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Revista de audiências públicas do Senado Federal               Ano 3 – Nº 12 – setembro de 2012




                                                   INOVAÇÃO

              País constrói pontes
            entre ciência e indústria
                Seminário no Senado mostra que Brasil deve aumentar gastos,
                inclusive privados, para entrar na economia do conhecimento
SECS | SUPRES – Criação e Marketing | Foto: Cléber Medeiros
Informação clara
e imparcial, onde
você estiver




Há mais de 16 anos, o Jornal do Senado leva ao cidadão a informação mais completa sobre o que
acontece no Senado Federal. E faz isso sempre acompanhando a evolução dos meios de comunicação.
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                       Twitter: @jornaldosenado | www.senado.gov.br/jornal
Burocracia e poucos
recursos limitam inovação
O necessário ingresso de forma mais contundente do Brasil na economia
do conhecimento depende de mudanças legais e de mentalidade,
discutidas em seminário promovido pelo Senado




                             Carta ao leitor
                             A    situação econômica e a inserção internacional do brasil são, possi-
                                  velmente, as melhores da história. de “país do futuro”, em muitos
                             indicadores, como emprego e renda, o brasil aparenta ter se tornado o
                             “país do presente”.
                                 porém, uma comparação com as maiores economias do mundo apon-
                             ta que o país ainda não incorporou a grande parte da produção as ten-
                             dências da economia do conhecimento. liderada pela indústria, essa nova
                             organização é chamada de terceira revolução industrial ou revolução tec-
                             nocientífica. tem como pilar a incorporação de grandes aportes de tec-
                             nologia a novos produtos e serviços oferecidos à população por meio da
                             inovação, pela qual há integração entre ciência e produção, envolvendo
                             áreas como automação, robótica e engenharia genética.
                                 o problema é que a participação da indústria no produto interno bru-
                             to (pib) nacional vem caindo. A pauta de exportações brasileira conta
                             com poucos produtos de alto ou médio aporte tecnológico, sendo domi-
                             nada pelas commodities da agricultura e da mineração.
                                 Além disso, o país investe pouco na área de ciência e tecnologia,
                             apresentando desempenho pouco satisfatório nos rankings internacionais
                             de inovação e de competitividade. registra, em alguns deles, tendência
                             de queda.
                                 o governo e o senado já identificaram a necessidade de dar novo
                             rumo à produção nacional. para isso, será necessário um grande esforço
                             para dotar o país de política industrial capaz de aumentar os investimen-
                             tos em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e processos que
                             sejam incorporados às linhas de produção. o plano brasil Maior, de agos-
                             to de 2011, e a estratégia nacional de Ciência, tecnologia e inovação,
                             lançada este ano, fazem esse diagnóstico e tentam apresentar algumas
                             soluções, especialmente, mais recursos para o setor.
                                 isso porque, mais que um desafio pontual, a entrada do brasil na eco-
                             nomia do conhecimento implica empenho em um setor básico, apontado
                             como uma das maiores dívidas sociais do país: a educação.
                                 esses temas fizeram parte dos debates travados no senado durante o
                             seminário Caminhos para a inovação, realizado pela Comissão de Ciência,
                             tecnologia, inovação, Comunicação e informática (CCt), com alguns dos
                             nomes mais importantes da ciência nacional, como o físico Marcelo glei-
                             ser e o neurocientista Miguel nicolelis.
                                 As informações do seminário serviram como base para esta edi-
                             ção, que apresenta o problema, faz um diagnóstico da posição do brasil
                             no cenário internacional, mostra as experiências de sucesso no país e,
                             finalmente, apresenta as propostas — várias delas estão em discussão no
                             senado na forma de projetos de lei — que podem acelerar e tornar mais
                             eficientes iniciativas que melhorem a competitividade nacional.
                                 boa leitura!
SUMÁRIO
Mesa do Senado Federal
                                                                        Contexto




                                                                                                                                                eMbrAer
presidente: José sarney
1ª vice-presidente: Marta suplicy
2º vice-presidente: Waldemir Moka
1º secretário: Cícero lucena
2º secretário: João ribeiro
3º secretário: João Vicente Claudino
4º secretário: Ciro nogueira
suplentes de secretário: Casildo Maldaner, João
durval, Maria do Carmo Alves e Vanessa grazziotin

diretora-geral: doris peixoto
secretária-geral da Mesa: Claudia lyra



Expediente

Secretaria Especial de
Comunicação Social
                                                                                 Em busca de espaço
                                                                                 na economia do conhecimento
                                                                                                                                            6
diretor: Fernando Cesar Mesquita                                                 Indústria nacional ainda contribui pouco com inovação
diretor de Jornalismo: davi emerich                                                                                                      12
A revista Em Discussão! é editada pela
                                                                                 Universidades e empresas, a polêmica da integração
                                                                                                                                         17
secretaria Jornal do senado

diretor: eduardo leão (61) 3303-3333
editor-chefe: João Carlos teixeira
editores: Joseana paganine, sylvio guedes e
thâmara brasil
                                                                        Realidade brasileira
reportagem: João Carlos teixeira, Joseana paganine,
sylvio guedes e thâmara brasil
Capa: priscilla paz sobre imagens de stock.XChng                                 Brasil ainda sente falta de
diagramação: bruno bazílio e priscilla paz
Arte: bruno bazílio, Cássio Costa, diego Jimenez e                               bases sólidas para a inovação
priscilla paz
revisão: André Falcão, Fernanda Vidigal e pedro pincer                                                                                18
pesquisa de fotos: braz Félix e leonardo sá
                                                         sCott bAuer/usdA-Ars




tratamento de imagem: edmilson Figueiredo
Circulação e atendimento ao leitor:
                                                                                                                           País continua
shirley Velloso (61) 3303-3333                                                                                          longe dos líderes

tiragem: 2.500 exemplares                                                                                                             24
Site: www.senado.gov.br/emdiscussao                                                                                   Produção científica
E-mail: jornal@senado.gov.br
www.facebook.com/jornaldosenado                                                                                         mostra evolução
Twitter:@jornaldosenado
tel.: 0800 612211
                                                                                                                                      26
Fax: (61) 3303-3137
praça dos três poderes, Anexo 1 do
                                                                                                                           Indústria não
senado Federal, 20º andar
Cep 70165-920, brasília (dF)                                                                                           contrata doutores

Impresso pela Secretaria Especial de                                                                                                  30
Editoração e Publicações — Seep
Casos de sucesso




                                                                                                                  reproduÇÃo
                     Há nichos de excelência, mas
                     ainda são casos isolados
                                                                 34
                     Incubadoras atestam sucesso da
                     união universidade-indústria
                                                                 42
                     Parques tecnológicos formam
                     núcleos de conhecimento
                                                                 46



                    Propostas
                                                                                           Veja e ouça mais em:

                     Primeiro passo é melhorar o ensino da ciência
                                                                 50
MArCos sAntos/usp




                                                        Programa de bolsas aposta no
                                                            intercâmbio internacional
                                                                                   56
                                                      Senado busca saída para facilitar
                                                             caminho para a pesquisa
                                                                                   63
                                                                                                                   sCott bAuer/usdA-Ars




                                                          Decisão do Congresso sobre
                                                          royalties é vital para o setor
                                                                                   68


                    Saiba mais

                                                                                   70
CONTEXTO




Brasil quer maior fatia
do mercado da inovação
        Sem investir fortemente em pesquisa,
        semente da inovação, país segue como
        consumidor de produtos de tecnologia
        estrangeira e exportador de commodities




        M
                  ais que uma questão          valor à produção do país, que,       tiza a necessidade de “incor-
                  acadêmica, a pesquisa        por sua vez, ganha competitivi-      porar conhecimento científico
                  feita em laboratórios        dade internacional na chamada        ao processo produtivo”. Já a
        por cientistas é, cada vez mais,       economia do conhecimento.            Comissão de Ciência, Tecnolo-
        um tema econômico, que ganha              No Brasil, o assunto está na      gia, Inovação, Comunicação e
        grande atenção dos governos            pauta do Executivo e do Legis-       Informática (CCT) do Senado
        mundo afora. Isso porque a tec-        lativo. O governo federal lançou     realizou, em junho deste ano,
        nologia pode levar a descobertas       este ano a Estratégia Nacional       o seminário Caminhos para a
        que geram novos produtos e ser-        de Ciência, Tecnologia e Ino-        Inovação, em que avaliou, com
        viços, com grande valor comer-         vação (Encti) para o período         alguns dos maiores nomes da
        cial. Essas inovações agregam          de 2012 a 2015, em que enfa-         ciência nacional, os programas




          Pesquisa, tecnologia e, finalmente, inovação
          inovação é a tecnologia que, ao      tudo começa com uma pesquisa         de desenvolvimento tecnológico
          ser processada por uma empresa,      básica, geralmente feita nas uni-    e inovação do MCti, álvaro prata.
          gera bem ou serviço que chega à      versidades. depois vem o desen-      o pesquisador edwin Mansfield,
          sociedade. enquanto a tecnologia     volvimento da tecnologia, que é      da universidade da pensilvânia
          não for colocada à disposição da     a pesquisa aplicada. então, vem      (euA), em estudo sobre as fontes
          sociedade, não é inovação. então,    a prova de conceito, ou seja, um     de ideias para inovação tecnoló-
          o caminho para a inovação de-        modelo para teste do mecanis-        gica, verificou que nove em cada
          pende de uma empresa que faça        mo. somente aí é que se tem          dez inovações nascem na empre-
          a ponte entre as novas ideias e a    ideia se aquela tecnologia vai ser   sa. Apesar de, na maioria, não
          oferta para a população.             produzida em escala de demons-       serem inventos de universidades,
          pai da economia moderna, Adam        tração, para, então, chegar à es-    os produtos são desenvolvidos
          smith já observava, em 1776,         cala de mercado.                     com base em pesquisa acadêmi-
          que as principais fontes de inova-   “Ciência é o conhecimento; tec-      ca, que fornece descobertas teó-
          ção eram “os homens que traba-       nologia é o fazer; inovação é o      ricas ou empíricas.
          lhavam com as máquinas e que         mudar; empreender é materiali-       A indústria é fundamental no
          descobriam maneiras engenho-         zar e realizar. para inovar, deve-   processo por dominar detalhes
          sas de melhorá-las, bem como         mos conhecer, mas, mais do que       de mercado e técnicas de pro-
          os fabricantes de máquinas que       isso, é preciso que tenhamos a       dução e ter habilidade para reco-
          desenvolviam melhoramentos em        confiança de que podemos mu-         nhecer e pesar riscos técnicos e
          seus produtos”.                      dar”, disse o secretário nacional    comerciais.



6   
                                                                                                             setembro de 2012
VAgner CArVAlho




              Cristovam Buarque (C), Vital do Rêgo (D) e o secretário
              executivo do MCTI, Luiz Antônio Elias, participam do seminário



              governamentais e a capacidade do           de avanços que vêm da ciência,
              país de criar ideias e produtos no-        especialmente nas áreas de in-
              vos para o mercado internacional.          formática e automação em que o
                 A preocupação procede, tendo            Brasil continua a ser um grande
              em vista que o Brasil oferece pou-         consumidor.
              cos produtos com alto aporte de               Um dos indicadores usados
              tecnologia agregado (uma célebre           para medir o desempenho de um
              exceção são os aviões da Embraer).         país no que diz respeito à inovação
              Quase metade (48%) do total das            é o ranking da escola de negócios
              exportações brasileiras se concen-         IMD Foundation Board (World
              tra em agropecuária, extração mi-          Competitiveness Yearbook). Na úl-
              neral, madeira, petróleo e gás (veja       tima versão, lançada este ano, o
              o infográfico na pág. 30).                 Brasil ocupa o 46º lugar, atrás de
                 Já as grandes economias do              Hong Kong, Estados Unidos, Su-
              mundo — especialmente Estados              íça, Cingapura e Suécia e também
              Unidos, Europa, Japão e, mais              de China, Chile, Índia, México,
              recentemente, China e Coreia               Peru, Malásia e Irlanda (veja o
              do Sul — vêm ampliando a uti-
              lização, na indústria,

                                                                                               Art
                                                                                                  e: b
                                                                                                      ru
                                                                                                        no
                                                                                                             bA
                                                                                                               zíl
                                                                                                                  io
infográfico na página ao lado).       não é surpresa que os casos      senador Cristovam Buarque
           Pior que isso, o Brasil vem        de sucesso sejam tratados        (PDT-DF).
        perdendo posições no ranking          como“ilhas de excelência”.
        desde 2010, quando apare-             “Os centros de produção de       Enorme esforço
        ceu em 38º lugar. Em 2011,            conhecimento do país, em vez        Para o Brasil não ficar para
        caiu para 44º e, agora, perdeu        de regra, são tratados como      trás, o governo identificou na
        mais duas posições.                   experiências bem-sucedidas       Estratégia Nacional de Ci-
           Em setembro, o Fórum               em meio a um universo de fal-    ência, Tecnologia e Inovação
        Econômico Mundial apresen-            ta de estímulo e investimen-     que terá de realizar um “enor-
        tou seu ranking de competi-           to”, observou o neurocientista   me esforço” para diminuir a
        tividade e inovação em que o          Miguel Nicolelis.                distância que separa o perfil
        Brasil aparece em posição se-            Mais que novos produtos, a    de sua produção do das eco-
        melhante: 48º lugar entre 144         mudança no perfil da produ-      nomias que lideram o merca-
        países. Porém, nesse compara-         ção mundial, já chamada de       do internacional. Isso porque
        tivo, o país apareceu cinco po-       terceira revolução industrial,   os diagnósticos não apontam
        sições acima da calssificação         incorporou grande aumento        uma situação confortável
        de 2011 e dez da de 2010.             de produtividade com redu-       quando o assunto é inovação.
           Um dos indicadores ob-             ção dos custos de cada unida-       “No que diz respeito à par-
        servados nesse ranking é jus-         de produzida.                    ticipação dos setores inten-
        tamente a inovação. Apesar               “Não há futuro sem que        sivos em tecnologia diferen-
        da melhoria geral, o Brasil           um país domine os caminhos       ciada na sua matriz interna,
        perdeu cinco posições nesse           da inovação. O Brasil ain-       o Brasil está muito abaixo.
        quesito.                              da não despertou para isso       Embora tenha crescido, ain-
           Diante de avaliações assim,        suficientemente”, alertou o      da precisa alcançar patamares

