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Brigada Militar
na Legalidade
EDIÇÃO ESPECIAL - Agosto - 2011




                                  Corporação resgata
                                   bravura do efetivo
                                      no Movimento
Mensagem do Comandante-Geral                                                                                                         Mensagem do Governador do Estado
     T     endo a honra de comandar a Brigada Militar no ano
           em que comemoramos o cinquentenário da Campa-
     nha da Legalidade em nosso Estado, resolvi chamar inte-
                                                                       da do cristal da antena. Houve movimentação de efetivos
                                                                       do Exército para o local, mas antes do confronto o bom
                                                                       senso desfez a ordem e não ocorreu uma luta entre as duas                    A       Campanha da Legalidade marca um momento de
                                                                                                                                                            grande emoção em minha vida, pois remete ao pri-
                                                                                                                                                                                                                  a Legalidade como movimento de todo o povo gaúcho,
                                                                                                                                                                                                                  assim como prestemos as justas homenagens a Brizola,
     grantes da Corporação para formar uma Comissão Editorial          instituições militares.                                                      meiro movimento político do qual participei. Tinha apenas     Jango e tantos outros personagens que, a partir do nosso
     que desenvolvesse a revista Brigada Militar na Legalidade e           A Brigada Militar mobilizou-se em todo o Estado. Hou-                    14 anos e lembro bem que naquela época nós, jovens estu-      Estado, marcaram fortemente a luta por um País demo-
     vejo que o resultado é muito positivo para a nossa Instituição.   ve preparação de defesa de diversas cidades. Torres é um                     dantes – eu era estudante secundarista, orgulhávamo-nos de    crático e justo.
        A proposta é resgatar parte da atividade coordenada            capítulo à parte. Um Batalhão de Operações deslocou-se                       estar participando de um movimento em defesa da demo-            A Legalidade é um dos maiores símbolos da presença do
     pelo comandante-geral daquele momento histórico, coro-            para aquele município, os efetivos foram distribuídos ao                     cracia. Essa mesma democracia defendida e reafirmada nas      Rio Grande do Sul no cenário político nacional, com suas
     nel Diomário Moojen, com uma visão diferenciada: aquela           longo das margens do rio Mampituba, em pontos estraté-                       barricadas do Palácio Piratini, sob a inspiradora liderança   lideranças políticas e seu povo defendendo um País justo e
     de quem viveu na Brigada Militar todos os momentos de             gicos, permanecendo 15 dias posicionados, esperando um                       do saudoso Leonel Brizola, que foi quebrada mais tarde,       democrático como hoje, finalmente, estamos conseguindo
     agosto e parte de setembro do ano de 1961, quando o povo          ataque de forças contrárias à posse de João Goulart.                         em 1964, com o Golpe Militar. Foi o início de um ciclo de     construir. Nesse sentido, a Legalidade dialoga muito com
     gaúcho apoiou integralmente a ideia do governador Leo-                No Centro de Instrução Militar, atual Academia de Po-                    injustiças a uma das grandes referências do Movimento da      o nosso projeto para o Rio Grande e a forma como enten-
     nel de Moura Brizola de levar o presidente João Goulart           lícia Militar, os cadetes também foram mobilizados para a                    Legalidade, o então vice-presidente João Goulart (Jango).     demos necessária sua presença no cenário nacional: como
     a ocupar o lugar que a Constituição determinava, após a           defesa da ordem constitucional, ficando por duas semanas                        Sobre Jango, aliás, orgulha-me ter participado e contri-   um Estado que tem uma forte identidade própria e que se
     renúncia, em 25 de agosto, de Jânio Quadros.                      à espera de um embate com forças que pretendiam calar                        buído na reparação à memória desse grande homem públi-        insere de forma plena no projeto nacional.
        A Brigada Militar desempenhou, e se mantém hoje                Leonel Brizola.                                                              co quando, em 2008, na condição de Ministro da Justiça,          Por tudo isso, queremos marcar a passagem do cinquen-
     nessa trajetória, papel importante na defesa dos preceitos            Ao final, no dia 9 de setembro de 1961, as tropas briga-                 concedemos oficialmente a anistia a João Goulart. Confor-     tenário da Legalidade com profundo respeito e gratidão.
     constitucionais, por meio da proteção da vida, do patri-          dianas desfilaram em Porto Alegre, sendo aplaudidas pela                     me afirmei naquela ocasião, perante seus familiares presen-   As atuais gerações devem conhecer todos aqueles que, há
     mônio público e da preservação da ordem pública no Rio            população, que entoava o Hino da Legalidade, reconhecen-                     tes à cerimônia de anistia, Jango acabou sendo derrotado      50 anos, participaram de alguma forma da defesa da de-
     Grande do Sul.                                                    do a importância da Brigada Militar nesta página da histó-                   pelo seu conjunto de virtudes e não pelos seus defeitos.      mocracia em nosso País, liderando ou apoiando a luta pela
        O Regimento Bento Gonçalves, comandado pelo tenen-             ria do Brasil.                                                                  O ano de 2011 marca os cinquenta anos desse movi-          Legalidade. Além das homenagens que faremos aos perso-
     te-coronel Átilo Cavalheiro Escobar, protegeu o Palácio               Gostaria que tivessem sido ouvidos todos os brigadianos                  mento que garantiu a posse democrática do vice-presidente     nagens e familiares e das diversas publicações que, durante
     Piratini, a Assembleia Legislativa e a Praça da Matriz, onde      que participaram da Campanha da Legalidade, mas devido                       eleito. Ciente da dimensão histórica desse episódio para o    todo este ano, celebrarão a data, creio que a inauguração
     se concentraram mais de 50 mil pessoas durante aqueles            ao espaço reduzido às páginas desta revista, foram entre-                    nosso Estado é que constituí uma Comissão Especial para       do Memorial da Legalidade, no porão do Palácio Piratini,
     12 dias da Campanha da Legalidade. Os brigadianos do              vistados alguns para representar o conjunto. Contudo, dei-                   tratar das celebrações dos 50 anos da Legalidade. Tendo       seja uma marca importante que
     Regimento Bento Gonçalves postaram-se nos telhados do             xo a possibilidade de que outras edições aconteçam, pois                     o Legislativo gaúcho como parceiro, será um conjunto de       deixaremos para as gerações
     Piratini, da Catedral Metropolitana e nos edifícios ao redor      muitos dos que participaram podem, ao ler estas páginas,                     iniciativas que trarão aos nossos dias um pouco do que foi    futuras. A sala a partir da qual
     da Praça da Matriz, montando barricadas e colocando me-           recordar seus momentos e pro-                                                aquele período. Aos que viveram aquela época, a oportuni-     o governador Brizola liderou a
     tralhadoras naqueles locais para evitar o ataque ao gover-        curar a Comissão Editorial para                                              dade de reviverem e, de alguma forma, sentirem-se parte       Cadeia da Legalidade passará




