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Língua Portuguesa:
a pesquisa e o trabalho em sala de aula

                                  dlp em ação
                 diálogos sobre ensino e pesquisa - 2012
Clubes de leitura:
          a construção de sentidos
em situações de leitura colaborativa

                9º encontro – 15/05/2012
                   Andréa Schmitz-Boccia
Para começar...

   o que é ser leitor?


   qual é a sua trajetória pessoal com a leitura?


   e que papel teve a escola nessa trajetória?
O ser leitor
   O leitor autônomo é aquele que coopera com o
    texto, transcende o literal e embrenha-se no não
    dito. Sua interlocução com o texto é genuína. Ele
    não vê o texto como fechado para o mundo, já
    que sabe que é preciso contextualizá-lo sempre.
    Mas, enquanto o tem nas mãos, busca apropriar-
    se dele, em uma atitude de atenção e
    colaboração.

   Jouve (2002, p. 64): espaços de certeza e de
    incerteza

   O leitor autônomo é capaz de reconhecer pistas
O ser leitor

“[...] os textos sempre querem dizer mais do que
dizem. O que um texto significa depende não só do
sentido do que vem expresso, tal como é
especificado pelo léxico e pela gramática, mas
também da força ilocucionária, a qual, quando
marcada explicitamente, indica a intenção do autor
quanto ao modo como um público receptor real ou
presumido deve interpretá-lo.” (OLSON, 1997, p.
174)
O ser leitor

-   Sendo o texto “uma máquina preguiçosa”, ele
    “vive da valorização de sentido que o destinatário
    ali introduziu” (ECO, 1985, p. 37)

-   O leitor autônomo atualiza, no momento da
    leitura, o “não dito” do texto, em um trabalho
    consciente e ativo, por meio de movimentos
    cooperativos e inferenciais, sem esquecer-se dos
    deveres filológicos que tem em relação ao texto.
A leitura na escola

   o que significa para você trabalhar leitura na
    escola?


   quais as maiores dificuldades que você encontra?
A leitura na escola

   O ensino da leitura deve tomar a construção de
    sentidos, em toda sua complexidade, como sua
    pedra fundamental. O envolvimento do aluno –
    “como sujeito que infere, reflete, avalia”
    (KLEIMAN, 2008, P. 175) – deve ser a base para
    a transformação do ensino da leitura na escola.

   Compreensão e fruição devem andar juntas.
A leitura na escola

   É preciso que haja uma disposição pessoal e
    uma atitude interessada por parte do leitor. Talvez
    essa seja a chave inicial (e mais intrincada) para
    o trabalho escolar de leitura: suscitar o interesse
    – tanto do aluno como do próprio professor.

   Uma escolarização adequada da literatura não
    pode afastar-se do contexto social da leitura.
Clube de leitura

   Fruição da leitura literária

   Caráter igualitário

   Ambiente informal e descontraído

   Leitura colaborativa / abordagem dialógica
Oficina:
Clube de leitura Amós Oz
   seleção prévia de autores / livros


   escolha final feita pelos participantes


   leitura atenta solitária


   torneio argumentativo
Oficina:
Clube de leitura Amós Oz
   seleção prévia de autores / livros
        ampliação de repertório (certo caráter diretivo)
               + certa contextualização da obra

   escolha final feita pelos participantes
       comprometimento com a leitura
              (caráter democrático, não compulsório)

   leitura atenta solitária
        construção dos primeiros sentidos
               + contextualização da obra

   torneio argumentativo
        comprometimento com o grupo (pacto de leitura)
              + expectativa de construção de novos sentidos
Oficina:
Clube de leitura Amós Oz



      Estamos curiosos sobre o que os outros
pensam.
      Ouvimos e respondemos com respeito.
      Debatemos ideias, não indivíduos.
      Opiniões diferentes das nossas são bem-
vindas.
      Tentamos não interromper os demais.

