c a . Durante muito e centros de pesquisa sobre imigração, tempo — podemos dizer, a t é meados da esse n ú m e r o da Acervo traz 13 artigos, d é c a d a de 1960 — era objeto apenas de além de dedicar a seção Perfil Institucional grandes i n t e r p r e t a ç õ e s s o c i o l ó g i c a s , a entidades que se destacam pela riqueza destacando-se as obras de Roger Bastide de seus acervos como o Memorial do e Florestan Fernandes. Imigrante e o Museu e Arquivo Histórico A partir dos trabalhos dos brazilianistas que, ainda segundo Fausto, se relacionam com o desenvolvimento de estudos sobre etnias nos Estados Unidos, o tema da Municipal de Caxias do Sul. Para finalizar, a p r e s e n t a u m r o t e i r o dos núcleos documentais custodiados pelo Arquivo nacional, de interesse para o tema. imigração passa a constituir-se em objeto Abre esse n ú m e r o , o texto da professora de análise não subordinado. Lená Medeiros de Menezes que utiliza os Dentre os estudos desenvolvidos por processos de expulsão de imigrantes para pesquisadores e s t u d a r as formas de i m p o s i ç ã o da brasileiros, chama a a t e n ç ã o o de J o s é de Souza Martins que, disciplina no e s p a ç o urbano do Rio de a partir da d é c a d a de 1970, toma a Janeiro, durante a Primeira República. imigração central, A seguir, C a r l a B r a n d a l i s e a n a l i s a a analisando n ã o apenas as r e l a ç õ e s de inserção do movimento integralista no Rio p r o d u ç ã o pós-escravistas, como t a m b é m Qrande do Sul na d é c a d a de 1930 e a sua os o b s t á c u l o s e i m p o s s i b i l i d a d e s de a t u a ç ã o nas á r e a s ocupadas por colonos a s c e n s ã o social dos imigrantes pobres. a l e m ã e s e italianos. Atualmente, como a objeto imigração é tema recorrente nos trabalhos de historiadores, a n t r o p ó l o g o s e sociólogos, que ampliam o e s p a ç o geográfico enfocado — o qual centrou-se, por muito tempo, em S ã o Paulo, Rio de Janeiro e Rio Qrande do Sul —, e incorporam novas abordagens como O artigo da geógrafa Maria Antonieta de Toledo Ribeiro Bastos traça um perfil dos trabalhadores imigrantes em Itu, entre 1876 e 1930, em particular os italianos que dedicaram-se, em grande parte, ao trabalho agrícola. as n o ç õ e s de etnicidade e pluralismo Elena cultural. regulamentação Pájaro Peres do analisa a movimento
  • 7. imigratório no Brasil, a partir da Revista eliminar de Imigração 'derrotistas'. e Colonização que circulou entre 1940 e 1955 e visava e s b o ç a r as características do imigrante desejável. y f i s i c a m e n t e os chamados A literatura de imigração, especialmente aquela produzida por imigrantes judeus T r ê s a r t i g o s e n f o c a m os i m i g r a n t e s que se refugiaram do nazismo no Brasil, portugueses no Brasil: o de Qladys Sabina nas d é c a d a s de 1930 e 1940, é o tema da Ribeiro analisa a vigilância e o controle professora Maria Luiza Tucci Carneiro que que sofreram durante o Primeiro Reinado; analisa o conteúdo dessas obras e o perfil o texto de Fernando Teixeira da Silva dos seus autores. aponta as possibilidades de pesquisa sobre a relação entre movimento operário e imigração portuguesa, nas três O processo de imigração alemã para o Rio Qrande do Sul durante o século XIX é o p r i m e i r a s d é c a d a s do s é c u l o XX, em tema de tlelga Iracema Landgraf Piccolo, Santos; e, finalmente, o artigo de Maria onde se destaca o pequeno proprietário Manuela R. de Sousa e Silva aborda as imigrante como fiel da balança, na relação t e n s õ e s existentes na r e l a ç ã o entre entre o governo imperial e os grandes brasileiros e portugueses a partir de senhores de terra, muitos deles escravistas. enfrentamentos cotidianos ocorridos no Os e s p a n h ó i s n ã o foram esquecidos pela Rio de Janeiro, no final do século XIX. Acervo e e s t ã o presentes no artigo de Walter Piazza trabalha a história da vinda Lúcia Maria Paschoal G u i m a r ã e s que, de imigrantes a ç o r i a n o s e madeirenses tendo como e s p a ç o o Rio de Janeiro na para o sul do Brasil no século XVIII, suas virada do século XIX, pretende demonstrar bases sociais e políticas, e os resultados que a emigração urbana se constituiu num desse movimento migratório. fator Os imigrantes japoneses durante o Estado Movo s ã o o objeto do texto de Adriano Luiz concorrente da mão-de-obra nacional, especialmente aquela que fora liberada pela abolição. Duarte. Esses imigrantes, com o fim da Fecha este n ú m e r o o texto de Paula Segunda Guerra, dividiram-se em dois Ribeiro que parte dos r e l a t o s dos grupos: aqueles que não acreditavam na imigrantes sírios e libaneses c r i s t ã o s , derrota japonesa e os que, conformados judeus sefaradim com a situação, desejavam esquecê-la. É para traçar um perfil desses homens que, interessante destacar os dados que o desde fins do século XIX, t ê m - s e dedicado autor apresenta sobre a ao comércio de armarinhos e de g ê n e r o s Shindô-Remmei, o r g a n i z a ç ã o que t i n h a por o b j e t i v o e seus descendentes, alimentícios. Maria do Carmo T. Rainho Editora
  • 8. Lená Medeiros de Menezes Professora Adjunta do Departamento de História da UERJ. Doutora em História Social. . . B a s t i d o r e s U m outro oUiar sotre a imigração no R i o cie J a n e i r o A pós residir 38 anos na bre a defesa da ordem e da segu- cidade do Rio de Janeiro, Manuel Real, portu- rança nacional, a prática da expulV g u ê s , analfabeto, solteiro, padeiro s ã o representou uma das faces da excludência implantada pelo regi- por profissão, mas sem residência fixa, foi me republicano: aquela que atingia os es- expulso do Brasil como mendigo incorri- trangeiros pobres, transformados em al- gível, regressando à terra natal, com 64 vos das políticas de higiene social e n t ã o anos, apenas com a roupa do corpo. Mui- desenvolvidas, numa cidade que conhe- to mais brasileiro que português, foi obri- cia um tempo de m u d a n ç a s visíveis no ser, gado a voltar à Europa, de onde saíra com no fazer, no sentir e no estar. Tempo mar- a idade de 26 anos, para enterrar, em cado por luzes e sombras, fugas e bus- outro solo que n ã o o brasileiro, a falên- cas, por distanciamentos profundos en- cia de seus sonhos, expectativas e espe- tre o discurso legal, que contemplava pos- ranças. 1 tulados liberais, e as práticas políticas au- História de vida como a de Manuel Real não foi um caso isolado na capital brasileira, ao longo de seu t ã o aclamado processo civilizatório. Além do discurso so- toritárias do cotidiano, enraizadas n u m a mentalidade escravista e latifundiária. lio processo de imigração em massa que Acervo, Rio de J a n e i r o , v. 10, n ° 2, pp. 0 3 - 1 6 , Jul/dez 1997 - pág.3
  • 9. marcou a virada do século, a proclama- tado, em muito, da r e p r e s e n t a ç ã o ideali- ção e a consolidação da república brasi- zada de m ã o - d e - o b r a superior, promoto- leira corresponderam à terceira^ onda dos ra do progresso, que compunha os dis- movimentos m i g r a t ó r i o s que do Velho cursos imigrantistas na é p o c a imperial. Mundo atingiram a América. Esta onda, Com pouco conhecimento dos códigos ur- diferente das anteriores, caracterizou-se banos, precária qualificação profissional pelo êxodo em massa das á r e a s agrícolas e ausência de laços familiares na nova ter- da Europa mediterrânea, que e n t ã o co- ra, muitos desses estrangeiros compuse- nhecia a acelerada d e s e s t r u t u r a ç ã o da ram um proletariado miserável, fornecen- comunidade camponesa tradicional, fia do grandes contingentes ao lumpesinato cidade do Rio de Janeiro, ela represen- existente na cidade. tou o afluxo predominante de indivíduos pobres provenientes dos campos do norte e noroeste de Portugal, com destaque para o Minho, Douro e Trás-os-Montes, seguindo-se as á r e a s rurais da Espanha, principalmente da Qaliza, e as províncias m e r i d i o n a i s de C o z e n z a , S a l e r n o e Potenza, na Itália. 2 Sobras do arranjo social nos países de origem, grande parte deles permaneceu à margem dos benefícios trazidos pelo progresso, numa cidade que conhecia a carestia, o déficit habitacional e um mercado de trabalho m a g m á t i c o , marcado pela superexploração, baixos salários, longas jornadas e desemprego recorrente. Essa De acordo com os registros existentes, o conjugação perversa tornou-os objetos pri- imigrante pobre que chegou ao Rio de Ja- vilegiados da ação disciplinar conduzida neiro, pobre tendeu a permanecer, afas- pelas elites; alvos destacados da vigilância Manuel Real em 1928. p á g . A, j u l / d e z 1997 Fotografias Integrantes d o seu processo de expulsão. Arquivo Nacional.
