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Espiritismo é Cristão
Uma resposta ao livro “O Espiritismo Segundo Jesus Cristo”, de Israel Belo de Azevedo.
Rogério André
Introdução.
Nasci numa família espírita, e desde criança me acostumei a ver os ataques ao Espiritismo,
principalmente dos evangélicos. Passei a debater no mundo virtual nos anos 90 com eles, e posso
dizer que os argumentos são sempre os mesmos.
Criei em 2011 um blog, “Espiritismo é Cristão”(http://espiritismoehcristao.blogspot.com.br ),
contendo todos os argumentos em defesa do Espiritismo que acumulei após anos de debates.
Recentemente, caiu em minhas mãos o livro “O Espiritismo Segundo Jesus Cristo”, do pastor
Israel Belo de Azevedo. Os argumentos, como sempre, os mesmos. Notável também a preocupação
do pastor com o crescimento do Espiritismo, pois, já na contracapa, faz menção ao “número
expressivo de adeptos”. Dai mais uma vez o interesse daqueles que vivem da religião e não para a
religião(para o próximo) em atacar aquela doutrina que segue como nenhuma outra o “dai de graça
o que de graça recebeste”, ensinado por Jesus.
Nesta obra, me proponho a rebater os argumentos anti-espíritas do pastor, contidos na primeira
parte de seu livro, intitulada “Encontros e desencontros de dois mundos”. A segunda parte, “Para ler
a Bíblia com inteligência e fé”, não discorre sobre o Espiritismo, e por isso não será tratada aqui.
Rogério André
Rio de Janeiro/RJ
15 de Agosto de 2013
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Respondendo ao prefácio.
Começa o autor, relatando o encontro que teve com uma pesquisadora que se dizia “espirita cristã”,
e dizendo que isso lhe causou a estranheza que o levou a escrever seu livro.
E diz, por fim, tentando provar que espírita não pode ser cristão:
“Não trago para o âmbito de nossa conversa o argumento moral, pois há muitos
espíritas que são cristãos de atitude, por causa dos valores que regem suas vidas,
valores derivados dos ensinos de Jesus Cristo. Mas isso não faz deles cristãos. O
argumento moral aprovaria o espiritismo, ao mesmo tempo em que reprovaria
muitos cristãos, que não são cristãos de modo completo, pois, mesmo tendo sido
aprovados no plano teológico (por crerem nas verdades bíblicas), são reprovados
no plano moral, porque suas atitudes tristemente não condizem com os valores
propostos por Jesus Cristo.
Cristão é, portanto, aquele que passa por dois testes: o ético (moral) e o teológico.
Teologicamente falando, o cristianismo tem suas bases fincadas exclusivamente na
Bíblia, que traz não só os ensinos de Jesus Cristo para uma vida reta, mas também
os ensinos dele sobre si mesmo e sobre o presente e o futuro. No teste teológico,
infelizmente o espiritismo não passa, a começar pelo modo como vê a Bíblia. A
dificuldade maior, contudo, está no papel que Jesus Cristo ocupa na história e na
vida, pois ele é visto pelo espiritismo como um mestre, o que é muito pouco para
aquele que disse que quem o via via o Pai.”
Nos fala o pastor sobre um "teste teológico", ou seja, o apego as escrituras.
Pois bem, não era justamente o apego as escrituras dos fariseus, tão apegados aos escritos mas que
não praticavam os mandamentos, que Jesus mais combatia? Não é esse justamente o ensino claro na
parábola do bom samaritano: importa a Deus nossas atitudes para com o próximo e não o apego as
Escrituras?
Leiam e tirem suas conclusões sobre o ensino dessa parábola:
“" 25. Levantando-se um doutor da lei, experimentou-o, dizendo: Mestre, que farei para herdar
a vida eterna? 26. Respondeu-lhe Jesus: Que é o que está escrito na Lei? como lês tu? 27.
Respondeu ele: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de toda a
tua força e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. 28. Replicou-lhe Jesus:
Respondeste bem; faze isso, e viverás. 29. Ele, porém, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: E
quem é o meu próximo? 30. Prosseguindo Jesus, disse: Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e
caiu nas mãos de salteadores que, depois de o despirem e espancarem, se retiraram, deixando-o
meio morto. 31. Por uma coincidência descia por aquele caminho um sacerdote; quando o viu,
passou de largo. 32. Do mesmo modo também um levita, chegando ao lugar e vendo-o, passou de
largo. 33. Um samaritano, porém, que ia de viagem, aproximou-se do homem e, vendo-o, teve
compaixão dele. 34. Chegando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho e, pondo-o
sobre o seu animal, levou-o para uma hospedaria e tratou-o. 35. No dia seguinte tirou dois
denários, deu-os ao hospedeiro e disse: Trata-o e quanto gastares de mais, na volta eu to pagarei.
36. Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? 37.
Respondeu o doutor da lei: Aquele que usou de misericórdia para com ele. Disse-lhe Jesus: Vai-te,
e faze tu o mesmo. " (Lucas 10)
O povo samaritano era tido como herege pelos fariseus, tão apegados aos textos bíblicos. Jesus foi
perguntado sobre o que fazer para alcançar a vida eterna, e colocou justamente o samaritano como
exemplo. Aqueles tão apegados as escrituras não se importaram com o homem ferido,mas sim o
samaritano, e disse Jesus o colocando como exemplo a se seguir para alcançar a vida eterna: “Vá e
faça o mesmo”. Isso sem colocar outra condição, sem dizer que devemos crer que ele é Deus ou que
seu sangue nos salva.
Em meus debates com evangélicos, ainda não vi resposta satisfatória a esse ensino, tão contrário
a ideia da necessidade de ter que “crer em Jesus” para ser “salvo”. Insistem que Jesus apenas
ensinou quem era o próximo, que não estava a falar sobre "salvação" aqui.
Mas como não? A pergunta inicial foi o que deve ser feito para termos “vida eterna.” Jesus
respondeu perguntando o que dizem os mandamentos, e diante da resposta do homem ("Amai a
Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo"), Cristo disse para ele fazer isso, e fazer
para que? Para alcançar a vida eterna. E então, diante da dúvida do homem sobre quem seria o
próximo, ele contou a parábola colocando o samaritano como o exemplo de amor ao próximo.
Justamente um homem tido como herege. E disse Jesus novamente para que seu interlocutor fizesse
como fez o samaritano. Fazer como o samaritano para que? Para ter a “vida eterna”. É lógico, pois,
que todo o diálogo girava em torno disso. Foi a pergunta inicial. Portanto, se não bastasse o amor e
fossem ainda necessários teologismos e apego as escrituras, Jesus colocaria um doutor da lei como
exemplo, não acham? Sim, pois um doutor da lei, que possui conhecimentos teológicos, passara
pelo homem moribundo e não o socorrera. Mas o samaritano não passou pelo tal “crivo teológico”.
Para Cristo importa a prática de seus ensinamentos, crendo nas escrituras ou não. Se não crer, se
nem conhecimento sobre as escrituras a pessoa tem e coloca os ensinos em prática, melhor ainda,
pois pratica o bem por puro amor desinteressado. Esse o ensino na parábola do bom samaritano e
também do Espiritismo, conforme o lema “Fora da Caridade Não Há Salvação”.
Argumentam, ainda, dizendo que Jesus não havia ainda sido crucificado, e que, a partir de sua
morte e ressurreição, isso mudaria e a salvação se daria somente através da crença em Jesus como
“Deus encarnado que se sacrificou por nós”. Mas vamos analisar a situação. O que significa isso?
Que Jesus deu uma bela lição contra preconceito e intolerância, mas que a partir de sua ressurreição,
seria ele próprio intolerante e preconceituoso, mandando para o fogo eterno homens como aquele
samaritano só por não o idolatrarem como o Deus que se fez carne, morreu e ressuscitou? Eu não
acredito, por uma simples questão de lógica e, ainda, fé na bondade e amor do nosso Criador. Não
acredito em um Deus egoísta, que exige adoração até daqueles que viveram praticando o amor
como o daquele samaritano.
Aliás, os versículos abaixo foram escritos após a ressurreição do Cristo:
"pois para com Deus não há acepção de pessoas. Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei
também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados. Pois não são justos
diante de Deus os que só ouvem a lei; mas serão justificados os que praticam a lei " (Romanos
2:11-13)
"Deus não faz acepção de pessoas, mas é agradável a todo aquele que em qualquer nação o teme e
obra o que é justo". (Atos 10:34-25)
Está claro pra mim que, independentemente da crença pessoal de cada um, a prática das leis de
Deus agrada a Deus - o mesmo pensamento da parábola do bom samaritano.
Outro absurdo: o samaritano antes de Jesus estaria salvo, pois bastou demonstrar amor com seu
próximo. Chico Xavier, Gandhi, Dalai Lama e tantos outros que não seguem esse dogma absurdo
estão condenados, de acordo com o que pensam os católicos e evangélicos. Mas antes de Jesus
seriam justificados apenas pelas obras. Então, pergunto: Jesus veio para salvar ou, como um Deus
egoísta e cruel que exige uma adoração de tal e tal forma (Deus que se fez homem para tirar o
pecado do mundo simplesmente morrendo na cruz), condenar a maior parte da Humanidade?
Além do problema do tempo, de antes e depois de Jesus, há o problema do espaço: a maior parte
da Humanidade não vive no mundo considerado "cristão". Assim, todos estariam condenados
eternamente.
Diz a Confissão de Fé de Westminster"(item XVII), órgão máximo do presbiterianismo,
que"boas obras são somente aquelas que Deus recomendou em sua santa palavra, e não as que
sem esta garantia são inventadas por homens por um zelo cego ou sob o pretexto de qualquer boa
intenção. Obras feitas por homens não regenerados - embora em si mesmas possam ser matérias
que Deus ordena -são pecaminosas e não podem agradar a Deus"
Ou seja, o samaritano, tido como herege, é colocado como exemplo pelo Cristo. Hoje, se
um "herege" praticar uma boa ação, segundo a Confissão de Fé de Westminster", estará pecando.
O mesmo pensamento acontece dentro do Catolicismo. O Concílio de Trento, realizado de 1545 a
1563, anatematiza a doutrina da salvação somente pelas obras:
"811. Cân. 1. Se alguém disser que o homem pode ser justificado perante Deus pelas suas obras,
feitas ou segundo as forças da natureza, ou segundo a doutrina da Lei, sem a graça divina
[merecida] por Jesus Cristo — seja excomungado."
Recentemente o Papa Francisco disse que um ateu pode ser salvo se fizer o bem. Mas o porta-voz
do Vaticano, Thomas Rosica, contrariando a tal “infalibilidade papal” prontamente o contrariou,
dizendo que os ateus, bons ou maus, vão pro inferno: “os ateus continuam indo para o inferno se
não aceitarem Jesus Cristo como Senhor e Salvador”, disse Thomas.
Para os cristãos de hoje, não há diferença entre Chico Xavier, Hitler, Gandhi e Fernandinho Beira-
Mar. São todos "hereges" e vão pro inferno. Mas Jesus Cristo não pensava assim, e ninguém melhor
do que ele, e não o pastor Israel, para nos dizer quem merece ser chamado de Cristão:
“Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros.” (João 13:35)
“Onde estiverem reunidos, em Meu nome, dois ou três, lá estarei no meio deles” (Mateus 18:20)
Cadê o "crivo teológico", pastor?
Até mesmo no Julgamento em Mateus (25:31-46), Jesus coloca como condição única da
salvação a prática do amor ao próximo: 'Vinde, benditos do meu pai! Entrai na posse do reino que
vos está preparado desde a fundação do mundo. Por que tive fome e me destes de comer; tive sede
e me destes de beber; era forasteiro e me hospedastes; estava nu e me vestistes; enfermo e me
visitastes; preso e fostes ver-me' (Mateus 25:34-36) e ainda “sempre que o fizestes a um destes
meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” (Mateus 25:40)
Se Jesus nos ensina em todo o Evangelho que o que agrada a Deus é o amor desinteressado e não
acreditar que ele é Deus, Salvador e que seu sangue tira os pecados, quem nos provará que não é
assim?
Agora, se alguns da época do Cristo, de forma literal ou simplesmente poética, relacionaram o
sacrifício de Jesus com o costume bárbaro de matar animais para "tirar pecados", eu fico com as
palavras do Jesus e não daqueles. Eu sigo a Jesus, não a Paulo ou outro apóstolo. E claro está que
para o Mestre até um "herege"(para os fariseus, um samaritano era herege assim como para muitos
um espírita também é) terá a vida eterna por simplesmente amar ao próximo: “ a cada um segundo
suas obras.” (Mateus 16:27).
Até porque, se a morte do Cristo foi para tirar pecados da Humanidade, será necessário matar
outro Cristo. Sim, pois, se for como nos sacrifícios bárbaros, a morte dele foi para tirar os pecados
cometidos até então, e não os cometidos até hoje.
Quem via a Cristo via ao Pai, pois, sendo Jesus um enviado de Deus(e ninguém envia a si
próprio), Deus nele se manifestava em suas ações e palavras, e não porque Cristo seja Deus e muito
menos somos obrigados a crer nisso para sermos Cristãos.
Respondendo a “Três Valores Espíritas”.
No capítulo inicial, em resumo, o que o autor faz é citar o que considera três virtudes do
Espiritismo: a importância que dá ao estudo e a Ciência, o respeito à outras religiões e o amor ao
próximo, mas ainda insistindo o autor em dizer que, para ele, Espiritismo não pode ser considerado
cristão apenas por isso, que essas virtudes estão presentes em várias outras religiões, e que o
importante é também o já citado “crivo teológico”, o apego ao que diz a Bíblia. Insiste o pastor que
Cristianismo “não considera a moral como sendo preponderante. Ao lado da moral
também coloca a questão teológica. Como já dissemos, a fé cristã têm suas bases
fincadas exclusivamente na Bíblia e só pode se considerar cristão quem passa
pelos dois testes: o ético e o teológico”.
Dizer que a moral não é preponderante, francamente, é negar tudo o que Jesus disse, e que
relembrei no capítulo anterior. O que mais fez Jesus em sua vida foi nos trazer ensinamentos e mais
ensinamentos, não teria ele nos ensinado em vão tantas coisas, como, entre outros exemplos:
"Se sabeis destas coisas, bem-aventurados sereis se as praticardes" (13:17)
"Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e
glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus"(Mateus 5:16)
"Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele; para que não
aconteça que o adversário te entregue ao guarda, e sejas lançado na prisão. " (Mateus 5:25)
"Eu, porém, vos digo que não resistais ao homem mau; mas a qualquer que te bater na face
direita, oferece-lhe também a outra" (Mateus 5:39)
"Dá a quem te pedir, e não voltes as costas ao que quiser que lhe emprestes. " (Mateus 5:42)
"Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem;" (Mateus
5:44)
"Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial. " (Mateus 5:48)
"Não ajunteis para vós tesouros na terra; onde a traça e a ferrugem os consomem, e onde os
ladrões minam e roubam; mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a
ferrugem os consumem, e onde os ladrões não minam nem roubam." (Mateus 6:19-20)
"Hipócrita! tira primeiro a trave do teu olho; e então verás bem para tirar o argueiro do olho
do teu irmão. " (Mateus 7:5)
"Quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que também
vosso Pai que está no céu, vos perdoe as vossas ofensas." (Marcos 11:25)
"Amai, porém a vossos inimigos, fazei bem e emprestai, nunca desanimado; e grande será a
vossa recompensa, e sereis filhos do Altíssimo; porque ele é benigno até para com os
integrantes e maus. " (Lucas 6:35)
"Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis
perdoados. " (Lucas 6:37)
"E disse ao povo: Acautelai-vos e guardai-vos de toda espécie de cobiça; porque a vida do
homem não consiste na abundância das coisas que possui" (Lucas 12:15)
"Vendei o que possuís, e dai esmolas. Fazei para vós bolsas que não envelheçam; tesouro nos
céus que jamais acabe, aonde não chega ladrão e a traça não rói. " (Lucas 12:33)
"Não julgueis pela aparência mas julgai segundo o reto juízo. " (João 7:24)
O ensino do amor ao próximo está presente em outras religiões. Mas Jesus é o único a ensinar
que devemos amar também nossos inimigos, que devemos perdoar infinitamente, “dar a outra
face”....
Insiste o pastor que o Cristianismo “não crê que todos os caminhos levam a Deus, mas
sim que Jesus Cristo é o único caminho, a verdade e a vida.”.
Ele é o caminho, naquilo que ele representa: no exemplo e nos ensinos que nos deixou. Quando
a Humanidade finalmente entender essa mensagem tão simples e deixar de se apegar a teologismos,
a preconceitos, a intolerância, a ataques a quem se considera como “pecadores”, a uma busca
egoísta pela sua própria “salvação” sabe-se lá do que, aqui na Terra reinará a paz, cumprindo a
missão do Cristo. Não parece fácil, pois, como disse bem Roberto Carlos em “Todos Estão Surdos”:
“Tanta gente se esqueceu. Que o amor só traz o bem. Que a covardia é surda. E só ouve o que
convém . Tanta gente se afastou Do caminho que é de luz. Pouca gente se lembrou. Da mensagem
que há na cruz “.
Roberto Carlos nessa música nos diz justamente sobre a verdadeira missão do Cristo que foi
esquecida. E nisso está a maior importância do Espiritismo, tão chamado de “demoníaco”.
Importante ainda observar que a expressão "andar nos caminhos do Senhor" significa, no Antigo
Testamento, agir de acordo com a vontade de Deus, revelada em seus mandamentos, estatutos,
ordenanças, preceitos:
"Guarda as ordenanças do Senhor teu Deus, andando nos seus caminhos, e observando os seus
estatutos, os seus mandamentos, os seus preceitos e os seus testemunhos, como está escrito na lei de
Moisés, para que prosperes em tudo quanto fizeres e por onde quer que fores, " (I Reis 2:3)
"mas incline a si os nossos corações, a fim de andarmos em todos os seus caminhos, e guardarmos
os seus mandamentos, e os seus estatutos, e os seus preceitos, que ordenou a nossos pais." (I Reis
8:58)
A lei de Deus é chamada "O caminho do Senhor": "Então disse eu: Deveras eles são uns pobres;
são insensatos, pois não sabem o caminho do Senhor, nem a justiça do seu Deus. " (Jeremias 5:4).
Os Profetas se esforçam para convencer as pessoas da necessidade de seguir o"caminho do
Senhor", porque Israel sucumbe, vezes sem conta, à tentação de evitar as admoestações Divinas:
"depressa se desviou do caminho que eu lhe ordenei; eles fizeram para si um bezerro de fundição, e
adoraram-no, e lhe ofereceram sacrifícios, e disseram: Eis aqui, ó Israel, o teu deus, que te tirou da
terra do Egito." (Êxodo 32:8)
"Mas vós vos desviastes do caminho; a muitos fizestes tropeçar na lei; corrompestes o pacto de
Levi, diz o Senhor dos exércitos" (Malaquias 2:8)
Considerando-se as enormes dificuldades encontradas para manter-se fiel aos desígnios divinos,
pode-se entender a euforia do salmista:
"Pois tenho guardado os caminhos do Senhor, e não me apartei impiamente do meu Deus. " (Salmos
18:21)
Portanto, Cristo não é o caminho por causa do "sangue redentor" e sim por causa do exemplo e dos
ensinos que nos deixou. Seguir esse caminho é praticar os preceitos cristãos e não simplesmente se
batizar e crer que foi"lavado pelo sangue do Cristo".
Respondendo a “Duas Fontes Diferentes”.
Discorre o autor aqui sobre a Bíblia conforme entendida pelos espíritas e pelos evangélicos:“A
primeira pergunta que deve ser feita a qualquer credo que se diz cristão é: Qual a
fonte dos seus ensinos? Em outras palavras, de onde vem aquilo que esse credo
afirma e ensina sobre a vida em geral e a fé em particular?
O Cristianismo extrai seus ensinos da Bíblia Sagrada (Antigo Testamento e Novo
Testamento), um conjunto de livros que os cristãos consideram inspirados por
Deus para orientar as pessoas em todas as questões da vida. A inspiração da Bíblia
pode ser entendida como um processo através do qual Deus atuou para comunicar
objetivamente sua vontade aos seres humanos”.
Mais à frente diz o pastor que “o correto é sempre deixar a Bíblia falar, mesmo que
isso incomode”.
Ao longo de seu livro o autor sempre lembra que essa regra acima tem que ser seguida. Já vimos no
caso do julgamento em Mateus 25 e na parábola do bom samaritano, que entram em choque com a
ideia da salvação através da crença no “Deus encarnado que morreu por nós”, que nem sempre os
evangélicos deixam simplesmente a Bíblia falar. Por sinal, veremos ao longo dessa obra como a
velha regra de interpretação, “a Bíblia interpreta a própria Bíblia”, só vale quando conveniente.
Será que a Bíblia, toda ela, é a "Palavra de Deus", "infalível", "perfeita", "sem contradições", etc?
No Sermão da Montanha, Jesus revogou algumas coisas do Antigo Testamento, retificando o que
era humano nas leis mosaicas: "Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. Eu,
porém, vos digo que não resistais ao homem mau; mas a qualquer que te bater na face direita,
oferece-lhe também a outra; e ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe
também a capa; e, se qualquer te obrigar a caminhar mil passos, vai com ele dois mil. Dá a
quem te pedir, e não voltes as costas ao que quiser que lhe emprestes. Ouvistes que foi dito:
Amarás ao teu próximo, e odiarás ao teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos
inimigos, e orai pelos que vos perseguem;para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos
céus; porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos.
Pois, se amardes aos que vos amam, que recompensa tereis? não fazem os publicanos também
o mesmo? E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis demais? não fazem os gentios
também o mesmo? Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial. " (Mateus
5:38-48)
Fossem todas elas ordens divinas, seriam então irrevogáveis.
Impossível provar que a Bíblia é inteiramente inspirada por Deus, ainda mais com tantas
comprovadas alterações e “erros” de tradução ao longo dos anos. Isso só interessa às igrejas que se
julgam donas da verdade, para poder manipular a massa, não dando a ela o direito de pensar, tendo
que aceitar a tudo sem questionar, já que as igrejas(a Católica e as diversas igrejas evangélicas),
julgam-se as únicas capazes de interpretar os textos bíblicos.
“Fica claro, por exemplo, que o protestantismo, pelo menos o analisado por Alves, se baseia num
equívoco. O livre exame, por exemplo, não existe. Tal como o católico, que, na análise da Bíblia
deve seguir uma autoridade - por exemplo, um papa infalível - o protestante também não é livre
para interpretar as Escrituras. Ele deve seguir o que se chama de "confissões", interpretações
elaboradas por pessoas consideradas entendidas do assunto. Só podem ser aceitas as "confissões"
aprovadas pelos poderes dominantes na comunidade protestante, ou seja, a fé passa a ser uma
questão de poder." ” - análise do livro "Protestantismo e Repressão" (Ed. Ática, 1979) feita por
Renato Pompeu na revista "Veja" de 10/10/1979.
Mais adiante continua o pastor: “Leio a Bíblia cotidianamente e vou impregnando a
minha mente do seu sábio e santo conteúdo”.
Vejamos alguns “sábios” e “santos” versículos da Bíblia:
"Cada um tome a sua espada e mate cada um a seu irmão, cada um a seu amigo, cada um a seu
vizinho" (Ex. 32:27)
"Nenhuma coisa que tem fôlego deixarás com vida" (Deut. 20:16)
"Se o povo de uma cidade incitar os moradores a servir outros deuses, destruirás ao fio de
espada tudo quanto nela houver, até os animais" (Deut. 13:12/15)
São ordens do “Deus” do Velho Testamento, e certamente não é o mesmo Deus Pai dos
Evangelhos, aquele que é somente amor por suas criaturas e que Jesus Cristo nos ensinou a amar e
não a temer.
Veja os versículos abaixo em Levitico 21:16-24 e raciocinem um pouco: um ato tão desumano de
preconceito teria vindo do próprio Deus?
