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CURSO CIENTÍFICO-HUMANÍSTICO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
                        EXERCÍCIO DE ANÁLISE DE FONTES ESCRITAS
MÓDULO 3 – A ABERTURA EUROPEIA AO MUNDO – MUTAÇÕES NOS CONHECIMENTOS, SENSIBILIDADES
                             E VALORES NOS SÉCULOS XV E XVI

Lê os documentos e responde às questões.

Fonte 1
                                            O Renascimento

Que características assume a produção cultural dos séculos XV e XVI?
O alargamento do conhecimento sobre o mundo e as inovações científico-técnicas possibilitaram
grandes progressos materiais e uma evolução na vida sociocultural.
A fuga de sábios bizantinos para Itália, a imprensa de caracteres móveis e as viagens dos humanistas, a
divulgar as novas ideias por toda a Europa, constituíram um marco decisivo para a modernidade. Da
mesma forma, a empresa dos Descobrimentos portugueses, tal como a descoberta da América, ajuda a
libertar o Homem do desconhecido e da autoridade dos antigos demonstrando a ideais erróneas destes.
No campo social, destaca-se a ascensão da burguesia, que desorganizou o sistema das ordens medievais
e implantou um novo tipo de Homem.
No campo cultural, evidenciou-se o Humanismo, corrente que conciliou a inspiração clássica com a
consciência e aceitação da modernidade.
O Renascimento é um movimento cultural e artístico que se desenvolve ao longo dos séculos XV e XVI,
apoiado numa casta de nobres ou burgueses de algumas cidades italianas e da Flandres, filhos do
capitalismo comercial da época, que partilhavam o seu amor pelas belas artes e rivalizavam uns com os
outros no apoio aos seus artistas preferidos. Os Medici e os próprios Papas tornaram os maiores
mecenas.
Assiste-se a um intenso período de produção cultural em que se escreve, constrói, pinta e se esculpe
tendo por base a inspiração greco-romana.
Nesta sociedade, o homem tem de estar requintadamente. Eles devem ser pessoas de bem, cultas e
dedicadas. O individualismo explica a ascensão de homens providos de camadas sociais baixas, mas que
devido às suas capacidades se impõem na sociedade moderna. Estes homens são o exemplo da
dissolução da condição social imposta pelo nascimento. O nobre já não é aquele que tem linhagem e
domina exclusivamente o exercício das armas, o nobre é aquele que cultiva o espírito, que empreende
acções esplendorosas para sobressair face à multidão. Assim se compreende porque é o Renascimento
um movimento elitista.
                        Adaptado de H. Veríssimo, M. Lagarto, M. Barros, História em Construção, Edições Asa, 2007

Fonte 2
                               O ideal de vida do Homem renascentista

“Que venham, que vejam, admirem o meu vigor: monto a cavalo sem ajuda (…), subo a correr as
escadas (…), sou alegre, a minha alegria é comunicativa (…).
Frequento pessoas sabedoras, instruídas (…) e quando estas pessoas não estão em minha casa, leio ou
escrevo e procuro deste modo ser útil aos meus semelhantes. Faço cada uma destas coisas a seu tempo
na minha bela e cómoda casa de Pádua (…), ornada de jardins regados com água corrente.
Na ocasião própria tomo parte numa caçada breve e agradável, compatível com a minha idade (…).
Visito as cidades vizinhas, vejo os meus amigos (…), travo conhecimento com outras pessoas distintas,
tais como arquitectos, pintores, escultores, músicos e agrónomos. (…) Continuo assim a aprender coisas
úteis. E para que não falte nenhuma consolação à minha velhice, vejo diante dos olhos uma espécie de
imortalidade tangível sob a forma dos meus descendentes. (…)
A minha vida é portanto vigorosa, não é uma morte antecipada.”
                                                                                   Luigi Cornaro, Da Temperança
1. Porque afirma Luigi Cornaro que a sua velhice “não é uma morte antecipada”?

