5. Varal do Brasil—julho de 2012
Falar de amor é a coisa mais fácil do mundo. Nós poderíamos com certeza fazer aqui um
Falar de amor é a coisa mais difícil do mun- especial com mais de duzentas páginas e o
do. Depende de quem fale ou escreva, pode assunto não se esgotaria.
ser uma das duas opções. Porque o amor
O Varal do Amor estende-se hoje e é mais
está em tudo, faz parte de tudo, é tudo. atual do que nunca: falar de amor nunca foi
O amor nós temos por nós mesmos e é o mais importante do que agora, nestes tem-
que nos faz ter forças para viver e enfrentar pos de pequenas e devastadoras guerras,
obstáculos. É o que sentimos por nossos fi- revoltas, descasos com o ser humano, co-
lhos, nossos familiares, nossos amigos; o mos animais, o planeta por inteiro.
amor é o que sentimos por nossos parceiros Precisamos urgentemente de amor, muito
na vida; pelos animais que convivem conos- amor, mais amor.
co ou mesmo por toda a natureza e seus ma-
ravilhosos reinos. Esta é nossa pequena contribuição. Que ler
sobre o amor nos traga alegria e paz!
Ama-se o universo e a fé é um ato de amor.
Ama-se com devoção, com paixão, com deli-
cadeza, com vigor, com suavidade, com Sua equipe do Varal
emoção!
Convidamos as pessoas para falar de amor
porque falar de amor, seja de que jeito for, é
muito importante.
Seriam os cinquenta primeiros inscritos, mas
como os últimos dois chegaram ao mesmo
tempo, temos então cinquenta e um escrito-
res falando de amor!
Neste especial você vai encontrar todos os
tipos de amor dos quais falamos acima e ain-
da mais. Fizemos uma volta ao mundo do
amor.
Amor por uma cidade, amor pelo animal
companheiro que partiu, amor pela pessoa
que divide a vida conosco, amor por aqueles
que colocamos no mundo, amor pelos ocea-
nos, pela mãe terra, pela vida.
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6. Varal do Brasil—julho de 2012
SONETO DO AMOR MAIOR
Por Vinícius de Moraes*
Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.
E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração, e que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal aventurada.
Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer - e vive a esmo
Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo.
* Poeta essencialmente lírico, também conhecido como "poetinha", apelido que lhe teria
atribuído Tom Jobim[, notabilizou-se pelos seus sonetos. Conhecido como um boêmio inve-
terado, fumante e apreciador do uísque, era também conhecido por ser um grande conquis-
tador. O poetinha casou-se por nove vezes ao longo de sua vida . (Wikipédia)
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7. Varal do Brasil—julho de 2012
• ALEXANDRA MAGALHÃES ZEINER • JOSSELENE MARQUES
• ANA MARIA ROSA • JU PETEK
• ANA ROSENROT • LENIVAL NUNES ANDRADE
• ANAIR WEIRICH • LUIZ CARLOS AMORIM
• ANNA BACK • MARCELO DE OLIVEIRA SOUZA
• ANDRÉ VALÉRIO SALES • MARIA EUGENIA
• ANDRÉ VICCTOR • MARIA MOREIRA
• ARA MITTA • MARINEY K
• CARLOS R. PINA DE CARVALHO • MÁRIO REZENDE
• CHAJA FREIDA FINKELSTEIN • NORÁLIA DE MELLO CASTRO
• CLÉO REIS • ODENIR FERRO
• DENISE REIS • RAIMUNDO CANDIDO TEIXEIRA FILHO
• DOUGLAS SILVA • RENATA IACOVINO
• FLAVIA ASSAIFE • ROBERTO ARMORIZZI
• GERMANO DIAS MACHADO • ROSELIS BATISTA R
• GILDO P. OLIVEIRA • SANDRA NASCIMENTO
• GILMA LIMONGI BATISTA • SARAH VENTUTIM LASSO
• GLADYS GIMÉNEZ • SILVIO PARISE
• GUACIRA MACIEL • SONIA NOGUEIRA
• HERNANDES LEÃO • URDA ALICE KLUEGER
• ISABEL CRISTINA SILVA VARGAS • VALQUIRIA GESQUI MALAGOLI
• IVANE LAURETE PEROTTI • VALDECK ALMEIDA DE JESUS
• JACQUELINE AISENMAN • VARENKA DE FÁTIMA ARAUJO
• JOSÉ ALBERTO DE SOUZA • VÓ FIA
• JOSÉ CARLOS PAIVA BRUNO • YARA DARIN
• JOSÉ HILTON ROSA
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8. Varal do Brasil—julho de 2012
NOITE FELIZ...
Por André Valério Sales
Teus Olhos
Oh!
Teus olhos negros
Ternos e puros.
Duas grandes pétalas
De alegria.
Energia feliz
Emana de teus olhos.
Tua boca miúda
Pede carinho,
Quentura de um beijo molhado.
Calor de corpos ardentes,
Paz de floresta
Ao alvorecer,
Paz de lua
A brincar de lâmpada
Do céu noturno.
Nós, juntos
Num mar de
Sensações e etereidade,
Parecia
Que o sol não ia levantar-se.
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9. Varal do Brasil—julho de 2012
O DESENCARNE DA Aos críticos desavisados
Antes que usem da mão
CACHORRA PRISCILA
Pra arremate zonzeado
Eu digo que os animais
Por Wilton Porto No tocante ao Amor
Eles são insuperáveis.
Passam os dias Sem falar-se de outros valores
Mas o dia não passa. Como o da fidelidade.
No repasse de cada dia
Sente-se que o dia que passou Assim lágrimas sofrimento
Por mais que queira passar Desmedido sentimento
A todo instante repassa Por uma simples cachorra.
E no repassar de cada dia É normal justificável
Faz com que nunca ele passe. Para os que vivem do Amor.
O Sol brilha para todos
Se o dia em que ela passou Para todos a chuva cai
Pudesse ter só passado Se o amor é parcial
Em nós cada passo dado Se facilmente se esvai
Não teria essa máxima dor. Acredite não é Amor
É fumaça ao léu
No entanto por mais que o tempo passe Que só o bobo atrai.
Por mais que não queiramos repassar o
passado
Mais presente é o passado
Em cada passo que é dado.
Priscila desencarnou em 19/06/2010 às
17h40
Se pudéssemos arrancar
Viveu nove anos.
O passado que mais presente
Talvez a dor que latente
Por ela estar ausente
Fosse um descontente contente
Pois dor já ela não sente.
Porém a todo momento
Pela casa ela presente
E por mais que a gente tente
Eliminar o sofrimento
Mais sofrimento se sente
Já que é no ausente
Que ela está presente.
Priscila era cachorra
Mais agia como gente.
Nuca vi entre os viventes
Alguém tão inteligente.
E se falarmos de amor
Aonde quer que a gente vá
Não se encontrará superior.
Por isso já de antemão
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10. Varal do Brasil—julho de 2012
o amor
Por Sarah Venturim Lasso
O amor invade o coração
Inunda a alma
Sacrifica o corpo
Confunde a mente
O amor chora para ser correspondido
Leva nome de bandido
Sofre sem saber o motivo
Intensamente
O amor não te limites
Não conhece razão
Não sabe mede distâncias
Não usa de preconceitos
O amor gruda no peito
Como catarro de tuberculoso
Como ferida aberta e exposta
Para estar lá sem estar
O amor apenas existe
Nasce e cresce mesmo não sendo alimentado
Cuidado
Nutrido
O amor apenas é
O amor.
Imagem: hƩp://themescompany.com
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11. Varal do Brasil—julho de 2012
AMOR-LOVE-AMORE-LIEBE-AMOUR daquele povo simples, isso era considerado um
verdadeiro incesto, porque cunhado era mesmo
que irmão e ninguém de juízo perfeito se apaixona
Por Vó Fia por um parente tão próximo; Santiago o escolhido
de Dilma percebeu o discutível interesse da moça
e não gostou nada,
Em qualquer idioma usado no planeta terra, o amor
tem e faz sentido, porque desde tempos imemori- Para se livrar do que considerava encrenca
ais que as pessoas se amam e os motivos são vá- na certa, ele arranjou um repentino namoro com
rios: os pais amam seus filhos e os filhos amam Julinha, mas terminou por se apaixonar de verdade
seus pais, avós amam seus netos e são amados pela moça e a falar em se casar com ela; a viúva
por eles e tem o amor entre amigos, mas o amor Dilma se enfureceu com a rejeição e passou a se
que fala mais alto é e sempre será o amor de um portar de maneira nada usual naquela recatada
homem por uma mulher e vice versa, porque nes- vila, onde o amor existia, mas em respeitoso silen-
se a razão vai embora. cio e a linda viúva deixou o sigilo de lado e disse
que amava o cunhado.
A palavra muda de som na pronuncia de po-
vos variados, mas quer sempre dizer a mesma coi- Foi um escândalo que se tornou o assunto
sa em qualquer pais e se amar é bom para o corpo preferido dos fofoqueiros de plantão e a namorada
e o espírito, devia sempre trazer paz, harmonia e do disputado Santiago recebeu o apoio incondicio-
muita alegria entre as pessoas, mas nem sempre nal da população da Vila dos Prazeres; Dilma foi
isso acontece, porque atrás do amor vem o ciúme relegada ao ostracismo, mas não se deu por acha-
e o ciúme carrega junto a desconfiança e muitas da e continuou a perseguir o cunhado de todas as
vezes a violência pura e simples e ai o amor se maneiras possíveis e impossíveis e o desfecho
desvirtua e fere. dessa historia aconteceu durante um animado bai-
le no pequeno clube local.
