2. O conceito de região é trabalhado
tradicionalmente no sentido geográfico
como se a natureza por si só isolada da
sociedade e, portanto daqueles que
constroem o território pudesse dar as
características essenciais de uma região.
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3. No caso, o nordeste brasileiro se
caracterizaria por ser uma região semiárida e
a
Amazônia, uma região quente e
úmida, portadora da maior bacia hidrográfica
do mundo e da maior floresta do mundo e
etc...
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4. Este ufanismo geográfico perde
sentido, isolado da geohistória e nos tem
levado a interpretações deterministas de
nossa região como é o caso de O rio
comanda a vida, esquecendo
completamente a conjuntura
econômica, política e social em que fomos e
estamos envolvidos, e que tem determinado
nossas atividades econômicas.
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5. A Geohistória do Brasil
e, consequentemente, a Geohistória da
Amazônia só podem ser entendidas dentro do
quadro geral da expansão comercial e
colonial da Europa na época moderna. É
dentro desse quadro que se deve buscar a
formação e a organização da economia e da
sociedade brasileira nos três primeiros
séculos.
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6. É daí que tiraremos os elementos para
entendermos corretamente as situações que
foram sendo criadas posteriormente e que
foram construindo a Geografia do nosso país, a
sua paisagem geográfica e consequentemente
a sociedade regional amazônica.
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7. Antes de tudo é preciso distinguir a
empresa colonial da simples exploração
comercial. A exploração comercial se
restringe à circulação das
mercadorias, enquanto que a colonização
requer investimentos na produção.
Consequentemente requer a fixação dos
produtores nos locais de produção.
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8. Daí falar-se em povoamento, ou seja, a
necessidade da presença dos elementos
da metrópole para organizar a produção
local em função das necessidades e
exigências da metrópole. A economia
local e desorganizada pelo colonizador e
reorganizada em função de seus
interesses.
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9. Este é o padrão da expansão
capitalista em todo mundo.
Desorganiza o local e reorganiza em
função de interesses que estão muito
longe das populações locais regionais.
É a globalização.
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10. A exploração das regiões coloniais
bem como a sua colonização exigiam
grandes investimentos de capital que
correriam grandes riscos de não
apresentarem retornos imediatos.
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11. Além disso, nesta etapa da formação do
capitalismo, a organização dos empresários
em sua fase concorrencial não tinha
condições de bancar sozinha o
empreendimento colonial, daí a presença do
Estado como elemento centralizador de todo
tipo de recurso em nível nacional para o
empreendimento colonial.
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12. É nessa conjuntura e a partir dessas
necessidades e interesses e, sobretudo, a
partir das alianças entre o poder público e
a iniciativa privada que se elabora e se
desenvolve a chamada política
mercantilista.
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13. A política mercantilista preocupa-se em
resguardar com exclusividade as
regiões coloniais e manter com elas o
monopólio do comércio. Esta política
monopolista permite à metrópole
minimizar os custos de produção dos
produtos coloniais e impor preços aos
produtos finais.
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14. Assim, a venda desses produtos na sede
metropolitana ou em outras metrópoles só
beneficiou a burguesia mercantil
metropolitana que se apropria das rendas
das populações das colônias, das rendas
das populações das sedes metropolitanas
e das rendas das populações das outras
metrópoles.
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15. Assim a política mercantilista estabelece
relações altamente vantajosas para as
metrópoles e altamente prejudiciais às
colônias, iniciando o processo de
enriquecimento das metrópoles européias à
custa do empobrecimento cada vez maior das
colônias ultramarinas.
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16. Esta política mercantilista organiza a produção
colonial dentro das condições geográficas
intertropicais como prolongamento e
complementação da economia das
metrópoles situadas nas áreas temperadas.
As colônias situadas nas regiões intertropicais
colocam-se como regiões complementares da
economia das metrópoles situadas nas regiões
temperadas, produzirão aquilo que as
metrópoles determinarem.
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17. Outra conveniência metropolitana é que as
colônias se especializem nas monoculturas
ou em poucos produtos, as plantations, cana-
de-açúcar, algodão, café, soja, etc... e se
tornem consumidoras dos mais variados
produtos produzidos nas metrópoles, sendo
isso mais um fator de enriquecimento
metropolitano e empobrecimento das regiões
coloniais.