  • 10. o V Benaneti tinha 62 anos quando foi expul- policial e das leis de expulsão. Como em outras cidades do mundo influenciadas pela Europa, a história do Rio de Janeiro, début de siècle, foi marcada pela importação de produtos e bens, homens e mulheres, usos e costumes, fazeres e lazeres, crimes e c o n t r a v e n ç õ e s , so em 1929 como vadio. Era solteiro, analfabeto, carroceiro e havia entrado no país em 1922, j á com idade a v a n ç a d a . Segundo o depoimento por ele prestado, chegara ao Rio de Janeiro vindo de Santos, onde um acidente, ocorrido em 1925, o impossibilitara de continuar trabalhan- valores e visões de mundo. do, razão pela qual, sozinho e sem alterCivilizar a cidade, neste contexto de mudança, foi um processo que caminhou em dois sentidos principais. Em primeiro lugar, no da criação de um e s p a ç o moderno, racional e funcional, em que os negócios encontraram um lugar especializado e privilegiado para florescer, distanciado dos becos e ruelas tradicionais. Em segundo lugar, no sentido dó desencadeamento de uma proposta de a d a p t a ç ã o da p o p u l a ç ã o urbana aos c â n o n e s de um novo viver, através de sua s u b m i s s ã o a um código legal que, contraposto ao popular, criminalizou comportamentos tradicionais, atingindo fortemente os estrangeiros, num modelo- de república que passou a utilizar a alteridade como instrumento de construção artificial da identidade nacional, principalmente nos anos que precederam e se seguiram à Primeira Querra Mundial. nativas de trabalho, lançou-se à mendicância. 3 natural de uma pequena freguesia do distrito de Braga, A. Cardoso tinha 25 anos quando foi obrigado a voltar para Portugal, 12 anos depois de chegar ao Brasil, aos 13 anos de idade, junto com os pais. R e c é m - c h e g a d o , empregou-se em uma fábrica de louças no bairro de São Cristóvão, onde trabalhou por algum tempo, sendo colocado na rua logo depois da família ter retornado a Portugal. Só e desamparado, viu-se numa "situação financeira deplorável", segundo as declarações que prestou, no ano de 1922, com 17 anos, preso e processado, acusado de ferir um companheiro em a r r u a ç a s de rua, foi recolhido à Casa de Detenção. Influenciado pelos nouos amigos que lá conheceu, não mais procurou emprego ao deixar a prisão, passando a viver exclusi- Várias histórias de vida contadas nos pro- vamente do produto dos furtos que prati- cessos de expulsão exemplificam bem as cava. Processado várias outras vezes, foi dificuldades encontradas por centenas de c o n d e n a d o a d o i s anos em c o l ô n i a imigrantes pobres no Rio de Janeiro, ao correcional situada no interior do estado. tempo da Belle Époque, como as que Preso novamente, ao passar o conto-do- c o m p õ e m os processos de H. Benanan, uigário em um patrício, de quem furtou A. Cardoso, A. Santos e J . M. Melo: setecentos mil réis em moeda brasileira F r a n c ê s de T ú n i s , H. Benanan ou A. e oitocentos escudos portugueses, aca- Acervo, Rio de J a n e i r o , v. 10. n ° 2. pp. 0 3 - 1 6 . j u l / d e z 1997 - pág.5
  • 11. C A bou expulso como vadio incorrigível no ano de 1930. 4 são. Foi expulso com a idade de 27 anos, acusado de ser um dos responsáveis pela onda de e x p l o s õ e s ocorrida no ano de nascido na aldeia de Travanca, conselho de Vinhães, na província de Trás-os-Montes, seu c o n t e r r â n e o A. Santos contava 26 anos quando vislumbrou, pela última vez, os contornos majestosos dos morros que a b r a ç a m a cidade do Rio de Janeiro. Era solteiro, alfabetizado, e havia chegado ao país com 12 anos. Segundo suas declaraç õ e s , t ã o logo desembarcou na capital brasileira, foi residir com um tio, com quem permaneceu por cerca de dois anos. Em 1917, com 14 anos, s ó na vida, "deuse à vadiagem". Preso por ter furtado vinte mil réis de um alfaiate estabelecido no centro da cidade e recolhido, pela polícia, a um patronato, ali ficou a t é princípi- 1920. Segundo o depoimento por ele prestado, tão logo chegou ao Brasil empregou-se numa fábrica de tecidos, e, depois, em padarias, tendo-se filiado à Sociedade dos Padeiros. Acusado de ter colocado uma bomba numa padaria situada na rua V o l u n t á r i o s da Pátria, em Botafogo, foi preso em maio de 1920, passando a integrar a lista negra dos agitadores que circulava entre os empregadores, n ã o conseguindo mais nenhum tipo de emprego. Desesperado com a s i tuação, "pois não ganhava para comer", «1 não querendo mais "ter fama sem proveito", resolveu vingar-se dos p a t r õ e s , os de 1920, sendo desligado a p ó s ter con- passando a fabricar bombas e a colocá- cluído o curso de arado e de agricultura las em lugares considerados estratégicos. o f e r e c i d o pela i n s t i t u i ç ã o . Fora do A primeira bomba, fabricada com massa patronato, empregou-se por cerca de qua- de vidro, dinamite e pregos, n ã o explo- tro meses. Posto em liberdade, mergulhou diu por defeito de fabricação. Com a se- no jogo por "considerar-se fraco para o gunda, conseguiu seu intento, causando trabalho braçal" e ter verdadeira fascina- vários prejuízos numa padaria do bairro ção pelo jogo, "pelos lucros fáceis que de Vila Isabel. A terceira, finalmente, de- este proporcionava, lucros que lhe per- positada na residência do gerente da fá- mitiam luxos e prazeres" interditados à s brica de tecidos Minerva, na Tijuca, va- classes trabalhadoras, iniciando-se outra leu-lhe a expulsão, efetuada no ano de série de d e t e n ç õ e s e uma nova estada na 1920. Megando ser anarquista, J . M. Melo colônia Dois Rios Em 1926, foi remetido definiu-se como um sindicalista revolta- para Clevelândia, situada em zona de do com as condições de vida dos traba- fronteira. Voltando à cidade, e preso no- lhadores. vamente, foi Finalmente expulso. Corria o Parte significativa das sobras de um ar- ano de 1929. 5 6 ranjo social tecido por pactos de elites, homens como Benanan, Cardoso, Santos Português de Figueira, J . M. Melo era sol- e Melo compunham o grupo dos indese- teiro, alfabetizado e padeiro por profis- jáveis, ou seja, dos estrangeiros que, de p á g . e . Jul/dez 1997
  • 12. O V R alguma forma, contestavam a ordem onde outros estrangeiros, com destaque estabelecida. Muma vertente deste pro- para os italianos e e s p a n h ó i s , colocaram- cesso, a da contestação política, alinha- se à frente do processo de organização vam-se trabalhadores envolvidos com a operária. constituição do operariado enquanto clas- Comparadas várias histórias de vida nar- se, com destaque aos anarquistas que, de radas nos processos de expulsão, algu- posse de um discurso e uma prática re- mas recorrências sobressaem significati- volucionárias, constituíram-se em perigo vamente no conjunto, proporcionando um permanente para o regime. exercício prosopográfico que, através de Ma outra dimensão, a do crime e da con- casos exemplares, mergulhados em som- travenção, somavam-se vadios, mendigos, bras e trevas, permite a reconstrução dos ladrões, gatunos, vigaristas, b ê b a d o s , j o - bastidores da imigração. gadores e cáftens. Com exceção dos últi- Em primeiro lugar, a pobreza mostrava- mos, agentes do crime internacional or- se companheira inseparável em suas v i - ganizado, os indesejáveis, regra geral, das. Os processados, geralmente, nada eram indivíduos pobres que, perdidos mais eram que homens pobres que che- seus sonhos de uma vida melhor ou de gados ao país retorno vitorioso à terra natal, voltavam- se ao longo da vida, posicionados como se, de várias formas, contra as condições m ã o - d e - o b r a barata em serviços antes de vida que lhes eram oferecidas, afas- realizados por escravos. Todos haviam tando-se, com sua atitude de desafio à or- emigrado buscando o paraíso do outro dem, do protótipo de imigrante deseja- lado do Atlântico. Muito raramente eram do: paciente, obediente, ordeiro e resignado. criminosos ou anarquistas radicais. Casos lios delitos que guardavam vínculos mais como o de J . Monteiro, que entrou no Bra- estreitos com a pobreza vivida na cidade, sil em 1911, fugido de Portugal por seu os portugueses destacaram-se do conjun- ativismo político, ou de L. Arena, que no to dos indesejáveis, reproduzindo as ten- ato da expulsão j á registrava prisões por dências gerais da imigração para a cidade. 7 na pobreza mantiveram- furto em Buenos Aires, s ã o absoluta exceção no conjunto dos indesejáveis que Os anarquistas constituíram-se a principal base da militância de origem estran- deixaram o registro de sua passagem pela capital federal." geira, principalmente no ramo das padarias e da construção civil, em que mais Quanto à procedência, a maior parte dos fortemente enraizou-se o sindicalismo re- processados havia nascido nos campos volucionário. A p r e s e n ç a marcante dos europeus. Mesta perspectiva, os proces- portugueses nos sindicatos, que encami- sos de expulsão refletem, com exatidão, nhavam o discurso revolucionário, distan- as t e n d ê n c i a s globais da imigração para ciou a capital de outras cidades do país. a cidade, no final do século XIX e nas pri- Acervo. Rio de J a n e i r o , v. 10, n ° 2. pp. 0 3 - 1 6 . J u l / d e i 1997 - pág.7
  • 13. meiras d é c a d a s do século XX, onde os num espírito de total aventura. Sem as portugueses, seguidos por italianos e es- s a n ç õ e s familiares ou qualquer p a d r ã o p a n h ó i s provenientes das á r e a s rurais, referencial da vida urbana, eles tornaram- constituíam a maioria dos que se desti- se uma importante d i m e n s ã o da imigra- navam ao Rio de Janeiro. A conjugação ção urbana. Verdadeiros agregados urba- de condicionantes estruturais relativas à nos, dormiam e faziam suas refeições nos posse e d i v i s ã o da terra com fatores locais de trabalho, cumprindo longas e conjunturais e com o exemplo dado pe- duras jornadas, que chegavam a se es- los 'brasileiros' de torna-viagem, envol- tender por 16 horas no comércio a vare- vidos no manto dos sucessos obtidos no jo. Mão raras vezes, optavam por fugir a l é m - m a r , principalmente em Portugal, devido à s duras condições de vida, ou en- pressionaram ou incentivaram a popula- tão eram despedidos e, privados de teto ção rural a emigrar. e comida, passavam a vagar pelas ruas, alternando períodos de reclusão em estabelecimentos penais com intervalos de liberdade, num circuito contínuo de reincidência. Distribuição dos Estrangeiros por Nacionalidade A grande presença de jovens desocupados nas ruas, a maioria constituída por estrangeiros, marcou a história da Belle Époque carioca. Personagens constantes nas crônicas sobre a capital, os jovens Fonte Brasil Ministério da Agricultura. Indústria e Comerão Diretoria Geral de Estatística Recenseamento de 1920 abandonados à própria sorte tornaram-se alvo das p r e o c u p a ç õ e s policiais, devido à facilidade com que tendiam a ingressar Com relação à idade dos imigrantes, grande parte dos processados havia entrado no mundo do crime ou a aquecer os motins e os quebra-quebras recorrentes. 9 no país durante a adolescência ou a infância. Este dado significativo, registrado Tomado o universo profissional como ob- no conjunto da d o c u m e n t a ç ã o , é encon- jeto central de análise, finalmente, mere- trado, t a m b é m , nos recenseamentos rea- ce destaque a pequena qualificação para lizados entre 1872 e 1920, que registram o trabalho registrada nas fontes, ao que um enorme contingente de jovens na fai- se acrescenta a alta incidência de analfa- xa dos 12 aos 18 anos no grupo dos es- betos, m a i s de 2 0 % d o t o t a l . Este trangeiros. Eram os caixeirinhos portu- despreparo para o mercado de trabalho gueses ou galegos desta faixa etária que tinha como conseqüência imediata a ab- chegavam ao Brasil, ao chamado de al- sorção dos estrangeiros pobres nas ativi- gum parente ou conhecido, ou mesmo dades desvalorizadas, com t e n d ê n c i a à p á g . 8 . Jul/dez 1 997