               A leitura e a conversa sobre a leitura
                     podem ser bastante divertidas!!
Oficina:
Clube de leitura Amós Oz
      http://youtu.be/8ROPq2Txm3w
Oficina:
 Clube de leitura Amós Oz
O escritor Amós Oz construiu sua obra literária junto à construção do Estado
de Israel. Sua literatura vem ajudando a revelar uma realidade marcada por
relações de amor e ódio que varreram a Europa no século XX e que
aumentaram o drama do conflito entre Israel e o mundo árabe.
A meninice de Amós Oz coincide com o início do Estado de Israel. As
memórias de menino são as memórias de um país que foi criado quando
Amós tinha apenas 8 anos. Nascido em Jerusalém, com o sobrenome
Klausner, saiu de casa aos 15 anos, depois da morte da mãe e em conflito
com o conservadorismo do pai. Foi morar num kibutz, espécie de colônia rural
comunitária, quando adotou o sobrenome Oz, que significa coragem em
hebraico. Como todo jovem israelense, fez serviço militar. Participou
da Guerra dos Seis Dias, em 1967, um ataque-surpresa para prevenir uma
ofensiva conjunta que Egito, Síria e Jordânia preparavam contra Israel.
Depois lutou na Guerra do Yon Kipur em 1973. Dessa vez, Israel [é] que foi
atacado de surpresa pelo Egito e pela Síria, que pretendiam recuperar
territórios perdidos na guerra anterior. Nesse período, Amós já havia iniciado
sua produção literária e publicado ensaios de conteúdo pacifista.
Oficina:
 Clube de leitura Amós Oz
Em 1978, ajudou a fundar o movimento Paz Agora e foi se tornando
conhecido por sua ação política em favor de negociações com palestinos e da
idéia de um Estado para cada povo. Tornou-se, assim, uma figura de dupla
importância na vida do país: pela militância em busca de uma solução de paz
e pelo trabalho literário, que o colocou na posição do mais renomado
romancista de Israel. Entre ensaios, novelas, contos e romances já produziu
quase trinta livros, traduzidos em quase trinta línguas. Boa parte está
disponível no Brasil: Não diga noite, A caixa preta, O mesmo mar, Pantera no
porão, entre outros. Até o mais recente, De amor e trevas, onde conta a
história de uma família e de parte de sua infância. Não é uma autobiografia,
mas a reconstituição de personagens e conflitos familiares para fazer um
paralelo com o conflito árabe-israelense. Amós Oz, que conta ter sido criado
em meio a fanáticos de direita, costuma dizer que é um fanático recuperado.
E aponta a literatura como um eficiente antídoto contra o fanatismo.

Roda Viva, TV Cultura, 5/7/2007
Oficina:
Clube de leitura Amós Oz




  Margem sul do Mar da Galileia, em Israel – a Toscana do Oriente Médio
                                             Foto: Ministério do Turismo de Israel.
A pesquisa - perguntas

1. Qual seria a importância de espaços não
   tradicionais, como os clubes de leitura, para a
   formação de hábitos leitores?

2. Em que medida o clube de leitura contribui para a
   elaboração individual de sentidos de leitura de
   uma dada obra?
A pesquisa -
abordagens utilizadas

Jover-Faleiros (2009)

   Importância da valorização das impressões do
    leitor
   Possibilidade de novas interpretações
   Legitimação da experiência de fruição estética do
    texto liberta e permite que o leitor renove sua
    percepção de mundo
   Construção própria de sentidos de leitura
   Relevância das verbalizações orais
   “torneio argumentativo”
A pesquisa -
abordagens utilizadas

Flecha (1998)
 Aprendizagem dialógica
 Leitura colaborativa
 Horizontalidade como situação ideal de fala
 Diálogo igualitário considera as falas de acordo
   com a validade dos argumentos e não pela
   hierarquia de poder dos sujeitos
 “Potencializa, em vez de anular, a reflexão de
   cada pessoa” (p. 45)
 Diálogo tende a caminhar rumo à superação de
   desigualdades, ainda que o contexto social nunca
   seja neutro
A pesquisa -
abordagens utilizadas

Hébert (2008)

   Diálogo entre pares como forma efetiva de
    aprendizagem
   Diálogo em um contexto horizontal
   Exposição a uma ampla gama de ideias, modos
    de leitura e estratégias
   Superação da compreensão simplista ou literal
   Atitudes interpretativas “pública” (forma estrutural
    e informativa) e “privada” (modo
    estético, significado pessoal) – rejeitar
    racionalização como único modo de ler.
A pesquisa - resultados
Mudanças de hábitos leitores com a participação no
clube de leitura:

