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XVI Congresso Brasileiro de Sociologia
10 a 13 de Setembro de 2013, Salvador (BA)
Grupo de Trabalho 26: Sexualidades, corporalidades e transgressões
Título: Africanos e Africanas em Fortaleza: sexualidade, gênero, raça e outras
interseccionalidades de sujeitos imigrantes
Autor: Ercílio Neves Brandão Langa1
1
Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará. E-mail:
ercilio.langa@gmail.com.
2
Resumo: Neste artigo analiso sexualidade, gênero, raça e suas interseccionalidades entre
imigrantes africanos(as) residentes em Fortaleza. Pertencentes a diversos grupos
etnolinguísticos, tais sujeitos apresentam identidades multiculturais e distinções de várias
ordens a marcar suas vidas no Ceará, constituindo uma diáspora. Nesse cenário, os
africanos não estão inteirados dos limites sociais de raça e classe existentes, rompendo
fronteiras estabelecidas, verificando-se preferência afetiva de homens africanos por
mulheres brasileiras brancas. Partindo dos conceitos de diáspora de Gilroy (2001) e de
interseccionalidade de Crenshaw (2002), analiso as sexualidades entre africanos e
africanas, entre africanos(as) e brasileiras(os) e, as ressignificações sexuais ocorridas no
contexto migratório. Nas interações afetivas, africanos(as) na condição de negros(as) são
colocados em posição inferior e de subalternidade, ocupando lugar secundarizado para
relacionamentos estáveis. Ao mesmo tempo, são objeto de desejo sexual para encontros
fortuitos sem compromissos afetivos. Para compreensão do fenómeno avanço como
questões: o que a experiência de imigração produz nas identidades sexuais dos imigrantes
africanos? Como pensar sociabilidades afetivas entre africanos e brasileiros num contexto
marcado pela discriminação racial? Adentrando esse universo, utilizo como via
metodológica a observação etnográfica, entrevistas abertas e conversas informais, com
registro sistemático no caderno de campo.
Palavras-chave: Imigrantes africanos. Sexualidade. Identidade. Raça. Interseccionalidade.
Introdução: o contexto histórico-político da emergência da diáspora africana em
Fortaleza nas relações entre Brasil e África
A vinda de estudantes africanos no estado do Ceará, na condição de imigrantes,
teve início na segunda metade da década de 1990, com o primeiro grupo oriundo de
Angola.2
Nesse período, vinham somente estudantes de países africanos de língua oficial
portuguesa para integrar-se na Universidade Federal do Ceará (UFC), através do
Programa de Estudantes Convênio – de Graduação (PEC-G).3
Entretanto, a partir de 1998,
inicia-se a imigração de estudantes bissau-guineenses e cabo-verdianos e, dois anos
depois, estudantes são-tomenses, angolanos e moçambicanos. No início dos anos 2000,
há um aumento significativo do número de estudantes africanos residentes no Ceará, cuja
maioria vem estudar em faculdades particulares, com contratos firmados em seus países
de origem, a partir de publicidade e vestibulares realizados em Guiné-Bissau.
O aumento da imigração de estudantes africanos para o Brasil, no início do século
2
Informação verbal fornecida pelo presidente da Associação de Estudantes Africanos no Estado do Ceará
(AEAC), estudante africano residente no Ceará há mais de uma década.
3
Programa de Estudantes Convênio – de Graduação, administrado de forma conjunta pelo Ministério das
Relações Exteriores e pelo Ministério da Educação, fazendo parte dele 45 países, com 32 países efetivos
que enviam estudantes de África, da América Latina e de Timor-Leste. O continente africano apresenta o
maior contingente de alunos, com 20 países que enviam estudantes todos os anos. Em 2010, haviam
ingressado nas universidades federais e estaduais brasileiras, 383 estudantes africanos, em sua maioria,
oriundos de Guiné-Bissau, Cabo-Verde e Angola.
3
XXI é também impulsionado pelo discurso governamental do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva e sua política de cooperação e aproximação com a África.4
Tal política de
cooperação, em curso, visa particularmente atingir o ensino superior, através de criação de
distintos mecanismos, como estágios profissionais, bolsas de estudo e convênios, no
sentido de viabilizar a vinda de africanos para estudar no Brasil.
No contexto de diferentes estratégias mobilizadoras, estudantes africanos saem de
seus respectivos países com expectativas acadêmicas em relação ao Brasil, devido ao
maior nível de desenvolvimento econômico, tecnológico e de produção acadêmica,
alimentando esperanças de facilidade de inserção por conta de uma língua e culturas em
comum – a língua portuguesa, a culinária, a religiosidade e a cultura negra trazida pelos
escravos a permear a vida brasileira.
Conforme afirma Mourão (2009), nos anos 2000, os estudantes africanos
participantes do convênio com universidades públicas brasileiras se autodenominavam
“comunidade africana em Fortaleza”, que incluía, somente, jovens de nacionalidades cabo-
verdiana e bissau-guineense, então unidos e voltados para questões comuns, como
adaptação e resolução de problemas cotidianos. A autora argumenta que, mesmo assim,
essa união na diáspora não dissipou as diferenças históricas de classe, renda, prestígio e
grau de escolaridade entre os cidadãos oriundos dos dois países.
Ao longo dos anos, o número de estudantes africanos imigrantes cresceu,
constituindo um contingente de imigrantes a tornar-se complexo em sua diversidade.
Atualmente, verifica-se um crescente segmento de estudantes de países, classes sociais e
credos religiosos distintos, oriundos não apenas de países lusófonos, mas também de
países de expressão inglesa e francesa, como é o caso da Nigéria e da República
Democrática do Congo.
Tal imigração tem gerado grupos e movimentos, a congregar estudantes africanos
em um processo de mobilização e organização em diversas agremiações estudantis,
cabendo destacar: a Associação de Estudantes Africanos no Estado do Ceará – AEAC, a
Associação de Estudantes da Guiné-Bissau no Estado do Ceará – AEGBECE, a Fundação
de Estudantes Cabo-verdianos nas Faculdades do Nordeste – FEAF e, o Movimento
Pastoral de Estudantes Africanos – MPEA. Este último movimento, hoje, revela-se com
maior articulação e visibilidade, destacando-se em ações de promoção e defesa dos
4
Ao longo dos oito anos do governo Lula, de 2003 a 2010, o intercâmbio estudantil entre o Brasil e países
africanos foi intensificado. Em seus dois mandatos, o presidente Lula visitou 27 países africanos, enquanto
seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, visitou apenas três países.
4
direitos dos estudantes africanos e denunciando as situações por que passam esses
sujeitos, por meio de reuniões entre estudantes e faculdades, elaboração de relatórios,
encaminhamento de processos na justiça e realização de manifestações públicas.
Na condição de estudante africano integrante dessa diáspora, sinto-me interpelado
a estudar esse fenômeno, problematizando-o como objeto de estudo. Neste artigo, procuro
compreender as questões de sexualidade, gênero, raça e suas interseccionalidades entre
imigrantes africanos e africanas na cidade de acolhida.
Nesse sentido, primeiro fiz uma contextualização da emergência da diáspora
africana nas relações entre Brasil e África. Em seguida, problematizo a noção de diáspora
como uma chave teórica e analítica para compreender a presença desses sujeitos. Em
terceiro, apresento reflexões sobre o encontro com a alteridade racial e cultural assim
como sobre as distinções entre os imigrantes. Depois discuto a questão da raça no
contexto migratório e o lugar dos imigrantes na cidade de Fortaleza. Em quinto, faço uma
reflexão sobre a condição das mulheres africanas, a questão do gênero, trabalho e
afetividades. E, por fim, abordo acerca das interações afetivo-sexuais entre os(as)
imigrantes e homens e mulheres brasileiros(as).
A diáspora africana em Fortaleza: considerações teóricas
Denomino “diáspora africana” à crescente presença de estudantes oriundos de
diversos países africanos – Angola, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Nigéria,
República Democrática do Congo e São-Tomé e Príncipe – em Fortaleza. Pertencentes a
diversos grupos etnolinguísticos, tais sujeitos apresentam identidades multiculturais e
distinções de várias ordens a marcar as suas vidas em território cearense. Tal diáspora é
constituída majoritariamente por indivíduos do sexo masculino, predominantemente bissau-
guineenses e cabo-verdianos, com um contingente cada vez maior de mulheres.
A noção de diáspora, que movimento nesta pesquisa, é inspirado nos escritos de
autores dos estudos pós-coloniais, como Du Bois, Gilroy e Hall. Na sua acepção original, o
termo se reporta à dispersão do povo judeu pelo mundo. Entretanto, a utilização desse
termo se referindo às populações afrodescendentes é cunhada por Du Bois (2007),
inspirado na condição de populações negras em distintas regiões no continente americano,
que vivenciavam condições comuns de subalternidade e opressão, racializadas e
discriminadas por conta de seu passado escravo e tinham como principal característica em
comum, a experiência do sofrimento causado pela escravidão racial na modernidade.
5
Já Hall (2011) utiliza a noção de diáspora para se referir às identidades
heterogêneas dos imigrantes oriundos da região do Caribe na Grã-Bretanha, seus mitos de
origem, as necessidades e os perigos que enfrentam sob a globalização. O autor faz uma
crítica às concepções essencialistas étnicas, raciais e nacionais da identidade acerca da
cultura e da política de localização, resgatando o conceito de identificação como um
processo de articulação e costura nunca completa, engendrada pelos sujeitos diaspóricos.
O conceito de identidade desenvolvido por ele apresenta-se como estratégico e
posicional. Seu argumento principal é de que na modernidade tardia, as identidades são
cada vez mais fragmentadas e fraturadas, multiplamente construídas ao longo dos
discursos, práticas e posições que podem ser cruzar ou ser antagônicas (HALL, 2010).
Na sua ótica, o que caracteriza as populações diaspóricas é a condição de
hibridismo. O autor vincula as discussões sobre identidade aos processos e práticas que
têm perturbado o caráter estabelecido de muitas populações e culturas nacionais, se
referindo aos processos de globalização, modernidade, migração forçada ou livre,
fenômenos esses que têm se tornados globais.
Assim, afirma a perspectiva de que as identidades e as identificações constituem
processos sempre em construção, a partir das negociações que os indivíduos efetivam ao
longo de suas trajetórias. Logo, em Hall, as identidades apresentam-se como processos
em aberto, em movimento, que expressam diferentes contextos sociais e trajetórias
peculiares de cada indivíduo, [...] “elas invocam uma origem que residiria num passado
histórico, têm a ver com a utilização de recursos da história, da linguagem e da cultura
para a produção não daquilo que somos, mas daquilo no qual nos tornamos” (HALL, 2010:
108-109).
Gilroy (2001) estuda a diáspora constituída pelas populações afrodescendentes nos
territórios que constituem o Reino Unido e EUA, optando pela designação Atlântico Negro.
O autor apresenta uma noção de diáspora distinta como negociação de rotas, uma
alternativa ao retorno às raízes, à metafísica da raça, da nação e de uma cultura territorial
fechada, codificada no corpo, perturbando a mecânica do pertencimento.
Esta versão da diáspora é distinta porque ela enxerga a relação como algo mais do
que uma via de mão única. Ela nunca ofereceu apenas resposta aos interesses, tanto
acadêmicos como políticos, que tentaram negar as sobrevivências africanas, seus
contágios e as influencias da escravidão para além dela. Esta abordagem das
relações diaspóricas surge depois que a lógica cultural da combinação, do
tangenciamento e as suplementaridade foi estabelecida [...] (GILROY, 2001:21).
6
Seu conceito de diáspora supera as definições essencialistas, até então usadas
para caracterizar as populações negras deslocadas de seus territórios de origem,
baseadas na raça negra e raízes cultuais no continente africano como território de origem.
Sua visão inovadora aponta para a diáspora em termos de negociação de rotas, de
intercâmbios entre culturas políticas que tomam lugar dentro de um contexto baseado na
memória social e como consciência e identidades ativamente produzidas pela experiência
daquilo que ele designa de terror racial – escravidão racial, sistema de plantação,
colonialismo, segregação – das populações negras e afrodescendentes.
Ao invés de uma visão de diáspora unificada partindo de África e suas raízes, Gilroy
(2011) propõe uma visão rizomática, encarando as comunidades negras conectadas em
distintos lugares a partir de uma memória social do terror racial. Assim, propõe a noção de
diáspora como alternativa ao conceito de raça, rompendo com o território, com o lugar de
origem, com a posição e com a consciência como fatores explicativos.
De fato, as noções de diásporas anteriores à sua obra situavam-na como algo
referente ao passado, como fenômeno racial, econômico-demográfico e como raiz cultural.
Gilroy (2011) e Hall (2001) pensam a diáspora para além dos essencialismos, encarando
como fruto da hibridização racial e cultural. Esses autores têm em comum, o fato de
pensarem as populações afrodescendentes espalhadas pelo mundo como uma realidade
racial e cultural criada pela memória social da escravidão, na qual, o hibridismo seria a sua
principal característica.
Por sua vez, Gordon & Anderson (1999) fazem uma análise dos modelos teóricos
desenvolvidos entorno do conceito de diáspora, concluindo que tais perspectivas
concentram-se em aspectos essencialistas comuns a várias populações afrodescentes ou,
direcionam seus focos na diáspora como condição de hibridização caracterizada pelo
deslocamento e identidades dispersas. Os dois autores recomendam a realização de
estudos de caráter etnográfico para uma melhor compreensão dos processos de
identificação diaspóricos e uma mudança de foco das pesquisas, passando-se a analisar
os processos através dos quais, as pessoas se identificam diante do outro enquanto
negros ou afrodescendentes.