                                                                                                                                                                                                                                                                            Caco Argemi/Palácio Piratini
     nador Leonel Brizola.                                             relatar suas experiências.                                                   da história; aos mais jovens, a oportunidade de conhece-      a ser local de visitação pública
        Convém destacar o major Emílio Neme, homem de con-                 Parabéns aos brigadianos                                                 rem um dos mais ricos episódios da história do Rio Grande     onde, de forma permanente,
     fiança de Leonel Brizola, que, com sua liderança, auxiliou        que defenderam a bandeira da                                                 do Sul.                                                       os cidadãos terão contato com
     na organização das defesas do Piratini e esteve ao lado do        democracia, mantendo a ordem                                                    Sob a liderança do governador Leonel Brizola, o povo       um dos mais significativos mo-
     governador, inclusive durante os seus pronunciamentos             legal em nosso País, salvaguar-                                              gaúcho demonstrou grande engajamento na causa da de-          mentos da vida política do Rio
     no estúdio da Rede da Legalidade, nos porões do Palácio,          daram a Constituição e evitaram
                                                                                                                                      Arquivo PM5




                                                                                                                                                    mocracia, num movimento que adiou o desfecho trágico          Grande e do Brasil.
     por meio da rádio Guaíba.                                         que um regime inconstitucional                                               que ocorreria em 1º de abril de 1964. Num momento em
        Participamos, ainda, da proteção do transmissor da rá-         fosse implantado no Brasil.                                                  que o País procura enfrentar com clareza a triste memória                                                 Tarso Genro
     dio Guaíba, na Ilha da Pintada, onde um contingente do                                                                                         da ditadura militar, nada mais justo que se homenageie                       Governador do Estado do Rio Grande do Sul
     Batalhão Pedro e Paulo, juntamente com os bombeiros,                                       Coronel Sérgio Roberto de Abreu
     que em lanchas patrulhavam o lago Guaíba, evitou a retira-                             Comandante-Geral da Brigada Militar




2   Brigada Militar na Legalidade                                                                                                                                                                                                              Brigada Militar na Legalidade                               3
Expediente                                               Editorial                  Maj. Paulo César Franquilin Pereira     Campanha da Legalidade

                                                                E
                                                                                          Coordenador da Comissão Editorial

                                                                       m março deste ano, o comandante-geral da Brigada Mi-
                                                                       litar determinou a produção de uma revista para contar
                                                                                                                                   Fragmentos de uma história
                                                                o envolvimento da Corporação na Campanha da Legalidade.              Maj. Najara Santos da Silva - Historiadora