Dilma era uma jovem casada e feliz, porque
amava Antonio seu marido e era amada por ele, Durante o baile a festiva viúva fez de tudo
mas o rapaz amava ainda mais um bom copo de para chamar a atenção de Santiago, se aproximou
cachaça e tanto bebeu que adoeceu com cirrose e e o convidou para dançar e foi recusada, empurrou
foi levado para um hospital na capital do estado Julinha e deu-lhe um puxão de cabelos; envergo-
para se tratar e talvez se curar do alcoolismo, mas nhada com aquele inusitado procedimento sua
a morte chegou primeiro e o levou embora; a jo- família se retirou, mas ela ficou e foi convidada a
vem viúva era uma moça linda e muito apreciada se retirar pelo diretor da agremiação, foi um mur-
naquela vila. múrio de desaprovação geral quando ela se foi.
Nos primeiros tempos da viuvez Dilma se Até ai se descontou tudo em cima do coitado
vestiu de preto e chorou potes e mais potes de la- do amor que estava na companhia do ciúme; Dilma
grimas, mas passou o tempo e aquela dor deses- não foi para casa, esperou em frente ao clube e
perada foi amainando como chuva de verão e pas- quando o baile terminou ela tentou falar com Santi-
sou; a vida voltou a seu caminhar normal e a agora ago e foi empurrada por ele que seguiu em frente,
viúva alegre tratou de abandonar os vestidos ne- levando Julinha pela mão, quando os dois entra-
gros, comprou roupas novas e vistosas e voltou as ram no modesto Fusca, ela encerrou a noite atiran-
festas típicas daquela região, mas ela queria mes- do pedras apanhadas na rua sobre o carro e gri-
mo era um amor novo. tando: eu te amo, te amo.
Pretendentes apareceram logo e Dilma podia Como amor não se compra e nem se vende,
se dar ao luxo de escolher, mas escolher era fácil e Dilma perdeu seu tempo, sua dignidade, seu amor
ela queria mais e todos da comunidade esperavam próprio e o pior de tudo, perdeu Santiago também;
que ela escolhesse o mais rico ou mais bonito; Julinha e o amado cunhado se casaram meses
ela falava com todos e as esperanças morriam lo-
depois desses lamentáveis acontecimentos e fo-
go, porque a bela viuvinha não se decidia por nin-
guém e as pessoas apostavam alto nos seus can- ram muito felizes, mas a alegre e mal compreendi-
didatos e ela não se resolvia nunca frustrando to- da viúva se deu muito mal, seus muitos preten-
das as expectativas. dentes sumiram e ela ficou só e triste, tudo por
Na verdade a viúva já tinha feito sua escolha amar a pessoa errada e no lugar errado, onde o
em segredo, porque estava apaixonada por um amor é silencioso e o ciúme é amordaçado
irmão do falecido Antonio e na opinião tacanha
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12. Varal do Brasil—julho de 2012
Deixe o amor enterrado!
Por Raimundo Candido Teixeira Filho
Não ressuscite o amor
que um dia foi vida,
deixe-o lá: enterrado!
Quando se exuma
algo tão forte
que um dia morreu
ele reflorirá
desbotado
numa flor dorida
na magoada
relva cinzenta
do tempo passado!
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13. Varal do Brasil—julho de 2012
Amor sem Limites
Por Flávia Assaife
Fogueira que queima em meu peito
Ardente por teus beijos
Pelas labaredas de teus dedos ao toque de meus desejos
Pelo calor que envolve nossos corpos sem receios
Suor embebido no mais puro vinho da paixão
Brinda nossos corações em erupção
Eleva nossas almas em pura sublimação
Volitamos com anjos em ascensão
Ondas de intenso prazer
Vem e vão ao encaixe perfeito da sedução
Neste oceano de sussurros e emoção
Que nos faz navegar sem bússola ou direção
Amor intenso e verdadeiro
Não há limites e nem ponteiro
As horas seguem sem orientação
Brincando com nuvens de algodão...
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14. Varal do Brasil—julho de 2012
Amor: ontem,
hoje e sempre!
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15. Varal do Brasil—julho de 2012
CONDUZINDO COM SABEDORIA A VIDA
Por Gildo P. Oliveira
Vamos tocando, céleres,
Com clareza e vontade forte a vida;
pastoreando, com muita luz,
Os instintos, os apetites e as paixões;
Vitalizando a razão, os fins e os propósitos,
com força poderosa previa ,rejuvenescedora,
Para que da viva interação deles façamos surgir
no solo sagrado do coração etérico humano,
o ritmo da verdadeira vida, o amor !
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16. Varal do Brasil—julho de 2012
A UM (A) FILHO (A) antes que o mundo o pegasse, levasse e não
me trouxesse. Ah, estes medos de mãe: do
tamanho do mundo enquanto aquele que ali dá
seus primeiros tropeços mal tem idade para
saber que está no mundo!
Ouvi suas primeiras palavras! Balbuciando le-
tras, tentando formar palavras, depois peque-
nas frases. E o jeito de quem já discursa e sa-
be que o mundo apenas espera por sua voz!
Sofri as penas de seus primeiros tombos, dos
arranhões sobre a pele, os cortes rasos ou
profundos, as quedas que me levavam junto e
faziam de mim a criatura mais miserável da
terra! A cada dor, cada gota de sangue, cada
choro, quis eu mudar de lugar, me transformar
naquele ser que não podia mais ser uno comi-
Imagem: Nachan go.
Assisti seu crescimento. Via sua infância pas-
sar como se fosse um filme breve, tão rápida
Por Jacqueline Aisenman passou. Tantas informações: a escola, os ami-
gos, as festas de aniversário, as brincadeiras,
as perguntas, os sonhos, o tudo que se resu-
mia no “quando eu crescer...”. Passou tão de-
Nasceu de mim, ou diria melhor...brotou. Viu a pressa...
luz pela primeira vez através dos meus braços Depois veio a adolescência, novamente os ri-
e foi depois de cortado o laço que a união se sos e os choros, mas já os segredos tomavam
fez maior. conta e o tempo dos amigos ganhou sobre o
Não há como separar a criatura que viveu do tempo que tínhamos para nós. Egoísmo de
ventre daquele ventre que a nutriu. mãe eu bem quis em certos momentos, menos
Dos balanços dentro de meu corpo surgiram amigos... Mas foram pensamentos de segun-
os balanços nos meus braços então inseguros dos, logo depois vinha o desejo de cada vez
com tanta responsabilidade. mais amigos, mais bons amigos! Assisti desta
Vi seu primeiro sorriso – alguns dizendo que vez numa distância precavida e não desejada,
nem era – que poderiam ser apenas caretas. choros para os quais não pude emprestar meu
Mas que importa? Vi também suas primeiras ombro e nem doar meu coração. Mas vi tam-
caretas e todos os sorrisos que vieram depois. bém sorrisos e gargalhadas que encheram a
Chorei junto e juntas caíram nossas primeiras minha vida de esperança e luz. Vi brilhar nos
lágrimas, pois imaginar a dor de quem não sa- olhos o esplendor do primeiro amor. Com tris-
be dizer o que ou onde dói, é pior do que sentir teza também o vi desaparecer e dar lugar ao
a própria dor. Sequei aquelas e tantas outras sombrio desapontamento. Mas, experiência de
lágrimas... mãe, ah! que não pode ser repassada pois
Vi seus primeiros passos, fiz festa, tive medo, conselhos não são sempre bem-vindos, sabia
quis pegar de volta e esconder dentro de mim que o tempo daria jeito. E deu. Sempre dá.
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17. Varal do Brasil—julho de 2012
Hoje vejo adulta a pessoa que chamo de filho
(a). Continuo seguindo seus passos, nunca
estou mais do que um passo atrás. Em al-
guns momentos, estou mesmo um passo adi-
ante, esperando já, para abrir os braços e
amparar. Vejo seu caminhar, admiro sua for-
Quase dois mil dias contigo
ça, tenho orgulho de quem é.
Distâncias acontecem, aproximações tam-
bém. É a vida. De repente me dou conta que Por Lenival de Andrade
já estive aqui exatamente neste lugar e vejo
como a vida é perfeita. Em outras épocas,
estive aqui e era eu que chamavam filha. Era Meu amor
para mim que queriam dar conselhos. Para Único, Verdadeiro sem tirar nem por
mim que estendiam os braços. Dias maravilhosos você já me
Hoje sou eu quem olha para trás e sorri ten- proporcionou
tando não chorar ao lembrar o quanto já se Minha vida você apimentou, me deu
razão para viver e me emocionou
foi. Sou eu quem olha para diante e, com o
Estou me sentindo um doutor do amor
pensamento no presente, tenta guardar toda Amar você é bom e gostoso a todo
a força para tudo o que der e vier. mundo eu digo
Um dia, nasceu de mim este (a) filho (a). A Me tirou e livrou do perigo e castigo
vida assim o quis, fosse eu o seu canal para Ter você na minha vida a DEUS eu
aqui se expandir, crescer, ser o que é. E nin- agradeço
guém mais do que eu pode dizer o quanto de Nem sei se mereço mais de coração
agradeço
felicidade sinto por ter sido escolhida.
Por estar a quase dois mil dias contigo
Filho (a), sabe o que é amor? É você! E sen-
do você o amor, tudo o que posso dizer da
vida é que, graças a ela eu tenho amor.