Fonte 3
                                                 O cortesão ideal

“Que o cortesão ideal seja, além de nobre, homem de bem, isto é, prudente, bom, corajoso, confiante;
belo e elegante. Que a sua principal e autêntica profissão seja a das armas, que saiba todos os exercícios
que convêm a um militar. Que o perfeito homem de corte seja alegre, saiba jogar e dançar, que se mostre
homem de espírito e seja discreto.
As letras de Deus revelou aos homens são úteis e necessárias à vida e à dignidade do Homem. Que o
cortesão conheça não só o latim, mas também o grego. (…) Que ele saiba escrever em prosa,
particularmente a nossa língua. Louvá-lo-ei também por saber várias línguas estrangeiras,
principalmente o espanhol e francês (…). A sua cultura parecer-me-á insuficiente se não tiver
conhecimentos de música (…). Há ainda um aspecto que julgo de grande importância; trata-se da arte do
desenho e da pintura. (…) Que o nosso homem de corte seja um perfeito cavaleiro de toda a sela: nos
torneios, nos duelos, nas corridas, no lançamento do dardo e da lança. (…) Convém também que saiba
saltar e correr.
                                                                                            B. Castiglione, O Cortesão.

Fonte 4
                                Crítica de um humanista à nobreza tradicional

“Ao nobre parece não existir nobreza semelhante à sua, pelo que julga que todos os outros lhe ficam
muito atrás. Procura, em todas as coisas, fazer como fazem os reis e os príncipes e ordena que o sirvam
de joelhos (…).
Não sabe ler nem escrever e se soubesse não quereria saber, porque é tido por mais nobre aquele que
menos sabe. Só estuda questões de gravidade e como deve fazer para se mostrar grande e abaixar os
demais, porque [para ele] é em coisas como estas e não na virtude que consiste a nobreza.”

      Anónimo italiano do século XVI, “Verso e Anverso do Reyno de Portugal”, tradução de A. H. de Oliveira Marques, in
                                                  Revista Nova Historia, Século XVI, n.º 1, Maio de 1984, Ed. Estampa.

2. Que atributos devia possuir o cortesão ideal do Renascimento?
3. Que críticas se fazem à nobreza tradicional na época do Renascimento e como se justificam
   essas críticas?
4. A partir das fontes 1, 2, 3 e 4, caracterize a mentalidade burguesa por oposição à nobreza
   tradicional.

Fonte 5
                     Valorização da Antiguidade Clássica e afirmação da modernidade

Por que desprezam os homens do Renascimento a Idade Média?
Os homens do Renascimento desprezam a Idade Média, e valorizam a Antiguidade Clássica mas, na
verdade, e apesar do que os homens deste período pensam sobre si próprios e sobre os que os
precederam, não se verificaram rupturas, vêem-se antes continuidades. Não prenuncia o estilo gótico
final, de que o manuelino constitui o exemplo português, o Renascimento nas artes? Não prenunciam os
movimentos heréticos medievais, como o dos hussitas, a Reforma Protestante?
Os humanistas, letrados (escritores, filósofos e professores), laicos e religiosos, desenvolveram para com
o saber uma atitude nova de interpretação crítica, procurando conciliar o pensamento racional e
pragmático com a filosofia cristã.
O pensador dos séculos XV e XVI, o humanista, interpreta e comenta os textos clássicos à luz da razão e
do espírito crítico do seu tempo, consciente da modernidade. O homem e a sua realização plena são o
centro das suas preocupações. Ao teocentrismo medieval, com a sua mórbida preocupação com Deus,
com a morte, com a salvação ou perdição das almas, contrapõem os humanistas a felicidade individual, a
realização total do homem na terra e não num hipotético além-túmulo apesar deste antropocentrismo
colocar o homem no centro do mundo, e de lhe reconhecer capacidades quase ilimitadas de evolução
individual e social, a maioria dos humanistas não são ateus nem agnósticos. Criam uma nova
consciência de Deus, recusando o Deus castigador medieval.
Os humanistas procuravam a Antiguidade autêntica nos textos originais. A busca de manuscritos de
autores antigos pelas bibliotecas e mosteiros da Cristandade daria conhecer as obras de muitos clássicos,
então redescobertos, como Platão, Aristóteles, Cícero, Tácito, Virgílio, etc. Os humanistas procuravam
ler, traduzir, comentar os textos clássicos, mas também imitá-los, recriá-los e divulgá-los. De Itália, o
Humanismo difundiu-se por toda a Europa. A produção literária fez-se quer em latim quer nas línguas
nacionais, contribuindo para o seu aperfeiçoamento. As obras de Rabelais, Camões, Cervantes e
Shakespeare contribuem para o desenvolvimento das respectivas línguas e revelam as paixões e
angústias da alma humana e fazendo ecoar a modernidade.