                                                                                                                                   A
                                                                O desafio era recriar, pelo sentimento de quem viveu aqueles
                                                                dias, o cenário de uma página histórica de nosso País.                     pós derrotar o marechal Henrique Lott e Ademar de
                                                                    Uma comissão editorial foi criada e decidiu que a revista              Barros nas eleições de 1960, Jânio Quadros assumiu
                                                                traria uma visão diferenciada da Legalidade, salientando os
        Publicação especial alusiva aos 50 anos do                                                                                 a presidência da República em janeiro de 1961, anuncian-
                                                                detalhes que não são encontrados nos livros e materiais já pro-
        Movimento da Legalidade, em agosto de 2011.                                                                                do, logo após sua posse, a retomada das relações diplomá-
                                                                duzidos. Passamos a fazer o levantamento dos nomes que vi-
                                                                venciaram o episódio e começamos a contatar os entrevistados,      ticas com a União Soviética, desagradando a cúpula de seu
        Governador do Estado        Produção e Revisão                                                                             partido. Em agosto, Jânio condecorou Ernesto Che Gueva-
                                                                que foram indicando outros, numa rede de resgate da partici-
        do Rio Grande do Sul        Comissão Editorial                                                                             ra com a Ordem do Cruzeiro do Sul, a mais alta distinção
                                                                pação da Brigada Militar naqueles dias de agosto e setembro de
        Tarso Genro                                             1961, para mostrar o quanto os brigadianos contribuíram para       do governo brasileiro, aumentando o descontentamento.
                                    Edição                      a Campanha da Legalidade.                                             Depois de comparecer às comemorações do Dia do Sol-
        Secretário de Estado da     Jussara Pelissoli               Ouvimos os que viveram os dias da Legalidade no Palácio        dado, em 25 de agosto de 1961, Jânio Quadros retornou ao
        Segurança Pública                                       Piratini, aguardando um bombardeio aéreo; outros que fica-         Palácio do Planalto e renunciou à presidência da República.
        Airton Michels              Fotografias                 ram no Centro de Instrução Militar, prontos para um possí-            No dia seguinte, na ausência do vice-presidente João
                                    • Acervo do Museu da        vel confronto com o Exército; aqueles que se deslocaram até        Belchior Marques Goulart (Jango), o presidente da Câmara
        Brigada Militar             Brigada Militar             Torres para defender a divisa do Estado, além de juntarmos         Federal, deputado Ranieri Mazzilli, assumiu a presidência
        Comandante-Geral            • Acervo do Museu da        depoimentos de outras pessoas que viveram aqueles dias e
                                                                                                                                   da República, sem nenhum poder. Quem realmente gover-
        Cel. Sérgio Roberto de      Comunicação Hipólito        confirmaram a importância da Brigada Militar para que a
                                                                                                                                   nava o País eram os ministros militares, sob a chefia do ma-
        Abreu                       José da Costa               Constituição fosse respeitada.
                                                                    Os anônimos agora têm nomes e ficarão registrados para         rechal Odílio Denys, Ministro da Guerra. Jango, que estava
                                    • Arquivo pessoal do Ten.                                                                      na Malásia, foi informado sobre a renúncia de Jânio Qua-
                                                                sempre na história brigadiana, enquanto outros já conhecidos                                                                       Nos fundos do Palácio, Brizola conversa com brigadianos
        Subcomandante-Geral         Ref. Eduardo Requia                                                                            dros e que seria preso assim que desembarcasse no Brasil,