        Aviões da Embraer são um dos raros exemplos de produtos
        exportados pelo país com alto aporte de tecnologia agregado




8   
                                                                                                           setembro de 2012
Contexto

mais avançados na microeletrô-
nica, nas tecnologias de informa-              Sexta economia do mundo Brasil aparece
ção e comunicação”, admite Luiz                apenas entre os 50 em competitividade
Antônio Elias, secretário execu-
tivo do Ministério da Ciência,                 Em dois rankings que levam em consideração a capacidade de inovação, país se
Tecnologia e Inovação (MCTI).                  encontra atrás de norte-americanos, europeus, asiáticos e de alguns vizinhos
   As explicações para essa situa-
ção são muitas. O Brasil investe                                          WEF*          WCY**
                                                Países                                               Classificação da educação está
menos em ciência e tecnologia                                       2012 2011 2012 2010
que os competidores internacio-                                                                      abaixo da média do país
nais, com pouca participação do                 Suíça               1o      1o    3o       4o
                                                                                                     Indicadores do WCY*                Posição brasileira
setor privado, maiores respon-                  Cingapura           2o      2o    4o       1o
                                                                                                     Mercado de trabalho                       17o
sáveis pela introdução de novos
                                                Suécia              4o      3o    5o       6o        Economia doméstica                        25o
produtos nas indústrias (confira o
infográfico na pág. 32).                        Alemanha            6o      6o    9o       16o       Financiamentos                            28o
   Para reverter o quadro e co-                                                                      Infraestrutura científica                 33o
                                                Estados Unidos 7o           5o    2o       3o
locar o Brasil rumo à economia                                                                       Política fiscal                           37o
do conhecimento, são esperados                  Reino Unido         8o      10o   18o      22o       Infraestrutura básica                     50o
investimentos, públicos e priva-                Hong Kong           9o      11o   1o       2o        Produtividade e eficiência                52o
dos, previstos na Encti para os                                                                      Infraestrutura tecnológica                54o
                                                Japão               10o     9o    27o      27o
próximos quatro anos. A princi-                                                                      Educação                                  54o
pal meta é elevar os recursos des-              Coreia do Sul       19o     24o   22o      23o
                                                                                                     Preços                                    55o
tinados ao setor do atual 1,16%                 Austrália           20o     20o   15o      5o        Quadro institucional                      55o
(percentual inferior inclusive
ao de economias menores que a                   França              21o     18o   29o      24o       Comércio internacional                    56o
brasileira) para 1,8% do produto                China               29o     26o   23o      18o       Indicadores do WEF**               Posição brasileira
interno bruto (PIB) até 2014, ou
                                                Chile               33o     31o   28o      28o       Tamanho do mercado                         9o
                                     eMbrAer




                                                Espanha             36o     36o   39o      36o       Sofisticação dos negócios                 33o
                                                                                                     Mercado financeiro                        46o
                                                Itália              42o     43o   40o      40o
                                                                                                     Prontidão tecnológica                     48o
                                                Brasil              48o     53o   46o      38o       Inovação                                  49o
                                                Portugal            49o     45o   41o      37o       Macroeconomia                             62o
                                                                                                     Educação superior                         66o
                                                México              53o     58o   37o      47o
                                                                                                     Mercado de trabalho                       69o
                                                Índia               59o     56o   35o      31o
                                                                                                     Infraestrutura                            70o
                                                Peru                61o     67o   44o      41o       Instituições                              79o
                                                Argentina           85o     94o   55o      55o       Saúde e educação primária                 88o
                                                *entre 144 países                                                   Fonte: IMD World Competitiveness Yearbook (WCY) 2012.
                                                **entre 59 países                                     World Economic Forum (WEF) Global Competitiveness Report 2012-2013.


                                               quase R$ 25 bilhões entre empre-                  recursos gastos ter crescido, a par-
                                               sas e governo. No total, o gover-                 ticipação relativa no gasto global
                                               no espera investir cerca de R$ 75                 da União não se alterou.
                                               bilhões no período, superando os                     E ainda há outros obstáculos
                                               R$ 41,2 bilhões previstos no Plano                a superar. Em 2011, o governo
                                               de Ação de Ciência, Tecnologia e                  federal cortou 22,3% do orçamen-
                                               Inovação para o Desenvolvimento                   to do MCTI, que ficou em R$ 6,5
                                               Nacional (Pacti) para o período                   bilhões, abaixo dos R$ 7,9 bilhões
                                               2007–2010 (leia mais na pág. 54).                 de 2010. Em 2012, os valores fo-
                                                  Porém, em função, entre ou-                    ram de novo reduzidos em R$ 1,5
                                               tros fatores, de cortes no orça-                  bilhão, dos R$ 6,7 bilhões previs-
                                               mento destinado ao setor, metas                   tos no Orçamento aprovado no
                                               estabelecidas antes, como no Pacti                Congresso.
                                               2007–2010, não foram cumpri-                         “A Anpei acompanha com pre-
                                               das. Naquela ocasião, o objetivo                  ocupação os cortes do governo fe-
                                               era fazer com que os investimentos                deral no orçamento de CT&I nos
                                               atingissem 1,5% do PIB em ciên-                   últimos dois anos, 22% só neste
                                               cia, tecnologia e inovação (CT&I)                 ano. A falta de um ambiente mais
                                               até o fim da década passada. Nes-                 previsível reforça a necessidade de
                                               se período, apesar de o volume de                 continuar construindo contexto

www.senado.gov.br/emdiscussao                                                                                                                                        
                                                                                                                                                                            9
MoreirA MAriz/AgênCiA senAdo
                                                                                      metade (45,7%) do total,     recursos humanos capazes de
                                                                                      índice inferior ao de paí-   conduzir pesquisa de ponta e
                                                                                      ses como Estados Unidos,     publicar cada vez mais artigos
                                                                                      Alemanha, China, Coreia      e estudos em revistas cientí-
                                                                                      do Sul e Japão, onde o       ficas (veja os infográficos nas
                                                                                      índice beira os 70% (veja    págs. 26 e 28).
                                                                                      infográfico na pág. 25).        Ainda assim, um maior
                                                                                         Como resultado dos        número de cientistas não vem
                                                                                      baixos investimentos, do     correspondendo a um aumen-
                                                                                      perfil da pesquisa, reali-   to proporcional nos indicado-
                                                                                      zada na maior parte nas      res de inovação do país. A ex-
                                                                                      universidades, e da bu-      plicação pode estar na própria
                                                                                      rocracia, o país também      história da industrialização do
                                                                                      registra pouquíssimas        Brasil, cujo progresso técnico
                                                                                      patentes, indicador usa-     se deu por meio da importa-
                                                                                      do para medir o nível de     ção de equipamentos e tecno-
                                                                                      inovação de um país (leia    logias geradas em outros paí-
                                                                                      mais a partir da pág. 61).   ses em vez de levar como base
                                                                                                                   o desenvolvimento científico
                                                          Poucas patentes                                          nacional e a incorporação dele
                                                             “O pequeno núme-                                      ao processo produtivo (leia
                                                          ro de patentes nacionais                                 mais a partir da pág. 30).
              Nicolelis: é preciso convencer a
              iniciativa privada de que vai ganhar        e a carência de maiores                                     “Trouxemos a pesquisa
              mais dinheiro se investir em pesquisa       incentivos à inovação e                                  para a universidade, forma-
                                                          à pesquisa e desenvolvi-                                 mos as pessoas, fomentamos,
              mais favorável à inovação tec-              mento comprometem a                                      através de bolsas a formação
              nológica, com recursos asse-            competitividade brasileira. Os                               de 12 mil doutores e 38 mil
              gurados e regulares”, diz do-           países mais resistentes às con-                              médicos por ano. Ao mesmo
              cumento elaborado em junho              vulsões da economia mundial                                  tempo, não temos nenhuma
              pela Associação Nacional de             são os que investiram pesado                                 universidade entre as 200 me-
              Pesquisa e Desenvolvimen-               na educação, na ciência e tec-                               lhores do mundo, mas a que
              to das Empresas Inovadoras              nologia, como componentes                                    mais forma doutores no mun-
              (Anpei).                                de política industrial”, aler-                               do é a USP, na frente de boas
                 Além de elevar o nível de            ta o senador Vital do Rêgo                                   universidades americanas”,
              investimento para finalmen-             (PMDB-PB).                                                   destaca Luiz Antônio Elias.
              te atingir a meta da Encti, o              Mas também há avanços
              governo precisa incentivar as           a registrar. Nos últimos 50                                  Começar pela escola
              empresas a gastar mais em               anos, o país ampliou a infra-                                   Além das propostas de no-
              pesquisa e desenvolvimen-               estrutura de pós-graduação,                                  vas leis e críticas às atuais (leia
              to (P&D). O gasto privado               formando cada vez mais mes-                                  mais a partir da pág. 50), os
              representa hoje menos da                tres e doutores e uma base de                                participantes do seminário




A ciência começa na educação
Participantes do seminário organizado pelo Senado                                                                     Tudo em ciência e tecnologia começa
destacaram a ligação crucial entre uma e outra                                                                     com a educação dos jovens. É preciso uma
                                                                                                                   estratégia de encantamento em inovação”
       Ainda é difícil convencer as pessoas de que a inovação                                                      Marcelo Gleiser
     começa na educação de base. Ciência e tecnologia
     começam com a criança que o cientista foi no passado”
     Cristovam Buarque


                                                                                                    Todo mundo quer falar de inovação, mas poucas pessoas
            A inovação não se faz sem ciência                                                    entendem que inovação começa com gente, e gente para fazer
         e ciência não se faz sem educação”                                                      inovação tem que ser educada. O grande gargalo da ciência
         Luiz Antônio Elias                                                                      brasileira é a educação brasileira”
                                                                                                 Miguel Nicolelis

10   
                                                                                                                                                   setembro de 2012
Contexto

                     Caminhos da Inovação sugeri-        para fazer inovação. Sem isso,       a Encti, os salários são 80,5%
                     ram que o país necessita de um      vamos pegar receitas que vêm         maiores que a média nas indús-
                     sistema educacional eficiente,      de fora e tentar aplicar esses mo-   trias que inovam. Os postos de
                     que desperte nos alunos o gos-      delos numa cultura totalmen-         trabalho gerados nessas empre-
                     to pela ciência. Essa condição é    te diferente”, analisou Miguel       sas exigem 20,9% a mais de
                     considerada fundamental para        Nicolelis.                           escolaridade e a permanência
                     que mais pessoas escolham a                                              média do trabalhador é 30,4%
                     carreira de cientista e possam      Radical e rápido                     maior que média.
                     levar adiante mais pesquisas           Outro consenso é que a defi-         “Não dá para esperar 60 anos
                     que levem a novas tecnologias e     nição de estratégia para reverter    com pequenas medidas para
                     inovações.                          o quadro atual de educação, ci-      desenvolver ciência e tecnolo-
                        “Admiramos o que aconteceu       ência e tecnologia, com inovação     gia. É preciso algo mais radical,
                     de bom nessas últimas décadas.      na indústria, é urgente para que     mais rápido. Não em resultados
                     Mas temos que ser mais ambi-        o país possa embarcar na econo-      imediatos, mas que comecem a
                     ciosos. Precisamos massificar a     mia do conhecimento e compe-         preparar agora a ciência do fu-
                     prática da ciência e convencer a    tir no mercado internacional em      turo, que é a educação de base.
                     iniciativa privada de que vai ga-   pé de igualdade com outros paí-      Os cientistas têm um discurso
                     nhar mais dinheiro se investir      ses, gerando empregos e riqueza      ambicioso e os políticos e admi-
                     em pesquisa básica e em pesqui-     no próprio país.                     nistradores têm o discurso do
                     sa aplicada. Enquanto essa mas-        Já se sabe, por exemplo, que a    que foi feito e não da ambição
                     sificação não for realizada, não    inovação tecnológica gera postos     do que falta fazer, como se fosse
                     adianta a gente discutir inova-     de trabalho mais bem remune-         absolutamente impossível. E não
                     ção, porque não vamos ter gente     rados e mais estáveis. Segundo       é”, apelou Cristovam Buarque.