“16 Disse mais o Senhor a Moisés: 17 Fala a Arão, dizendo: Ninguém dentre os teus descendentes,
por
todas as suas gerações, que tiver defeito, se chegará para oferecer o pão do seu Deus.
18 Pois nenhum homem que tiver algum defeito se chegará: como homem cego, ou coxo, ou de
nariz chato, ou de membros demasiadamente compridos, 19 ou homem que tiver o pé quebrado, ou
a mão quebrada, 20 ou for corcunda, ou anão, ou que tiver belida, ou sarna, ou impigens, ou que
tiver testículo lesado; 21 nenhum homem dentre os descendentes de Arão, o sacerdote, que tiver
algum defeito, se chegará para oferecer as ofertas queimadas do Senhor; ele tem defeito; não se
chegará para oferecer o pão do seu Deus.
22 Comerá do pão do seu Deus, tanto do santíssimo como do santo; 23 contudo, não entrará até o
véu, nem se chegará ao altar, porquanto tem defeito; para que não profane os meus santuários;
porque eu sou o Senhor que os santifico. 24 Moisés, pois, assim falou a Arão e a seus filhos, e a
todos os filhos de Israel. “
Paulo demonstrando claramente sua misoginia, muito comum à época, em I Coríntios, 14/34,
35: "As vossas mulheres devem ficar caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas
estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em
casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja"
A Bíblia coloca a mulher numa situação inferior. No Velho Testamento, então, registram-se
passagens lamentáveis, a respeito do conceito que a mulher tem, conforme aquilo que se chama de
"palavra de Deus".
"Quando pelejarem dois homens, um contra o outro, e a mulher de um chegar para livrar o seu
marido da mão do que o fere, e ela estender a sua mão, e lhe pegar pelas suas vergonhas, então
cortar-lhe-às as mãos, não a poupará o teu olho" (Deut. 25:11)
Uma passagem bíblica alega que "Deus" permitiu ao Rei Salomão (um assassino terrível) ter 300
mulheres e 700 concubinas, ainda o considerando como um dos seus "eleitos". Há um caso,
também, em que o próprio "Deus" sugere a Isaac inventar para o Faraó que a sua própria esposa era
sua irmã, para que ele, o Faraó, pudesse se aproveitar bem dela, em troca de ouro e prata.
" Quando um homem tomar uma mulher e se casar com ela, então será que, se não achar graça em
seus olhos, por nela encontrar coisas indecentes, far-lhe-á uma carta de repúdio, e lhe dará na sua
mão, e a despedirá de sua casa. Se ela, pois, saindo de sua casa, for e se casar com outro homem, e
este também a desprezar, e lhe fizer carta de repúdio, e lhe der na sua mão, e a despedir de sua casa,
ou se este último homem, que a tomou para si por mulher, vier a morrer, então seu primeiro marido
que a despediu, não poderá tornar a tomá-la, para que seja sua mulher, depois que foi contaminada;
pois é abominação perante o Senhor" (Deut. 24: 1, 2, 3, 4)
Veja que Cristo contrariou a ordem acima:
" 2 Então se aproximaram dele alguns fariseus e, para o experimentarem, lhe perguntaram: É lícito
ao homem repudiar sua mulher?
3 Ele, porém, respondeu-lhes: Que vos ordenou Moisés?
4 Replicaram eles: Moisés permitiu escrever carta de divórcio, e repudiar a mulher.
5 Disse-lhes Jesus: Pela dureza dos vossos corações ele vos deixou escrito esse mandamento.
6 Mas desde o princípio da criação, Deus os fez homem e mulher.
7 Por isso deixará o homem a seu pai e a sua mãe, [e unir-se-á à sua mulher,]
8 e serão os dois uma só carne; assim já não são mais dois, mas uma só carne.
9 Porquanto o que Deus ajuntou, não o separe o homem.
10 Em casa os discípulos interrogaram-no de novo sobre isso.
11 Ao que lhes respondeu: Qualquer que repudiar sua mulher e casar com outra comete adultério
contra ela;
12 e se ela repudiar seu marido e casar com outro, comete adultério." (Marcos 10)
Evidente que era lei de Moisés, para um determinado povo, e não lei de Deus, pois as leis de Deus são
imutáveis, e essas Jesus dizia que veio complementar e não anular.
Lv 12,2: “Fala aos filhos de Israel: Se uma mulher conceber e tiver um menino,
será imunda sete dias, como nos dias da sua menstruação será imunda”.
Lendo esses versículos, entendemos porque evangélicos no Brasil hoje não são apenas
homofóbicos, mas misóginos, como o pastor Marcos Feliciano, que já se declarou contra a luta
pelos direitos das mulheres.
Entendemos também porque são intolerantes com outras religiões. Em Deut. 13:6, 9 e 10, há uma
ordem de matar a pedradas os adeptos de outras crenças. Uma apologia à intolerância religiosa.
Deus gosta de sacrifícios de animais? Em Levítico 22:17-18 "Deus" ordena que a oferta a ser
oferecida no altar seja de animais sem defeito. E é mais exigente ainda, quando determina que não
devam ser ofertados bichos que tiverem testículos machucados, ou moídos, ou arrancados, ou
cortados (Levítico 22:24).
Mais:
"Se oferecer um animal do rebanho como sacrifício de comunhão ao Senhor, trará um macho ou
uma fêmea sem defeito.” (Levítico 3:6)
Deus, o Criador, onipresente, nosso Pai, aceitando ofertas de animais mortos, como nos despachos
de candomblé, por si só já é algo que causa estranheza. Ainda mais, sendo exigente dessa forma. E
os textos ainda nos dizem que Deus “se comprazia com o cheiro dos animais imolados em
holocausto" (Números 29:36).
Os sacrifícios de animais lembram e muito aqueles do candomblé em nossos dias. É claro, pois nada
mudou do passado para hoje. Eram espíritos ainda atrasados tidos como divindades, igual em um
centro de candomblé.
Kardec diz em O Livro dos Espíritos:
"Os antigos figuravam os deuses tomando o partido deste ou daquele povo. Esses deuses eram
simplesmente Espíritos representados por alegorias.". Diz ele também, no mesmo livro: "os
antigos fizeram, desses Espíritos, divindades especiais. As Musas não eram senão a personificação
alegórica dos Espíritos protetores das ciências e das artes, como os deuses Lares e Penates
simbolizavam os Espíritos protetores da família. Também modernamente, as artes, as diferentes
indústrias, as cidades, os países têm seus patronos, que mais não são do que Espíritos superiores,
sob várias designações".
E mais à frente no mesmo livro Kardec pergunta, os espíritos respondem e ele dá a conclusão final:
“537. A mitologia dos antigos se fundava inteiramente em idéias espíritas, com a única diferença
de que consideravam os Espíritos como divindades. Representavam esses deuses ou esses Espíritos
com atribuições especiais. Assim, uns eram encarregados dos ventos, outros do raio, outros de
presidir ao fenômeno da vegetação, etc. Semelhante crença é totalmente destituída de fundamento?
“Tão pouco destituída é de fundamento, que ainda está muito aquém da verdade.”
a) - Poderá então haver Espíritos que habitem o interior da Terra e presidam aos fenômenos
geológicos?
“Tais Espíritos não habitam positivamente a Terra. Presidem aos fenômenos e os dirigem de
acordo com as atribuições que têm. Dia virá em que recebereis a explicação de todos esses
fenômenos e os compreendereis melhor.”
(...)
668. Tendo-se produzido em todos os tempos e sendo conhecidos desde as primeiras idades do
mundo, não haverão os fenômenos espíritas contribuído para a difusão da crença na pluralidade
dos deuses?
“Sem dúvida, porquanto, chamando deus a tudo o que era sobre-humano, os homens tinham por
deuses os Espíritos. Daí veio que, quando um homem, pelas suas ações, pelo seu gênio, ou por um
poder oculto que o vulgo não lograva compreender, se distinguia dos demais, faziam dele um deus
e, por sua morte, lhe rendiam culto.”
Comentário de Kardec: “A palavra deus tinha, entre os antigos, acepção muito ampla. Não
indicava, como presentemente, uma personificação do Senhor da Natureza. Era uma qualificação
genérica, que se dava a todo ser existente fora das condições da Humanidade. Ora, tendo-lhes as
manifestações espíritas revelado a existência de seres incorpóreos a atuarem como potência da
Natureza, a esses seres deram eles o nome de deuses, como lhes damos atualmente o de Espíritos.
Pura questão de palavras, com a única diferença de que, na ignorância em que se achavam,
mantida intencionalmente pelos que nisso tinham interesse, eles erigiram templos e altares muito
lucrativos a tais deuses, ao passo que hoje os consideramos simples criaturas como nós, mais ou
menos perfeitas e despidas de seus invólucros terrestres. Se estudarmos atentamente os diversos
atributos das divindades pagãs, reconheceremos, sem esforço, todos os de que vemos dotados os
Espíritos nos diferentes graus da escala espírita, o estado físico em que se encontram nos mundos
superiores, todas as propriedades do perispírito e os papéis que desempenham nas coisas da Terra.
Vindo iluminar o mundo com a sua divina luz, o Cristianismo não se propôs destruir uma coisa que
está na Natureza. Orientou, porém, a adoração para Aquele a quem é devida. Quanto aos
Espíritos, a lembrança deles se há perpetuado, conforme os povos, sob diversos nomes, e suas
manifestações, que nunca deixaram de produzir-se, foram interpretadas de maneiras diferentes e
muitas vezes exploradas sob o prestígio do mistério. Enquanto para a religião essas manifestações
eram fenômenos miraculosos, para os incrédulos sempre foram embustes. Hoje, mercê de um
estudo mais sério, feito à luz meridiana, o Espiritismo, escoimado das idéias supersticiosas que o
ensombraram durante séculos, nos revela um dos maiores e mais sublimes princípios da Natureza"
Lemos também no Livro dos Espíritos:
“669. Remonta à mais alta Antigüidade o uso dos sacrifícios humanos. Como se explica que o
homem tenha sido levado a crer que tais coisas pudessem agradar a Deus?
“Principalmente, porque não compreendia Deus como sendo a fonte da bondade. Nos povos
primitivos a matéria sobrepuja o espírito; eles se entregam aos instintos do animal selvagem. Por
isso é que, em geral, são cruéis; é que neles o senso moral, ainda não se acha desenvolvido. Em
segundo lugar, é natural que os homens primitivos acreditassem ter uma criatura animada muito
mais valor, aos olhos de Deus, do que um corpo material. Foi isto que os levou a imolarem,
primeiro, animais e, mais tarde, homens. De conformidade com a falsa crença que possuíam,
pensavam que o valor do sacrifício era proporcional à importância da vítima. Na vida material,
como geralmente a praticais, se houverdes de oferecer a alguém um presente, escolhê-lo-eis sempre
de tanto maior valor quanto mais afeto e consideração quiserdes testemunhar a esse alguém. Assim
tinha que ser, com relação a Deus, entre homens ignorantes.”
a) - De modo que os sacrifícios de animais precederam os sacrifícios humanos?
“Sobre isso não pode haver a menor dúvida.”
Somente espíritos atrasados, ligados a matéria, se deliciam com o sangue de animais. Vejamos esse
relato do espírito André Luiz, através da psicografia de Chico Xavier, no livro "Missionários da
Luz":
"Diante do local em que se processava a matança dos bovinos, percebi um quadro estarrecedor.
Grande número de desencarnados, em lastimáveis condições, atiravam-se ao borbotões de sangue-
vivo, como se procurassem beber o líquido em sede devoradora...
Alexandre percebera o assombro doloroso que se apossara de mim e esclareceu-me com
serenidade:
- Está observando, André? Estes infelizes irmãos que nos não podem ver, pela deplorável situação
de embrutecimento e inferioridade, estão sugando as forças do plasma sanguíneo dos animais. São
famintos que causam piedade.
Poucas vezes, em toda a vida, eu experimentara tamanha repugnância. As cenas mais tristes das
zonas inferiores que, até ali, pudera observar, não me haviam impressionado com tamanho
amargor. Desencarnados à procura de alimentos daquela espécie? Matadouro cheio de entidades
perversas? Que significa tudo aquilo? Lembrei meus reduzidos estudos de História, remontando-
me à época em que as gerações primitivas ofereciam aos supostos deuses o sangue de touros e
cabritos. Estaria ali, naquele quadro horripilante, a representação antiga dos sacrifícios em altares
de pedra? Deixei que as primeiras impressões me incandescessem o cérebro, a ponto de sentir,
como noutro tempo, que minhas idéias vagueavam em turbilhão.
Alexandre, contudo, solicito como sempre, acercou-se mais carinhosamente de mim e explicou:
- Por que tamanha sensação de pavor, meu amigo? Saia de si mesmo, quebre a concha da
interpretação pessoal e venha para o campo largo da justificação. Não visitamos, nós ambos, na
esfera da Crosta, os açougues mais diversos? Lembro-me de que em meu antigo lar terrestre havia
sempre grande contentamento familiar pela matança dos porcos. A carcaça de carne e gordura
significava abundância da cozinha e conforto do estômago. Com o mesmo direito, acercam-se os
desencarnados, tão inferiores quanto já o fomos, dos animais mortos, cujo sangue fumegante lhes
oferece vigorosos elementos vitais. Sem dúvida, o quadro é lastimável; não nos compete, porém,
lavrar as condenações. Cada coisa, cada ser, cada alma, permanece no processo evolutivo que lhe
é próprio. E se já passamos pelas estações inferiores, compreendendo como é difícil a melhoria no
plano de elevação, devemos guardar a disposição legítima de auxiliar sempre, mobilizando as
melhores possibilidades ao nosso alcance, a serviço do próximo."
Outra semelhança com os cultos afro-brasileiros está no urim e o tumim. Sobre essa forma de se
comunicar com "Deus" no Velho Testamento, que lembra o jogo de búzios, lemos no Dicionário
Bíblico Universal: "Palavras de sentido incerto: designam uma técnica divinatória que consiste
em tirar a sorte várias vezes, usando duas pedrinhas ou bastõezinhos ou algum objeto semelhante.
Um dos objetos trazia a primeira letra do alfabeto, o alef, inicial de urim, e o outro a última letra,
o tau (cf. Ez 9,4), inicial de tumim? Pode-se imaginar isso. O modo como funcionava aparece em 1
Sm 13, 41-42, corrigido segundo o grego: “Saul disse: ‘Se a culpa está em mim... o Senhor... faça
dar urim; se a culpa está em Israel, que dê tumim!’Saul... foi designado. Saul disse: ‘Lançai a
sorte sobre mim e meu filho Jônatas!’, e a sorte caiu em Jônatas”. Trata-se portanto de uma
resposta por sim ou não, que vai progredindo por precisões sucessivas (cf. 1 Sm 23, 9-12) A
operação poderia durar muito tempo (1 Sm 14, 18-19, corrigido segundo o grego). Acontecia às
vezes que o oráculo se recusava a responder (1 Sm 14, 37, 28, 6). Sem dúvida, quando não saía
nada ou quando os dois resultados saíam ao mesmo tempo. A manipulação das sortes era confiada
ao sacerdote Eleazar (Nm 27, 21) ou à tribo de Levi (Dt 33, 8). Depois do reinado de Davi só se
encontra uma menção (Esd 2, 63 = Ne 7, 65)."
Um absurdo supor que Deus naqueles tempos, e somente naqueles tempos e não mais hoje, era
visto e ouvido pelas pessoas, descendo das nuvens, falando face a face com os homens. Mas se
conhecemos hoje a realidade da mediunidade e é um fato que ela sempre existiu, como podemos ver
na analogia em diversos pontos entre os cultos afro-brasileiros de hoje em dia e os relatos bíblicos,
devemos então concluir o óbvio. Escreveu Kardec em A Gênese: "Os inúmeros fatos
contemporâneos de curas, aparições, possessões, dupla vista e outros, que se encontram relatados
na Revue Spirite e lembrados nas observações acima, oferecem, até quanto aos pormenores, tão
flagrante analogia com os que o Evangelho narra, que ressalta evidente a identidade dos efeitos e
das causas. Não se compreende que o mesmo fato tivesse hoje uma causa natural e que essa causa
fosse sobrenatural outrora; diabólica com uns e divina com outros. Se fora possível pô-los aqui em
confronto uns com os outros, a comparação mais fácil se tornaria; não o permitem, porém, o
número deles e os desenvolvimentos que a narrativa reclamaria".
"Falava Deus a Moisés face a face, como qualquer homem fala ao seu amigo" (Êxodo 33-11) e
contudo “Deus” advertiu Moisés: "Não poderás ver a minha face, porque homem nenhum verá a
minha face e viverá" (Êxodo 33:20) e em seguida abriu uma concessão: “ver-me-as pelas costas,
mas a minha face não se verá” (Êxodo 33:23). E no entanto o próprio Deus afirmou: “Eu falo com
Moisés boca a boca e ele vê a forma do Senhor” (Num. 12:8) e mais: “Cara a cara o Senhor falou
conosco no monte, no meio do fogo” (Deut. 5:4) e "(Moisés) a quem o Senhor conhecera cara a
cara" (Deut. 34:10). Finalmente, "Deus por duas vezes apareceu a Salomão" (I Reis 11:9).
Afinal, Deus foi visto ou não?
Acontece que podemos ver que o legislador hebreu não falava apenas com Javé (Yahweh), pois
era outro espírito que lhe dizia: "Vai ao povo e santifica-o hoje e amanhã, que no terceiro dia o
Senhor descerá" (Êxodo 19:10-11). Ou ainda: "Protesta ao povo para que não trespasse o
termo para ver o Senhor" (Êxodo 19:21). Um outro espírito mencionando o nome do Senhor. Mas
este outro Espírito também é chamado "Senhor" nas traduções, o que causa confusão.
Mas deve-se isso ao fato de que foram indistintamente traduzidas por "Senhor" e "Deus" as
palavras El, Yahweh, Elohá, e Elohim, que denominavam a Deus e a Espíritos de diversas classes,
desde a pureza de Elohá Yahweh e a superioridade de seus ministros, os Elohim, até a inferioridade
dos Refaim e Shedim(cf TORRES PASTORINO, La Reencarnación em el Antiguo Testamento,
Revista SPIRITVS, dezembro de 1964, p. 19-28).
Argumenta ainda, em outra parte, o afamado autor de "Minutos de Sabedoria": "Quando se trata
de DEUS O ABSOLUTO, sem forma, jamais criatura alguma poderá vê-lo, como está escrito em
Êxodo (33:20). Mas com YHWH é diferente (Números, 12:6-8).
Pastorino apresenta as seguintes palavras de Moisés como prova da existência de comunicação
dos hebreus com espíritos de diversas categorias, em Deut. 32:17-19: "... Inmolaron a los SHEDIM
e no a ELOHÁ, a ELOHIM desconocidos, nuevos, aparecidos ha pouco, no temidos por vuestros
padres. Olvidaste la ROCA que te engendró, y olvidaste a EL, que te dió el ser. Vió esto YHWH e
los despreció, enojado por los hijos e las hijas"(La Reencarnación en el Antiguo Testamento,
Revista SPIRITVS, dezembro de 1964, p. 28).
Este texto do Velho Testamento está assim consignado na tradução portuguesa do Pe. Matos
Soares: "Sacrificaram aos demônios e não a Deus, a deuses que desconheciam; vieram deuses
novos e recentes, que seus pais não tinham adorado. - Abandonaste o Deus que te gerou, e
esqueceste do Senhor teu criador - o Senhor viu (isto), e acendeu-se em ira, porque o provocaram
seus filhos e filhas".
o Espiritismo(em O Livro dos Espíritos) esclarece tudo isso, ensinando que outrora os Espíritos
eram deuses para o homem.
Não se compreendia bem que nos fenômenos mediúnicos se tratava com seres humanos
desencarnados (uns mais, outro menos evoluídos), os quais sofriam então um processo de
deificação. É assim que temos mais um grande princípio de aplicação do Salmo 82, versículo 6: Vós
sois deuses(Elohim). E todos vós sois filhos do Altíssimo; exatamente porque todos somos
Espíritos, os seres inteligentes do Universo; todos somos filhos de Deus, pois que somos obra sua.
(O Livro dos Espíritos, 77)
O trecho bíblico em Gênesis 3:22, assim como Gênesis 1:26 ("Façamos o homem à nossa
imagem, como nossa semelhança"), pertencem, no texto primitivo, aos Elohim, ou seja, aos outrora
chamados "deuses", aos espíritos superiores: os prepostos do Criador, porque mensageiros (anjos),
executores de suas leis. É, pois, em vão que as teologias tentam identificar a forma
plural Elohim com a Trindade, já que em Deuteronômio 32:17, conforme vimos na versão
espanhola para o texto de Pastorino, a mesma forma plural Elohim é utilizada para se referir a
"deuses falsos", conforme registram hoje mesmo certas versões bíblicas, como a Bíblia de
Jerusalém, católica (Ed. Paulinas, 1985), ou, ainda, simplesmente "deuses", como a versão de
Almeida (revista e corrigida, 1969) para I Samuel 28:13,onde a pitonisa através da qual o rei Saul
conversou com Samuel (já morto), afirma: "Vejo deuses que sobem da terra", isto é, porque
acreditava-se que os espíritos habitavam o Scheol, imaginado abaixo da terra.
Nenhuma diferença existe entre o passado e o presente. Deus é o mesmo, os espíritos protetores
são os mesmos, nada mudou. Não houve uma época no passado diferente e que não existe no
presente. Assim sendo, somente a interpretação espírita resta absolutamente coerente! Javé
(Yahweh) não era Deus, o Criador, mas seu representante na Terra, um dos Elohim("anjos", ou
seja, espíritos mensageiros de Deus). E por ser o mais evoluído, era deles o chefe, o superior
hierárquico. Não sendo Deus, e sim um espírito deificado, tinha sua forma vista por Moisés (cf
Números 12:6-8) com quem falava face a face como um homem fala com outro (cf Êxodo 33:11).
Ora! Acaso Deus tem forma e fala como um homem fala a outro?...
Devemos ter em mente e lembrar sempre que Cristão segue a Jesus e não a Moisés ou outro profeta
ou mesmo Paulo ou outro discípulo, ainda mais quando esses profetas e discípulos entram em
conflito com os ensinamentos de Jesus e com o Deus Pai que ele nos revelou.
Em seguida, o pastor cita passagens bíblicas e crítica as interpretações dadas por Kardec:
“Vejamos, por exemplo, uma passagem bíblica interessante. Pouco antes de sua
morte, Jesus confortou seus discípulos com as seguintes palavras:
Não se perturbe o coração de vocês. Creiam em Deus; creiam também em mim. Na
casa de meu pai há muitos aposentos [ou moradas]; se não fosse assim, eu lhes
teria dito”
(…)
A leitura desses versículos mostra apenas uma coisa: que Jesus se referia ao fato
de que, quando morresse, ele iria para o céu, onde esperaria por seus discípulos.
(…) No entanto, a leitura espírita proposta por Allan Kardec usa esse mesmo texto
para dizer que a casa do Pai é o universo. Essa leitura kardecista parte do texto
bíblico, mas vai muito além dele”
Claro, vai além do texto bíblico, realmente. Assim como vai muito além do texto bíblico a ideia de
que Jesus é Filho de Deus e ao mesmo tempo é Deus junto com o Espírito Santo, fazendo parte de
uma muito mal explicada Trindade, a ideia de que alguém que foi bom em toda a sua vida será
condenado eternamente por não ter sido evangélico ou católico, a ideia de que a Bíblia condena a
mediunidade porque mortos não se comunicam e sim demônios enganadores, e mais exemplos de
“ginásticas” que todos verão ao longo desse meu livro. A diferença, Sr. Pastor, é que os espíritas
assumem que não são bitolados mesmo ao texto bíblico e se apoiam na razão, nos fatos do dia a dia,
na Ciência...
Continua o pastor um pouco mais à frente: “Independentemente da existência de vários
mundos, essas palavras também podem ser entendidas como o estado feliz ou
infeliz do espírito errante(....)