Olhando o cenário migratório em estudo, percebo que a diáspora africana em
Fortaleza apresenta-se distinta das óticas dos autores acima mencionados, pois, ela
resulta de um processo suis generis de migração voluntária de indivíduos nos finais do
século XX, em busca de melhores condições de estudos e de vida.
7
Africanos em Fortaleza: do encontro com a alteridade racial e cultural à política de
distinções
No contexto migratório de Fortaleza, os estudantes imigrantes africanos enfrentam
desafios cotidianos, particularmente, dificuldades econômicas de sobrevivência
considerando o elevado custo de vida nesta metrópole, em relação às suas possibilidades
financeiras. Parte significativa do contingente de estudantes afirma sentir-se discriminada
no cotidiano, por conta da cor da pele e da própria origem africana, em graus e formas
distintas das discriminações encontradas nos países de origem. Nas suas reflexões,
Gusmão (2006) circunscreve a própria posição do Brasil ao receber a diáspora africana:
Um país multirracial e integrante dos chamados “países emergentes”, mas que se
diferencia dos países europeus, até muito recentemente privilegiados na busca por
qualificação de quadros por parte dos Palop. Em questão, a posição de um país
relativamente periférico na divisão internacional do trabalho, com um passado
igualmente de colonização portuguesa e que, estruturalmente mestiço e negro,
pensa-se branco e europeu. Em debate, a existência de processos intensos de
discriminação e racismo na realidade brasileira e a percepção e a vivência do sujeito
negro e africano nesse contexto (GUSMÃO, 2006:16).
Os estudantes imigrantes africanos integrados às universidades federal e estadual,
que constituem a minoria e, sobrevivem das bolsas do PEC-G e de outros convênios
firmados entre o Brasil e seus países de origem. Já o segmento maior que estuda em
faculdades particulares, recebe dinheiro das famílias para pagar mensalidades e manter-se
na faculdade, complementando a sua renda por meio de trabalhos clandestinos – em lojas
e mercadinhos, salões de beleza, oficinas, fábricas e construções, restaurantes ou mesmo,
nos estacionamentos de grandes shoppings centers e supermercados, ou, ainda, em
“casas de família” como babás – para assim, garantir a sobrevivência e a própria
locomoção na cidade.
Dentro deste grupo de estudantes imigrantes inseridos nas faculdades particulares,
um segmento deles, particularmente mulheres jovens, nos tempos livres, dedica-se ao
comércio de roupas e calçados entre Fortaleza, São Paulo e seus países de origem.5
Um
grupo seleto de estudantes de faculdades particulares, com destaque para os cabo-
5
As rotas comerciais também incluem o trajeto Fortaleza, São Paulo, Lisboa. Durante a pesquisa etnográfica
e convivência com este grupo, presenciei discussões telefônicas entre familiares e parceiros por conta de
dívidas em dinheiro e compromissos não cumpridos na venda de roupas africanas. Por outro lado, também
tenho notícia de africanos presos por tráfico internacional de drogas em aeroportos brasileiros e portugueses
nesses trajetos.
8
verdianos, sobrevive e estuda de forma tranquila, graças ao dinheiro enviado por familiares
residentes em África e por parentes imigrantes em países da Europa e América do Norte.
As faculdades particulares, – como mecanismo de atração – dizem garantir estágios
remunerados para estudantes ao final dos cursos de Administração, Contabilidade,
Marketing, Comunicação, Ciências e Gestão de Informação. Na realidade, são oferecidos
aos estudantes africanos, “estágios remunerados” que são formas de trabalho precário
como panfleteiros, vigias de lojas nos shoppings centers e em estacionamentos ou como
operadores de vigilância eletrônica, em um artifício usado para contornar a norma que os
proíbe de trabalhar.
No cotidiano, os estudantes africanos percebem a dificuldade dos brasileiros em
chamá-los pelos nomes próprios, substituindo-os pela categoria nativa brasileira “negão” e
facilmente esquecem as nacionalidades e os nomes dos países de origem, diluindo tudo
na categoria genérica de africano. Mendes (2010:98) enfatiza que, “os estudantes
africanos não estão inteirados dos limites sociais tradicionalmente construídos pelos
brancos para segregar os negros. Não estão informados desses espaços de exclusão, eles
rompem as fronteiras estabelecidas e transitam em espaços brancos”.
Os estudantes imigrantes africanos, nos percursos cotidianos em Fortaleza,
percebem a distância social dos brasileiros negros que, muitas vezes, acreditam que os
africanos são playboys, sujeitos ricos oriundos das elites políticas africanas, ou então são
indivíduos que vêm ao Brasil ocupar os lugares que, por direito, seriam seus. Existe ainda
entre os brasileiros negros a representação de que os africanos são cotistas, isto é,
estudantes beneficiários das cotas raciais no ensino superior no Brasil. A rigor, as formas
de interação dos estudantes africanos com a população cearense, no cotidiano, tende a
expressar mecanismos de discriminação, colocando-os na posição de outsiders.
Contrariamente às percepções e representações da sociedade de acolhida que os
unifica, encarando-os como sujeitos homogêneos e oriundos de uma África – idealizada no
imaginário social brasileiro–, estudantes africanos(as) não se sentem iguais. Sentem-se
diferentes uns em relação aos outros na condição de imigrantes de diferentes países
africanos e, até mesmo, quando pertencem a regiões distintas de um mesmo país,
manifestam “estranhamento” uns em relação aos outros.
Na realidade, os imigrantes distinguem-se entre si no tocante à nacionalidade,
gênero, classe, renda, status, origem familiar e, principalmente pelo consumo de roupas,
calçados, aparelhos celulares, demonstrando a existência de distinções e hierarquizações
9
sociais (BOURDIEU, 2008).6
Assim, no cotidiano da diáspora africana emergem distinções sociais e diferenças
identitárias entre os próprios estudantes que se distinguem, segundo o sexo, a cultura, a
religião – se é islâmica, evangélica ou católica –, conforme o país de origem e seu nível de
riqueza – rico ou pobre –, conforme a região de origem – se é rural ou urbana –, de acordo
com a classe social, nível de renda familiar e prestígio social. E, também se diferenciam
conforme o nível acadêmico e tipo de instituição de ensino que frequentam – se é pública
ou particular, se é federal ou estadual –, de acordo com as marcas de roupa que vestem,
com o estilo de vestir e música que escutam – se é ocidental, africana ou brasileira – e, até
mesmo com o tipo e marca de bebida que consomem.
De fato, pesquisas com estudantes africanos em países europeus e no Brasil
mostram que, mesmo sendo tratados como homogêneos pelos países de acolhida e de
habitarem os mesmo espaços e “[...] serem em tudo semelhantes, pela mistura racial,
pobreza, muitas vezes, eles não se veem como iguais, se estranham e se odeiam
mutuamente” (GUSMÃO, 2006:11). Após certo período de convivência em Fortaleza, em
contato com novas realidades culturais, religiosas, de gênero e de sexualidade, os
estudantes africanos vão se adaptando, se aculturando, mas, ao mesmo tempo, esboçam
formas de resistência aos novos valores.
O contexto migratório e o lugar dos estudantes imigrantes africanos em Fortaleza
As profundas transformações mundiais na modernidade, aceleradas pelos
processos de globalização e mundialização do capital, o capitalismo informacional, as
mudanças nas conexões entre tempo e espaço, trocas transnacionais, aceleração dos
deslocamentos mundiais, fluxos de imigrantes vendo mudando as paisagens urbanas das
grandes metrópoles. Como consequência, os modelos de análise tradicionais utilizados
pelas ciências sociais não mais dão conta das transformações político-econômicas,
espaciais, culturais e identitárias vivenciadas nas grandes metrópoles, particularmente,
quando contam com a presença de grupos imigrantes.
Appadurai (2004) aponta que os meios de comunicação eletrônicos e as migrações
são a marca do mundo presente, no qual, as imagens, os textos, os modelos e as
6
De acordo com Bourdieu (2008), a distinção corresponde a uma estratégia de diferenciação que está no
âmago da vida social. É uma propriedade relacional que marca um desvio, uma diferença em relação a
outrem e que funda uma hierarquia entre indivíduos e grupos, constituindo o suporte de estratégias inscritas
nas práticas sociais.
10
narrativas que chegam pelos meios de comunicação de massa marcam a diferença entre
as migrações do passado e as atuais.
No caso da imigração de estudantes africanos para o Brasil, é necessário lembrar
que aliada aos convênios educacionais, a televisão e as mídias eletrônicas desempenham
papel importante na transmissão de imagens. As telenovelas brasileiras que, há mais de
duas décadas invadem os lares em países africanos de língua portuguesa desempenham
papel de destaque neste processo de tradução cultural. 7
Mais recentemente, a presença
de igrejas evangélicas brasileiras nesses países tornou ainda mais favorável, a ideia de
Brasil no imaginário social africano. Por outro lado, as mídias e redes sociais como Yahoo,
Orkut, Facebook, vêm desempenhando papel de intermediário nesta interação global
desigual, por meio de notícias, publicidade, fotografias, contas, perfis, fan pages e profiles.
É nesse contexto de emergência de diversos fenômenos transnacionais que
imigrantes africanos passam a circular nas ruas e, emergem como estudantes nas
universidades públicas e faculdades particulares, colorindo com suas roupas, cabelos e
tons de pele a etnopaisagem 8
de Fortaleza. Para sobreviver, pagar contas, mensalidades
das faculdades e se locomover, trabalham como garçons e garçonetes em restaurantes e
clubes noturnos, particularmente, na zona litoral e em restaurantes localizados em zonas
privilegiadas da cidade, cujos donos são gringos europeus. 9
Desempenhando as mesmas
funções ou como seguranças em restaurantes, churrascarias, supermercados, shoppings
centers de brasileiros, mas também empregados em lojas de comerciantes coreanos e
chineses no centro da cidade como atendentes, vendedores, e por fim como mecânicos,
soldadores, eletricistas em pequenas oficinas de brasileiros. Memmi (2007) bem descreve
a aparição de sujeitos imigrantes em metrópoles coloniais:
Em suma, o metropolitano aceitaria o imigrante se ele fosse invisível e mudo; ora, a
partir de certa densidade demográfica, o fantasma adquire uma terrível consistência;
ainda mais pelo fato de que, mais seguro por causa do número, ousa, ao contrário,
falar alto, e em sua língua natal, a às vezes vestir-se com seu traje tradicional.
(MEMMI, 2007:108).
7
De acordo com Spivak (2010) apud Costa (2012) a noção de tradução cultural – esboçada a partir da teoria
e práticas etnográficas e, posteriormente explorada pelas teorias pós-coloniais – baseia-se na visão de que
qualquer processo de descrição, interpretação e disseminação de ideias e visões de mundo está sempre
preso a relações de poder e assimetrias entre linguagens, regiões e povos.
8
Expressão utilizada por Appadurai (2004) para designar paisagens de pessoas que constituem o mundo em
deslocamento que habitamos: turistas, imigrantes, refugiados, exilados, trabalhadores convidados e outros
grupos e indivíduos em movimento, que constituem um aspecto essencial do mundo e parecem afetar a
política das nações e entre as nações sem precedentes.
9
Expressão nativa brasileira usada para designar o turista estrangeiro de raça branca, normalmente, europeu
e norte-americano.
11
Em 2011, a Polícia Federal do Ceará registrou mil, duzentos e sessenta estudantes
africanos no estado, dos quais mil cursavam diversas faculdades particulares, cento e
trinta estavam integrados na Universidade Federal do Ceará e vinte na Universidade
Estadual do Ceará, sendo a maioria proveniente dos países africanos de língua oficial
portuguesa (BRÁS, 2011).
De fato, o número de imigrantes se apresenta muito maior do que o cadastrado pela
Polícia Federal, pois muitos estudantes imigrantes se encontram em situação irregular.
Geralmente, no ano seguinte de estada em Fortaleza, um número significativo dos
imigrantes não consegue prorrogar o visto de estudante com o qual entrou no Brasil e,
parte dos estudantes africanos chega a Fortaleza vindo de outros estados brasileiros. Uma
parcela significativa de estudantes, a maioria, vinculada às faculdades particulares,
vivenciam condições precárias de vida.
Neste esforço de apropriar-me dos percursos da diáspora africana em Fortaleza,
entendo, particularmente, ser fundamental compreender as experiências de deslocamentos
das mulheres africanas e suas vivências em Fortaleza, a partir do estudo de suas
identificações, construções identitárias, inserções e interações. Nas linhas seguintes,
abordos as experiências, os dramas sociais e as interseccionalidades dessas mulheres.
Neste cenário, impõem-se várias questões analíticas: que mudanças a experiência
de migração produz nas identidades destas jovens mulheres? Como pensar suas
inserções em uma sociedade racializada? Quais os seus lugares na estrutura social e
como se dá a inserção social dessas mulheres na sociedade de acolhida?