   Comprometimento com a leitura

   ampliação de repertório

   expectativa de construção de novos sentidos

   contexto da obra
A pesquisa - resultados
Comprometimento com a leitura

   compromisso com o grupo
   leitura mais séria, atenta, consciente, crítica
   necessidade de expor as opiniões em público
   respeito entre participantes
   possibilidade de legitimar a própria leitura
   grupo valoriza e legitima a função da leitura em
    nossas vidas
   diretividade (prazo), mas sem conotação negativa
   leitura nunca é objeto de controle ou avaliação
A pesquisa - resultados
Ampliação de repertório

   pré-seleção de obras (caráter diretivo)
   é possível ousar e experimentar autores ou
    histórias que transcendem nossa própria
    experiência

   “[...] agora sou mais aberta a ler textos que em
    outros momentos não teria escolhido.”
A pesquisa - resultados
Expectativa de construção de novos sentidos

   “torneio argumentativo”
   interpretação literária = natureza dialógica
   interação simultânea de vários modos de leitura
   pressupõe sujeitos verdadeiramente engajados
    na argumentação
   pressupõe objetivo comum de resolução de
    problemas
   experiência de mundo é acionada no momento
    da verbalização da interpretação - relações
    afetivas com o texto
A pesquisa - resultados
Expectativa de construção de novos sentidos

   não há roteiros que direcionam a interpretação

   o fato de ouvir e ser ouvido aumenta a
    autoconfiança em falar sobre textos literários

   conhecimentos prévios de cada participante -
    outros discursos (crítica
    literária, estudos, vivências) chegam ao debate
    como mais uma voz possível
A pesquisa - resultados
Contexto da obra

   não há roteiros que direcionam a interpretação
   busca por necessidade de contextualização é
    natural
   existe um número “teoricamente ilimitado”
    contextualizações possíveis (COSSON, 2009, p.
    85)

   Ao mesmo tempo em que a leitura de qualquer texto
    é sempre inédita, pois resultado de um encontro entre
    o livro e o leitor (JOUVE, 2002, p. 102), ela é também
    sempre “[...] uma leitura comparativa, contato do livro
    com outros livros” (GOULEMOT, 2009, p. 112)
“Ora, quem quer emancipar um homem
deve interrogá-lo à maneira dos homens
             e não à maneira dos sábios,
               para instruir-se a si próprio
            e não para instruir um outro.”

                       JACQUES RANCIÉRE
Aplicação em sala de
aula

Clubes de leitura
      Abordagem dialógica
              Leitura colaborativa,
                     Torneio argumentativo,
                            Pacto de leitura,
                     Liberdade de criação de hipóteses...

Conceitos possíveis para se adotar na escola?

Como mudar o modo como a literatura é tratada e
discutida no ambiente escolar?