Como podemos ver, a interpretação que o Cristianismo faz dessa passagem se
restringe ao que está dito no texto bíblico, enquanto a interpretação do Espiritismo
lança mão de elementos que não pertencem ao texto bíblico, mas foram criados por
um homem, Hyppollyte Léon Denizard Rivail, o codificador do espiritismo que
adotava o pseudônimo de Allan Kardec”
Não é a interpretação de um homem, pastor. São relatos do mundo espiritual, que sempre chegaram
até nós. Então, esses relatos se harmonizam com a interpretação dada a essas palavras de Jesus.
Kardec não criou nada. Diz-se que ele é o Codificador, por ter sido o homem escolhido para colocar
em livros os ensinos que não são dele, Kardec, mas dos espíritos.
Cita o pastor outros versículos bíblicos:
“o texto de Jesus trata da humildade: “Pois todo o que se exalta será humilhado,e o
que se humilha será exaltado”(Lucas 14:11). A conclusão kardecista – que não se
limita a interpretar, mas opta por acrescentar a doutrina de Allan Kardec ao texto
bíblico – é a seguinte:
'O Espiritismo vem confirmar os ensinamentos [de Jesus] exemplificando-os e
mostrando-nos que os grandes no mundo dos Espíritos são os que foram pequenos
na Terra, e frequentemente são bem pequenos lá aqueles que foram os maiores e
os mais poderosos na Terra'
Com isso fica claro que os textos que se dizem evangélicos na obra de Allan
Kardec já não são mais evangélicos, são apenas espíritas. O espiritismo não parte
do Evangelho, porque apenas o usa e acrescenta a ele elementos criados pela
doutrina espírita”
Novamente, trata-se de complementar, harmonizar com a luz trazida pela Doutrina Espírita. Muitos
teólogos, muitos concílios, já acrescentaram muito e até deturparam textos bíblicos bem antes do
Espiritismo existir. Muitos foram não só além na interpretação, mas deturparam tudo, palavras
foram acrescentadas mudando todo o entendimento do texto. Acreditamos que o Espiritismo nos
traz a interpretação mais pura dos ensinamentos cristãos, após séculos de concílios, distorções,
intolerância, bitolação.
Continua o pastor:
“O grande problema está no fato de que o espiritismo se apresenta como uma
revelação que está no mesmo nível da Bíblia. Para Kardec, a Lei do Antigo
Testamento é a primeira revelação e está personificada em Moisés; a segunda
revelação é a do Novo testamento, personificado em Cristo; o espiritismo é a
terceira revelação da Lei de Deus. O espiritismo não foi personificado em nenhum
indivíduo, pois ele é o produto do ensinamento dado, não por um homem, mas pelos
espíritos, que são as vozes do céu, em todos os pontos da Terra, servindo-se para
isso de uma multidão incontável de médiuns”
Não é um “grande problema”, de fato a autoridade da revelação espírita está aí. Como diz Kardec
em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”: “Se a Doutrina Espírita fosse de concepção puramente
humana, não ofereceria por penhor senão as luzes daquele que a houvesse concebido. Ora,
ninguém, neste mundo, poderia alimentar fundadamente a pretensão de possuir, com exclusividade,
a verdade absoluta. Se os Espíritos que a revelaram se houvessem manifestado a um só homem,
nada lhe garantiria a origem, porquanto fora mister acreditar, sob palavra, naquele que dissesse
ter recebido deles o ensino. Admitida, de sua parte, sinceridade perfeita, quando muito poderia ele
convencer as pessoas de suas relações; conseguiria sectários, mas nunca chegaria a congregar
todo o mundo.
Quis Deus que a nova revelação chegasse aos homens por mais rápido caminho e mais autêntico.
Incumbiu, pois, os Espíritos de levá-la de um pólo a outro, manifestando-se por toda a parte, sem
conferir a ninguém o privilégio de lhes ouvir a palavra. Um homem pode ser ludibriado, pode
enganar-se a si mesmo; já não será assim, quando milhões de criaturas vêem e ouvem a mesma
coisa. Constitui isso uma garantia para cada um e para todos. Ao demais, pode fazer-se que
desapareça um homem; mas não se pode fazer que desapareçam as coletividades; podem queimar-
se os livros, mas não se podem queimar os Espíritos. “
Após citar palavras do autor espírita Léon Denis, que não diz mais do que o óbvio sobre
contradições bíblicas ao lado de narrativas históricas e legendárias, e também alguns ensinamentos
sublimes, prossegue o autor: “Embora Allan Kardec cite e comente frases de Jesus
Cristo, ele seleciona textos de seu interesse, e os explica de forma isolada. E,
quando os explica, ele o faz a partir de uma leitura tão livre(em termos alegóricos)
que não encontra respaldo na lógica do texto nem na história da interpretação
desse texto. Contudo, ninguém tem o direito de desfigurar o texto original para
fazê-lo dizer o que não disse. “
No entanto, veremos ao longo desse livro quem é que só aceita o que interessa nos textos, e até
mesmo o desfigura, em “traduções” tendenciosas. E o problema, já disse, é que não somos nós que
vivemos a dizer que tudo deve ser aceito sem questionar e sem interpretar o que já foi dito.
E prossegue o pastor: “Se alguém se propõe a fazer uma interpretação da Bíblia, deve
se limitar a interpretá-la, e não negá-la, dizendo que a está afirmando. Se a Bíblia
é legendária, para que citá-lá então?”
Porque nem tudo é legendário, é óbvio. Só porque não aceitamos burras e cobras falantes, por
exemplo, não quer dizer que vamos desconsiderar toda a Bíblia, ainda mais que sabemos que há
textos de fato inspirados. Não por Deus, mas por seus enviados.
Mas se o pastor acredita que tudo na Bíblia é inspirado, deveria ensinar que é pecado fazer a barba,
que devemos matar filhos rebeldes, devemos enterrar as próprias fezes, matar todas as pessoas mais
poderosas, destruir a espada tudo o que tem vida pela frente e incluindo os animais e crianças,
consentir com o casamento de um homem com 10 mulheres, estuprar a esposa do seu inimigo,
queimar um boi vivo pra Deus. Se citam Paulo para agir com preconceito e intolerância para com os
homossexuais, deveriam também agir com preconceito e intolerância para com as mulheres, que,
segundo Paulo, devem ficar caladinhas na Igreja. Não é "100% inspirada"? "100% perfeita"? Não é
"sem contradições"? Não é "infalível"? Então, ou segue tudo ou não segue, só a metade e onde
interessa não vale. Depois não podem dizer que nós só pegamos o que interessa, afinal não somos
nós que falamos que a Bíblia é infalível, então por que exigir que justamente os espíritas aceitem
tudo o que a Bíblia diz? Quem, então, está sendo contraditório aqui?
Prossegue o pastor: “A questão existencial, contudo é outra: O que fazer com a Bíblia?
Havendo contradição entre os ensinos do espiritismo e a Bíblia, quem merece
crédito? A dificuldade de conciliar os ensinos bíblicos e a doutrina espírita se
mostra clara, quando se comparam os dois ensinos. A comparação demanda uma
decisão: Por qual desses ensinos vale a pena viver, já que ambos na verdade não
se complementam, mas de fato se contradizem? É este o campo onde se trava a
real batalha”
Contradição entre Espiritismo e Bíblia existe onde essa contradiz também os ensinos de Jesus,a
moral cristã, o Deus Pai dos Evangelhos, além de contradizer a Ciência e qualquer lógica e bom
senso.
Em seguida, o pastor transcreve um testemunho de um evangélico que se diz ex-espírita, com os
surrados argumentos sobre divergência entre Espiritismo e Bíblia.
Transcrevo aqui o testemunho de Jayme Andrade, um ex-evangélico que se tornou espírita:
"Por vários anos frequentei os cultos evangélicos, sem encontrar a solução que buscava para
os problemas de ordem espiritual. Comecei a ler obras espíritas e nelas encontrei a resposta
adequada aos meus íntimos anseios. Quanto mais lia, mais se robusteciam minhas convicções.
Quanto mais suplicava a Deus que me orientasse no rumo da Verdade, mais me pareciam claros e
lógicos os ensinamentos do Espiritismo.
Alguns dos antigos irmãos não pouparam esforços no sentido de reconduzir ao aprisco a
ovelha transviada. Só que não havia diálogo possível, pois jamais encontrei algum com paciência
bastante para examinar com isenção minhas razões.
Essa incompreensão é que talvez tenha feito germinar a ideia de uma exposição tendente a
situar os princípios doutrinários do Espiritismo em face dos ensinamentos do Cristo e em confronto
com as concepções religiosas do Cristianismo ortodoxo." ("O Espiritismo e as Igrejas
Reformadas")
E diz o autor mais à frente: “Para se tornar Cristão, um espírita terá que abrir a Bíblia
como a revelação de Deus para a sua vida e deixar somente Deus falar, e não um
ser humano, pois na Bíblia Deus fala diretamente, sem intérpretes”
Falava através dos espíritos, seus mensageiros, em visões, audições, materializações,por meio dos
médiuns, então chamados profetas. Espíritos continuam a se comunicar. Mas onde está Deus se
manifestando da mesma forma, se isso no passado foi possível?
Cita em seguida o pastor as palavras de Paulo em Gálatas 1:8-11 e, como sempre fazem os
evangélicos, afirma que Espiritismo traz um novo Evangelho e que o Evangelho anunciado na
Bíblia não é de origem humana mas foi revelado por Jesus, que é “Deus em forma humana”, coisa
que o versículo não diz. Que Cristo não estava em forma humana, é fato, realmente, pois Jesus se
manifestava para Paulo em Espírito, tendo sido a primeira vez na Estrada de Damasco, para lhe
revelar a “Boa Nova”(O significado de Evangelho). Mas o texto não diz que Jesus é Deus. Aliás, a
Bíblia jamais afirma isso e provarei isso nas páginas dessa obra.
E será mesmo que o Espiritismo traz outro Evangelho, “de origem humana”(palavras do autor) ?
NÃO, e quem deseja criticar algo deveria antes conhecer. O Evangelho Segundo o Espiritismo não
é "outro Evangelho", e sim um estudo, uma análise de diversas passagens dos evangelhos,
analisadas sob a luz da Doutrina Espírita.
Ele trata especificamente do aspecto religioso do Espiritismo e é todo desenvolvido a partir dos
ensinamentos do Cristo. Não cabe a crítica infundada, recorrente nos argumentos de evangélicos e
também católicos, de que o livro é outro evangelho só porque não trata de todo o Evangelho mas só
“do que interessa ao Espiritismo”, pois ele se propõe justamente a analisar os versículos que tratam
da moral Cristã. Somente isso. Sobre os dogmas cristãos, céu, inferno, ressurreição e tudo o mais
que evangélicos consideram mais importante do que a moral cristã tratada no E.S.E, lemos em
outras obras de Kardec, como “A Gênese” e o “O Céu e o Inferno”.
O E.S.E, nos seus 28 capítulos cita mais de 400 versículos dos Evangelhos de Mateus, Marcos,
Lucas e João, os quais são estudados a fundo, de modo que se tornem compreensíveis para a grande
maioria das pessoas. Das partes do Evangelho, as mais estudadas nesta obra são o "sermão da
montanha" e diversas parábolas. Tudo é explicado em linguagem simples e objetiva.
Para nós, dogmas criados pelos homens como o da Divindade/Trindade, Purgatório, salvação pela
graça, infalibilidade do Papa, infalibilidade da Bíblia, presença real do Cristo na Eucaristia, etc., é
que deturparam os ensinos cristãos, principalmente por afastar as pessoas da simplicidade da
mensagem do Evangelho, que diz que seremos julgados pelas nossas obras boas ou más e não por
crer nisso ou naquilo.
Para nós, o Espiritismo é o Cristianismo Redivivo, com o Evangelho do amor, visando a
transformação dos indivíduos e do mundo através dos preceitos cristãos, e não o "Evangelho" da
intolerância, dos ataques a quem não segue os mesmos dogmas, da opressão, do orgulho em se dizer
“Justificado” e “ungido”, do dinheiro doado a exploradores da fé...
Para nós, evangelizar é espalhar a mensagem de amor do Cristo e não sair pelo mundo em
tentativas de conversões forçadas até com índios e enfermos nos hospitais.
E não é de origem humana, tendo Kardec simplesmente como o Codificador dos ensinos trazidos
pelos mensageiros do Cristo em vários cantos do planeta.
"Nenhuma mensagem do mundo espiritual pode ultrapassar a lição permanente e eterna do Cristo, e
a questão, sempre nova, do Espiritismo é, acima de tudo evangelizar..." (Emmanuel, mentor
espiritual do querido médium Chico Xavier)
Respondendo a “Para que o Diálogo seja Possível”.
No terceiro capítulo, começa o autor dizendo:
“Como já dissemos, para que um cristão e um espírita possam dialogar sobre suas
crenças é preciso que ambos considerem a Bíblia como a única fonte da verdade.
Mas será que as doutrinas espíritas podem ser consideradas bíblicas? Será que
elas foram desenvolvidas a partir da Bíblia? E quanto aos ensinos cristãos, qual é o
lugar que a Bíblia ocupa neles? Jesus era um profundo leitor das Escrituras(no
caso dele, do Antigo Testamento, obviamente). Diz ele que os que se enganam o
fazem “porque não conhecem as Escrituras nem o poder de Deus”(Mateus 22:29).
Portanto, aceito o pressuposto da veracidade das Escrituras(ou seja, da Bíblia
como única fonte de verdade, por causa daquele que a inspirou), vejamos o que a
própria Bíblia diz sobre si mesma.”
O pastor faz aqui o que havia condenado no capítulo anterior, que é ir além do que a Bíblia diz e
não simplesmente deixar que ela diga por si mesma. Observem os leitores que Jesus não disse que a
Bíblia é a “única fonte de verdade”, muito menos que é infalível, divina de “capa a capa”. Disse
apenas que as Escrituras contém verdades, e não que é ela é a Verdade inteiramente. Jesus por várias
vezes, como já demonstrei, contrariou o que está no Antigo Testamento. E é claro para qualquer um
que o Deus violento, que ordenava a morte até de crianças e animais, não é o mesmo Deus que
Cristo nos ensinou a amar – e não a temer; Na verdade, não é nem o mesmo Deus que deu os 10
mandamentos, entre os quais estava o “Não Matarás”. Até os ateus que conhecem a Bíblia
percebem que Jesus parece perdido nos textos bíblicos, com tanta mensagem de amor,
transformação, tolerância(até com prostitutas), em meio ao banho de sangue que a Bíblia traz na
maioria de suas páginas.
O que importa para Jesus do Antigo Testamento se resume a isso:
“Mestre, qual é o grande mandamento na lei? Respondeu-lhe Jesus: Amarás ao Senhor teu Deus de
todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro
mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Destes
dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas. ” (Mateus 22: 36-40)
Prossegue o pastor: “O valor da Bíblia é inestimável: 'Pois tudo o que foi escrito no
passado, foi escrito para nos ensinar, de forma que, por meio da perseverança e do
bom ânimo procedentes das Escrituras, mantenhamos a nossa esperança' (Romanos
15:4)”
Tudo o que? Não dizem católicos e evangélicos que nem tudo é inspirado, e chamam de "apócrifos"
livros que não constam em suas bíblias? Ainda por cima, a Bíblia protestante exclui livros que
estão na Bíblia dos católicos, como Eclesiástico e Sabedoria.
Afinal, a quais escrituras Paulo se referia? Mostrei aqui que tem muita coisa na Bíblia, até mesmo
palavras do próprio Paulo, longe de serem proveitosas para nos ensinar e nos dar perseverança e
bom ânimo.
Aliás, Paulo também disse: "Examinai tudo e retende o que for bom" (I Tess. 5:21)..
Prossegue o pastor:
“O conteúdo da Bíblia foi inspirado por Deus. Deve-se saber que “nenhuma
profecia da Escritura provém de interpretação pessoal, pois jamais a profecia teve
origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo
Espírito Santo?' (2Pedro 1:20-21)”
Isso está correto, se entendermos o que é profecia e o que é o Espírito Santo.
O que é profecia?
Rev. Nielsson, teólogo e tradutor da Bíblia, no livro "O Espiritismo e a Igreja", fala sobre
os "dons espirituais": "Esta expressão aparece apenas nos textos paulinos, com a palavra
grega charismata,que significa literalmente mediunidade, ou seja, a graça de ser intermediário entre
os Espíritos e os homens."
Nielsson diz: "Segundo a concepção dos tempos apostólicos, os Espíritos podiam ser bons ou
maus, muito evoluídos ou inferiores e atrasados". Isto explica as advertências apostólicas, pois nas
assembleias cristãs manifestavam-se também os maus espíritos, amaldiçoando o Cristo para
defenderem o Judaísmo Ortodoxo ou mesmo para defenderem as religiões politeístas, que também
usavam a mediunidade.
Os profetas eram chamados "pneumáticos", na expressão grega do texto, que quer dizer: cheios
de espírito. Havia dois tipos de espíritos: os de Deus, que eram bons, e os do Mundo, que eram
maus. A respeito das comunicações, Paulo é incisivo: "A manifestação do espírito é concedida a
cada um, visando a um fim proveitoso". Reunidos os pneumáticos à mesa, em ordem, não se devia
permitir o tumulto. Paulo avisa: "Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros
julguem". Do cap. XI ao XIV, Paulo ensina como se fazia a reunião "pneumática" da Igreja
Primitiva, e essas regras são as mesmas das sessões mediúnicas.
Ainda o Rev. Nielsson nos mostra que a palavra transe (mediúnico) vem da Bíblia, derivando
de êxtase. Eis uma de suas afirmações: "O próprio Paulo nos diz que estava frequentemente
em transe. O apóstolo Pedro conta-nos a mesma coisa".
De fato, vejamos alguns exemplos:
"10 E tendo fome, quis comer; mas enquanto lhe preparavam a comida, sobreveio-lhe um êxtase,
11 e via o céu aberto e um objeto descendo, como se fosse um grande lençol, sendo baixado pelas
quatro pontas sobre a terra,
12 no qual havia de todos os quadrúpedes e répteis da terra e aves do céu.
13 E uma voz lhe disse: Levanta-te, Pedro, mata e come.
14 Mas Pedro respondeu: De modo nenhum, Senhor, porque nunca comi coisa alguma comum e
imunda.
15 Pela segunda vez lhe falou a voz: Não chames tu comum ao que Deus purificou.
16 Sucedeu isto por três vezes; e logo foi o objeto recolhido ao céu. (Atos 10:10-16)
"5 Estava eu orando na cidade de Jope, e em êxtase tive uma visão; descia um objeto, como se fosse
um grande lençol, sendo baixado do céu pelas quatro pontas, e chegou perto de mim. (Atos 11:5)
"17 Aconteceu que, tendo eu voltado para Jerusalém, enquanto orava no templo, achei-me
em êxtase, 18 e vi aquele que me dizia: Apressa-te e sai logo de Jerusalém; porque não receberão o
teu testemunho acerca de mim.
19 Disse eu: Senhor, eles bem sabem que eu encarcerava e açoitava pelas sinagogas os que criam
em ti.(Atos 22:17-19)
Vejam, portanto, os apóstolos entrando em transe mediúnico e tendo visões.
Os apóstolos e os cristãos primitivos faziam sessões mediúnicas, e nelas, como nas atuais,
manifestavam-se espíritos bons e maus; aqueles, dando instruções e estes, necessitando de
orientação espiritual.
O mais importante episódio de psicofonia("incorporação") foi o acontecido durante Pentecostes,
quando os discípulos incorporaram Espíritos Superiores e puseram-se a falar em línguas
estrangeiras que desconheciam, evangelizando a multidão reunida para a festa, vinda de diversas
regiões do mundo antigo (Atos 2:1-13).
Lucas cita o espírito visto por Zacarias no Templo, durante a oferenda do incenso(Lucas 1:11-22),
o que anunciou a Maria o nascimento de Jesus (Lucas 1:26-38) e no Atos dos Apóstolos refere-se a
visões de Paulo (Atos 16:6-10), sendo de ressaltar aquela que foi motivo de sua conversão ao
Cristianismo: Jesus, em plena estrada que leva a Damasco (Atos 9:3-9, 22:6-11).
Outro claro exemplo de psicofonia na Bíblia, apesar de alguns tradutores trocarem "espírito" por
"Espírito Santo":
"Estevão, cheio de graça e fortaleza, fazia grande s milagres e prodígios entre o povo. Mas alguns
da sinagoga, chamada dos Libertos, dos Cirenenses, dos Alexandrinos e dos que eram da Cicília e
da Ásia, levantaram-se para disputar com ele. Não podiam, porém, resistir à sabedoria e ao espírito
que o inspirava" (Atos dos Apóstolos 6: 8-10)
Assim está conforme Severino C. da Silva em seu "Analisando as Traduções Bíblicas".
Em Atos 8:6-8, temos: "A multidão estava atenta ao que Felipe lhes dizia, escutando-o
unanimemente, e, presenciando os prodígios que fazia. Pois os espíritos imundos de muitos
possessos saíam, levantando grandes brados".
É exatamente o que se realiza hoje nos milhares de Centros Espíritas espalhados pelo Brasil e pelo
mundo. A orientação, o esclarecimento e a condução dos espíritos necessitados para que os que se
encontram em tarefa evolutiva neste planeta não sejam prejudicados. Qual a diferença daquela
época para a atual? Não vejo nenhuma.
Há muito mais exemplos claros de ação dos espíritos nos Atos dos Apóstolos, um livro fortemente
mediúnico. Atos 16:9, por exemplo, mostra o espírito de um macedônio aparecendo para Paulo em
uma visão: "Durante a noite, Paulo teve uma visão: na sua frente estava de pé um macedônio que
lhe suplicava: "Venha à Macedônia e ajude-nos!". Que diferença há entre essa visão e as dos nossos
dias? Nenhuma, pois se mediunidade existe hoje, então sempre existiu.
Diz Léon Denis em No Invisível: "Segundo a Escritura, 'profetizar' não significa unicamente
predizer ou adivinhar, mas também ser impulsionado por um Espírito bom ou mau(...) Encontra-se
muitas estas expressões na boca dos profetas: 'o peso do Senhor caiu sobre mim', ou ainda, 'O
Espírito do Senhor entrou em mim'. Esses termos claramente indicam a sensação que precede o
transe, antes de ser o médium tomado pelo Espírito. E ainda: 'Vi, e eis o que disse o Senhor", o que
designa a mediunidade vidente e auditiva simultâneas"
Os profetas de ontem são os médiuns de hoje, assim como os profetas de ontem eram outrora
chamados videntes, conforme se lê em I Samuel 9:9 ("Antigamente em Israel, indo alguém
consultar a Deus, dizia assim: Vinde, vamos ao vidente; porque ao profeta de hoje, outrora se
chamava vidente."). E o termo médium, proveniente do latim, designa melhor o processo de
comunicação entre o plano material e o plano espiritual, por significar exatamente "medianeiro" ou
"aquele que está no meio", entre os dois planos da vida, transmitindo as informações do plano
espiritual para o material. Alias, o acirramento da comunicação com os espíritos estava inclusive
previsto, em Joel 2:28 e igualmente em Atos 2:17 ("Acontecerá depois que derramarei o meu
Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos anciãos terão
sonhos, os vossos mancebos terão visões;").
O Rev. Robert Hastings Nichols, em sua História da Igreja Cristã, publicada em versão portuguesa
pela Casa Editora Presbiteriana, lembra que podemos ter uma ideia das práticas da Igreja Primitiva
pelas epístolas de Paulo, "especialmente as enviadas aos coríntios".