Ser mulher, negra, imigrante e africana em Fortaleza: escola, trabalho, gênero, raça,
afetividade e suas interseccionalidades
As mulheres constituem minoria entre os estudantes imigrantes africanos. Tal
situação parece refletir a existência de sistemas patriarcais e desigualdades de gênero em
suas sociedades de origem, nas quais, as famílias preferem investir na educação dos filhos
do sexo masculino em detrimento das meninas, por questões de herança e continuidade
da linhagem. De fato, em muitas sociedades africanas, o acesso à educação, emprego
ainda não está universalizado, particularmente, aquelas com populações islamizadas, onde
esses direitos tornam-se ainda mais restritos para as mulheres.
Entretanto, faz-se necessário esclarecer que neste trabalho, ocupo-me de mulheres
africanas imigrantes não como vítimas, mas como protagonistas. Penso nessas mulheres
12
como personagens com capacidade de ação nas tramas do cenário migratório, e de
encontrar soluções próprias para o seu dia-a-dia.
De fato, alguns estudos sobre populações diaspóricas e imigrantes apresentam as
mulheres como vítimas, oprimidas, sem capacidade de agência. Na cidade de Fortaleza,
mulheres e homens imigrantes de distintos países africanos têm revelado capacidade de
adaptação, se locomovendo pela cidade e levando consigo a cultura, identidade e
estruturas de seus países de origem.
No seu estudo, Gilroy (2001) chama atenção para as discussões sobre o lugar do
gênero na diáspora e como o corpo das mulheres entraram nos discursos nacionais e
tornaram-se lócus da produção das diferenças étnicas e da continuidade das linhagens.
Em Fortaleza, a maioria das mulheres africanas está em cursos de graduação em
faculdades privadas, poucas conseguem “furar a peneira” e cursar pós-graduação. Além
da desigualdade econômica, no acesso à educação, de gênero e de classe, as mulheres
africanas sofrem também com o racismo nas ruas, instituições de ensino e nos locais de
trabalho, ainda que nem sempre, explicitamente, reconhecido como forma de opressão.
Elas desempenham papéis importantes e ocupam lugares distintos na reprodução física e
cultural da diáspora.
As diferenças de gênero se tornam extremamente importantes nesta operação anti-
política, porque elas são o signo mais proeminente da irresistível hierarquia natural
que deve ser restabelecida no centro da vida diária. As forças nada sagradas da
biopolítica nacionalista interferem nos corpos das mulheres, encarregada da
reprodução da diferença étnica absoluta e da continuação de linhagens de sangue
específicas. A integridade da raça ou da nação, portanto emerge como a integridade
da masculinidade. Na verdade, ela só pode ser uma nação coesa se a versão de
hierarquia de gênero for instituída e reproduzida. (GILROY, 2001:18-19).
Diante da alteridade, das distintas formas de discriminação e de inclusão, ocorrem
processos de interpelação racial e de ressignificação identitária (Sahlins, 1990) 10
, nos
quais, as africanas passam a assumir-se como mulheres negras, heterossexuais,
estudantes e trabalhadoras e pertencentes às diferentes igrejas cristãs. Tais
ressignificações identitárias são fruto do encontro com a diversidade racial, sexual, de
gênero e de classe no Brasil.
As dificuldades e distintas formas de discriminação enfrentadas pelas imigrantes
10
Sahlins (1990) usa a noção de ressignificação em referência aos novos sentidos atribuídos pelos
indivíduos às suas ações. Na sua ótica, dependendo do contexto vivido, historicamente situado, pode haver
mudanças na relação de posições entre as categorias culturais dos indivíduos.
13
africanas, suas interpelações raciais e ressignificações identitárias assemelham-se aquilo
que Turner (2005) define como dramas sociais 11
, ou seja, dificuldades de se recriar
universos sociais e simbólicos no mundo contemporâneo, onde os indivíduos se veem
sozinhos e abandonados diante da responsabilidade de darem sentido à sua vida. De
acordo com o autor, o drama social seria uma experiência vivida que remete à noção de
perigo, propiciando aos indivíduos acesso ao universo social e simbólico, que opõe o
cotidiano ao extraordinário.
Os estágios remunerados – que, na realidade são formas de trabalho precário –
representam uma forma de inserção das mulheres africanas no mercado de emprego, a
partir dos quais, boa parte delas é atraída para os cursos como administração,
enfermagem e áreas afins que, ainda a meio do curso, garantem empregos como
enfermeiras, atendentes, garçonetes, etc. Outro segmento importante dessas jovens
mulheres consegue emprego em pequenos comércios como atendentes em padarias,
lanchonetes, sorveterias, papelarias, assim como conseguem alguma renda trançando os
cabelos de africanas(os) e brasileiras(os) negros, de modo a sobreviver e se locomover na
cidade.
Aliado às rendas conseguidas nesses trabalhos e biscates, a maioria das
estudantes recebe apoio financeiro de familiares em África e, de irmãos e namorados
residentes no Brasil, de modo a garantir a sobrevivência na diáspora. Por outro lado, é
necessário destacar a adesão dessas mulheres às diferentes igrejas – evangélicas,
batistas, adventistas, mórmons, católicas – brasileiras, como uma forma de inserção social
e de diminuição da vulnerabilidade. As igrejas costumam abrir oportunidades de emprego,
escolaridade e até de casamentos, desde que se mantenham fiéis às congregações
religiosas.
A imigração para o Brasil apresenta-se como uma experiência vivida 12
, única e
significativa, sentida de forma intensa que, forma e transforma a vida e trajetória dessas
11
De acordo com Dawsey (2005) apud Turner (2005), o drama social aparece como um modelo de leitura da
realidade em sociedades tribais, pensado em quatro momentos: ruptura, crise e intensificação da crise, ação
reparadora e desfecho. O drama apresenta-se como um momento importante de reparação da crise, já a
ruptura assemelha-se a uma revolução, e a intensificação da crise com as dificuldades encontradas para
ressignificar o mundo e, finalmente, a crise como a responsabilidade de dar sentido ao seu universo.
12
Turner (2005) define literalmente experiência como “tentar, aventurar-se, correr riscos”, onde experiência e
perigo derivam da mesma raiz. Turner distingue três tipos de experiências: a experiência cotidiana que diz
respeito à experiência simples, passiva, de aceitação dos eventos cotidianos; experiência vivida, experiência
única que acontece ao nível da percepção como a dor ou o prazer que podem ser sentidos de forma mais
intensa e; experiências formativas que se distinguem de eventos externos e reações internas a elas, como a
iniciação a novos modos de vida, aventuras amorosas, que podem ser pessoais ou partilhadas.
14
jovens mulheres. Quase sempre, a experiência migratória é ressignificada de forma
positiva, vista como oportunidade de formação, aprendizado e crescimento na carreira
profissional. Porém, também é vista uma mudança no modo de ser e estar na vida por
conta das dificuldades econômicas, em conseguir trabalho, pagar contas pessoais, inserir-
se profissionalmente e afetivamente.
Nesse sentido, pode-se pensar na existência de identidades em processo as
mulheres africanas, moldadas pelas negociações que vão efetuando ao longo de suas
trajetórias em Fortaleza, que modificam o seu “eu” interior, seu modo de ver e de estar na
vida.
Afetividades subalternizadas: o lugar das mulheres africanas no mercado afetivo
Em termos de interações afetivo-sexuais vivenciadas pelas africanas verificam-se
diversas formas de arranjos, namoros com africanos – do mesmo país/etnia ou de
país/etnia diferente –, e com homens brasileiros, muitas vezes, em nítidas relações de
submissão a envolver dependência econômico-financeira.
As mulheres africanas costumam relacionar-se, particularmente, com homens que
contribuam para seu equilíbrio financeiro. Nesse cenário, percebo que as mulheres negras
– particularmente as africanas – ocupam o último lugar em termos de preferencias afetivas
em Fortaleza. Entretanto, tal realidade também se mostra válida para os homens africanos.
De fato, pesquisas de Berquó (1987) chamam atenção para a existência de um
maior quantitativo de mulheres negras morando sozinhas no Brasil, na condição de viúvas,
solteiras ou separadas. A este fenômeno afetivo, Silva (2008) designa metaforicamente de
“solidão da mulher negra”. Tal solidão deve principalmente por conta da subjetividade e
preterimento afetivo de mulheres negras por parte de homens negros e brancos, numa
sociedade brasileira racialmente hierarquizada.
Fanon (1983) chama atenção para a existência de um número de frases, provérbios
e linhas de conduta – entre as mulheres negras – que regem a escolha de um namorado
branco e de rejeição do homem negro, em sociedades coloniais. O autor chama atenção
para a condição de submissão das mulheres negras nos relacionamentos com homens
brancos, questionando sobre a possibilidade de existência de amor verdadeiro nessas
interações, pois, seriam caracterizadas pelo sentimento de inferioridade interiorizado pelas
últimas. Fanon (1983) argumenta que a mulher negra entra nesses relacionamentos numa
posição desigual, sendo sempre desprezada e nunca tolerada no meio social branco, cujo
15
amor pelo homem branco seria impossível e proibido em todas as sociedades.
As mulheres africanas imigrantes em Fortaleza apresentam escolhas afetivas
distintas e independentes da raça, mas, revelam preferências por aspectos como classe
social e etnia. Assim, entre estas, verificam-se poucos relacionamentos com homens de
países distintos dos seus, ou por homens com pouco poder econômico.
Diante da experiência de preterimento afetivo, as jovens africanas apresentam
diversas estratégias de autoestima e inserção nesse mercado afetivo, que vão do
investimento na estética e valorização da aparência pessoal, a frequência à salões de
beleza e academias de ginástica, dentistas, ao uso de diversos acessórios como óculos,
pulseiras, colares, bolsas. Assim como por meio de trajes e roupas abrasileiradas ousadas,
– vestidos com decotes, saias e shorts curtos – ou de roupas africanas coloridas, mas
também, através do uso de cosméticos da linha black power, tranças africanas, apliques,
extensões e mechas nos cabelos.
Como diria De Certeau (1998), as mulheres africanas têm as “suas estratégias e
táticas" de inserção e sobrevivência no mercado afetivo-sexual de Fortaleza. De fato, em
seus relatos, as mulheres africanas apontam diferenças significativas nos seus
relacionamentos com homens africanos e com brasileiros, nos quais, os últimos aparecem
como mais carinhosos menos algozes, demonstrando assim, que trocam “olhares”, flertam
e interagem com homens brasileiros.
Nesses relacionamentos percebe-se a sua preferência por homens de certa classe
social ou poderio econômico, ou que sejam sensíveis à sua condição financeira. Mas
também por homens que trabalhem e que contribuam para pagar as despesas cotidianas.
Em tais relações, parece haver certa preferência por homens brasileiros, por
representarem maiores oportunidades de inserção, contatos e conhecimentos na cidade.
É necessário ressaltar o papel da violência, que parece permear e estruturar suas
relações afetivas com homens africanos, tidos como “brutos”. De fato, são notórias as
queixas de mulheres africanas e brasileiras sobre a violência nos relacionamentos com
homens africanos.13
Nos discursos das africanas, percebe-se produção do homem
13
São incontestes os episódios de violência física e simbólica de homens africanos em seus relacionamentos
com mulheres africanas e brasileiras. Tal fato torna-se visível pela quantidade de denúncias feitas por amigos
e vizinhos e pelos Boletins de Ocorrência abertos, por mulheres brasileiras na única Delegacia da Mulher
existente em Fortaleza. Se as mulheres brasileiras denunciam essas situações e dirigem-se à delegacia, as
mulheres africanas parecem consentir tal violência. Assim, torna-se necessária uma pesquisa sobre a
violência no namoro e no ficar com homens africanos nesta diáspora e o diferencial nas reações entre
mulheres africanas e brasileiras diante da violência.
16
brasileiro como ideal – carinhoso, diferente, mas também ciumento –, criando-se uma
escala hierarquizada de “brutalidade masculina” diferenciada entre os homens brasileiros e
homens africanos. Entretanto, suas falas parecem ignorar ou invisibilizar a “brutalidade”
advinda do relacionamento com o homem brasileiro de maior poderio econômico.
A inversão de papéis nas interações afetivas entre homens africanos e mulheres
brasileiras
Nos encontros cotidianos, em diferentes situações e circunstâncias, cearenses e
africanos, de ambos os sexos, olham-se de forma ambivalente, discriminando-se e
sexualizando-se. Nas interações, os estudantes imigrantes africanos, na condição de
negros e imigrantes, portanto, sujeitos marginais, são colocados em posição inferior e de
subalternidade, ocupando um lugar secundarizado em termos de preferências afetivas
para relacionamentos estáveis. Ao mesmo tempo em que são objeto de estigma, os
estudantes africanos são também objeto de desejo sexual para encontros fortuitos, sem
compromissos afetivos.
Por sua vez, os africanos também desenvolvem olhares estigmatizantes em relação,
sobretudo, às mulheres negras brasileiras e à população composta por lésbicas, gays,
bissexuais e travestis (LGBT). No entanto, no âmbito da diáspora africana, tem-se, ainda
com menor expressão e visibilidade, trocas de olhares entre africanos(as) e brasileiros(as)
do mesmo sexo que, assumem distintas identidades como homossexuais, gays, e lésbicas,
em relações veladas, subterrâneas, não assumidas em público.
Torna-se necessário considerar o universo simbólico que circunscreve os negros no
imaginário brasileiro, pois, os olhares que discriminam e, ao mesmo tempo, sexualizam
negros e negras africanas têm raízes históricas no Brasil, remontando ao período da
escravidão, com ressignificações contemporâneas.
