O documento descreve a influência romana na Península Ibérica, particularmente na Lusitânia. Os Romanos desenvolveram a vida urbana, a economia e incutiram seus valores através da aculturação das populações locais, especialmente por meio da educação da juventude nas línguas e cultura romanas.
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A vida urbana na Roma Antiga
1. EXTERNATO LUÍS DE CAMÕES N.º 2! 7 DE OUTUBRO DE 2012
Caderno Diário
O modelo romano Aprendizagens
A herança da Antiguidade Clássica relevantes
• Localizar o espaço
imperial romano.
• Reconhecer o carácter
urbano da civilização
romana.
• Distinguir formas de
organização do espaço das
cidades do Império, tendo
em conta as suas funções
cívicas, políticas e
culturais.
• Identificar na
romanização da Península
Ibérica os instrumentos de
aculturação das
populações submetidas ao
Como foi possível uma cidade com espírito de abertura e domínio romano.
dominar quase todo o mundo tolerância bem como a
conhecido e mantê-lo unido capacidade de estender, aos povos • Salientar a
durante séculos? conquistados, o estatuto superior importância do legado
Alicerçada em múltiplos da cidadania. político-cultural romano.
factores, a unidade do mundo Determinados a manter a paz
romano contou, em primeiro o que tinham conseguido pela
lugar, com o prestígio do próprio guerra, os Romanos espalharam
imperador, figura emblemática e por todo o Império a sua cultura:
sagrada, símbolo da paz e da os padrões urbanísticos, as
unidade. Contou, também, com a construções arquitectónicas, as
sabedoria dos juristas que, concepções artísticas, as grandes incutiram valores e hábitos, em
fazendo do Direito uma ciência, obras literárias, tornaram-se no suma, transformaram em
criaram um conjunto de leis património comum de todo o romanos povos anteriormente
notável que serviu de suporte à mundo romano e no legado hostis.
administração e à justiça. cultural que mais marcou a nossa
Nenhuma outra disciplina revela civilização. Cidades, obras de arte,
melhor o sentido de organização pontes e estradas lembram, no
Este processo de aculturação nosso território, a presença de
deste povo, a sua capacidade para fez-se sentir claramente na
adequar a teoria à prática e daí Roma. Nenhum vestígio, porém,
Península Ibérica. Aqui, os permanece mais vivo do que a
retirar benefícios. Romanos desenvolveram a vida língua em que se registam estas
Mas, acima de tudo, a urbana, fomentaram as palavras.
unidade do Império construiu-se actividades económicas,
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A INFLUÊNCIA GREGA
“Depois de teres seguido, durante um ano, os 1. Apresente evidências da admiração que
ensinamentos dados por Crátipo, tendo um os Romanos devotavam pela cultura grega.
mestre de tão grande autoridade e numa cidade
tão rica de exemplos, deves, meu querido filho
Marco, ter absorvido grande número de preceitos 2. Indique alguns aspectos em que os
e doutrinas. Eu, que cultivo a filosofia e arte Romanos se sentiam superiores aos Gregos.
oratória tanto em latim como em grego, penso
que deves, também, esforçar-te por dominar
fluentemente as duas línguas. (...)
Continuarás a estudar sob a égide do filósofo
mais notável do nosso século o tempo que
quiseres (...) mas aproveitarás também com a
leitura dos seus escritos, que se afastam pouco da
doutrina dos deuses, visto que buscamos, eles e
eu, inspiração em Sócrates e Platão (...).
No que respeita à filosofia, reconheço que
muitos me são superiores, mas, no que toca à
composição do discurso, à propriedade da
linguagem, à capacidade de fazer valer as ideias
pela forma de as exprimir, tenho o direito de me
gabar, pois dediquei a minha vida à aquisição
destes méritos.”
Cícero, Sobre os Deveres, 44 a. C.