Para o Rev. Nichols, havia na Igreja Primitiva dois tipos de culto, sendo um "o da oração" e outro
o da refeição em comum, a chamada "Festa do Amor". Quanto ao primeiro, diz o rev. Nichols: "O
culto era dirigido conforme o espírito os movia no momento. Faziam orações, davam testemunho,
ministravam certos ensinos, cantavam salmos". O que seriam esses "certos ensinos" e como seriam
ministrados? Noutro trecho, o rev. Nichols levanta uma pontinha do véu: "O Novo Testamento fala
de oficiais que se ocupavam do ministério da pregação e do ensino. São conhecidos como
apóstolos, profetas e mestres. O nome do apóstolo não era restrito aos companheiros de Jesus, mas
pertencia também a outros pioneiros do Evangelho, que levavam as boas novas aos novos campos.
Os profetas, mestres e doutores esclareciam o significado dos Evangelhos às igrejas. Todos esses
exerciam seus ofícios, não pela indicação de qualquer autoridade, mas porque revelavam estar
habilitados para tais ofícios, pelos dons do Espírito Santo".
Os capítulos 12 e 14 da I Epístola aos Coríntios, de Paulo, indicam claramente o procedimento a ser
observado pelos que participam de uma sessão. Paulo se refere aos dons mediúnicos dos profetas.
Os ensinos proféticos nada mais eram que as manifestações mediúnicas.
O Espiritismo veio esclarecer o papel dos profetas na antiguidade, que era semelhante aos das
sibilas e pitonisas. Espinosa já havia chegado à conclusão, nos seus famosos estudos sobre as
Escrituras, que o profetismo não era um privilégio dos judeus, mas uma qualidade do homem,
existente em todo o mundo moderno. Mas aquilo que Espinosa não podia explicar senão como
efeito de imaginação, comparando a inspiração dos profetas à dos poetas, o Espiritismo veio
explicar mais tarde, no cumprimento das promessas do Consolador, restabelecendo as coisas em seu
verdadeiro sentido.
O profetismo bíblico e o apostólico eram simplesmente o uso da mediunidade, como hoje se faz
nas sessões espíritas. E assim como, na antiguidade, havia profetas em Israel e na Igreja Primitiva,
enquanto no mundo pagão existiam sibilas, pitonisas e oráculos, assim no mundo moderno, há
médiuns no Espiritismo, e há "Cavalos", "tremedores", "possessos" e "convulsionários", em
organizações religiosas que não seguem os princípios do Consolador. O velho problema do
profetismo está esclarecido graças aos estudos espíritas..
Em Gênesis 18:1-3, Abraão é visitado por três espíritos (anjos) que se apresentam como três
homens e lhe anunciam o nascimento do seu filho Isaac. Um fenômeno de materialização.
Em muitas passagens da Primeira Aliança (Antigo Testamento), a comunicação de um espírito
superior ou de luz era confundida e aceita como a comunicação do Próprio Deus.
Em Jó 4:15-16 lemos: "E o espírito passou diante de mim e provocou arrepios por todo o meu
corpo. Estava parado diante de mim, mas não vi o seu rosto, qual fantasma diante dos meus olhos,
um silêncio... Depois ouvi uma voz".
Algumas traduções trocam "espírito" por "vento" ou "sopro". Mas um "vento" ou "sopro" não fica
parado diante de ninguém. Nem tão pouco o profeta(médium) diria que não viu o rosto do vento.
Também sabemos que vento não fala, e Jó diz que ouviu uma voz. E então?
E o Espírito Santo?
Espírito Santo como a Terceira Pessoa da Trindade não existe, é uma invenção humana, assim como
todo o dogma da Trindade. Nos originais gregos do Novo Testamento aparece muito mais vezes
“Pneuma Hagion” (Espírito Santo), sem o artigo definido “ho” (o) diante dele. Neles não há
também o artigo indefinido (um), porque este não existe em Grego, mas em Português existe.
Quando não há artigo definido é porque devemos ler em Português com artigo indefinido. Logo,
devemos dizer “um” Espírito Santo” e não “o” Espírito Santo. Isso mesmo, um espírito superior, um
bom espírito, encarnado ou desencarnado, mas não o Espírito Santo da Trindade.
Só a partir dos Concílios de Nicéia (325) e Constantinopla (381), é que o Espírito Santo e a
Santíssima Trindade foram instituídos, com as subsequentes adaptações no Novo Testamento. Nas
primeiras comunidades cristãs e no Velho Testamento, eles são desconhecidos. No V.T., só aparece
o E.S., como sendo um espírito humano evoluído, santo. Em Daniel 13:45 (Bíblia católica, pois a
protestante só tem 12 capítulos), lemos: “Suscitarei entre vós um homem de um Espírito Santo
chamado Daniel.”
Foi por isso que São Paulo disse que somos templos de um (como está no original grego) Espírito
Santo.
Exatamente assim lemos na Bíblia católica Vulgata, em latim:
"Aquele que pede, recebe, o que procura, acha; ao que bate, se abrirá. Se, portanto, bem que
sejais maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos; com muito mais forte razão vosso Pai enviará,
do céu, um bom espírito aqueles que lhe pedirem" (Lucas, cap. XI)
Traduções modernas trazem “Espirito Santo” no lugar de “bom espírito”. Espírito Santo, a terceira
pessoa da Trindade, o espírito de Deus. O Pai, que é Deus, enviará o espírito, segundo o texto. Será
que Deus enviaria a si mesmo? O enviado é inferior ao que envia, da mesma forma que Jesus não é
Deus e se dizia um enviado de Deus, que é um só e não 2 ou 3.
Jesus ainda prometeu o Consolador , que é para nós a Doutrina Espírita, enquanto católicos e
protestantes acreditam ser a assistência do Espírito Santo à Igreja. Dizem que basta pedir ao
Espírito Santo, que não haverá erros. Quando ficam diante de algo que a razão contraria, como uma
contradição bíblica evidente, ou quando ficam diante de passagens bíblicas que contrariam
frontalmente uma de suas crenças, dizem que o questionador ainda não tem o "Espírito Santo" em
si. É uma explicação criada pela Igreja para que o homem caminhe para a fé cega e não use da
razão. Se Espírito Santo assiste a Igreja Católica e não permite erros, como explicar, então, todos os
absurdos cometidos pela Igreja Católica, principalmente na Idade Media? E pra piorar, os
protestantes, com todas suas divergências em relação aos católicos, também se dizem inspirados
pelo mesmo infalível Espírito Santo. Evangélicos não acreditam na presença real do Cristo na
Eucaristia, que o Papa é infalível em questões de fé, na existência do Purgatório e também não
idolatram Maria, como os católicos. As várias igrejas evangélicas, cada uma se dizendo a mais
cristã, divergem, por exemplo, quanto a idade certa para o batismo, quanto ao dízimo, ofertas,
prosperidade, doação de sangue, etc. Com quem está esse "Espírito Santo", afinal?
Insistem que o Consolador não seria uma doutrina porque o E.S é uma pessoa. Mas no grego, ao
falar no Espírito que seria o Consolador, Jesus usa um pronome neutro, como o "it" em inglês.
Portanto, no caso do Consolador o Espírito Santo/Espírito da Verdade não é uma pessoa.
Ainda sobre o Consolador:
Tanto o Catolicismo quanto os duzentos e tantos ramos do Protestantismo asseveram que a vinda do
Consolador que Jesus prometera deu-se no dia chamado de Pentecostes, que é 50º dia após a
Páscoa. No capítulo 2 dos Atos dos Apóstolos temos a descrição do que ocorreu naquela data.
Vamos, então, rememorar o que ali se descreve.
Logo depois da ascensão de Jesus, portanto a pouco mais de quarenta dias após ter feito a promessa
do envio do Consolador, estavam os discípulos reunidos em uma casa quando um grande ruído se
fez ouvir. Logo após, surgiram no ar umas luminescências e os apóstolos começaram a falar em
línguas que desconheciam. Acontece que Jerusalém estava cheia de gente de várias procedências:
árabes, gregos, etc. e os discípulos, que eram galileus e na maioria incultos, falavam a essas pessoas
em suas próprias línguas, o que as embasbacava. É claro que não poderia deixar de haver quem
desse uma explicação "lógica" para o fenômeno, alegando que eles assim falavam porque estavam
bêbados. Como se o álcool tivesse o dom de ensinar línguas! De qualquer forma, o dia de
Pentecostes ficou sendo, para os vários ramos em que se dividiu o Cristianismo, como o dia em que
Jesus enviou o Consolador que prometera. Só o Espiritismo diz que não. O Consolador prometido
não veio no dia de Pentecostes e sim dezenove séculos mais tarde, pois que o Consolador é o
próprio Espiritismo. Sendo duas opiniões contraditórias, uma pelo menos deve estar errada. Então
qual será a certa? Examinemos com atenção o que Jesus disse após a última ceia, em paralelo com
os fenômenos ocorridos naquele dia de Pentecostes e vejamos se têm razão católicos e protestantes.
Dissera Jesus que o Espírito de Verdade ensinaria todas as verdades e relembraria tudo que Ele,
Jesus, havia dito. Muito bem. Se o Consolador viria para ensinar todas as verdades é porque Jesus
não as havia ensinado na totalidade, coisa que Ele próprio afirmou (Jo 16,12). Na data de
Pentecostes houve alguma revelação nova? Não. Ao menos a Bíblia não diz que houve. Na edição
da Bíblia publicada pela Enciclopédia Barsa está escrito o seguinte comentário: Esta vinda do
Espírito Santo é o cumprimento da promessa de Cristo. Seu principal efeito foi aumentar a graça
santificante dos apóstolos e fiéis sobre os quais desceu de forma sensível. Outros efeitos foram: o
carisma de falar outras línguas, a coragem de pregar abertamente e um conhecimento extraordinário
da doutrina cristã.
Mas não foi nada disto que o Cristo prometeu. O Consolador deveria vir para ensinar todas as
verdades e não apenas para aumentar a compreensão sobre as verdades já conhecidas. Viria também
para lembrar o que o Cristo dissera. Para isso seria preciso que o que Ele havia ensinado estivesse
esquecido ou adulterado. Mas fazia apenas 50 dias que aquela promessa fora feita e não mais que
dez dias que deixara os apóstolos, pela ascensão. Por que, nesse caso, um emissário especial para
recordar tudo aquilo que era tão recente? Mas Jesus também dissera que tinha muitas coisas para
ensinar ainda, mas que não poderiam ser compreendidas ou suportadas então. Como admitir que
apenas 50 dias depois já essas coisas pudessem ser ensinadas, entendidas ou suportadas? E que
ensinos tão importantes seriam esses que os Atos dos Apóstolos não revelam? O Cristo prometera
verdades novas e não coragem para divulgar as antigas, já ensinadas. E como é possível que esses
ensinos complementares o próprio Jesus não os tenha querido fazer a seus discípulos, que não os
poderiam suportar, para que, poucos dias após, os mesmos discípulos os fizessem e para pessoas
que nem ao menos haviam conhecido os ensinos precedentes de Jesus? Se os ensinos de Jesus
precederam os do Consolador é porque o conhecimento daqueles era um pré-requisito para o
conhecimento destes. E se os apóstolos falavam línguas que não compreendiam, esses ensinamentos
complementares não só iam cair em ouvidos alheios a toda a anterior mensagem cristã, como
também os próprios mensageiros, isto é, os discípulos, continuariam a ignorá-los, visto que
desconheciam o que falavam. Não é tudo muito incoerente?
Agora vejamos, à luz do Espiritismo, o que terá, de fato, ocorrido no dia de Pentecostes: nada mais
do que a eclosão das mediunidades de efeitos físicos e de psicofonia xenoglóssica. O barulho que se
ouviu e as luminescências que surgiram são fenômenos comuns àquela forma de mediunidade. As
"línguas de fogo" são simples manifestações ectoplasmáticas. O célebre físico-químico William
Crookes, designado que foi pela Sociedade Dialética de Londres para estudar os fenômenos do
Espiritismo, escreveu a certa altura de seu relatório: - Vi pontos luminosos saltarem de um e outro
lado e repousarem sobre a cabeça de diferentes pessoas. (Fatos Espíritas- F.E.B.) Mas aquelas
"línguas" também poderiam ser simples fenômenos elétricos ou magnéticos decorrentes do preparo
do ambiente por entidades espirituais (ver Missionários da Luz - F.E.B.)
O falar línguas estrangeiras nada mais é que a mediunidade xenoglóssica, de que há tantos
exemplos nos anais do Espiritismo. E tanto é verdade que aquele fenômeno foi meramente
mediúnico, que o apóstolo Pedro, vendo o espanto das pessoas, explicou-lhes o que se passava
repetindo as palavras do profeta Joel: E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que eu
derramarei do meu Espírito sobre toda a carne: e profetizarão vossos filhos e vossas filhas, e os
vossos mancebos terão visões e os vossos anciãos sonharão sonhos. (At. 2,17). O mais curioso de
tudo é que são as próprias religiões que aceitam o Pentecostes como a vinda do Consolador
prometido que, paradoxalmente, renegam a mediunidade, atribuindo-a ao demônio, à fraude ou a
fatores meramente psicológicos, negando assim a própria explicação de Pedro.
Tudo isso parece deixar patente que a vinda do Consolador não se deu na data de Pentecostes, visto
que as coisas que o Cristo disse que seriam feitas não sucederam, na verdade.
Quando Allan Kardec recebeu a notícia da missão que lhe cabia, quis saber qual o nome do Espírito
sob cuja égide aqueles ensinos se dariam e obteve a seguinte resposta: -Para ti chamar-me-ei A
Verdade. Na época nem Kardec, nem ninguém, parece ter percebido a enormidade desta revelação.
Seria este o Paráclito que Jesus ficara de enviar mais tarde? A ser assim esse "mais tarde" teria
demorado não aqueles absurdos 50 dias, mas dezenove séculos, pois só então as pessoas,
consideradas globalmente, estariam em condições de receber os demais ensinamentos que Jesus não
quis dar por ser muito cedo para que fossem entendidos ou suportados. Se tais ensinos, que não
puderam ser dados pelo próprio Cristo, houvessem sido trazidos e aceitos apenas alguns dias depois,
isto faria de Jesus um professor bem medíocre, incapaz de transmitir aquilo que daí a pouco seria
ensinado por outro, com sucesso. Não. Foram necessários 19 séculos, mesmo, para que as pessoas
pudessem assimilar verdades maiores. E ainda assim, quantos de nós não as podemos suportar nem
agora...
Jesus disse que o Espírito de Verdade não falaria por si, mas sim que falaria de tudo o que ouvira
dizer (Jo 16,13). Esses ensinos, portanto, seriam o resultado não de uma opinião pessoal, mas de um
consenso. Não faz sentido dizer que viria diretamente do Espírito de Deus a Verdade, pois, afinal,
por que Deus precisaria ouvir a Verdade de alguém para anunciá-la? E o Consolador seria enviado.
Por quem? Por Deus, ou seja, por si próprio?
Já o Espiritismo se estriba exatamente sobre a universalidade do ensino dos Espíritos,
e Kardec não se cansou de chamar a atenção sobre isto. O Espiritismo não é fruto de uma ou de
algumas opiniões isoladas, quer de homens quer de Espíritos, e nisto está a maior garantia de sua
veracidade.
Assim sendo, se para muitos o dia de Pentecostes foi o dia em que Jesus mandou o Consolador que
prometera, para os espíritas esse dia só chegaria com a difusão do Espiritismo. O Espiritismo, sim, a
par do consolo que derrama, trouxe novas verdades que, sem contraditar nada do que o Cristo
ensinara, ampliou-Lhe os preceitos e restabeleceu as verdades mutiladas ao longo dos séculos.
Como a verdade deverá ir sendo revelada à medida em que formos adquirindo condições de
assimilá-la, é necessário que o Consolador permaneça conosco "para sempre", tal como dito por
Jesus. O Espiritismo veio e aí está, enquanto que o fenômeno de Pentecostes foi uma ocorrência
isolada, não obstante as consequências que teve na época.
Vemos por esta forma que o Espiritismo está absolutamente conforme a promessa de Jesus feita
naquela noite fria e triste da Palestina, quando a Lua rebrilhou nas gotas de sangue que uma enorme
angústia fez verter de Sua fronte atormentada pela perspectiva do suplício que sofreria nas mãos dos
que se julgavam detentores da verdade e monopolizadores do bom-senso.
E continua o autor, Israel Belo de Azevedo: “O que a Bíblia ensina sobre Jesus Cristo? Ela
mesma responde, pela voz do apóstolo Paulo: 'Pois o que primeiramente lhes
transmiti foi o que recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as
Escrituras, foi sepultado e ressuscitou no terceiro dia, segundo as Escrituras'
(1Coríntios 15:3)
Cristo morreu pelos nossos pecados. Sim, mas não para acabar com os pecados como mágica, e sim
para nos mostrar o caminho para a luz, através dos ensinos que nos deixou.
E quanto a ressurreição:
Segundo os católicos e evangélicos, Jesus continua vivo, em carne. Mas diz a Bíblia: "E quando
chegaram a Mísia, intentavam ir para a Bitínia, mas o Espírito de Jesus não lho permitiu" (Atos
16:6,7).
Em Atos 9:3-9 e 22:6-11 Cristo também se manifesta em espírito para Paulo.
Na Estrada de Damasco, como poderia ser Jesus ressuscitado, se Paulo apenas ouvia a sua
voz(mediunidade de audiência) sem ver nada além de uma luminosidade intensa, que só um espírito
como Jesus possui, que quase o cega? Os homens que estavam com ele também não viram nada,só
ouviam a voz.
Em Atos 16:7 Paulo e Timóteo tentam entrar na Bitínia: "Mas o Espírito de Jesus os impediu".
Podem alegar que era o Espírito Santo. Mas o texto diz "O Espírito de Jesus", não "o Espírito
Santo" ou "Espírito de Deus".
Em 2 Cor 3:17, Paulo afirma: "O Senhor é Espírito".
Jesus também pregou o Evangelho aos mortos (1 Pe 4: 4-6), o que só poderia ter feito em Espírito.
Assim, tudo se converge para a ideia de que Jesus, após sua morte, ressuscitou em Espírito, não no
corpo físico.
A carne, como todos já sabemos, não ultrapassa portas nem faz aparições.
No livro de Tobias, presente apenas na Bíblia dos Católicos, encontramos um anjo fazendo coisas
comuns aos seres humanos, inclusive aparentemente comendo: "Eu sou Rafael, um dos sete anjos...
Vocês pensavam que eu comia, mas era só aparência... E o anjo desapareceu..." (Tb 12: 15-22)
No caso de Jesus não poderia ter sido uma situação semelhante?
Em várias oportunidades Jesus se manifesta e ninguém o reconhece, isso não ocorreria se ele tivesse
ressuscitado no corpo físico. Somente em espírito ele poderia, por sua evolução espiritual,
transparecer com tanta luz que não conseguiram de imediato identificá-lo.
Se Jesus apareceu em espírito, em um evidente fenômeno mediúnico, então é lógico que ele não é
carne e sangue. Em João 6: 63 Cristo diz que “O espírito é o que dá a vida. A carne não serve para
nada”. E Paulo disse que “a carne e o sangue não poderão herdar o reino de Deus” (1 Cor 15,50).
Se Jesus está vivo, em carne e sangue, com certeza não está no Reino de Deus, pois o Reino de
Deus é espiritual e não material. Só poderia estar no mundo material, no mesmo plano nosso. E
onde estaria, então? Na Lua? Em Marte? E como sobrevive sem oxigênio? Podem alegar que Jesus
pode tudo porque é Deus, mas e quanto aos cristãos que serão arrebatados fisicamente aos céus?
Onde viverão? Não há lógica nessa ressurreição. É algo totalmente materialista, enquanto Cristo
veio trazer as verdades espirituais. O mesmo podemos dizer sobre a crença de Elias e outros sendo
arrebatados e não conhecendo jamais a morte.
Jesus não deixou que Maria o tocasse, entrou em um lugar fechado e só então permitiu que Tomé o
tocasse. Tem todas as evidências de que Jesus estava ali em espírito todo o tempo, semi-
materializado, e depois houve uma interpolação no texto ou Jesus se materializou completamente e
pôde ser tocado. Por que acreditar em algo que a Ciência comprova ser impossível se nós espíritas
conhecemos bem as manifestações do perispírito? Por que acreditar que após a morte nosso corpo
de carne e sangue terá as mesmas propriedades que tem o perispírito?
No "Livro dos Espíritos", aprendemos sobre o perispírito:
“Perispírito
93. O Espírito, propriamente dito, nenhuma cobertura tem, ou, como pretendem alguns, está
sempre envolto numa substância qualquer?
“Envolve-o uma substância, vaporosa para os teus olhos, mas ainda bastante grosseira para nós;
assaz vaporosa, entretanto, para poder elevar-se na atmosfera e transportar-se aonde queira.”
Envolvendo o gérmen de um fruto, há o perisperma; do mesmo modo, uma substância que, por
comparação, se pode chamar perispírito, serve de envoltório ao Espírito propriamente dito.
94. De onde tira o Espírito o seu invólucro semimaterial?
“Do fluido universal de cada globo, razão por que não é idêntico em todos os mundos. Passando
de um mundo a outro, o Espírito muda de envoltório, como mudais de roupa.”
a) - Assim, quando os Espíritos que habitam mundos superiores vêm ao nosso meio, tomam um
perispírito mais grosseiro?
“É necessário que se revistam da vossa matéria, já o dissemos.”
95. O invólucro semimaterial do Espírito tem formas determinadas e pode ser perceptível?
“Tem a forma que o Espírito queira. É assim que este vos aparece algumas vezes, quer em sonho,
quer no estado de vigília, e que pode tomar forma visível, mesmo palpável.”
E também no "Livro dos Médiuns":
“Figuremos, primeiramente, o Espírito em união com o corpo. Ele é o ser principal, pois que é o
ser que pensa e sobrevive. O corpo não passa de um acessório seu, de um invólucro, uma veste, que
ele deixa, quando usada. Por ocasião da morte, despoja-se deste, porém não do outro, a que damos
o nome de perispírito. Esse invólucro semimaterial, que tem a forma humana, constitui para o
Espírito um corpo fluídico, vaporoso, mas que, pelo fato de nos ser invisível no seu estado normal,
não deixa de ter algumas das propriedades da matéria. O Espírito não é, pois, um ponto,uma
abstração; é um ser limitado e circunscrito, ao qual só falta ser visível e palpável, para se
assemelhar aos seres humanos.
Por que, então, não haveria de atuar sobre a matéria? Por ser fluídico o seu corpo? Mas, onde
encontra o homem os seus mais possantes motores, senão entre os mais rarificados fluidos, mesmo
entre os que se consideram imponderáveis, como, por exemplo, a eletricidade? Não é exato que a
luz, imponderável, exerce ação química sobre a matéria ponderável? Não conhecemos a natureza
íntima do perispírito. Suponhamo-lo, todavia, formado de matéria elétrica, ou de outra tão sutil
quanto esta: por que, quando dirigido por uma vontade, não teria propriedade idêntica à daquela
matéria?
(..)Doutrina Espírita considera o perispírito simplesmente como o envoltório fluídico da alma, ou
do Espírito. Sendo matéria o perispírito, se bem que muito etérea, a alma seria de uma natureza
material mais ou menos essencial, de acordo com o grau da sua purificação. Este sistema não
infirma qualquer dos princípios fundamentais da Doutrina Espírita, pois que nada altera com
relação ao destino da alma; as condições de sua felicidade futura são as mesmas; formando a alma
e o perispírito um todo, sob a denominação de Espírito, como o gérmen e o perisperma o formam
sob a de fruto, toda a questão se reduz a considerar homogêneo o todo, em vez de considerá-lo
formado de duas partes distintas.”