  • 14. O V R superexploração e à pouca fixação no em- ços os salários eram baixos, os aciden- prego, em atendimento a demandas cir- tes de trabalho muito comuns e o de- cunstanciais do mercado de trabalho. É semprego uma possibilidade sempre bastante f r e q ü e n t e na d o c u m e n t a ç ã o presente, tornando enormes as possi- pesquisada, por exemplo, o registro de pro- bilidades do ingresso do imigrante no fissões sem quaisquer relações intrínsecas, mundo marginal do não-trabalho, como desenvolvidas por um mesmo indivíduo ao registra A noite no ano de 1914: longo da vida. J . S. Querra foi jardineiro e gerente de hotel; 10 outros foram sapatei- ros e pintores, ou condutores de bondes e trabalhadores em pedreiras, alternando, freqüentemente, empregos ocasionais com períodos de desemprego. Trata-se de um dos mais s é r i o s problemas do nosso proletariado. V ã o de m a n h ã cedo aos logradouros p ú b l i cos, correm o Passeio, a p r a ç a XV de liovembro, os diversos cais, o mercado velho e novo, a praia de Santa Lu- A pouca ou nenhuma qualificação profissio- zia, e depois dizem que dolorosa im- nal de grande parte dos imigrantes encon- p r e s s ã o trouxeram de lá. Mós vimos e tra-se apontada, t a m b é m , nos recensea- contamos cem o p e r á r i o s que dormi- mentos realizados no período. O de 1906 am ao relento. C o n v e r s a m o s totaliza 39.707 indivíduos sem qualificação, muitos deles. Todos contam a mesma e o de 1920 aponta a cifra de 13.619 com h i s t ó r i a : a fábrica, o trabalho, espe- profissão mal definida, 10.951 sem profis- r a n ç a de arranjar s e r v i ç o para o futu- s ã o declarada e 57.030 sem profissão, ro [...] Mão se trata, [sic] absolutamen- totalizando te, de vagabundos, trata-se [sic] 81.600 estrangeiros desqualificados para as ocupações urbanas, o que representa cerca de 35% do universo dos imigrantes residentes na cidade. com de operários." A descrição da lamentável situação feita pelo periódico encontra correspon- O desemprego recorrente e as p é s s i m a s dência direta em várias histórias de vida c o n d i ç õ e s de t r a b a l h o n u m m e r c a d o narradas nos processos analisados, magmático, no qual a oferta suplantava a como no de A. Sarmento, espanhol de demanda, tenderam a aquecer os movi- 40 anos, residente há 13 anos no país mentos contestatórios na cidade e a em- no momento de sua expulsão, que de- purrar muitos indivíduos para as atividades clarou, em seu depoimento, que fora ilícitas e a mendicância. sempre um trabalhador, n ã o lhe caben- O comércio, a construção civil, as docas, as pedreiras e os transportes foram os se- do culpa por estar desempregado no momento de sua p r i s ã o . 12 tores formais do mercado de trabalho que Consideradas as q u e s t õ e s destacadas, registraram a maior a b s o r ç ã o da m ã o - d e - impõe-se como conclusão que qualquer obra estrangeira. Justamente nestes espa- estudo sobre a imigração estará incom- Acervo, Rio de J a n e i r o , v. 10, n ° 2. pp. 0 3 - 1 6 , Jul/dez 1997 - pag.9
  • 15. pleto se contemplar apenas a história vis- arcar com os custos dos aluguéis, como ta de cima, ou seja, a história dos suces- narra com grande sensibilidade o Correio sos escritos sob as luzes da modernidade. da Manhã: Além das vitórias cantadas em prosa e verso pelos que voltaram ricos à terra natal, ou pelos que fixaram-se na nova terra como p r o p r i e t á r i o s , é n e c e s s á r i o que, virado o processo pelo avesso, seja contemplada uma história vista de baixo, capaz de dar visibilidade à pobreza dos bastidores, mergulhados nas sombras do silêncio e do esquecimento. Grande parte dessa gente, trabalhadores e o p e r á r i o s , sem casa, sem nenhum abrigo, sem p ã o e sem e s p e r a n ç a s , dorme ao relento sob a relva da avenida do Mangue ou fazendo cama com as ervas que crescem livremente nos terrenos devolutos, ou pernoita nos portais das casas desabitadas, se n ã o se lhes depara mais c o n f o r t á v e l retiro nas ruí- Muitos foram os condutores de bondes, nas de qualquer casa que o fogo ou o padeiros, calceteiros, pedreiros, caixeiros tempo d e s t r u í r a m . 1 3 e trabalhadores afeitos ao trabalho bra- Porém, muitos imigrantes, apesar das çal que amargaram difíceis condições de condições adversas, continuaram traba- existência, em sua luta permanente con- lhando duro, tecendo c o n d i ç õ e s de vida tra a carestia, trágica em algumas con- mais amenas para seus descendentes. junturas, morando na periferia pobre ou Outros buscaram, pela via revolucionária, dormindo ao relento, quando, desempre- alterar de imediato as condições adver- gados ou sub-empregados, não podiam sas, influenciados pelo ideário anarquis- S. 0 i ' • Embarque de emigrantes italianos para o Brasil. Reprodução de A Ilustração brasileira, 15 de fevereiro d e 1910. p á g . 10. J u l / d e z 1997
  • 16. R O V ta que apontava a revolução como única marginalidade por motivos alheios a sua possibilidade de r e d e n ç ã o . A violência vontade, como R. V. Castro: casado, alfa- adotada por muitos expressava, de algu- betizado e sem residência, o p o r t u g u ê s ma forma, as frustrações acumuladas ao R. V. Castro tinha 26 anos quando foi pre- longo da vida, e o desejo de alcançar o so e expulso. Segundo suas declarações, paraíso na terra, ainda que fosse pela di- chegara ao Brasil com um tio, aos oito namite. anos de idade, tendo trabalhado no comércio a t é a idade adulta, quando, e n t ã o , Os vínculos existentes entre condições de vida e radicalização ideológica encontram-se presentes em alguns processos desempregado, caiu na marginalidade, terminando por ser expulso por vadiagem e furto. 15 de expulsão, principalmente naqueles movidos contra os padeiros, sujeitos a lon- Se em alguns casos a expulsão tinha jus- gas jornadas noturnas e a duras condi- tificativas, em outros ela definia-se como ç õ e s de trabalho, seguindo-se operários um ato e x t r e m a m e n t e não qualificados da construção civil. En- inconstitucional. tre os padeiros, é significativa a m e n ç ã o trangeiros que acabaram sendo expulsos, a u m a s o c i e d a d e s e c r e t a de nome muitos sofreram perseguição sem tréguas Carbonária Padeiral, que aparece no pro- por sua miséria ou luta contra as injustas cesso contra A. R. Santos, acusado de ser condições de trabalho e de vida, ou, ain- um dos dinamitadores por o c a s i ã o da da, por enganos ou perseguições circuns- onda de e x p l o s õ e s em padarias, cujos tanciais, embora estas últimas represen- panfletos s ã o de extrema r e v o l t a , tassem uma afronta violenta aos postula- explicitando muito do vale-tudo desespe- dos do direito internacional. Veja-se o rado assumido por imigrantes no jogo da relato de J . Madeira, encaminhado ao 1 m u d a n ç a revolucionária. * 16 arbitrário e Mo conjunto dos es- deputado Maurício de Lacerda que depois o enviou à Mesa da Câmara de Deputados: Considerada a outra vertente da desordem urbana, a das atividades, ilícitas, do Envolvido na onda m i g r a t ó r i a que em crime e da vadiagem, o comportamento 1912 desviante podia apresentar-se como de- Brasil, embarquei a 17 de fevereiro des- c o r r ê n c i a de uma primeira prisão, por se mesmo ano no porto de Lisboa e de- a r r u a ç a s de rua, com a c o n s e q ü e n t e pas- sembarquei no Rio a 2 de m a r ç o , inici- sagem pela verdadeira 'escola' que se ando uma vida de trabalho e economia constituía a Casa de Detenção, quanto por (...). Depois de pouco mais de dois motivos involuntários ou circunstanciais anos, a crise de trabalho que se deu como desemprego, acidentes de trabalho, nessa cidade e em toda a parte veio d o e n ç a s , velhice e embriaguez. Muitos fo- roubar-me as i l u s õ e s antes sonhadas ram os que romperam a fronteira da (...). Compareci a alguns c o m í c i o s p ú - se efetuava de Portugal para o Acervo, Rio de J a n e i r o , v. 10, n ° 2. p p . 0 3 - 1 6 , Jul/dez 1997 - p á g . 1 1
  • 17. C A blicos e, no dia 11 de maio, estando ros em território nacional. Estas traziam para assistir a um comício em Vila Isa- enumeradas como motivos explícitos para bel, vi prender três operários que sou- a expulsão, além daqueles concernentes be serem os oradores que iam falar ao que se pudesse constituir em a m e a ç a nesse comício: chegada a hora do iní- para o regime, a c o n d e n a ç ã o por tribu- cio do mesmo, dispus-me a explicar aos nais brasileiros de crimes ou delitos de operários o motivo por que não se rea- natureza comum, como a vagabundagem, lizava o comício (...)• a mendicidade e o lenocínio competentemente verificados, sendo relevante res- Desta data em diante passei a ser um saltar o fato do homicídio n ã o se consti- dos chamados 'oradores operários' (...)" tuir em motivo de expulsão, por ser um Transformado em "orador improvisado', J . crime de alcance individual que n ã o ame- Madeira tornou-se alvo da vigilância per- açava a ordem urbana. 18 manente das autoridades policiais, terminando por ser expulso no ano de 1920. Anarquistas, militantes operários, vadios, Anarquista "por força das circunstâncias", ladrões, gatunos, vigaristas, jogadores, se considerarmos verdadeiro o teor de sua ébrios, mendigos e cáftens eram vistos carta, ou anarquista por convicção, J . pelo discurso oficial, com o respaldo do Madeira, independente de sua opção ideo- discurso científico da época, como hós- lógica, era um trabalhador humilde dis- pedes perigosos, posto a lutar por um lugar ao sol. Muitos tecido social, principais responsáveis pela como ele, a partir da s u s p e i ç ã o e de uma desordem urbana. Dentre todos, os anar- primeira prisão, não raras vezes aciden- quistas mereceram uma a t e n ç ã o especial tal, tornaram-se personagens cativos das por parte das autoridades constituídas de- diligências policiais, transformados em vido à sua e x t r e m a anarquistas profissionais por força do dis- advinda do fato de serem definidos como curso repressivo. corruptores de n a ç õ e s inteiras, reprodu- vírus contaminados do perlculosidade, zindo, no cotidiano da prática política, as A c o m p r e e n s ã o ampla do que se configurava como (des)ordem permitiu que, no teorizações feitas por Lombroso acerca do crime político. 19 mesmo grupo dos indesejáveis, ao lado dos militantes operários, fossem englo- Considerado o conjunto dos imigrantes bados e que foram alvo das leis de expulsão, al- contraventores variados. Todos eles so- guns podiam ser de fato nocivos e peri- freram uma repressão ininterrupta no pro- gosos, tomados os valores em processo cesso de estabelecimento de disciplina de s e d i m e n t a ç ã o como referenciais. Ou- sobre o mundo do trabalho e as ruas, con- tros foram objeto dos desmandos produ- templados nas leis que regulamentavam zidos por um regime que priorizava a or- a entrada e a permanência dos estrangei- dem em vez da lei. A maior parte, p o r é m . criminosos p i g . 12. J u l / d e z 1997 comuns