Filho (a), esteja você onde estiver, sempre,
saiba apenas de uma coisa: eu estou do seu
lado. Olhe bem: eu estou do seu lado! Nunca
longe, nunca perto demais: do seu lado!
E como eu também sou filho (a), também sou
amor.
Por isto, ser que de mim brotou, sejamos es-
te amor que a vida é um para o outro. Sem-
pre!
E onde a vida o (a) levar, estique o braço se
precisar de ajuda: minhas mãos estarão lá
amparando os seus passos exatamente co-
mo quando andava nos seus primeiros anos.
Seja a sua vida como seus sonhos um dia
quiseram que fosse!
Sua mãe
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18. Varal do Brasil—julho de 2012
Aqui jaz um "turbinho"
Por André Victtor
aqui jaz um turbinho
que ainda filhote e chorão
tinha pêlo brilhante
era lindo e bravinho
aqui jaz um turbinho
cãozinho serelepe
jovem, travesso
e sempre doidinho
aqui jaz um turbinho
que adorava ir pro terreno
corria o dia todo
pulava dentro da piscina
e se molhava todinho
aqui jaz um turbinho
que viu meus filhos crescerem
nossa casa ser construída
ele era o nosso bichinho
aqui jaz um turbinho
que ganhou um companheiro
um outro cachorro ligeiro
guardiões o dia inteiro
aqui jaz um turbinho
que nunca teve luxo
mas tinha sua bela casinha
e o seu querido paninho
aqui jaz um turbinho
que com o tempo envelheceu
agora muito velhinho
ficou doente e faleceu
aqui jaz um turbinho
que junto dele levou
um pedaço de todos nós
e um outro dele deixou
______________________________________
* Homenagem ao nosso cachorrinho que partiu em 04/07/12.
* Beethoven (1999*2012)
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19. Varal do Brasil—julho de 2012
Minha vida
Por Isabel C S Vargas
Luz para meus olhos
Fonte de inspiração,
Meu porto seguro,
Âncora nos vendavais
Meu amor, meu tesouro
Tudo de melhor que me aconteceu.
Tua palavra me conforta
Teus braços me aquecem,
Teu olhar é farol luminoso
Que me aponta caminhos
Tuas mãos, instrumento
De transmissão das energias
Sem a qual viver se torna difícil.
Preciso de ti
Para não ser um grão de areia na tempestade
A última gota desperdiçada
Uma lâmpada sem luz
Um cristal despedaçado.
Preciso de tua luz
Porque sem ela não vejo caminho.
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20. Varal do Brasil—julho de 2012
O moreno da aquarela
Obra do pintor Custave Caillebot-
Por Vanessa Clasen te "Homem Jovem à Janela", de 1876
A artista pinga gotas de óleo sobre a tela e retrata você com
suaves pinceladas,
Suas formas vigorosamente tomam conta das folhas outrora
brancas e opacas,
Moreno sim, singelo nem um pouco,
de linhas fortes e voz de traço rouco,
Elegantemente trajado qual rei,
tal qual este bambino nunca avistei,
Olhos cor de imbuia, pele tal qual a seiva, alva e macia,
Âmbar e cardamomo se fundem a sensualidade latente do
gengibre e a força do cedro,
E um forte vento oriental quente sopra da sua pele envolvendo meus sentidos... Sem aviso me
quebro!
Desmancha minha inquietação, dissipa minhas duvidas e descortina meus olhos,
Pinceladas de carmim e pétalas sedosas compõe seus robustos lábios,
E num último toque eu te trago a mim, ganhas vida, sais do papel e corres em frente aos meus
olhos surpresos,
Meu forte desejo te criou e te tornou real, palpável, doce e estimulante, seguro e forte,
Lindo e perspicaz, maduro e sagaz, sereno e impulsivo, lânguido e caprichoso,
O oceano não te segura, ele não é páreo para nossa sede, e te traz para mim, leve, flutuante,
mas não oscilante; fervente nem tampouco latejante, amável e respeitoso, presente e provocan-
te.
Abro meus olhos e você está de volta à tela branca opaca. Se um sonho se fez, por que teu per-
fume está grudado a minha tez e teu sorriso teima em não sair do meu olhar com candura e ro-
bustez?
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21. Varal do Brasil—julho de 2012
Tua ausência em mim
Por Josselene Marques
Tal qual uma onda,
Tua imagem vem e volta
Toda vez que escuto aquela melodia...
A voz da consciência grita teu nome
E faz coro com o coração,
Que pulsa acelerado diante dessa miragem.
Nessas horas, percebo
Que meus sonhos ainda estão verdes...
Quando a melodia acaba,
Sinto o beijo do teu silêncio.
A lembrança de tuas promessas
Povoa-me a mente.
Entre suspiros, respiro o ar da noite...
Chego a uma conclusão:
Não estou só...
A tua ausência está em mim.
By the shore (Pela orla) by M&I Garmash – 20" x 24" on canvas).
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22. Varal do Brasil—julho de 2012
Voando pelos aeroportos do mundo
Por Valdeck Almeida de Jesus
Não importa quão longe você vá. Onde quer que resolva parar e viver, as necessi-
dades básicas precisam ser satisfeitas.
No aeroporto de Lisboa, ou em qualquer outro, além de comer, descansar, usar
sanitários ou internet para se comunicar, algo mais se impõe: o encontro.
Seja um caixa pra trocar dinheiro, uma tomada para recarregar a bateria do celu-
lar, ou um canto para sentar e observar ao redor. Outro encontro, este mais valio-
so e insubstituível é o olhar avistar e reconhecer alguém que estamos esperando.
O café “Slice of Variety”, em frente à saída de desembarque de passageiros, pro-
porciona a quem ali se alimenta por necessidade física ou para ocupar um lugar
privilegiado, ampla visão de quem chega de vários lugares do mundo.
Os olhos percorrem curiosos, vigilantes e ansiosos, cada movimento de pessoas,
em busca de reconhecer o ente querido ou simplesmente o cliente, o patrão, quem
chega. Não importa se negros, mestiços, asiáticos, sul-americanos ou noruegue-
ses. O ponto é de encontro, de identificação, de conexão.
Apesar de aeroporto ser um lugar de dispersão, de partida, é, também, lugar de
chegada e de passagem, lugar de ninguém, território neutro, lugar nenhum, só se
concretiza no encontro, na conexão entre seres afins e que se situam, no momen-
to do encontro, em um mundo possível e concreto!
Lisboa, 21 de abril de 2012
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24. Varal do Brasil—julho de 2012
Encontro Inesperado observo cada detalhe das pinturas, as cores, a
beleza dos traços, lindo e estranhamente fami-
liar; tento ler quem assina os quadros, não
Por Ana Rosenrot consigo reconhecer o nome e pergunto a um
rapaz ao meu lado se ele conhece o artista,
Mesmo com o ar condicionado deixando sorrindo, ele indica uma mesa, do outro lado
o ambiente quase gelado, eu sentia um calor do salão, onde o pintor está sentado, começo
insuportável, uma constrangedora gota de suor a atravessar o salão lotado para poder cumpri-
insistia em deslizar por minhas costas, tudo o mentá-lo e ao me aproximar um pouco mais,
que eu queria era estar bem longe, em casa, consigo ver seu rosto de perfil e imediatamente
sentada no sofá com um livro nas mãos, talvez paro, quase perco os sentidos; não pode ser
vendo televisão ou mesmo sem fazer nada, Luis Claudio, meu grande amor da juventude,
somente aproveitando a tranquilidade e a se- seria muita ironia, depois de vinte anos... en-
gurança que só sentimos no aconchego de contrá-lo justamente hoje...
nossa casa...Casa...Que casa...Acabei de sa- É tudo tão irreal, como se eu estivesse
ber que teremos que vendê-la, devido à parti- vendo um fantasma do meu passado, ali, há
lha dos bens, em nosso acordo “amigável” de poucos metros de distância... Luis Clau-
divórcio. Como sempre, Célio, agora meu ex- dio...com uma aparência jovem, elegante, bem
marido, fizera tudo da forma mais organizada sucedido− incrivelmente diferente do rapaz po-
possível: chamou-me, após o jantar - bre que conheci na adolescência, a cabeça
formal e requintado −, para dar a cheia de sonhos e a carteira
notícia de sua decisão, com os do- ... uma cons- vazia−; vejo que conseguiu
cumentos e o acordo prontos, até a realizar seus sonhos artísti-
audiência no fórum já estava mar- trangedora go- cos, ficou famoso, tornou-se
cada; fico a imaginar por quanto profissional.
ta de suor in- Sua presença me faz
tempo ele viveu ao meu lado, men-
tindo, fingindo que estava tudo mergulhar nas lembranças,
sistia em desli-
bem, enquanto elaborava, nos mí- nossos encontros proibidos,
nimos detalhes, o golpe final em zar por minhas quando eu te esperava, ansi-
nosso casamento de dezenove osa, atrás do muro da escola,
anos.
costas... com medo de que alguém nos
Agora, aqui estou, no segun- visse; nosso amor era tão pu-
do andar do fórum da cidade – onde ro, éramos jovens e inocentes,
nem em sonhos imaginei que um dia estaria−, para nós, tudo era tão simples, sonhávamos
esperando pela audiência que definirá legal- com um futuro cheio de amor, beleza e arte;
mente o que me pertence ou não, como se ca- ele queria ser um pintor famoso e eu uma can-
da objeto, com suas lembranças e familiarida- tora de sucesso; sonhos que minha família
des, não passassem de valores num acerto de achava impossíveis, apenas tolices de um ra-
contas de negócios; acho que meu casamento paz miserável, que estava tentando dar o gol-
se resumiu exatamente nisso: um simples ne- pe do baú, numa moça rica e boba como eu,
gócio. Mas, mesmo não sendo perdidamente que poderia ter uma carreira promissora, uma
apaixonada por meu ex- marido − coisa estra- vida brilhante.
nha e difícil de acostumar−, sinto-me derrota- Meus pais nos perseguiam, tornando o
da, perdida, sem saber o que fazer, completa- namoro cada dia mais difícil, ameaçaram matá
mente aparvalhada... -lo se eu insistisse em continuar o romance,
Para tentar esfriar um pouco a cabeça, então, para salvá-lo, decidi acabar com tudo,
desço ao primeiro andar do prédio, onde está aceitando as imposições familiares, me formei
sendo exibida uma exposição de arte, descen- no que queriam e pior, me casei− como meus
do as escadas, vejo pinturas a óleo maravilho- pais desejavam−, com um rapaz “adequado”;
sas; quem sabe com isso consigo esquecer o que hoje vai divorciar-se de mim, sem maiores
que me aguarda... Ando pelo salão iluminado, explicações.