                                                                                 A Olimpíada do Conhecimento, promovida pela CNI,
                                                                                   incentiva o elo essencial entre trabalho e inovação
JosÉ pAulo lACerdA




        www.senado.gov.br/emdiscussao                                                                                                        
                                                                                                                                                 11
Pilar da inovação mundial,
         indústria pouco participa
                   Um elo importante na cadeia         de ponta, a indústria continue a     cientista Marcelo Gleiser.
                de inovação é considerado mui-         perder peso relativo na compo-          A falta de iniciativa das em-
                to fraco no Brasil: a indústria.       sição do produto interno bruto       presas — que em outros países
                Responsável por grandes inves-         brasileiro e, pior, no cenário       são responsáveis por traduzir os
                timentos em pesquisa e desen-          internacional.                       avanços tecnológicos em produ-
                volvimento de novos produtos              “Não basta importar a má-         tos e serviços para a sociedade
                mundo afora, no Brasil a par-          quina, se não tivermos geração       — para investir em inovação no
                ticipação da indústria é modes-        de conhecimento local. Com           Brasil pode ser observada em
                ta, não chegando à metade dos          a importação da máquina, no          vários indicadores. Um deles:
                gastos nacionais, já considera-        curto prazo, faremos frente à        elas praticamente não contra-
                dos baixos.                            concorrência naquele setor, na-      tam mestres ou doutores. Es-
                   “Nossos empresários ainda           quele momento. Mas não fa-           ses profissionais, que estariam
                preferem copiar técnicas im-           remos frente, no longo prazo,        prontos para pesquisar e inovar,
                portadas. Daí, temos muitos            à necessidade de conhecimen-         estão, na grande maioria, nas
                produtos made in Brazil, mas           to local”, avalia Luiz Antô-         universidades (que concentram
                não temos praticamente ne-             nio Elias, secretário executi-       a produção científica nacional)
                nhum created in Brazil. São            vo do Ministério da Ciência,         ou na administração pública.
                produtos fabricados aqui com           Tecnologia e Inovação.                  O presidente da Financia-
                invenções de fora”, observa               “A indústria brasileira precisa   dora de Estudos e Projetos (Fi-
                o senador Cristovam Buar-              se conscientizar de que é muito      nep), Glauco Arbix, revelou,
                que, economista e ex-reitor da         melhor criar a própria máquina       em audiência realizada em maio
                Universidade de Brasília.              do que ficar comprando as que        na CCT, que a maioria dos pes-
                   A avaliação feita é que, sem        vêm de fora. Existe indepen-         quisadores brasileiros (57%)
                atenção para a incorporação de         dência tecnológica e acho que        trabalha nas universidades,
                novos processos, com produtos          ainda não estamos lá”, reforça o     37% estão nas empresas e 5%,

                Fábrica na Zona Franca de Manaus: muitos produtos
                made in Brazil, poucos created in Brazil
          suFrAMA




12   
                                                                                                                  setembro de 2012
Contexto

                                                 Com efeito, são basicamen-




                                      Finep
                                              te as estatais, como Petrobras
                                              e Eletrobras, ou as antigas
                                                                                  Doutor não tem
                                              estatais, como Embraer, Vale
                                              e as empresas de telecomuni-
                                                                                  vez em faculdade
                                              cações, que mais investem em        privada
                                              inovação no país.
                                                 “Se tirarmos a Petrobras,           A falta de envolvimento da in-
                                              o nosso investimento privado        dústria no processo de inovação
                                              some do gráfico, simplesmen-        foi ilustrada no seminário Cami-
                                              te desaparece”, complemen-          nhos para a inovação pelo professor
                                              ta o neurocientista Miguel          Marcelo sampaio de Alencar, pro-
                                              Nicolelis.                          fessor do depar tamento de
                                                 Segundo André Araújo,            engenharia elétrica da universidade
                                              assessor da presidência da Fi-      Federal de Campina grande, que
                                              nep, entre 7 mil e 10 mil em-       tem doutorado no Canadá.
                                              presas respondem pelo total            segundo ele, as universidades
Glauco Arbix, presidente da                   do gasto privado em P&D             privadas são as primeiras a dar o
Finep, destaca concentração dos
pesquisadores nas universidades
                                              no Brasil, equivalente a cer-       exemplo de como as empresas não
                                              ca de 0,5% do PIB. Delas,           contratam mestres e doutores no
                                              entre 600 e 700 respondem           brasil.
       no governo. Nos Estados Uni-           por mais de 90% do total,              "As universidades privadas não
       dos, segundo ele, a estatística é      sendo que mais da metade é          contratam mestres e doutores.
       diferente: 79% dos pesquisado-         estrangeira.                        Como é que as empresas vão con-
       res estão nas empresas, 14,8%             “Estamos precisando é de         tratar doutores, se as universidades
       nas universidades e 3,6% no            fábricas de empresa. Precisa-       os demitem?", questionou Alencar
       governo.                               mos de mais dez Petrobras,          no senado.
          “Funcionamos diferente dos          Vale, Embraer. O caminho               ele denunciou que muitas insti-
       Estados Unidos. Os doutores            da inovação é o caminho da          tuições privadas de ensino superior
       não vão para as indústrias, com        empresa”, afirmou Araújo, no        contratam doutores apenas para
       raras exceções. As exceções são        seminário patrocinado pela          cumprir exigências do Ministério da
       as estatais, a Petrobras e algu-       CCT do Senado.                      educação (MeC), para dispensá-los
       mas empresas do setor elétrico”,                                           depois do credenciamento da insti-
       afirma Segen Estefen.                  Mais investimentos                  tuição pelo órgão.
                                              privados                               "isso é um absurdo! É o que
                                                 Representante do Executi-        ocorre nas universidades privadas,
                                              vo no debate no Senado, Luiz        multinacionais, tipo Anhanguera,
                                              Antônio Elias deu o recado          estácio, deVry (norte-americana
                                              para os empresários: o go-          que está entrando no brasil). Apro-
                                              verno espera que a indústria        vou-se o curso, os doutores são
                                              avance em inovação. Para ele,       demitidos. e o MeC, aparente-
                                              o setor “é muito conserva-          mente, faz vista grossa. isso é um
                                              dor, não quer correr o risco        problema gravíssimo. Vi c a sos
                                              do processo inovatório”. Elias      em que centenas de professores
                                              reconhece que o setor públi-        com doutorado foram demitidos",
                                              co deve fazer o esforço para         testemunhou.
                                              que haja benefícios fiscais e
                                              ambiente regulatório positi-
                                              vo, “mas não sem contrapar-         indústria também pode ser me-
                                              tida da área empresarial e da       dida pelos investimentos que o
                                              sociedade”.                         setor faz em P&D. Hoje, me-
                                                 Como exemplo, o físico           nos da metade do que se gasta
                                              Marcelo Gleiser, professor titu-    em inovação no Brasil vem das
                                              lar de uma universidade norte-      empresas. Por isso, a meta do
                                              -americana, narrou que, nos         governo é que os gastos do setor
                                              Estados Unidos, o investimento      produtivo em P&D passem de
                                              privado em pesquisa e ensino        0,56% do produto interno bru-
                                              é grande. “O ônus da inova-         to (registrados em 2010) para
                                              ção tecnológica e científica não    0,9%, em 2014. Ou seja, espe-
                                              deve ser só do governo. Para        ra-se que a participação privada
                                              criar, tem que arriscar”, sugere.   nesses investimentos chegue a
                                                 A baixa participação da          50% do total.

www.senado.gov.br/emdiscussao                                                                                                
                                                                                                                                 13
CeCiliA bAstos
                                                                 1,16% atual (índice inferior ao       “A meta representa um esfor-
                                                                 de economias menores que a         ço brutal para um prazo curto,
                                                                 brasileira) para 1,8% até 2014     de quatro anos. Significa pra-
                                                                 — vai precisar de grande mo-       ticamente dobrar o esforço do
                                                                 bilização do empresariado, que     setor produtivo. Desde a cria-
                                                                 tem como meta chegar a inves-      ção do marco regulatório, há 11
                                                                 timentos de 0,9% do PIB.           anos, vamos ver que o desempe-
                                                                    “No Brasil, a gente só ten-     nho não foi muito grande. Mas
                                                                 de a falar de mecanismos es-       tem havido disponibilidade de
                                                                 tatais, que são importantes        recursos crescente e exponencial
                                                                 e devem continuar e ser am-        para a inovação”, confirmou
                                                                 pliados. O investimento pú-        André Araújo.
                                                                 blico americano em ciência é          O professor Carlos Henrique
                                                                 de cerca de US$ 400 bilhões.       de Brito Cruz, diretor científico
                                                                 O investimento do Departa-         da Fundação de Amparo à Pes-
Para Carlos Henrique Cruz, da Fapesp, maior
                                                                 mento de Defesa pode dobrar        quisa do Estado de São Paulo
desafio é construir no país ambiente que                         esse orçamento. E há ainda o       (Fapesp), considera que o maior
estimule empresário a investir em P&D                            investimento privado. Isso ex-     desafio será criar um ambiente
                                                                 plica por que não temos uma        que estimule e viabilize o au-
                “A grande diferença está no                      Apple bra sileira”, recla ma       mento do gasto empresarial em
             setor industrial. Aí está a di-                     Nicolelis.                         P&D. “Esse é um objetivo mui-
             ficuldade, porque países que                           Segundo o representante da      to mais complexo do que o sim-
             estão na frente, por exemplo,                       Confederação Nacional da In-       ples aumento do dispêndio go-
             a Finlândia e a Coreia do Sul,                      dústria (CNI) no debate pro-       vernamental, pois envolve obter
             têm o setor industrial, sozi-                       movido pelo Senado, Rodrigo        um aumento substancial no
             nho, investindo acima de 2%,                        de Araújo Teixeira, o cresci-      investimento privado por meio
             2,5% [do PIB]”, afirmou Álva-                       mento do investimento privado      de políticas governamentais”.
             ro Prata, secretário nacional de                    em inovação tem sido de 15%           Para Marcelo Sampaio de
             Desenvolvimento Tecnológico e                       ao ano, taxa insuficiente para     Alencar, professor de Engenha-
             Inovação do MCTI.                                   alcançar o objetivo. “Para atin-   ria Elétrica da Universidade Fe-
                Ou seja, a proposta governa-                     gir a meta, o investimento pri-    deral de Campina Grande (PB),
             mental de elevar o percentual                       vado em inovação tem de cres-      os empresários somente estão
             do PIB investido na área — do                       cer 22% ao ano”, afirmou.          dispostos a investir se houver




14   
Contexto

compensação governamental            Caminhos para a Inovação.                 inovação nas empresas, modelos
pelos gastos feitos, geralmente         Com a ausência de empresas             de gestão do século 19, hierár-
por meio de renúncia fiscal.         que invistam mais em P&D e                quicos, departamentalizados,
   “Os empresários vão às uni-       diante da instabilidade do gas-           pouca liberdade, ambiente bu-
versidades porque eles contam        to público no setor (leia mais            rocrático, baixa motivação,
com a renúncia fiscal. Estão         na pág. 68), os pesquisadores             alta rotatividade. Como fazer
viciados. Esse paradigma, cria-      brasileiros ainda tratam com              inovação com esse ambiente?
do no governo de Fernando            ceticismo o desenvolvimento               Então, não se trata apenas de
Collor e estimulado no de Fer-       de uma política industrial e de           incentivo”, afirma o professor e
nando Henrique Cardoso, tem          inovação de longo prazo, como             engenheiro Juan Carlos Sotuyo,
de mudar. O empresário tem           a proposta do Plano Brasil                diretor-superintendente da Fun-
de ser estimulado de outra for-      Maior (leia matéria a seguir).            dação Parque Tecnológico Itai-
ma. Não tem só de ganhar di-            “Marcos legais, temos um               pu, um dos poucos nichos de
nheiro”, reclamou no seminário       monte. Cultura empresarial,               excelência no país.



indústria pede que governo
compartilhe riscos da inovação
         Se, por um lado, cien-         Indústria (CNI) e da Mo-            e planejado pode não ser
      tistas e governo gostariam        bilização Empresarial pela          bem-sucedido”.
      de ver o empresariado in-         Inovação (MEI) no seminá-              Teixeira avalia que exis-
      vestindo mais em P&D, os          rio organizado pelo Senado,         te um “vale da morte das
      empresários acusam a falta        Rodrigo Teixeira, com base          tecnologias das inovações”,
      de política industrial em         em análises, apontou ten-           que seria na fase de intro-
      que o governo estimule a          dência de aumento do in-            duzir novas tecnologias em
      indústria a assumir os ris-       vestimento privado em ino-          escala comercial, que de-
      cos de gastar com desenvol-       vação, superando, inclusive,        pende fundamentalmente
      vimento de novos produtos.        o gasto público. Mas, para          da indústria. O problema,
         Representante da Con-          isso, colocou duas condi-           segundo ele, é que somente
      federação Naciona l da            ções: um cenário de indica-         os empresários se respon-
                                        dores econômicos estáveis e         sabilizam por esses cus-
                             noKiA




                                        satisfatórios e apoio do go-        tos, diferentemente do que
                                        verno aos “riscos inerentes”        acontece em outros países,
                                        a esse processo.                    como o Canadá e os EUA,
                                           Na análise do professor          onde o governo é solidário
                                        Carlos Henrique de Bri-             (leia mais na pág. 24).
                                        to Cruz, da Fapesp, não                “Ou seja, se o processo
                                        se trata de o empresário            der errado, a empresa fe-
                                        brasileiro não valorizar            cha. Então, há aversão ao
                                        a inovação tecnológica,             risco. É importante repen-
                                        mas, sim, da existência de          sarmos o f inanciamento
                                        um “ambiente econômi-               para compartilhar os riscos
                                        co instável, extremamente           de tecnologias de ponta”,
                                        desfavorável e até mesmo            afirmou.
                                        hostil para que as empre-              Como sugestão, Teixeira
                                        sas realizem investimentos          citou um modelo de finan-
                                        de retorno certo, mas em            ciamento utilizado pelos
                                        prazo muitas vezes longo,           Estados Unidos para um
                                        como são os investimen-             projeto de uso de biomassa
                                        tos em P&D, que contém              para produção de energia.
                                        uma incerteza intrínseca.           No início, diz, 100% dos
                                        Pesquisa-se, em geral, so-          financiamentos são públi-
                                        bre o que não se conhece            cos, mas, à medida que o
                                        e, muitas vezes, um projeto         projeto avança para a eta-
                                        perfeitamente organizado            pa de operação e venda, a

                                     Na Finlândia, sede da Nokia (foto), indústria responde,
                                     sozinha, por até 2,5% do PIB em investimentos

                                                                                                                      
                                                                                                                          15
parcela de investimento da em-          empresas de menor porte “co-            de comércio exterior. O plano,
                       presa vai aumentando. Dessa             meçaram a entender que inova-           no qual a Encti se insere, tem
                       maneira, com participação pú-           ção é algo importante”.                 como foco a inovação para agre-
                       blica e privada, é possível “dar                                                gar valor e competitividade à
                       um salto e sobreviver ao vale da        Brasil Maior                            produção da indústria nacional.
                       morte”.                                    O diretor da Fapesp consi-              Prevê, além do aumento dos
                          No Brasil, narrou Teixeira,          dera que, para isso acontecer, é        gastos públicos e privados em
                       há um projeto-piloto em anda-           preciso “uma política industrial        P&D, desoneração de investi-
                       mento em que a Finep repassa            associada à política para ciên-         mentos e das exportações, cré-
                       recursos para a CNI, que, en-           cia e tecnologia, coerente com          dito, aperfeiçoamento do marco
                       tão, os repassa para institutos         as mudanças necessárias nas             regulatório da inovação, forta-
                       de pesquisa vinculados à indús-         condições macroeconômicas e             lecimento da defesa comercial e
                       tria. “Nossa meta é investir até        de infraestrutura existentes no         ampliação de incentivos fiscais.
                       R$ 90 milhões [até 2013] em             país, que são hoje obstáculo ao            Parte desse projeto, a Encti
                       projetos de inovação tecnoló-           desenvolvimento sustentável             enfatiza que o Estado deve in-
                       gica, com recursos do governo.          e vêm levando o Brasil a uma            vestir mais na subvenção ou no
                       Vamos alavancar mais um ter-            progressiva desindustrialização”.       subsídio às empresas para fa-
                       ço de contrapartida econômica              O governo acredita que já            vorecer a busca pela inovação,
                       das entidades de ciência, tec-          existem condições econômicas            para transformar o meio em-
                       nologia e inovação, e as empre-         (estabilidade monetária, cres-          presarial em um setor mais dis-
                       sas vão colocar mais um terço”,         cimento econômico e geração             posto a correr riscos para criar
                       explicou.                               de emprego e renda) para isso.          novos produtos e tecnologias em
                          Ele reconheceu, porém, que           Tanto que lançou, em agosto de          áreas nas quais o Brasil possa,
                       é preciso maior conscientiza-           2011, o Plano Brasil Maior, uma         efetivamente, se sobressair no
                       ção dos empresários, ainda que          política industrial, tecnológica e      mercado internacional.