                             Adaptado de H. Veríssimo, M. Lagarto, M. Barros, História em Construção, Edições Asa, 2007

Fonte 6
                                                O exemplo de Salutati

“Traz tantos livros quantos possas. Faz de maneira que não falte nenhum historiador, nenhum poeta,
nenhum tratado sobre as fábulas poéticas. Faz-nos ter as regras de versificação. Gostaria de trouxesses
toda a obra de Platão e todos os vocabulários disponíveis, indispensáveis para resolver as dificuldades de
compreensão.
Compra-me Plutarco, todos os escritos possíveis de Plutarco e um Homero escrito em pergaminho em
caracteres grandes. Se encontrares uma mitologia, compra-a.

                                                                                       Coluccio Salutati, Espistolário, t. III

5. Como justificas a lista de compras que Salutti encomenda ao seu amigo.

Fonte 7
                                           Educação humanista em Itália

“Vitorino, originário de Feltre, na Lombardia, era um homem de categoria, e de vida sóbria, instruído no
grego, no latim e nas sete artes liberais. (…) Era reputado em toda a Itália pelas suas virtudes e os seus
conhecimentos e por isso numerosos aristocratas venezianos lhe enviaram os filhos para que os educasse
e lhes ensinasse as belas letras (…). Ele permitia-lhes praticar exercícios físicos, e os filhos dos nobres
eram encorajados a (…) fazer todos os exercícios bons para o desenvolvimento do corpo, dando-lhes
estes recreios depois de terem aprendido e recitado as suas lições. Fazia leituras nas disciplinas
apropriadas a cada classe e ensinava as artes liberais e o grego (…). Estabelecia um horário apertado, e
não consentia que nenhuma hora fosse perdida. Raros eram os alunos que abandonavam a casa, e
regressavam sempre à hora marcada; à noite todos eram obrigados a recolher cedo. Assim os criava nos
hábitos de ordem e de aplicação (…).

     Vespasiano da Bistici, “Vida dos homens ilustres”, in Gustavo de Freitas, 900 Textos e Documentos de História, vol. II,
                                                                                      Lisboa, Plátano Editora, 1978, p. 146.

6. Em que consistiam as aprendizagens dos jovens educados por Vitorino de Feltre?
Fonte 8
                                Os ideais pedagógicos do Renascimento

“Aconselho-te, meu filho, a que aproveites a juventude para estudares e te tornares virtuoso. Estás em
Paris, tens o teu preceptor (…) que por ensinamentos vivos e louváveis exemplos te pode educar. Quero
que aprendas perfeitamente línguas (…).
Quero que não haja história que não tenhas presente na memória para o conhecimento universal dos que
a escreveram. Quando eras pequeno, tinhas cinco ou seis anos, fiz-te apreciar as artes liberais: a
geometria e a música. Deves prosseguir. Deves aprender todos cânones da astronomia. Quero que saibas
de cor todos os belos textos de direito civil e que os confiras com os de filosofia.
Quanto aos conhecimentos dos factos da Natureza, quero que te dediques com curiosidade e que não
haja mar nem rio, nem fonte de que não conheças todos os peixes, todas as aves, todas as árvores e
arbustos, todas as ervas da terra; todos os metais escondidos no profundo dos abismos, as pedras do
Oriente a Ocidente (…).
Depois, cuidadosamente, volta a estudar os livros dos médicos gregos, árabes e latinos e, por frequentes
operações de anatomia, quero que adquiras o perfeito conhecimento do outro mundo que é o Homem.
Durante algumas horas do dia começa a trabalhar sobre as Sagradas Escrituras, primeiro em grego o
Novo Testamento e a Cartas dos Apóstolos, depois em hebreu o Antigo Testamento.”

