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Com tais rosários e gamanços, os pensionistas estão bem
tramados!
Existem em Portugal cerca de 3,6 milhões de pensionistas. É um exército.
A dimensão deste exército é suficiente para provocar a queda de um governo, uma mudança de
hábitos na participação cívica, ou mesmo uma revolução.
Quando se formou o movimento de reformados APRE, o meu coração encheu-se de esperança. É
claro que eu não estava à espera que o exército dos reformados fizesse uma revolução, nem coisa
que se pareça.
E no entanto, sim, esperava que dali viesse uma revolução – não institucional ou regimental, mas
antes nos hábitos de participação e acção cívica. Esperava que a experiência encanecida nos desse a
todos uma respeitável lição de organização e acção cívica directa; que o colectivo de cidadãos
reunidos na APRE fosse capaz de pôr em marcha uma autêntica locomotiva, que atafulhasse as
repartições, direcções-gerais e ministérios de reclamações, protestos, filas de espera, manifestações,
que moesse o juízo aos governantes de todas as formas possíveis e imagináveis (um trabalhador
reformado tem muito tempo para pensar e imaginar artimanhas), e que essa locomotiva, mais tarde
ou mais cedo, graças ao seu bom exemplo e aos seus bons resultados, arrastasse consigo a demais
população para a terra da democracia participada, e não apenas delegada.
As tarefas centrais da APRE eram simples:
1) mostrar os dados e os factos tal qual eles são; desautorizar as mentiras dos governantes e a
charlatanice dos falsos «técnicos» que pretendem encenar a insustentabilidade da segurança
social;
2) criar uma campanha mediática permanente, teimosa, enervante; não dar tréguas à opinião
pública nem às campanhas de contra-informação do Governo;
3) realizar acções colectivas visando travar o desmantelamento da Segurança Social e afirmar a
vontade de garantir a solidariedade com os mais desprotegidos.
O que a APRE não precisava nem devia fazer, era meter-se em cavalgadas de política institucional,
andar na marmelada com os partidos no poder, transmitir recados dos poderes públicos. Quanto
menos o fizesse, mais razão teria e mais unidade produziria entre vastas camadas da população,
algumas delas sujeitas a um autêntico genocídio.
É por isso uma enorme desilusão ver o descaminho impresso à APRE pela sua figura de proa, Maria
do Rosário Gama, que mais uma vez (é já a terceira, se não estou em erro) vem a público zurrar
coisas que uma representante da APRE devia recatar-se de dizer, para não comprometer os
objectivos e interesses da associação cívica que representa. Vemo-la ao longo desta semana a fazer
uma sistemática campanha mediática pelo voto nos candidatos ao parlamento europeu – segundo as
suas palavras, o que é preciso é votar; vota!, nem que seja naqueles mesmos que estão agora mesmo
a cortar tua pensão –, chegando ao ponto de afirmar que «é criminosa a campanha em curso nas
redes sociais apelando à abstenção ou ao voto em branco ou nulo» [cito de memória e
desconhecendo as campanhas em questão]. Se alguma coisa de criminoso houvesse a apontar, seria
a campanha de Rosário Gama pelo voto nos partidos instalados no poder (com indisfarçável recado
de voto no PS, diga-se de passagem), esvaziando a acção cívica directa da APRE e dividindo o
campo dos pensionistas em dois. Não é preciso ser bruxo para adivinhar o futuro da APRE a partir
de agora: uma aglomeração simbólica de cidadãos, pronta a ser usada como força de pressão ao
serviço de interesses partidários duvidosos; uma tropa arregimentada para as urnas e completamente
arredada da acção cívica directa.
Aí está como se bloqueia primeiro e mata depois um magnífico sonho.
Os factos
Existem cerca de 3,6 milhões de pensionistas (números de 2012). Destes, quase 3 milhões recebem
pensões de velhice, invalidez, sobrevivência ou reforma antecipada (ou seja, uma miséria na maior
parte dos casos); os restantes 0,6 milhões recebem pensões da CGA (Caixa Geral de Aposentações).