                       Presidente Dilma assina o Plano Brasil Maior observada por Guido Mantega (E),
                       Marco Maia, Michel Temer, José Sarney, Gleisi Hoffmann e Fernando Pimentel
         Wilson diAs/Abr




16   
                                                                                                                              setembro de 2012
Contexto




                                                                                                                    VAgner CArVAlho
        Lugar de empresa é
        na universidade?
        A relação entre empresa e uni-     transformar numa fá-
        versidade gerou polêmica entre     brica de empresas, a
        debatedores do seminário. o        gente olha de forma
        assessor da Finep André Araújo     positiva, mas tam-
        levantou dúvidas com relação       b ém com descon-
        ao modelo em que a universida-     fiança. não sei se isso
        de serve como base para novos      é viável dentro das
        negócios, como acontece em di-     universidades. não
        versas instituições, como o ins-   sei como um polo
        tituto Alberto luiz Coimbra de     com multinacionais
        pós-graduação e pesquisa de        dentro do Fundão
        engenharia (Coppe), por meio       [onde está a Coppe]
        de parques tecnológicos ou in-     pode levar o brasil à
        cubadoras de empresas (leia        grande autonomia
        a partir da pág. 34). A afirma-    do ponto de vista de
        ção levou à reação do professor    inovação tecnológi-
        segen estefen, da Coppe.           ca. talvez seja uma
        Mesmo admitindo que, para ino-     visão conser vado-
                                                                   Estefen, da Coppe/UFRJ, defende modelo de
        var, o país precisa de “fábricas   ra, mas não consigo parques tecnológicos como saída para inovação
        de empresa”, Araújo questionou     ver a dinâmica que
        a vocação da universidade para     vai ser construída a partir daí”, posições do assessor da Finep.
        cumprir esse papel. “Quan-         confessou.                           “eu acho que o parque tecno-
        do a universidade procura se       segen estefen discordou das lógico, com empresas estran-
                                                                                  geiras, gera uma dinâmica ex-
                                                                                  tremamente importante para
                                                                                  a universidade, até para a
                                                                                  criação das empresas de base
                                                                                  tecnológica, que vão conviver
                                                                                  nesse ambiente”, afirmou.
                                                                                  para ele, não há como fazer
                                                                                  inovação no brasil sem as uni-
                                                                                  versidades. “os doutores es-
                                                                                  tão lá, em sua grande maioria.
                                                                                  os núcleos, as ilhas, os oásis
                                                                                  de ciência e tecnologia do
                                                                                  brasil estão nas universidades,
                                                                                  e é impossível pensar diferen-
                                                                                  te”, considerou.
                                                                                  Justamente por isso, estefen
                                                                                  acredita que a inovação não
                                                                                  será feita nas empresas, por-
                                                                                  que ela s não investem em
                                                                                  pesquisadores. “elas têm que
                                                                                  investir nisso primeiro para,
                                                                                  depois, fazer inovação. elas
                                                                                  são incipientes, não inves-
                                                                                  tem em p&d. temos empre-
                                                                                  sas familiares equivalentes às
                                                                                  da Coreia do sul, que são as
                                                                                  nossas empreiteiras, mas não
                                                                                  investem em p&d”, lembrou.
                                                                                  o professor avalia que é pre-
                                                                                  ciso, primeiro, pensar onde
                                                                                  estão os recursos para, a par-
                                                                                  tir daí, construir a inovação.



www.senado.gov.br/emdiscussao                                                                                                         
                                                                                                                                          17
REALIDADE BRASILEIRA




         País ainda
         constrói bases
         para inovação
         Baixo investimento em pesquisa, falhas na educação e
         pouca participação da indústria deixam Brasil longe dos
         líderes mundiais. Mas formação de pesquisadores avança




         C
                    ada vez mais, a re-      mundial, o Brasil busca agregar     próprio conceito do transporte,
                    lação entre conhe-       valor à produção por meio de        a matriz do transporte. A saída
                    cimento científ ico      uma política que leve a indús-      para o futuro não está apenas na
                    e c a p a c id a de de   tria nacional a oferecer produtos   inovação do combustível, mas
         inovação tecnológica se estrei-     com competitividade internacio-     na inovação do propósito do uso
         ta, colocando na liderança as       nal. Caso contrário, continuará     das inovações”.
         nações que mais investem em         a ser, cada vez mais, fornecedor       Apesar de ter um sistema edu-
         pesquisa. E o Brasil não vem se     de matérias-primas (as chama-       cacional falho, o Brasil também
         apresentando como uma delas.        das commodities, ou seja, alimen-   dispõe de alguns requisitos para
         O país é superado não apenas        tos, minérios e petróleo bruto)     que isso aconteça. O país possui
         pelos tradicionais países desen-    para os países mais ricos.          hoje grande estrutura de pesqui-
         volvidos, mas também, a partir         Para mudar a situação, o         sa, forma milhares de pesquisa-
         da década de 1990, por países       senador Cristovam Buarque           dores, que produzem e publicam
         emergentes, em especial China       (PDT-DF) resumiu a situação         os resultados das descobertas em
         e Coreia do Sul, que percebe-       atual e o que precisa ser feito     revistas científicas.
         ram mais cedo a necessidade de      para que o país adote nova pos-        No entanto, os dados tam-
              investir pesado em educa-      tura e vire o jogo. “O simples      bém demonstram que a indús-
                ção e montar um sistema      uso de ciência e tecnologia para    tria participa pouco do esforço
                de inovação dinâmico e       continuar produzindo a mesma        nacional para inovar, muito
                eficiente, capaz de con-     cesta de bens não vai dar resul-    abaixo do que o setor prati-
                correr, inclusive, com as    tados. Por exemplo, a ciência e a   ca nos países que lideram os
                   grandes potências.        tecnologia que colocam baterias     rankings de inovação.
                          Para se tornar     elétricas em automóveis, que co-       Em Discussão! apresenta
                           efetivamente      locam os chamados combustí-         nas próximas páginas dados
                                uma lide-    veis verdes no lugar de gasolina    que demonstram a situação bra-
                                     rança   não bastam para construir uma       sileira na corrida pela evolução
                                             sociedade nova. Para uma nova       no mundo, comparando-a com
                                             sociedade, é preciso mudar o        a de outros países.

18   
                                                                                                       setembro de 2012
ilustrAÇÃo: prisCillA pAz




www.senado.gov.br/emdiscussao                               
                                                                19
Commodities dominam
                     pauta de exportações
                            Embora nos últimos anos o       madeira). Ao mesmo tempo em         produtos intensivos em recur-
                         Brasil tenha se beneficiado de     que o país é beneficiado por essa   sos naturais é de apenas 9,3%),
                         circunstâncias econômicas ex-      produção, a avaliação é de que se   Estados Unidos (15%), México
                         ternas e internas especialmente    trata de uma pauta de exportação    (23%) ou Índia (29%), percebe-
                         favoráveis, economistas alertam    muito vulnerável a variações nos    -se que há um equilíbrio entre
                         para a crescente participação de   preços internacionais e ao padrão   esses produtos e os de valor tec-
                         produtos primários na matriz       de consumo de outros países.        nológico agregado (veja infográ-
                         de exportação brasileira. Quase       Ao se analisar as matrizes de    fico na pág. 22). Só para se ter
                         metade (48%) dela é composta       exportação de outros países que     uma ideia, a participação dos
                         por produtos in natura (princi-    participam ativamente do co-        produtos intensivos em recur-
                         palmente produtos agropecu-        mércio internacional, como a        sos naturais em todo o comércio
                         ários, minérios, petróleo, gás e   China (onde a participação dos      mundial é de apenas 26%, média
     rodrigo leAl/AppA




20   
                                                                                                                 setembro de 2012
Realidade brasileira



bastante inferior ao percentual            Hoje, segundo o Ministério                        Consequentemente, o déficit
brasileiro.                             da Ciência, Tecnologia e Inova-                   n a b a l a nç a c ome rc i a l do s
                                        ção (MCTI), mais de 60% das                       segmentos de média-alta e alta
Reprimarização                          exportações brasileiras são cons-                 tecnologia, segundo o MCTI,
   A chamada “reprimarização” da        tituídas de produtos não indus-                   passou de US$ 10,1 bilhões em
pauta de exportações do país já é       triais ou de relativamente baixa                  2007 para US$ 28,4 bilhões em
um fato, de acordo com o Instituto      intensidade tecnológica (com-                     2010, um aumento de 184% .
de Pesquisa Econômica Aplicada          modities, produtos intensivos em                  Os componentes eletrônicos,
(Ipea). Entre 2007 e 2010, a par-       mão de obra e recursos naturais)                  por exemplo, em especial os se-
ticipação das commodities na pauta      e menos de 30% são produtos de                    micondutores e displays (opto-
de exportações brasileiras saltou de    maior conteúdo tecnológico. Há                    eletrônicos), com um mercado
41% para 51%, depois de ficar em        sete anos o país exportava 3,77%                  mundial estimado, em 2010, em
torno dos 40% durante todos os          de todas as commodities nego-                     US$ 410 bilhões, representam
anos 1990. Os dados são do estudo       ciadas no mundo. Em 2009, a                       cerca de 80% das importações
A Primarização da Pauta de Expor-       participação subiu para 4,66%,                    de componentes eletrônicos (cer-
tações no Brasil: ainda um dilema,      índice bastante superior à par-                   ca de US$ 6 bilhões em 2010).
dos pesquisadores Fernanda De           ticipação do Brasil no total do                   Outro setor que importa mui-
Negri e Gustavo Varela Alvarenga        comércio internacional, estimado                  to é o da saúde, responsável por
(veja infográfico abaixo).              em cerca de 1,5%.                                 um déficit de US$ 10 bilhões na
                                           Ou seja, desde 2005 vem cain-                  balança comercial do Brasil em
                                        do a participação do país nas ex-                 2010.
                                        portações mundiais em todas as                       Por outro lado, no mercado de
Porto de Paranaguá, no Paraná: quase    demais categorias. Enquanto em                    alta tecnologia, Índia, Indonésia,
  metade das exportações brasileiras    2005 o país detinha 0,94% do                      Malásia, Filipinas, Cingapura,
        ainda é composta de produtos
     primários, como grãos, minérios,
                                        total das exportações mundiais                    Coreia do Sul, Taiwan e Tailân-
                   petróleo e madeira   de produtos de média intensidade                  dia, na Ásia, exportaram mais
                                        tecnológica, em 2009 o percen-                    de US$ 550 bilhões no período
                                        tual caiu para 0,74%. Já a contri-                1998 –2010, enquanto a Chi-
                                        buição do Brasil para o total de                  na, sozinha, vendeu ao resto do
                                        exportações mundiais de produtos                  mundo mais de US$ 450 bilhões
                                        de alta intensidade tecnológica                   no mesmo período.
                                        foi de 0,5% para 0,49% no mes-
                                        mo período, segundo o estudo do                   Desindustrialização
                                        Ipea. Como se vê, índice bastan-                    De acordo com os pesquisa-
                                        te inferior à participação nacional               dores do Ipea, além da conjun-
                                        nas trocas entre os países.                       tura dos últimos 15 anos, a atual


                                         Índice de produtos complexos nas exportações é baixo
                                         Brasil vende poucos produtos de alta tecnologia: entre 2005 e 2009, a
                                         participação oscilou de 0,5% para 0,49% do total exportado no mundo

                                         100
                                                 5     7       8       8        7          9         11         11        13         13        14
                                                18     16      15      12       12         12        12         12        11         11        9
                                          80                                    19
                                                18     18      17      19                  20        20         18                             14
                                                                                                                          16         13

                                          60                           8        10                                                   7         6
                                                 8     7       8                           10        8          8         9                    6
                                                                       13                                                            7
                                                14     13      13               12         11        10         9         7                    51
                                                                                                                                     49
                                          40                                                                    41        43
                                                37     39      39      40       39         38        39

                                          20


                                          0
                                               2000   2001    2002     2003    2004       2005      2006      2007       2008      2009       2010

