O documento descreve o Projeto Redação 2001 realizado nas escolas da rede municipal de ensino do Rio de Janeiro. O projeto teve como objetivo permitir que o concurso de redação fizesse parte do processo pedagógico dos alunos. As escolas realizaram atividades como debates sobre os temas escolhidos antes da elaboração das redações pelos estudantes. No total, 121 redações foram recebidas, representando o mesmo número de escolas participantes.
1. FOLHA DIRIGIDA / CADERNO DE EDUCAÇÃO – 6 A 12 DE DEZEMBRO DE 2001
DeniseVilardo diz que a leitura e a escrita são quase como respirar e
falar.
Hélio Ricardo (foto)
Mais do que um hábito, a pro- estudantes que participaram é
fessora Denise Vilardo, da direto- difícil afirmar porque, como já foi
ria de Educação Fundamental da dito, cada escola escolheu apenas
Secretaria Municipal de Educação uma redação para nos enviar. Não
do Rio de Janeiro, diz que a leitura podemos precisar quantas turmas
deveria ser um vício. Segundo ela, foram envolvidas neste processo.
o acesso ao livro é essencial para o A rede municipal conta,
que o estudante dos dias atuais atualmente com quase oitocentos
possa exercer sua cidadania. mil alunos no ensino
"É fundamental, é básico! A fundamental, incluindo aí a
leitura e a escrita são quase como Educação Infantil e os alunos do
respirar e falar, ou seja, nos dias Projeto Educação Juvenil. A
de hoje é extremamente difícil receptividade e a expectativa que
alguém sobreviver na nossa os projetos geram são sempre
sociedade sem o desenvolvimento positivas. Aliás, a participação de
dessas habilidades. Aliás, a leitura nossos alunos e professores em
deveria se tornar um vício. diferentes projetos - inclusive de
Apenas, hábito é pouco, além de abrangência nacional – tem sido
ter uma conotação de coisa chata. motivo de muito orgulho para a
Já vício é aquilo que traz prazer e SME, pois estamos sempre sendo
você não consegue se livrar. Se agraciados pela qualidade dos tra-
coordenação enfrentou o desafio pedagógico que o aluno esteja
tiver que haver um vício do bem, balhos apresentados.
de escolher, entre tantos da rede, vivenciando - para que o mesmo
que seja o da leitura", observa. Folha Dirigida - O que re-
os que comporiam os livros com não "caia de pára--quedas" nem na
Denise Vilardo ressaltou ainda as redações selecionadas no con- presentou, para a Secretaria
. cabeça do aluno, nem na do pro-
a motivação dos estudantes da curso de redação? Municipal de Educação, partici-
fessor - ou seja, que o professor
rede municipal de ensino ao Denise Vilardo - A realização par deste concurso?
articule a proposta do projeto com
participarem do Projeto Redação do projeto se deu através da ampla os conteúdos que ele estiver traba- . Denise Vilardo - Todo projeto
2001. Segundo ela, cada escola divulgação de seu regulamento, lhando; em segundo lugar, é que venha incentivar a partici-
teve liberdade para escolher os cartazes e fichas de inscrição, fundamental que os envolvidos pação de nossos alunos e,
temas e selecionar o texto que além do envolvimento e apoio que queiram participar do projeto, se conseqüentemente, a sua inserção
representaria a instituição. O tivemos dos Coordenadores das sintam motivados para participar. na sociedade letrada, mostrando a
objetivo, segundo Denise Vilardo dez coordenadorias Regionais de No caso do Projeto Redação 2001, sua capacidade, criatividade e
foi permitir que o concurso de Educação (E- CREs). Quanto à o fato do tema ser livre, facilitou competência, será bem-vindo. O
redação fizesse parte da orientação escolha, ficou combinado, desde o ainda mais o engajamento do Projeto Redação 2001 traz de
Pedagógica das escolas. início, que seleção se daria na professores e dos alunos. Quanto interessante a possibilidade de
“A orientação que demos foi que própria unidade escolar- que ao envolvimento das famí1ias a nossos alunos terem os seus textos
o produto final (no caso, a deveria nos enviar apenas um importância delas fica evidente divulgados através de livro, o que
redação) fizesse parte do processo texto, que representaria a escola. nos textos dos alunos. vai fazer com que mais pessoas
pedagógico que o aluno estivesse Folha Dirigida - Qual foi a . conheçam a qualidade do trabalho
vivenciando - para que o orientação geral da Secretaria Folha Dirigida - Quantos que é desenvolvido nas Escolas
mesmo não “caia de pára-quedas" Municipal de Educação para as estudantes participaram do Municipais. E também uma
nem na cabeça do aluno, nem na escolas realizarem o concurso de Projeto Redação 2001 na rede oportunidade de divulgar atitudes
do professor- ou seja, que o redação? As famílias foram, de municipal de ensino? Quantos positivas para a população, num
professor articulasse a proposta do alguma forma, envolvidas estudantes a rede possui momento em que só se divulgam
projeto com os conteúdos que ele no Projeto? atualmente? Como foi a atitudes negativas, principalmente,
estivesse trabalhando", explica Denise Vilardo - A orientação receptividade dos participantes o que diz respeito às classes
Denise Vilardo. que demos pode ser estendida a ao concurso? menos favorecidas da sociedade.