O caso da ressurreição de Lázaro e outros "ressuscitados" (curados de uma letargia) por Jesus
diferem da ressurreição do próprio Jesus. Lázaro não apareceu com o "corpo glorioso" de Jesus,
que se manifestou após o desencarne, como um espírito materializado. A ressurreição de Jesus é a
ressurreição espiritual:
"Porquanto, quando ressuscitarem dentre os mortos, nem casarão, nem se darão em casamento, mas
serão como os anjos que estão nos céus." (Marcos 12:25)
Serão como anjos, ou seja, espíritos de luz e não carne e sangue como Lázaro. Infelizmente, para
alguns cristãos, Jesus era um materialista. Se, na ressurreição da carne, o corpo, o mesmo corpo de
nossa existência física na Terra, ganha características espirituais, então é o espírito que não serve
pra nada, contrariando frontalmente o que o Cristo ensinou..
E a maior prova bíblica de que o "corpo espiritual" nada mais é do que o perispírito é o episódio
no Monte Tabor: além de Jesus conversar com Elias e Moisés materializados, com seus "corpos
espirituais" visíveis(através da mediunidade de efeitos físicos dos apóstolos, que, adormecidos,
cediam ectoplasma para o fenômeno), Jesus, ao transfigurar-se, demonstrava a existência do
perispírito em si mesmo, ainda vivo, o mesmo "corpo espiritual" que seria visto por muitos após o
seu desencarne, assim como eram vistos Moisés e Elias naquele monte. Tanto a materialização
como a transfiguração são fenômenos bem estudados pelo Espiritismo. Médiuns tornam seu
perispírito visível numa forma luminosa. Kardec explica em O Livro dos Médiuns sobre esse
fenômeno: "Figuremos agora o perispírito de uma pessoa viva, não isolado, mas irradiando-se em
volta do corpo, de maneira a envolvê-lo numa espécie de vapor. Nesse estado, passível se torna das
mesmas modificações de que o seria, se o corpo estivesse separado. Perdendo ele a sua
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Espiritismo é Cristão: A resposta bíblica

  • 1. Espiritismo é Cristão Uma resposta ao livro “O Espiritismo Segundo Jesus Cristo”, de Israel Belo de Azevedo. Rogério André
  • 2. Introdução. Nasci numa família espírita, e desde criança me acostumei a ver os ataques ao Espiritismo, principalmente dos evangélicos. Passei a debater no mundo virtual nos anos 90 com eles, e posso dizer que os argumentos são sempre os mesmos. Criei em 2011 um blog, “Espiritismo é Cristão”(http://espiritismoehcristao.blogspot.com.br ), contendo todos os argumentos em defesa do Espiritismo que acumulei após anos de debates. Recentemente, caiu em minhas mãos o livro “O Espiritismo Segundo Jesus Cristo”, do pastor Israel Belo de Azevedo. Os argumentos, como sempre, os mesmos. Notável também a preocupação do pastor com o crescimento do Espiritismo, pois, já na contracapa, faz menção ao “número expressivo de adeptos”. Dai mais uma vez o interesse daqueles que vivem da religião e não para a religião(para o próximo) em atacar aquela doutrina que segue como nenhuma outra o “dai de graça o que de graça recebeste”, ensinado por Jesus. Nesta obra, me proponho a rebater os argumentos anti-espíritas do pastor, contidos na primeira parte de seu livro, intitulada “Encontros e desencontros de dois mundos”. A segunda parte, “Para ler a Bíblia com inteligência e fé”, não discorre sobre o Espiritismo, e por isso não será tratada aqui. Rogério André Rio de Janeiro/RJ 15 de Agosto de 2013
  • 4. Respondendo ao prefácio. Começa o autor, relatando o encontro que teve com uma pesquisadora que se dizia “espirita cristã”, e dizendo que isso lhe causou a estranheza que o levou a escrever seu livro. E diz, por fim, tentando provar que espírita não pode ser cristão: “Não trago para o âmbito de nossa conversa o argumento moral, pois há muitos espíritas que são cristãos de atitude, por causa dos valores que regem suas vidas, valores derivados dos ensinos de Jesus Cristo. Mas isso não faz deles cristãos. O argumento moral aprovaria o espiritismo, ao mesmo tempo em que reprovaria muitos cristãos, que não são cristãos de modo completo, pois, mesmo tendo sido aprovados no plano teológico (por crerem nas verdades bíblicas), são reprovados no plano moral, porque suas atitudes tristemente não condizem com os valores propostos por Jesus Cristo. Cristão é, portanto, aquele que passa por dois testes: o ético (moral) e o teológico. Teologicamente falando, o cristianismo tem suas bases fincadas exclusivamente na Bíblia, que traz não só os ensinos de Jesus Cristo para uma vida reta, mas também os ensinos dele sobre si mesmo e sobre o presente e o futuro. No teste teológico, infelizmente o espiritismo não passa, a começar pelo modo como vê a Bíblia. A dificuldade maior, contudo, está no papel que Jesus Cristo ocupa na história e na vida, pois ele é visto pelo espiritismo como um mestre, o que é muito pouco para aquele que disse que quem o via via o Pai.” Nos fala o pastor sobre um "teste teológico", ou seja, o apego as escrituras. Pois bem, não era justamente o apego as escrituras dos fariseus, tão apegados aos escritos mas que não praticavam os mandamentos, que Jesus mais combatia? Não é esse justamente o ensino claro na parábola do bom samaritano: importa a Deus nossas atitudes para com o próximo e não o apego as Escrituras? Leiam e tirem suas conclusões sobre o ensino dessa parábola: “" 25. Levantando-se um doutor da lei, experimentou-o, dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? 26. Respondeu-lhe Jesus: Que é o que está escrito na Lei? como lês tu? 27. Respondeu ele: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de toda a tua força e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. 28. Replicou-lhe Jesus: Respondeste bem; faze isso, e viverás. 29. Ele, porém, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: E quem é o meu próximo? 30. Prosseguindo Jesus, disse: Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu nas mãos de salteadores que, depois de o despirem e espancarem, se retiraram, deixando-o meio morto. 31. Por uma coincidência descia por aquele caminho um sacerdote; quando o viu, passou de largo. 32. Do mesmo modo também um levita, chegando ao lugar e vendo-o, passou de largo. 33. Um samaritano, porém, que ia de viagem, aproximou-se do homem e, vendo-o, teve compaixão dele. 34. Chegando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho e, pondo-o sobre o seu animal, levou-o para uma hospedaria e tratou-o. 35. No dia seguinte tirou dois denários, deu-os ao hospedeiro e disse: Trata-o e quanto gastares de mais, na volta eu to pagarei. 36. Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? 37. Respondeu o doutor da lei: Aquele que usou de misericórdia para com ele. Disse-lhe Jesus: Vai-te, e faze tu o mesmo. " (Lucas 10)
  • 5. O povo samaritano era tido como herege pelos fariseus, tão apegados aos textos bíblicos. Jesus foi perguntado sobre o que fazer para alcançar a vida eterna, e colocou justamente o samaritano como exemplo. Aqueles tão apegados as escrituras não se importaram com o homem ferido,mas sim o samaritano, e disse Jesus o colocando como exemplo a se seguir para alcançar a vida eterna: “Vá e faça o mesmo”. Isso sem colocar outra condição, sem dizer que devemos crer que ele é Deus ou que seu sangue nos salva. Em meus debates com evangélicos, ainda não vi resposta satisfatória a esse ensino, tão contrário a ideia da necessidade de ter que “crer em Jesus” para ser “salvo”. Insistem que Jesus apenas ensinou quem era o próximo, que não estava a falar sobre "salvação" aqui. Mas como não? A pergunta inicial foi o que deve ser feito para termos “vida eterna.” Jesus respondeu perguntando o que dizem os mandamentos, e diante da resposta do homem ("Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo"), Cristo disse para ele fazer isso, e fazer para que? Para alcançar a vida eterna. E então, diante da dúvida do homem sobre quem seria o próximo, ele contou a parábola colocando o samaritano como o exemplo de amor ao próximo. Justamente um homem tido como herege. E disse Jesus novamente para que seu interlocutor fizesse como fez o samaritano. Fazer como o samaritano para que? Para ter a “vida eterna”. É lógico, pois, que todo o diálogo girava em torno disso. Foi a pergunta inicial. Portanto, se não bastasse o amor e fossem ainda necessários teologismos e apego as escrituras, Jesus colocaria um doutor da lei como exemplo, não acham? Sim, pois um doutor da lei, que possui conhecimentos teológicos, passara pelo homem moribundo e não o socorrera. Mas o samaritano não passou pelo tal “crivo teológico”. Para Cristo importa a prática de seus ensinamentos, crendo nas escrituras ou não. Se não crer, se nem conhecimento sobre as escrituras a pessoa tem e coloca os ensinos em prática, melhor ainda, pois pratica o bem por puro amor desinteressado. Esse o ensino na parábola do bom samaritano e também do Espiritismo, conforme o lema “Fora da Caridade Não Há Salvação”. Argumentam, ainda, dizendo que Jesus não havia ainda sido crucificado, e que, a partir de sua morte e ressurreição, isso mudaria e a salvação se daria somente através da crença em Jesus como “Deus encarnado que se sacrificou por nós”. Mas vamos analisar a situação. O que significa isso? Que Jesus deu uma bela lição contra preconceito e intolerância, mas que a partir de sua ressurreição, seria ele próprio intolerante e preconceituoso, mandando para o fogo eterno homens como aquele samaritano só por não o idolatrarem como o Deus que se fez carne, morreu e ressuscitou? Eu não acredito, por uma simples questão de lógica e, ainda, fé na bondade e amor do nosso Criador. Não acredito em um Deus egoísta, que exige adoração até daqueles que viveram praticando o amor como o daquele samaritano. Aliás, os versículos abaixo foram escritos após a ressurreição do Cristo: "pois para com Deus não há acepção de pessoas. Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados. Pois não são justos diante de Deus os que só ouvem a lei; mas serão justificados os que praticam a lei " (Romanos 2:11-13) "Deus não faz acepção de pessoas, mas é agradável a todo aquele que em qualquer nação o teme e obra o que é justo". (Atos 10:34-25) Está claro pra mim que, independentemente da crença pessoal de cada um, a prática das leis de Deus agrada a Deus - o mesmo pensamento da parábola do bom samaritano. Outro absurdo: o samaritano antes de Jesus estaria salvo, pois bastou demonstrar amor com seu próximo. Chico Xavier, Gandhi, Dalai Lama e tantos outros que não seguem esse dogma absurdo estão condenados, de acordo com o que pensam os católicos e evangélicos. Mas antes de Jesus seriam justificados apenas pelas obras. Então, pergunto: Jesus veio para salvar ou, como um Deus egoísta e cruel que exige uma adoração de tal e tal forma (Deus que se fez homem para tirar o
  • 6. pecado do mundo simplesmente morrendo na cruz), condenar a maior parte da Humanidade? Além do problema do tempo, de antes e depois de Jesus, há o problema do espaço: a maior parte da Humanidade não vive no mundo considerado "cristão". Assim, todos estariam condenados eternamente. Diz a Confissão de Fé de Westminster"(item XVII), órgão máximo do presbiterianismo, que"boas obras são somente aquelas que Deus recomendou em sua santa palavra, e não as que sem esta garantia são inventadas por homens por um zelo cego ou sob o pretexto de qualquer boa intenção. Obras feitas por homens não regenerados - embora em si mesmas possam ser matérias que Deus ordena -são pecaminosas e não podem agradar a Deus" Ou seja, o samaritano, tido como herege, é colocado como exemplo pelo Cristo. Hoje, se um "herege" praticar uma boa ação, segundo a Confissão de Fé de Westminster", estará pecando. O mesmo pensamento acontece dentro do Catolicismo. O Concílio de Trento, realizado de 1545 a 1563, anatematiza a doutrina da salvação somente pelas obras: "811. Cân. 1. Se alguém disser que o homem pode ser justificado perante Deus pelas suas obras, feitas ou segundo as forças da natureza, ou segundo a doutrina da Lei, sem a graça divina [merecida] por Jesus Cristo — seja excomungado." Recentemente o Papa Francisco disse que um ateu pode ser salvo se fizer o bem. Mas o porta-voz do Vaticano, Thomas Rosica, contrariando a tal “infalibilidade papal” prontamente o contrariou, dizendo que os ateus, bons ou maus, vão pro inferno: “os ateus continuam indo para o inferno se não aceitarem Jesus Cristo como Senhor e Salvador”, disse Thomas. Para os cristãos de hoje, não há diferença entre Chico Xavier, Hitler, Gandhi e Fernandinho Beira- Mar. São todos "hereges" e vão pro inferno. Mas Jesus Cristo não pensava assim, e ninguém melhor do que ele, e não o pastor Israel, para nos dizer quem merece ser chamado de Cristão: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros.” (João 13:35) “Onde estiverem reunidos, em Meu nome, dois ou três, lá estarei no meio deles” (Mateus 18:20) Cadê o "crivo teológico", pastor? Até mesmo no Julgamento em Mateus (25:31-46), Jesus coloca como condição única da salvação a prática do amor ao próximo: 'Vinde, benditos do meu pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Por que tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era forasteiro e me hospedastes; estava nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; preso e fostes ver-me' (Mateus 25:34-36) e ainda “sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” (Mateus 25:40) Se Jesus nos ensina em todo o Evangelho que o que agrada a Deus é o amor desinteressado e não acreditar que ele é Deus, Salvador e que seu sangue tira os pecados, quem nos provará que não é assim? Agora, se alguns da época do Cristo, de forma literal ou simplesmente poética, relacionaram o sacrifício de Jesus com o costume bárbaro de matar animais para "tirar pecados", eu fico com as palavras do Jesus e não daqueles. Eu sigo a Jesus, não a Paulo ou outro apóstolo. E claro está que para o Mestre até um "herege"(para os fariseus, um samaritano era herege assim como para muitos um espírita também é) terá a vida eterna por simplesmente amar ao próximo: “ a cada um segundo suas obras.” (Mateus 16:27). Até porque, se a morte do Cristo foi para tirar pecados da Humanidade, será necessário matar outro Cristo. Sim, pois, se for como nos sacrifícios bárbaros, a morte dele foi para tirar os pecados cometidos até então, e não os cometidos até hoje. Quem via a Cristo via ao Pai, pois, sendo Jesus um enviado de Deus(e ninguém envia a si próprio), Deus nele se manifestava em suas ações e palavras, e não porque Cristo seja Deus e muito menos somos obrigados a crer nisso para sermos Cristãos.
  • 7. Respondendo a “Três Valores Espíritas”. No capítulo inicial, em resumo, o que o autor faz é citar o que considera três virtudes do Espiritismo: a importância que dá ao estudo e a Ciência, o respeito à outras religiões e o amor ao próximo, mas ainda insistindo o autor em dizer que, para ele, Espiritismo não pode ser considerado cristão apenas por isso, que essas virtudes estão presentes em várias outras religiões, e que o importante é também o já citado “crivo teológico”, o apego ao que diz a Bíblia. Insiste o pastor que Cristianismo “não considera a moral como sendo preponderante. Ao lado da moral também coloca a questão teológica. Como já dissemos, a fé cristã têm suas bases fincadas exclusivamente na Bíblia e só pode se considerar cristão quem passa pelos dois testes: o ético e o teológico”. Dizer que a moral não é preponderante, francamente, é negar tudo o que Jesus disse, e que relembrei no capítulo anterior. O que mais fez Jesus em sua vida foi nos trazer ensinamentos e mais ensinamentos, não teria ele nos ensinado em vão tantas coisas, como, entre outros exemplos: "Se sabeis destas coisas, bem-aventurados sereis se as praticardes" (13:17) "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus"(Mateus 5:16) "Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele; para que não aconteça que o adversário te entregue ao guarda, e sejas lançado na prisão. " (Mateus 5:25) "Eu, porém, vos digo que não resistais ao homem mau; mas a qualquer que te bater na face direita, oferece-lhe também a outra" (Mateus 5:39) "Dá a quem te pedir, e não voltes as costas ao que quiser que lhe emprestes. " (Mateus 5:42) "Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem;" (Mateus 5:44) "Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial. " (Mateus 5:48) "Não ajunteis para vós tesouros na terra; onde a traça e a ferrugem os consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consumem, e onde os ladrões não minam nem roubam." (Mateus 6:19-20) "Hipócrita! tira primeiro a trave do teu olho; e então verás bem para tirar o argueiro do olho do teu irmão. " (Mateus 7:5) "Quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que também vosso Pai que está no céu, vos perdoe as vossas ofensas." (Marcos 11:25) "Amai, porém a vossos inimigos, fazei bem e emprestai, nunca desanimado; e grande será a vossa recompensa, e sereis filhos do Altíssimo; porque ele é benigno até para com os integrantes e maus. " (Lucas 6:35) "Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados. " (Lucas 6:37) "E disse ao povo: Acautelai-vos e guardai-vos de toda espécie de cobiça; porque a vida do homem não consiste na abundância das coisas que possui" (Lucas 12:15) "Vendei o que possuís, e dai esmolas. Fazei para vós bolsas que não envelheçam; tesouro nos céus que jamais acabe, aonde não chega ladrão e a traça não rói. " (Lucas 12:33)
  • 8. "Não julgueis pela aparência mas julgai segundo o reto juízo. " (João 7:24) O ensino do amor ao próximo está presente em outras religiões. Mas Jesus é o único a ensinar que devemos amar também nossos inimigos, que devemos perdoar infinitamente, “dar a outra face”.... Insiste o pastor que o Cristianismo “não crê que todos os caminhos levam a Deus, mas sim que Jesus Cristo é o único caminho, a verdade e a vida.”. Ele é o caminho, naquilo que ele representa: no exemplo e nos ensinos que nos deixou. Quando a Humanidade finalmente entender essa mensagem tão simples e deixar de se apegar a teologismos, a preconceitos, a intolerância, a ataques a quem se considera como “pecadores”, a uma busca egoísta pela sua própria “salvação” sabe-se lá do que, aqui na Terra reinará a paz, cumprindo a missão do Cristo. Não parece fácil, pois, como disse bem Roberto Carlos em “Todos Estão Surdos”: “Tanta gente se esqueceu. Que o amor só traz o bem. Que a covardia é surda. E só ouve o que convém . Tanta gente se afastou Do caminho que é de luz. Pouca gente se lembrou. Da mensagem que há na cruz “. Roberto Carlos nessa música nos diz justamente sobre a verdadeira missão do Cristo que foi esquecida. E nisso está a maior importância do Espiritismo, tão chamado de “demoníaco”. Importante ainda observar que a expressão "andar nos caminhos do Senhor" significa, no Antigo Testamento, agir de acordo com a vontade de Deus, revelada em seus mandamentos, estatutos, ordenanças, preceitos: "Guarda as ordenanças do Senhor teu Deus, andando nos seus caminhos, e observando os seus estatutos, os seus mandamentos, os seus preceitos e os seus testemunhos, como está escrito na lei de Moisés, para que prosperes em tudo quanto fizeres e por onde quer que fores, " (I Reis 2:3) "mas incline a si os nossos corações, a fim de andarmos em todos os seus caminhos, e guardarmos os seus mandamentos, e os seus estatutos, e os seus preceitos, que ordenou a nossos pais." (I Reis 8:58) A lei de Deus é chamada "O caminho do Senhor": "Então disse eu: Deveras eles são uns pobres; são insensatos, pois não sabem o caminho do Senhor, nem a justiça do seu Deus. " (Jeremias 5:4). Os Profetas se esforçam para convencer as pessoas da necessidade de seguir o"caminho do Senhor", porque Israel sucumbe, vezes sem conta, à tentação de evitar as admoestações Divinas: "depressa se desviou do caminho que eu lhe ordenei; eles fizeram para si um bezerro de fundição, e adoraram-no, e lhe ofereceram sacrifícios, e disseram: Eis aqui, ó Israel, o teu deus, que te tirou da terra do Egito." (Êxodo 32:8) "Mas vós vos desviastes do caminho; a muitos fizestes tropeçar na lei; corrompestes o pacto de Levi, diz o Senhor dos exércitos" (Malaquias 2:8) Considerando-se as enormes dificuldades encontradas para manter-se fiel aos desígnios divinos, pode-se entender a euforia do salmista: "Pois tenho guardado os caminhos do Senhor, e não me apartei impiamente do meu Deus. " (Salmos 18:21) Portanto, Cristo não é o caminho por causa do "sangue redentor" e sim por causa do exemplo e dos ensinos que nos deixou. Seguir esse caminho é praticar os preceitos cristãos e não simplesmente se batizar e crer que foi"lavado pelo sangue do Cristo".