                                                            Rabelais, Carta de Gargântua a seu filho Pantagruel.

7. Que conselhos educativos dá Gargântua ao seu filho?

Fonte 9

                         Individualismo, espírito crítico, racionalidade e utopia

A utopia renascentista permanece?
O Humanista caracteriza-se pelo seu individualismo, espírito crítico e uso sistemático da razão. Surgem
homens que criticam a sociedade vigente e propõem modelos sociais centrados no homem e na sua
felicidade.
O Renascimento é, pois, uma época optimista, onde impera a alegria de viver, pelo menos entre as elites.
Há, pela primeira vez na era cristã, uma confiança nas capacidades do homem, que se crêem ilimitadas.
Liberto de omnipresença divina, o homem é aquilo que quiser ser, aquilo que construir.
O optimismo ilimitado nas capacidades humanas e na boa natureza dos homens está assim na raiz de
muitos dos mitos modernos, como o de que todos os homens são naturalmente bons, e de que é a
sociedade que se encarrega de os transformar. Estes ideais humanistas e utópicos fazem sentir a sua
influência nas sociedades ocidentais desde então – o mito do bom selvagem, adoptado por alguns
iluministas no século XVIII, continua a perpetuar-se na actualidade quando nos referimos à inocência de
alguns povos do mundo subdesenvolvido, por oposição a uma sociedade predadora e corrupta. Esta
maneira algo simplista de analisar a sociedade é, de certa forma, uma permanência da utopia
renascentista.
A valorização da experiência, da Razão, do progresso de descoberta do Homem e do Mundo encontra-se
patente nas obras dos humanistas europeus da época. As utopias e a crítica social constituíram
importantes temáticas dessas obras.
Thomas More (1478-1535), humanista inglês, influenciado pela República, de Platão, escreveu a Utopia.
Nesta obra concebeu um mundo ideal, onde havia paz, igualdade e tolerância entre homens; onde o
Homem conseguia vencer os vícios e as paixões e alcançar a prosperidade.
Na crítica social distinguiu-se Erasmo de Roterdão (1466-1536). A sua obra caracteriza-se pelo ideal
universalista, pelo racionalismo crítico e pela tolerância religiosa. Na sua obra O Elogio da Loucura alia
a ironia à crítica social.
Nicolau Maquiavel (1469-1527) na sua obra O Príncipe, defendia que os homens são impulsionados
pela ambição pessoal e desejo de propriedade material e que era dever dos governantes manter a
segurança dos Estados, não importando os meios empregues para esse fim.
Da conjugação da Utopia de Thomas More e de Erasmo e da astúcia e pérfida de Maquiavel nasceram
as bases ideológicas dos Estados modernos.
O humanista Rabelais (1494-1553), na sua obra Carta de Gargântua a seu filho Pantagruel, reflecte os
novos ideais pedagógicos do Renascimento. Gargântua apresenta um plano de educação para o seu filho,
baseado num conhecimento enciclopédico que incluía o estudo dos clássicos e o contacto com a
Natureza que lhe possibilitaria o conhecimento do Homem.
Também o humanista francês Montaigne (1533-1592) considerava que, na educação, mais importante do
que adquirir conhecimentos era saber discernir, julgar, duvidar e criticar até mesmo a autoridade dos
clássicos, em suma, exercer livremente o pensamento e a Razão.