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25. Varal do Brasil—julho de 2012
Descobri da pior forma, que o casamento sem suas palavras, as únicas depois de tantos
amor é uma prisão sem muros, enquanto Célio anos, foram tão poderosas que livraram minha
galgava posições nas empresas de meu pai e alma do desespero, sinto-me confiante e com
colecionava namoradas, eu me tornei uma coragem para iniciar uma nova vida, enfrentar
pessoa fria, uma dona de casa frustrada; a tris- o divórcio e voltar a viver, talvez a amar nova-
teza fez com que eu nunca mais conseguisse mente, ou reatar uma antiga paixão. Somente
cantar; fui ficando murcha, seca; observando o tempo, meu amigo e carrasco é que poderá
as rugas destruírem meu rosto e minha alma dizer.
morrer um pouco a cada minuto.
E hoje, o destino resolveu torturar-me
ainda mais, colocando meu único amor nova-
mente em meu caminho; preciso sair daqui an-
tes que Luis Claudio veja a mulher horrível que Amor à Amizade
me tornei, não suportaria receber, depois de
tantos anos; de alguém que nunca pude es-
quecer, um olhar de pena, ou repulsa; sei que Por Maria Moreira
se isso acontecesse, eu morreria aqui mesmo,
no meio do salão− causando um enorme es-
cândalo−, o que uma mulher da minha Amigos adorados, agradeço!
“posição”, não poderia se dar ao luxo. A alegria alcançada atualmente
Tento desviar das pessoas e encontrar Adornos de almas e apreço
a saída, fugir, correr, desaparecer, mas o local De amores altaneiros o presente
está muito cheio e sou obrigada a andar deva-
gar, quando finalmente chego às escadas, sin- Abençoados antes da aurora!
to um toque gentil em meu ombro, paro, sa- Ah! São aves alçadas em voo
bendo exatamente quem está atrás de mim, Atentas aladas se alvora
giro o corpo lentamente, não há como escapar; Amante das artes em revoo
ele sorri, ficamos assim, parados, olhos nos
olhos, vinte anos de amor perdido girando em Ao nascer do dia é planta
nossas mentes; todo meu temor desaparece A noite brilha o perfume
diante de seu olhar doce, nostálgico, não me Antes do amanhecer encanta,
sinto mais feia, nem miserável, sou novamente A aurora de amores e lumes.
a menina cheia de sonhos; estamos mudos,
pois, não haveria palavras para descrever o Amores que vem e se vão
que sentimos, nossos corpos estão tão próxi- Na aurora de dias vividos
mos, sinto a iminência de um beijo, me entrego Mas amor a amizade não
aos sentimentos, seguro suas mãos e me Estes perpetuam com vida!
aproximo mais, pronta para destruir as barrei-
ras; mas o encanto é quebrado pelo som dos
autofalantes chamando-me para a audiência;
lhe solto as mãos e vou subindo as escadas
com lágrimas nos olhos, antes de chegar ao
último degrau, ouço-lhe a voz ecoando no sa-
lão:
−Maria Helena, saiba que eu não te es-
queci e que você está mais linda do que nun-
ca!
Não respondo, subo correndo em dire-
ção à sala de audiências, mas, algo de repente
mudou dentro de mim, a tristeza e a sensação
de desamparo que eu sentia desapareceram,
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26. Varal do Brasil—julho de 2012
ONDE?
Por chajafreidafinkelsztain
Preciso de uma linda flor vermelha
Para enviar a quem mais quero
Que seja bela , perfeita e muito perfumada e... que
Transmita todo o meu sentimento...
Onde ... poderia encontrá-la?
Preciso de um belo vestido, sensual e arrojado
Quero sapatos e bolsa adequados, brincos e um
Colar combinando... preciso estar muito bela para
Quando encontrá-lo...
Preciso olhar a folhinha e escolher dia e hora
Do nosso encontro... e a partir disso ficarei planejando...
Planejarei dia e noite... enquanto a insônia
Não for vencida!
Quero sonhos belos com flores, correndo com cenas
Lindas... quero personagens ... mais belos ainda...
Preciso esquecer das dores que apertam e me magoam
Ah! se pudesse escolher...
Optaria por outro lugar... onde ...
Tanta coisa aconteceria! Os sinos repicariam sons seguidos
Anunciando o encontro... os ares soprariam uma brisa tão
Leve ! tão leve! l- e- v -í- s- s- i- m- a...
Cada qual saindo de um ponto , se encontrariam nesse
Local onde as flores emprestariam a paisagem o colorido
Diversificado e marcante, e o sol seria a testemunha.
A partir daqui... o destino tomaria as rédeas... e a ninguém
Mais importaria a vida deles!
No canto ancorado, o amor desabrocharia, sem medos e
Sem culpas...
No tempo marcado tudo aconteceria,
Só não sei onde?
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27. Varal do Brasil—julho de 2012
Hino de Amor
Por Sonia Nogueira
Quando a noite no silêncio ronda
Levando a canção aos namorados
Eu sinto meu pulsar em sons alados
Buscando amor, encanto ao teu lado.
É música afinada em sintonia
Trocando na distância as vontades
O mesmo acorde vem em liberdades
Inebriando o mote em agonia.
As notas dançam, riem debruçadas,
Vibrando cada tom em meu sonhar
Querendo teu sonhar no meu pensar
Nas cordas do violão extasiadas.
E nesta emoção as notas vibram
Quase desmaiada eu seu acorde
Envolta da emoção quase recorde
Duas notas dão-se e se cativam.
Hino de encanto que me desnuda
Em cada emoção pranto contido
No mudo coração, jardim banido,
Vai nesta poética a canção muda.
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28. Varal do Brasil—julho de 2012
AMANDO
Por Cléo Reis
Amar é conjugar o mesmo verso ,
viver o mesmo sonho
Compartilhar mistérios ,
dividir dúvidas e passar o tempo
na mesma espera
É querer o mesmo amanhã
Desejar o impossível, mas estar
juntos na realidade cósmica
Viver o êxtase no olhar
Ir até onde é permitido
e ficar feliz com pouco
Amar é ter o mesmo objetivo:
encher o mundo de amor.
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29. Varal do Brasil—julho de 2012
A Carta
Por Douglas Silva
Um dia escrevi uma carta de amor tão simples, pois por mais que eu tentasse gritar as palavras
pronunciadas jamais conseguiria transmitir todo o meu sentimento.
Foi um momento mágico escrever cada palavra que se uniram as minhas lágrimas que rolavam
pelo meu rosto, quando debruçado sobre minha alma procurava eu unir as humildes palavras ao
meu sentimento, na tentativa de simbolizar todo o significado do que eu sentia por você.
Após todo aquele momento de entusiasmo, na qual me perdi completamente, sem saber a real
explicação de tamanha emoção em compor tão singelos versos, eu que não sou dono de nada
me dei conta da magnitude do meu silêncio que junto às lágrimas fizeram com que as palavras
que um dia jamais entreguei ficassem eternamente gravadas em meu coração.
Foi ai que de um jeito muito especial passei a acreditar que o amor pode ser verdade. Por isso,
não sei bem o quanto as palavras significam, mas o importante é que nesse exato momento
seus olhos me olham sem aquela indiferença, que talvez nunca existisse, pois ser alguém espe-
cial é acreditar que a perfeição só existe quando um amor tão grande, oculto dentro da gente po-
de conseguir ir mais além que a intensidade simbolizada pelas palavras que insistem quase
sempre sem sucesso descrever o que é o amor. E que só foi percebida quando os olhos pude-
ram ultrapassar o que estava descrito no papel. Transformando a simplicidade da fala transmiti-
da pela a força do coração em um momento que ultrapassou a realidade de um sonho, sonho de
amar e ser amado.
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30. Varal do Brasil—julho de 2012
Outra história de amor: Sibila Essa cachorrinha nos causava momen-
tos hilariantes quando era chegada a hora de
(um amor canino) tomar os antibióticos, administrados por via
oral com seringas, pelo estado de euforia em
que ficava, só ao lhes sentir o cheiro; adorava
Por Guacira Maciel
esses momentos e saía me lambendo as
Ao escrever histórias de amor venho mãos para aproveitar os menores vestígios do
sendo perseguida pela certeza de que esta remédio.
também é uma delas. Um amor novo, mas
nem por isso de menor valor, muito pelo con-
trário, ele me tem servido como forte referenci-
al para as análises que hoje faço sobre esse
sentimento que dizem ser privilégio dos seres
humanos. Será?