De fato, as relações afetivo-sexuais entre africanos(as) e brasileiros(as) são
dominadas por representações hipersexualizadas acerca do outro, no tocante às
performances, aptidão e tamanho dos órgãos sexuais, revelando desejo e fetiche sexual
acerca do homem africano, tido, no imaginário social, como bom de cama, insaciável, com
performances sexuais acima da média e sempre disponível para satisfazer fantasias de
mulheres e homens cearenses. Já no interior da diáspora africana, o Brasil é visto como
um lugar exótico, país do carnaval e da sexualidade liberada, caracterizado pela
diversidade sexual e de gênero.
17
Durante os momentos de interação, há esforço de africanos e de brasileiros para
encarnar estereótipos existentes acerca da sexualidade do outro, dominados por
curiosidade e interesses mútuos onde a raça é peça fundamental da diferença cultural.
Nesse tipo de busca, e aproximações, a iniciativa pode partir tanto de africanos, assim
como de brasileiros. Tais encontros articulam gênero, raça, etnicidade e são mediados por
sexo, afetos, presentes e dinheiro (PISCITELLI et al., 2011).14
É fato inconteste que raça, sexo, formas corporais e cabelos apresentam-se como
fatores de atração, existindo preferência de africanos por mulheres brasileiras corpulentas,
de pernas grossas, de pele mais clara e, particularmente, por mulheres louras. Nesse
mercado sexual, africanos têm preferência por mulheres brasileiras brancas em detrimento
das brasileiras negras e das mulheres africanas. Em seu habitus, os estudantes tendem a
gostar de “mulheres cheinhas”, com carne, com seios e bundas avantajadas, tal é tipo ideal
de mulher gostosa, propalada pelos africanos.
Já entre mulheres brasileiras, existe a atração por africanos de pele mais escura,
pelos mais altos e de corpo atlético. Normalmente, as brasileiras que se interessam pelos
estudantes africanos são mulheres brancas mais velhas, coroas,15
mas também moças
das classes populares, mulheres gordas, ou que não se enquadram no ideal estético e de
beleza imposto pela sociedade do capital e sua lógica de mercantilização e do
consumismo. Algumas dessas mulheres possuem uma renda mediana ou alta, poder de
compra e de consumo, carro, casa própria, carreira profissional, condições que, muitas
vezes, atraem os caça-brasileiras,16
jovens estudantes imigrantes africanos que somente
se relacionam afetiva e sexualmente com mulheres brasileiras.
Tais preferências afetivo-sexuais, fundadas em determinados atributos tidos como
desejáveis e atraentes – raça, origem, cor do cabelo, formato do corpo, classe, posição
social, renda e outras formas de afirmação e diferenciação – encarnam múltiplas
expressões discriminatórias, configurando aquilo que Crenshaw (2002) e Piscitelli (2008)
designam de “discriminação interseccional ou interseccionalidade”.
14
Em seu trabalho, Piscitelli (2011) interessa-se, particularmente, pelas interações afetivo-sexuais entre
imigrantes do sexo masculino de países pobres com mulheres, gays e travestis de outros mais
desenvolvidos, que envolvem estereótipos, relações de dominação, casamentos binacionais etc.
15
Categoria nativa brasileira com que são designados homens e mulheres mais velhos. Tal termo é
ressignificado pelos imigrantes africanos que, passam a chamar de coroas não somente mulheres mais
velhas, mas também mulheres que não se enquadram no ideal estético feminino vigente no Brasil. Assim, o
uso do termo é ampliado às mulheres gordas e outras não muito bonitas.
16
Termo inspirado em Cantalice (2009), na sua análise acerca das interações afetivo-sexuais entre jovens
brasileiros e turistas do sexo feminino de países nórdico-europeus.
18
Crenshaw (2002) argumenta que as discriminações de raça, etnia, gênero, classe,
renda, não são mutuamente excludentes, e assim, muitas vezes se sobrepõem e se
intersectam, criando complexas conexões onde se juntam dois, três ou mais elementos.
Assim, a autora propõe a noção de discriminação interseccional como uma ferramenta
capaz de circunscrever hibridizações nos processos discriminatórios. Tomando como
exemplo a discriminação racial, a autora norte-americana aponta que, em determinados
contextos, esse fenômeno se apresenta de maneira específica e diferenciada para os
indivíduos, atingindo, de formas distintas, homens e mulheres.
Já Piscitelli (2008) propõe a interseccionalidade como categoria analítica para
apreender a articulação de múltiplas formas de diferenças e desigualdades, esclarecendo
que em muitas situações, não se trata somente de discriminação racial, étnica, sexual, de
gênero ou de classe em esferas separadas, mas, sim, da diferença em seu sentido amplo
a articular múltiplas expressões de discriminação. Tal noção se baseia na premissa de que
as pessoas têm identidades múltiplas, derivadas das relações sociais, históricas e
estruturas de poder, experimentando de forma diferente as várias formas de dominação e
discriminação nas suas trajetórias.
Cumpre salientar que as interações entre jovens africanos e mulheres brasileiras
também ocorrem em meio a tensões e choques culturais e, alguns africanos sentem-se
usados em relacionamentos permeados de poder e de dominação (BOURDIEU, 2002).
Nessas relações, as mulheres brasileiras bancam quase tudo, ou seja, pagam as contas
no cotidiano, em supermercados, lojas, restaurantes, aluguel de apartamentos,
mensalidades das faculdades e outras formas de ajuda. E, o fato de mulheres brasileiras
não assumirem, publicamente, o relacionamento afetivo com africanos, o caráter
descartável das relações, o ficar – relações fugazes e fluídas que podem durar de algumas
horas a uma semana, ou um mês no máximo, são outras situações que representam
violência simbólica17
que atingem homens africanos na sua autoestima, ao mesmo tempo
que viabilizam melhores condições de vivência na diáspora.
Nesse padrão de interação, são as brasileiras quem mandam e ditam os momentos,
as circunstâncias e os lugares em que estas relações podem ocorrer. Nesses processos,
17
De acordo com Bourdieu (2002), a violência simbólica se institui por intermédio da adesão que o dominado
não pode deixar de conceder ao dominante quando ele dispõe – para pensar e para se pensar, ou para
pensar a sua relação com ele- mais do que instrumentos de conhecimento que ambos têm em comum e que,
não sendo mais que a forma incorporada da relação de dominação, faz esta relação ser vista como natural.
Assim, as classificações são incorporadas e naturalizadas, como por exemplo, alto/baixo,
masculino/feminino, negro/branco.
19
os homens africanos terminam por experienciar posições inversas que as assumidas no
contexto das suas terras de origem, perpassadas de configurações machistas, de
dominância e mando.
Fanon (1983) argumenta que os relacionamentos interaciais entre negros e brancos
revelam uma antiga política adotada de forma consciente ou não de embranquecimento da
raça negra – uma tentativa de salvar/melhorar a linhagem familiar, de modo a assegurar a
brancura das gerações seguintes. Na sua ótica, a prática do embranquecimento da raça
reflete a valorização da raça branca e ao mesmo tempo o complexo de inferioridade de
homens e mulheres negros(as). Tais relações revelariam relações de poder e de
dominação existentes entre brancos e negros ao longo da história humana, criados
primeiro na esfera econômica e social e, depois interiorizados pelos indivíduos. 18
O autor
mostra-se crítico em relação aos casamentos interaciais, considerando-os reveladores da
prática de embranquecimento da raça, adotada pelos negros diante do mundo branco
como estratégia de ascensão social e de melhoria de sua raça e de futuras gerações.
De fato, em muitas sociedades coloniais, ter filhos mestiços ou brancos permite a
determinadas famílias uma melhoria na posição social, assim como o acesso a lugares
econômicos e políticos de prestígio, que normalmente são de difícil acesso para os mais
escuros, assim como evita os constrangimentos da discriminação racial.
18
Fanon (1983) desenvolve uma análise da subjetividade de gênero e de raça em sociedades coloniais na
década de 1950, privilegiando a diferença sexual para compreender a dimensão psíquica do racismo. Para
tal, apresenta um esquema geral relativo a sociedades coloniais, mas que ele considera ser válido para todos
os países, no qual, o homem branco é representado como senhor ou como macho que, pode se relacionar
com muitas mulheres negras, muitas vezes, pelo estupro. O autor conclui que, mesmo havendo segregação
entre brancos e negros em várias sociedades coloniais, verificava-se a existência de uma grande quantidade
de indivíduos mestiços. Nessas sociedades, quando uma mulher branca se envolvia com um homem negro,
a relação toma um aspecto romântico, considerado uma dádiva e não um estupro. Nas sociedades coloniais
haveria uma tendência para aceitação de relacionamentos afetivos entre homens brancos e mulheres
negras, mas ao mesmo tempo, uma recusa de relacionamentos afetivo-sexuais entre homens negros e
mulheres brancas ou mulatas.
20
Conclusões preliminares
Este trabalho representa uma tentativa de compreender o cotidiano da vida de
jovens africanos e africanas residentes em Fortaleza, a partir do gênero, educação, classe,
renda, raça, sexualidade e outras categorias interseccionais. Parti da noção de diáspora
como unidade analítica e explicativa da trajetória desses sujeitos imigrantes, a partir das
visões de autores como Gilroy, Hall, autores que apresentam uma visão rizomática e
antiessencialista acerca da diáspora, explorando a heterogeneidade das construções
identitárias e seus hibridismos.
A diáspora africana em Fortaleza demonstra ser um fenômeno suis generis,
constituída por indivíduos de diferentes países, diversidade etnolinguística, cultural e
nacional, com gênese em acordos de cooperação na área de educação. Ela emerge em
determinado contexto histórico das relações político-econômicas entre Brasil e África,
intensificada por um discurso governamental de cooperação e aproximação entre países
irmãos – que falam a mesma língua e apresentam culturas próximas frutos da escravidão.
Tal diáspora tem gerado grupos e movimentos estudantis africanos, envolvidos em
processos de mobilização para a conquista e defesa de seus direitos. Suas grandes
características são a distinção e a hierarquização, pois, à medida que o número de
indivíduos aumenta a diáspora complexifica-se, abrindo espaços para diferenciações
segundo a nacionalidade, grau de riqueza do país, classe social, gênero, religião, status e
origem familiar, mas também pelo consumo de roupas, calçados, aparelhos celulares, etc.
Diante da alteridade, as mulheres imigrantes ressignificam suas identidades,
afirmando-se negras, heterossexuais, estudantes, trabalhadores e cristãs, vivenciando
dramas sociais distintos daqueles vivenciados pelos homens – uma menor inserção e
adaptação e o preterimento no mercado afetivo. Mesmo assim, elas apresentam suas
estratégias e táticas, interagindo afetivamente com brasileiros e africanos independente da
raça, mas de acordo com a nacionalidade e classe social e, em nítidas relações de
submissão a envolver dependência econômica. Já entre os homens africanos, percebe-se
uma preferência por mulheres brancas, mas também ocupando uma posição inferior, de
subalternidade e secundária em termos de preferências afetivas, vivenciando uma inversão
de posições inversas das relações de poder e mando assumidas em suas sociedades de
origem. Tornando-se objeto de desejo para encontros fortuitos, para ficar. Neste cenário,
raça, sexo, formas corporais, cabelos, mas também classe e renda apresentam-se fatores
de atração e de rejeição na diáspora, onde os sujeitos ocupam posições mutáveis.
21
Referências
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peias. Trad. Telma Costa. Lisboa: Teorema, 2004.
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Sexualidade e identidade de imigrantes africanos em Fortaleza

  • 1. 1 XVI Congresso Brasileiro de Sociologia 10 a 13 de Setembro de 2013, Salvador (BA) Grupo de Trabalho 26: Sexualidades, corporalidades e transgressões Título: Africanos e Africanas em Fortaleza: sexualidade, gênero, raça e outras interseccionalidades de sujeitos imigrantes Autor: Ercílio Neves Brandão Langa1 1 Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará. E-mail: ercilio.langa@gmail.com.