                        Adaptado de H. Veríssimo, M. Lagarto, M. Barros, História em Construção, Edições Asa, 2007

8. Saliente, com base nas fontes analisadas, a natureza do movimento humanista.

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Renascimento

  • 1. CURSO CIENTÍFICO-HUMANÍSTICO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS EXERCÍCIO DE ANÁLISE DE FONTES ESCRITAS MÓDULO 3 – A ABERTURA EUROPEIA AO MUNDO – MUTAÇÕES NOS CONHECIMENTOS, SENSIBILIDADES E VALORES NOS SÉCULOS XV E XVI Lê os documentos e responde às questões. Fonte 1 O Renascimento Que características assume a produção cultural dos séculos XV e XVI? O alargamento do conhecimento sobre o mundo e as inovações científico-técnicas possibilitaram grandes progressos materiais e uma evolução na vida sociocultural. A fuga de sábios bizantinos para Itália, a imprensa de caracteres móveis e as viagens dos humanistas, a divulgar as novas ideias por toda a Europa, constituíram um marco decisivo para a modernidade. Da mesma forma, a empresa dos Descobrimentos portugueses, tal como a descoberta da América, ajuda a libertar o Homem do desconhecido e da autoridade dos antigos demonstrando a ideais erróneas destes. No campo social, destaca-se a ascensão da burguesia, que desorganizou o sistema das ordens medievais e implantou um novo tipo de Homem. No campo cultural, evidenciou-se o Humanismo, corrente que conciliou a inspiração clássica com a consciência e aceitação da modernidade. O Renascimento é um movimento cultural e artístico que se desenvolve ao longo dos séculos XV e XVI, apoiado numa casta de nobres ou burgueses de algumas cidades italianas e da Flandres, filhos do capitalismo comercial da época, que partilhavam o seu amor pelas belas artes e rivalizavam uns com os outros no apoio aos seus artistas preferidos. Os Medici e os próprios Papas tornaram os maiores mecenas. Assiste-se a um intenso período de produção cultural em que se escreve, constrói, pinta e se esculpe tendo por base a inspiração greco-romana. Nesta sociedade, o homem tem de estar requintadamente. Eles devem ser pessoas de bem, cultas e dedicadas. O individualismo explica a ascensão de homens providos de camadas sociais baixas, mas que devido às suas capacidades se impõem na sociedade moderna. Estes homens são o exemplo da dissolução da condição social imposta pelo nascimento. O nobre já não é aquele que tem linhagem e domina exclusivamente o exercício das armas, o nobre é aquele que cultiva o espírito, que empreende acções esplendorosas para sobressair face à multidão. Assim se compreende porque é o Renascimento um movimento elitista. Adaptado de H. Veríssimo, M. Lagarto, M. Barros, História em Construção, Edições Asa, 2007 Fonte 2 O ideal de vida do Homem renascentista “Que venham, que vejam, admirem o meu vigor: monto a cavalo sem ajuda (…), subo a correr as escadas (…), sou alegre, a minha alegria é comunicativa (…). Frequento pessoas sabedoras, instruídas (…) e quando estas pessoas não estão em minha casa, leio ou escrevo e procuro deste modo ser útil aos meus semelhantes. Faço cada uma destas coisas a seu tempo na minha bela e cómoda casa de Pádua (…), ornada de jardins regados com água corrente. Na ocasião própria tomo parte numa caçada breve e agradável, compatível com a minha idade (…). Visito as cidades vizinhas, vejo os meus amigos (…), travo conhecimento com outras pessoas distintas, tais como arquitectos, pintores, escultores, músicos e agrónomos. (…) Continuo assim a aprender coisas úteis. E para que não falte nenhuma consolação à minha velhice, vejo diante dos olhos uma espécie de imortalidade tangível sob a forma dos meus descendentes. (…) A minha vida é portanto vigorosa, não é uma morte antecipada.” Luigi Cornaro, Da Temperança