Eis a entrevista: todos os projetos dos quais faze- Denise Vilardo - " Nós rece- Esse Projeto mostra,
Folha Dirigida - Como foi a mos parte, que é, em primeiro lu- bemos 121 redações, o que signifi- fundamentalmente, que os alunos
realização do Projeto Redação gar, que o produto final (no caso, a ca dizer que tivemos 121 escolas são capazes de pensar criticamente
2001 nas escolas da rede redação) faça parte do processo envolvidas. Quanto ao número de sobre o mundo que os rodeia.
municipal de ensino? Como a
2. Folha Dirigida- Na sua opi- novas formas de dizer, podendo verdade", e os cursos continuam Denise Vilardo - A SME de-
nião, qual a importância da lei- registrar e compartilhar suas fazendo isso com os estudantes. senvolve alguns projetos que têm,
tura e da escrita dentro do pro- idéias. Acho que isso tudo Fazendo as pessoas acreditarem por mérito, o fato de terem surgido
cesso de formação escolar? colabora para a formação de um que não são capazes... Esse é o dentro das escolas, através de tra-
Denise Vilardo - É funda- indivíduo mais feliz, que é, em resultado. E aí saímos por aí, balhos desenvolvidos pelos profes-
mental, é básico! A leitura e a es- primeiríssima instância, o motivo acreditando em um monte de sores e que foram acolhidos por
crita são quase como respirar e pelo qual vamos para a escola. "lugares-comuns", e buscando esta Secretaria para serem compar-
falar, ou seja, nos dias de hoje é Folha Dirigida - Educadores outro monte de culpados, tilhados com os professores de to-
extremamente difícil alguém são unânimes em afirmar o pa- espalhando que lemos pouco e das as escolas. Há onze anos
escrevemos mal... Fala sério!... temos o Projeto Poesia na Escola,
sobreviver na nossa sociedade sem pel fundamental do incentivo à
Quanto aos incentivos, a situação que tem como objetivos, trabalhar
o desenvolvimento dessas leitura e à escrita. No entanto,
está melhorando. Hoje em dia questões teórico-metodológicas
habilidades.E quando falo em não são poucos os que afirmam.
existem vários movimentos relativas ao fazer poético,
leitura e escrita, não apenas que o estudante brasileiro ainda governamentais e não "apresentar" diferentes poetas e
soletrar palavras (ler e não lê pouco e escreve mal. A senho- governamentais que incentivam a suas poesias, estimular a produção
entender o que lê), ou escrever ra concorda com esta idéias? leitura e a expressão escrita.