  • 9. Respondendo a “Duas Fontes Diferentes”. Discorre o autor aqui sobre a Bíblia conforme entendida pelos espíritas e pelos evangélicos:“A primeira pergunta que deve ser feita a qualquer credo que se diz cristão é: Qual a fonte dos seus ensinos? Em outras palavras, de onde vem aquilo que esse credo afirma e ensina sobre a vida em geral e a fé em particular? O Cristianismo extrai seus ensinos da Bíblia Sagrada (Antigo Testamento e Novo Testamento), um conjunto de livros que os cristãos consideram inspirados por Deus para orientar as pessoas em todas as questões da vida. A inspiração da Bíblia pode ser entendida como um processo através do qual Deus atuou para comunicar objetivamente sua vontade aos seres humanos”. Mais à frente diz o pastor que “o correto é sempre deixar a Bíblia falar, mesmo que isso incomode”. Ao longo de seu livro o autor sempre lembra que essa regra acima tem que ser seguida. Já vimos no caso do julgamento em Mateus 25 e na parábola do bom samaritano, que entram em choque com a ideia da salvação através da crença no “Deus encarnado que morreu por nós”, que nem sempre os evangélicos deixam simplesmente a Bíblia falar. Por sinal, veremos ao longo dessa obra como a velha regra de interpretação, “a Bíblia interpreta a própria Bíblia”, só vale quando conveniente. Será que a Bíblia, toda ela, é a "Palavra de Deus", "infalível", "perfeita", "sem contradições", etc? No Sermão da Montanha, Jesus revogou algumas coisas do Antigo Testamento, retificando o que era humano nas leis mosaicas: "Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao homem mau; mas a qualquer que te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; e ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; e, se qualquer te obrigar a caminhar mil passos, vai com ele dois mil. Dá a quem te pedir, e não voltes as costas ao que quiser que lhe emprestes. Ouvistes que foi dito: Amarás ao teu próximo, e odiarás ao teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem;para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus; porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos. Pois, se amardes aos que vos amam, que recompensa tereis? não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis demais? não fazem os gentios também o mesmo? Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial. " (Mateus 5:38-48) Fossem todas elas ordens divinas, seriam então irrevogáveis. Impossível provar que a Bíblia é inteiramente inspirada por Deus, ainda mais com tantas comprovadas alterações e “erros” de tradução ao longo dos anos. Isso só interessa às igrejas que se julgam donas da verdade, para poder manipular a massa, não dando a ela o direito de pensar, tendo que aceitar a tudo sem questionar, já que as igrejas(a Católica e as diversas igrejas evangélicas), julgam-se as únicas capazes de interpretar os textos bíblicos. “Fica claro, por exemplo, que o protestantismo, pelo menos o analisado por Alves, se baseia num equívoco. O livre exame, por exemplo, não existe. Tal como o católico, que, na análise da Bíblia deve seguir uma autoridade - por exemplo, um papa infalível - o protestante também não é livre para interpretar as Escrituras. Ele deve seguir o que se chama de "confissões", interpretações elaboradas por pessoas consideradas entendidas do assunto. Só podem ser aceitas as "confissões" aprovadas pelos poderes dominantes na comunidade protestante, ou seja, a fé passa a ser uma
  • 10. questão de poder." ” - análise do livro "Protestantismo e Repressão" (Ed. Ática, 1979) feita por Renato Pompeu na revista "Veja" de 10/10/1979. Mais adiante continua o pastor: “Leio a Bíblia cotidianamente e vou impregnando a minha mente do seu sábio e santo conteúdo”. Vejamos alguns “sábios” e “santos” versículos da Bíblia: "Cada um tome a sua espada e mate cada um a seu irmão, cada um a seu amigo, cada um a seu vizinho" (Ex. 32:27) "Nenhuma coisa que tem fôlego deixarás com vida" (Deut. 20:16) "Se o povo de uma cidade incitar os moradores a servir outros deuses, destruirás ao fio de espada tudo quanto nela houver, até os animais" (Deut. 13:12/15) São ordens do “Deus” do Velho Testamento, e certamente não é o mesmo Deus Pai dos Evangelhos, aquele que é somente amor por suas criaturas e que Jesus Cristo nos ensinou a amar e não a temer. Veja os versículos abaixo em Levitico 21:16-24 e raciocinem um pouco: um ato tão desumano de preconceito teria vindo do próprio Deus? “16 Disse mais o Senhor a Moisés: 17 Fala a Arão, dizendo: Ninguém dentre os teus descendentes, por todas as suas gerações, que tiver defeito, se chegará para oferecer o pão do seu Deus. 18 Pois nenhum homem que tiver algum defeito se chegará: como homem cego, ou coxo, ou de nariz chato, ou de membros demasiadamente compridos, 19 ou homem que tiver o pé quebrado, ou a mão quebrada, 20 ou for corcunda, ou anão, ou que tiver belida, ou sarna, ou impigens, ou que tiver testículo lesado; 21 nenhum homem dentre os descendentes de Arão, o sacerdote, que tiver algum defeito, se chegará para oferecer as ofertas queimadas do Senhor; ele tem defeito; não se chegará para oferecer o pão do seu Deus. 22 Comerá do pão do seu Deus, tanto do santíssimo como do santo; 23 contudo, não entrará até o véu, nem se chegará ao altar, porquanto tem defeito; para que não profane os meus santuários; porque eu sou o Senhor que os santifico. 24 Moisés, pois, assim falou a Arão e a seus filhos, e a todos os filhos de Israel. “ Paulo demonstrando claramente sua misoginia, muito comum à época, em I Coríntios, 14/34, 35: "As vossas mulheres devem ficar caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja" A Bíblia coloca a mulher numa situação inferior. No Velho Testamento, então, registram-se passagens lamentáveis, a respeito do conceito que a mulher tem, conforme aquilo que se chama de "palavra de Deus". "Quando pelejarem dois homens, um contra o outro, e a mulher de um chegar para livrar o seu marido da mão do que o fere, e ela estender a sua mão, e lhe pegar pelas suas vergonhas, então cortar-lhe-às as mãos, não a poupará o teu olho" (Deut. 25:11) Uma passagem bíblica alega que "Deus" permitiu ao Rei Salomão (um assassino terrível) ter 300 mulheres e 700 concubinas, ainda o considerando como um dos seus "eleitos". Há um caso,
  • 11. também, em que o próprio "Deus" sugere a Isaac inventar para o Faraó que a sua própria esposa era sua irmã, para que ele, o Faraó, pudesse se aproveitar bem dela, em troca de ouro e prata. " Quando um homem tomar uma mulher e se casar com ela, então será que, se não achar graça em seus olhos, por nela encontrar coisas indecentes, far-lhe-á uma carta de repúdio, e lhe dará na sua mão, e a despedirá de sua casa. Se ela, pois, saindo de sua casa, for e se casar com outro homem, e este também a desprezar, e lhe fizer carta de repúdio, e lhe der na sua mão, e a despedir de sua casa, ou se este último homem, que a tomou para si por mulher, vier a morrer, então seu primeiro marido que a despediu, não poderá tornar a tomá-la, para que seja sua mulher, depois que foi contaminada; pois é abominação perante o Senhor" (Deut. 24: 1, 2, 3, 4) Veja que Cristo contrariou a ordem acima: " 2 Então se aproximaram dele alguns fariseus e, para o experimentarem, lhe perguntaram: É lícito ao homem repudiar sua mulher? 3 Ele, porém, respondeu-lhes: Que vos ordenou Moisés? 4 Replicaram eles: Moisés permitiu escrever carta de divórcio, e repudiar a mulher. 5 Disse-lhes Jesus: Pela dureza dos vossos corações ele vos deixou escrito esse mandamento. 6 Mas desde o princípio da criação, Deus os fez homem e mulher. 7 Por isso deixará o homem a seu pai e a sua mãe, [e unir-se-á à sua mulher,] 8 e serão os dois uma só carne; assim já não são mais dois, mas uma só carne. 9 Porquanto o que Deus ajuntou, não o separe o homem. 10 Em casa os discípulos interrogaram-no de novo sobre isso. 11 Ao que lhes respondeu: Qualquer que repudiar sua mulher e casar com outra comete adultério contra ela; 12 e se ela repudiar seu marido e casar com outro, comete adultério." (Marcos 10) Evidente que era lei de Moisés, para um determinado povo, e não lei de Deus, pois as leis de Deus são imutáveis, e essas Jesus dizia que veio complementar e não anular. Lv 12,2: “Fala aos filhos de Israel: Se uma mulher conceber e tiver um menino, será imunda sete dias, como nos dias da sua menstruação será imunda”. Lendo esses versículos, entendemos porque evangélicos no Brasil hoje não são apenas homofóbicos, mas misóginos, como o pastor Marcos Feliciano, que já se declarou contra a luta pelos direitos das mulheres. Entendemos também porque são intolerantes com outras religiões. Em Deut. 13:6, 9 e 10, há uma ordem de matar a pedradas os adeptos de outras crenças. Uma apologia à intolerância religiosa. Deus gosta de sacrifícios de animais? Em Levítico 22:17-18 "Deus" ordena que a oferta a ser oferecida no altar seja de animais sem defeito. E é mais exigente ainda, quando determina que não devam ser ofertados bichos que tiverem testículos machucados, ou moídos, ou arrancados, ou cortados (Levítico 22:24). Mais: "Se oferecer um animal do rebanho como sacrifício de comunhão ao Senhor, trará um macho ou uma fêmea sem defeito.” (Levítico 3:6) Deus, o Criador, onipresente, nosso Pai, aceitando ofertas de animais mortos, como nos despachos de candomblé, por si só já é algo que causa estranheza. Ainda mais, sendo exigente dessa forma. E os textos ainda nos dizem que Deus “se comprazia com o cheiro dos animais imolados em holocausto" (Números 29:36).
  • 12. Os sacrifícios de animais lembram e muito aqueles do candomblé em nossos dias. É claro, pois nada mudou do passado para hoje. Eram espíritos ainda atrasados tidos como divindades, igual em um centro de candomblé. Kardec diz em O Livro dos Espíritos: "Os antigos figuravam os deuses tomando o partido deste ou daquele povo. Esses deuses eram simplesmente Espíritos representados por alegorias.". Diz ele também, no mesmo livro: "os antigos fizeram, desses Espíritos, divindades especiais. As Musas não eram senão a personificação alegórica dos Espíritos protetores das ciências e das artes, como os deuses Lares e Penates simbolizavam os Espíritos protetores da família. Também modernamente, as artes, as diferentes indústrias, as cidades, os países têm seus patronos, que mais não são do que Espíritos superiores, sob várias designações". E mais à frente no mesmo livro Kardec pergunta, os espíritos respondem e ele dá a conclusão final: “537. A mitologia dos antigos se fundava inteiramente em idéias espíritas, com a única diferença de que consideravam os Espíritos como divindades. Representavam esses deuses ou esses Espíritos com atribuições especiais. Assim, uns eram encarregados dos ventos, outros do raio, outros de presidir ao fenômeno da vegetação, etc. Semelhante crença é totalmente destituída de fundamento? “Tão pouco destituída é de fundamento, que ainda está muito aquém da verdade.” a) - Poderá então haver Espíritos que habitem o interior da Terra e presidam aos fenômenos geológicos? “Tais Espíritos não habitam positivamente a Terra. Presidem aos fenômenos e os dirigem de acordo com as atribuições que têm. Dia virá em que recebereis a explicação de todos esses fenômenos e os compreendereis melhor.” (...) 668. Tendo-se produzido em todos os tempos e sendo conhecidos desde as primeiras idades do mundo, não haverão os fenômenos espíritas contribuído para a difusão da crença na pluralidade dos deuses? “Sem dúvida, porquanto, chamando deus a tudo o que era sobre-humano, os homens tinham por deuses os Espíritos. Daí veio que, quando um homem, pelas suas ações, pelo seu gênio, ou por um poder oculto que o vulgo não lograva compreender, se distinguia dos demais, faziam dele um deus e, por sua morte, lhe rendiam culto.” Comentário de Kardec: “A palavra deus tinha, entre os antigos, acepção muito ampla. Não indicava, como presentemente, uma personificação do Senhor da Natureza. Era uma qualificação genérica, que se dava a todo ser existente fora das condições da Humanidade. Ora, tendo-lhes as manifestações espíritas revelado a existência de seres incorpóreos a atuarem como potência da Natureza, a esses seres deram eles o nome de deuses, como lhes damos atualmente o de Espíritos. Pura questão de palavras, com a única diferença de que, na ignorância em que se achavam, mantida intencionalmente pelos que nisso tinham interesse, eles erigiram templos e altares muito lucrativos a tais deuses, ao passo que hoje os consideramos simples criaturas como nós, mais ou menos perfeitas e despidas de seus invólucros terrestres. Se estudarmos atentamente os diversos atributos das divindades pagãs, reconheceremos, sem esforço, todos os de que vemos dotados os Espíritos nos diferentes graus da escala espírita, o estado físico em que se encontram nos mundos superiores, todas as propriedades do perispírito e os papéis que desempenham nas coisas da Terra. Vindo iluminar o mundo com a sua divina luz, o Cristianismo não se propôs destruir uma coisa que está na Natureza. Orientou, porém, a adoração para Aquele a quem é devida. Quanto aos Espíritos, a lembrança deles se há perpetuado, conforme os povos, sob diversos nomes, e suas manifestações, que nunca deixaram de produzir-se, foram interpretadas de maneiras diferentes e muitas vezes exploradas sob o prestígio do mistério. Enquanto para a religião essas manifestações eram fenômenos miraculosos, para os incrédulos sempre foram embustes. Hoje, mercê de um estudo mais sério, feito à luz meridiana, o Espiritismo, escoimado das idéias supersticiosas que o
  • 13. ensombraram durante séculos, nos revela um dos maiores e mais sublimes princípios da Natureza" Lemos também no Livro dos Espíritos: “669. Remonta à mais alta Antigüidade o uso dos sacrifícios humanos. Como se explica que o homem tenha sido levado a crer que tais coisas pudessem agradar a Deus? “Principalmente, porque não compreendia Deus como sendo a fonte da bondade. Nos povos primitivos a matéria sobrepuja o espírito; eles se entregam aos instintos do animal selvagem. Por isso é que, em geral, são cruéis; é que neles o senso moral, ainda não se acha desenvolvido. Em segundo lugar, é natural que os homens primitivos acreditassem ter uma criatura animada muito mais valor, aos olhos de Deus, do que um corpo material. Foi isto que os levou a imolarem, primeiro, animais e, mais tarde, homens. De conformidade com a falsa crença que possuíam, pensavam que o valor do sacrifício era proporcional à importância da vítima. Na vida material, como geralmente a praticais, se houverdes de oferecer a alguém um presente, escolhê-lo-eis sempre de tanto maior valor quanto mais afeto e consideração quiserdes testemunhar a esse alguém. Assim tinha que ser, com relação a Deus, entre homens ignorantes.” a) - De modo que os sacrifícios de animais precederam os sacrifícios humanos? “Sobre isso não pode haver a menor dúvida.” Somente espíritos atrasados, ligados a matéria, se deliciam com o sangue de animais. Vejamos esse relato do espírito André Luiz, através da psicografia de Chico Xavier, no livro "Missionários da Luz": "Diante do local em que se processava a matança dos bovinos, percebi um quadro estarrecedor. Grande número de desencarnados, em lastimáveis condições, atiravam-se ao borbotões de sangue- vivo, como se procurassem beber o líquido em sede devoradora... Alexandre percebera o assombro doloroso que se apossara de mim e esclareceu-me com serenidade: - Está observando, André? Estes infelizes irmãos que nos não podem ver, pela deplorável situação de embrutecimento e inferioridade, estão sugando as forças do plasma sanguíneo dos animais. São famintos que causam piedade. Poucas vezes, em toda a vida, eu experimentara tamanha repugnância. As cenas mais tristes das zonas inferiores que, até ali, pudera observar, não me haviam impressionado com tamanho amargor. Desencarnados à procura de alimentos daquela espécie? Matadouro cheio de entidades perversas? Que significa tudo aquilo? Lembrei meus reduzidos estudos de História, remontando- me à época em que as gerações primitivas ofereciam aos supostos deuses o sangue de touros e cabritos. Estaria ali, naquele quadro horripilante, a representação antiga dos sacrifícios em altares de pedra? Deixei que as primeiras impressões me incandescessem o cérebro, a ponto de sentir, como noutro tempo, que minhas idéias vagueavam em turbilhão. Alexandre, contudo, solicito como sempre, acercou-se mais carinhosamente de mim e explicou: - Por que tamanha sensação de pavor, meu amigo? Saia de si mesmo, quebre a concha da interpretação pessoal e venha para o campo largo da justificação. Não visitamos, nós ambos, na esfera da Crosta, os açougues mais diversos? Lembro-me de que em meu antigo lar terrestre havia sempre grande contentamento familiar pela matança dos porcos. A carcaça de carne e gordura significava abundância da cozinha e conforto do estômago. Com o mesmo direito, acercam-se os desencarnados, tão inferiores quanto já o fomos, dos animais mortos, cujo sangue fumegante lhes oferece vigorosos elementos vitais. Sem dúvida, o quadro é lastimável; não nos compete, porém, lavrar as condenações. Cada coisa, cada ser, cada alma, permanece no processo evolutivo que lhe é próprio. E se já passamos pelas estações inferiores, compreendendo como é difícil a melhoria no plano de elevação, devemos guardar a disposição legítima de auxiliar sempre, mobilizando as melhores possibilidades ao nosso alcance, a serviço do próximo." Outra semelhança com os cultos afro-brasileiros está no urim e o tumim. Sobre essa forma de se
  • 14. comunicar com "Deus" no Velho Testamento, que lembra o jogo de búzios, lemos no Dicionário Bíblico Universal: "Palavras de sentido incerto: designam uma técnica divinatória que consiste em tirar a sorte várias vezes, usando duas pedrinhas ou bastõezinhos ou algum objeto semelhante. Um dos objetos trazia a primeira letra do alfabeto, o alef, inicial de urim, e o outro a última letra, o tau (cf. Ez 9,4), inicial de tumim? Pode-se imaginar isso. O modo como funcionava aparece em 1 Sm 13, 41-42, corrigido segundo o grego: “Saul disse: ‘Se a culpa está em mim... o Senhor... faça dar urim; se a culpa está em Israel, que dê tumim!’Saul... foi designado. Saul disse: ‘Lançai a sorte sobre mim e meu filho Jônatas!’, e a sorte caiu em Jônatas”. Trata-se portanto de uma resposta por sim ou não, que vai progredindo por precisões sucessivas (cf. 1 Sm 23, 9-12) A operação poderia durar muito tempo (1 Sm 14, 18-19, corrigido segundo o grego). Acontecia às vezes que o oráculo se recusava a responder (1 Sm 14, 37, 28, 6). Sem dúvida, quando não saía nada ou quando os dois resultados saíam ao mesmo tempo. A manipulação das sortes era confiada ao sacerdote Eleazar (Nm 27, 21) ou à tribo de Levi (Dt 33, 8). Depois do reinado de Davi só se encontra uma menção (Esd 2, 63 = Ne 7, 65)." Um absurdo supor que Deus naqueles tempos, e somente naqueles tempos e não mais hoje, era visto e ouvido pelas pessoas, descendo das nuvens, falando face a face com os homens. Mas se conhecemos hoje a realidade da mediunidade e é um fato que ela sempre existiu, como podemos ver na analogia em diversos pontos entre os cultos afro-brasileiros de hoje em dia e os relatos bíblicos, devemos então concluir o óbvio. Escreveu Kardec em A Gênese: "Os inúmeros fatos contemporâneos de curas, aparições, possessões, dupla vista e outros, que se encontram relatados na Revue Spirite e lembrados nas observações acima, oferecem, até quanto aos pormenores, tão flagrante analogia com os que o Evangelho narra, que ressalta evidente a identidade dos efeitos e das causas. Não se compreende que o mesmo fato tivesse hoje uma causa natural e que essa causa fosse sobrenatural outrora; diabólica com uns e divina com outros. Se fora possível pô-los aqui em confronto uns com os outros, a comparação mais fácil se tornaria; não o permitem, porém, o número deles e os desenvolvimentos que a narrativa reclamaria". "Falava Deus a Moisés face a face, como qualquer homem fala ao seu amigo" (Êxodo 33-11) e contudo “Deus” advertiu Moisés: "Não poderás ver a minha face, porque homem nenhum verá a minha face e viverá" (Êxodo 33:20) e em seguida abriu uma concessão: “ver-me-as pelas costas, mas a minha face não se verá” (Êxodo 33:23). E no entanto o próprio Deus afirmou: “Eu falo com Moisés boca a boca e ele vê a forma do Senhor” (Num. 12:8) e mais: “Cara a cara o Senhor falou conosco no monte, no meio do fogo” (Deut. 5:4) e "(Moisés) a quem o Senhor conhecera cara a cara" (Deut. 34:10). Finalmente, "Deus por duas vezes apareceu a Salomão" (I Reis 11:9). Afinal, Deus foi visto ou não? Acontece que podemos ver que o legislador hebreu não falava apenas com Javé (Yahweh), pois era outro espírito que lhe dizia: "Vai ao povo e santifica-o hoje e amanhã, que no terceiro dia o Senhor descerá" (Êxodo 19:10-11). Ou ainda: "Protesta ao povo para que não trespasse o termo para ver o Senhor" (Êxodo 19:21). Um outro espírito mencionando o nome do Senhor. Mas este outro Espírito também é chamado "Senhor" nas traduções, o que causa confusão. Mas deve-se isso ao fato de que foram indistintamente traduzidas por "Senhor" e "Deus" as palavras El, Yahweh, Elohá, e Elohim, que denominavam a Deus e a Espíritos de diversas classes, desde a pureza de Elohá Yahweh e a superioridade de seus ministros, os Elohim, até a inferioridade dos Refaim e Shedim(cf TORRES PASTORINO, La Reencarnación em el Antiguo Testamento, Revista SPIRITVS, dezembro de 1964, p. 19-28). Argumenta ainda, em outra parte, o afamado autor de "Minutos de Sabedoria": "Quando se trata de DEUS O ABSOLUTO, sem forma, jamais criatura alguma poderá vê-lo, como está escrito em Êxodo (33:20). Mas com YHWH é diferente (Números, 12:6-8). Pastorino apresenta as seguintes palavras de Moisés como prova da existência de comunicação dos hebreus com espíritos de diversas categorias, em Deut. 32:17-19: "... Inmolaron a los SHEDIM
  • 15. e no a ELOHÁ, a ELOHIM desconocidos, nuevos, aparecidos ha pouco, no temidos por vuestros padres. Olvidaste la ROCA que te engendró, y olvidaste a EL, que te dió el ser. Vió esto YHWH e los despreció, enojado por los hijos e las hijas"(La Reencarnación en el Antiguo Testamento, Revista SPIRITVS, dezembro de 1964, p. 28). Este texto do Velho Testamento está assim consignado na tradução portuguesa do Pe. Matos Soares: "Sacrificaram aos demônios e não a Deus, a deuses que desconheciam; vieram deuses novos e recentes, que seus pais não tinham adorado. - Abandonaste o Deus que te gerou, e esqueceste do Senhor teu criador - o Senhor viu (isto), e acendeu-se em ira, porque o provocaram seus filhos e filhas". o Espiritismo(em O Livro dos Espíritos) esclarece tudo isso, ensinando que outrora os Espíritos eram deuses para o homem. Não se compreendia bem que nos fenômenos mediúnicos se tratava com seres humanos desencarnados (uns mais, outro menos evoluídos), os quais sofriam então um processo de deificação. É assim que temos mais um grande princípio de aplicação do Salmo 82, versículo 6: Vós sois deuses(Elohim). E todos vós sois filhos do Altíssimo; exatamente porque todos somos Espíritos, os seres inteligentes do Universo; todos somos filhos de Deus, pois que somos obra sua. (O Livro dos Espíritos, 77) O trecho bíblico em Gênesis 3:22, assim como Gênesis 1:26 ("Façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança"), pertencem, no texto primitivo, aos Elohim, ou seja, aos outrora chamados "deuses", aos espíritos superiores: os prepostos do Criador, porque mensageiros (anjos), executores de suas leis. É, pois, em vão que as teologias tentam identificar a forma plural Elohim com a Trindade, já que em Deuteronômio 32:17, conforme vimos na versão espanhola para o texto de Pastorino, a mesma forma plural Elohim é utilizada para se referir a "deuses falsos", conforme registram hoje mesmo certas versões bíblicas, como a Bíblia de Jerusalém, católica (Ed. Paulinas, 1985), ou, ainda, simplesmente "deuses", como a versão de Almeida (revista e corrigida, 1969) para I Samuel 28:13,onde a pitonisa através da qual o rei Saul conversou com Samuel (já morto), afirma: "Vejo deuses que sobem da terra", isto é, porque acreditava-se que os espíritos habitavam o Scheol, imaginado abaixo da terra. Nenhuma diferença existe entre o passado e o presente. Deus é o mesmo, os espíritos protetores são os mesmos, nada mudou. Não houve uma época no passado diferente e que não existe no presente. Assim sendo, somente a interpretação espírita resta absolutamente coerente! Javé (Yahweh) não era Deus, o Criador, mas seu representante na Terra, um dos Elohim("anjos", ou seja, espíritos mensageiros de Deus). E por ser o mais evoluído, era deles o chefe, o superior hierárquico. Não sendo Deus, e sim um espírito deificado, tinha sua forma vista por Moisés (cf Números 12:6-8) com quem falava face a face como um homem fala com outro (cf Êxodo 33:11). Ora! Acaso Deus tem forma e fala como um homem fala a outro?... Devemos ter em mente e lembrar sempre que Cristão segue a Jesus e não a Moisés ou outro profeta ou mesmo Paulo ou outro discípulo, ainda mais quando esses profetas e discípulos entram em conflito com os ensinamentos de Jesus e com o Deus Pai que ele nos revelou. Em seguida, o pastor cita passagens bíblicas e crítica as interpretações dadas por Kardec: “Vejamos, por exemplo, uma passagem bíblica interessante. Pouco antes de sua morte, Jesus confortou seus discípulos com as seguintes palavras: Não se perturbe o coração de vocês. Creiam em Deus; creiam também em mim. Na casa de meu pai há muitos aposentos [ou moradas]; se não fosse assim, eu lhes teria dito”
  • 16. (…) A leitura desses versículos mostra apenas uma coisa: que Jesus se referia ao fato de que, quando morresse, ele iria para o céu, onde esperaria por seus discípulos. (…) No entanto, a leitura espírita proposta por Allan Kardec usa esse mesmo texto para dizer que a casa do Pai é o universo. Essa leitura kardecista parte do texto bíblico, mas vai muito além dele” Claro, vai além do texto bíblico, realmente. Assim como vai muito além do texto bíblico a ideia de que Jesus é Filho de Deus e ao mesmo tempo é Deus junto com o Espírito Santo, fazendo parte de uma muito mal explicada Trindade, a ideia de que alguém que foi bom em toda a sua vida será condenado eternamente por não ter sido evangélico ou católico, a ideia de que a Bíblia condena a mediunidade porque mortos não se comunicam e sim demônios enganadores, e mais exemplos de “ginásticas” que todos verão ao longo desse meu livro. A diferença, Sr. Pastor, é que os espíritas assumem que não são bitolados mesmo ao texto bíblico e se apoiam na razão, nos fatos do dia a dia, na Ciência... Continua o pastor um pouco mais à frente: “Independentemente da existência de vários mundos, essas palavras também podem ser entendidas como o estado feliz ou infeliz do espírito errante(....) Como podemos ver, a interpretação que o Cristianismo faz dessa passagem se restringe ao que está dito no texto bíblico, enquanto a interpretação do Espiritismo lança mão de elementos que não pertencem ao texto bíblico, mas foram criados por um homem, Hyppollyte Léon Denizard Rivail, o codificador do espiritismo que adotava o pseudônimo de Allan Kardec” Não é a interpretação de um homem, pastor. São relatos do mundo espiritual, que sempre chegaram até nós. Então, esses relatos se harmonizam com a interpretação dada a essas palavras de Jesus. Kardec não criou nada. Diz-se que ele é o Codificador, por ter sido o homem escolhido para colocar em livros os ensinos que não são dele, Kardec, mas dos espíritos. Cita o pastor outros versículos bíblicos: “o texto de Jesus trata da humildade: “Pois todo o que se exalta será humilhado,e o que se humilha será exaltado”(Lucas 14:11). A conclusão kardecista – que não se limita a interpretar, mas opta por acrescentar a doutrina de Allan Kardec ao texto bíblico – é a seguinte: 'O Espiritismo vem confirmar os ensinamentos [de Jesus] exemplificando-os e mostrando-nos que os grandes no mundo dos Espíritos são os que foram pequenos na Terra, e frequentemente são bem pequenos lá aqueles que foram os maiores e os mais poderosos na Terra' Com isso fica claro que os textos que se dizem evangélicos na obra de Allan Kardec já não são mais evangélicos, são apenas espíritas. O espiritismo não parte do Evangelho, porque apenas o usa e acrescenta a ele elementos criados pela doutrina espírita” Novamente, trata-se de complementar, harmonizar com a luz trazida pela Doutrina Espírita. Muitos
  • 17. teólogos, muitos concílios, já acrescentaram muito e até deturparam textos bíblicos bem antes do Espiritismo existir. Muitos foram não só além na interpretação, mas deturparam tudo, palavras foram acrescentadas mudando todo o entendimento do texto. Acreditamos que o Espiritismo nos traz a interpretação mais pura dos ensinamentos cristãos, após séculos de concílios, distorções, intolerância, bitolação. Continua o pastor: “O grande problema está no fato de que o espiritismo se apresenta como uma revelação que está no mesmo nível da Bíblia. Para Kardec, a Lei do Antigo Testamento é a primeira revelação e está personificada em Moisés; a segunda revelação é a do Novo testamento, personificado em Cristo; o espiritismo é a terceira revelação da Lei de Deus. O espiritismo não foi personificado em nenhum indivíduo, pois ele é o produto do ensinamento dado, não por um homem, mas pelos espíritos, que são as vozes do céu, em todos os pontos da Terra, servindo-se para isso de uma multidão incontável de médiuns” Não é um “grande problema”, de fato a autoridade da revelação espírita está aí. Como diz Kardec em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”: “Se a Doutrina Espírita fosse de concepção puramente humana, não ofereceria por penhor senão as luzes daquele que a houvesse concebido. Ora, ninguém, neste mundo, poderia alimentar fundadamente a pretensão de possuir, com exclusividade, a verdade absoluta. Se os Espíritos que a revelaram se houvessem manifestado a um só homem, nada lhe garantiria a origem, porquanto fora mister acreditar, sob palavra, naquele que dissesse ter recebido deles o ensino. Admitida, de sua parte, sinceridade perfeita, quando muito poderia ele convencer as pessoas de suas relações; conseguiria sectários, mas nunca chegaria a congregar todo o mundo. Quis Deus que a nova revelação chegasse aos homens por mais rápido caminho e mais autêntico. Incumbiu, pois, os Espíritos de levá-la de um pólo a outro, manifestando-se por toda a parte, sem conferir a ninguém o privilégio de lhes ouvir a palavra. Um homem pode ser ludibriado, pode enganar-se a si mesmo; já não será assim, quando milhões de criaturas vêem e ouvem a mesma coisa. Constitui isso uma garantia para cada um e para todos. Ao demais, pode fazer-se que desapareça um homem; mas não se pode fazer que desapareçam as coletividades; podem queimar- se os livros, mas não se podem queimar os Espíritos. “ Após citar palavras do autor espírita Léon Denis, que não diz mais do que o óbvio sobre contradições bíblicas ao lado de narrativas históricas e legendárias, e também alguns ensinamentos sublimes, prossegue o autor: “Embora Allan Kardec cite e comente frases de Jesus Cristo, ele seleciona textos de seu interesse, e os explica de forma isolada. E, quando os explica, ele o faz a partir de uma leitura tão livre(em termos alegóricos) que não encontra respaldo na lógica do texto nem na história da interpretação desse texto. Contudo, ninguém tem o direito de desfigurar o texto original para fazê-lo dizer o que não disse. “ No entanto, veremos ao longo desse livro quem é que só aceita o que interessa nos textos, e até mesmo o desfigura, em “traduções” tendenciosas. E o problema, já disse, é que não somos nós que vivemos a dizer que tudo deve ser aceito sem questionar e sem interpretar o que já foi dito.