  • 2. 1. Porque afirma Luigi Cornaro que a sua velhice “não é uma morte antecipada”? Fonte 3 O cortesão ideal “Que o cortesão ideal seja, além de nobre, homem de bem, isto é, prudente, bom, corajoso, confiante; belo e elegante. Que a sua principal e autêntica profissão seja a das armas, que saiba todos os exercícios que convêm a um militar. Que o perfeito homem de corte seja alegre, saiba jogar e dançar, que se mostre homem de espírito e seja discreto. As letras de Deus revelou aos homens são úteis e necessárias à vida e à dignidade do Homem. Que o cortesão conheça não só o latim, mas também o grego. (…) Que ele saiba escrever em prosa, particularmente a nossa língua. Louvá-lo-ei também por saber várias línguas estrangeiras, principalmente o espanhol e francês (…). A sua cultura parecer-me-á insuficiente se não tiver conhecimentos de música (…). Há ainda um aspecto que julgo de grande importância; trata-se da arte do desenho e da pintura. (…) Que o nosso homem de corte seja um perfeito cavaleiro de toda a sela: nos torneios, nos duelos, nas corridas, no lançamento do dardo e da lança. (…) Convém também que saiba saltar e correr. B. Castiglione, O Cortesão. Fonte 4 Crítica de um humanista à nobreza tradicional “Ao nobre parece não existir nobreza semelhante à sua, pelo que julga que todos os outros lhe ficam muito atrás. Procura, em todas as coisas, fazer como fazem os reis e os príncipes e ordena que o sirvam de joelhos (…). Não sabe ler nem escrever e se soubesse não quereria saber, porque é tido por mais nobre aquele que menos sabe. Só estuda questões de gravidade e como deve fazer para se mostrar grande e abaixar os demais, porque [para ele] é em coisas como estas e não na virtude que consiste a nobreza.” Anónimo italiano do século XVI, “Verso e Anverso do Reyno de Portugal”, tradução de A. H. de Oliveira Marques, in Revista Nova Historia, Século XVI, n.º 1, Maio de 1984, Ed. Estampa. 2. Que atributos devia possuir o cortesão ideal do Renascimento? 3. Que críticas se fazem à nobreza tradicional na época do Renascimento e como se justificam essas críticas? 4. A partir das fontes 1, 2, 3 e 4, caracterize a mentalidade burguesa por oposição à nobreza tradicional. Fonte 5 Valorização da Antiguidade Clássica e afirmação da modernidade Por que desprezam os homens do Renascimento a Idade Média? Os homens do Renascimento desprezam a Idade Média, e valorizam a Antiguidade Clássica mas, na verdade, e apesar do que os homens deste período pensam sobre si próprios e sobre os que os precederam, não se verificaram rupturas, vêem-se antes continuidades. Não prenuncia o estilo gótico final, de que o manuelino constitui o exemplo português, o Renascimento nas artes? Não prenunciam os movimentos heréticos medievais, como o dos hussitas, a Reforma Protestante? Os humanistas, letrados (escritores, filósofos e professores), laicos e religiosos, desenvolveram para com o saber uma atitude nova de interpretação crítica, procurando conciliar o pensamento racional e pragmático com a filosofia cristã. O pensador dos séculos XV e XVI, o humanista, interpreta e comenta os textos clássicos à luz da razão e do espírito crítico do seu tempo, consciente da modernidade. O homem e a sua realização plena são o centro das suas preocupações. Ao teocentrismo medieval, com a sua mórbida preocupação com Deus,