Sibila é uma cadelinha insuportável, de
seis meses de idade; uma linda vira-lata que
virou princesa, mas por não ter uma ascendên- Pois, como nosso objeto de análise é o amor,
cia registrável sofre preconceitos por parte de esse sentimento tão controverso e maltratado,
seres humanos, os únicos que se dizem capa- posso afirmar jamais ter observado um amor
zes de amar. Minha filha e eu vimos morar nu- tão sem reservas, tão puro, tão espontâneo,
ma casa e assim ela pode realizar o sonho de sem máscaras e incondicional, o que me levou
ter um cachorro. Nós ganhamos Sibila de uma a pensar que os nossos próprios filhos, não
veterinária que lhe buscava uma família, por- nos dão para sempre e com tanta intensidade,
que a tinha encontrado na rua e não podia essa sensação, essa segurança, por precisa-
adotar mais um filho. rem um dia alçar seus próprios voos, o que
acho normal nessas circunstâncias.
Nos foi entregue desidratada, magrinha,
doente e infestada de pulgas. Logo percebi ne- Ao voltar para casa à noite, após um cansativo
la a fragilidade própria dos que não creem; dos dia de trabalho, às vezes desesperançosa e
que aceitam o abandono como destino, e a com receio de estar só, sou recebida por ela,
consequente solidão. Diante desse quadro, logo que abro o portão de casa, com uma ma-
precisamos interná-la numa clínica, e quando nifestação de felicidade, de saudade acumula-
retornou a nós, iniciamos uma verdadeira ma- da, que chega a me parecer um desvario, um
ratona com uso de medicamentos e alimenta- acesso de loucura...
ção adequada para que se recuperasse.
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31. Varal do Brasil—julho de 2012
Então, começa a correr de um lado para ou-
tro, desenfreada, sem cuidado e sem medo
de se machucar, dando a impressão de es- Ah, o amor!!!
tar chorando de felicidade com a minha pre-
sença. Quando saio do carro, pula sobre Por Ju Petek
mim, me arranha, me puxa a roupa numa
demonstração de extravasamento, de entre-
Ah o amor!!!
ga sem limites e sem cobrança pelo fato de
esse que envolve a todos nós,
tê-la abandonado por todo o dia; aí, se deita
que nos abriga e nos embriaga
aos meus pés pedindo um carinho e isso a
que nos tece
faz feliz...e isso basta...
e desce rumo e fundo ao coração.
Outro dia, ao falar sobre esse assun- ah! a alma nossa de cada dia
to com um amigo, me veio a resposta de que clama o pão do sustento,
que essa demonstração eufórica não seria que reza a prece do porvir do
amor.
amor, porque os animais são irracionais; e
ah! cada traço, cada linha,
se não pensam, não amam; seria apenas todo esse belíssimo em dizer ..
instinto. Mas que definição, que conceito te- amo amar
mos de amor? o que seria amar? o que nós, minha alma eleva-se ao amar,
seres humanos, sabemos sobre isso? por meus traços escrevem o amar ...
que, pretensiosamente, nos achamos os meus braços abrem-se ao amar
únicos seres capazes abrigar esse senti- doce amar de todo esse encanto
mento? Nós, que somos considerados ani- em simplesmente
mais superiores, somos capazes de ferir em naturalmente
nome dele, em nome do amor, oferecendo singelamente
uma incontestável prova de irracionalidade! ternamente
Não creio que o amor espontâneo e ... amar ....
puro que vejo em Sibila possa estar aprisio-
nado na racionalidade. E se os cães são ca-
pazes de amar, das duas uma: ou eles não
são irracionais ou os homens, que ferem in-
vocando o seu nome é que o são...
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32. Varal do Brasil—julho de 2012
CANÇÃO DE AMOR...
Por Luiz Carlos Amorim
Não quero falar do inverno, de solidão, de saudade. Quero falar de aconchego, de carinho, de
ternura. Quero falar de seu sorriso, dos seus olhos castanhos, da sua companhia. Pois eu gosto
de acordar com o seu beijo, de dizer-lhe "eu te amo", assim, de maneira simples, descomplicada
e sincera.
Gosto das coisas simples: de um sorriso de criança, de um rio de águas claras, de flores, cam-
pos e praças. E gosto do meu amor. Gosto da sua companhia, na noite quente ou fria, na tarde
de chuva ou de sol. Também gosto de poesia, seja com rima ou sem ela. Mas gosto mesmo é
dela, meu poema mais bonito...
Gosto de natureza, simplicidade, pureza, da flor do jacatirão, de terra, mar e de sol.
E gosto mesmo é dela. De segurar sua mão, de sussurrar no seu ouvido, de misturar nossos
eus. Gosto do sol na pele, mas gosto mais da luz dos seus olhos castanhos a aquecer minha
alma.
Gosto de sonhar, viajar, a bordo do seu sorriso. Ele me embala, me enleva; me leva de encontro
ao seu coração. Se embarco numa saudade, numa lágrima, numa dor, que falta eu sinto dela:
me perco pelo caminho, à procura da passagem, que é a janela do sorriso, o sorriso da chega-
da.
Aqueles olhos castanhos, brilhantes pedaços de sol, entraram pelos meus e nunca mais saí-
ram... Aqueles olhos castanhos - meigos, brejeiros, malandros, sinceros - são as luzinhas ace-
sas na janela do seu rosto, convite irresistível que me atrai para o aconchego carinhoso do seu/
nosso coração. E eu me sinto em casa, com todo amor que há lá dentro. Só saio pra ver de no-
vo aquelas luzes castanhas convidando-me a entrar.
E eu me refaço em nós. Sou eu, completo, por inteiro, sou nós, sou ser. Ela é parte de mim, in-
divisível, é coração que pulsa no meu peito, é luz a brilhar no meu olhar, é música a tocar nossa
canção, é ternura de mãos entrelaçadas, é carinho ao tocar de peles.
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33. Varal do Brasil—julho de 2012
absoluta
Calcada, na contrição dos atos de outrora...
FRATERNIDADE resultando no verdadeiro Amor!
Cuja proficiência exaltada, será a plena
Hernandes Leão harmonia!
E não mais, um tabu utópico, ante as nações...
Nós... não somos Seres beligerantes... A humanidade sentirá orgulho de seu
Rivais, de um mundo, mergulhado no caos progresso moral... sim, haverá esse dia!
E muito menos, Almas perdidas... e ignorantes Que o pássaro da pacificidade dos povos,
Somos, sim, responsáveis pelos nossos atos... coroará todos os vossos corações!
Mas, ainda existe uma "luz no final do túnel"... E ainda nesse dia, a população consagrada,
uma esperança! erguerá as mãos numa mutra de paz!
Ora! Somos a derradeira oportunidade de Gaia Em louvor à Grande Providência... e,
Basta que deixemos a benção Divina vivenciará o sublime Paraíso - tão almejado!
impregnar-nos, dia a dia... Malgrado; essa data demasiadamente
E quando percebermos, estaremos por especial, será o começo de um novo tempo
completo, em sintonia com a bem- consagrado
aventurança! Onde, o arco-íris verificar-se-á como uma
ponte sublimada e celeste... aquele que for
É necessário uma íntima reflexão pertinaz...
E com a razão compungida, caminhar... e
nunca esmorecer! O Mundo, o nosso planeta... tem
Com as emoções aspergidas, pela latente sentimentos... tem clamor!
essência da Criação E nesse momento, ele pede pelo mais distinto
E abandonar os corrosivos vícios, obliterando Amor...
paulatinamente o nosso Ser... ...O Amor da infinita bondade, igualdade e
comum felicidade!
Somos, Seres errantes... que estão destinados Ora! Necessita, da salutar e já ensinada,
à evolução! Crística Fraternidade!...
Somos chispas, da Grande e Onisciente
Eterna Luz!
Somos pontes de energia, que ao Todo,
conduz...
Somos, peregrinos em busca da perfeição...
...Enfermos, sedentos pela benção do
manancial da vida!
Cuja expiação, segue o constante curso dos
patamares
Almejamos a regeneração dos sentimentos
coletivos e singulares
Em prol, do amadurecimento cintilante, dos
nossos passos nessa jornada!
Afim, de vislumbrar um mundo
portentosamente melhor
Onde, as pessoas são equânimes e serenas,
pela conduta
Vivendo na mais benéfica reciprocidade
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34. Varal do Brasil—julho de 2012
Deságio do flerte... Um pequeno lembrete!
Por José Carlos Paiva Bruno
Harmonia da via, vida terapia sorria...
Espia magia pista, despista, conquista.
Pique esconde das almas, explique...
Um, dois, três é o pique, piquenique!
Verdade que resiste; toalha voar que existe...
Imaginação do paraíso, anjos quase com juízo,
Brincadeiras de amor em quase louvor,
Encontros sem pudor, talvez quase amor...
Interrogo minha prece, ópera de luz...
Certeza de corpos e mentes, limites latentes,
Infinita alma, sem as travas da calma, alva,
Alvo do gozo, delírio dum ponto, infinito pesponto...
Encontro, ligação do riso e do pranto...
Misterioso recanto... Conjunção do céu e da vontade!
Encanto onde as metades transformam-se no todo...