  • 2. 2 Resumo: Neste artigo analiso sexualidade, gênero, raça e suas interseccionalidades entre imigrantes africanos(as) residentes em Fortaleza. Pertencentes a diversos grupos etnolinguísticos, tais sujeitos apresentam identidades multiculturais e distinções de várias ordens a marcar suas vidas no Ceará, constituindo uma diáspora. Nesse cenário, os africanos não estão inteirados dos limites sociais de raça e classe existentes, rompendo fronteiras estabelecidas, verificando-se preferência afetiva de homens africanos por mulheres brasileiras brancas. Partindo dos conceitos de diáspora de Gilroy (2001) e de interseccionalidade de Crenshaw (2002), analiso as sexualidades entre africanos e africanas, entre africanos(as) e brasileiras(os) e, as ressignificações sexuais ocorridas no contexto migratório. Nas interações afetivas, africanos(as) na condição de negros(as) são colocados em posição inferior e de subalternidade, ocupando lugar secundarizado para relacionamentos estáveis. Ao mesmo tempo, são objeto de desejo sexual para encontros fortuitos sem compromissos afetivos. Para compreensão do fenómeno avanço como questões: o que a experiência de imigração produz nas identidades sexuais dos imigrantes africanos? Como pensar sociabilidades afetivas entre africanos e brasileiros num contexto marcado pela discriminação racial? Adentrando esse universo, utilizo como via metodológica a observação etnográfica, entrevistas abertas e conversas informais, com registro sistemático no caderno de campo. Palavras-chave: Imigrantes africanos. Sexualidade. Identidade. Raça. Interseccionalidade. Introdução: o contexto histórico-político da emergência da diáspora africana em Fortaleza nas relações entre Brasil e África A vinda de estudantes africanos no estado do Ceará, na condição de imigrantes, teve início na segunda metade da década de 1990, com o primeiro grupo oriundo de Angola.2 Nesse período, vinham somente estudantes de países africanos de língua oficial portuguesa para integrar-se na Universidade Federal do Ceará (UFC), através do Programa de Estudantes Convênio – de Graduação (PEC-G).3 Entretanto, a partir de 1998, inicia-se a imigração de estudantes bissau-guineenses e cabo-verdianos e, dois anos depois, estudantes são-tomenses, angolanos e moçambicanos. No início dos anos 2000, há um aumento significativo do número de estudantes africanos residentes no Ceará, cuja maioria vem estudar em faculdades particulares, com contratos firmados em seus países de origem, a partir de publicidade e vestibulares realizados em Guiné-Bissau. O aumento da imigração de estudantes africanos para o Brasil, no início do século 2 Informação verbal fornecida pelo presidente da Associação de Estudantes Africanos no Estado do Ceará (AEAC), estudante africano residente no Ceará há mais de uma década. 3 Programa de Estudantes Convênio – de Graduação, administrado de forma conjunta pelo Ministério das Relações Exteriores e pelo Ministério da Educação, fazendo parte dele 45 países, com 32 países efetivos que enviam estudantes de África, da América Latina e de Timor-Leste. O continente africano apresenta o maior contingente de alunos, com 20 países que enviam estudantes todos os anos. Em 2010, haviam ingressado nas universidades federais e estaduais brasileiras, 383 estudantes africanos, em sua maioria, oriundos de Guiné-Bissau, Cabo-Verde e Angola.
  • 3. 3 XXI é também impulsionado pelo discurso governamental do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua política de cooperação e aproximação com a África.4 Tal política de cooperação, em curso, visa particularmente atingir o ensino superior, através de criação de distintos mecanismos, como estágios profissionais, bolsas de estudo e convênios, no sentido de viabilizar a vinda de africanos para estudar no Brasil. No contexto de diferentes estratégias mobilizadoras, estudantes africanos saem de seus respectivos países com expectativas acadêmicas em relação ao Brasil, devido ao maior nível de desenvolvimento econômico, tecnológico e de produção acadêmica, alimentando esperanças de facilidade de inserção por conta de uma língua e culturas em comum – a língua portuguesa, a culinária, a religiosidade e a cultura negra trazida pelos escravos a permear a vida brasileira. Conforme afirma Mourão (2009), nos anos 2000, os estudantes africanos participantes do convênio com universidades públicas brasileiras se autodenominavam “comunidade africana em Fortaleza”, que incluía, somente, jovens de nacionalidades cabo- verdiana e bissau-guineense, então unidos e voltados para questões comuns, como adaptação e resolução de problemas cotidianos. A autora argumenta que, mesmo assim, essa união na diáspora não dissipou as diferenças históricas de classe, renda, prestígio e grau de escolaridade entre os cidadãos oriundos dos dois países. Ao longo dos anos, o número de estudantes africanos imigrantes cresceu, constituindo um contingente de imigrantes a tornar-se complexo em sua diversidade. Atualmente, verifica-se um crescente segmento de estudantes de países, classes sociais e credos religiosos distintos, oriundos não apenas de países lusófonos, mas também de países de expressão inglesa e francesa, como é o caso da Nigéria e da República Democrática do Congo. Tal imigração tem gerado grupos e movimentos, a congregar estudantes africanos em um processo de mobilização e organização em diversas agremiações estudantis, cabendo destacar: a Associação de Estudantes Africanos no Estado do Ceará – AEAC, a Associação de Estudantes da Guiné-Bissau no Estado do Ceará – AEGBECE, a Fundação de Estudantes Cabo-verdianos nas Faculdades do Nordeste – FEAF e, o Movimento Pastoral de Estudantes Africanos – MPEA. Este último movimento, hoje, revela-se com maior articulação e visibilidade, destacando-se em ações de promoção e defesa dos 4 Ao longo dos oito anos do governo Lula, de 2003 a 2010, o intercâmbio estudantil entre o Brasil e países africanos foi intensificado. Em seus dois mandatos, o presidente Lula visitou 27 países africanos, enquanto seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, visitou apenas três países.
  • 4. 4 direitos dos estudantes africanos e denunciando as situações por que passam esses sujeitos, por meio de reuniões entre estudantes e faculdades, elaboração de relatórios, encaminhamento de processos na justiça e realização de manifestações públicas. Na condição de estudante africano integrante dessa diáspora, sinto-me interpelado a estudar esse fenômeno, problematizando-o como objeto de estudo. Neste artigo, procuro compreender as questões de sexualidade, gênero, raça e suas interseccionalidades entre imigrantes africanos e africanas na cidade de acolhida. Nesse sentido, primeiro fiz uma contextualização da emergência da diáspora africana nas relações entre Brasil e África. Em seguida, problematizo a noção de diáspora como uma chave teórica e analítica para compreender a presença desses sujeitos. Em terceiro, apresento reflexões sobre o encontro com a alteridade racial e cultural assim como sobre as distinções entre os imigrantes. Depois discuto a questão da raça no contexto migratório e o lugar dos imigrantes na cidade de Fortaleza. Em quinto, faço uma reflexão sobre a condição das mulheres africanas, a questão do gênero, trabalho e afetividades. E, por fim, abordo acerca das interações afetivo-sexuais entre os(as) imigrantes e homens e mulheres brasileiros(as). A diáspora africana em Fortaleza: considerações teóricas Denomino “diáspora africana” à crescente presença de estudantes oriundos de diversos países africanos – Angola, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Nigéria, República Democrática do Congo e São-Tomé e Príncipe – em Fortaleza. Pertencentes a diversos grupos etnolinguísticos, tais sujeitos apresentam identidades multiculturais e distinções de várias ordens a marcar as suas vidas em território cearense. Tal diáspora é constituída majoritariamente por indivíduos do sexo masculino, predominantemente bissau- guineenses e cabo-verdianos, com um contingente cada vez maior de mulheres. A noção de diáspora, que movimento nesta pesquisa, é inspirado nos escritos de autores dos estudos pós-coloniais, como Du Bois, Gilroy e Hall. Na sua acepção original, o termo se reporta à dispersão do povo judeu pelo mundo. Entretanto, a utilização desse termo se referindo às populações afrodescendentes é cunhada por Du Bois (2007), inspirado na condição de populações negras em distintas regiões no continente americano, que vivenciavam condições comuns de subalternidade e opressão, racializadas e discriminadas por conta de seu passado escravo e tinham como principal característica em comum, a experiência do sofrimento causado pela escravidão racial na modernidade.
  • 5. 5 Já Hall (2011) utiliza a noção de diáspora para se referir às identidades heterogêneas dos imigrantes oriundos da região do Caribe na Grã-Bretanha, seus mitos de origem, as necessidades e os perigos que enfrentam sob a globalização. O autor faz uma crítica às concepções essencialistas étnicas, raciais e nacionais da identidade acerca da cultura e da política de localização, resgatando o conceito de identificação como um processo de articulação e costura nunca completa, engendrada pelos sujeitos diaspóricos. O conceito de identidade desenvolvido por ele apresenta-se como estratégico e posicional. Seu argumento principal é de que na modernidade tardia, as identidades são cada vez mais fragmentadas e fraturadas, multiplamente construídas ao longo dos discursos, práticas e posições que podem ser cruzar ou ser antagônicas (HALL, 2010). Na sua ótica, o que caracteriza as populações diaspóricas é a condição de hibridismo. O autor vincula as discussões sobre identidade aos processos e práticas que têm perturbado o caráter estabelecido de muitas populações e culturas nacionais, se referindo aos processos de globalização, modernidade, migração forçada ou livre, fenômenos esses que têm se tornados globais. Assim, afirma a perspectiva de que as identidades e as identificações constituem processos sempre em construção, a partir das negociações que os indivíduos efetivam ao longo de suas trajetórias. Logo, em Hall, as identidades apresentam-se como processos em aberto, em movimento, que expressam diferentes contextos sociais e trajetórias peculiares de cada indivíduo, [...] “elas invocam uma origem que residiria num passado histórico, têm a ver com a utilização de recursos da história, da linguagem e da cultura para a produção não daquilo que somos, mas daquilo no qual nos tornamos” (HALL, 2010: 108-109). Gilroy (2001) estuda a diáspora constituída pelas populações afrodescendentes nos territórios que constituem o Reino Unido e EUA, optando pela designação Atlântico Negro. O autor apresenta uma noção de diáspora distinta como negociação de rotas, uma alternativa ao retorno às raízes, à metafísica da raça, da nação e de uma cultura territorial fechada, codificada no corpo, perturbando a mecânica do pertencimento. Esta versão da diáspora é distinta porque ela enxerga a relação como algo mais do que uma via de mão única. Ela nunca ofereceu apenas resposta aos interesses, tanto acadêmicos como políticos, que tentaram negar as sobrevivências africanas, seus contágios e as influencias da escravidão para além dela. Esta abordagem das relações diaspóricas surge depois que a lógica cultural da combinação, do tangenciamento e as suplementaridade foi estabelecida [...] (GILROY, 2001:21).
  • 6. 6 Seu conceito de diáspora supera as definições essencialistas, até então usadas para caracterizar as populações negras deslocadas de seus territórios de origem, baseadas na raça negra e raízes cultuais no continente africano como território de origem. Sua visão inovadora aponta para a diáspora em termos de negociação de rotas, de intercâmbios entre culturas políticas que tomam lugar dentro de um contexto baseado na memória social e como consciência e identidades ativamente produzidas pela experiência daquilo que ele designa de terror racial – escravidão racial, sistema de plantação, colonialismo, segregação – das populações negras e afrodescendentes. Ao invés de uma visão de diáspora unificada partindo de África e suas raízes, Gilroy (2011) propõe uma visão rizomática, encarando as comunidades negras conectadas em distintos lugares a partir de uma memória social do terror racial. Assim, propõe a noção de diáspora como alternativa ao conceito de raça, rompendo com o território, com o lugar de origem, com a posição e com a consciência como fatores explicativos. De fato, as noções de diásporas anteriores à sua obra situavam-na como algo referente ao passado, como fenômeno racial, econômico-demográfico e como raiz cultural. Gilroy (2011) e Hall (2001) pensam a diáspora para além dos essencialismos, encarando como fruto da hibridização racial e cultural. Esses autores têm em comum, o fato de pensarem as populações afrodescendentes espalhadas pelo mundo como uma realidade racial e cultural criada pela memória social da escravidão, na qual, o hibridismo seria a sua principal característica. Por sua vez, Gordon & Anderson (1999) fazem uma análise dos modelos teóricos desenvolvidos entorno do conceito de diáspora, concluindo que tais perspectivas concentram-se em aspectos essencialistas comuns a várias populações afrodescentes ou, direcionam seus focos na diáspora como condição de hibridização caracterizada pelo deslocamento e identidades dispersas. Os dois autores recomendam a realização de estudos de caráter etnográfico para uma melhor compreensão dos processos de identificação diaspóricos e uma mudança de foco das pesquisas, passando-se a analisar os processos através dos quais, as pessoas se identificam diante do outro enquanto negros ou afrodescendentes. Olhando o cenário migratório em estudo, percebo que a diáspora africana em Fortaleza apresenta-se distinta das óticas dos autores acima mencionados, pois, ela resulta de um processo suis generis de migração voluntária de indivíduos nos finais do século XX, em busca de melhores condições de estudos e de vida.
  • 7. 7 Africanos em Fortaleza: do encontro com a alteridade racial e cultural à política de distinções No contexto migratório de Fortaleza, os estudantes imigrantes africanos enfrentam desafios cotidianos, particularmente, dificuldades econômicas de sobrevivência considerando o elevado custo de vida nesta metrópole, em relação às suas possibilidades financeiras. Parte significativa do contingente de estudantes afirma sentir-se discriminada no cotidiano, por conta da cor da pele e da própria origem africana, em graus e formas distintas das discriminações encontradas nos países de origem. Nas suas reflexões, Gusmão (2006) circunscreve a própria posição do Brasil ao receber a diáspora africana: Um país multirracial e integrante dos chamados “países emergentes”, mas que se diferencia dos países europeus, até muito recentemente privilegiados na busca por qualificação de quadros por parte dos Palop. Em questão, a posição de um país relativamente periférico na divisão internacional do trabalho, com um passado igualmente de colonização portuguesa e que, estruturalmente mestiço e negro, pensa-se branco e europeu. Em debate, a existência de processos intensos de discriminação e racismo na realidade brasileira e a percepção e a vivência do sujeito negro e africano nesse contexto (GUSMÃO, 2006:16). Os estudantes imigrantes africanos integrados às universidades federal e estadual, que constituem a minoria e, sobrevivem das bolsas do PEC-G e de outros convênios firmados entre o Brasil e seus países de origem. Já o segmento maior que estuda em faculdades particulares, recebe dinheiro das famílias para pagar mensalidades e manter-se na faculdade, complementando a sua renda por meio de trabalhos clandestinos – em lojas e mercadinhos, salões de beleza, oficinas, fábricas e construções, restaurantes ou mesmo, nos estacionamentos de grandes shoppings centers e supermercados, ou, ainda, em “casas de família” como babás – para assim, garantir a sobrevivência e a própria locomoção na cidade. Dentro deste grupo de estudantes imigrantes inseridos nas faculdades particulares, um segmento deles, particularmente mulheres jovens, nos tempos livres, dedica-se ao comércio de roupas e calçados entre Fortaleza, São Paulo e seus países de origem.5 Um grupo seleto de estudantes de faculdades particulares, com destaque para os cabo- 5 As rotas comerciais também incluem o trajeto Fortaleza, São Paulo, Lisboa. Durante a pesquisa etnográfica e convivência com este grupo, presenciei discussões telefônicas entre familiares e parceiros por conta de dívidas em dinheiro e compromissos não cumpridos na venda de roupas africanas. Por outro lado, também tenho notícia de africanos presos por tráfico internacional de drogas em aeroportos brasileiros e portugueses nesses trajetos.