O PRAGMATISMO ROMANO O MUNDO ROMANO
“A prudência romana eles os carros carregados. “De todas os cantos jóias da Barbaria mais
e m p r e g o u - s e O fornecimento de água da terra e dos mares longínqua chegam a
principalmente em por meio de aquedutos é a f l u e m a Ro m a o s Ro m a e m g r a n d e
coisas que pouco atenção tão abundante, que pode produtos de todas as quantidade e com muita
receberam dos Gregos – d i z e r- s e q u e o s r i o s nações, os dos rios e dos facilidade.”
pavimentação das correm para as cidades, e lagos, e tudo o que pode
estradas, construção de quase todas as cidades, produzir a indústria dos
Gregos e dos Bárbaros Públio Élio
aquedutos e esgotos. De providas de canalizações,
(...). Aristides, Elogio de Roma,
f a c t o , o s Ro m a n o s possuem fontes.”
século II d. C.
calcetam a s estrada s Ta n to s n a v i o s d e
abertas através de transporte vêm abordar
montes e vales, a fim de Estrabão, Geografia,
ao cais do Tibre, que 1. Poderemos
as mercadorias poderem 64 a. C. – 24 d. C.
Ro m a é , d e a l g u m a afirmar que Roma
ser transportadas em maneira, como que o é a primeira
carros desde os portos. 1. Indique de que mercado universal do cidade
Os esgotos, feitos de forma se revela o mundo. Os frutos da verdadeiramente
pesadas pedras, são tão sentido prático Índia e da Arábia (...), os cosmopolita e
largos, em alguns lugares, dos Romanos. tecidos da Babilónia, as global?
que podem passar sobre
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O RUÍDO DE UMAS TERMAS
“Imagina todas as espécies de vozes. (...) Enquanto os desportistas treinam e se exercitam nos
halteres, (...) ouço gemidos; de cada vez que retomam o fôlego, segue-se um silvo e uma respiração aguda.
Quando se trata de um preguiçoso ou de alguém que se contenta com uma fricção barata, ouço uma mão
a bater nos ombros (...). Se, além disso, surgir um jogador que comece a contar as boladas, está tudo
acabado! Acrescente-se ainda o quezilento, e o ladrão apanhado em flagrante, e o homem que se diverte a
ouvir a sua própria voz enquanto toma banho. Juntem-se a tudo isto as pessoas que saltam para a piscina
salpicando os outros de água. Mas todas estas pessoas têm, pelo menos, uma voz normal. Agora imagina a
voz aguda e estridente dos depiladores (...) que de repente dão gritos, sem nunca se calarem, a não ser
quando depilam as axilas aos outros, obrigando-os, então, a gritar por sua vez. Há ainda os gritos variados
dos pasteleiros, vendedores de salsichas e de patés e de todos os moços de taberna que anunciam as suas
mercadorias numa melopeia característica”.
Séneca, Cartas a Lucílio, 4 a. C. - 65 d. C.
1. Na opinião de Juvenal, que inconvenientes graves apresentavam as insulae?
VIVER EM ROMA O ENSINO
“ Vi v e m o s numa uma excelente domus em “Se quis ir para dos estudantes é horrível
cidade suportada por Sora, pelo mesmo que Roma, não foi para obter e descontrolado:
frágeis vigotas. Porque é pagas, num ano, por um maiores honorários ou levantam-se de forma
deste modo que o túgurio em Roma. (...) maiores honras – intempestiva e, quais
administrador repara a A maioria dos promessas que me dementes, poderia dizê-
casa prestes a cair: tapa a d o e n t e s , e m Ro m a , faziam os amigos que me lo, perturbam a ordem
fissura de uma velha morre de insónia (...), incentivavam a partir – que cada mestre
fenda e diz-nos que pois que sono é possível e, mesmo se tais estabeleceu no interesse
durmamos tranquilos num apartamento? considerações também dos seus alunos. (...)