  • 18. E prossegue o pastor: “Se alguém se propõe a fazer uma interpretação da Bíblia, deve se limitar a interpretá-la, e não negá-la, dizendo que a está afirmando. Se a Bíblia é legendária, para que citá-lá então?” Porque nem tudo é legendário, é óbvio. Só porque não aceitamos burras e cobras falantes, por exemplo, não quer dizer que vamos desconsiderar toda a Bíblia, ainda mais que sabemos que há textos de fato inspirados. Não por Deus, mas por seus enviados. Mas se o pastor acredita que tudo na Bíblia é inspirado, deveria ensinar que é pecado fazer a barba, que devemos matar filhos rebeldes, devemos enterrar as próprias fezes, matar todas as pessoas mais poderosas, destruir a espada tudo o que tem vida pela frente e incluindo os animais e crianças, consentir com o casamento de um homem com 10 mulheres, estuprar a esposa do seu inimigo, queimar um boi vivo pra Deus. Se citam Paulo para agir com preconceito e intolerância para com os homossexuais, deveriam também agir com preconceito e intolerância para com as mulheres, que, segundo Paulo, devem ficar caladinhas na Igreja. Não é "100% inspirada"? "100% perfeita"? Não é "sem contradições"? Não é "infalível"? Então, ou segue tudo ou não segue, só a metade e onde interessa não vale. Depois não podem dizer que nós só pegamos o que interessa, afinal não somos nós que falamos que a Bíblia é infalível, então por que exigir que justamente os espíritas aceitem tudo o que a Bíblia diz? Quem, então, está sendo contraditório aqui? Prossegue o pastor: “A questão existencial, contudo é outra: O que fazer com a Bíblia? Havendo contradição entre os ensinos do espiritismo e a Bíblia, quem merece crédito? A dificuldade de conciliar os ensinos bíblicos e a doutrina espírita se mostra clara, quando se comparam os dois ensinos. A comparação demanda uma decisão: Por qual desses ensinos vale a pena viver, já que ambos na verdade não se complementam, mas de fato se contradizem? É este o campo onde se trava a real batalha” Contradição entre Espiritismo e Bíblia existe onde essa contradiz também os ensinos de Jesus,a moral cristã, o Deus Pai dos Evangelhos, além de contradizer a Ciência e qualquer lógica e bom senso. Em seguida, o pastor transcreve um testemunho de um evangélico que se diz ex-espírita, com os surrados argumentos sobre divergência entre Espiritismo e Bíblia. Transcrevo aqui o testemunho de Jayme Andrade, um ex-evangélico que se tornou espírita: "Por vários anos frequentei os cultos evangélicos, sem encontrar a solução que buscava para os problemas de ordem espiritual. Comecei a ler obras espíritas e nelas encontrei a resposta adequada aos meus íntimos anseios. Quanto mais lia, mais se robusteciam minhas convicções. Quanto mais suplicava a Deus que me orientasse no rumo da Verdade, mais me pareciam claros e lógicos os ensinamentos do Espiritismo. Alguns dos antigos irmãos não pouparam esforços no sentido de reconduzir ao aprisco a ovelha transviada. Só que não havia diálogo possível, pois jamais encontrei algum com paciência bastante para examinar com isenção minhas razões. Essa incompreensão é que talvez tenha feito germinar a ideia de uma exposição tendente a situar os princípios doutrinários do Espiritismo em face dos ensinamentos do Cristo e em confronto com as concepções religiosas do Cristianismo ortodoxo." ("O Espiritismo e as Igrejas Reformadas") E diz o autor mais à frente: “Para se tornar Cristão, um espírita terá que abrir a Bíblia como a revelação de Deus para a sua vida e deixar somente Deus falar, e não um ser humano, pois na Bíblia Deus fala diretamente, sem intérpretes”
  • 19. Falava através dos espíritos, seus mensageiros, em visões, audições, materializações,por meio dos médiuns, então chamados profetas. Espíritos continuam a se comunicar. Mas onde está Deus se manifestando da mesma forma, se isso no passado foi possível? Cita em seguida o pastor as palavras de Paulo em Gálatas 1:8-11 e, como sempre fazem os evangélicos, afirma que Espiritismo traz um novo Evangelho e que o Evangelho anunciado na Bíblia não é de origem humana mas foi revelado por Jesus, que é “Deus em forma humana”, coisa que o versículo não diz. Que Cristo não estava em forma humana, é fato, realmente, pois Jesus se manifestava para Paulo em Espírito, tendo sido a primeira vez na Estrada de Damasco, para lhe revelar a “Boa Nova”(O significado de Evangelho). Mas o texto não diz que Jesus é Deus. Aliás, a Bíblia jamais afirma isso e provarei isso nas páginas dessa obra. E será mesmo que o Espiritismo traz outro Evangelho, “de origem humana”(palavras do autor) ? NÃO, e quem deseja criticar algo deveria antes conhecer. O Evangelho Segundo o Espiritismo não é "outro Evangelho", e sim um estudo, uma análise de diversas passagens dos evangelhos, analisadas sob a luz da Doutrina Espírita. Ele trata especificamente do aspecto religioso do Espiritismo e é todo desenvolvido a partir dos ensinamentos do Cristo. Não cabe a crítica infundada, recorrente nos argumentos de evangélicos e também católicos, de que o livro é outro evangelho só porque não trata de todo o Evangelho mas só “do que interessa ao Espiritismo”, pois ele se propõe justamente a analisar os versículos que tratam da moral Cristã. Somente isso. Sobre os dogmas cristãos, céu, inferno, ressurreição e tudo o mais que evangélicos consideram mais importante do que a moral cristã tratada no E.S.E, lemos em outras obras de Kardec, como “A Gênese” e o “O Céu e o Inferno”. O E.S.E, nos seus 28 capítulos cita mais de 400 versículos dos Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, os quais são estudados a fundo, de modo que se tornem compreensíveis para a grande maioria das pessoas. Das partes do Evangelho, as mais estudadas nesta obra são o "sermão da montanha" e diversas parábolas. Tudo é explicado em linguagem simples e objetiva. Para nós, dogmas criados pelos homens como o da Divindade/Trindade, Purgatório, salvação pela graça, infalibilidade do Papa, infalibilidade da Bíblia, presença real do Cristo na Eucaristia, etc., é que deturparam os ensinos cristãos, principalmente por afastar as pessoas da simplicidade da mensagem do Evangelho, que diz que seremos julgados pelas nossas obras boas ou más e não por crer nisso ou naquilo. Para nós, o Espiritismo é o Cristianismo Redivivo, com o Evangelho do amor, visando a transformação dos indivíduos e do mundo através dos preceitos cristãos, e não o "Evangelho" da intolerância, dos ataques a quem não segue os mesmos dogmas, da opressão, do orgulho em se dizer “Justificado” e “ungido”, do dinheiro doado a exploradores da fé... Para nós, evangelizar é espalhar a mensagem de amor do Cristo e não sair pelo mundo em tentativas de conversões forçadas até com índios e enfermos nos hospitais. E não é de origem humana, tendo Kardec simplesmente como o Codificador dos ensinos trazidos pelos mensageiros do Cristo em vários cantos do planeta. "Nenhuma mensagem do mundo espiritual pode ultrapassar a lição permanente e eterna do Cristo, e a questão, sempre nova, do Espiritismo é, acima de tudo evangelizar..." (Emmanuel, mentor espiritual do querido médium Chico Xavier)
  • 20. Respondendo a “Para que o Diálogo seja Possível”. No terceiro capítulo, começa o autor dizendo: “Como já dissemos, para que um cristão e um espírita possam dialogar sobre suas crenças é preciso que ambos considerem a Bíblia como a única fonte da verdade. Mas será que as doutrinas espíritas podem ser consideradas bíblicas? Será que elas foram desenvolvidas a partir da Bíblia? E quanto aos ensinos cristãos, qual é o lugar que a Bíblia ocupa neles? Jesus era um profundo leitor das Escrituras(no caso dele, do Antigo Testamento, obviamente). Diz ele que os que se enganam o fazem “porque não conhecem as Escrituras nem o poder de Deus”(Mateus 22:29). Portanto, aceito o pressuposto da veracidade das Escrituras(ou seja, da Bíblia como única fonte de verdade, por causa daquele que a inspirou), vejamos o que a própria Bíblia diz sobre si mesma.” O pastor faz aqui o que havia condenado no capítulo anterior, que é ir além do que a Bíblia diz e não simplesmente deixar que ela diga por si mesma. Observem os leitores que Jesus não disse que a Bíblia é a “única fonte de verdade”, muito menos que é infalível, divina de “capa a capa”. Disse apenas que as Escrituras contém verdades, e não que é ela é a Verdade inteiramente. Jesus por várias vezes, como já demonstrei, contrariou o que está no Antigo Testamento. E é claro para qualquer um que o Deus violento, que ordenava a morte até de crianças e animais, não é o mesmo Deus que Cristo nos ensinou a amar – e não a temer; Na verdade, não é nem o mesmo Deus que deu os 10 mandamentos, entre os quais estava o “Não Matarás”. Até os ateus que conhecem a Bíblia percebem que Jesus parece perdido nos textos bíblicos, com tanta mensagem de amor, transformação, tolerância(até com prostitutas), em meio ao banho de sangue que a Bíblia traz na maioria de suas páginas. O que importa para Jesus do Antigo Testamento se resume a isso: “Mestre, qual é o grande mandamento na lei? Respondeu-lhe Jesus: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas. ” (Mateus 22: 36-40) Prossegue o pastor: “O valor da Bíblia é inestimável: 'Pois tudo o que foi escrito no passado, foi escrito para nos ensinar, de forma que, por meio da perseverança e do bom ânimo procedentes das Escrituras, mantenhamos a nossa esperança' (Romanos 15:4)” Tudo o que? Não dizem católicos e evangélicos que nem tudo é inspirado, e chamam de "apócrifos" livros que não constam em suas bíblias? Ainda por cima, a Bíblia protestante exclui livros que estão na Bíblia dos católicos, como Eclesiástico e Sabedoria. Afinal, a quais escrituras Paulo se referia? Mostrei aqui que tem muita coisa na Bíblia, até mesmo palavras do próprio Paulo, longe de serem proveitosas para nos ensinar e nos dar perseverança e bom ânimo. Aliás, Paulo também disse: "Examinai tudo e retende o que for bom" (I Tess. 5:21).. Prossegue o pastor: “O conteúdo da Bíblia foi inspirado por Deus. Deve-se saber que “nenhuma
  • 21. profecia da Escritura provém de interpretação pessoal, pois jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo?' (2Pedro 1:20-21)” Isso está correto, se entendermos o que é profecia e o que é o Espírito Santo. O que é profecia? Rev. Nielsson, teólogo e tradutor da Bíblia, no livro "O Espiritismo e a Igreja", fala sobre os "dons espirituais": "Esta expressão aparece apenas nos textos paulinos, com a palavra grega charismata,que significa literalmente mediunidade, ou seja, a graça de ser intermediário entre os Espíritos e os homens." Nielsson diz: "Segundo a concepção dos tempos apostólicos, os Espíritos podiam ser bons ou maus, muito evoluídos ou inferiores e atrasados". Isto explica as advertências apostólicas, pois nas assembleias cristãs manifestavam-se também os maus espíritos, amaldiçoando o Cristo para defenderem o Judaísmo Ortodoxo ou mesmo para defenderem as religiões politeístas, que também usavam a mediunidade. Os profetas eram chamados "pneumáticos", na expressão grega do texto, que quer dizer: cheios de espírito. Havia dois tipos de espíritos: os de Deus, que eram bons, e os do Mundo, que eram maus. A respeito das comunicações, Paulo é incisivo: "A manifestação do espírito é concedida a cada um, visando a um fim proveitoso". Reunidos os pneumáticos à mesa, em ordem, não se devia permitir o tumulto. Paulo avisa: "Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros julguem". Do cap. XI ao XIV, Paulo ensina como se fazia a reunião "pneumática" da Igreja Primitiva, e essas regras são as mesmas das sessões mediúnicas. Ainda o Rev. Nielsson nos mostra que a palavra transe (mediúnico) vem da Bíblia, derivando de êxtase. Eis uma de suas afirmações: "O próprio Paulo nos diz que estava frequentemente em transe. O apóstolo Pedro conta-nos a mesma coisa". De fato, vejamos alguns exemplos: "10 E tendo fome, quis comer; mas enquanto lhe preparavam a comida, sobreveio-lhe um êxtase, 11 e via o céu aberto e um objeto descendo, como se fosse um grande lençol, sendo baixado pelas quatro pontas sobre a terra, 12 no qual havia de todos os quadrúpedes e répteis da terra e aves do céu. 13 E uma voz lhe disse: Levanta-te, Pedro, mata e come. 14 Mas Pedro respondeu: De modo nenhum, Senhor, porque nunca comi coisa alguma comum e imunda. 15 Pela segunda vez lhe falou a voz: Não chames tu comum ao que Deus purificou. 16 Sucedeu isto por três vezes; e logo foi o objeto recolhido ao céu. (Atos 10:10-16) "5 Estava eu orando na cidade de Jope, e em êxtase tive uma visão; descia um objeto, como se fosse um grande lençol, sendo baixado do céu pelas quatro pontas, e chegou perto de mim. (Atos 11:5) "17 Aconteceu que, tendo eu voltado para Jerusalém, enquanto orava no templo, achei-me em êxtase, 18 e vi aquele que me dizia: Apressa-te e sai logo de Jerusalém; porque não receberão o teu testemunho acerca de mim. 19 Disse eu: Senhor, eles bem sabem que eu encarcerava e açoitava pelas sinagogas os que criam em ti.(Atos 22:17-19) Vejam, portanto, os apóstolos entrando em transe mediúnico e tendo visões. Os apóstolos e os cristãos primitivos faziam sessões mediúnicas, e nelas, como nas atuais, manifestavam-se espíritos bons e maus; aqueles, dando instruções e estes, necessitando de orientação espiritual. O mais importante episódio de psicofonia("incorporação") foi o acontecido durante Pentecostes,
  • 22. quando os discípulos incorporaram Espíritos Superiores e puseram-se a falar em línguas estrangeiras que desconheciam, evangelizando a multidão reunida para a festa, vinda de diversas regiões do mundo antigo (Atos 2:1-13). Lucas cita o espírito visto por Zacarias no Templo, durante a oferenda do incenso(Lucas 1:11-22), o que anunciou a Maria o nascimento de Jesus (Lucas 1:26-38) e no Atos dos Apóstolos refere-se a visões de Paulo (Atos 16:6-10), sendo de ressaltar aquela que foi motivo de sua conversão ao Cristianismo: Jesus, em plena estrada que leva a Damasco (Atos 9:3-9, 22:6-11). Outro claro exemplo de psicofonia na Bíblia, apesar de alguns tradutores trocarem "espírito" por "Espírito Santo": "Estevão, cheio de graça e fortaleza, fazia grande s milagres e prodígios entre o povo. Mas alguns da sinagoga, chamada dos Libertos, dos Cirenenses, dos Alexandrinos e dos que eram da Cicília e da Ásia, levantaram-se para disputar com ele. Não podiam, porém, resistir à sabedoria e ao espírito que o inspirava" (Atos dos Apóstolos 6: 8-10) Assim está conforme Severino C. da Silva em seu "Analisando as Traduções Bíblicas". Em Atos 8:6-8, temos: "A multidão estava atenta ao que Felipe lhes dizia, escutando-o unanimemente, e, presenciando os prodígios que fazia. Pois os espíritos imundos de muitos possessos saíam, levantando grandes brados". É exatamente o que se realiza hoje nos milhares de Centros Espíritas espalhados pelo Brasil e pelo mundo. A orientação, o esclarecimento e a condução dos espíritos necessitados para que os que se encontram em tarefa evolutiva neste planeta não sejam prejudicados. Qual a diferença daquela época para a atual? Não vejo nenhuma. Há muito mais exemplos claros de ação dos espíritos nos Atos dos Apóstolos, um livro fortemente mediúnico. Atos 16:9, por exemplo, mostra o espírito de um macedônio aparecendo para Paulo em uma visão: "Durante a noite, Paulo teve uma visão: na sua frente estava de pé um macedônio que lhe suplicava: "Venha à Macedônia e ajude-nos!". Que diferença há entre essa visão e as dos nossos dias? Nenhuma, pois se mediunidade existe hoje, então sempre existiu. Diz Léon Denis em No Invisível: "Segundo a Escritura, 'profetizar' não significa unicamente predizer ou adivinhar, mas também ser impulsionado por um Espírito bom ou mau(...) Encontra-se muitas estas expressões na boca dos profetas: 'o peso do Senhor caiu sobre mim', ou ainda, 'O Espírito do Senhor entrou em mim'. Esses termos claramente indicam a sensação que precede o transe, antes de ser o médium tomado pelo Espírito. E ainda: 'Vi, e eis o que disse o Senhor", o que designa a mediunidade vidente e auditiva simultâneas" Os profetas de ontem são os médiuns de hoje, assim como os profetas de ontem eram outrora chamados videntes, conforme se lê em I Samuel 9:9 ("Antigamente em Israel, indo alguém consultar a Deus, dizia assim: Vinde, vamos ao vidente; porque ao profeta de hoje, outrora se chamava vidente."). E o termo médium, proveniente do latim, designa melhor o processo de comunicação entre o plano material e o plano espiritual, por significar exatamente "medianeiro" ou "aquele que está no meio", entre os dois planos da vida, transmitindo as informações do plano espiritual para o material. Alias, o acirramento da comunicação com os espíritos estava inclusive previsto, em Joel 2:28 e igualmente em Atos 2:17 ("Acontecerá depois que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos anciãos terão sonhos, os vossos mancebos terão visões;"). O Rev. Robert Hastings Nichols, em sua História da Igreja Cristã, publicada em versão portuguesa pela Casa Editora Presbiteriana, lembra que podemos ter uma ideia das práticas da Igreja Primitiva pelas epístolas de Paulo, "especialmente as enviadas aos coríntios". Para o Rev. Nichols, havia na Igreja Primitiva dois tipos de culto, sendo um "o da oração" e outro
  • 23. o da refeição em comum, a chamada "Festa do Amor". Quanto ao primeiro, diz o rev. Nichols: "O culto era dirigido conforme o espírito os movia no momento. Faziam orações, davam testemunho, ministravam certos ensinos, cantavam salmos". O que seriam esses "certos ensinos" e como seriam ministrados? Noutro trecho, o rev. Nichols levanta uma pontinha do véu: "O Novo Testamento fala de oficiais que se ocupavam do ministério da pregação e do ensino. São conhecidos como apóstolos, profetas e mestres. O nome do apóstolo não era restrito aos companheiros de Jesus, mas pertencia também a outros pioneiros do Evangelho, que levavam as boas novas aos novos campos. Os profetas, mestres e doutores esclareciam o significado dos Evangelhos às igrejas. Todos esses exerciam seus ofícios, não pela indicação de qualquer autoridade, mas porque revelavam estar habilitados para tais ofícios, pelos dons do Espírito Santo". Os capítulos 12 e 14 da I Epístola aos Coríntios, de Paulo, indicam claramente o procedimento a ser observado pelos que participam de uma sessão. Paulo se refere aos dons mediúnicos dos profetas. Os ensinos proféticos nada mais eram que as manifestações mediúnicas. O Espiritismo veio esclarecer o papel dos profetas na antiguidade, que era semelhante aos das sibilas e pitonisas. Espinosa já havia chegado à conclusão, nos seus famosos estudos sobre as Escrituras, que o profetismo não era um privilégio dos judeus, mas uma qualidade do homem, existente em todo o mundo moderno. Mas aquilo que Espinosa não podia explicar senão como efeito de imaginação, comparando a inspiração dos profetas à dos poetas, o Espiritismo veio explicar mais tarde, no cumprimento das promessas do Consolador, restabelecendo as coisas em seu verdadeiro sentido. O profetismo bíblico e o apostólico eram simplesmente o uso da mediunidade, como hoje se faz nas sessões espíritas. E assim como, na antiguidade, havia profetas em Israel e na Igreja Primitiva, enquanto no mundo pagão existiam sibilas, pitonisas e oráculos, assim no mundo moderno, há médiuns no Espiritismo, e há "Cavalos", "tremedores", "possessos" e "convulsionários", em organizações religiosas que não seguem os princípios do Consolador. O velho problema do profetismo está esclarecido graças aos estudos espíritas.. Em Gênesis 18:1-3, Abraão é visitado por três espíritos (anjos) que se apresentam como três homens e lhe anunciam o nascimento do seu filho Isaac. Um fenômeno de materialização. Em muitas passagens da Primeira Aliança (Antigo Testamento), a comunicação de um espírito superior ou de luz era confundida e aceita como a comunicação do Próprio Deus. Em Jó 4:15-16 lemos: "E o espírito passou diante de mim e provocou arrepios por todo o meu corpo. Estava parado diante de mim, mas não vi o seu rosto, qual fantasma diante dos meus olhos, um silêncio... Depois ouvi uma voz". Algumas traduções trocam "espírito" por "vento" ou "sopro". Mas um "vento" ou "sopro" não fica parado diante de ninguém. Nem tão pouco o profeta(médium) diria que não viu o rosto do vento. Também sabemos que vento não fala, e Jó diz que ouviu uma voz. E então? E o Espírito Santo? Espírito Santo como a Terceira Pessoa da Trindade não existe, é uma invenção humana, assim como todo o dogma da Trindade. Nos originais gregos do Novo Testamento aparece muito mais vezes “Pneuma Hagion” (Espírito Santo), sem o artigo definido “ho” (o) diante dele. Neles não há também o artigo indefinido (um), porque este não existe em Grego, mas em Português existe. Quando não há artigo definido é porque devemos ler em Português com artigo indefinido. Logo, devemos dizer “um” Espírito Santo” e não “o” Espírito Santo. Isso mesmo, um espírito superior, um bom espírito, encarnado ou desencarnado, mas não o Espírito Santo da Trindade. Só a partir dos Concílios de Nicéia (325) e Constantinopla (381), é que o Espírito Santo e a Santíssima Trindade foram instituídos, com as subsequentes adaptações no Novo Testamento. Nas primeiras comunidades cristãs e no Velho Testamento, eles são desconhecidos. No V.T., só aparece o E.S., como sendo um espírito humano evoluído, santo. Em Daniel 13:45 (Bíblia católica, pois a protestante só tem 12 capítulos), lemos: “Suscitarei entre vós um homem de um Espírito Santo