  • 8. 8 verdianos, sobrevive e estuda de forma tranquila, graças ao dinheiro enviado por familiares residentes em África e por parentes imigrantes em países da Europa e América do Norte. As faculdades particulares, – como mecanismo de atração – dizem garantir estágios remunerados para estudantes ao final dos cursos de Administração, Contabilidade, Marketing, Comunicação, Ciências e Gestão de Informação. Na realidade, são oferecidos aos estudantes africanos, “estágios remunerados” que são formas de trabalho precário como panfleteiros, vigias de lojas nos shoppings centers e em estacionamentos ou como operadores de vigilância eletrônica, em um artifício usado para contornar a norma que os proíbe de trabalhar. No cotidiano, os estudantes africanos percebem a dificuldade dos brasileiros em chamá-los pelos nomes próprios, substituindo-os pela categoria nativa brasileira “negão” e facilmente esquecem as nacionalidades e os nomes dos países de origem, diluindo tudo na categoria genérica de africano. Mendes (2010:98) enfatiza que, “os estudantes africanos não estão inteirados dos limites sociais tradicionalmente construídos pelos brancos para segregar os negros. Não estão informados desses espaços de exclusão, eles rompem as fronteiras estabelecidas e transitam em espaços brancos”. Os estudantes imigrantes africanos, nos percursos cotidianos em Fortaleza, percebem a distância social dos brasileiros negros que, muitas vezes, acreditam que os africanos são playboys, sujeitos ricos oriundos das elites políticas africanas, ou então são indivíduos que vêm ao Brasil ocupar os lugares que, por direito, seriam seus. Existe ainda entre os brasileiros negros a representação de que os africanos são cotistas, isto é, estudantes beneficiários das cotas raciais no ensino superior no Brasil. A rigor, as formas de interação dos estudantes africanos com a população cearense, no cotidiano, tende a expressar mecanismos de discriminação, colocando-os na posição de outsiders. Contrariamente às percepções e representações da sociedade de acolhida que os unifica, encarando-os como sujeitos homogêneos e oriundos de uma África – idealizada no imaginário social brasileiro–, estudantes africanos(as) não se sentem iguais. Sentem-se diferentes uns em relação aos outros na condição de imigrantes de diferentes países africanos e, até mesmo, quando pertencem a regiões distintas de um mesmo país, manifestam “estranhamento” uns em relação aos outros. Na realidade, os imigrantes distinguem-se entre si no tocante à nacionalidade, gênero, classe, renda, status, origem familiar e, principalmente pelo consumo de roupas, calçados, aparelhos celulares, demonstrando a existência de distinções e hierarquizações
  • 9. 9 sociais (BOURDIEU, 2008).6 Assim, no cotidiano da diáspora africana emergem distinções sociais e diferenças identitárias entre os próprios estudantes que se distinguem, segundo o sexo, a cultura, a religião – se é islâmica, evangélica ou católica –, conforme o país de origem e seu nível de riqueza – rico ou pobre –, conforme a região de origem – se é rural ou urbana –, de acordo com a classe social, nível de renda familiar e prestígio social. E, também se diferenciam conforme o nível acadêmico e tipo de instituição de ensino que frequentam – se é pública ou particular, se é federal ou estadual –, de acordo com as marcas de roupa que vestem, com o estilo de vestir e música que escutam – se é ocidental, africana ou brasileira – e, até mesmo com o tipo e marca de bebida que consomem. De fato, pesquisas com estudantes africanos em países europeus e no Brasil mostram que, mesmo sendo tratados como homogêneos pelos países de acolhida e de habitarem os mesmo espaços e “[...] serem em tudo semelhantes, pela mistura racial, pobreza, muitas vezes, eles não se veem como iguais, se estranham e se odeiam mutuamente” (GUSMÃO, 2006:11). Após certo período de convivência em Fortaleza, em contato com novas realidades culturais, religiosas, de gênero e de sexualidade, os estudantes africanos vão se adaptando, se aculturando, mas, ao mesmo tempo, esboçam formas de resistência aos novos valores. O contexto migratório e o lugar dos estudantes imigrantes africanos em Fortaleza As profundas transformações mundiais na modernidade, aceleradas pelos processos de globalização e mundialização do capital, o capitalismo informacional, as mudanças nas conexões entre tempo e espaço, trocas transnacionais, aceleração dos deslocamentos mundiais, fluxos de imigrantes vendo mudando as paisagens urbanas das grandes metrópoles. Como consequência, os modelos de análise tradicionais utilizados pelas ciências sociais não mais dão conta das transformações político-econômicas, espaciais, culturais e identitárias vivenciadas nas grandes metrópoles, particularmente, quando contam com a presença de grupos imigrantes. Appadurai (2004) aponta que os meios de comunicação eletrônicos e as migrações são a marca do mundo presente, no qual, as imagens, os textos, os modelos e as 6 De acordo com Bourdieu (2008), a distinção corresponde a uma estratégia de diferenciação que está no âmago da vida social. É uma propriedade relacional que marca um desvio, uma diferença em relação a outrem e que funda uma hierarquia entre indivíduos e grupos, constituindo o suporte de estratégias inscritas nas práticas sociais.
  • 10. 10 narrativas que chegam pelos meios de comunicação de massa marcam a diferença entre as migrações do passado e as atuais. No caso da imigração de estudantes africanos para o Brasil, é necessário lembrar que aliada aos convênios educacionais, a televisão e as mídias eletrônicas desempenham papel importante na transmissão de imagens. As telenovelas brasileiras que, há mais de duas décadas invadem os lares em países africanos de língua portuguesa desempenham papel de destaque neste processo de tradução cultural. 7 Mais recentemente, a presença de igrejas evangélicas brasileiras nesses países tornou ainda mais favorável, a ideia de Brasil no imaginário social africano. Por outro lado, as mídias e redes sociais como Yahoo, Orkut, Facebook, vêm desempenhando papel de intermediário nesta interação global desigual, por meio de notícias, publicidade, fotografias, contas, perfis, fan pages e profiles. É nesse contexto de emergência de diversos fenômenos transnacionais que imigrantes africanos passam a circular nas ruas e, emergem como estudantes nas universidades públicas e faculdades particulares, colorindo com suas roupas, cabelos e tons de pele a etnopaisagem 8 de Fortaleza. Para sobreviver, pagar contas, mensalidades das faculdades e se locomover, trabalham como garçons e garçonetes em restaurantes e clubes noturnos, particularmente, na zona litoral e em restaurantes localizados em zonas privilegiadas da cidade, cujos donos são gringos europeus. 9 Desempenhando as mesmas funções ou como seguranças em restaurantes, churrascarias, supermercados, shoppings centers de brasileiros, mas também empregados em lojas de comerciantes coreanos e chineses no centro da cidade como atendentes, vendedores, e por fim como mecânicos, soldadores, eletricistas em pequenas oficinas de brasileiros. Memmi (2007) bem descreve a aparição de sujeitos imigrantes em metrópoles coloniais: Em suma, o metropolitano aceitaria o imigrante se ele fosse invisível e mudo; ora, a partir de certa densidade demográfica, o fantasma adquire uma terrível consistência; ainda mais pelo fato de que, mais seguro por causa do número, ousa, ao contrário, falar alto, e em sua língua natal, a às vezes vestir-se com seu traje tradicional. (MEMMI, 2007:108). 7 De acordo com Spivak (2010) apud Costa (2012) a noção de tradução cultural – esboçada a partir da teoria e práticas etnográficas e, posteriormente explorada pelas teorias pós-coloniais – baseia-se na visão de que qualquer processo de descrição, interpretação e disseminação de ideias e visões de mundo está sempre preso a relações de poder e assimetrias entre linguagens, regiões e povos. 8 Expressão utilizada por Appadurai (2004) para designar paisagens de pessoas que constituem o mundo em deslocamento que habitamos: turistas, imigrantes, refugiados, exilados, trabalhadores convidados e outros grupos e indivíduos em movimento, que constituem um aspecto essencial do mundo e parecem afetar a política das nações e entre as nações sem precedentes. 9 Expressão nativa brasileira usada para designar o turista estrangeiro de raça branca, normalmente, europeu e norte-americano.
  • 11. 11 Em 2011, a Polícia Federal do Ceará registrou mil, duzentos e sessenta estudantes africanos no estado, dos quais mil cursavam diversas faculdades particulares, cento e trinta estavam integrados na Universidade Federal do Ceará e vinte na Universidade Estadual do Ceará, sendo a maioria proveniente dos países africanos de língua oficial portuguesa (BRÁS, 2011). De fato, o número de imigrantes se apresenta muito maior do que o cadastrado pela Polícia Federal, pois muitos estudantes imigrantes se encontram em situação irregular. Geralmente, no ano seguinte de estada em Fortaleza, um número significativo dos imigrantes não consegue prorrogar o visto de estudante com o qual entrou no Brasil e, parte dos estudantes africanos chega a Fortaleza vindo de outros estados brasileiros. Uma parcela significativa de estudantes, a maioria, vinculada às faculdades particulares, vivenciam condições precárias de vida. Neste esforço de apropriar-me dos percursos da diáspora africana em Fortaleza, entendo, particularmente, ser fundamental compreender as experiências de deslocamentos das mulheres africanas e suas vivências em Fortaleza, a partir do estudo de suas identificações, construções identitárias, inserções e interações. Nas linhas seguintes, abordos as experiências, os dramas sociais e as interseccionalidades dessas mulheres. Neste cenário, impõem-se várias questões analíticas: que mudanças a experiência de migração produz nas identidades destas jovens mulheres? Como pensar suas inserções em uma sociedade racializada? Quais os seus lugares na estrutura social e como se dá a inserção social dessas mulheres na sociedade de acolhida? Ser mulher, negra, imigrante e africana em Fortaleza: escola, trabalho, gênero, raça, afetividade e suas interseccionalidades As mulheres constituem minoria entre os estudantes imigrantes africanos. Tal situação parece refletir a existência de sistemas patriarcais e desigualdades de gênero em suas sociedades de origem, nas quais, as famílias preferem investir na educação dos filhos do sexo masculino em detrimento das meninas, por questões de herança e continuidade da linhagem. De fato, em muitas sociedades africanas, o acesso à educação, emprego ainda não está universalizado, particularmente, aquelas com populações islamizadas, onde esses direitos tornam-se ainda mais restritos para as mulheres. Entretanto, faz-se necessário esclarecer que neste trabalho, ocupo-me de mulheres africanas imigrantes não como vítimas, mas como protagonistas. Penso nessas mulheres
  • 12. 12 como personagens com capacidade de ação nas tramas do cenário migratório, e de encontrar soluções próprias para o seu dia-a-dia. De fato, alguns estudos sobre populações diaspóricas e imigrantes apresentam as mulheres como vítimas, oprimidas, sem capacidade de agência. Na cidade de Fortaleza, mulheres e homens imigrantes de distintos países africanos têm revelado capacidade de adaptação, se locomovendo pela cidade e levando consigo a cultura, identidade e estruturas de seus países de origem. No seu estudo, Gilroy (2001) chama atenção para as discussões sobre o lugar do gênero na diáspora e como o corpo das mulheres entraram nos discursos nacionais e tornaram-se lócus da produção das diferenças étnicas e da continuidade das linhagens. Em Fortaleza, a maioria das mulheres africanas está em cursos de graduação em faculdades privadas, poucas conseguem “furar a peneira” e cursar pós-graduação. Além da desigualdade econômica, no acesso à educação, de gênero e de classe, as mulheres africanas sofrem também com o racismo nas ruas, instituições de ensino e nos locais de trabalho, ainda que nem sempre, explicitamente, reconhecido como forma de opressão. Elas desempenham papéis importantes e ocupam lugares distintos na reprodução física e cultural da diáspora. As diferenças de gênero se tornam extremamente importantes nesta operação anti- política, porque elas são o signo mais proeminente da irresistível hierarquia natural que deve ser restabelecida no centro da vida diária. As forças nada sagradas da biopolítica nacionalista interferem nos corpos das mulheres, encarregada da reprodução da diferença étnica absoluta e da continuação de linhagens de sangue específicas. A integridade da raça ou da nação, portanto emerge como a integridade da masculinidade. Na verdade, ela só pode ser uma nação coesa se a versão de hierarquia de gênero for instituída e reproduzida. (GILROY, 2001:18-19). Diante da alteridade, das distintas formas de discriminação e de inclusão, ocorrem processos de interpelação racial e de ressignificação identitária (Sahlins, 1990) 10 , nos quais, as africanas passam a assumir-se como mulheres negras, heterossexuais, estudantes e trabalhadoras e pertencentes às diferentes igrejas cristãs. Tais ressignificações identitárias são fruto do encontro com a diversidade racial, sexual, de gênero e de classe no Brasil. As dificuldades e distintas formas de discriminação enfrentadas pelas imigrantes 10 Sahlins (1990) usa a noção de ressignificação em referência aos novos sentidos atribuídos pelos indivíduos às suas ações. Na sua ótica, dependendo do contexto vivido, historicamente situado, pode haver mudanças na relação de posições entre as categorias culturais dos indivíduos.