A título de exemplo, olhemos para a CGA, donde saíam em 2013 as pensões de cerca de 471 mil
reformados e aposentados. Destes, 50% recebiam pensões inferiores a 1000 €. Fazendo as contas
por alto e por excesso, estes pensionistas, contra os quais tanto berra Medina Carreira, recebem o
equivalente a 0,36% do PIB. Isto significa que para sustentar essas pensões eu tenho de
desembolsar, na pior das hipóteses, 2 € por semana – isto na hipótese de toda a gente estar a
trabalhar em Portugal; mas como o desemprego está muito alto e nem todos os empregados
arranjam trabalho a tempo completo, a factura sobe para 3 € por semana (na pior das hipóteses).
Olhem para a minha cara de preocupado (peço desculpa se não for capaz de fazer umas caretas à
Medina Carreira).
Entretanto, estes números escondem um facto dramático: 21% dos pensionistas da CGA recebem
menos de 500 € por mês, ou seja, encontram-se na sua maioria abaixo do limiar de pobreza.
A charlatanice demográfica
Continua na moda os poderes públicos e os Medina Carreira deste mundo promoverem a burla de
que cada vez haveria menos população activa, cada vez mais velhos, e portanto tornar-se-ia
impossível sustentar a segurança social. Esta propaganda é reforçada com «projecções» muito
imaginativas, que nos apresentam um cenário recheado de matusaléns com mais de 100 anos, cheios
de saúde, a correrem na praia em fato de treino, a viverem à conta de meia dúzia de trabalhadores e
incapazes de fazerem mais bebés. Perante este cenário de ficção científica, o que aflige os
«especialistas» e os projeccionistas do filme não é a extinção da raça humana mas sim a
«necessidade» urgente de acabar com o estado social e enfiar toda a gente num pacote das
seguradoras, que depois é vendido na Bolsa em Hong Kong e por fim faz uma linda bolha furta-
cores e explode, derramando salpicos para cima de toda a gente. Os matusaléns constipam-se então
com os salpicos da bolha, apanham uma pneumonia e morrem finalmente. Problema resolvido.
Olhemos para a realidade, embora eu já esteja a ficar farto de repetir estes números ao longo dos
meses.
População residente e em idade activa:
1983: 62% do total da população residente
2012: 65% do total da população residente.
Façamos o jeito a «técnicos» e olhemos antes para o número oficial de activos:
1983: 47% da população residente – ou seja, menos de metade da população
2012: 52% da população residente – ou seja, mais de metade da população.
Moral da história: ao contrário do que nos é dito pelos «especialistas», a situação não piorou; muito
pelo contrário, melhorou. Por outras palavras, apesar do facto indesmentível de a população ter
envelhecido, há hoje mais gente disponível para trabalhar e contribuir para a Segurança Social, a
Caixa Geral de Aposentações, etc.
É claro que se o desemprego aumentar e os salários baixarem, se houver uma dívida pública
gigantesca contraída para recapitalizar os bancos (os mesmos bancos que andam entretidos a fazer
despedimentos colectivos), se os bens e equipamentos da saúde e ensino públicos forem pilhados
em benefício de entidades privadas, … – bom, então é natural que a situação fique preta. Não
porque existam idosos a mais, mas sim porque existe demasiado roubo e desvio de dinheiros
públicos em benefício de sociedades privadas, com a bênção dos poderes públicos.
E o que faz a Exma. Sra. Dona Maria do Rosário Gama? Em vez de combater pelos pensionistas e
moer o juízo aos poderes públicos que nos trouxeram à presente situação de descalabro, aproveita o
pouco tempo de antena que lhe é concedido para chamar criminoso a quem acha que é altura de
manifestar o desagrado com os poderes públicos, retirando-lhes o voto!
Sem dúvida algumas consciências encontram-se mortas e enterradas, e outras carecem de QI
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Da autoria do nosso amigo http://bilioso.blogspot.pt/

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Com tais rosários e gamanços, os pensionistas estão bem tramados!