enquanto a catástrofe Quem, senão os ricos, influenciassem o meu Pe n s a m agir
paira sobre a nossa co n s e g u e d o r m i r e m espírito, a razão impunemente enquanto
cabeça! Não, não, tenho Roma?” principal e por assim a cegueira do seu
de viver onde não haja dizer única foi que, de compor tamento lhes
t a n to s f o g o s , t a n to s acordo com as minhas acarreta um prejuízo
alarmes nocturnos. (...) Juvenal, Sátiras, informações, lá, os incomparavelmente
O terceiro andar já está séculos I – II d. C. jovens estudavam muito maior do que aquele que
em chamas e tu ainda mais calmamente e eram inflingem”.
não deste por nada. contidos por uma
1. Indique de que
Desde o rés-do-chão que disciplina mais severa:
forma se revela o Santo Agostinho,
todos estão em pânico ela impede-os de
sentido prático Confissões, 398 d. C.
mas o último a assar é o irromper, desordenada e
dos Romanos.
locatário das águas- descaradamente, na sala
furtadas que só tem a de aulas dos que não são 1. Que atractivos
protegê-lo as telhas onde seus professores, não oferecia o ensino
ternas pombas vêm pôr sendo aí admitidos senão em Roma?
os ovos. (...) com autorização
Se te conseguires expressa do mestre.
af a s t a r d o s j o g o s d e Em Carta go, pelo
circo, podes comprar contrário, o deixa andar
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ROMANOS E LUSITANOS
“A norte do Tejo estende-se a Lusitânia, habitada pela mais poderosa das nações ibéricas e que entre
todas por mais tempo deteve as armas romanas. (...)
Os Lusitanos são excelentes para armar emboscadas e descobrir pistas, são ágeis e destros. O escudo
de que se servem é pequeno, só com dois pés de diâmetro, a parte anterior é côncava (...). Armam-se com
um punhal ou grande faca; a maioria tem couraças de linho. (...)
Os Lusitanos sacrificam frequentemente aos deuses, examinam as entranhas sem as arrancar do
corpo das vítimas, observam também as veias do peito e tiram certas indicações do simples contacto.
Consultam até em certos casos as entranhas humanas, servindo-se para isto dos prisioneiros de guerra,
que revestem previamente duma veste para o sacrifício (...).
Todos estes montanheses são sóbrios, bebem geralmente só água, deitam-se no chão (...). Nas três
quartas partes do ano, o único alimento na montanha são as glandes de carvalho, que, secas, quebradas e
pisadas, servem para fazer pão, que pode guardar-se por muito tempo. (...)”
Estrabão, Geografia, 63 a. C. – 24 d. C.
1. Compare o nível civilizacional de Romanos e Lusitanos.
A ACÇÃO DE UM GOVERNADOR ROMANO A EDUCAÇÃO NA LUSITÂNIA
“A fim de que estes homens incultos, e por isso “Ma s o q u e m e l h o r o s c o n q u i s to u [ a o s
inclinados a guerrear, se acostumassem a uma vida Lusitanos] foi o que fez em relação aos seus filhos.
agradável e pacífica (…), exortou-os (…) e ajudou-os a Porque, reunido em Osca, uma grande cidade, os
empreenderem a construção de templos, fóruns, jovens das melhores famílias de todos os povos
habitações. Deste modo, uma rivalidade de prestígio submetidos, deu-lhes mestres de grego e de latim.
substituía a violência. Eram na realidade reféns; mas na aparência instruía-
Entretanto, iniciava os filhos dos notáveis no os a fim de os fazer participar, quando homens, na
estudo das letras, (...) de tal maneira que os mais administração e governo do país, Os país tinham um
inclinados outrora a rejeitar a língua de Roma ardiam prazer extraordinário em ver os seus filhos, vestidos
agora de zelo em falá-la com eloquência. Depois, com a toga, frequentar regularmente a escola.”
mesmo os nossos trajos tinham honra em usar e a
toga multiplicou-se; progressivamente, acabaram por
Plutarco, Vidas Paralelas
apreciar até aos nossos vícios, as delícias dos banhos
e o refinamento dos banquetes; e estes noviços
levaram a sua inexperiência ao ponto de chamar 1. Com base no documento, refira a
civilização ao que não era mais do que um aspecto da importância do ensino na Romanização.
sua rejeição.”