                                               Commodities primárias           Trabalho e recursos naturais                     Baixa intensidade
                                               Média intensidade               Alta intensidade                                 Outros
                                                                              Fonte: A Primarização da Pauta de Exportações no Brasil: ainda um dilema,
                                                                                                Fernanda De Negri e Gustavo Varela Alvarenga, Ipea, 2010


www.senado.gov.br/emdiscussao                                                                                                                              
                                                                                                                                                               21
Participação das commodities nas vendas brasileiras ao                                                                               sou a perda na balança comercial
                                                                                                                                              representada pela menor compe-
         exterior aumenta e indústria perde competitividade                                                                                   titividade da indústria brasileira
           %
                                                                                                                                              no mercado internacional. Em-
         80                                                                                                                                   bora os autores do Ipea conside-
                                                                                                                                      71%
         70                                                                                                                68%                rem cedo para diagnosticar uma
                                                                                                                 62%                          “desindustrialização” do país, já
         60                                                                                           56%
                                                                                       48%
                                                                                                                                              que tem havido um aumento da
         50
                                                                           42%                                                                produção provocado pela cres-
         40                                                                                                                                   cente demanda doméstica, eles
                                                              29%
         30                            23%         26%                                                                                        alertam que esse não é um ciclo
         20                15%                                                                                                                sustentável em longo prazo.
                9,3%
         10
                                                                                                                                              Cenário
         0
                China      EUA       México Mundial           Índia       Canadá       Brasil         Chile     Austrália Argentina Rússia       O MCTI, em seu Balanço das
                                                                                                                                              Atividades Estruturantes 2011,
                                                                                                                                              considera que o cenário global
                   Agropecuária                Extração mineral                   Petróleo e álcool                    Alimentos e bebidas
                                                                                                                                              seguirá muito favorável às expor-
                   Madeira                     Papel e celulose                   Minerais não metálicos                                      tações de commodities, mantendo
                                                                                        Fonte: BNDES, Visão de Desenvolvimento, nº 36, 2007   a elevada rentabilidade relativa
                                                                                                                                              desses produtos frente aos pro-
                                                                                                                                              dutos industrializados. Assim,
                                                                                                                                              os produtos primários tendem
         Brasil não figura entre exportadores de alta tecnologia                                                                              a dominar a pauta de exporta-
                                                                                                                                              ções brasileiras por muito tempo
         Mesmo países emergentes, que há poucas décadas tinham desempenho
                                                                                                                                              ainda.
         tímido, como a Coreia do Sul, conseguiram saltar muito à frente em inovação
                                                                                                                                                 O maior risco para o país, se-
         U$S (bilhões)                                                                                                                        gundo o ministério, é a acomo-
          700                                                                                                                                 dação a essa condição de grande
                                                                                                                                              produtor e exportador de com-
          600
                                                                                                                         Ásia*                modities, que momentaneamente
                                                                                                                         China                traz divisas e desenvolvimento,
          500                                                                                                            União Europeia**     desviando a atenção da impor-
                                                                                                                         Estados Unidos       tância de investir em inovação e
          400                                                                                                            Resto do mundo
                                                                                                                         Japão                tecnologia. O resultado no lon-
                                                                                                                                              go prazo seria um aumento cada
          300                                                                                                                                 vez maior da vulnerabilidade do
                                                                                                                                              país à flutuação dos preços inter-
          200
                                                                                                                                              nacionais do petróleo, alimentos
                                                                                                                                              e minérios, e uma dependência
          100
                                                                                                                                              cada vez maior da importação de
               0                                                                                                                              produtos de alto valor agregado,
                1998         2000           2002           2004            2006            2008               2010                            com forte impacto sobre a balan-
          *Cingapura, Coreia do Sul, Filipinas, Índia, Indonésia, Malásia, Tailândia e Taiwan                                                 ça comercial.
         **Excluídas as exportações entre os países do bloco econômico                                                                           México e Holanda são exem-
                                                                      Fonte: Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, 2012      plos do que pode dar errado
                                                                                                                                              quando um país se empolga com
                                                                                                                                              a rentabilidade de produtos pri-
               crise econômica internacional                                         das commodities importadas pela                          mários e deixa o setor industrial
               também contribuiu para a pri-                                         China vinham do Brasil.                                  à míngua de investimentos em
               marização da matriz brasileira de                                        Além do bom desempenho das                            inovação. O primeiro tornou-se
               exportações. Mostra disso é que,                                      commodities e da atração que o                           mero montador de produtos de
               em 2009, enquanto o comércio                                          país exerce sobre os capitais in-                        mais alta complexidade tecnoló-
               mundial caiu 22%, o crescimen-                                        ternacionais na crise, que man-                          gica, enquanto o segundo sofreu
               to da economia chinesa diminuiu                                       têm o real forte e encarecem os                          na década de 1960 a chamada
               apenas 11%, e o país se consoli-                                      produtos brasileiros, facilitan-                         “doença holandesa”: benefician-
               dou como o principal parceiro                                         do as importações, a primari-                            do-se do boom dos preços do gás,
               comercial do Brasil. Entre 2000                                       zação resulta também da perda                            o que aumentou substancialmen-
               e 2009, a participação dos pro-                                       de competitividade da indústria                          te as receitas de exportação, o
               dutos brasileiros no total das                                        nacional por falta de inovação.                          país deixou de investir na indús-
               importações chinesas cresceu de                                       Para De Negri e Alvarenga, o                             tria, que sofreu uma dramática
               0,49% para 2%. Em 2009, 2,5%                                          boom das commodities compen-                             perda de competitividade.

22   
                                                                                                                                                                setembro de 2012
Brasil constrói pontes entre ciência e indústria
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Brasil constrói pontes entre ciência e indústria