  • 1. Com tais rosários e gamanços, os pensionistas estão bem tramados! Existem em Portugal cerca de 3,6 milhões de pensionistas. É um exército. A dimensão deste exército é suficiente para provocar a queda de um governo, uma mudança de hábitos na participação cívica, ou mesmo uma revolução. Quando se formou o movimento de reformados APRE, o meu coração encheu-se de esperança. É claro que eu não estava à espera que o exército dos reformados fizesse uma revolução, nem coisa que se pareça. E no entanto, sim, esperava que dali viesse uma revolução – não institucional ou regimental, mas antes nos hábitos de participação e acção cívica. Esperava que a experiência encanecida nos desse a todos uma respeitável lição de organização e acção cívica directa; que o colectivo de cidadãos reunidos na APRE fosse capaz de pôr em marcha uma autêntica locomotiva, que atafulhasse as repartições, direcções-gerais e ministérios de reclamações, protestos, filas de espera, manifestações, que moesse o juízo aos governantes de todas as formas possíveis e imagináveis (um trabalhador reformado tem muito tempo para pensar e imaginar artimanhas), e que essa locomotiva, mais tarde ou mais cedo, graças ao seu bom exemplo e aos seus bons resultados, arrastasse consigo a demais população para a terra da democracia participada, e não apenas delegada. As tarefas centrais da APRE eram simples: 1) mostrar os dados e os factos tal qual eles são; desautorizar as mentiras dos governantes e a charlatanice dos falsos «técnicos» que pretendem encenar a insustentabilidade da segurança social;
  • 2. 2) criar uma campanha mediática permanente, teimosa, enervante; não dar tréguas à opinião pública nem às campanhas de contra-informação do Governo; 3) realizar acções colectivas visando travar o desmantelamento da Segurança Social e afirmar a vontade de garantir a solidariedade com os mais desprotegidos. O que a APRE não precisava nem devia fazer, era meter-se em cavalgadas de política institucional, andar na marmelada com os partidos no poder, transmitir recados dos poderes públicos. Quanto menos o fizesse, mais razão teria e mais unidade produziria entre vastas camadas da população, algumas delas sujeitas a um autêntico genocídio. É por isso uma enorme desilusão ver o descaminho impresso à APRE pela sua figura de proa, Maria do Rosário Gama, que mais uma vez (é já a terceira, se não estou em erro) vem a público zurrar coisas que uma representante da APRE devia recatar-se de dizer, para não comprometer os objectivos e interesses da associação cívica que representa. Vemo-la ao longo desta semana a fazer uma sistemática campanha mediática pelo voto nos candidatos ao parlamento europeu – segundo as suas palavras, o que é preciso é votar; vota!, nem que seja naqueles mesmos que estão agora mesmo a cortar tua pensão –, chegando ao ponto de afirmar que «é criminosa a campanha em curso nas redes sociais apelando à abstenção ou ao voto em branco ou nulo» [cito de memória e desconhecendo as campanhas em questão]. Se alguma coisa de criminoso houvesse a apontar, seria a campanha de Rosário Gama pelo voto nos partidos instalados no poder (com indisfarçável recado de voto no PS, diga-se de passagem), esvaziando a acção cívica directa da APRE e dividindo o campo dos pensionistas em dois. Não é preciso ser bruxo para adivinhar o futuro da APRE a partir de agora: uma aglomeração simbólica de cidadãos, pronta a ser usada como força de pressão ao serviço de interesses partidários duvidosos; uma tropa arregimentada para as urnas e completamente arredada da acção cívica directa. Aí está como se bloqueia primeiro e mata depois um magnífico sonho. Os factos Existem cerca de 3,6 milhões de pensionistas (números de 2012). Destes, quase 3 milhões recebem pensões de velhice, invalidez, sobrevivência ou reforma antecipada (ou seja, uma miséria na maior parte dos casos); os restantes 0,6 milhões recebem pensões da CGA (Caixa