Confusão profusão do criador e criatura... Denodo?
Sei que são momentos de verdadeira embriaguez...
Alcance de tocar o astral... Melodia animal...
Crepúsculo da semelhança... Kabuki poente lembrança...
Truque muito rápido... Intrépido tornassol ácido!
Então entorna seus entornos... Quentes e mornos...
Gueixa que seduz... Atmosfera da era guardando a Terra!
Combinações e lembranças fugidias daquela trança...
Todo o sempre naquele momento... Idas e vindas ao pó...
Porque o que contém, conduz...
Dimensão além, almadraque da luz...
Almanaque de estarmos vivos,
Contidos ventres ativos...
Imagem: Maytê
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35. Varal do Brasil—julho de 2012
AMOR DE MÃE
Por Mariney K
Há alguns anos atrás, eu tinha uma casa em Cabo Frio.
O paraíso dos meus filhos adolescentes. Recebíamos muitos amigos.
Era sagrado passarmos, ali,nossas férias dos meses de janeiro e fevereiro e os grandes feria-
dos como Carnaval e Páscoa.
Embora eu tivesse em minha sala um quadro entalhado, escrito: "A dona da casa TAMBÉM
está em férias", em muitas ocasiões eu ia dormir no hotel, tal a lotação da casa que não me
permitia nem entrar e ir para o meu quarto.
Num destes feriados, o de Carnaval, recebemos um casal amigo e seus filhos.
Eram dois adolescentes e um menino, ainda pequeno, o temporão.
Eu, também, tinha o meu temporão: o meu filho mais novo, na época com 6 anos. O filho deles
tinha 7.
Eu me preparava para ir ao clube, da cidade, para pular o carnaval.
Meu filho, sentado numa cadeirinha de praia (daquelas tipo "espreguiçadeira") via televisão.
O filho dos meus amigos chegou por trás da cadeira e a puxou pra cima. A cadeira destravou e
fechou.
No ímpeto de não cair, meu filho apoiou a mão na cadeira que fechava e o pior aconteceu.
A cadeira, ao fechar, arrancou a unha do seu dedo polegar.
Foi um corre-corre danado. Por fim, recoloquei no lugar o "toco" de unha e prendi com espara-
drapo.
Dei algumas gotas de analgésico e ele foi dormir. Eu fui ao baile.
No meio da noite, o meu polegar começou a latejar.
E continuou, tão insuportavelmente, que decidi voltar pra casa.
No dia seguinte, sem ter conseguido pregar o olho, com tanta dor, o meu dedo
inchou e ficou preto.
Mais alguns dias e minha unha caiu.
Nem preciso dizer que meu filho jamais chorou de dor pelo machucado sofrido.
Aproveitou as férias, como sempre, intensamente.
Acho que amor de mãe é pra isso...rsrs. Nossos filhos não podem sofrer.
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36. Varal do Brasil—julho de 2012
SAUDADE DO MEU PAI
Por Mário Rezende
Senta aqui meu pai,
pertinho de mim.
Põe o pé no banco,
ou senta aí na cadeira de balanço.
Tenho uma coisa pra conversar,
falar da minha infância que vai longe,
das brincadeiras que a gente fazia;
meu coração saltitando de alegria
por ser seu filho, meu pai.
Galgava o corpo do meu herói
e sobre os seus ombros, confiante,
a melhor fruta eu alcançava.
Como era bom dormir nas suas costas,
embalado pelo sobe e desce
do respiramento do meu paizão
ou, na fresca da tarde,
no balanço da rede esticada no pomar.
Bons tempos que não voltam não é meu pai?
Aonde você ia, na certa eu estava atrás.
Que segurança você me dava,
quando em sua mão me apoiava
e com toda a ternura me abraçava.
Senta aqui meu pai,
agora eu sei o que você sentia.
Eu quero te envolver num longo
e bem apertado abraço.
Encosta a cabeça no meu peito,
na sua face eu quero dar um beijo.
O mais simples gesto de agradecimento
deste homem que por você foi feito.
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37. Varal do Brasil—julho de 2012
MÃE TERRA a dinossauros, leopardos e onças;
a bem-te-vis, beija-flores e corujas;
Por Norália de Mello Castro a peixes, baleias e pirarucus;
todas as piracemas da vida, sua missão:
Amores buscados, ser mulher junto a outras mulheres.
Suportes catados, abismos caídos. Ser homem junto a outros homens.
Por detrás dos carros ou através das janelas, Ser animal junto a outros animais.
ou mesmo em passos firmes, a longitude de Todos e tudo: a correr pelas pedras,
tudo: a cantar pelos ventos.
são tiriricas no descampado, desordeiros do a se pôr ereto quantas vezes necessário,
caminho,
principalmente a dançar todas as músicas
terra solta ou socada, sem manchas de asfal- que possa ouvir.
to – o artificial –
Sempre com as mãos cheias de terra.
contornados pelo verde de árvores e matas, Sempre.
cintilados de azul.
De coração aberto a quem perto estivesse.
Refazem aos olhos o sentido desse existir. Sempre.
A mão estendida num afago e beijos
Numa tarde, a resposta foi encontrada: estalados,
As argilas falaram entranhadas lá no fundo: quer seja gente feito a gente,
- Tu és barro, tu és terra quer seja a orquídea, até mesmo a
Tu és dessa Mãe Terra que te moldou espinhadeira,
e te pôs a descobrir púrpuras raízes quer seja animal, feito o rinoceronte.
sopradas de teu âmago.
Sou argila maravilhosamente
E a Mãe Terra se mostrou: trabalhada, detalhada, esculpida
fez ventanias, fez tormentas e também por esta Mãe Terra portentosa,
noites serenas com estrelas a entrelaçar dos que vibra ao som mais alto deste Desconhe-
ventos cido..
– ares amenos e brabos,
a emitir torrões de paladares Mãe Terra vibra, respira acolhe e enternece
dos mais apetitosos aos mais sofisticados a cada estalo de um gesto de filho seu.
alimentos. Não há pedra ou penhasco,
não há mistério
Mãe Terra sorriu, que impeça tamanho despertar:
acolheu e acalantou sua cria desgarrada. Amor
Postada então em reverência,
sentiu o mais alto dos animais
a correr pelos prados, montanhas, rios e
florestas:
num sopro interligado às folhas, flores e
frutos,
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38. Varal do Brasil—julho de 2012
Outras vidas
Por Renata Iacovino
Amor meu, sempre penso: em outra vida
(mui antes desta aqui, pois, existir),
comungavam destinos que hão de vir.
Por quê? Pra quê, se nas crenças caídas
as máculas se tornam o porvir?
Se não te mantivesses escondida,
se o passado foi sem a despedida,
é porque algo faltou a construir.
Por isso nesta vida te encontrei,
pra resgatar algum elo que havia
e, ah! Como saber?... Nunca eu saberei...
Mas pressinto que aquilo que nos guia
será cumprido tal qual uma lei
e isto independe, até, no que se fia.
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39. Varal do Brasil—julho de 2012
Planeta Terra
Por Yara Darin
Nossa Terra , tão amada...
Com o seu calor nos envolve,
Com o seu amor, nos acolhe,
Nos dá imensa fartura,
A beleza do mar,
As ondas que se agitam,
Na claridade do luar.
A suavidade dos campos,
A singeleza dos pássaros,
A abundância dos alimentos,
A imponência das montanhas.
Planeta amado, te agradeço
Neste tão nobre gesto,
De me trazeres aqui à morar,
À viver nesta intensa energia
tão abrangente...
Neste sol que me aquece,
As estrelas dos meus sonhos,
O luar dos meus encantos,
Que em noites claras me banho.
Pelas águas que me saciam,
As chuvas que lavam a m"alma,
Pelos amores que me amaram,
Pelos filhos que me fizeram,
A mulher mais feliz deste planeta.
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40. Varal do Brasil—julho de 2012
AMOR NÃO HÁ
Por Roberto Armorizzi
Como o amor é perdível,
desmancha-se no mero esperar,
acaba-se ao ver-se invencível,
ou perde-se no começar.
Como o amor é volátil,
dispersa-se ao se firmar,
esfuma-se ao se ver tátil,
deságua-se em seu chorar.
Como o amor é sofrível,
termina-se quando é louvável,
esboroa-se quando é crível,
Imagem: Khimaereus
esparsa-se no mero afável.
Como o amor é passível,
espraia-se aqui e acolá,
encontra-se no impossível,
conclui-se que amor não há ...
Mas ele ainda há de chegar.
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41. Varal do Brasil—julho de 2012
Uma carta necessária
Por Maria Eugênia
Destinatário: O amor
Quem és tu, amor que eu tanto busco?
Estive tentando detê-lo junto ao meu corpo num
abraço quente, mas parece que nunca conheci
realmente a tua face, parece que ela, ficou de
mim escondida.
Talvez, nesse abraço desesperado eu tenha de-
sejado possuí-lo mais que compreendê-lo e por
isso, porque és filho da liberdade amor, tu me
deixaste.
Abandonaste-me, deixando-me sentada no
chão da sala. Foste para algum lugar incerto e
distante.
Ai amor, não me deixaste só abandonada, me
deixaste órfã, sem referência, sem endereço.
E passado tanto tempo, descobri que moras
sempre na felicidade. Eu, por não estar contigo,
fui despejada. E num ato vil de vingança colo-
NASCEMOS PARA O AMOR
quei em teu lugar várias paixões. Fui tola ao
pensar que um número sem fim de paixões su- Por Carlos Roberto Pina de Carvalho
plantaria o verdadeiro amor.