  • 1. Revista de audiências públicas do Senado Federal Ano 3 – Nº 12 – setembro de 2012 INOVAÇÃO País constrói pontes entre ciência e indústria Seminário no Senado mostra que Brasil deve aumentar gastos, inclusive privados, para entrar na economia do conhecimento
  • 2. SECS | SUPRES – Criação e Marketing | Foto: Cléber Medeiros Informação clara e imparcial, onde você estiver Há mais de 16 anos, o Jornal do Senado leva ao cidadão a informação mais completa sobre o que acontece no Senado Federal. E faz isso sempre acompanhando a evolução dos meios de comunicação. Além da versão impressa, você pode acessar o Jornal do Senado pelo portal de notícias na internet, pelo Twitter ou pela newsletter, via e-mail. Neste caso, basta se cadastrar no portal. Twitter: @jornaldosenado | www.senado.gov.br/jornal
  • 3. Burocracia e poucos recursos limitam inovação O necessário ingresso de forma mais contundente do Brasil na economia do conhecimento depende de mudanças legais e de mentalidade, discutidas em seminário promovido pelo Senado Carta ao leitor A situação econômica e a inserção internacional do brasil são, possi- velmente, as melhores da história. de “país do futuro”, em muitos indicadores, como emprego e renda, o brasil aparenta ter se tornado o “país do presente”. porém, uma comparação com as maiores economias do mundo apon- ta que o país ainda não incorporou a grande parte da produção as ten- dências da economia do conhecimento. liderada pela indústria, essa nova organização é chamada de terceira revolução industrial ou revolução tec- nocientífica. tem como pilar a incorporação de grandes aportes de tec- nologia a novos produtos e serviços oferecidos à população por meio da inovação, pela qual há integração entre ciência e produção, envolvendo áreas como automação, robótica e engenharia genética. o problema é que a participação da indústria no produto interno bru- to (pib) nacional vem caindo. A pauta de exportações brasileira conta com poucos produtos de alto ou médio aporte tecnológico, sendo domi- nada pelas commodities da agricultura e da mineração. Além disso, o país investe pouco na área de ciência e tecnologia, apresentando desempenho pouco satisfatório nos rankings internacionais de inovação e de competitividade. registra, em alguns deles, tendência de queda. o governo e o senado já identificaram a necessidade de dar novo rumo à produção nacional. para isso, será necessário um grande esforço para dotar o país de política industrial capaz de aumentar os investimen- tos em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e processos que sejam incorporados às linhas de produção. o plano brasil Maior, de agos- to de 2011, e a estratégia nacional de Ciência, tecnologia e inovação, lançada este ano, fazem esse diagnóstico e tentam apresentar algumas soluções, especialmente, mais recursos para o setor. isso porque, mais que um desafio pontual, a entrada do brasil na eco- nomia do conhecimento implica empenho em um setor básico, apontado como uma das maiores dívidas sociais do país: a educação. esses temas fizeram parte dos debates travados no senado durante o seminário Caminhos para a inovação, realizado pela Comissão de Ciência, tecnologia, inovação, Comunicação e informática (CCt), com alguns dos nomes mais importantes da ciência nacional, como o físico Marcelo glei- ser e o neurocientista Miguel nicolelis. As informações do seminário serviram como base para esta edi- ção, que apresenta o problema, faz um diagnóstico da posição do brasil no cenário internacional, mostra as experiências de sucesso no país e, finalmente, apresenta as propostas — várias delas estão em discussão no senado na forma de projetos de lei — que podem acelerar e tornar mais eficientes iniciativas que melhorem a competitividade nacional. boa leitura!
  • 4. SUMÁRIO Mesa do Senado Federal Contexto eMbrAer presidente: José sarney 1ª vice-presidente: Marta suplicy 2º vice-presidente: Waldemir Moka 1º secretário: Cícero lucena 2º secretário: João ribeiro 3º secretário: João Vicente Claudino 4º secretário: Ciro nogueira suplentes de secretário: Casildo Maldaner, João durval, Maria do Carmo Alves e Vanessa grazziotin diretora-geral: doris peixoto secretária-geral da Mesa: Claudia lyra Expediente Secretaria Especial de Comunicação Social Em busca de espaço na economia do conhecimento 6 diretor: Fernando Cesar Mesquita Indústria nacional ainda contribui pouco com inovação diretor de Jornalismo: davi emerich 12 A revista Em Discussão! é editada pela Universidades e empresas, a polêmica da integração 17 secretaria Jornal do senado diretor: eduardo leão (61) 3303-3333 editor-chefe: João Carlos teixeira editores: Joseana paganine, sylvio guedes e thâmara brasil Realidade brasileira reportagem: João Carlos teixeira, Joseana paganine, sylvio guedes e thâmara brasil Capa: priscilla paz sobre imagens de stock.XChng Brasil ainda sente falta de diagramação: bruno bazílio e priscilla paz Arte: bruno bazílio, Cássio Costa, diego Jimenez e bases sólidas para a inovação priscilla paz revisão: André Falcão, Fernanda Vidigal e pedro pincer 18 pesquisa de fotos: braz Félix e leonardo sá sCott bAuer/usdA-Ars tratamento de imagem: edmilson Figueiredo Circulação e atendimento ao leitor: País continua shirley Velloso (61) 3303-3333 longe dos líderes tiragem: 2.500 exemplares 24 Site: www.senado.gov.br/emdiscussao Produção científica E-mail: jornal@senado.gov.br www.facebook.com/jornaldosenado mostra evolução Twitter:@jornaldosenado tel.: 0800 612211 26 Fax: (61) 3303-3137 praça dos três poderes, Anexo 1 do Indústria não senado Federal, 20º andar Cep 70165-920, brasília (dF) contrata doutores Impresso pela Secretaria Especial de 30 Editoração e Publicações — Seep
  • 5. Casos de sucesso reproduÇÃo Há nichos de excelência, mas ainda são casos isolados 34 Incubadoras atestam sucesso da união universidade-indústria 42 Parques tecnológicos formam núcleos de conhecimento 46 Propostas Veja e ouça mais em: Primeiro passo é melhorar o ensino da ciência 50 MArCos sAntos/usp Programa de bolsas aposta no intercâmbio internacional 56 Senado busca saída para facilitar caminho para a pesquisa 63 sCott bAuer/usdA-Ars Decisão do Congresso sobre royalties é vital para o setor 68 Saiba mais 70
  • 6. CONTEXTO Brasil quer maior fatia do mercado da inovação Sem investir fortemente em pesquisa, semente da inovação, país segue como consumidor de produtos de tecnologia estrangeira e exportador de commodities M ais que uma questão valor à produção do país, que, tiza a necessidade de “incor- acadêmica, a pesquisa por sua vez, ganha competitivi- porar conhecimento científico feita em laboratórios dade internacional na chamada ao processo produtivo”. Já a por cientistas é, cada vez mais, economia do conhecimento. Comissão de Ciência, Tecnolo- um tema econômico, que ganha No Brasil, o assunto está na gia, Inovação, Comunicação e grande atenção dos governos pauta do Executivo e do Legis- Informática (CCT) do Senado mundo afora. Isso porque a tec- lativo. O governo federal lançou realizou, em junho deste ano, nologia pode levar a descobertas este ano a Estratégia Nacional o seminário Caminhos para a que geram novos produtos e ser- de Ciência, Tecnologia e Ino- Inovação, em que avaliou, com viços, com grande valor comer- vação (Encti) para o período alguns dos maiores nomes da cial. Essas inovações agregam de 2012 a 2015, em que enfa- ciência nacional, os programas Pesquisa, tecnologia e, finalmente, inovação inovação é a tecnologia que, ao tudo começa com uma pesquisa de desenvolvimento tecnológico ser processada por uma empresa, básica, geralmente feita nas uni- e inovação do MCti, álvaro prata. gera bem ou serviço que chega à versidades. depois vem o desen- o pesquisador edwin Mansfield, sociedade. enquanto a tecnologia volvimento da tecnologia, que é da universidade da pensilvânia não for colocada à disposição da a pesquisa aplicada. então, vem (euA), em estudo sobre as fontes sociedade, não é inovação. então, a prova de conceito, ou seja, um de ideias para inovação tecnoló- o caminho para a inovação de- modelo para teste do mecanis- gica, verificou que nove em cada pende de uma empresa que faça mo. somente aí é que se tem dez inovações nascem na empre- a ponte entre as novas ideias e a ideia se aquela tecnologia vai ser sa. Apesar de, na maioria, não oferta para a população. produzida em escala de demons- serem inventos de universidades, pai da economia moderna, Adam tração, para, então, chegar à es- os produtos são desenvolvidos smith já observava, em 1776, cala de mercado. com base em pesquisa acadêmi- que as principais fontes de inova- “Ciência é o conhecimento; tec- ca, que fornece descobertas teó- ção eram “os homens que traba- nologia é o fazer; inovação é o ricas ou empíricas. lhavam com as máquinas e que mudar; empreender é materiali- A indústria é fundamental no descobriam maneiras engenho- zar e realizar. para inovar, deve- processo por dominar detalhes sas de melhorá-las, bem como mos conhecer, mas, mais do que de mercado e técnicas de pro- os fabricantes de máquinas que isso, é preciso que tenhamos a dução e ter habilidade para reco- desenvolviam melhoramentos em confiança de que podemos mu- nhecer e pesar riscos técnicos e seus produtos”. dar”, disse o secretário nacional comerciais. 6  setembro de 2012
  • 7. VAgner CArVAlho Cristovam Buarque (C), Vital do Rêgo (D) e o secretário executivo do MCTI, Luiz Antônio Elias, participam do seminário governamentais e a capacidade do de avanços que vêm da ciência, país de criar ideias e produtos no- especialmente nas áreas de in- vos para o mercado internacional. formática e automação em que o A preocupação procede, tendo Brasil continua a ser um grande em vista que o Brasil oferece pou- consumidor. cos produtos com alto aporte de Um dos indicadores usados tecnologia agregado (uma célebre para medir o desempenho de um exceção são os aviões da Embraer). país no que diz respeito à inovação Quase metade (48%) do total das é o ranking da escola de negócios exportações brasileiras se concen- IMD Foundation Board (World tra em agropecuária, extração mi- Competitiveness Yearbook). Na úl- neral, madeira, petróleo e gás (veja tima versão, lançada este ano, o o infográfico na pág. 30). Brasil ocupa o 46º lugar, atrás de Já as grandes economias do Hong Kong, Estados Unidos, Su- mundo — especialmente Estados íça, Cingapura e Suécia e também Unidos, Europa, Japão e, mais de China, Chile, Índia, México, recentemente, China e Coreia Peru, Malásia e Irlanda (veja o do Sul — vêm ampliando a uti- lização, na indústria, Art e: b ru no bA zíl io
  • 8. infográfico na página ao lado). não é surpresa que os casos senador Cristovam Buarque Pior que isso, o Brasil vem de sucesso sejam tratados (PDT-DF). perdendo posições no ranking como“ilhas de excelência”. desde 2010, quando apare- “Os centros de produção de Enorme esforço ceu em 38º lugar. Em 2011, conhecimento do país, em vez Para o Brasil não ficar para caiu para 44º e, agora, perdeu de regra, são tratados como trás, o governo identificou na mais duas posições. experiências bem-sucedidas Estratégia Nacional de Ci- Em setembro, o Fórum em meio a um universo de fal- ência, Tecnologia e Inovação Econômico Mundial apresen- ta de estímulo e investimen- que terá de realizar um “enor- tou seu ranking de competi- to”, observou o neurocientista me esforço” para diminuir a tividade e inovação em que o Miguel Nicolelis. distância que separa o perfil Brasil aparece em posição se- Mais que novos produtos, a de sua produção do das eco- melhante: 48º lugar entre 144 mudança no perfil da produ- nomias que lideram o merca- países. Porém, nesse compara- ção mundial, já chamada de do internacional. Isso porque tivo, o país apareceu cinco po- terceira revolução industrial, os diagnósticos não apontam sições acima da calssificação incorporou grande aumento uma situação confortável de 2011 e dez da de 2010. de produtividade com redu- quando o assunto é inovação. Um dos indicadores ob- ção dos custos de cada unida- “No que diz respeito à par- servados nesse ranking é jus- de produzida. ticipação dos setores inten- tamente a inovação. Apesar “Não há futuro sem que sivos em tecnologia diferen- da melhoria geral, o Brasil um país domine os caminhos ciada na sua matriz interna, perdeu cinco posições nesse da inovação. O Brasil ain- o Brasil está muito abaixo. quesito. da não despertou para isso Embora tenha crescido, ain- Diante de avaliações assim, suficientemente”, alertou o da precisa alcançar patamares Aviões da Embraer são um dos raros exemplos de produtos exportados pelo país com alto aporte de tecnologia agregado 8  setembro de 2012
  • 9. Contexto mais avançados na microeletrô- nica, nas tecnologias de informa- Sexta economia do mundo Brasil aparece ção e comunicação”, admite Luiz apenas entre os 50 em competitividade Antônio Elias, secretário execu- tivo do Ministério da Ciência, Em dois rankings que levam em consideração a capacidade de inovação, país se Tecnologia e Inovação (MCTI). encontra atrás de norte-americanos, europeus, asiáticos e de alguns vizinhos As explicações para essa situa- ção são muitas. O Brasil investe WEF* WCY** Países Classificação da educação está menos em ciência e tecnologia 2012 2011 2012 2010 que os competidores internacio- abaixo da média do país nais, com pouca participação do Suíça 1o 1o 3o 4o Indicadores do WCY* Posição brasileira setor privado, maiores respon- Cingapura 2o 2o 4o 1o Mercado de trabalho 17o sáveis pela introdução de novos Suécia 4o 3o 5o 6o Economia doméstica 25o produtos nas indústrias (confira o infográfico na pág. 32). Alemanha 6o 6o 9o 16o Financiamentos 28o Para reverter o quadro e co- Infraestrutura científica 33o Estados Unidos 7o 5o 2o 3o locar o Brasil rumo à economia Política fiscal 37o do conhecimento, são esperados Reino Unido 8o 10o 18o 22o Infraestrutura básica 50o investimentos, públicos e priva- Hong Kong 9o 11o 1o 2o Produtividade e eficiência 52o dos, previstos na Encti para os Infraestrutura tecnológica 54o Japão 10o 9o 27o 27o próximos quatro anos. A princi- Educação 54o pal meta é elevar os recursos des- Coreia do Sul 19o 24o 22o 23o Preços 55o tinados ao setor do atual 1,16% Austrália 20o 20o 15o 5o Quadro institucional 55o (percentual inferior inclusive ao de economias menores que a França 21o 18o 29o 24o Comércio internacional 56o brasileira) para 1,8% do produto China 29o 26o 23o 18o Indicadores do WEF** Posição brasileira interno bruto (PIB) até 2014, ou Chile 33o 31o 28o 28o Tamanho do mercado 9o eMbrAer Espanha 36o 36o 39o 36o Sofisticação dos negócios 33o Mercado financeiro 46o Itália 42o 43o 40o 40o Prontidão tecnológica 48o Brasil 48o 53o 46o 38o Inovação 49o Portugal 49o 45o 41o 37o Macroeconomia 62o Educação superior 66o México 53o 58o 37o 47o Mercado de trabalho 69o Índia 59o 56o 35o 31o Infraestrutura 70o Peru 61o 67o 44o 41o Instituições 79o Argentina 85o 94o 55o 55o Saúde e educação primária 88o *entre 144 países Fonte: IMD World Competitiveness Yearbook (WCY) 2012. **entre 59 países World Economic Forum (WEF) Global Competitiveness Report 2012-2013. quase R$ 25 bilhões entre empre- recursos gastos ter crescido, a par- sas e governo. No total, o gover- ticipação relativa no gasto global no espera investir cerca de R$ 75 da União não se alterou. bilhões no período, superando os E ainda há outros obstáculos R$ 41,2 bilhões previstos no Plano a superar. Em 2011, o governo de Ação de Ciência, Tecnologia e federal cortou 22,3% do orçamen- Inovação para o Desenvolvimento to do MCTI, que ficou em R$ 6,5 Nacional (Pacti) para o período bilhões, abaixo dos R$ 7,9 bilhões 2007–2010 (leia mais na pág. 54). de 2010. Em 2012, os valores fo- Porém, em função, entre ou- ram de novo reduzidos em R$ 1,5 tros fatores, de cortes no orça- bilhão, dos R$ 6,7 bilhões previs- mento destinado ao setor, metas tos no Orçamento aprovado no estabelecidas antes, como no Pacti Congresso. 2007–2010, não foram cumpri- “A Anpei acompanha com pre- das. Naquela ocasião, o objetivo ocupação os cortes do governo fe- era fazer com que os investimentos deral no orçamento de CT&I nos atingissem 1,5% do PIB em ciên- últimos dois anos, 22% só neste cia, tecnologia e inovação (CT&I) ano. A falta de um ambiente mais até o fim da década passada. Nes- previsível reforça a necessidade de se período, apesar de o volume de continuar construindo contexto www.senado.gov.br/emdiscussao  9