  • 13. 13 africanas, suas interpelações raciais e ressignificações identitárias assemelham-se aquilo que Turner (2005) define como dramas sociais 11 , ou seja, dificuldades de se recriar universos sociais e simbólicos no mundo contemporâneo, onde os indivíduos se veem sozinhos e abandonados diante da responsabilidade de darem sentido à sua vida. De acordo com o autor, o drama social seria uma experiência vivida que remete à noção de perigo, propiciando aos indivíduos acesso ao universo social e simbólico, que opõe o cotidiano ao extraordinário. Os estágios remunerados – que, na realidade são formas de trabalho precário – representam uma forma de inserção das mulheres africanas no mercado de emprego, a partir dos quais, boa parte delas é atraída para os cursos como administração, enfermagem e áreas afins que, ainda a meio do curso, garantem empregos como enfermeiras, atendentes, garçonetes, etc. Outro segmento importante dessas jovens mulheres consegue emprego em pequenos comércios como atendentes em padarias, lanchonetes, sorveterias, papelarias, assim como conseguem alguma renda trançando os cabelos de africanas(os) e brasileiras(os) negros, de modo a sobreviver e se locomover na cidade. Aliado às rendas conseguidas nesses trabalhos e biscates, a maioria das estudantes recebe apoio financeiro de familiares em África e, de irmãos e namorados residentes no Brasil, de modo a garantir a sobrevivência na diáspora. Por outro lado, é necessário destacar a adesão dessas mulheres às diferentes igrejas – evangélicas, batistas, adventistas, mórmons, católicas – brasileiras, como uma forma de inserção social e de diminuição da vulnerabilidade. As igrejas costumam abrir oportunidades de emprego, escolaridade e até de casamentos, desde que se mantenham fiéis às congregações religiosas. A imigração para o Brasil apresenta-se como uma experiência vivida 12 , única e significativa, sentida de forma intensa que, forma e transforma a vida e trajetória dessas 11 De acordo com Dawsey (2005) apud Turner (2005), o drama social aparece como um modelo de leitura da realidade em sociedades tribais, pensado em quatro momentos: ruptura, crise e intensificação da crise, ação reparadora e desfecho. O drama apresenta-se como um momento importante de reparação da crise, já a ruptura assemelha-se a uma revolução, e a intensificação da crise com as dificuldades encontradas para ressignificar o mundo e, finalmente, a crise como a responsabilidade de dar sentido ao seu universo. 12 Turner (2005) define literalmente experiência como “tentar, aventurar-se, correr riscos”, onde experiência e perigo derivam da mesma raiz. Turner distingue três tipos de experiências: a experiência cotidiana que diz respeito à experiência simples, passiva, de aceitação dos eventos cotidianos; experiência vivida, experiência única que acontece ao nível da percepção como a dor ou o prazer que podem ser sentidos de forma mais intensa e; experiências formativas que se distinguem de eventos externos e reações internas a elas, como a iniciação a novos modos de vida, aventuras amorosas, que podem ser pessoais ou partilhadas.
  • 14. 14 jovens mulheres. Quase sempre, a experiência migratória é ressignificada de forma positiva, vista como oportunidade de formação, aprendizado e crescimento na carreira profissional. Porém, também é vista uma mudança no modo de ser e estar na vida por conta das dificuldades econômicas, em conseguir trabalho, pagar contas pessoais, inserir- se profissionalmente e afetivamente. Nesse sentido, pode-se pensar na existência de identidades em processo as mulheres africanas, moldadas pelas negociações que vão efetuando ao longo de suas trajetórias em Fortaleza, que modificam o seu “eu” interior, seu modo de ver e de estar na vida. Afetividades subalternizadas: o lugar das mulheres africanas no mercado afetivo Em termos de interações afetivo-sexuais vivenciadas pelas africanas verificam-se diversas formas de arranjos, namoros com africanos – do mesmo país/etnia ou de país/etnia diferente –, e com homens brasileiros, muitas vezes, em nítidas relações de submissão a envolver dependência econômico-financeira. As mulheres africanas costumam relacionar-se, particularmente, com homens que contribuam para seu equilíbrio financeiro. Nesse cenário, percebo que as mulheres negras – particularmente as africanas – ocupam o último lugar em termos de preferencias afetivas em Fortaleza. Entretanto, tal realidade também se mostra válida para os homens africanos. De fato, pesquisas de Berquó (1987) chamam atenção para a existência de um maior quantitativo de mulheres negras morando sozinhas no Brasil, na condição de viúvas, solteiras ou separadas. A este fenômeno afetivo, Silva (2008) designa metaforicamente de “solidão da mulher negra”. Tal solidão deve principalmente por conta da subjetividade e preterimento afetivo de mulheres negras por parte de homens negros e brancos, numa sociedade brasileira racialmente hierarquizada. Fanon (1983) chama atenção para a existência de um número de frases, provérbios e linhas de conduta – entre as mulheres negras – que regem a escolha de um namorado branco e de rejeição do homem negro, em sociedades coloniais. O autor chama atenção para a condição de submissão das mulheres negras nos relacionamentos com homens brancos, questionando sobre a possibilidade de existência de amor verdadeiro nessas interações, pois, seriam caracterizadas pelo sentimento de inferioridade interiorizado pelas últimas. Fanon (1983) argumenta que a mulher negra entra nesses relacionamentos numa posição desigual, sendo sempre desprezada e nunca tolerada no meio social branco, cujo
  • 15. 15 amor pelo homem branco seria impossível e proibido em todas as sociedades. As mulheres africanas imigrantes em Fortaleza apresentam escolhas afetivas distintas e independentes da raça, mas, revelam preferências por aspectos como classe social e etnia. Assim, entre estas, verificam-se poucos relacionamentos com homens de países distintos dos seus, ou por homens com pouco poder econômico. Diante da experiência de preterimento afetivo, as jovens africanas apresentam diversas estratégias de autoestima e inserção nesse mercado afetivo, que vão do investimento na estética e valorização da aparência pessoal, a frequência à salões de beleza e academias de ginástica, dentistas, ao uso de diversos acessórios como óculos, pulseiras, colares, bolsas. Assim como por meio de trajes e roupas abrasileiradas ousadas, – vestidos com decotes, saias e shorts curtos – ou de roupas africanas coloridas, mas também, através do uso de cosméticos da linha black power, tranças africanas, apliques, extensões e mechas nos cabelos. Como diria De Certeau (1998), as mulheres africanas têm as “suas estratégias e táticas" de inserção e sobrevivência no mercado afetivo-sexual de Fortaleza. De fato, em seus relatos, as mulheres africanas apontam diferenças significativas nos seus relacionamentos com homens africanos e com brasileiros, nos quais, os últimos aparecem como mais carinhosos menos algozes, demonstrando assim, que trocam “olhares”, flertam e interagem com homens brasileiros. Nesses relacionamentos percebe-se a sua preferência por homens de certa classe social ou poderio econômico, ou que sejam sensíveis à sua condição financeira. Mas também por homens que trabalhem e que contribuam para pagar as despesas cotidianas. Em tais relações, parece haver certa preferência por homens brasileiros, por representarem maiores oportunidades de inserção, contatos e conhecimentos na cidade. É necessário ressaltar o papel da violência, que parece permear e estruturar suas relações afetivas com homens africanos, tidos como “brutos”. De fato, são notórias as queixas de mulheres africanas e brasileiras sobre a violência nos relacionamentos com homens africanos.13 Nos discursos das africanas, percebe-se produção do homem 13 São incontestes os episódios de violência física e simbólica de homens africanos em seus relacionamentos com mulheres africanas e brasileiras. Tal fato torna-se visível pela quantidade de denúncias feitas por amigos e vizinhos e pelos Boletins de Ocorrência abertos, por mulheres brasileiras na única Delegacia da Mulher existente em Fortaleza. Se as mulheres brasileiras denunciam essas situações e dirigem-se à delegacia, as mulheres africanas parecem consentir tal violência. Assim, torna-se necessária uma pesquisa sobre a violência no namoro e no ficar com homens africanos nesta diáspora e o diferencial nas reações entre mulheres africanas e brasileiras diante da violência.
  • 16. 16 brasileiro como ideal – carinhoso, diferente, mas também ciumento –, criando-se uma escala hierarquizada de “brutalidade masculina” diferenciada entre os homens brasileiros e homens africanos. Entretanto, suas falas parecem ignorar ou invisibilizar a “brutalidade” advinda do relacionamento com o homem brasileiro de maior poderio econômico. A inversão de papéis nas interações afetivas entre homens africanos e mulheres brasileiras Nos encontros cotidianos, em diferentes situações e circunstâncias, cearenses e africanos, de ambos os sexos, olham-se de forma ambivalente, discriminando-se e sexualizando-se. Nas interações, os estudantes imigrantes africanos, na condição de negros e imigrantes, portanto, sujeitos marginais, são colocados em posição inferior e de subalternidade, ocupando um lugar secundarizado em termos de preferências afetivas para relacionamentos estáveis. Ao mesmo tempo em que são objeto de estigma, os estudantes africanos são também objeto de desejo sexual para encontros fortuitos, sem compromissos afetivos. Por sua vez, os africanos também desenvolvem olhares estigmatizantes em relação, sobretudo, às mulheres negras brasileiras e à população composta por lésbicas, gays, bissexuais e travestis (LGBT). No entanto, no âmbito da diáspora africana, tem-se, ainda com menor expressão e visibilidade, trocas de olhares entre africanos(as) e brasileiros(as) do mesmo sexo que, assumem distintas identidades como homossexuais, gays, e lésbicas, em relações veladas, subterrâneas, não assumidas em público. Torna-se necessário considerar o universo simbólico que circunscreve os negros no imaginário brasileiro, pois, os olhares que discriminam e, ao mesmo tempo, sexualizam negros e negras africanas têm raízes históricas no Brasil, remontando ao período da escravidão, com ressignificações contemporâneas. De fato, as relações afetivo-sexuais entre africanos(as) e brasileiros(as) são dominadas por representações hipersexualizadas acerca do outro, no tocante às performances, aptidão e tamanho dos órgãos sexuais, revelando desejo e fetiche sexual acerca do homem africano, tido, no imaginário social, como bom de cama, insaciável, com performances sexuais acima da média e sempre disponível para satisfazer fantasias de mulheres e homens cearenses. Já no interior da diáspora africana, o Brasil é visto como um lugar exótico, país do carnaval e da sexualidade liberada, caracterizado pela diversidade sexual e de gênero.
  • 17. 17 Durante os momentos de interação, há esforço de africanos e de brasileiros para encarnar estereótipos existentes acerca da sexualidade do outro, dominados por curiosidade e interesses mútuos onde a raça é peça fundamental da diferença cultural. Nesse tipo de busca, e aproximações, a iniciativa pode partir tanto de africanos, assim como de brasileiros. Tais encontros articulam gênero, raça, etnicidade e são mediados por sexo, afetos, presentes e dinheiro (PISCITELLI et al., 2011).14 É fato inconteste que raça, sexo, formas corporais e cabelos apresentam-se como fatores de atração, existindo preferência de africanos por mulheres brasileiras corpulentas, de pernas grossas, de pele mais clara e, particularmente, por mulheres louras. Nesse mercado sexual, africanos têm preferência por mulheres brasileiras brancas em detrimento das brasileiras negras e das mulheres africanas. Em seu habitus, os estudantes tendem a gostar de “mulheres cheinhas”, com carne, com seios e bundas avantajadas, tal é tipo ideal de mulher gostosa, propalada pelos africanos. Já entre mulheres brasileiras, existe a atração por africanos de pele mais escura, pelos mais altos e de corpo atlético. Normalmente, as brasileiras que se interessam pelos estudantes africanos são mulheres brancas mais velhas, coroas,15 mas também moças das classes populares, mulheres gordas, ou que não se enquadram no ideal estético e de beleza imposto pela sociedade do capital e sua lógica de mercantilização e do consumismo. Algumas dessas mulheres possuem uma renda mediana ou alta, poder de compra e de consumo, carro, casa própria, carreira profissional, condições que, muitas vezes, atraem os caça-brasileiras,16 jovens estudantes imigrantes africanos que somente se relacionam afetiva e sexualmente com mulheres brasileiras. Tais preferências afetivo-sexuais, fundadas em determinados atributos tidos como desejáveis e atraentes – raça, origem, cor do cabelo, formato do corpo, classe, posição social, renda e outras formas de afirmação e diferenciação – encarnam múltiplas expressões discriminatórias, configurando aquilo que Crenshaw (2002) e Piscitelli (2008) designam de “discriminação interseccional ou interseccionalidade”. 14 Em seu trabalho, Piscitelli (2011) interessa-se, particularmente, pelas interações afetivo-sexuais entre imigrantes do sexo masculino de países pobres com mulheres, gays e travestis de outros mais desenvolvidos, que envolvem estereótipos, relações de dominação, casamentos binacionais etc. 15 Categoria nativa brasileira com que são designados homens e mulheres mais velhos. Tal termo é ressignificado pelos imigrantes africanos que, passam a chamar de coroas não somente mulheres mais velhas, mas também mulheres que não se enquadram no ideal estético feminino vigente no Brasil. Assim, o uso do termo é ampliado às mulheres gordas e outras não muito bonitas. 16 Termo inspirado em Cantalice (2009), na sua análise acerca das interações afetivo-sexuais entre jovens brasileiros e turistas do sexo feminino de países nórdico-europeus.