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  • 1. Língua Portuguesa: a pesquisa e o trabalho em sala de aula dlp em ação diálogos sobre ensino e pesquisa - 2012
  • 2. Clubes de leitura: a construção de sentidos em situações de leitura colaborativa 9º encontro – 15/05/2012 Andréa Schmitz-Boccia
  • 3. Para começar...  o que é ser leitor?  qual é a sua trajetória pessoal com a leitura?  e que papel teve a escola nessa trajetória?
  • 4. O ser leitor  O leitor autônomo é aquele que coopera com o texto, transcende o literal e embrenha-se no não dito. Sua interlocução com o texto é genuína. Ele não vê o texto como fechado para o mundo, já que sabe que é preciso contextualizá-lo sempre. Mas, enquanto o tem nas mãos, busca apropriar- se dele, em uma atitude de atenção e colaboração.  Jouve (2002, p. 64): espaços de certeza e de incerteza  O leitor autônomo é capaz de reconhecer pistas
  • 5. O ser leitor “[...] os textos sempre querem dizer mais do que dizem. O que um texto significa depende não só do sentido do que vem expresso, tal como é especificado pelo léxico e pela gramática, mas também da força ilocucionária, a qual, quando marcada explicitamente, indica a intenção do autor quanto ao modo como um público receptor real ou presumido deve interpretá-lo.” (OLSON, 1997, p. 174)
  • 6. O ser leitor - Sendo o texto “uma máquina preguiçosa”, ele “vive da valorização de sentido que o destinatário ali introduziu” (ECO, 1985, p. 37) - O leitor autônomo atualiza, no momento da leitura, o “não dito” do texto, em um trabalho consciente e ativo, por meio de movimentos cooperativos e inferenciais, sem esquecer-se dos deveres filológicos que tem em relação ao texto.
  • 7. A leitura na escola  o que significa para você trabalhar leitura na escola?  quais as maiores dificuldades que você encontra?
  • 8. A leitura na escola  O ensino da leitura deve tomar a construção de sentidos, em toda sua complexidade, como sua pedra fundamental. O envolvimento do aluno – “como sujeito que infere, reflete, avalia” (KLEIMAN, 2008, P. 175) – deve ser a base para a transformação do ensino da leitura na escola.  Compreensão e fruição devem andar juntas.
  • 9. A leitura na escola  É preciso que haja uma disposição pessoal e uma atitude interessada por parte do leitor. Talvez essa seja a chave inicial (e mais intrincada) para o trabalho escolar de leitura: suscitar o interesse – tanto do aluno como do próprio professor.  Uma escolarização adequada da literatura não pode afastar-se do contexto social da leitura.
  • 10. Clube de leitura  Fruição da leitura literária  Caráter igualitário  Ambiente informal e descontraído  Leitura colaborativa / abordagem dialógica
  • 11. Oficina: Clube de leitura Amós Oz  seleção prévia de autores / livros  escolha final feita pelos participantes  leitura atenta solitária  torneio argumentativo
  • 12. Oficina: Clube de leitura Amós Oz  seleção prévia de autores / livros ampliação de repertório (certo caráter diretivo) + certa contextualização da obra  escolha final feita pelos participantes comprometimento com a leitura (caráter democrático, não compulsório)  leitura atenta solitária construção dos primeiros sentidos + contextualização da obra  torneio argumentativo comprometimento com o grupo (pacto de leitura) + expectativa de construção de novos sentidos
  • 13. Oficina: Clube de leitura Amós Oz Estamos curiosos sobre o que os outros pensam. Ouvimos e respondemos com respeito. Debatemos ideias, não indivíduos. Opiniões diferentes das nossas são bem- vindas. Tentamos não interromper os demais. A leitura e a conversa sobre a leitura podem ser bastante divertidas!!
  • 14. Oficina: Clube de leitura Amós Oz http://youtu.be/8ROPq2Txm3w
  • 15. Oficina: Clube de leitura Amós Oz O escritor Amós Oz construiu sua obra literária junto à construção do Estado de Israel. Sua literatura vem ajudando a revelar uma realidade marcada por relações de amor e ódio que varreram a Europa no século XX e que aumentaram o drama do conflito entre Israel e o mundo árabe. A meninice de Amós Oz coincide com o início do Estado de Israel. As memórias de menino são as memórias de um país que foi criado quando Amós tinha apenas 8 anos. Nascido em Jerusalém, com o sobrenome Klausner, saiu de casa aos 15 anos, depois da morte da mãe e em conflito com o conservadorismo do pai. Foi morar num kibutz, espécie de colônia rural comunitária, quando adotou o sobrenome Oz, que significa coragem em hebraico. Como todo jovem israelense, fez serviço militar. Participou da Guerra dos Seis Dias, em 1967, um ataque-surpresa para prevenir uma ofensiva conjunta que Egito, Síria e Jordânia preparavam contra Israel. Depois lutou na Guerra do Yon Kipur em 1973. Dessa vez, Israel [é] que foi atacado de surpresa pelo Egito e pela Síria, que pretendiam recuperar territórios perdidos na guerra anterior. Nesse período, Amós já havia iniciado sua produção literária e publicado ensaios de conteúdo pacifista.