  • 18. O V K era fruto direto das condições adversas cipalmente em relação ao caftismo, que no Rio de Janeiro. transformara a cidade em um dos pontos Messe contexto, a expulsão definiu-se, a l é m de um p r o c e s s o de s e l e ç ã o posteriori, a como uma estratégia privile- giada de limpeza urbana'. Conjugada à deportação, 20 ela possibilitou um melhor controle social, através do processo de eliminação de todo aquele que, conside- de chegada das rotas internacionais do tráfico de brancas. 22 Também era verda- deira a versão de que as idéias revolucionárias que seduziam a classe operária em formação eram importadas, com destaque para o comunismo-anárquico de Kropotkin. rado sobra do arranjo social, pudesse ser Mão correspondia à realidade, entretan- definido como elemento perigoso à or- to, a explicação oficial de que a desordem dem política, social ou moral. O ideal de reinante no Rio de Janeiro devia-se à sim- c o n s t r u ç ã o de uma cidade disciplinar ples importação de indivíduos viciosos e norteou práticas autoritárias, destinadas anarquistas profissionais; aues de arriba- ao esvaziamento político da capital, que ção chegadas na vasa da i m i g r a ç ã o , ver- atingiram tanto o mundo do trabalho s ã o que mascarava as contradições inter- quanto o do não-trabalho, separados por nas existentes que apanhavam os estran- fronteiras fluidas e móveis que tendiam a geiros pobres em suas malhas. desaparecer nos momentos de contestação ampla, marcados por quebra-quebras generalizados, nos quais os excluídos demonstravam toda a sua revolta e descontentamento. A a n á l i s e dos processos de e x p u l s ã o , excetuados aqueles movidos aos cáftens, não corrobora a consagrada tese da contaminação por agentes exógenos. A mai- oria dos cidadãos processados, principal- O medo de um levante global dos excluí- mente os portugueses, tinha uma longa e alimentado residência no país. Sua opção ideológica pelo i d e á r i o a n a r q u i s t a , que via no ou ingresso na marginalidade eram, em lumpesinato uma força revolucionária, última instância, uma decorrência das d i - tornou-se um fantasma permanente a ficuldades e embates travados na própria povoar a mente das elites. Esvaziar a ca- cidade; a expulsão, uma intervenção pital, portanto, livrando-a dos 'elementos' rúrgica capaz de eliminar parasitas e er- desordeiros, dentre os quais sobressaí- vas daninhas. dos, ensaiado em 1904 21 ram-se os estrangeiros, era uma necessidade a um s ó tempo r e p r e s s i v a e profilática, que visava transformar o Rio de Janeiro no cartão de visitas do Brasil. ci- Messe contexto de excludência, o período que vai de 1907 a 1930 marca, no plano das relações intersocietais, um capítulo de violência da nossa história. Aos ho- É certo que o Rio de Janeiro sofria a atu- mens que, expulsos, voltavam à Europa, a ç ã o de criminosos internacionais, prin- depois de anos vividos no Brasil, restava Acervo, Rio de J a n e i r o , v. 10, n ° 2, pp. 0 3 - 1 6 , j u l / d e z 1997 - p á g . 13
  • 19. C A a pobreza, a fadiga e o desalento. Pobre- rios matizes permitiram sua r o t u l a ç ã o za que com eles cruzava, mais uma vez, como nocivos e/ou perigosos, colocados o oceano. Fadiga e desalento por muitos barra a fora como indesejáveis, mesmo anos de frustrações e derrotas, j á que, em que a maior parte de suas vidas tivesse sua grande maioria, os estrangeiros que sido passada no Brasil, na maioria dos retornavam como indesejáveis não havi- casos, haviam cruzado os mares embala- am cruzado a estreita entrada da baía da dos pelo sonho de uma vida melhor, su- Guanabara como desordeiros ou crimino- portando, com resignação, as dificulda- sos. Mo momento de sua chegada, eram des da travessia oceânica. Muito diferen- tão somente camponeses pobres que, na te era a viagem de volta, sem utopias ou conjuntura de encurtamento das distân- sonhos para o futuro, embarcados para cias possibilitada pelo avanço técnico, p a í s e s que j á n ã o podiam considerar transformaram os portos num ponto de como pátrias, sem a certeza sequer de passagem no processo de busca de suas que poderiam desembarcar do outro lado utopias no além-mar. Dificuldades de vá- do Atlântico." N O T A s 7 1. Arquivo Nacional. SPJ. Módulo 101, pacotilha IJJ 169. 2. Este conceito era utilizado pelos chefes de polícia, na época estudada, para caracterizar os que se posicionavam à margem da sociedade organizada, cujos limites colocavam-se na fron- p á g . 14, J u l / d e z 1997
  • 20. O V R teira entre o trabalho e o n ã o - t r a b a l h o . Meste mesmo aspecto, é c a r a c t e r í s t i c a a p r e o c u p a ç ã o constante das elites p o l í t i c a s e de parte significativa da elite intelectual em apartar os anarquistas, qualificados como agitadores profissionais infiltrados no conjunto da classe trabalhadora. 3. Arquivo nacional. SPJ. Módulo 101, pacotilha IJJ 7 156. Idem. Pacotilha IJJ 7 132. Idem. Pacotilha IJJ 7 136. 6. Idem. Pacotilha IJJ 7 163. 7. Esta q u a n t i f i c a ç ã o e s t á baseada em s e l e ç ã o feita na d o c u m e n t a ç ã o que c o m p õ e o m ó d u l o 101 do Arquivo nacional relativa a estrangeiros processados e residentes na capital, que totaliza 531 i n d i v í d u o s . Esta amostra foi a base principal de tese de doutoramento defendida na USP acerca dos i n d e s e j á v e i s , d i s t r i b u í d o s em vadios, mendigos, vigaristas, l a d r õ e s e gatunos, por n ó s englobados na categoria freqüentadores assíduos dos cárceres (248), c á f t e n s (194) e anarquistas e/ou comunistas (79), demonstrando que a e x p u l s ã o na capital brasileira posicionouse como instrumento global de limpeza social e n ã o simplesmente como p o l í t i c a direcionada para a p e r s e g u i ç ã o p o l í t i c o - i d e o l ó g i c a como tradicionalmente se supunha, neste conjunto, os portugueses representam 45,9% do primeiro grupo; 11,3% do segundo e 59% do terceiro. Ver L e n á Medeiros de Menezes, Indesejáveis desclassificados da modernidade: protesto, crime e e x p u l s ã o na capital federal (1890-1930), Rio de Janeiro, ESDUERJ, 1997. 8. Arquivo nacional. SPJ. M ó d u l o 101, pacotilha IJJ 9. Lima Barreto, Recordações 4. 5. do escrivão 7 163. /saias Caminha. S á o Paulo, Brasiliense, 1976, p. 166. 7 10. Arquivo nacional. SPJ. Módulo 101, pacotilha IJJ 163. 11. A noite, 2 de maio de 1914. 12. Arquivo nacional. SPJ. M ó d u l o 101, pacotilha IJJ 13. Correio da Manhã. 7 129. 18 de fevereiro de 1917. 14. Cf. Arquivo nacional. SPJ. Módulo 101, pacotilha IJJ 15. Idem. Pacotilha IJJ 7 7 168. 151. 16. A C o n s t i t u i ç ã o Federal, em seu artigo 72, garantia igualdade de direitos a nacionais e estrangeiros residentes. 17. Brasil, Anais da C â m a r a dos Deputados de 1920, s e s s ã o de 12 de agosto. Rio de Janeiro, Imprensa nacional, 1921, p. 504. 18. Decreto n ° 1.641, de 7 de janeiro de 1907. Brasil. C o l e ç ã o das Leis da R e p ú b l i c a , Rio de Janeiro, Imprensa nacional, 1908. 19. Sobre o tema, ver Cesare Lombroso e R. Laschi. Crime politique Librairie Félix Alcan, 1892. et les revoluttons. Paris, 20. Havia uma d i f e r e n c i a ç ã o entre e x p u l s ã o e d e p o r t a ç ã o . A primeira atingia os estrangeiros; a segunda, os nacionais enviados para c o l ô n i a s penais situadas em zonas de fronteira. Ambas conjugaram-se, p o r é m , como e s t r a t é g i a s c i r ú r g i c a s complementares no processo de limpeza urbana que acompanhou as reformas urbanas a partir da virada republicana e, mais especificamente, depois da a d m i n i s t r a ç ã o de Pereira Passos (1902-1906). 21. A r e f e r ê n c i a é a revolta popular contra o decreto de v a c i n a ç ã o o b r i g a t ó r i a ocorrida naquele ano. Sobre o tema, ver, entre outras obras, nicolau Sevcenko, A revolta da vacina: mentes insanas em corpos rebeldes, S á o Paulo, Brasiliense, 1984. [Tudo é História, 89]. 22. Sobre o tráfico de brancas no Rio de Janeiro, ver Lená M. de Menezes, Os estrangeiros e o comércio do prazer nas ruas do Rio. Rio de Janeiro, Arquivo nacional, 1992, P r ê m i o Arquivo nacional de Pesquisa, 2. 23. C o m r e l a ç ã o aos relatos acerca de todo o processual da e x p u l s ã o , ver Everardo Dias, " M e m ó rias de um exilado". E p i s ó d i o s da d e p o r t a ç ã o de Everardo Dias contados por ele mesmo à Voz do Povo, 20-24 de fevereiro de 1920. Acervo. Rio de J a n e i r o , v. 10, n ° 2. pp. 0 3 - 1 6 , Jul/dez 1997 - p á g . 1 5
  • 21. Carla Brandalise Professora do Departamento de História da Universidade Federal do Rio Qrande do Sul. Camisas~er<cles O iníegralisnio no S u l cio B r a s i l ""^ idéia corrente ter sido o Ri constante ação repressiva desencadeada J"^ Qrande do Sul uma região pelo poder público estadual. Vamos, 1 Si tp desenvolvimento, por assim, analisar os fatores que propi- - excelência, da Ação Integralista Brasilei- ciaram este quadro peculiar. ra (AIB) — uma organização política de A organização oficial da AIB no Rio Qran- âmbito nacional da década de 1930, que de do Sul ocorreu de modo relativamen- Esta te tardio em relação a outras regiões do idéia enfrentou, antes, a forte competi- país. Somente em meados de 1934- é ção de um sistema partidário consolida- constituído do. A h i s t ó r i c a p r e s e n ç a de partidos "Triunvirato Provincial', base da adminis- oligárquicos baseados na lealdade e na tração integralista nos diversos estados. fidelidade à s lideranças autocráticas do Em sua reduzida composição urbana ini- estado limitou, consideravelmente, a di- cial j á se definia o público que preferen- fusão do integralismo. lio entanto, é in- cialmente optaria pelo integralismo. De discutível que naquelas á r e a s ocupadas modo geral, predominavam profissionais pelo processo ulterior de colonização ale- liberais, estudantes, bancários, emprega- mã e italiana, o apelo doutrinário da AIB dos do c o m é r c i o e alguns o p e r á r i o s . obteve ampla receptividade, apesar da Como ponto comum, estes segmentos apresentava um c a r á t e r fascista. 1 em Porto Alegre Acervo. Rio de J a n e i r o , v. 10. n ° 2. pp. 17-36. Jul/dez 1997 um - pág.17
  • 22. A C E sociais médios partilhavam um sentimen- primórdios pelos litígios fronteiriços en- to de frustração política ensejada ora pela tre Espanha e Portugal. Tais lutas cons- percepção da marginalização político-par- tantes tidária, ora pela visão do fracasso e de- militarizada e autocrática, medida pela cadência dos partidos oligárquicos. Em hierarquia da força. Ao mesmo tempo, foi termos discursivos, a AIB pretendia orga- possível a esta p o p u l a ç ã o aproveitar eco- nizar-se no estado como uma alternativa n o m i c a m e n t e o gado s e l v a g e m político-ideológica ao tentar objetar as disseminara-se em larga escala na á r e a . formas partidárias vigentes em favor de Desta c o m b i n a ç ã o caracterizou-se um modo de participação radicalmente Campanha a figura do 'militar-estanciei- novo. A a t u a ç ã o dos indivíduos n ã o seria ro', que d o m i n a v a as a t i v i d a d e s e c o - mais mediada por políticos profissionais n ô m i c a s g a ú c h a s sob o regime e influências oligárquicas. Pelo contrário, grande p r o p r i e d a d e . geraram uma sociedade que na da iria constituir-se através do compromis- interesse do povo, e o voto ocasional e A secreto centro do país. A partir do início do s é c u - so e dedicação total ao movimento, porque a prática política tradicional obstaculizava a e x p r e s s ã o do verdadeiro implicava no reduzido envolvimento com o destino da nação. segunda formação social, de origem mais tardia, estabe- .leceu-se sem a aprovação dos estancieiros locais e por deliberação do lo XIX, foram introduzidos no estado os imigrantes a l e m ã e s e italianos. Eles cons- A partir de Porto Alegre, a AIB expandese pelo interior do estado. Porém, o movimento assume um caráter estacionário, salvo nas zonas de imigração italiana e alemã. A inserção do movimento integralista no Rio Qrande do Sul, com grande a c e i t a ç ã o em algumas á r e a s e quase nenhuma em outras, encontra suas origens no processo interno de formação sociopolítico. A o c u p a ç ã o territorial do estado fez surgir dois tipos básicos de sociedade, os quais, por muito tempo, conviveram lado a lado sem maiores interações e c o n ô m i c a s e culturais. 2 tituíram uma sociedade baseada nas pequenas e médias propriedades, na produção agropastoril diversificada e no trabalho familiar. A c o l o n i z a ç ã o ítalo- germânica expandiu-se nas serras do Sudeste e na Depressão Central. Entre as duas formações sociais houve, desde o início, um certo antagonismo. Os estancieiros n ã o apenas constrangiam a fixação dos colonos europeus em terras impróprias à prática da pecuária extensiva, como também procuravam desacelerar ou mesmo impedir o movimento migratório. Os imigrantes, por sua vez, manifestavam A primeira formação social desenvolveu- uma tendência ao isolamento, à circuns- se na região Sul, na denominada 'zona da crição a sua própria cultura, preservando Campanha', sendo condicionada em seus os valores da pátria de origem. p á g . 1 8. J u l / d e z 1 997