Geral de Aposentações). A título de exemplo, olhemos para a CGA, donde saíam em 2013 as pensões de cerca de 471 mil reformados e aposentados. Destes, 50% recebiam pensões inferiores a 1000 €. Fazendo as contas por alto e por excesso, estes pensionistas, contra os quais tanto berra Medina Carreira, recebem o equivalente a 0,36% do PIB. Isto significa que para sustentar essas pensões eu tenho de desembolsar, na pior das hipóteses, 2 € por semana – isto na hipótese de toda a gente estar a trabalhar em Portugal; mas como o desemprego está muito alto e nem todos os empregados arranjam trabalho a tempo completo, a factura sobe para 3 € por semana (na pior das hipóteses). Olhem para a minha cara de preocupado (peço desculpa se não for capaz de fazer umas caretas à Medina Carreira). Entretanto, estes números escondem um facto dramático: 21% dos pensionistas da CGA recebem menos de 500 € por mês, ou seja, encontram-se na sua maioria abaixo do limiar de pobreza. A charlatanice demográfica Continua na moda os poderes públicos e os Medina Carreira deste mundo promoverem a burla de que cada vez haveria menos população activa, cada vez mais velhos, e portanto tornar-se-ia impossível sustentar a segurança social. Esta propaganda é reforçada com «projecções» muito
  • 3. imaginativas, que nos apresentam um cenário recheado de matusaléns com mais de 100 anos, cheios de saúde, a correrem na praia em fato de treino, a viverem à conta de meia dúzia de trabalhadores e incapazes de fazerem mais bebés. Perante este cenário de ficção científica, o que aflige os «especialistas» e os projeccionistas do filme não é a extinção da raça humana mas sim a «necessidade» urgente de acabar com o estado social e enfiar toda a gente num pacote das seguradoras, que depois é vendido na Bolsa em Hong Kong e por fim faz uma linda bolha furta- cores e explode, derramando salpicos para cima de toda a gente. Os matusaléns constipam-se então com os salpicos da bolha, apanham uma pneumonia e morrem finalmente. Problema resolvido. Olhemos para a realidade, embora eu já esteja a ficar farto de repetir estes números ao longo dos meses. População residente e em idade activa: 1983: 62% do total da população residente 2012: 65% do total da população residente. Façamos o jeito a «técnicos» e olhemos antes para o número oficial de activos: 1983: 47% da população residente – ou seja, menos de metade da população 2012: 52% da população residente – ou seja, mais de metade da população. Moral da história: ao contrário do que nos é dito pelos «especialistas», a situação não piorou; muito pelo contrário, melhorou. Por outras palavras, apesar do facto indesmentível de a população ter envelhecido, há hoje mais gente disponível para trabalhar e contribuir para a Segurança Social, a Caixa Geral de Aposentações, etc. É claro que se o desemprego aumentar e os salários baixarem, se houver uma dívida pública gigantesca contraída para recapitalizar os bancos (os mesmos bancos que andam entretidos a fazer despedimentos colectivos), se os bens e equipamentos da saúde e ensino públicos forem pilhados em benefício de entidades privadas, … – bom, então é natural que a situação fique preta. Não porque existam idosos a mais, mas sim porque existe demasiado roubo e desvio de dinheiros públicos em benefício de sociedades privadas, com a bênção dos poderes públicos. E o que faz a Exma. Sra. Dona Maria do Rosário Gama? Em vez de combater pelos pensionistas e moer o juízo aos poderes públicos que nos trouxeram à presente situação de descalabro, aproveita o pouco tempo de antena que lhe é concedido para chamar criminoso a quem acha que é altura de manifestar o desagrado com os poderes públicos, retirando-lhes o voto! Sem dúvida algumas consciências encontram-se mortas e enterradas, e outras carecem de QI (Quociente de Independência?) suficiente para se manterem em funcionamento. Da autoria do nosso amigo http://bilioso.blogspot.pt/