  • 10. MoreirA MAriz/AgênCiA senAdo metade (45,7%) do total, recursos humanos capazes de índice inferior ao de paí- conduzir pesquisa de ponta e ses como Estados Unidos, publicar cada vez mais artigos Alemanha, China, Coreia e estudos em revistas cientí- do Sul e Japão, onde o ficas (veja os infográficos nas índice beira os 70% (veja págs. 26 e 28). infográfico na pág. 25). Ainda assim, um maior Como resultado dos número de cientistas não vem baixos investimentos, do correspondendo a um aumen- perfil da pesquisa, reali- to proporcional nos indicado- zada na maior parte nas res de inovação do país. A ex- universidades, e da bu- plicação pode estar na própria rocracia, o país também história da industrialização do registra pouquíssimas Brasil, cujo progresso técnico patentes, indicador usa- se deu por meio da importa- do para medir o nível de ção de equipamentos e tecno- inovação de um país (leia logias geradas em outros paí- mais a partir da pág. 61). ses em vez de levar como base o desenvolvimento científico Poucas patentes nacional e a incorporação dele “O pequeno núme- ao processo produtivo (leia ro de patentes nacionais mais a partir da pág. 30). Nicolelis: é preciso convencer a iniciativa privada de que vai ganhar e a carência de maiores “Trouxemos a pesquisa mais dinheiro se investir em pesquisa incentivos à inovação e para a universidade, forma- à pesquisa e desenvolvi- mos as pessoas, fomentamos, mais favorável à inovação tec- mento comprometem a através de bolsas a formação nológica, com recursos asse- competitividade brasileira. Os de 12 mil doutores e 38 mil gurados e regulares”, diz do- países mais resistentes às con- médicos por ano. Ao mesmo cumento elaborado em junho vulsões da economia mundial tempo, não temos nenhuma pela Associação Nacional de são os que investiram pesado universidade entre as 200 me- Pesquisa e Desenvolvimen- na educação, na ciência e tec- lhores do mundo, mas a que to das Empresas Inovadoras nologia, como componentes mais forma doutores no mun- (Anpei). de política industrial”, aler- do é a USP, na frente de boas Além de elevar o nível de ta o senador Vital do Rêgo universidades americanas”, investimento para finalmen- (PMDB-PB). destaca Luiz Antônio Elias. te atingir a meta da Encti, o Mas também há avanços governo precisa incentivar as a registrar. Nos últimos 50 Começar pela escola empresas a gastar mais em anos, o país ampliou a infra- Além das propostas de no- pesquisa e desenvolvimen- estrutura de pós-graduação, vas leis e críticas às atuais (leia to (P&D). O gasto privado formando cada vez mais mes- mais a partir da pág. 50), os representa hoje menos da tres e doutores e uma base de participantes do seminário A ciência começa na educação Participantes do seminário organizado pelo Senado Tudo em ciência e tecnologia começa destacaram a ligação crucial entre uma e outra com a educação dos jovens. É preciso uma estratégia de encantamento em inovação” Ainda é difícil convencer as pessoas de que a inovação Marcelo Gleiser começa na educação de base. Ciência e tecnologia começam com a criança que o cientista foi no passado” Cristovam Buarque Todo mundo quer falar de inovação, mas poucas pessoas A inovação não se faz sem ciência entendem que inovação começa com gente, e gente para fazer e ciência não se faz sem educação” inovação tem que ser educada. O grande gargalo da ciência Luiz Antônio Elias brasileira é a educação brasileira” Miguel Nicolelis 10  setembro de 2012
  • 11. Contexto Caminhos da Inovação sugeri- para fazer inovação. Sem isso, a Encti, os salários são 80,5% ram que o país necessita de um vamos pegar receitas que vêm maiores que a média nas indús- sistema educacional eficiente, de fora e tentar aplicar esses mo- trias que inovam. Os postos de que desperte nos alunos o gos- delos numa cultura totalmen- trabalho gerados nessas empre- to pela ciência. Essa condição é te diferente”, analisou Miguel sas exigem 20,9% a mais de considerada fundamental para Nicolelis. escolaridade e a permanência que mais pessoas escolham a média do trabalhador é 30,4% carreira de cientista e possam Radical e rápido maior que média. levar adiante mais pesquisas Outro consenso é que a defi- “Não dá para esperar 60 anos que levem a novas tecnologias e nição de estratégia para reverter com pequenas medidas para inovações. o quadro atual de educação, ci- desenvolver ciência e tecnolo- “Admiramos o que aconteceu ência e tecnologia, com inovação gia. É preciso algo mais radical, de bom nessas últimas décadas. na indústria, é urgente para que mais rápido. Não em resultados Mas temos que ser mais ambi- o país possa embarcar na econo- imediatos, mas que comecem a ciosos. Precisamos massificar a mia do conhecimento e compe- preparar agora a ciência do fu- prática da ciência e convencer a tir no mercado internacional em turo, que é a educação de base. iniciativa privada de que vai ga- pé de igualdade com outros paí- Os cientistas têm um discurso nhar mais dinheiro se investir ses, gerando empregos e riqueza ambicioso e os políticos e admi- em pesquisa básica e em pesqui- no próprio país. nistradores têm o discurso do sa aplicada. Enquanto essa mas- Já se sabe, por exemplo, que a que foi feito e não da ambição sificação não for realizada, não inovação tecnológica gera postos do que falta fazer, como se fosse adianta a gente discutir inova- de trabalho mais bem remune- absolutamente impossível. E não ção, porque não vamos ter gente rados e mais estáveis. Segundo é”, apelou Cristovam Buarque. A Olimpíada do Conhecimento, promovida pela CNI, incentiva o elo essencial entre trabalho e inovação JosÉ pAulo lACerdA www.senado.gov.br/emdiscussao  11
  • 12. Pilar da inovação mundial, indústria pouco participa Um elo importante na cadeia de ponta, a indústria continue a cientista Marcelo Gleiser. de inovação é considerado mui- perder peso relativo na compo- A falta de iniciativa das em- to fraco no Brasil: a indústria. sição do produto interno bruto presas — que em outros países Responsável por grandes inves- brasileiro e, pior, no cenário são responsáveis por traduzir os timentos em pesquisa e desen- internacional. avanços tecnológicos em produ- volvimento de novos produtos “Não basta importar a má- tos e serviços para a sociedade mundo afora, no Brasil a par- quina, se não tivermos geração — para investir em inovação no ticipação da indústria é modes- de conhecimento local. Com Brasil pode ser observada em ta, não chegando à metade dos a importação da máquina, no vários indicadores. Um deles: gastos nacionais, já considera- curto prazo, faremos frente à elas praticamente não contra- dos baixos. concorrência naquele setor, na- tam mestres ou doutores. Es- “Nossos empresários ainda quele momento. Mas não fa- ses profissionais, que estariam preferem copiar técnicas im- remos frente, no longo prazo, prontos para pesquisar e inovar, portadas. Daí, temos muitos à necessidade de conhecimen- estão, na grande maioria, nas produtos made in Brazil, mas to local”, avalia Luiz Antô- universidades (que concentram não temos praticamente ne- nio Elias, secretário executi- a produção científica nacional) nhum created in Brazil. São vo do Ministério da Ciência, ou na administração pública. produtos fabricados aqui com Tecnologia e Inovação. O presidente da Financia- invenções de fora”, observa “A indústria brasileira precisa dora de Estudos e Projetos (Fi- o senador Cristovam Buar- se conscientizar de que é muito nep), Glauco Arbix, revelou, que, economista e ex-reitor da melhor criar a própria máquina em audiência realizada em maio Universidade de Brasília. do que ficar comprando as que na CCT, que a maioria dos pes- A avaliação feita é que, sem vêm de fora. Existe indepen- quisadores brasileiros (57%) atenção para a incorporação de dência tecnológica e acho que trabalha nas universidades, novos processos, com produtos ainda não estamos lá”, reforça o 37% estão nas empresas e 5%, Fábrica na Zona Franca de Manaus: muitos produtos made in Brazil, poucos created in Brazil suFrAMA 12  setembro de 2012
  • 13. Contexto Com efeito, são basicamen- Finep te as estatais, como Petrobras e Eletrobras, ou as antigas Doutor não tem estatais, como Embraer, Vale e as empresas de telecomuni- vez em faculdade cações, que mais investem em privada inovação no país. “Se tirarmos a Petrobras, A falta de envolvimento da in- o nosso investimento privado dústria no processo de inovação some do gráfico, simplesmen- foi ilustrada no seminário Cami- te desaparece”, complemen- nhos para a inovação pelo professor ta o neurocientista Miguel Marcelo sampaio de Alencar, pro- Nicolelis. fessor do depar tamento de Segundo André Araújo, engenharia elétrica da universidade assessor da presidência da Fi- Federal de Campina grande, que nep, entre 7 mil e 10 mil em- tem doutorado no Canadá. presas respondem pelo total segundo ele, as universidades Glauco Arbix, presidente da do gasto privado em P&D privadas são as primeiras a dar o Finep, destaca concentração dos pesquisadores nas universidades no Brasil, equivalente a cer- exemplo de como as empresas não ca de 0,5% do PIB. Delas, contratam mestres e doutores no entre 600 e 700 respondem brasil. no governo. Nos Estados Uni- por mais de 90% do total, "As universidades privadas não dos, segundo ele, a estatística é sendo que mais da metade é contratam mestres e doutores. diferente: 79% dos pesquisado- estrangeira. Como é que as empresas vão con- res estão nas empresas, 14,8% “Estamos precisando é de tratar doutores, se as universidades nas universidades e 3,6% no fábricas de empresa. Precisa- os demitem?", questionou Alencar governo. mos de mais dez Petrobras, no senado. “Funcionamos diferente dos Vale, Embraer. O caminho ele denunciou que muitas insti- Estados Unidos. Os doutores da inovação é o caminho da tuições privadas de ensino superior não vão para as indústrias, com empresa”, afirmou Araújo, no contratam doutores apenas para raras exceções. As exceções são seminário patrocinado pela cumprir exigências do Ministério da as estatais, a Petrobras e algu- CCT do Senado. educação (MeC), para dispensá-los mas empresas do setor elétrico”, depois do credenciamento da insti- afirma Segen Estefen. Mais investimentos tuição pelo órgão. privados "isso é um absurdo! É o que Representante do Executi- ocorre nas universidades privadas, vo no debate no Senado, Luiz multinacionais, tipo Anhanguera, Antônio Elias deu o recado estácio, deVry (norte-americana para os empresários: o go- que está entrando no brasil). Apro- verno espera que a indústria vou-se o curso, os doutores são avance em inovação. Para ele, demitidos. e o MeC, aparente- o setor “é muito conserva- mente, faz vista grossa. isso é um dor, não quer correr o risco problema gravíssimo. Vi c a sos do processo inovatório”. Elias em que centenas de professores reconhece que o setor públi- com doutorado foram demitidos", co deve fazer o esforço para testemunhou. que haja benefícios fiscais e ambiente regulatório positi- vo, “mas não sem contrapar- indústria também pode ser me- tida da área empresarial e da dida pelos investimentos que o sociedade”. setor faz em P&D. Hoje, me- Como exemplo, o físico nos da metade do que se gasta Marcelo Gleiser, professor titu- em inovação no Brasil vem das lar de uma universidade norte- empresas. Por isso, a meta do -americana, narrou que, nos governo é que os gastos do setor Estados Unidos, o investimento produtivo em P&D passem de privado em pesquisa e ensino 0,56% do produto interno bru- é grande. “O ônus da inova- to (registrados em 2010) para ção tecnológica e científica não 0,9%, em 2014. Ou seja, espe- deve ser só do governo. Para ra-se que a participação privada criar, tem que arriscar”, sugere. nesses investimentos chegue a A baixa participação da 50% do total. www.senado.gov.br/emdiscussao  13
  • 14. CeCiliA bAstos 1,16% atual (índice inferior ao “A meta representa um esfor- de economias menores que a ço brutal para um prazo curto, brasileira) para 1,8% até 2014 de quatro anos. Significa pra- — vai precisar de grande mo- ticamente dobrar o esforço do bilização do empresariado, que setor produtivo. Desde a cria- tem como meta chegar a inves- ção do marco regulatório, há 11 timentos de 0,9% do PIB. anos, vamos ver que o desempe- “No Brasil, a gente só ten- nho não foi muito grande. Mas de a falar de mecanismos es- tem havido disponibilidade de tatais, que são importantes recursos crescente e exponencial e devem continuar e ser am- para a inovação”, confirmou pliados. O investimento pú- André Araújo. blico americano em ciência é O professor Carlos Henrique de cerca de US$ 400 bilhões. de Brito Cruz, diretor científico O investimento do Departa- da Fundação de Amparo à Pes- Para Carlos Henrique Cruz, da Fapesp, maior mento de Defesa pode dobrar quisa do Estado de São Paulo desafio é construir no país ambiente que esse orçamento. E há ainda o (Fapesp), considera que o maior estimule empresário a investir em P&D investimento privado. Isso ex- desafio será criar um ambiente plica por que não temos uma que estimule e viabilize o au- “A grande diferença está no Apple bra sileira”, recla ma mento do gasto empresarial em setor industrial. Aí está a di- Nicolelis. P&D. “Esse é um objetivo mui- ficuldade, porque países que Segundo o representante da to mais complexo do que o sim- estão na frente, por exemplo, Confederação Nacional da In- ples aumento do dispêndio go- a Finlândia e a Coreia do Sul, dústria (CNI) no debate pro- vernamental, pois envolve obter têm o setor industrial, sozi- movido pelo Senado, Rodrigo um aumento substancial no nho, investindo acima de 2%, de Araújo Teixeira, o cresci- investimento privado por meio 2,5% [do PIB]”, afirmou Álva- mento do investimento privado de políticas governamentais”. ro Prata, secretário nacional de em inovação tem sido de 15% Para Marcelo Sampaio de Desenvolvimento Tecnológico e ao ano, taxa insuficiente para Alencar, professor de Engenha- Inovação do MCTI. alcançar o objetivo. “Para atin- ria Elétrica da Universidade Fe- Ou seja, a proposta governa- gir a meta, o investimento pri- deral de Campina Grande (PB), mental de elevar o percentual vado em inovação tem de cres- os empresários somente estão do PIB investido na área — do cer 22% ao ano”, afirmou. dispostos a investir se houver 14 
  • 15. Contexto compensação governamental Caminhos para a Inovação. inovação nas empresas, modelos pelos gastos feitos, geralmente Com a ausência de empresas de gestão do século 19, hierár- por meio de renúncia fiscal. que invistam mais em P&D e quicos, departamentalizados, “Os empresários vão às uni- diante da instabilidade do gas- pouca liberdade, ambiente bu- versidades porque eles contam to público no setor (leia mais rocrático, baixa motivação, com a renúncia fiscal. Estão na pág. 68), os pesquisadores alta rotatividade. Como fazer viciados. Esse paradigma, cria- brasileiros ainda tratam com inovação com esse ambiente? do no governo de Fernando ceticismo o desenvolvimento Então, não se trata apenas de Collor e estimulado no de Fer- de uma política industrial e de incentivo”, afirma o professor e nando Henrique Cardoso, tem inovação de longo prazo, como engenheiro Juan Carlos Sotuyo, de mudar. O empresário tem a proposta do Plano Brasil diretor-superintendente da Fun- de ser estimulado de outra for- Maior (leia matéria a seguir). dação Parque Tecnológico Itai- ma. Não tem só de ganhar di- “Marcos legais, temos um pu, um dos poucos nichos de nheiro”, reclamou no seminário monte. Cultura empresarial, excelência no país. indústria pede que governo compartilhe riscos da inovação Se, por um lado, cien- Indústria (CNI) e da Mo- e planejado pode não ser tistas e governo gostariam bilização Empresarial pela bem-sucedido”. de ver o empresariado in- Inovação (MEI) no seminá- Teixeira avalia que exis- vestindo mais em P&D, os rio organizado pelo Senado, te um “vale da morte das empresários acusam a falta Rodrigo Teixeira, com base tecnologias das inovações”, de política industrial em em análises, apontou ten- que seria na fase de intro- que o governo estimule a dência de aumento do in- duzir novas tecnologias em indústria a assumir os ris- vestimento privado em ino- escala comercial, que de- cos de gastar com desenvol- vação, superando, inclusive, pende fundamentalmente vimento de novos produtos. o gasto público. Mas, para da indústria. O problema, Representante da Con- isso, colocou duas condi- segundo ele, é que somente federação Naciona l da ções: um cenário de indica- os empresários se respon- dores econômicos estáveis e sabilizam por esses cus- noKiA satisfatórios e apoio do go- tos, diferentemente do que verno aos “riscos inerentes” acontece em outros países, a esse processo. como o Canadá e os EUA, Na análise do professor onde o governo é solidário Carlos Henrique de Bri- (leia mais na pág. 24). to Cruz, da Fapesp, não “Ou seja, se o processo se trata de o empresário der errado, a empresa fe- brasileiro não valorizar cha. Então, há aversão ao a inovação tecnológica, risco. É importante repen- mas, sim, da existência de sarmos o f inanciamento um “ambiente econômi- para compartilhar os riscos co instável, extremamente de tecnologias de ponta”, desfavorável e até mesmo afirmou. hostil para que as empre- Como sugestão, Teixeira sas realizem investimentos citou um modelo de finan- de retorno certo, mas em ciamento utilizado pelos prazo muitas vezes longo, Estados Unidos para um como são os investimen- projeto de uso de biomassa tos em P&D, que contém para produção de energia. uma incerteza intrínseca. No início, diz, 100% dos Pesquisa-se, em geral, so- financiamentos são públi- bre o que não se conhece cos, mas, à medida que o e, muitas vezes, um projeto projeto avança para a eta- perfeitamente organizado pa de operação e venda, a Na Finlândia, sede da Nokia (foto), indústria responde, sozinha, por até 2,5% do PIB em investimentos  15