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18. Além de tudo isso a metrópole determinará a
maneira de produzir os produtos coloniais
com a maior lucratividade possível para o
empresário metropolitano. Assim não se
adota nas regiões coloniais o trabalho
livre assalariado, já em plena expansão
nas metrópoles, mas formas de trabalho
compulsório o escravismo.
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19. Com a abundância de terras ainda não
privatizadas nas regiões tropicais seria
impossível controlar as invasões dessas terras
pelos assalariados livres para constituírem uma
economia de subsistência voltada para seus
próprios interesses e não para atender
interesses dos metropolitanos. Daí a produção
colonial se realizar escravizando os índios
inicialmente, e posteriormente os negros
africanos.
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20. Quando o tráfico de negros africanos se
torna um negócio extremamente lucrativo
sem os embaraços da escravidão dos
índios, a escravidão dos negros é
intensificada para prover a mão de obra
da produção colonial.
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21. Concluindo, a empresa colonial, ou seja, a
colonização das regiões tropicais fundamenta-se
no monopólio comercial, daí advindo todas as
outras características e exigências da
colonização das regiões tropicais:
resguardo exclusivo das regiões
coloniais;
complementariedade da economia
metropolitana;
especialização na produção;
estrutura agrária latifundiária associada
ao trabalho escravo
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22. Deve-se notar que esta política mercantilista
de conservar a Amazônia como região
colonial extrativista se mantém até os dias
atuais.
Passamos do extrativismo florestal para o
extrativismo mineral, mas continuamos
extrativistas, mandando matérias-primas e
consumindo produtos industrializados. As
nossas matérias primas continuam saindo in
natura para os grandes centros industriais e
retornam em forma de produtos acabados.
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23. Basta analisar como foi a exploração do
manganês do Amapá, do ouro de Serra
Pelada; como funcionam atualmente, a
Vale do Rio Doce e a Albras/Alunorte
etc...
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24. É muito fácil constatar as desvantagens dessas
relações, basta comparar quanto custa um quilo
de borracha in natura e quanto custa um tênis
importado, quanto custa um quilo de minério de
ferro de Carajás e quanto custa um quilo de
prego, ou um terçado ou martelo. Quanto custa
um barrinha de alumínio e quanto custa uma
panela de alumínio, por exemplo, etc....
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25. Quanto aos determinantes de nossas
atividades econômicas é fácil constatar.
Historicamente iniciamos coletando as
drogas do sertão para atendermos aos
gostos e interesses dos europeus.
Passando a coletar leite de seringueiras em
função da indústria automobilística, que
demandava pneus e derivados da borracha.
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26. Atualmente, são os nossos
fármacos, produtos farmacêuticos
advindos da floresta, objetos da cobiça
internacional, que dá lugar a biopirataria.
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27. Em Manaus instalou-se um distrito
industrial eletroeletrônico não em função de
nossos interesses ou necessidades, mas
em função dos interesses das grandes
corporações multinacionais.
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28. Incentivou-se em toda Amazônia o cultivo
da juta não em função de necessidade
sentidas pela nossa comunidade, que
precisa de arroz, feijão, milho, etc... mas em
função de embalar esses mesmos produtos
produzidos em outras regiões do país.
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29. Finalizando, constata-se que os atuais
investimentos feitos na Amazônia
obedecem à mesma lógica de mantê-la
como região colonial. Os grupos
empresariais capitalistas condicionam seus
investimentos aos incentivos fiscais.
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30. O Estado continua associado aos interesses
privados, bancando a maior parte dos
investimentos, transferindo recursos
públicos para investidores privados.
Tudo feito com a
ideologia do desenvolvimento.
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31. Essencialmente a Amazônia continua sendo o
Eldorado, o lugar do enriquecimento rápido e
fácil, onde a exploração da natureza e a
exploração e expropriação da sua força de
trabalho, os trabalhadores índios e
caboclos, cabocas, ribeirinhos e outros são
incentivadas e legitimadas pelos aparelhos de
Estado, perpetuando o lema: Ultra aequinotialem
non peccatur.
(Não se comete pecado na linha do equador).
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32. Atualmente a Amazônia sofre
as consequências desastrosas
da “Operação Amazônia”.
O que será da Amazônia
após as obras do PAC?
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