apenas o essencial. E algo mais. É Denise Vilardo - Essa res- do texto poético tanto em alunos,
Folha-Dirigida - Como a quanto em professores, através de
o aluno se apropriar da leitura e da posta dava uma tese... Vamos por senhora hora oficinas para os professores. Esse
escrita como processos internos partes: o estudante brasileiro lê avalia a situação das bi- trabalho se desdobra nas salas de
seus, que o auxiliam a pensar pouco e escreve mal. Eu diria que bliotecas públicas no Rio de Ja- aula, com os alunos e, anualmente,
melhor, que têm características o professor brasileiro lê pouco e neiro? A criação de mais temos um "Concurso de Poesia",
próprias,embora as funções sejam também escreve mal. Por quê? espaços como estes poderia ser onde são selecionados cerca de 60
comuns. As exigências sociais Porque vivemos num sistema uma forma de estimular o poemas de alunos e 60 poemas de
apontam, cada vez mais, para a econômico extremamente estudante a ler mais? professores, que formam duas
necessidade de se dominar essas perverso, em que os livros Denise Vilardo - Ainda são coletâneas distintas e são
habilidades com competência e, é custam,em média, R$30,00. Esse é poucos os espaços existentes e a publicadas em livros e distribuídas
claro, a escola é essencial nesse um valor proibitivo para o programação oferecida é muito às escolas. Outro projeto que
processo, atuando como formado- professor brasileiro. Significa, se- mal divulgada. Falta a mídia se temos já há dezessete anos, é o
ra / desafiadora em sua proposta gundo os esforços do nosso Mi- interessar... É claro que quanto "Lendo e escrevendo com prazer"
pedagógica. nistro da Educação, dez por cento mais espaços tivermos, mais que, em sua versão atual, trabalha
Folha Dirigida - Que bene- do salário nacional para os profes- incentivo para ocupá-los, teremos. com uma
fícios o hábito da leitura e o sores...esse para mim é o principal O que é necessário, e que esses Temática determinada a cada ano,
domínio da expressão escrita motivo para as pessoas não lerem espaços sejam de produção de mobilizando os professores,
são capazes de trazer aos livros (revistas e jornais também leitura; ou seja, há que haver através de oficinas, onde são
estudantes? são caros para se estabelecer uma espaço para contação de histórias, discutidas questões relativas aos
rotina de leitura). Quanto a para dramatizações, para troca de diferentes tipos de texto e sua
Denise Vilardo – O principal impressões sobre as leituras feitas produção. Cabe lembrar que, só
escrever mal, eu diria que nós
benefício é se sentir um cidadão e, também, para uma boa leitura neste
escrevemos pouco. Nós não temos ano, a Prefeitura
pertencente ao mundo, e não silenciosa. O estudante vai se disponibilizou R$500,00 para cada
uma cultura de escrever. Os cursos
apenas espectador da vida. Aliás, a interessar mais pela leitura, na escola comprar os livros que
médios e superiores não exigem
leitura deveria se tornar um vício. medida em que a escolar estimulá- julgasse mais interessantes para
que se escreva. Quanto mais você
Apenas hábito é pouco, além de lo a ler pela boniteza da palavra seus alunos e professores, para
avança na escolaridade, menos
ter uma conotação de "coisa escrita e não para fazer prova, ou serem gastos na Bienal e, outros
você escreve/inscreve a sua
chata". Já o vício é aquilo que traz para responder a perguntas em um R$500,00
palavra. O sujeito é capaz de se com a mesma
prazer e você não consegue se teste.
formar num curso de graduação, finalidade, para o Salão do Livro
livrar. Se tiver que haver um Folha Dirigida – Quais os Infanto-Juvenil,
sem ter escrito uma linha sequer que ocorreu
"vício do bem", que seja o da principais programas de recentemente no MAM. Além de,
de sua
leitura. Já a expressão escrita é incentivo à leitura e à produção é claro, participar de todos os
própria criação. Fomos
uma das formas do homem dizer textual desenvolvidos projetos que estimulam a
formados, acreditando que só
de si do mundo, podendo registrar escreve bem quem tem um dom. atualmente pela Secretaria participação social dos alunos,
suas crenças, seus sentimentos, Fomos forjados com essa "falsa Municipal de Educação? como o Redação 2001.
dúvidas e certezas, produzindo
DEBATES FIZERAM PARTE DA ROTINA DO PROJETO
Cada escola que participou do Projeto redação 2001 procurou orientar o concurso da forma em que se encaixasse mais perfeitamente
com sua orientação pedagógica.
No entanto, pode-se dizer que um traço comum a todas foi o fato de todas realizarem atividades específicas voltadas para embasar os
estudantes antes da elaboração. Na maior parte dos casos, esta preparação era feita através de debates, em sala de aula, a respeito dos
temas escolhidos pelas equipes que coordenavam o projeto. Estudantes e professores, neste caso, levavam reportagens, textos e outras
fontes de informação para incrementar as discussões.
A etapa de preparação, que precedia a data em que os estudantes eram reunidos para elaboração de seus textos, não ficava apenas nos
debates. Em várias escolas, professores levavam vídeos, livros e promoviam palestras com especialistas nos temas. Além disso, os
estudantes eram incentivados a procurar em páginas da Internet material informativo que, depois, poderia ser usado em seus texto.