  • 3. com a morte, com a salvação ou perdição das almas, contrapõem os humanistas a felicidade individual, a realização total do homem na terra e não num hipotético além-túmulo apesar deste antropocentrismo colocar o homem no centro do mundo, e de lhe reconhecer capacidades quase ilimitadas de evolução individual e social, a maioria dos humanistas não são ateus nem agnósticos. Criam uma nova consciência de Deus, recusando o Deus castigador medieval. Os humanistas procuravam a Antiguidade autêntica nos textos originais. A busca de manuscritos de autores antigos pelas bibliotecas e mosteiros da Cristandade daria conhecer as obras de muitos clássicos, então redescobertos, como Platão, Aristóteles, Cícero, Tácito, Virgílio, etc. Os humanistas procuravam ler, traduzir, comentar os textos clássicos, mas também imitá-los, recriá-los e divulgá-los. De Itália, o Humanismo difundiu-se por toda a Europa. A produção literária fez-se quer em latim quer nas línguas nacionais, contribuindo para o seu aperfeiçoamento. As obras de Rabelais, Camões, Cervantes e Shakespeare contribuem para o desenvolvimento das respectivas línguas e revelam as paixões e angústias da alma humana e fazendo ecoar a modernidade. Adaptado de H. Veríssimo, M. Lagarto, M. Barros, História em Construção, Edições Asa, 2007 Fonte 6 O exemplo de Salutati “Traz tantos livros quantos possas. Faz de maneira que não falte nenhum historiador, nenhum poeta, nenhum tratado sobre as fábulas poéticas. Faz-nos ter as regras de versificação. Gostaria de trouxesses toda a obra de Platão e todos os vocabulários disponíveis, indispensáveis para resolver as dificuldades de compreensão. Compra-me Plutarco, todos os escritos possíveis de Plutarco e um Homero escrito em pergaminho em caracteres grandes. Se encontrares uma mitologia, compra-a. Coluccio Salutati, Espistolário, t. III 5. Como justificas a lista de compras que Salutti encomenda ao seu amigo. Fonte 7 Educação humanista em Itália “Vitorino, originário de Feltre, na Lombardia, era um homem de categoria, e de vida sóbria, instruído no grego, no latim e nas sete artes liberais. (…) Era reputado em toda a Itália pelas suas virtudes e os seus conhecimentos e por isso numerosos aristocratas venezianos lhe enviaram os filhos para que os educasse e lhes ensinasse as belas letras (…). Ele permitia-lhes praticar exercícios físicos, e os filhos dos nobres eram encorajados a (…) fazer todos os exercícios bons para o desenvolvimento do corpo, dando-lhes estes recreios depois de terem aprendido e recitado as suas lições. Fazia leituras nas disciplinas apropriadas a cada classe e ensinava as artes liberais e o grego (…). Estabelecia um horário apertado, e não consentia que nenhuma hora fosse perdida. Raros eram os alunos que abandonavam a casa, e regressavam sempre à hora marcada; à noite todos eram obrigados a recolher cedo. Assim os criava nos hábitos de ordem e de aplicação (…). Vespasiano da Bistici, “Vida dos homens ilustres”, in Gustavo de Freitas, 900 Textos e Documentos de História, vol. II, Lisboa, Plátano Editora, 1978, p. 146. 6. Em que consistiam as aprendizagens dos jovens educados por Vitorino de Feltre?
  • 4. Fonte 8 Os ideais pedagógicos do Renascimento “Aconselho-te, meu filho, a que aproveites a juventude para estudares e te tornares virtuoso. Estás em Paris, tens o teu preceptor (…) que por ensinamentos vivos e louváveis exemplos te pode educar. Quero que aprendas perfeitamente línguas (…). Quero que não haja história que não tenhas presente na memória para o conhecimento universal dos que a escreveram. Quando eras pequeno, tinhas cinco ou seis anos, fiz-te apreciar as artes liberais: a geometria e a música. Deves prosseguir. Deves aprender todos cânones da astronomia. Quero que saibas de cor todos os belos textos de direito civil e que os confiras com os de filosofia. Quanto aos conhecimentos dos factos da Natureza, quero que te dediques com curiosidade e que não haja mar nem rio, nem fonte de que não conheças todos os peixes, todas as aves, todas as árvores e arbustos, todas as ervas da terra; todos os metais escondidos no profundo dos abismos, as pedras do Oriente a Ocidente (…). Depois, cuidadosamente, volta a estudar os livros dos médicos gregos, árabes e latinos e, por frequentes operações de anatomia, quero que adquiras o perfeito conhecimento do outro mundo que é o Homem. Durante algumas horas do dia começa a trabalhar sobre as Sagradas Escrituras, primeiro em grego o Novo Testamento e a Cartas dos Apóstolos, depois em hebreu o Antigo Testamento.” Rabelais, Carta de Gargântua a seu filho Pantagruel. 