Tácito, Vida de Agrícola, séculos I-II d. C.
1. Identifique no relato de Tácito elementos
característicos da civilização romana
adoptados pelos povos bárbaros.
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AS INVASÕES BÁRBARAS
“Na era de 408 da Era Cristã, os Vândalos, os Alanos e os Suevos ocuparam a Hispânia, mataram e
destruíram muitos nas suas sangrentas incursões, incendiaram cidades e saquearam as propriedades
assaltadas, de forma que a carne humana era devorada pelo povo na violência da fome. As mães comiam
os filhos; e também os animais, que se haviam acostumado aos cadáveres dos que morriam pela espada,
de fome ou de peste, eram mesmo levados a destroçar os vivos; desta maneira quatro pragas dizimaram
toda a Espanha, sendo cumprida a predição divina que há muito tinha sido escrita pelos profetas.
Na era de 411, depois da terrível devastação das pragas pela qual a Hispânia foi destruída, os
Bárbaros, decididos finalmente pela graça de Deus a fazer a paz, sortearam as províncias para as ocupar.
Os Vândalos e os Suevos ocuparam a Galécia; os Alanos, a província da Lusitânia e a Cartaginense;
porém os Vândalos (…), abandonada a Galécia e depois de terem devastado as ilhas da província
Tarraconense, voltando a trás tiraram à sorte a Bética. (…)
Os hispanos (...) que tinham conseguido escapar à praga dos bárbaros apoderados das províncias,
submeteram-se à servidão.”
Idácio, Bispo de Braga, Crónica, 395–468,
in Fernanda Espinosa, Antologia de Textos Históricos Medievais
1. Que “quatro pragas” assolaram a Hispânia romana?
AS CULTURAS BÁRBARA E ROMANA O COSTUME E A LEI
“A solícita preocupação de um príncipe está “50 – Sobre o lábio cortado – Se alguém cortar
cumprida quando foram providenciados os lábio a outrem, dê-lhe de composição dezasseis
benefícios para futura utilidade dos povos. Nem a soldos, e se apareceram um, dois ou três dentes, dê-
ingénita liberdade [do príncipe] deve deixar de lhe de composição vinte soldos.
exultar quando, quebradas as forças sem razão o
casamento de pessoas que são iguais por dignidade e 51 – Sobre os dentes dianteiros – Se alguém
linhagem. E por isto, removida a sentença da antiga arrancar a outrem um dente que a apareça no riso,
lei (…) sancionamos esta lei que há-de valer para dê-lhe dezasseis soldos; se forem dois ou mais
sempre: que o Godo possa, se quiser, ter uma mulher dentes, aparecendo no riso, façam por esse número
romana e que a Goda possa casar com um romano uma composição e um preço.
(…) e que o homem livre possa casar com qualquer 62 – Sobre o corte de uma mão – Se alguém
mulher livre […] obtido o solene consenso dos cortar uma mão a outrem, dê-lhe de composição
parentes e a licença do conde.” metade do preço que teria sido avaliado se o
matasse; e se a paralisar mas não a separar do corpo,
dê-lhe de composição a quarta parte deste preço.
Corpus Iuris Germanici Antiqui, in Fernanda 74 – Em todas estas chagas e feridas acima
Espinosa, Antologia de Textos Históricos Medievais transcritas que podem acontecer entre homens
livres, estabelecemos uma composição maior do que
a dos nossos antepassados, para que a vingança que é
inimizade seja relegada depois de aceite a citada
composição e não seja esta mais exigida nem
permaneça o desgosto, mas dê-se a causa por
terminada e mantenha-se a amizade. (…)"
1. Tendo em conta os documentos anteriores,
explique como se processou a aproximação das Monumenta Germaniae Histórica – Legum, in
culturas bárbara e romana. Fernanda Espinosa, Antologia de Textos Históricos
Medievais
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