  • 23. A C E mobilização constante, sua retórica anti- pios europeus ou por meio do domínio oligárquica e c o n d e n a t ó r i a do sistema direto da Alemanha ou Itália sobre o Bra- partidário republicano, encontra nesses sil, mas pela valorização a u t ô n o m a das indivíduos campo fértil a sua expansão. potencialidades e características nacio- Apesar das c o n d i ç õ e s s o c i o e c o n ô m i c a s favoráveis, o interesse pela AIB nas zonas coloniais n ã o pode ser explicado sem a variável étnico-cultural, sob o risco de descaracterizar a complexidade do problema. Se o contexto conjuntural da região propiciou certos requisitos básicos ao fomento do integralismo, a q u e s t ã o étnica sobredeterminou a sua aceitação. Tal especificidade deve ser analisada a partir da m o í í u a ç ã o que levou estes setores intermediários a aderir à AIB. nais. Os integralistas de descendência alemã ou italiana admiravam os movimentos considerados como correlatos em seus países de origem, p o r é m a n a ç ã o brasileira deveria engendrar a sua 'regen e r a ç ã o ' e 'transformação' de modo independente, com a exaltação das tradições e costumes do país. Mão havia, assim, a princípio, contradição entre o discurso nacionalista da AIB e a d e s c e n d ê n cia étnica desses adeptos. Messe sentido, as lideranças do integralismo no Rio Qrande do Sul prezavam de forma pública e Quanto aos simpatizantes de origem ita- aberta os movimentos europeus, contra- liana e a l e m ã , o movimento n ã o lhes riando a cúpula nacional que procurava atraía enquanto uma forma de resistên- geralmente cia à integração em sua nova pátria. Pelo c i a ç ã o direta. n ã o incorrer numa asso- contrário, o integralismo aparecia como a forma mais viável de se tornarem 'brasileiros de fato' através da participação na vida política do país. A q u e s t ã o por eles reconhecida de que a AIB apresentava s e m e l h a n ç a s visíveis com os movimentos fascistas da 'pátria-mãe' reforçava sobremaneira o interesse por esta força política que se introduzia no estado. Ma sua concepção, as realizações tidas como benéficas do fascismo italiano e do nazismo a l e m ã o , amplamente divulgadas por periódicos especializados, evidenciavam a viabilidade da construção de uma nova ordem mundial. O integralismo deveria concretizar no país esta ordem, n ã o através O conjunto desses fatores revela-se nos depoimentos prestados pelos adeptos do integralismo. Para o caso da zona a l e m ã ' s ã o representativas as reflexões do chefe municipal da AIB da cidade de Qramado, Alcides Arendt, para quem: O integralismo teve r e c e p ç ã o fácil na zona de c o l o n i z a ç ã o a l e m ã porque a Alemanha naquela é p o c a tinha o nazismo. Durante o integralismo eu via com simpatia o Hitler em muitas coisas, n ã o que q u e r í a m o s imitar, o nosso movimento surgiu como um movimento ind í g e n a , o objetivo de P l í n i o Salgado nunca foi imitar. A luta do integralismo da r e p r o d u ç ã o pura e simples dos princíera de formar, educar a juventude. O p á g . 20 . J u l / d e z 1 997
  • 24. o V Hitler fez coisas boas, levantou a Ale- intra-oligárquica. Um dos momentos cul- manha organizando o trabalho.* minantes da prática coercitiva ocorreu em O projeto, de acordo com Arendt, era introduzir os pontos altos do nazismo, como o corporativismo, a valorização da autoridade e do trabalho, o combate ao liberalismo e ao comunismo, sem a interferência da Alemanha. Outros militantes creditavam confiabilidade à AIB pela identificação direta que faziam entre o movimento e o nazismo, reconhecendo a autonomia do integralismo. Este é o caso do professor Maximiliano Hahan, da cida- fevereiro de 1935 por ocasião de um grande encontro estadual de integralistas na cidade de São Sebastião do Cai, região de imigração alemã. Durante uma passeata, que contou com mais de trezentas pessoas, houve um tumulto, com troca de tiros entre a polícia e os militantes. O saldo foi a morte de dois policiais e de um ativista. O prefeito do Cai, Morais Forte (PRL), denunciou os integralistas por tumultuar a cidade e provocar o incidente, pois teriam comparecido ao desfile fortemente armados. Argumentava tratar-se de de de Canela, que revela: agitadores dirigidos por elementos es... falando a verdade, eu entrei na AIB trangeiros, representando uma a m e a ç a na por causa do nazismo. O integralismo medida em que atacavam o governo, o era da mesma ordem, a disciplina, as Exército e as instituições republicanas, rio m i l í c i a s , o corporativismo. E Hitler sal- seu relato a Flores da Cunha, o prefeito vou a Alemanha do caos. Hitler era ver- revela que prendera mais de cinqüenta dadeiramente um grande homem, mas pessoas, porque "... a concentração aqui eu preferia o Plínio. O Hitler era muito realizada tinha por fim menosprezar as violento. As i d é i a s do Plínio eram mui- autoridades locais devido a uma repres- to O são feita no interior do município num integralismo queria justamente o patri- núcleo integralista que estava atentando superiores otismo. ao nazismo. 6 contra a ordem". O chefe municipal da 5 Ao mesmo tempo, o visível crescimento da AIB nas á r e a s coloniais chama a atenção das autoridades públicas que logo desencadeiam uma onda de repressão ao m o v i m e n t o . Flores da C u n h a , e n t ã o interventor do estado e líder do partido governista, o Partido Republicano Liberal (PRL), n ã o p r e t e n d i a renunciar ao AIB, o médico Metzler, confirma em parte o objetivo da passeata. Ha sua versão, pretendia-se prestar solidariedade pacífica aos integralistas da vila de liova Petrópolis, pois estes teriam sofrido violência injustificada por parte das autoridades: Devido ao incremento tomado pelas enquadramento e ao rígido controle das nossas i d é i a s , o prefeito do m u n i c í p i o suas bases eleitorais nesta zona, cada vez começou mais indispensáveis na disputa política integralistas de Mova P e t r ó p o l i s . Em vis- a perseguir todos Acervo. Rio de J a n e i r o , v. 10. n ° 2. pp. 17-36. j u l / d e z 1997 os - pág.21
  • 25. ta disso, a chefia provincial resolveu lia perspectiva da acirrada c o m p e t i ç ã o fazer um grande desfile no Cai para dar pelo e s p a ç o político na zona colonial que uma demonstração de apoio moral aos se estabeleceu entre a AIB e o PRL, o caso perseguidos. 7 de Nova Petrópolis revela-se interessan- Apesar dos esforços do chefe nacional, te. O subdistrito da cidade do Cai, uma Plínio Salgado, para que fosse mantida no pequena comunidade de imigração ale- Rio Qrande do Sul a liberdade de expres- mã voltada basicamente para a p r o d u ç ã o são, o interventor Flores da Cunha decla- rural, apresentava um elevado índice de ra ser a AIB perniciosa à s e g u r a n ç a inter- a d e s ã o ao integralismo. Dados oficiais do na do estado. Proíbe, desta maneira, o uso movimento contabilizavam 320 inscritos da camisa-verde' (símbolo do movimen- no subnúcleo local, resultado este obtido to), as passeatas, os comícios e as mani- pelos esforços do professor festações em lugares públicos. Pela reso- que propagava o integralismo enquanto Straatman, lução, as reuniões ficavam limitadas à s ensinava p o r t u g u ê s aos agricultores. sedes integralistas. Isto restringia a pro- Como elemento a incentivar o interesse paganda da AIB, que utilizava teatros e pelo novo partido, estava o fato de os co- cinemas para congregar o maior n ú m e r o lonos visualizarem a possibilidade de de pessoas. Sem a evolução das milícias romper com a exigência das autoridades organizadas, com seus tambores e hinos, estaduais quanto ao voto compulsório no tirava-se do integralismo o apelo visual, partido situacionista, no caso, o PRL. Em tão importante na divulgação da doutrina. época de eleição garantia-se o voto do pe- Plínlo S a l g a d o | c e n t r o | e Integralistas. P e t r ó p o l i s (RJ), m a r ç o d e 1935. Correio d a M a n h ã , A r q u i v o Nacional. p á g . 22 . J u l / d e z 1997
  • 26. o V queno agricultor com práticas compensa- com relato de Elisabeth K. Evers: tórias ou repressivas. Após a votação, era Quando alguém náo queria mais oferecido o 'churrasco eleitoral', como des- acompanhar, sua ficha e sua camisa- creve Felipe Stahl, "quando a gente chega- verde eram queimadas sob maldição. va ao local de votação, recebia-se as cha- Os que saíam eram evitados pelos pas... Elas j á estavam prontas. Havia fis- outros. Os integralistas não pagavam cais mas tudo j á estava combinado. A gen- imposto algum, nem contribuição te votava e daí podia comer o churrasco". 8 para comunidade, nem taxas escola- Caso fosse descoberta uma ação contrária, res. Mas festas mais simples ou nos as autoridades policiais n ã o tardavam a cultos dominicais apareciam os cha- desencadear a r e p r e s s ã o , como atesta o mados camisas-verdes, fechados, em depoimento de Irmgard Schuch: uniformes, eles marchavam para den- A urna ficava num canto fechado com um tro e ficavam lá (...) notava-se clara- pano, a pessoa ia lá (...) em cima do só- mente como o partido aumentava em táo fizeram um furo e o cara deitado ali número aqui em nosso município e com o olho no furo, ele olhava que chapa estavam conscientes de sua força. o cara botava no envelope, se botava a chapa certa, ele saía, se o cara botava a chapa errada, deixava cair um pouco de farinha no chapéu ou na camisa, e aí quando o cara chegava na rua e tinha farinha de trigo, ele entrava no laço.' 10 Para efeito de c o m p a r a ç ã o , observa-se que este quadro conjuntural se manifesta em outra importante zona de imigração alemã, no estado de Santa Catarina. Em relatórios enviados a Roma, 11 o en- t ã o e m b a i x a d o r i t a l i a n o no B r a s i l , Tal estado de coisas, vigente na República Roberto Cantalupo, descreve o "parti- Velha, permaneceu como regra na década cular desenvolvimento" do integralismo de 1930. Com a chegada da AIB, ensaiou- naquele estado, onde nas eleições de se uma resistência, onde as 'chapas pron- 1935 o movimento teria vencido em oito tas' eram discretamente trocadas pela cha- municípios sobre 11, contando em suas pa dos i n t e g r a l i s t a s . A e x i s t ê n c i a do fileiras com maioria absoluta de descen- integralismo, no entanto, estava longe de dentes de a l e m ã e s . Segundo Cantalupo, ser um consenso entre esta mesma popu- vários eram os fatores que explicavam lação seja pelo assim considerado caráter esta rápida expansão, entre eles o de- de f a n a t i s m o , seja p e l a a s s o c i a ç ã o sejo desses militantes em implantar um c o m o m o v i m e n t o nazista. Straatman sistema social baseado na ordem, justi- e r a a c u s a d o de o r g a n i z a r a m i l í c i a ça e honestidade; o medo do comunis- integralista nos moldes da força de cho- mo que p o d e r i a fazer sua v i o l e n t a que do nazismo a l e m ã o e de cultuar a irrupção no país e a q u e s t ã o racial, onde i m a g e m de Hitler. E, ainda, de acordo "não seria uma q u e s t ã o de raça, mas an- Acervo. Rio de J a n e i r o , v. 10. n ° 2. pp. 17-36. Jul/dez 1997 - pág.23