  • 24. chamado Daniel.” Foi por isso que São Paulo disse que somos templos de um (como está no original grego) Espírito Santo. Exatamente assim lemos na Bíblia católica Vulgata, em latim: "Aquele que pede, recebe, o que procura, acha; ao que bate, se abrirá. Se, portanto, bem que sejais maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos; com muito mais forte razão vosso Pai enviará, do céu, um bom espírito aqueles que lhe pedirem" (Lucas, cap. XI) Traduções modernas trazem “Espirito Santo” no lugar de “bom espírito”. Espírito Santo, a terceira pessoa da Trindade, o espírito de Deus. O Pai, que é Deus, enviará o espírito, segundo o texto. Será que Deus enviaria a si mesmo? O enviado é inferior ao que envia, da mesma forma que Jesus não é Deus e se dizia um enviado de Deus, que é um só e não 2 ou 3. Jesus ainda prometeu o Consolador , que é para nós a Doutrina Espírita, enquanto católicos e protestantes acreditam ser a assistência do Espírito Santo à Igreja. Dizem que basta pedir ao Espírito Santo, que não haverá erros. Quando ficam diante de algo que a razão contraria, como uma contradição bíblica evidente, ou quando ficam diante de passagens bíblicas que contrariam frontalmente uma de suas crenças, dizem que o questionador ainda não tem o "Espírito Santo" em si. É uma explicação criada pela Igreja para que o homem caminhe para a fé cega e não use da razão. Se Espírito Santo assiste a Igreja Católica e não permite erros, como explicar, então, todos os absurdos cometidos pela Igreja Católica, principalmente na Idade Media? E pra piorar, os protestantes, com todas suas divergências em relação aos católicos, também se dizem inspirados pelo mesmo infalível Espírito Santo. Evangélicos não acreditam na presença real do Cristo na Eucaristia, que o Papa é infalível em questões de fé, na existência do Purgatório e também não idolatram Maria, como os católicos. As várias igrejas evangélicas, cada uma se dizendo a mais cristã, divergem, por exemplo, quanto a idade certa para o batismo, quanto ao dízimo, ofertas, prosperidade, doação de sangue, etc. Com quem está esse "Espírito Santo", afinal? Insistem que o Consolador não seria uma doutrina porque o E.S é uma pessoa. Mas no grego, ao falar no Espírito que seria o Consolador, Jesus usa um pronome neutro, como o "it" em inglês. Portanto, no caso do Consolador o Espírito Santo/Espírito da Verdade não é uma pessoa. Ainda sobre o Consolador: Tanto o Catolicismo quanto os duzentos e tantos ramos do Protestantismo asseveram que a vinda do Consolador que Jesus prometera deu-se no dia chamado de Pentecostes, que é 50º dia após a Páscoa. No capítulo 2 dos Atos dos Apóstolos temos a descrição do que ocorreu naquela data. Vamos, então, rememorar o que ali se descreve. Logo depois da ascensão de Jesus, portanto a pouco mais de quarenta dias após ter feito a promessa do envio do Consolador, estavam os discípulos reunidos em uma casa quando um grande ruído se fez ouvir. Logo após, surgiram no ar umas luminescências e os apóstolos começaram a falar em línguas que desconheciam. Acontece que Jerusalém estava cheia de gente de várias procedências: árabes, gregos, etc. e os discípulos, que eram galileus e na maioria incultos, falavam a essas pessoas em suas próprias línguas, o que as embasbacava. É claro que não poderia deixar de haver quem desse uma explicação "lógica" para o fenômeno, alegando que eles assim falavam porque estavam bêbados. Como se o álcool tivesse o dom de ensinar línguas! De qualquer forma, o dia de Pentecostes ficou sendo, para os vários ramos em que se dividiu o Cristianismo, como o dia em que Jesus enviou o Consolador que prometera. Só o Espiritismo diz que não. O Consolador prometido não veio no dia de Pentecostes e sim dezenove séculos mais tarde, pois que o Consolador é o próprio Espiritismo. Sendo duas opiniões contraditórias, uma pelo menos deve estar errada. Então qual será a certa? Examinemos com atenção o que Jesus disse após a última ceia, em paralelo com os fenômenos ocorridos naquele dia de Pentecostes e vejamos se têm razão católicos e protestantes. Dissera Jesus que o Espírito de Verdade ensinaria todas as verdades e relembraria tudo que Ele,
  • 25. Jesus, havia dito. Muito bem. Se o Consolador viria para ensinar todas as verdades é porque Jesus não as havia ensinado na totalidade, coisa que Ele próprio afirmou (Jo 16,12). Na data de Pentecostes houve alguma revelação nova? Não. Ao menos a Bíblia não diz que houve. Na edição da Bíblia publicada pela Enciclopédia Barsa está escrito o seguinte comentário: Esta vinda do Espírito Santo é o cumprimento da promessa de Cristo. Seu principal efeito foi aumentar a graça santificante dos apóstolos e fiéis sobre os quais desceu de forma sensível. Outros efeitos foram: o carisma de falar outras línguas, a coragem de pregar abertamente e um conhecimento extraordinário da doutrina cristã. Mas não foi nada disto que o Cristo prometeu. O Consolador deveria vir para ensinar todas as verdades e não apenas para aumentar a compreensão sobre as verdades já conhecidas. Viria também para lembrar o que o Cristo dissera. Para isso seria preciso que o que Ele havia ensinado estivesse esquecido ou adulterado. Mas fazia apenas 50 dias que aquela promessa fora feita e não mais que dez dias que deixara os apóstolos, pela ascensão. Por que, nesse caso, um emissário especial para recordar tudo aquilo que era tão recente? Mas Jesus também dissera que tinha muitas coisas para ensinar ainda, mas que não poderiam ser compreendidas ou suportadas então. Como admitir que apenas 50 dias depois já essas coisas pudessem ser ensinadas, entendidas ou suportadas? E que ensinos tão importantes seriam esses que os Atos dos Apóstolos não revelam? O Cristo prometera verdades novas e não coragem para divulgar as antigas, já ensinadas. E como é possível que esses ensinos complementares o próprio Jesus não os tenha querido fazer a seus discípulos, que não os poderiam suportar, para que, poucos dias após, os mesmos discípulos os fizessem e para pessoas que nem ao menos haviam conhecido os ensinos precedentes de Jesus? Se os ensinos de Jesus precederam os do Consolador é porque o conhecimento daqueles era um pré-requisito para o conhecimento destes. E se os apóstolos falavam línguas que não compreendiam, esses ensinamentos complementares não só iam cair em ouvidos alheios a toda a anterior mensagem cristã, como também os próprios mensageiros, isto é, os discípulos, continuariam a ignorá-los, visto que desconheciam o que falavam. Não é tudo muito incoerente? Agora vejamos, à luz do Espiritismo, o que terá, de fato, ocorrido no dia de Pentecostes: nada mais do que a eclosão das mediunidades de efeitos físicos e de psicofonia xenoglóssica. O barulho que se ouviu e as luminescências que surgiram são fenômenos comuns àquela forma de mediunidade. As "línguas de fogo" são simples manifestações ectoplasmáticas. O célebre físico-químico William Crookes, designado que foi pela Sociedade Dialética de Londres para estudar os fenômenos do Espiritismo, escreveu a certa altura de seu relatório: - Vi pontos luminosos saltarem de um e outro lado e repousarem sobre a cabeça de diferentes pessoas. (Fatos Espíritas- F.E.B.) Mas aquelas "línguas" também poderiam ser simples fenômenos elétricos ou magnéticos decorrentes do preparo do ambiente por entidades espirituais (ver Missionários da Luz - F.E.B.) O falar línguas estrangeiras nada mais é que a mediunidade xenoglóssica, de que há tantos exemplos nos anais do Espiritismo. E tanto é verdade que aquele fenômeno foi meramente mediúnico, que o apóstolo Pedro, vendo o espanto das pessoas, explicou-lhes o que se passava repetindo as palavras do profeta Joel: E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que eu derramarei do meu Espírito sobre toda a carne: e profetizarão vossos filhos e vossas filhas, e os vossos mancebos terão visões e os vossos anciãos sonharão sonhos. (At. 2,17). O mais curioso de tudo é que são as próprias religiões que aceitam o Pentecostes como a vinda do Consolador prometido que, paradoxalmente, renegam a mediunidade, atribuindo-a ao demônio, à fraude ou a fatores meramente psicológicos, negando assim a própria explicação de Pedro. Tudo isso parece deixar patente que a vinda do Consolador não se deu na data de Pentecostes, visto que as coisas que o Cristo disse que seriam feitas não sucederam, na verdade. Quando Allan Kardec recebeu a notícia da missão que lhe cabia, quis saber qual o nome do Espírito sob cuja égide aqueles ensinos se dariam e obteve a seguinte resposta: -Para ti chamar-me-ei A Verdade. Na época nem Kardec, nem ninguém, parece ter percebido a enormidade desta revelação. Seria este o Paráclito que Jesus ficara de enviar mais tarde? A ser assim esse "mais tarde" teria demorado não aqueles absurdos 50 dias, mas dezenove séculos, pois só então as pessoas, consideradas globalmente, estariam em condições de receber os demais ensinamentos que Jesus não
  • 26. quis dar por ser muito cedo para que fossem entendidos ou suportados. Se tais ensinos, que não puderam ser dados pelo próprio Cristo, houvessem sido trazidos e aceitos apenas alguns dias depois, isto faria de Jesus um professor bem medíocre, incapaz de transmitir aquilo que daí a pouco seria ensinado por outro, com sucesso. Não. Foram necessários 19 séculos, mesmo, para que as pessoas pudessem assimilar verdades maiores. E ainda assim, quantos de nós não as podemos suportar nem agora... Jesus disse que o Espírito de Verdade não falaria por si, mas sim que falaria de tudo o que ouvira dizer (Jo 16,13). Esses ensinos, portanto, seriam o resultado não de uma opinião pessoal, mas de um consenso. Não faz sentido dizer que viria diretamente do Espírito de Deus a Verdade, pois, afinal, por que Deus precisaria ouvir a Verdade de alguém para anunciá-la? E o Consolador seria enviado. Por quem? Por Deus, ou seja, por si próprio? Já o Espiritismo se estriba exatamente sobre a universalidade do ensino dos Espíritos, e Kardec não se cansou de chamar a atenção sobre isto. O Espiritismo não é fruto de uma ou de algumas opiniões isoladas, quer de homens quer de Espíritos, e nisto está a maior garantia de sua veracidade. Assim sendo, se para muitos o dia de Pentecostes foi o dia em que Jesus mandou o Consolador que prometera, para os espíritas esse dia só chegaria com a difusão do Espiritismo. O Espiritismo, sim, a par do consolo que derrama, trouxe novas verdades que, sem contraditar nada do que o Cristo ensinara, ampliou-Lhe os preceitos e restabeleceu as verdades mutiladas ao longo dos séculos. Como a verdade deverá ir sendo revelada à medida em que formos adquirindo condições de assimilá-la, é necessário que o Consolador permaneça conosco "para sempre", tal como dito por Jesus. O Espiritismo veio e aí está, enquanto que o fenômeno de Pentecostes foi uma ocorrência isolada, não obstante as consequências que teve na época. Vemos por esta forma que o Espiritismo está absolutamente conforme a promessa de Jesus feita naquela noite fria e triste da Palestina, quando a Lua rebrilhou nas gotas de sangue que uma enorme angústia fez verter de Sua fronte atormentada pela perspectiva do suplício que sofreria nas mãos dos que se julgavam detentores da verdade e monopolizadores do bom-senso. E continua o autor, Israel Belo de Azevedo: “O que a Bíblia ensina sobre Jesus Cristo? Ela mesma responde, pela voz do apóstolo Paulo: 'Pois o que primeiramente lhes transmiti foi o que recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou no terceiro dia, segundo as Escrituras' (1Coríntios 15:3) Cristo morreu pelos nossos pecados. Sim, mas não para acabar com os pecados como mágica, e sim para nos mostrar o caminho para a luz, através dos ensinos que nos deixou. E quanto a ressurreição: Segundo os católicos e evangélicos, Jesus continua vivo, em carne. Mas diz a Bíblia: "E quando chegaram a Mísia, intentavam ir para a Bitínia, mas o Espírito de Jesus não lho permitiu" (Atos 16:6,7). Em Atos 9:3-9 e 22:6-11 Cristo também se manifesta em espírito para Paulo. Na Estrada de Damasco, como poderia ser Jesus ressuscitado, se Paulo apenas ouvia a sua voz(mediunidade de audiência) sem ver nada além de uma luminosidade intensa, que só um espírito como Jesus possui, que quase o cega? Os homens que estavam com ele também não viram nada,só ouviam a voz. Em Atos 16:7 Paulo e Timóteo tentam entrar na Bitínia: "Mas o Espírito de Jesus os impediu". Podem alegar que era o Espírito Santo. Mas o texto diz "O Espírito de Jesus", não "o Espírito Santo" ou "Espírito de Deus". Em 2 Cor 3:17, Paulo afirma: "O Senhor é Espírito". Jesus também pregou o Evangelho aos mortos (1 Pe 4: 4-6), o que só poderia ter feito em Espírito.
  • 27. Assim, tudo se converge para a ideia de que Jesus, após sua morte, ressuscitou em Espírito, não no corpo físico. A carne, como todos já sabemos, não ultrapassa portas nem faz aparições. No livro de Tobias, presente apenas na Bíblia dos Católicos, encontramos um anjo fazendo coisas comuns aos seres humanos, inclusive aparentemente comendo: "Eu sou Rafael, um dos sete anjos... Vocês pensavam que eu comia, mas era só aparência... E o anjo desapareceu..." (Tb 12: 15-22) No caso de Jesus não poderia ter sido uma situação semelhante? Em várias oportunidades Jesus se manifesta e ninguém o reconhece, isso não ocorreria se ele tivesse ressuscitado no corpo físico. Somente em espírito ele poderia, por sua evolução espiritual, transparecer com tanta luz que não conseguiram de imediato identificá-lo. Se Jesus apareceu em espírito, em um evidente fenômeno mediúnico, então é lógico que ele não é carne e sangue. Em João 6: 63 Cristo diz que “O espírito é o que dá a vida. A carne não serve para nada”. E Paulo disse que “a carne e o sangue não poderão herdar o reino de Deus” (1 Cor 15,50). Se Jesus está vivo, em carne e sangue, com certeza não está no Reino de Deus, pois o Reino de Deus é espiritual e não material. Só poderia estar no mundo material, no mesmo plano nosso. E onde estaria, então? Na Lua? Em Marte? E como sobrevive sem oxigênio? Podem alegar que Jesus pode tudo porque é Deus, mas e quanto aos cristãos que serão arrebatados fisicamente aos céus? Onde viverão? Não há lógica nessa ressurreição. É algo totalmente materialista, enquanto Cristo veio trazer as verdades espirituais. O mesmo podemos dizer sobre a crença de Elias e outros sendo arrebatados e não conhecendo jamais a morte. Jesus não deixou que Maria o tocasse, entrou em um lugar fechado e só então permitiu que Tomé o tocasse. Tem todas as evidências de que Jesus estava ali em espírito todo o tempo, semi- materializado, e depois houve uma interpolação no texto ou Jesus se materializou completamente e pôde ser tocado. Por que acreditar em algo que a Ciência comprova ser impossível se nós espíritas conhecemos bem as manifestações do perispírito? Por que acreditar que após a morte nosso corpo de carne e sangue terá as mesmas propriedades que tem o perispírito? No "Livro dos Espíritos", aprendemos sobre o perispírito: “Perispírito 93. O Espírito, propriamente dito, nenhuma cobertura tem, ou, como pretendem alguns, está sempre envolto numa substância qualquer? “Envolve-o uma substância, vaporosa para os teus olhos, mas ainda bastante grosseira para nós; assaz vaporosa, entretanto, para poder elevar-se na atmosfera e transportar-se aonde queira.” Envolvendo o gérmen de um fruto, há o perisperma; do mesmo modo, uma substância que, por comparação, se pode chamar perispírito, serve de envoltório ao Espírito propriamente dito. 94. De onde tira o Espírito o seu invólucro semimaterial? “Do fluido universal de cada globo, razão por que não é idêntico em todos os mundos. Passando de um mundo a outro, o Espírito muda de envoltório, como mudais de roupa.” a) - Assim, quando os Espíritos que habitam mundos superiores vêm ao nosso meio, tomam um perispírito mais grosseiro? “É necessário que se revistam da vossa matéria, já o dissemos.” 95. O invólucro semimaterial do Espírito tem formas determinadas e pode ser perceptível? “Tem a forma que o Espírito queira. É assim que este vos aparece algumas vezes, quer em sonho, quer no estado de vigília, e que pode tomar forma visível, mesmo palpável.” E também no "Livro dos Médiuns":
  • 28. “Figuremos, primeiramente, o Espírito em união com o corpo. Ele é o ser principal, pois que é o ser que pensa e sobrevive. O corpo não passa de um acessório seu, de um invólucro, uma veste, que ele deixa, quando usada. Por ocasião da morte, despoja-se deste, porém não do outro, a que damos o nome de perispírito. Esse invólucro semimaterial, que tem a forma humana, constitui para o Espírito um corpo fluídico, vaporoso, mas que, pelo fato de nos ser invisível no seu estado normal, não deixa de ter algumas das propriedades da matéria. O Espírito não é, pois, um ponto,uma abstração; é um ser limitado e circunscrito, ao qual só falta ser visível e palpável, para se assemelhar aos seres humanos. Por que, então, não haveria de atuar sobre a matéria? Por ser fluídico o seu corpo? Mas, onde encontra o homem os seus mais possantes motores, senão entre os mais rarificados fluidos, mesmo entre os que se consideram imponderáveis, como, por exemplo, a eletricidade? Não é exato que a luz, imponderável, exerce ação química sobre a matéria ponderável? Não conhecemos a natureza íntima do perispírito. Suponhamo-lo, todavia, formado de matéria elétrica, ou de outra tão sutil quanto esta: por que, quando dirigido por uma vontade, não teria propriedade idêntica à daquela matéria? (..)Doutrina Espírita considera o perispírito simplesmente como o envoltório fluídico da alma, ou do Espírito. Sendo matéria o perispírito, se bem que muito etérea, a alma seria de uma natureza material mais ou menos essencial, de acordo com o grau da sua purificação. Este sistema não infirma qualquer dos princípios fundamentais da Doutrina Espírita, pois que nada altera com relação ao destino da alma; as condições de sua felicidade futura são as mesmas; formando a alma e o perispírito um todo, sob a denominação de Espírito, como o gérmen e o perisperma o formam sob a de fruto, toda a questão se reduz a considerar homogêneo o todo, em vez de considerá-lo formado de duas partes distintas.” O caso da ressurreição de Lázaro e outros "ressuscitados" (curados de uma letargia) por Jesus diferem da ressurreição do próprio Jesus. Lázaro não apareceu com o "corpo glorioso" de Jesus, que se manifestou após o desencarne, como um espírito materializado. A ressurreição de Jesus é a ressurreição espiritual: "Porquanto, quando ressuscitarem dentre os mortos, nem casarão, nem se darão em casamento, mas serão como os anjos que estão nos céus." (Marcos 12:25) Serão como anjos, ou seja, espíritos de luz e não carne e sangue como Lázaro. Infelizmente, para alguns cristãos, Jesus era um materialista. Se, na ressurreição da carne, o corpo, o mesmo corpo de nossa existência física na Terra, ganha características espirituais, então é o espírito que não serve pra nada, contrariando frontalmente o que o Cristo ensinou.. E a maior prova bíblica de que o "corpo espiritual" nada mais é do que o perispírito é o episódio no Monte Tabor: além de Jesus conversar com Elias e Moisés materializados, com seus "corpos espirituais" visíveis(através da mediunidade de efeitos físicos dos apóstolos, que, adormecidos, cediam ectoplasma para o fenômeno), Jesus, ao transfigurar-se, demonstrava a existência do perispírito em si mesmo, ainda vivo, o mesmo "corpo espiritual" que seria visto por muitos após o seu desencarne, assim como eram vistos Moisés e Elias naquele monte. Tanto a materialização como a transfiguração são fenômenos bem estudados pelo Espiritismo. Médiuns tornam seu perispírito visível numa forma luminosa. Kardec explica em O Livro dos Médiuns sobre esse fenômeno: "Figuremos agora o perispírito de uma pessoa viva, não isolado, mas irradiando-se em volta do corpo, de maneira a envolvê-lo numa espécie de vapor. Nesse estado, passível se torna das mesmas modificações de que o seria, se o corpo estivesse separado. Perdendo ele a sua