E perambulei como que bêbada, caindo de
abraço em abraço, voltando para casa só, Nascemos para o amor
olhando-me no espelho e vendo-me como que E para o mistério das palavras
vazia. Sem me conhecer, dia após dia tornei-me
outra, até reconhecer que não posso possuí-lo, Que ouvimos e pronunciamos.
somente cultivá-lo em mim.
Assim, eu me curvo amor, diante do teu poder e Nascemos para o amor
te peço, uma vez que tens esse poder infinito:
"Traga para perto do meu coração o Meu Queri- E para a paz do quarto
do"! Onde está a mulher amada.
Nascemos para o amor
E para o amor renascemos
Todos os dias!
Www.varaldobrasil.com EDIÇÃO ESPECIAL VARAL DO AMOR 41
42. Varal do Brasil—julho de 2012
MINHA MÁXIMA CULPA, Aureliano estava uma grande, absoluta e qua-
MEU AMOR MÁXIMO se intocável timidez. Timidez essa que a ale-
gria contagiante expressada em sorrisos, bom
gosto musical, inclinação para as danças
Por Ivane Laurete Perotti quentes e movimentadas fariam por cavoucar,
extrair, arrancar.
Zelinha era uma daquelas mulheres que sabe _ Você não é tímido!
sorrir com a alma. Bom, melhor dizer o que ela _ ...
mesma diz: _ Você é egoísta!
_ Eu sabia sorrir! Sabia! _...
Segundo as falas de Zelinha, sua alma trans- _ Meu Deus, Aureliano. Você não abre a boca
bordara em sorrisos, alegria, boas amizades e nem mesmo para se defender?
todo o restante das manifestações que fazem _ ...
a vida valer a pena ser vivida. Zelinha sabia _ Eu respeito o seu jeito, mas nós dois preci-
viver, até o dia em que decidiu desposar Aure- samos conversar.
liano. _ ...
Existe um axioma popular que determina o iní- _ Você é o meu parceiro, eu quero conversar
cio dessa história ainda real: com você!
_ Água e vinho não se misturam, minha filha. _ ...
Não se misturam! _ Casei com você para sempre! Nós vamos
_ Ora, minha mãe! Não é água e vinho. É envelhecer e precisar um do outro...
água e óleo! _ Estou me sentindo sozinha!
_ Que seja! Estou dizendo que muitas mistu- _...
ras não dão certo. _ Está bem que você não goste de nem de
_ Mas ele é tão bonzinho... vinho, nem de água, nem de óleo, nem de
_ Bonzinho não é a palavra certa. azeite...
_ Mas... é honesto. _ ...
_ Sim! É! _ Eu não sei do que você gosta!
_ Então, mamãe! Se ele é a água e eu o vi- _ ...
nho... _ Aureliano, olha para mim!
_ O óleo! _ ...
_ Não! Prefiro o vinho...
_ Hum!!! Quarenta e oito anos depois, com um rol de
_ Talvez a mistura faça bem para nós dois. diálogos traduzidos pelo silêncio de Aureliano
_ Desde quando você gosta de água tingida? e as tentativas de Zelinha ela entendeu o in-
_ Você está sendo severa, mãe! compreensível:
_ Melhor você pensar... agora ainda dá tempo _ Você não sabe se está vivo, Aureliano.
de desistir. _ Au! Au! Au!
_ Eu gosto dele! _ Bonitos vocês dois! Diz para o seu cachorro
_ ... que eu não quero que ele se meta na conver-
_ Às vezes ele me lembra o papai. sa!
_ Nunca! Seu pai gostava de vinho puro e... _ Au! Au! Au!
_ E, o que? _ Desisto!
_ Seu pai era um homem vivo!
_ Mamãe!? De acordo com Zelinha, desistir também era
_ E sabia abrir a boca para conversar. uma forma de aceitar o que não poderia mu-
_ ... dar. Tentara, e quem a conhecia sabia do es-
forço que fizera durante mais de quatro déca-
Esse era um ponto. das.
Zelinha pensava que por trás do silêncio de
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Esforçara-se para descobrir do que Aureliano ficando!
gostava. Incentivara-o a participar do que ela
gostava. Tentara descobrir com ele novos gos-
tos. Buscara amigos que gostavam deles e Sabia disso!
queriam ajudar na empreitada de devolver a Não havia dúvidas sobre a distância que Zeli-
alegria à mulher que soubera sorrir. Buscara nha e Aureliano mantinham vivendo juntos há
ajuda para Aureliano descobrir sozinho. tanto tempo. Quem os conhecia lamentava a
Nada! situação que sombreava dia a dia o semblante
Ou melhor: tudo estava perfeito da forma que antes iluminado de Zelinha.
estava, para o Aureliano, claro! Ela deixara de dançar, para não ofender a hon-
Ele vivia da forma que gostava. Vivia bem, se- ra de Aureliano e a sua própria: mulher casada
gundo olhares externos. Não mostrava sinais deve ficar com o marido. Sim, ela ficara!
de qualquer tristeza, de enfado, de desconcer- Deixara de sorrir, por que fora perdendo o viço
to, de cansaço... tanto quanto não apresentava que lhe subia da alma. Sorrir sozinha? Para
qualquer outro sinal. Aureliano vivia. Simples- quem e por que motivo? Mulher casada se
mente vivia, como que sugando o ar que lhe comporta como mulher casada!
passava sem pressa e preço pela frente das Deixara de ir a festas porque Aureliano não a
narinas. acompanhava. Mulher de família acompanha o
E parecia viver ainda melhor desde o dia em marido. Ela acompanhara, na solidão em que
que descobrira sua afinidade visceral com os sua vida se transformara.
mamíferos da raça canina.
O filho, como todo filho, cresceu rápido demais
_ Eu não quero esse cachorro na nossa cama! e tomou o próprio rumo. Zelinha só tivera um
_… filho, um único filho para alegrar sua existên-
_ Não quero! cia. Nem sabia exatamente como e por qual
_ Au! Au! Au! milagre o tivera, pois Aureliano também esque-
_ Ora! Você pare de latir que a conversa ainda cia de comparecer em suas obrigações mari-
não chegou aí. tais.
Chegara! A conversa chegara até o universo
canino dos vira-latas que Aureliano trouxera de _ A partir de hoje, vou dormir em quarto sepa-
algum lugar. Chegara e fazia efeito sobre as rado.
percepções do bicho. _ ...
_ Pode uma coisa dessas? O seu cachorro me _ Ouviu, Aureliano?
responde e você, depois de todos esses anos _ Au!Au!Au!
continua sem falar nada! _ Você, eu sei que ouviu, não é?
_ Au! Au! Au! _ Au!Au!Au!
_ Mas é claro! A cama agora é toda sua!
Era demais para Zelinha. Tudo bem aceitar o _ Au!Au!Au!
marido mudo, quieto e parado já que não havia _ Minha nossa! Estou conversando com um
escolha. Mas deixar um cachorro ocupar o seu cachorro! Acho que fiquei maluca!
lugar na cama, já era demais até para ela, es- _ Au!Au!Au!
colada em paciência e boa vontade! _ Você não acha nada, Totó! Nada!
Conversou com o filho que a apoiou incontes- Para garantir a sua sanidade mental, Zelinha
te. Era também difícil para ele conviver com esmerou-se em organizar o novo quarto. Com
aquele pai silencioso que em nada expressava a ajuda do filho e da nora, pintou as paredes
estar ciente da vida que levava. de uma cor viva, alegre, aberta. Comprou uma
cama de viúva...
_ Ele não é doente, mamãe! Simplesmente é o
jeito dele! _ Mamãe!
_ Que ele não é doente, eu sei. Mas eu estou _ Meu filho, eu sou realista! Realista!
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para a sorte, segundo ela mesma, não se des-
tinavam ao universo marital. Sorte no amor? E
quem imaginaria ser possível arriscar em um
contexto tão... tão...
_ Tão improvável! Movediço!
_ Mamãe! Eu sou o resultado de seu casa-
mento.
_ Para ter você eu não precisaria ter casado...
_ Mãe!?
_ Não se faça de desentendido, meu filho! É
isso mesmo! Eu casei sem conhecer o seu pai.
_ Está vendo? A responsabilidade também é
sua.
_ Eu nunca disse que não era. Se eu soubes-
se o que sei hoje, teria mandado o seu pai pa-
Com o apoio da nora, instalou um computador, ra a p...
conectou-se a todas as redes sociais disponí- _ Mamãe!
veis, assinou canais pagos de televisão, refor- _ Palavrões fazem bem à saúde. Limpam a
mou o antigo aparelho de som e... garganta e desanuviam a alma.
_ Estou virando gente! _ Você também deveria dizer alguns vez ou
_ Não exagera, mãe! outra. Faz bem!
_ Isso é pouco, meu filho. Muito pouco. _ Você mesma me ensinou o contrário.
_ Erros de percurso, meu filho. Erros de per-
Ainda com a ajuda da esposa do filho, apren- curso.
deu a acessar as músicas que gostava via in-
ternet, a enviar e-mails com anexo em alta ve- Zelinha montou o quarto a seu gosto e prazer
locidade e a usar a câmera do computador. completo. Nada faltava na fase da indepen-
dente convivência com Aureliano e seu ca-
_ Mamãe, será que precisa instalar essa câ- chorro vira-latas.
mera?
_ Por que não? O cachorro, pobre animal, não poderia ser pe-
_ E por que sim? nalizado pelo dono que o representava.