  • 27. , A C E tes uma q u e s t ã o de mentalidade com uma movimentos e u r o p e u s . lio natural simpatia pelos regimes fascista e parecia uma s a l v a ç ã o . Hitler tinha pres- nacional-socialista". Segundo sua análi- t í g i o no mundo inteiro, n ó s aqui s e n t í - se, os integrantes da AIB poderiam sem- amos esta i n f l u ê n c i a . A c h á v a m o s princípio que pre contar com o clero "que faz constan- um regime que era bom para um p a í s te e m e t ó d i c a obra de propaganda em que j á contava com mil anos de exis- favor do integralismo, protegendo os va- t ê n c i a , t a m b é m seria bom aqui. Mas lores da religião". For todas essas razões, n ã o se pode falar em simbiose entre a s e s s ã o catarinense da AIB representa- integralismo e nazismo. Havia certas ria "uma reserva moral" na influência dos afinidades. outros estados. A ênfase étnica e a identificação com o nazi-fascismo dada pelo embaixador confirma-se no depoimento dos militantes de Santa Catarina. Segundo o secretário de imprensa da AIB, Enrico Muller: C 13 omo c a r a c t e r í s t i c a s c o m u n s Ferreira da Silva aponta a tendência anti-semita, o corporativismo, a representação classista, a estrutura organizativa, o antiliberalismo, a indumentária, a estrutura paramilitar e, Havia em Blumenau certa t e n d ê n c i a de principalmente, afirma que "o nazismo e aceitar o integralismo pela semelhan- o integralismo eram espiritualistas". ç a com o nazismo. Quando um c i d a d ã o descende de uma outra r a ç a , de um outro pais, ele, se é uma pessoa de acordo, de exata c o n s c i ê n c i a , tem simpatia (...) a maioria tinha simpatia pela Alemanha, pelo Hitler, era natural." um movimento singular e a u t ô n o m o j á que a doutrina integralista seria "... puramente brasileira, com origens na nossa história, adaptada ao povo brasileiro, lião era um movimento estrangeiro, n ó s p r e g á v a m o s justamente a integração, ens i n á v a m o s aos o p e r á r i o s e aos colonos o hino nacional". As mesmas c o n c e p ç õ e s aparecem no depoimento de J o s é Ferreira da Silva, e n t ã o secretário de Educação e Cultura da AIB em Blumenau: p á g . 2 4 . Jul/dez 1997 foco de análise para as zonas de colonização italiana do Rio Qrande do Sul, é possível, mais uma vez, constatar uma coincidência de valores quanto à s motivações de a d e s ã o à AIB. Em relação ao ca- Todavia, t a m b é m para Muller, a AIB era O clima aqui era de simpatia com Deixando Santa Catarina e dirigindo o ráter de participação política alternativa oferecido pelo integralismo, um artigo do militante Luís Compagnoni, publicado em fevereiro de 1935 no jornal do movimento, O Bandeirante, em Caxias do Sul, revela o desagrado com a onipotência dos partidos tradicionais. Estes s ó se interessariam em quantificar votos em é p o c a s eleitorais, menosprezando os problemas da comunidade a p ó s a vitória nas urnas. A AIB, inversamente, permitiria a representação direta das demandas locais. Isto os porque a organização interna e os assun-
  • 28. V o tos prioritários para o movimento depen- dos. O integralismo poderia ter feito o deriam, antes, do consenso e da partici- mesmo pelo Brasil, tirar o povo da mi- pação de todos os seus membros e n ã o s é r i a , dar trabalho para todo mundo, apenas de a l g u n s poucos l í d e r e s . O naquela é p o c a o fascismo e o nazismo integralismo, por fim, representaria a estavam em grande ê x i t o no mundo, por t r a n s c e n d ê n c i a da simples politicagem isso n ã o havia argumento contra n ó s . regional: nossos a d v e r s á r i o s eram obrigados a ver isto. n ó s representamos 15 muito mais que a i m p l a n t a ç ã o de um regime p o l í t i c o . Um O processo de organização oficial da Ação camisa-verde que passa é uma consci- Integralista na área de imigração italiana ê n c i a reta e pura que serve de conde- efetuou-se a partir da principal cidade da n a ç ã o à imoralidade, à c o r r u p ç ã o . O região — Caxias do Sul, propagando-se povo v ê em n ó s o restabelecimento do rapidamente pela zona rural. Essa área e q u i l í b r i o e da harmonia na vida mo- concentrou o maior n ú m e r o de adeptos ral, e c o n ô m i c a e cultural. O povo sabe no estado e foi a base do movimento po- que n ã o estamos neste movimento para lítico de oposição por excelência devido, obter vantagem material (...) no atual entre outras coisas, à ausência de outro regime n i n g u é m deposita c o n f i a n ç a _e partido o p o s i c i o n i s t a c o m r e p r e s e n - dos homens que dele fazem parte pou- tatividade. A grande e x p a n s ã o cos se salvam. É a n ó s , exclusivamente integralismo entre os pequenos produto- do a n ó s , que cabe a tarefa de expurgar, res rurais dependeu n ã o somente de uma de varrer, de demolir, de construir, de atitude centrípeta maior em relação à cul- aprovar e de desaprovar." tura originária italiana, mas t a m b é m da Da mesma forma, a aproximação entre integralismo e fascismo justifica-se pelas conquistas j á empreendidas pelos movi- influência decisiva do clero católico, em particular da Congregação dos Capuchinhos. mentos europeus. Segundo o depoimen- O assentamento dos colonos italianos no to de um ativo militante local, Oswaldino Sul Ártico: direcionado à encosta superior do nordes- do p a í s , iniciado em 1875 e O integralismo é parecido com o fas- te, área de difícil acesso e coberta de in- cismo. Aqui todo mundo achava, as idéi- tensa vegetação, bem como o descaso das as, o uniforme, a o r g a n i z a ç ã o do movi- autoridades governamentais concorreram mento. Mussolini fez muita coisa pela para confinar os imigrantes a um quase Itália, tornou o p a í s moderno, tirou da total isolamento, condição esta reforçada m i s é r i a o povo italiano, antes eles ti- pela heterogeneidade do grupo. Vindos de nham que sair do p a í s , ir embora; de- diferentes regiões da Itália, com costu- pois tinha trabalho e riqueza para to- mes e dialetos próprios, os colonos nem Acervo. Rio de J a n e i r o , v. 10. n ° 2. pp. 17-36, Jul/dez 1997 - p á g . 2 5
  • 29. A C E mesmo associavam-se entre si com faci- leitores era muito maior. Os que sabi- lidade. Assim, foi a religião comum, o am ler, liam para os que n ã o sabiam catolicismo, que acabou desempenhando ou contavam as n o t í c i a s . O jornal era o elo preponderante na interação socio- d i s t r i b u í d o a t é por o c a s i ã o da missa do- cultural. Tal papel, obviamente, conferiu minical, era levado a t é a igreja. à Igreja um poder ainda maior de persua s ã o sobre seus fiéis. O desenvolvimento da região colonial, com a abertura de estradas e o crescimento da indústria e do comércio, fez com que esta influência d i m i n u í s s e consideravelmente o fluxo de novos contatos culturais nos centros urbanos, lia área rural, no entanto, a instituição m a n t é m a sua importância originária, sendo os freis capuchinhos os mais atuantes. Além de manter núcleos de inst r u ç ã o religiosa, voltados basicamente 18 Influenciados pela a d e s ã o manifesta do clero da Itália ao regime de Mussolini, os capuchinhos não s ó acolheram este sistema político, como associaram-no ao integralismo, o qual representava, para os freis da Ordem, o fascismo brasileiro. A AIB pretenderia defender os mesmos princípios, ou seja, lutar pela grandeza da pátria e da família, e estruturar-se de acordo com as leis de Deus. Em janeiro de 1934, o Stafetta apresenta o novo movimento: para os filhos dos pequenos agricultores, a Ordem possuía um destacado ó r g ã o de A A ç ã o Integralista Brasileira tem suas imprensa, primeiras o Riograndense, periódico Stafetta publicado em italiano. O j o r n a l , s e g u n d o d e p o i m e n t o de frei m a n i f e s t a ç õ e s no estado, com a r e a l i z a ç ã o de um primeiro encontro em Porto Alegre (...) o integralismo é fascismo, mas um fas- Alberto, cismo com c a r á t e r nacional. O progra(...) era o p o r t a - v o z da c o l ô n i a . O jornal va- lia mais do que um co- mício. liavia naquela é p o c a entre ma do partido n á o apenas d á um lugar de honra à r e l i g i ã o , mas é nela que se inspira. 17 15 mil a 20 mil assinaturas, mas o n ú mero de Pelo testemunho de Carlos Fabris, podese observar que os pequenos produtores rurais endossaram. -jil-jil Porto A l e g r e em a g o s t o d e 1 9 3 5 . Correio d a M a n h a , A r q u i v o N a c i o n a l . p á g . 2 6 . Jul/dez 1997
  • 30. V R andava de camisa gação daquela ideologia. Ma visão da Igre- preta, pregava no meu povoado em ja, o comunismo avançava sem t r é g u a s e Conceição. o para destruí-lo não bastava reprimir as integralismo e n ó s p e n s á v a m o s que era suas manifestações. Era preciso eliminar a o quaquer foco que pudesse favorecê-lo, integralismo, nosso, brasileiro e n t ã o , como a injustiça social e econômica. As Eu era fascista (...) mesma Mas, coisa então e com o Plínio Salgado. veio fomos para disposições gerais do integralismo eram 18 Ou ainda, a associação entre os dois movimentos é evidenciada no relato de frei Veronese: apontadas como a grande e s p e r a n ç a de transformação nacional. Tratava-se de um movimento que obedeceria o ideal da verdade, da liberdade, da disciplina e do A AIB foi muito aceita na zona italiana, nacionalismo. Num mundo subordinado com facilidade o c o l o n o recebeu o aos problemas de ordem material, onde integralismo, pois havia o exemplo do as correntes políticas agiam à luz de pro- fascismo italiano. Mussolini, enquanto blemas imediatistas e os princípios mo- n ã o desbordou de seu sentido, tinha rais eram relegados a segundo plano, os belas i d é i a s , fez muito pela Itália, de- postulados cristãos integralistas poderi- senvolveu a agricultura, o trigo. Depois am reconduzir a humanidade a seus al- desbordou... Havia muita simpatia por tos destinos, afastando-a, portanto, do Mussolini na zona italiana. 19 O apoio dado ao integralismo pela Ordem dos Capuchinhos e, de resto, por membros de todo o clero brasileiro deveu-se não s ó à simpatia com o fascismo italiano, mas t a m b é m a uma convergência de idéias. A análise da realidade brasileira e das possíveis s o l u ç õ e s aos problemas nacionais eram semelhantes. Da mesma forma que a AIB, a Igreja católica considerava serem responsáveis pela situação crítica do país o enfraquecimento do princípio de autoridade, a carência de leis constitucionais, a fraqueza da hierarquia ateísmo comunista. Combater as mazelas sociais, nessa perspectiva, significava t a m b é m incentivar a população a exercer seu poder de voto: O lugar dos c a t ó l i c o s e de todos os brasileiros que ainda amam a integridade da pátria é na batalha das urnas em defesa da nossa t r a d i ç ã o . . . A r e l i g i ã o n ã o impede nem i m p õ e a a d e s ã o dos c a t ó l i c o s ao integralismo (...) mas pode ser de grande alcance ao futuro do Brasil que ingressem no movimento os c a t ó l i c o s leigos que tenham v o c a ç ã o política. 20 e da ordem e a infiltração comunista. Sobretudo esse último fator, o suposto pe- Aos que acusassem os r e l i g i o s o s de rigo iminente do comunismo, alterava a extrapolar suas funções ao imiscuir-se em classe sacerdotal. Medidas urgentes de- atividades políticas, os freis capuchinhos veriam ser tomadas para evitar a propa- alegavam que o estágio a que chegara o Acervo, Rio de J a n e i r o , v. 10. n ° 2, pp. 17-36, j u l / d e z 1997 - pág.27
