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Teólogo medieval antecipou teoria cosmológica atual
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Teólogo medieval antecipou teoria cosmológica atual
Com informações da New Scientist - 21/03/2014
A coincidência entre a cosmologia atual e o modelo proposto por Robert Grosseteste em 1225 é
impressionante - e leva aos mesmos gargalos. [Imagem: Tom C. B. McLeish et al.]
Honrando os mestres
Os cientistas gostam de chamar a Idade Média de "era da escuridão", "noite
medieval" e outras denominações pouco elogiosas.
Em contraposição, com o declínio do paradigma religioso em termos de explicação
da natureza, emergiu a "idade das luzes", esta capitaneada pelos próprios
cientistas.
Obviamente que a ciência moderna surgiu nos ombros dos pioneiros medievais,
uma herança que não pode ser esquecida sob pena de negligenciar a coragem e o
heroísmo desses pioneiros - ainda que o fato de que grande parte deles tenha
pago com a vida seu amor pelo conhecimento torne compreensível o medo
inconsciente que leva à tentativa dos cientistas atuais em apartar-se dessa época.
O restabelecimento desses laços agora ganhou uma nova força: uma das principais
teorias cosmológicas da atualidade foi redescoberta em um autor medieval - e
mais, ela está inspirando os cientistas atuais a melhorarem suas próprias teorias.
Quando físicos traduziram um texto em latim do século 13, e transformaram suas
afirmações em equações matemáticas, eles descobriram que um teólogo inglês
previu a ideia dos multiversos em 1225.
A descoberta do momento, que envolve a detecção de ondas gravitacionais e a
comprovação da inflação cósmica, apoia justamente a ideia dos multiversos.
Cosmologia medieval
Tom McLeish e seus colegas da Universidade de Durham, no Reino Unido,
desenvolveram equações a partir do tratado De Luce - Sobre a Luz - escrito pelo
teólogo medieval Robert Grosseteste.
"Nós tentamos traduzir matematicamente o que ele disse em palavras em latim,"
disse McLeish. "Então você tem um conjunto de equações que podem ser inseridas
no computador e resolvidas. Estamos explorando matematicamente um novo tipo
de universo, que é o que os teóricos das cordas fazem o tempo todo. Apenas
estamos sendo teóricos das cordas medievais."
Grosseteste vinha estudando as obras então recém-redescobertas de Aristóteles,
que explicou o movimento das estrelas incorporando a Terra em uma série de
nove esferas celestes concêntricas.
As coincidências das suas conclusões com a teoria cosmológica contemporânea
são estarrecedoras.
No tratado Sobre a Luz, Grosseteste propôs que o universo concêntrico começou
com um flash de luz, que empurrou tudo a partir de um ponto minúsculo,
formando uma grande esfera.
E as similaridades continuam: Grosseteste propõe que a luz e a matéria são
intimamente relacionadas - essencialmente acopladas.
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2. O reconhecimento da grandiosidade da ideias do
autor medieval pode ser uma forma de reatar os
laços dos cientistas acadêmicos modernos com
seus mestres. [Imagem: Tom C. B. McLeish et
al.]
Outras notícias sobre:
Mais Temas
Quando o pulso inicial de luz-matéria em expansão alcançou uma densidade
mínima, o universo entrou no que ele chamou de um estado perfeito e parou de se
expandir. Esta esfera perfeita emitiu então uma forma diferente de luz, que ele
chamou de lúmen, que se propagou para dentro varrendo a matéria "imperfeita",
comprimindo-a como um floco de algodão.
A região menos densa de luz-matéria que restou pode então chegar ao seu estado
perfeito e cristalizar-se em uma nova esfera embutida na primeira, que emitiria
então seu próprio lúmen. Este processo se repetiu até que restou apenas um
núcleo de matéria imperfeita, que por sua vez deu origem à Terra.
Cosmologia moderna
Traduzindo tudo isso em números, a equipe
de McLeish descobriu que o modelo
resultante produz exatamente o tipo de
universo que Grosseteste estava
descrevendo: esferas concêntricas que se
propagam para dentro.
Isso é análogo à maneira como os
cosmólogos modernos usam observações da
radiação cósmica de fundo - que eles
descrevem como um eco do Big Bang - para
testar modelos matemáticos do Universo,
incluindo um período de rápida expansão
chamada inflação cósmica.
Mais do que isso, o universo de Grosseteste
prevê uma das possibilidades mais
intrigantes da cosmologia do Big Bang: o
multiverso.
Os modelos cosmológicos atuais só batem com as observações se certos
parâmetros assumirem valores específicos - se as forças que mantêm a matéria
coesa fossem apenas ligeiramente mais fortes ou mais fracas, por exemplo, o
universo não se pareceria em nada com o que observamos hoje.
Os cosmólogos chamam isso de "problema do ajuste fino" (ou da sintonia fina), e
uma maneira de resolvê-lo é dizer que deve haver um número infinito de
universos, em que todos os resultados são possíveis.
Apenas vivemos em um deles porque acontece de ele ser bem adequada à nossa
vida - ou vice-versa, ou algo parecido.
De forma semelhante, o resultado do modelo de Grosseteste depende do seu
estado inicial: mude a maneira como a luz e a matéria se acoplam, e você obtém
um número diferente de esferas.
Humildade
Grosseteste aparentemente não percebeu que poderia haver muitos universos - ou,
pelo menos, isso não está em seu tratado.
"Mas o que as pessoas daqui a 800 anos vão pensar sobre os pressupostos que
fazemos hoje? Há um pouco de humildade em perceber que estamos limitados por
aquilo que podemos ver e pelo que nós não podemos ver," disse McLeish.
Ou seja, embora gostemos de acreditar que houve um grande progresso no
conhecimento desde a Idade Média, talvez seja mais sábio concentrarmo-nos no
longo caminho que temos pela frente para entender este Universo - e os outros, se
eles realmente existirem.
Bibliografia:
A Medieval Multiverse: Mathematical Modelling of the 13th Century Universe of Robert Grosseteste
Richard G. Bower, Tom C. B. McLeish, Brian K. Tanner, Hannah E. Smithson, Cecilia Panti, Neil Lewis
Proceedings of the Royal Society A
Vol.: 507, 161-163
DOI: 10.1038/507161a
http://arxiv.org/abs/1403.0769
History: A medieval multiverse
Tom C. B. McLeish, Richard G. Bower, Brian K. Tanner, Hannah E. Smithson, Cecilia Panti, Neil Lewis, Giles E.
M. Gasper
Nature
Vol.: 507, 161-163
DOI: 10.1038/507161a
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