  • 16. Oficina: Clube de leitura Amós Oz Em 1978, ajudou a fundar o movimento Paz Agora e foi se tornando conhecido por sua ação política em favor de negociações com palestinos e da idéia de um Estado para cada povo. Tornou-se, assim, uma figura de dupla importância na vida do país: pela militância em busca de uma solução de paz e pelo trabalho literário, que o colocou na posição do mais renomado romancista de Israel. Entre ensaios, novelas, contos e romances já produziu quase trinta livros, traduzidos em quase trinta línguas. Boa parte está disponível no Brasil: Não diga noite, A caixa preta, O mesmo mar, Pantera no porão, entre outros. Até o mais recente, De amor e trevas, onde conta a história de uma família e de parte de sua infância. Não é uma autobiografia, mas a reconstituição de personagens e conflitos familiares para fazer um paralelo com o conflito árabe-israelense. Amós Oz, que conta ter sido criado em meio a fanáticos de direita, costuma dizer que é um fanático recuperado. E aponta a literatura como um eficiente antídoto contra o fanatismo. Roda Viva, TV Cultura, 5/7/2007
  • 17. Oficina: Clube de leitura Amós Oz Margem sul do Mar da Galileia, em Israel – a Toscana do Oriente Médio Foto: Ministério do Turismo de Israel.
  • 18. A pesquisa - perguntas 1. Qual seria a importância de espaços não tradicionais, como os clubes de leitura, para a formação de hábitos leitores? 2. Em que medida o clube de leitura contribui para a elaboração individual de sentidos de leitura de uma dada obra?
  • 19. A pesquisa - abordagens utilizadas Jover-Faleiros (2009)  Importância da valorização das impressões do leitor  Possibilidade de novas interpretações  Legitimação da experiência de fruição estética do texto liberta e permite que o leitor renove sua percepção de mundo  Construção própria de sentidos de leitura  Relevância das verbalizações orais  “torneio argumentativo”
  • 20. A pesquisa - abordagens utilizadas Flecha (1998)  Aprendizagem dialógica  Leitura colaborativa  Horizontalidade como situação ideal de fala  Diálogo igualitário considera as falas de acordo com a validade dos argumentos e não pela hierarquia de poder dos sujeitos  “Potencializa, em vez de anular, a reflexão de cada pessoa” (p. 45)  Diálogo tende a caminhar rumo à superação de desigualdades, ainda que o contexto social nunca seja neutro
  • 21. A pesquisa - abordagens utilizadas Hébert (2008)  Diálogo entre pares como forma efetiva de aprendizagem  Diálogo em um contexto horizontal  Exposição a uma ampla gama de ideias, modos de leitura e estratégias  Superação da compreensão simplista ou literal  Atitudes interpretativas “pública” (forma estrutural e informativa) e “privada” (modo estético, significado pessoal) – rejeitar racionalização como único modo de ler.
  • 22. A pesquisa - resultados Mudanças de hábitos leitores com a participação no clube de leitura:  Comprometimento com a leitura  ampliação de repertório  expectativa de construção de novos sentidos  contexto da obra
  • 23. A pesquisa - resultados Comprometimento com a leitura  compromisso com o grupo  leitura mais séria, atenta, consciente, crítica  necessidade de expor as opiniões em público  respeito entre participantes  possibilidade de legitimar a própria leitura  grupo valoriza e legitima a função da leitura em nossas vidas  diretividade (prazo), mas sem conotação negativa  leitura nunca é objeto de controle ou avaliação
  • 24. A pesquisa - resultados Ampliação de repertório  pré-seleção de obras (caráter diretivo)  é possível ousar e experimentar autores ou histórias que transcendem nossa própria experiência  “[...] agora sou mais aberta a ler textos que em outros momentos não teria escolhido.”
  • 25. A pesquisa - resultados Expectativa de construção de novos sentidos  “torneio argumentativo”  interpretação literária = natureza dialógica  interação simultânea de vários modos de leitura  pressupõe sujeitos verdadeiramente engajados na argumentação  pressupõe objetivo comum de resolução de problemas  experiência de mundo é acionada no momento da verbalização da interpretação - relações afetivas com o texto
  • 26. A pesquisa - resultados Expectativa de construção de novos sentidos  não há roteiros que direcionam a interpretação  o fato de ouvir e ser ouvido aumenta a autoconfiança em falar sobre textos literários  conhecimentos prévios de cada participante - outros discursos (crítica literária, estudos, vivências) chegam ao debate como mais uma voz possível
  • 27. A pesquisa - resultados Contexto da obra  não há roteiros que direcionam a interpretação  busca por necessidade de contextualização é natural  existe um número “teoricamente ilimitado” contextualizações possíveis (COSSON, 2009, p. 85)  Ao mesmo tempo em que a leitura de qualquer texto é sempre inédita, pois resultado de um encontro entre o livro e o leitor (JOUVE, 2002, p. 102), ela é também sempre “[...] uma leitura comparativa, contato do livro com outros livros” (GOULEMOT, 2009, p. 112)
  • 28. “Ora, quem quer emancipar um homem deve interrogá-lo à maneira dos homens e não à maneira dos sábios, para instruir-se a si próprio e não para instruir um outro.” JACQUES RANCIÉRE
  • 29. Aplicação em sala de aula Clubes de leitura Abordagem dialógica Leitura colaborativa, Torneio argumentativo, Pacto de leitura, Liberdade de criação de hipóteses... Conceitos possíveis para se adotar na escola? Como mudar o modo como a literatura é tratada e discutida no ambiente escolar?