  • 31. C A E fascismo italiano fora alcançado principal- capuchinhos na zona rural. Quando os mente com a ajuda do clero. Este traba- integralistas da sede chegavam para alar- lhara junto ao povo, incentivando-o a dear a nova causa, encontravam invaria- melhorar seu sistema de cultura, instru- velmente grupos de pessoas predispos- indo-o e dando o exemplo direto. O go- tas à conversão imediata. Tratava-se, en- verno nacional deveria, portanto, seguir tão, de oficializar o trabalho de divulga- o exemplo e aproveitar a válida coopera- ção feito pelo clero. Referindo-se a essa ção dos padres. Por fim, o integralismo fase, o integralista cidadino Oswaldino encampava uma defesa cara à Igreja ca- Ártico comenta: tólica, a defesa do sistema corporativo, o N ó s p a s s á v a m o s os domingos envolvi- qual era considerado o modo ideal de dos com isto. í a m o s todos depois da organização política. As corporações esmissa falar e distribuir folhetos. D e i x á - tabeleceriam a paz e a justiça, diminuinvamos l i d e r a n ç a s locais encarregadas do os conflitos entre p a t r õ e s e empregade organizar o movimento. í a m o s em dos; objetivando a composição orgânica dois ou t r ê s c a m i n h õ e s cheios de 'ca- da sociedade, eliminariam as lutas de misas-verdes'. Era um movimento ca- classe. Frente a tal c o m u n h ã o de interest ó l i c o e aqui é r a m o s todos c a t ó l i c o s . A ses, a AIB aparecia como uma alternativa Igreja nos recebia muito bem, éramos viável na resolução dos impasses nacioum b a t a l h ã o de frente da Igreja. As i d é i - nais, como demonstra o depoimento de as nos empolgavam, a linguagem era frei Alberto: diferente, falava-se em modernidade, Quando surgiu o integralismo houve civismo... Em Garibaldi, o movimento grande receptividade... no clero secu- não lar ao Compagnoni fomos lá fazer propagan- integralismo, devido ao lema 'Deus, da, depois da missa d i s t r i b u í m o s folhe- Pátria e F a m í l i a ' . A t r a v é s do tos. a maioria era simpática Stafetta e n d o s s á v a m o s com grande e s p e r a n ç a estava organizado, eu e o Mas j á estavam todos esperando por n ó s , pelo movimento. 22 as i d é i a s do integralismo, pois acredit á v a m o s que seriam capazes de endireitar o Brasil, e n t ã o em crise. Isto n ã o era s ó exprimido em palavras, havia t a m b é m um certo ar de ufanismo. Havia a c o n v i c ç ã o , aqui no Rio Grande do Sul, de que o integralismo iria triunfar. 21 A relação estabelecida entre o fascismo italiano e o 'fascismo nacional' ajudou o integralismo na canalização das hostilidades latentes destes colonos a muitas d é cadas de descaso das autoridades municipais e estaduais. A AIB aparecia como o movimento político que lhes proporcio- lieste quadro favorável, os 'camisas-ver- n a r i a m e l h o r e s c o n d i ç õ e s de des' da cidade empenhavam-se em refor- ensejando, para tanto, a participação nas çar atividades partidárias da região. Os colo- a propaganda p á g . 28 . J u l / d e z 1997 já feita pelos vida,
  • 32. o V nos acreditavam ter encontrado na AIB AIB, a doutrina e o sentido político do uma forma de manifestação de seus di- novo movimento eram objeto de anima- reitos frente aos partidos tradicionais. do debate. Tais líderes, em geral empre- Com dificuldades nas técnicas de plantio, gados especializados do comércio e da in- problemas de escoamento da produção dústria, acreditavam que o integralismo conjugados com os baixos preços dos pro- prosseguia os ideais da Revolução de dutos agrícolas, os pequenos agriculto- 1930, dando ao episódio o seu verdadei- res desconfiavam da assim denominada ro significado. Decepcionados com os ru- 'política dos brasileiros' que pouco con- mos da política nacional na conjuntura do tribuía para a solução de seus problemas. pós-1930, classificavam uma outra revo- A d e s a t e n ç á o e a r e p r e s s ã o por parte das lução, a Constitucionalista de 1932, como autoridades governamentais diminuíra o o momento revelador da c a r ê n c i a de interesse político dos colonos. Sem fide- substrato ideológico das elites dirigentes lidades partidárias enraizadas e mesmo do país. Essas visualizariam na prática avessos aos partidos regionais, constitu- partidária apenas a o b t e n ç ã o de vanta- íam-se num público em disponibilidade gens e proveitos pessoais. Em meio a política, lias palavras de frei Dionísio busca de alguma manifestação política Veronese: que lhes atraísse, haviam, inclusive, flertado com o comunismo, julgado pelo gru- lio interior, na zona rural, n ã o havia po, em última análise, como por demais partido. O colono n ã o se ligava a ne- violento e materialista. J á as c o n c e p ç õ e s nhum partido. Mão tinha interesse na e os partidos liberais apareciam como 'an- p o l í t i c a do p a í s . Sua vida era cuidar da tigos', 'ultrapassados', destituídos de va- família, do trabalho. Para eles a políti- lor com seus 'políticos profissionais'. Sen- ca era c o n f u s ã o , n ã o queriam se meter do esses últimos responsáveis por todas em c o n f u s ã o . O pouco contato que ti- as mazelas e entraves nacionais, n ã o nham com a política nacional s ó decep- mereceriam confiança. Ao invés disso, o cionava os colonos. O fato era que o integralismo, conhecido através dos jor- colono sentia-se muito prejudicado pela nais, expressaria uma 'mudança de men- falta de c o n d i ç õ e s , de transportes, de talidade', um 'partido dotado de unidade conhecimentos. As melhorias n ã o che- de idéias' e, acima de tudo, o primeiro gavam na c o l ô n i a . A política partidária partido que surgia no mundo fundamen- em nada adiantava para o colono, fo- tado numa 'filosofia espiritualista'. Em ram muito mal tratados. Se tinham que contraposição ao agnosticismo comunis- votar, votavam e pronto. Havia muita ta, defendia a crença em Deus. Da mes- r e p r e s s ã o , perseguiam e matavam." ma forma, o grupo era receptivo quanto Por sua vez, entre o pequeno grupo urbano responsável pela organização local da à identificação entre a AIB e os movimentos europeus. Acervo, Rio de J a n e i r o , v. 10, n ° 2. pp. 17-36. Jul/dez 1997 - p á g . 2 9
  • 33. C A E Para Arthur Rech, militante do grupo, as eleições municipais de 1935. Como ban- ligações entre o integralismo e o fascis- deira eleitoral, a moralidade e o controle mo eram evidentes e positivas, pois mos- dos gastos públicos: combatiam o aumen- travam a universalidade de uma idéia, de to de impostos, a criação de novas tribu- uma doutrina que deveria vingar no mundo: tações e a proliferação de funcionários; Mesmo sendo os movimentos da mesma ordem, n ã o q u e r í a m o s uma identif i c a ç ã o direta, nossa m i s s ã o era com o Brasil. O verde simbolizava a terra brasileira. Queríamos ser pessoas marcadas na sociedade pelo exemplo: virtude, religiosidade, disciplina, amor pelo trabalho, isto o integralismo pregava. Q u e r í a m o s tudo nativo, é r a m o s brasileiros e n ã o italianos. Os imigrantes passaram a aderir à camisa-verde, deixaram de usar a camisa-parda. O nosso movimento era melhor, era mais democrático." defendiam a n ã o sobrecarga de impostos aos colonos agricultores e a política do equilíbrio orçamentário, com a compress ã o de todos os gastos. Para um partido que havia se organizado em apenas um ano na região, os resultados do pleito eleitoral foram extremamentes favoráveis, sendo os melhores que o partido obteve no estado. A AIB elegeu em Caxias do Sul três vereadores, Arthur Rech (representante comercial), Humberto Bassanesi (empregado do comércio) e Emílio Pezzi (comerciante), contra quatro vereadores do partido situacionista, o PRL, equiparando praticamente o público de eleito- O ponto focai de interesse do grupo re- res. Ha votação geral, os vereadores do pousava antes no que era percebido como PRL receberam 1.470 votos enquanto os um apurado sentido nacionalista da AIB, vereadores da AIB obtiveram 1.218. preocupada com assuntos de toda a na- A partir desse resultado e da atuação sem- ção e concebendo a idéia de partido na- pre cional', longe, portanto, das a m b i ç õ e s integralistas na c â m a r a municipal, a hos- restritivas e dos imediatismos dos parti- tilidade do partido governista, a t é e n t ã o dos regionais. O comunismo, mais uma relativamente contida em função da pre- vez, ia de encontro a esses princípios, sença do clero nas fileiras da AIB, tornou- mostrando-se 'internacionalista'. Assim, se ostensiva. As rivalidades latentes tor- dentro do quadro político da época, a AIB naram-se explícitas e o movimento teria se mostrado ao grupo como a op- integralista passou a ser alvo de ataques ção mais promissora. constantes que visavam d e s a c r e d i t á - l o , entusiasmados com a numerosa a d e s ã o pondo em dúvida suas atitudes e seu ca- ao movimento na zona rural, com o apoio ráter. O PRL procurava identificar a AIB de uma parcela do clero e com a sempre ao comunismo, explicando que, em am- crescente inserção na própria zona urba- bos os movimentos, o governo deixava de na, os integralistas articulam-se para as ser uma e x p r e s s ã o da vontade da maio- p á g . 3 0 . jul/dez 1997 contrastante dos 25 vereadores
  • 34. O V R ria. Passava, antes, a representar apenas os interesses de uma oligarquia, que impunha o seu poder através da violência e da força. Da mesma forma, a AIB é acusada de servir aos propósitos do fascismo italiano, preparando as condições à infiltração e s t r a n g e i r a no p a í s . Os integralistas seriam apenas versões mal acabadas dos fascistas europeus, conduzidos por um mitomaníaco disfarçado de salvador: Plínio Salgado, lia verdade, denunciavam, a AIB teria se afirmado com- da ingenuidade do clero: A Igreja aconselha a i m p l a n t a ç ã o integralismo no Brasil. Que a palavra Deus na do significará prática integralismo o dia em que ele do estiver no poder? Por ventura, Mussolini j á n á o ameaçou a Igreja? Os regimes m i n o r i t á r i o s jamais p o d e r ã o tolerar uma Igreja prestigiosa e popular, lia democracia nada tem a Igreja a temer. A legenda integralista 'Deus, Pátria e Família' é mais um e n g o d o . 28 batendo os operários, os negros, os j u deus, a democracia, a liberdade e a inte- Em editorial, O Momento aponta quais ligência. Era, portanto, um movimento seriam perigoso, destituído de respeitabilidade e integralismo. De acordo com sua visão, motivado por intenções escusas. Parecia, muitas pessoas eram atraídas ingenua- assim, i n c o m p r e e n s í v e l o apoio que a mente em função da novidade política, da Igreja oferecia à AIB. O jornal oficial do oportunidade de aparecer, da falácia dos PRL colocava nesses termos a considera- postulados morais. Porém, as lideranças as razões E x p o s i ç ã o anti-Integralista n o Teatro M u n i c i p a l . Rio de Janeiro, o u t u b r o d e 1957. Arquivo de adesão ao Correio da M a n h ã , Nacional. Acervo. Rio de J a n e i r o , v. 10. n ° 2, pp. 17-36. Jul/dez 1997 - pág.31
  • 35. C A E que difundiram o movimento na região cidamente I n ú t e i s , nada mais justo e seriam indivíduos condenados ao ostra- natural que sua e x t i n ç ã o . * cismo por evidente falta de qualidade política e moral. Segundo esse raciocínio, o jornal sentenciava com veemência os dirigentes do integralismo local, mas tentava eximir a massa de seus adeptos, os quais não passariam de "inocentes úteis". 2 nessa lógica, os membros da AIB negavam que sua organização fosse um partido político. Apenas se inscrevera como tal a fim de propagar legalmente suas idéias. A política ocupava somente uma seção do movimento, agora extinta. A AIB Em meio as a g r e s s õ e s constantes, os passava a ser, no novo sistema, uma as- integralistas tentam relativizar seus an- sociação de estudos, de e d u c a ç ã o moral tagonistas, argumentando que perturba- e esportiva. Por sua vez, o PRL conside- vam estes velhos políticos por não parti- rou a dissolução dos partidos políticos ciparem na "falsa vida política do país e uma prova cabal do espírito d e m o c r á t i c o lutarem para reerguer a nação do caos do governo Vargas. O fim do integralismo provocado pelo regime liberal": como partido foi comemorado como uma O alarme na família liberal é grande. medida ímpar. Os i n ú m e r o s incidentes Todos os meios de defesa e s t ã o sendo entre o governo federal e a AIB a p ó s a mobilizados. Os jornais da terra atacam d e c r e t a ç ã o do Estado Movo renovaram as os ' p e r i g o s í s s i m o s ' a c u s a ç õ e s ao integralismo na região: camisas-verdes, nunca pusemos em d ú v i d a estes políticos, apenas negamos a e f i c i ê n c i a de- les em meio aos partidos p o l í t i c o s que dividem e semeiam o ó d i o . Prossegue por todo o p a í s a campanha que o governo desenvolveu contra os adeptos do 'pano verde'. Precisamos 2 7 olhar com firmeza ao redor, verificar Às animosidades generalizadas das forças bem de perto quem eram os adeptos políticas dominantes na região agregou- de ontem e os inimigos de hoje; mais se o advento do Estado Movo em novem- cuidado deve ter o governo, debaixo de bro de 1937. Porém, tanto a AIB quanto o d e m o n s t r a ç õ e s h i p ó c r i t a s pode estar PRL locais apoiaram, no início, o novo re- escondido aquele que mais tarde po- gime. Para os integralistas, o fim das prá- deria ser o portador do punhal homici- ticas político-partidárias no país viera ao da contra o povo que n ã o quer o regi- encontro de seus princípios: me estrangeiro e contra o governo que Os homens de partido n ã o trepidavam se inicia e que trabalha. 29 em p ô r em e x e c u ç ã o os meios violen- Concomitante aos acontecimentos do tos, sacudindo o p a í s , de tempos em p a í s , a d e s a r t i c u l a ç ã o d e f i n i t i v a do tempos, com movimentos armados que integralismo na zona colonial italiana su- pertubavam o ritmo normal da vida da cedeu-se com o fracasso do golpe de maio n a ç ã o (...) se os partidos eram reconhe- de 1938, ocasião em que as lideranças da p á g . 32 . J u l / d e z 1997