  • 18. 18 Crenshaw (2002) argumenta que as discriminações de raça, etnia, gênero, classe, renda, não são mutuamente excludentes, e assim, muitas vezes se sobrepõem e se intersectam, criando complexas conexões onde se juntam dois, três ou mais elementos. Assim, a autora propõe a noção de discriminação interseccional como uma ferramenta capaz de circunscrever hibridizações nos processos discriminatórios. Tomando como exemplo a discriminação racial, a autora norte-americana aponta que, em determinados contextos, esse fenômeno se apresenta de maneira específica e diferenciada para os indivíduos, atingindo, de formas distintas, homens e mulheres. Já Piscitelli (2008) propõe a interseccionalidade como categoria analítica para apreender a articulação de múltiplas formas de diferenças e desigualdades, esclarecendo que em muitas situações, não se trata somente de discriminação racial, étnica, sexual, de gênero ou de classe em esferas separadas, mas, sim, da diferença em seu sentido amplo a articular múltiplas expressões de discriminação. Tal noção se baseia na premissa de que as pessoas têm identidades múltiplas, derivadas das relações sociais, históricas e estruturas de poder, experimentando de forma diferente as várias formas de dominação e discriminação nas suas trajetórias. Cumpre salientar que as interações entre jovens africanos e mulheres brasileiras também ocorrem em meio a tensões e choques culturais e, alguns africanos sentem-se usados em relacionamentos permeados de poder e de dominação (BOURDIEU, 2002). Nessas relações, as mulheres brasileiras bancam quase tudo, ou seja, pagam as contas no cotidiano, em supermercados, lojas, restaurantes, aluguel de apartamentos, mensalidades das faculdades e outras formas de ajuda. E, o fato de mulheres brasileiras não assumirem, publicamente, o relacionamento afetivo com africanos, o caráter descartável das relações, o ficar – relações fugazes e fluídas que podem durar de algumas horas a uma semana, ou um mês no máximo, são outras situações que representam violência simbólica17 que atingem homens africanos na sua autoestima, ao mesmo tempo que viabilizam melhores condições de vivência na diáspora. Nesse padrão de interação, são as brasileiras quem mandam e ditam os momentos, as circunstâncias e os lugares em que estas relações podem ocorrer. Nesses processos, 17 De acordo com Bourdieu (2002), a violência simbólica se institui por intermédio da adesão que o dominado não pode deixar de conceder ao dominante quando ele dispõe – para pensar e para se pensar, ou para pensar a sua relação com ele- mais do que instrumentos de conhecimento que ambos têm em comum e que, não sendo mais que a forma incorporada da relação de dominação, faz esta relação ser vista como natural. Assim, as classificações são incorporadas e naturalizadas, como por exemplo, alto/baixo, masculino/feminino, negro/branco.
  • 19. 19 os homens africanos terminam por experienciar posições inversas que as assumidas no contexto das suas terras de origem, perpassadas de configurações machistas, de dominância e mando. Fanon (1983) argumenta que os relacionamentos interaciais entre negros e brancos revelam uma antiga política adotada de forma consciente ou não de embranquecimento da raça negra – uma tentativa de salvar/melhorar a linhagem familiar, de modo a assegurar a brancura das gerações seguintes. Na sua ótica, a prática do embranquecimento da raça reflete a valorização da raça branca e ao mesmo tempo o complexo de inferioridade de homens e mulheres negros(as). Tais relações revelariam relações de poder e de dominação existentes entre brancos e negros ao longo da história humana, criados primeiro na esfera econômica e social e, depois interiorizados pelos indivíduos. 18 O autor mostra-se crítico em relação aos casamentos interaciais, considerando-os reveladores da prática de embranquecimento da raça, adotada pelos negros diante do mundo branco como estratégia de ascensão social e de melhoria de sua raça e de futuras gerações. De fato, em muitas sociedades coloniais, ter filhos mestiços ou brancos permite a determinadas famílias uma melhoria na posição social, assim como o acesso a lugares econômicos e políticos de prestígio, que normalmente são de difícil acesso para os mais escuros, assim como evita os constrangimentos da discriminação racial. 18 Fanon (1983) desenvolve uma análise da subjetividade de gênero e de raça em sociedades coloniais na década de 1950, privilegiando a diferença sexual para compreender a dimensão psíquica do racismo. Para tal, apresenta um esquema geral relativo a sociedades coloniais, mas que ele considera ser válido para todos os países, no qual, o homem branco é representado como senhor ou como macho que, pode se relacionar com muitas mulheres negras, muitas vezes, pelo estupro. O autor conclui que, mesmo havendo segregação entre brancos e negros em várias sociedades coloniais, verificava-se a existência de uma grande quantidade de indivíduos mestiços. Nessas sociedades, quando uma mulher branca se envolvia com um homem negro, a relação toma um aspecto romântico, considerado uma dádiva e não um estupro. Nas sociedades coloniais haveria uma tendência para aceitação de relacionamentos afetivos entre homens brancos e mulheres negras, mas ao mesmo tempo, uma recusa de relacionamentos afetivo-sexuais entre homens negros e mulheres brancas ou mulatas.
  • 20. 20 Conclusões preliminares Este trabalho representa uma tentativa de compreender o cotidiano da vida de jovens africanos e africanas residentes em Fortaleza, a partir do gênero, educação, classe, renda, raça, sexualidade e outras categorias interseccionais. Parti da noção de diáspora como unidade analítica e explicativa da trajetória desses sujeitos imigrantes, a partir das visões de autores como Gilroy, Hall, autores que apresentam uma visão rizomática e antiessencialista acerca da diáspora, explorando a heterogeneidade das construções identitárias e seus hibridismos. A diáspora africana em Fortaleza demonstra ser um fenômeno suis generis, constituída por indivíduos de diferentes países, diversidade etnolinguística, cultural e nacional, com gênese em acordos de cooperação na área de educação. Ela emerge em determinado contexto histórico das relações político-econômicas entre Brasil e África, intensificada por um discurso governamental de cooperação e aproximação entre países irmãos – que falam a mesma língua e apresentam culturas próximas frutos da escravidão. Tal diáspora tem gerado grupos e movimentos estudantis africanos, envolvidos em processos de mobilização para a conquista e defesa de seus direitos. Suas grandes características são a distinção e a hierarquização, pois, à medida que o número de indivíduos aumenta a diáspora complexifica-se, abrindo espaços para diferenciações segundo a nacionalidade, grau de riqueza do país, classe social, gênero, religião, status e origem familiar, mas também pelo consumo de roupas, calçados, aparelhos celulares, etc. Diante da alteridade, as mulheres imigrantes ressignificam suas identidades, afirmando-se negras, heterossexuais, estudantes, trabalhadores e cristãs, vivenciando dramas sociais distintos daqueles vivenciados pelos homens – uma menor inserção e adaptação e o preterimento no mercado afetivo. Mesmo assim, elas apresentam suas estratégias e táticas, interagindo afetivamente com brasileiros e africanos independente da raça, mas de acordo com a nacionalidade e classe social e, em nítidas relações de submissão a envolver dependência econômica. Já entre os homens africanos, percebe-se uma preferência por mulheres brancas, mas também ocupando uma posição inferior, de subalternidade e secundária em termos de preferências afetivas, vivenciando uma inversão de posições inversas das relações de poder e mando assumidas em suas sociedades de origem. Tornando-se objeto de desejo para encontros fortuitos, para ficar. Neste cenário, raça, sexo, formas corporais, cabelos, mas também classe e renda apresentam-se fatores de atração e de rejeição na diáspora, onde os sujeitos ocupam posições mutáveis.
  • 21. 21 Referências APPADURAI, ARJUN. Dimensões Culturais da Globalização: a modernidade sem peias. Trad. Telma Costa. Lisboa: Teorema, 2004. BECKER, HOWARD. Outsiders: estudo de sociologia do desvio. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. BERQUÓ, Elza. Nupcialidade da População Negra no Brasil. Campinas: NEPO UNICAMP, 1987. BHABHA, Homi. A Outra Questão: o estereótipo, a discriminação e o discurso do colonialismo. In:_________. O Local da Cultura. 5ª reimp. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010. cap. III. p. 105-128. BOURDIEU, Pierre. A Distinção: crítica social do julgamento. 1ª reimp. São Paulo: Edusp, 2008. ______. Questões de sociologia. Lisboa: Fim de Século, 2003. ______. A Dominação Masculina. 2ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. BRÁS, Janaína. [Estudantes] Africanos na Capital sentem ‘na pele’ o preconceito. O Povo, Fortaleza, 22 de ago. 2011. Especial, p. 4. CANTALICE, Tiago da Silva T. “Dando um Banho de Carinho!”- os caça-gringas e as interações afetivo–sexuais em contextos de viagem turística (Pipa-RN). 2009. 260 p. Dissertação (Mestrado em Antropologia) – Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Universidade Federal de Pernambuco- RE, 2009. COSTA, Cláudia. Feminismo e Tradução Cultural: sobre a colonialidade do gênero e a descolonização do saber. Portuguese Cultural Studies, v. 4. 2012, p. 41-65. CRENSHAW, Kimberlé. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero. Revista Estudos Feministas, v.10, n.001, jan. 2002, p. 171-188. DAWSEY, John. Victor Turner e a Antropologia da Experiência. Revista Cadernos de Campo, n. 13, 2005, p. 163-176. De CERTEAU, Michel. A invenção do cotidiano: artes de fazer. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1998.
  • 22. 22 DU BOIS, W. E. The Negro. Pennsylvania: The Pennsylvania State University, 2007. FANON, Frantz. Pele Negra, Máscaras Brancas. Tradução de Caldas, Adriano. Rio de Janeiro: Fator, 1983. GILROY, Paul. O Atlântico Negro: modernidade e dupla consciência. Tradução de Cid Knipel Moreira. São Paulo: Editora 34, Rio de Janeiro: Universidade Cândido Mendes, Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 2001. GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da Identidade deteriorada. 4ª ed. Rio de Janeiro: LTC,1988. GORDON, Edmund. T; ANDERSON, Mark. The African Diaspora: toward an ethnography of diasporic identification. The Journal of American Folklore, vol. 112, n. 445, 1999, p. 282-296. GUSMÃO, Neusa M. Os Filhos de África em Portugal: antropologia, multiculturalidade e educação. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. 11ª ed. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2006. ___________. Pensando a diáspora: reflexões sobre a terra no exterior. In___. Da Diáspora: identidades e mediações culturais. (Org.) SOVIK, Liv. 1ª ed. atual. Belo Horizonte: UFMG, 2011, p. 25-48. __________. Quem Precisa de Identidade? In: Identidade e Diferença: a perspectiva dos estudos culturais. (Org.) da SILVA, Tomaz Tadeu. 7ª ed. Petrópolis: Vozes, 2010, p. 103-133. ITAMARATY. Ministério das Relações Exteriores. Divisão de Temas Educacionais. Programa PEC-G. disponível em http://www.dce.mre.gov.br/PEC/G/historico.html. Acesso em: mai 2012. MEMMI, Albert. O Imigrante. In:_____________. Retrato do Descolonizado árabe- muçulmano e outros. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. cap. 2, p. 99-185.
  • 23. 23 MENDES, Pedro Vítor Gadelha. Racismo no Ceará: herança colonial, trajetórias contemporâneas. 2010. 95 p. Monografia (Bacharelado Ciências Sociais), Universidade Federal do Ceará, Fortaleza. MOURÃO, Daniele E. Identidades em Trânsito: África “na pasajen” identidades e nacionalidades guineenses e cabo-verdianas. Campinas: Arte escrita, 2009. PISCITELLI, Adriana. Interseccionalidades, categorias de articulação e experiências de migrantes brasileiras. Revista Sociedade e Cultura, v.11, n.2, jul/dez. 2008. p. 263-274. __________________et al. Introdução: transitando através de fronteiras. In:________ (orgs.). Gênero, sexo, amor e dinheiro: mobilidades transnacionais envolvendo o Brasil. Campinas/São Paulo: UNICAMP/PAGU, 2011. p. 5-30. SILVA SOUZA, Claudete, A. A Solidão da Mulher Negra: sua subjetividade e seu preterimento pelo homem negro em São Paulo. 2008, 185 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais), Pontifícia Universidade Católica, São Paulo. SAHLINS, Marshall. Ilhas de História. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990. SPIVAK, Gayatri. Pode o subalterno falar? Trad. de Almeida, Sandra et al. Belo Horizonte: Editora da UFMG. 2010. TURNER, Victor. O Processo Ritual: estrutura e anti-estrutura. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1974. ________________. Dewey, Dilthey e Drama: um ensaio em Antropologia da Experiência (primeira parte), de Victor Turner. (Trad.) RODRIGUES, Herbert, (Rev.) DAWSEY, John. In: Revista Cadernos de Campo, n. 13, 2005, p. 177-185.