_ Deixe sua mãe, meu amor. Ela está se rela- Verdade verdadeira, ela não sabia exatamente
cionando com o mundo. Deixe. quem comandava quem, quem representava
_ Ah! Vocês duas... quem, mas na dúvida, a responsabilidade legal
_ Cuidado, meu filho. Um percentual seu é do recaía sobre o de duas patas. Dos dois, sua
Aureliano. apreciação tendia, em momentos de silêncio e
_ Ô!, mamãe, só estou preocupado com a sua paz, a quedar-se sobre o Totó, ser iracional,
segurança! indefeso, sem muitas escolhas. Um vira-lata
_ Há quase cinquenta anos estou segura de- cuja fidelidade ela admirava. Olhar para dentro
mais! Demais! daquela alma canina a levava a conjecturas
_ Mãe... sobre as atitudes de Aureliano: teria levado o
_ Você sabe que tenho razão! cachorro para a cama de casal por que dese-
java que ela, Zelinha, deixasse o leito? Porque
preferia a companhia do cachorro a dela?
Zelinha tinha razão. A última vez em que arris- Não tinha dúvidas sobre a assertiva das duas
cara em alguma situação na vida fora no dia questões, mas será que Aureliano usara o ca-
em que, a despeito de todas as falas de sua chorro para economizar o contato verbal? Sim,
mãe e conhecidos, aceitara casar com Aurelia- pois o visual era manifestação inválida na vida
no. Arriscara e descobrira que suas tendências dele desde há muito e muito tempo.
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O quarto era um espaço próprio, único, inde- _ É!
pendente. Sua identidade amarfanhada agora _ A senhora já tentou, com jeitinho, com muito
tinha um lugar para resgatar-se. Vivia sozinha jeitinho, fazer com que ele...
a dois fazia tanto tempo que dar-se o luxo de _ Com jeitinho, com jeitão, com carinho, com
não sofrer mais quase, quase, quase gerou gritos, com pedidos, com ameaças...
culpa. Gerou, mas tratou de empurrar o senti- _ É difícil. O sogro é um pouquinho distante!
mento que surgia em situações específicas _ Um pouquinho? Minha filha, reveja o seu
para a “ilha” de quadros passados e presentes conceito sobre distância!
que amparavam os movimentos de sua liberta- _ É...
ção. Ilha essa que ainda sofria _ É só isso. Eu já aceitei. Mas não vou dividir o
caixão com ele. Ainda mais um caixão cheio
de pelos.
Maremotos com algumas lembranças e pre- _ Sogra! Não fale assim. Aqui é sua casa.
senças de sua condição de “mulher do Aurelia- _ Minha casa está fechada há muito tempo,
no”. Olívia. Mas não vou ajudá-lo a me enterrar vi-
Em algum lugar da cidade, por todas as ra- va também!
zões que explicam uma cidade pequena, uma _ Ai!, sogra! Vamos parar com essa conversa
família grande e pessoas interessadas na vida pesada.
alheia, havia alguém pronto para perguntar-
lhe: Zelinha tentava, mas ainda era pega pelas ar-
madilhas que ela mesma criava. Falar do Au-
_ E o Aureliano, melhorou? reliano era mais comum do que desejava.
_ E ele estava mal? Decidiu que o marido não entraria em seu es-
_ Como assim? Você é a mulher dele e não paço.
sabe como ele está?
_ Saber eu sei, mas não foi isso que você per- _ Quero vocês dois longe de minha porta.
guntou. _ ...
_ Mas, vocês não moram juntos há cinquenta _ Au!Au!Au!
anos? _ Entenderam?
_ Pois é, para você ver. A casa é muito gran- _ ...
de. _...
_ ... O silêncio de Totó poderia ser uma negação.
Não!, ele não entendera; não!, ele não queria
O olhar espanto-julgamento-condenação não entender; não!,ele entendera e não obedeceria
falhava. Mudava de rosto, alterava a duração e e, portanto o problema estaria instalado mais
o comprimento, mas estava lá! Infalível! uma vez.
Falar do marido na rua? Superara essa fase.
Aprendera que ao falar de Aureliano vivencia- _ Eu vou colocar você para fora, Totó! Me res-
va novamente a situação que contava, tama- peita ou eu lhe deixo no olho da rua!
nha a frustração acumulada pelas décadas de _ Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!!!
desencanto. E ainda, precisava lidar com um Era a prova de sua desconfiança. Teria outros
outro olhar, o do tipo “eu não disse?”, sem sa- problemas com o cachorro além dos atuais.
ber qual das duas situações a enfurecia mais. _ Vou marcar meu território.
Dessa forma, optara por se fazer de desenten- _ Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!!!
dida, desinformada, desconhecedora de qual- _ Faço xixi aí se for preciso. Mas daqui você
quer assunto relativo ao marido. não passa!
_ Sou uma viúva de marido vivo. A delimitação por dedo em riste e a linha ima-
_ Não seja tão radical, sogra. ginária traçada de uma parede a outra exigiu
_ Mas é a pura verdade, Olívia. correção material após a primeira saída de Ze-
_ É... linha.
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_ Quem mandou você sujar o meu tapete? antigas peças da tragicomédia: “muda-se o
_ Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!!! palco, mas os personagens são os mesmos
_ Tal dono tal cão! em histórias que se repetem”.
Novamente Zelinha encheu-se de vontade e Zelinha foi chamada para várias reuniões em
aumentou o espaço de seu espaço. Tomou grupos de mulheres interessadas na solução
como território particular a pequena sala que pacífica das diversidades domésticas.
antecedia o seu quarto. Tomou, particularizou De reunião em reunião ela dividia parte de
e colocou uma porta segura para garantir que sua história, especialmente a que explica co-
nada além dela e de quem convidasse pudes- mo deixara de fazer o que gostava e agora se
se se aproximar do território recém conquista- recuperava aprendendo a fazer coisas novas.
do. Zelinha conheceu mulheres com histórias pa-
recidas com a sua. Conheceu outros Aurelia-
_ Ninguém mais vai me fazer passar pelo que nos que apesar de não expressarem direta-
eu não quero. Nem mesmo você, Totó! Nem mente o descontentamento que sentiam, dei-
mesmo você! xavam claro que ela poderia ter permanecido
onde estava por mais tempo.
Espaço ampliado, consciência expandida. Criou um blog onde escreve suas impressões
Zelinha gostou da ideia de aumentar seus do- diárias, responde dúvidas, opina, expõe con-
mínios e resolveu comemorar a nova conquis- selhos, dita receitas de como manter-se a sal-
ta: vo da invasão de identidade em casamentos
que amadurecem sem crescer para lado al-
_ De grão em grão a galinha enche o papo. gum.
_ Não entendi, mamãe!
_ É simples: aos poucos, como quem não quer
nada... Zelinha hoje completa 82 anos de idade e
_ Mamãe! mais e mais algumas décadas de Aureliano.
_ Você está exagerando, meu filho! Sou sua Totó morreu de velho. Zelinha, compadecida,
mãe! presenteou seu marido com uma cachorrinha
_ É! Ainda bem que você lembra! peluda e cheia de vontades.
Aureliano tomou-se de tal arrebatamento dian-
A esposa de Aureliano convidou as duas ami- te do novo cachorro que tentou esboçar um
gas mais chegadas, companheiras de infortú- sorriso de agradecimento.
nios semelhantes em número, grau e gênero, Zelinha entendeu: quem não tem gato, dorme
casadas com outros Aurelianos da vida para com cachorro.
inaugurarem sua sala de visitas. E afinal, a culpa era dela, só dela se, aos qua-
se noventa anos Aureliano ainda era o mes-
_ Uma sala só para você? mo.
_ É só uma salinha...
_ Mas é para você! _ Minha culpa, meu filho. Minha máxima cul-
_ Com certeza! Aqui ninguém entra a não ser pa!
que eu queira.
_ Quando você vai tomar o resto da casa? _ Mamãe!...
_ Bem, a cozinha não me interessa. Afinal, o
Aureliano faz comida como ninguém. E a la-
vanderia... humfp! Deixa lá para ele pensar
que ainda tem a maior parte!
_ Mas...
_ Devagar, minha amiga! Devagar!
A novidade se espalhou. Afinal, como já dizia
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MEU BEM
Por Anna Back
Há tanto tempo te amo, e nem cansei!
Há tanto tempo te conheci, nem percebi.
Que o tempo passou...
Que os filhos vieram...
Cresceram, estudaram, amaram...
E nós paramos!...
Paramos para lamber as crias,
Planejar a educação, a formação,
De cada um e de todos.
E eles foram, alçaram seus voos.
De sonhos e buscas, encorajados por nós.
Foram e vieram, para a escola, para a vida.
E nós, mais uma vez, paramos.
Paramos para achá-los lindos,
Presentes dos céus, os maiores.
E os melhores troféus...
E vieram os netos, tesouros ímpares.
E o amor na família, redobrado foi!
Os meninos viraram homens,
E a menina, mulher já é.
E nós paramos!
Voltados um para o outro.
Percebemos o quanto nos deixamos levar,
Na correnteza da vida e do nosso amor.
Vivência e convivência, cumplicidade...
Nos sentimos ainda no início,
No estremecer da primeira vez,
Com a experiência de milhares de vezes,
Na cama e na vida, a idade não é empecilho.
Pois temos o espírito empreendedor,
Queremos sonhar, para nós e para os filhos.
E viver...viver... Meu bem!
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