7. Que conselhos educativos dá Gargântua ao seu filho? Fonte 9 Individualismo, espírito crítico, racionalidade e utopia A utopia renascentista permanece? O Humanista caracteriza-se pelo seu individualismo, espírito crítico e uso sistemático da razão. Surgem homens que criticam a sociedade vigente e propõem modelos sociais centrados no homem e na sua felicidade. O Renascimento é, pois, uma época optimista, onde impera a alegria de viver, pelo menos entre as elites. Há, pela primeira vez na era cristã, uma confiança nas capacidades do homem, que se crêem ilimitadas. Liberto de omnipresença divina, o homem é aquilo que quiser ser, aquilo que construir. O optimismo ilimitado nas capacidades humanas e na boa natureza dos homens está assim na raiz de muitos dos mitos modernos, como o de que todos os homens são naturalmente bons, e de que é a sociedade que se encarrega de os transformar. Estes ideais humanistas e utópicos fazem sentir a sua influência nas sociedades ocidentais desde então – o mito do bom selvagem, adoptado por alguns iluministas no século XVIII, continua a perpetuar-se na actualidade quando nos referimos à inocência de alguns povos do mundo subdesenvolvido, por oposição a uma sociedade predadora e corrupta. Esta maneira algo simplista de analisar a sociedade é, de certa forma, uma permanência da utopia renascentista. A valorização da experiência, da Razão, do progresso de descoberta do Homem e do Mundo encontra-se patente nas obras dos humanistas europeus da época. As utopias e a crítica social constituíram importantes temáticas dessas obras. Thomas More (1478-1535), humanista inglês, influenciado pela República, de Platão, escreveu a Utopia. Nesta obra concebeu um mundo ideal, onde havia paz, igualdade e tolerância entre homens; onde o Homem conseguia vencer os vícios e as paixões e alcançar a prosperidade. Na crítica social distinguiu-se Erasmo de Roterdão (1466-1536). A sua obra caracteriza-se pelo ideal universalista, pelo racionalismo crítico e pela tolerância religiosa. Na sua obra O Elogio da Loucura alia a ironia à crítica social. Nicolau Maquiavel (1469-1527) na sua obra O Príncipe, defendia que os homens são impulsionados pela ambição pessoal e desejo de propriedade material e que era dever dos governantes manter a segurança dos Estados, não importando os meios empregues para esse fim.
  • 5. Da conjugação da Utopia de Thomas More e de Erasmo e da astúcia e pérfida de Maquiavel nasceram as bases ideológicas dos Estados modernos. O humanista Rabelais (1494-1553), na sua obra Carta de Gargântua a seu filho Pantagruel, reflecte os novos ideais pedagógicos do Renascimento. Gargântua apresenta um plano de educação para o seu filho, baseado num conhecimento enciclopédico que incluía o estudo dos clássicos e o contacto com a Natureza que lhe possibilitaria o conhecimento do Homem. Também o humanista francês Montaigne (1533-1592) considerava que, na educação, mais importante do que adquirir conhecimentos era saber discernir, julgar, duvidar e criticar até mesmo a autoridade dos clássicos, em suma, exercer livremente o pensamento e a Razão. Adaptado de H. Veríssimo, M. Lagarto, M. Barros, História em Construção, Edições Asa, 2007 8. Saliente, com base nas fontes analisadas, a natureza do movimento humanista.