  • 16. parcela de investimento da em- empresas de menor porte “co- de comércio exterior. O plano, presa vai aumentando. Dessa meçaram a entender que inova- no qual a Encti se insere, tem maneira, com participação pú- ção é algo importante”. como foco a inovação para agre- blica e privada, é possível “dar gar valor e competitividade à um salto e sobreviver ao vale da Brasil Maior produção da indústria nacional. morte”. O diretor da Fapesp consi- Prevê, além do aumento dos No Brasil, narrou Teixeira, dera que, para isso acontecer, é gastos públicos e privados em há um projeto-piloto em anda- preciso “uma política industrial P&D, desoneração de investi- mento em que a Finep repassa associada à política para ciên- mentos e das exportações, cré- recursos para a CNI, que, en- cia e tecnologia, coerente com dito, aperfeiçoamento do marco tão, os repassa para institutos as mudanças necessárias nas regulatório da inovação, forta- de pesquisa vinculados à indús- condições macroeconômicas e lecimento da defesa comercial e tria. “Nossa meta é investir até de infraestrutura existentes no ampliação de incentivos fiscais. R$ 90 milhões [até 2013] em país, que são hoje obstáculo ao Parte desse projeto, a Encti projetos de inovação tecnoló- desenvolvimento sustentável enfatiza que o Estado deve in- gica, com recursos do governo. e vêm levando o Brasil a uma vestir mais na subvenção ou no Vamos alavancar mais um ter- progressiva desindustrialização”. subsídio às empresas para fa- ço de contrapartida econômica O governo acredita que já vorecer a busca pela inovação, das entidades de ciência, tec- existem condições econômicas para transformar o meio em- nologia e inovação, e as empre- (estabilidade monetária, cres- presarial em um setor mais dis- sas vão colocar mais um terço”, cimento econômico e geração posto a correr riscos para criar explicou. de emprego e renda) para isso. novos produtos e tecnologias em Ele reconheceu, porém, que Tanto que lançou, em agosto de áreas nas quais o Brasil possa, é preciso maior conscientiza- 2011, o Plano Brasil Maior, uma efetivamente, se sobressair no ção dos empresários, ainda que política industrial, tecnológica e mercado internacional. Presidente Dilma assina o Plano Brasil Maior observada por Guido Mantega (E), Marco Maia, Michel Temer, José Sarney, Gleisi Hoffmann e Fernando Pimentel Wilson diAs/Abr 16  setembro de 2012
  • 17. Contexto VAgner CArVAlho Lugar de empresa é na universidade? A relação entre empresa e uni- transformar numa fá- versidade gerou polêmica entre brica de empresas, a debatedores do seminário. o gente olha de forma assessor da Finep André Araújo positiva, mas tam- levantou dúvidas com relação b ém com descon- ao modelo em que a universida- fiança. não sei se isso de serve como base para novos é viável dentro das negócios, como acontece em di- universidades. não versas instituições, como o ins- sei como um polo tituto Alberto luiz Coimbra de com multinacionais pós-graduação e pesquisa de dentro do Fundão engenharia (Coppe), por meio [onde está a Coppe] de parques tecnológicos ou in- pode levar o brasil à cubadoras de empresas (leia grande autonomia a partir da pág. 34). A afirma- do ponto de vista de ção levou à reação do professor inovação tecnológi- segen estefen, da Coppe. ca. talvez seja uma Mesmo admitindo que, para ino- visão conser vado- Estefen, da Coppe/UFRJ, defende modelo de var, o país precisa de “fábricas ra, mas não consigo parques tecnológicos como saída para inovação de empresa”, Araújo questionou ver a dinâmica que a vocação da universidade para vai ser construída a partir daí”, posições do assessor da Finep. cumprir esse papel. “Quan- confessou. “eu acho que o parque tecno- do a universidade procura se segen estefen discordou das lógico, com empresas estran- geiras, gera uma dinâmica ex- tremamente importante para a universidade, até para a criação das empresas de base tecnológica, que vão conviver nesse ambiente”, afirmou. para ele, não há como fazer inovação no brasil sem as uni- versidades. “os doutores es- tão lá, em sua grande maioria. os núcleos, as ilhas, os oásis de ciência e tecnologia do brasil estão nas universidades, e é impossível pensar diferen- te”, considerou. Justamente por isso, estefen acredita que a inovação não será feita nas empresas, por- que ela s não investem em pesquisadores. “elas têm que investir nisso primeiro para, depois, fazer inovação. elas são incipientes, não inves- tem em p&d. temos empre- sas familiares equivalentes às da Coreia do sul, que são as nossas empreiteiras, mas não investem em p&d”, lembrou. o professor avalia que é pre- ciso, primeiro, pensar onde estão os recursos para, a par- tir daí, construir a inovação. www.senado.gov.br/emdiscussao  17
  • 18. REALIDADE BRASILEIRA País ainda constrói bases para inovação Baixo investimento em pesquisa, falhas na educação e pouca participação da indústria deixam Brasil longe dos líderes mundiais. Mas formação de pesquisadores avança C ada vez mais, a re- mundial, o Brasil busca agregar próprio conceito do transporte, lação entre conhe- valor à produção por meio de a matriz do transporte. A saída cimento científ ico uma política que leve a indús- para o futuro não está apenas na e c a p a c id a de de tria nacional a oferecer produtos inovação do combustível, mas inovação tecnológica se estrei- com competitividade internacio- na inovação do propósito do uso ta, colocando na liderança as nal. Caso contrário, continuará das inovações”. nações que mais investem em a ser, cada vez mais, fornecedor Apesar de ter um sistema edu- pesquisa. E o Brasil não vem se de matérias-primas (as chama- cacional falho, o Brasil também apresentando como uma delas. das commodities, ou seja, alimen- dispõe de alguns requisitos para O país é superado não apenas tos, minérios e petróleo bruto) que isso aconteça. O país possui pelos tradicionais países desen- para os países mais ricos. hoje grande estrutura de pesqui- volvidos, mas também, a partir Para mudar a situação, o sa, forma milhares de pesquisa- da década de 1990, por países senador Cristovam Buarque dores, que produzem e publicam emergentes, em especial China (PDT-DF) resumiu a situação os resultados das descobertas em e Coreia do Sul, que percebe- atual e o que precisa ser feito revistas científicas. ram mais cedo a necessidade de para que o país adote nova pos- No entanto, os dados tam- investir pesado em educa- tura e vire o jogo. “O simples bém demonstram que a indús- ção e montar um sistema uso de ciência e tecnologia para tria participa pouco do esforço de inovação dinâmico e continuar produzindo a mesma nacional para inovar, muito eficiente, capaz de con- cesta de bens não vai dar resul- abaixo do que o setor prati- correr, inclusive, com as tados. Por exemplo, a ciência e a ca nos países que lideram os grandes potências. tecnologia que colocam baterias rankings de inovação. Para se tornar elétricas em automóveis, que co- Em Discussão! apresenta efetivamente locam os chamados combustí- nas próximas páginas dados uma lide- veis verdes no lugar de gasolina que demonstram a situação bra- rança não bastam para construir uma sileira na corrida pela evolução sociedade nova. Para uma nova no mundo, comparando-a com sociedade, é preciso mudar o a de outros países. 18  setembro de 2012
  • 20. Commodities dominam pauta de exportações Embora nos últimos anos o madeira). Ao mesmo tempo em produtos intensivos em recur- Brasil tenha se beneficiado de que o país é beneficiado por essa sos naturais é de apenas 9,3%), circunstâncias econômicas ex- produção, a avaliação é de que se Estados Unidos (15%), México ternas e internas especialmente trata de uma pauta de exportação (23%) ou Índia (29%), percebe- favoráveis, economistas alertam muito vulnerável a variações nos -se que há um equilíbrio entre para a crescente participação de preços internacionais e ao padrão esses produtos e os de valor tec- produtos primários na matriz de consumo de outros países. nológico agregado (veja infográ- de exportação brasileira. Quase Ao se analisar as matrizes de fico na pág. 22). Só para se ter metade (48%) dela é composta exportação de outros países que uma ideia, a participação dos por produtos in natura (princi- participam ativamente do co- produtos intensivos em recur- palmente produtos agropecu- mércio internacional, como a sos naturais em todo o comércio ários, minérios, petróleo, gás e China (onde a participação dos mundial é de apenas 26%, média rodrigo leAl/AppA 20  setembro de 2012
  • 21. Realidade brasileira bastante inferior ao percentual Hoje, segundo o Ministério Consequentemente, o déficit brasileiro. da Ciência, Tecnologia e Inova- n a b a l a nç a c ome rc i a l do s ção (MCTI), mais de 60% das segmentos de média-alta e alta Reprimarização exportações brasileiras são cons- tecnologia, segundo o MCTI, A chamada “reprimarização” da tituídas de produtos não indus- passou de US$ 10,1 bilhões em pauta de exportações do país já é triais ou de relativamente baixa 2007 para US$ 28,4 bilhões em um fato, de acordo com o Instituto intensidade tecnológica (com- 2010, um aumento de 184% . de Pesquisa Econômica Aplicada modities, produtos intensivos em Os componentes eletrônicos, (Ipea). Entre 2007 e 2010, a par- mão de obra e recursos naturais) por exemplo, em especial os se- ticipação das commodities na pauta e menos de 30% são produtos de micondutores e displays (opto- de exportações brasileiras saltou de maior conteúdo tecnológico. Há eletrônicos), com um mercado 41% para 51%, depois de ficar em sete anos o país exportava 3,77% mundial estimado, em 2010, em torno dos 40% durante todos os de todas as commodities nego- US$ 410 bilhões, representam anos 1990. Os dados são do estudo ciadas no mundo. Em 2009, a cerca de 80% das importações A Primarização da Pauta de Expor- participação subiu para 4,66%, de componentes eletrônicos (cer- tações no Brasil: ainda um dilema, índice bastante superior à par- ca de US$ 6 bilhões em 2010). dos pesquisadores Fernanda De ticipação do Brasil no total do Outro setor que importa mui- Negri e Gustavo Varela Alvarenga comércio internacional, estimado to é o da saúde, responsável por (veja infográfico abaixo). em cerca de 1,5%. um déficit de US$ 10 bilhões na Ou seja, desde 2005 vem cain- balança comercial do Brasil em do a participação do país nas ex- 2010. portações mundiais em todas as Por outro lado, no mercado de Porto de Paranaguá, no Paraná: quase demais categorias. Enquanto em alta tecnologia, Índia, Indonésia, metade das exportações brasileiras 2005 o país detinha 0,94% do Malásia, Filipinas, Cingapura, ainda é composta de produtos primários, como grãos, minérios, total das exportações mundiais Coreia do Sul, Taiwan e Tailân- petróleo e madeira de produtos de média intensidade dia, na Ásia, exportaram mais tecnológica, em 2009 o percen- de US$ 550 bilhões no período tual caiu para 0,74%. Já a contri- 1998 –2010, enquanto a Chi- buição do Brasil para o total de na, sozinha, vendeu ao resto do exportações mundiais de produtos mundo mais de US$ 450 bilhões de alta intensidade tecnológica no mesmo período. foi de 0,5% para 0,49% no mes- mo período, segundo o estudo do Desindustrialização Ipea. Como se vê, índice bastan- De acordo com os pesquisa- te inferior à participação nacional dores do Ipea, além da conjun- nas trocas entre os países. tura dos últimos 15 anos, a atual Índice de produtos complexos nas exportações é baixo Brasil vende poucos produtos de alta tecnologia: entre 2005 e 2009, a participação oscilou de 0,5% para 0,49% do total exportado no mundo 100 5 7 8 8 7 9 11 11 13 13 14 18 16 15 12 12 12 12 12 11 11 9 80 19 18 18 17 19 20 20 18 14 16 13 60 8 10 7 6 8 7 8 10 8 8 9 6 13 7 14 13 13 12 11 10 9 7 51 49 40 41 43 37 39 39 40 39 38 39 20 0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Commodities primárias Trabalho e recursos naturais Baixa intensidade Média intensidade Alta intensidade Outros Fonte: A Primarização da Pauta de Exportações no Brasil: ainda um dilema, Fernanda De Negri e Gustavo Varela Alvarenga, Ipea, 2010 www.senado.gov.br/emdiscussao  21
  • 22. Participação das commodities nas vendas brasileiras ao sou a perda na balança comercial representada pela menor compe- exterior aumenta e indústria perde competitividade titividade da indústria brasileira % no mercado internacional. Em- 80 bora os autores do Ipea conside- 71% 70 68% rem cedo para diagnosticar uma 62% “desindustrialização” do país, já 60 56% 48% que tem havido um aumento da 50 42% produção provocado pela cres- 40 cente demanda doméstica, eles 29% 30 23% 26% alertam que esse não é um ciclo 20 15% sustentável em longo prazo. 9,3% 10 Cenário 0 China EUA México Mundial Índia Canadá Brasil Chile Austrália Argentina Rússia O MCTI, em seu Balanço das Atividades Estruturantes 2011, considera que o cenário global Agropecuária Extração mineral Petróleo e álcool Alimentos e bebidas seguirá muito favorável às expor- Madeira Papel e celulose Minerais não metálicos tações de commodities, mantendo Fonte: BNDES, Visão de Desenvolvimento, nº 36, 2007 a elevada rentabilidade relativa desses produtos frente aos pro- dutos industrializados. Assim, os produtos primários tendem Brasil não figura entre exportadores de alta tecnologia a dominar a pauta de exporta- ções brasileiras por muito tempo Mesmo países emergentes, que há poucas décadas tinham desempenho ainda. tímido, como a Coreia do Sul, conseguiram saltar muito à frente em inovação O maior risco para o país, se- U$S (bilhões) gundo o ministério, é a acomo- 700 dação a essa condição de grande produtor e exportador de com- 600 Ásia* modities, que momentaneamente China traz divisas e desenvolvimento, 500 União Europeia** desviando a atenção da impor- Estados Unidos tância de investir em inovação e 400 Resto do mundo Japão tecnologia. O resultado no lon- go prazo seria um aumento cada 300 vez maior da vulnerabilidade do país à flutuação dos preços inter- 200 nacionais do petróleo, alimentos e minérios, e uma dependência 100 cada vez maior da importação de 0 produtos de alto valor agregado, 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 com forte impacto sobre a balan- *Cingapura, Coreia do Sul, Filipinas, Índia, Indonésia, Malásia, Tailândia e Taiwan ça comercial. **Excluídas as exportações entre os países do bloco econômico México e Holanda são exem- Fonte: Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, 2012 plos do que pode dar errado quando um país se empolga com a rentabilidade de produtos pri- crise econômica internacional das commodities importadas pela mários e deixa o setor industrial também contribuiu para a pri- China vinham do Brasil. à míngua de investimentos em marização da matriz brasileira de Além do bom desempenho das inovação. O primeiro tornou-se exportações. Mostra disso é que, commodities e da atração que o mero montador de produtos de em 2009, enquanto o comércio país exerce sobre os capitais in- mais alta complexidade tecnoló- mundial caiu 22%, o crescimen- ternacionais na crise, que man- gica, enquanto o segundo sofreu to da economia chinesa diminuiu têm o real forte e encarecem os na década de 1960 a chamada apenas 11%, e o país se consoli- produtos brasileiros, facilitan- “doença holandesa”: benefician- dou como o principal parceiro do as importações, a primari- do-se do boom dos preços do gás, comercial do Brasil. Entre 2000 zação resulta também da perda o que aumentou substancialmen- e 2009, a participação dos pro- de competitividade da indústria te as receitas de exportação, o dutos brasileiros no total das nacional por falta de inovação. país deixou de investir na indús- importações chinesas cresceu de Para De Negri e Alvarenga, o tria, que sofreu uma dramática 0,49% para 2%. Em 2009, 2,5% boom das commodities compen- perda de competitividade. 22  setembro de 2012