  • 36. o V AIB rebelaram-se contra o governo fede- determinadas regiões do país onde esta ral na expectativa de tomar o poder. No fase de transição mostrou-se mais agu- planejamento nacional do golpe, alguns da, a receptividade à AIB foi, em geral, integralistas desta área de imigração fo- mais intensa dado o seu caráter de movi- ram convocados ao Rio de Janeiro a fim mento político tido como alternativo ao de receber instruções. Segundo depoi- status mento de Oswaldino Ártico: postas doutrinárias consideradas radical- quo vigente. Suas práticas e pro- Em Caxias, ficamos reunidos esperan- mente novas forneceram um projeto po- do o sinal da rádio Mairink Veiga para lítico a u t ô n o m o para segmentos sociais c o m e ç a r m o s a r e v o l u ç ã o . Iniciava no emergentes que se identificaram com este Rio. O sinal n ã o foi feito. N ó s n ã o t í n h a - tipo de apelo. Essa realidade, presente ém mos armas. Nada organizado. Na hora, maior ou menor grau nas á r e a s onde a í a m o s pensar no que fazer, mas nada AIB encontrou aceitação, não pôde impe- aconteceu. Eicou por isto mesmo e o dir o reconhecimento das particularida- movimento integralista terminou para des locais que diferenciaram e enrique- sempre. ceram 30 a análise da natureza do O integralismo representou ao longo de integralismo. Qual seja, no caso das zo- sua existência legal (1932-1938) a mani- nas de imigração alemã e italiana, pare- festação de uma sociedade mais comple- ce evidente a importância da q u e s t ã o ét- xa engendrada com as t r a n s f o r m a ç õ e s nico-cultural sobredeterminando as mo- sociopolíticas e econômicas ocorridas ao tivações de a d e s ã o ao novo movimento longo das d é c a d a s de 1920 e 1930. Em brasileiro. N 1. O T A S O integralismo tem sido nas ú l t i m a s d é c a d a s objeto de interesse em uma perspectiva nacional e, mais recentemente, em a n á l i s e s comparativas com os movimentos fascistas europeus. Ver entre outros: tlelgio Trindade, Integralismo: o fascismo brasileiro na d é c a d a de 30, 2 ed., S ã o Paulo, Difel, 1977; J o s é Chasin, O integralismo de Plínio Salgado: forma de regressividade no capitalismo hipertardio, S á o Paulo, Editora C i ê n c i a s Humanas, 1978; Ricardo Benzaquen de Araújo, A cor da e s p e r a n ç a : totalitarismo e r e v o l u ç ã o no integralismo de Plínio Salgado, Rio de Janeiro, CPDOC/PGV, 1984; Elmer Broxson, Plínio Salgado and brazilian integralism (1932-1938). a Acervo, Rio de J a n e i r o , v. 10, n ° 2, pp. 17-36, Jul/dez 1997 - pág.33
  • 37. C E Washington. The Catholic University of America, 1972; Juan Linz, "O integralismo e o fascismo internacional". Porto Alegre, Revista IFCtl. J.1976; Walter Laqueur (ed.), Tasc/smo: a reader's guide, University of Califórnia Press, 1976; Pierre Milza, Les fascisme. Paris, Impremerie Nationale, 1985; Stanley Payne, El fascimo, Madrid, Alianza Editorial, 1982. 2. Sobre a formação histórica do Rio Qrande do Sul ver: Joseph Love. O regionalismo gaúcho, São Paulo, Perspectiva, 1975; Paul Singer, Desenvolvimento econômico e evolução urbana, 2 ed., São Paulo, Companhia nacional Editora, 1977; Helga Piccolo, "A política rio-grandense no Império", em J. Dacanal e S. Gonzaga, Rio Qrande do sul: economia e política. Porto Alegre, Ed. Mercado Aberto, 1979; Sandra Pesavento, Rio Qrande do Sul: economia e poder nos anos 30, Porto Alegre, Ed. Mercado Aberto, 1980. a 3. Jean Roche, A colonização alemã e o Rio Qrande do Sul, vol. II, Porto Alegre, Ed. Qlobo, 1969. 4. Entrevista de Alcides Arendt (1969). Arquivo AlB/Helgio Trindade, nUPEROS/COnsUL/Universidade Federal do Rio Qrande do Sul. 5. Entrevista de Maximiliano Hahan (1969). Arquivo AlB/Helgio Trindade, nUPERQS/COnSUL/ Universidade Federal do Rio Qrande do Sul. 6. Telegrama de Morais Forte a Flores da Cunha, publicado no jornal gre, (26/2/1935). 7. Entrevista de Metzler ao jornal 8. Relato de Felipe Stahl. Contribuição para nova Petrópolis. EDUCS. 1985. p. 245. 9. Correio do Povo. Porto Ale- Relato de Irmgard Schuch, ibidem, p. 249. Correio do Povo, a história Porto Alegre, (26/2/1935). de Mova Petrópolis, Prefeitura Municipal de 10. Relato de Elizabeth K. Evers, ibidem, p. 256. 11. Telespresso n° 2.085/656 (Rio de Janeiro, 21 de setembro de 1936) e Telespresso n° 235.417 (Rio de Janeiro, 24 de outubro de 1936), Arquivo Histórico do Ministério de Relações Exteriores-Roma. 12. Entrevista de Enrico Muller (1969). Arquivo AlB/Helgio Trindade, NUPERQS/COnSUL/ Universidade Federal do Rio Qrande do Sul. 13. Entrevista de José Ferreira da Silva (1969). Arquivo AlB/Helgio Trindade, nUPERQS/COMSUL/ Universidade Federal do Rio Qrande do Sul. Integralista de Blumenau, o diretor da Biblioteca Pública, Ferreira da Silva, era luso por descendência paterna e alemão pela linha materna. 14. "Os homens somos nós" de Luís Compagnoni, publicado no jornal O Bandeirante, (10/2/1935). 15. Entrevista de Oswaldino Ártico, concedida em 1991. 16. Entrevista de frei Alberto Stawiski, concedida em 1991. De origem polonesa, formou-se no curso de Filosofia e Teologia da cidade de Qaribaldi em 1925. 17. Stafetta Riograndense, Caxias do Sul, (12/9/1934). 18. Entrevista de Carlos Fabris (1969). Arquivo AlB/Helgio Trindade, nUPERQS/COnSUL/ Universidade Federal do Rio Qrande do Sul. Fabris tornou-se chefe do integralismo no distrito de Conceição, interior de Caxias do Sul. 19. Entrevista de frei Dionísio Veronese, concedida em 1991. Para o frei capuchinho: "Os líderes do integralismo estavam nas cidades, mas a penetração do integralismo era principalmente nas colônias, no interior. Eram agricultores, os colonos que entravam para o integralismo". Oswaldino Ártico, por sua vez, observa: "A gente aqui em Caxias dirigia o integralismo, mas nas colônias, nestes vilarejos, havia muitos integralistas. Os colonos eram todos integralistas por causa da Igreja". 20. Jornal Stafetta Riograndense, (21/3/1934). Segundo a reportagem *(...) diversos países europeus sofreram uma profunda revolução política transformando-se em estados corporativos, como a Itália, a Alemanha. O movimento deveria ampliar-se (...) a AIB que vem surgindo defende o sistema corporativo". 21. Entrevista de frei Alberto Stawiski. 22. Entrevista de Oswaldino Ártico. 23. Entrevista de frei Dionísio Veronese. 24. Entrevista de Arthur Rech (1969). Arquivo AlB/Helgio Trindade, MUPERQS/COnSUL/Universidade Federal do Rio Qrande do Sul. p á g . 3 4 . Jul/dez 1997
  • 38. O V R 25. Jornal O Momento, Caxias do Sul. (5/12/1935). 26. Jornal O Momento, Caxias do Sul, (9/8/1936). 27. Jornal O Bandeirante, (31/7/1936), p u b l i c a ç ã o oficial do integralismo na r e g i ã o colonial italiana. 28. Jornal O Bandeirante. (18/11/1937). 29. Jornal O Momento, (6/12/1937). 30. Entrevista de Oswaldino Ártico. B I B L I O G R A F I A 1. Arquivo Histórico Municipal de Caxias do Sul (Setor de Bibliografias): Arthur Rech; Humberto Bassanesi; Emílio Germano Pezzi. 2. Arquivo Histórico Municipal de Caxias do Sul (Setor de Periódicos e Documentos). 3. Anais da Câmara Municipal de Caxias do Sul: 1935, 1936, 1937. 4. Arquivo AIB/Helgio Trindade. riUPERQS/COHSUL/Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 5. Arquivo Flores da Cunha. MUPERQS/COHSUL/ Universidade Federal do Rio Qrande do Sul. 6. Arquivo de Pesquisa Histórica do Departamento de História da Universidade de Caxias do Sul. 7. Jornais regionais integralistas: A Luta (Porto Alegre), A Revolução (Porto Alegre), O Integralista (Porto Alegre), O Bandeirante (Caxias do Sul). 8. Jornais regionais: O Momento (Caxias do Sul), // O/orna/e delVAgrlcoltore (Caxias do Sul), Stafetta Riograndense (Caxias do Sul), Correio do Povo (Porto Alegre), Diário de notícias (Porto Alegre). 9. Boletins informativos: Cinqüentenário delia Colonlzzazlone dei Sud, Porto Alegre, Qlobo, 1925; Documentário Histórico do Sul, 1875-1950, Italiana nel Rio Qrande do Município Sáo Leopoldo, Artegráflca, 1950; De Província de Caxias de São Pedro a Estado do Rio Qrande do Sul, censos do Rio Qrande do Sul, 1803-1950. Acervo. Rio de J a n e i r o , v. 10. n ° 2. pp. 17-36, J u l / d e i 1897 - p á g . 3 5
  • 39. A B ^ T R A C T The essay describes the setting of the Brazilian Integralist Action (AIB) of Plínio Salgado wlthin the social and political context of Rio Qrande do Sul in the 1930s. The analysis places the í n t e g r a l l s m in the same category as the fascists movements. Thus, the subject is focused on the problems encountered by the movement during its regional expansion process, considering the particularities of that moment in history. R É S U M É Lessai entend d é c r i r e la mise en place de 1'Action I n t é g r a l i s t e B r é s i i i e n n e (AIB) de Plínio Salgado, dans le contexte social et politique de 1'état du Rio Qrande do Sul pendant la d é c a d e de 1930. Lanalyse situe 1'intégralisme dans la c a t é g o r i e des mouvements fascistes. Par rapport à cette i d é e , le sujet est centre dans les vicissitudes qui connait le mouvement au cours de son processus dexpansion r é g i o n a l e , en fonction des p a r t i c u l a r i t é s de ce moment historique.
  • 40. Maria Antonieta de Toledo Ribeiro Bastos Geógrafa do Museu Paulista da Universidade de São Paulo. O U n i v e r s o do T r a b a l h o do làa - S P (1876/1930) A paulista, até e n t ã o essencialmen- nalisar o universo do 2 trabalho imigrante, te rural. na cidade de Itu, de A expulsão desses imigrantes uma forma mais ampla, no pe- de seus p a í s e s de origem, notadamente da Itália, foi ríodo de 1876 a 1930, é uma tarefa extremamente exaustiva, cuja di- causada pela e x p a n s ã o do capitalismo m e n s ã o extrapola a abrangência de um a p ó s 1850 e c o n s e q ü e n t e divisão inter- artigo. Porém, a pesquisa realizada a par- nacional do trabalho. O fato de eles n ã o tir das fontes p r i m á r i a s resgatou dados se essenciais para a análise das diferentes proletarização em sua terra natal esti- categorias de trabalho, da composição da mulou a emigração para o Brasil, rece- 1 submeterem ao processo de 3 população imigrante por nacionalidade e bendo esse movimento pleno apoio go- de alguns aspectos de sua trajetória ao vernamental, tanto no país receptor como c h e g a r ao B r a s i l . O corte t e m p o r a l no expulsor. Em 1871, sancionava-se corresponde à fase de transição da m ã o - uma lei em que o governo brasileiro era de-obra escrava para a mão-de-obra l i - autorizado a emitir apólices de a t é seis- vre, m o m e n t o em que as correntes centos contos, visando o pagamento de imigratórias tornaram-se mais expressi- passagens de imigrantes, dando-se pre- vas, povoando grande parte do interior ferência aos do norte europeu. Messe Acervo. Rio de J a n e i r o , v. X0. n ° 2. pp. 37-52, J u l / d e i 1997 - p á g . 3 7