                                                                voltaram a falar sobre suas experiências no episódio.
        Cel. Altair de Freitas      • Arquivo pessoal do Cel.       Agregamos, ainda, declarações de descendentes dos prin-        por ordem dos militares.
        Cunha                       Ref. Bento Mathuzalen       cipais nomes da Campanha da Legalidade: Brizola e Jango.              Com isso, iniciaram as manifestações simpáticas à Lega-      cou a Brigada Militar e a Polícia Civil de sobreaviso, até que
                                    de Vasconcelos              Também ouvimos pessoas que não integravam a Brigada Mi-            lidade, porém foram reprimidas em todos os Estados brasi-       fosse possível se certificar a respeito.
        Chefe do Estado-Maior       • Jussara Pelissoli         litar, mas que tiveram envolvimento com a Instituição. Eram        leiros, principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo. No        Diante da confirmação, a Brigada Militar foi colocada
        Cel. Valmor Araújo de       • Sd. José de Mattos        estudantes, militares, trabalhadores e políticos que vivencia-     Rio Grande do Sul, entretanto, quando o governador Leo-         de prontidão, assumindo todas as posições consideradas
        Mello                                                   ram o Movimento.                                                   nel Brizola foi informado pelo jornalista Hamilton Chaves,      estratégicas pelo Comando-Geral e seu Estado-Maior. O
                                                                    Nosso objetivo é trazer uma ideia do panorama da época e       seu assessor de imprensa, sobre a renúncia de Jânio, colo-      Palácio Piratini e adjacências transformaram-se numa ver-
        Comissão Editorial                                      mostrar que os brigadianos trabalharam pela Legalidade em
                                                                                                                                                                                                   dadeira cidadela. Metralhadoras foram instaladas no Pira-
        Coordenação                                             vários pontos do Rio Grande do Sul, armados, atentos, ca-
                                                                vando trincheiras, montando barricadas, insones e cansados,                                                                        tini, nas torres da Catedral Metropolitana e nos edifícios
        Maj. Paulo César            Projeto Gráfico e                                                                                                                                              mais altos, no entorno da Praça da Matriz. Barricadas fo-
                                    Diagramação                 dispostos a lutar até a morte para defender o preceito cons-
        Franquilin Pereira -                                                                                                                                                                       ram posicionadas onde se faziam necessárias. O efetivo do
                                                                titucional da posse do vice-presidente, frente à renúncia do
        Jornalista (RMT 9.751)      EDICTA – Edição &                                                                                                                                              Regimento Bento Gonçalves, responsável pela segurança
                                                                presidente do Brasil.
                                    Mensagem                        A liderança de Leonel Brizola e o comando firme do coronel                                                                     do Piratini e das sedes dos poderes Legislativo e Judiciário,
        Redação                     www.edicta.com.br           Moojen permitiram que a Corporação entrasse para a história                                                                        além de contar com todo o seu efetivo disponível, foi refor-
        • Maj. Najara Santos da     edicta@edicta.com.br        como parte da força militar que garantiu a posse do presidente                                                                     çado com policiais de outras unidades da Corporação, sob
        Silva - Historiadora                                    João Goulart. A habilidade política de Jango, aceitando o parla-                                                                   o comando do tenente-coronel Átilo Cavalheiro Escobar. O
        • Sd. José de Mattos -      Impressão                   mentarismo, evitou o derramamento de sangue e mortes.                                                                              capitão Odilon Alves Chaves, instrutor de técnica e tática
        Jornalista (RMT 11.435)     Corag                           Cinquenta anos depois, a Brigada Militar escreve uma parte                                                                     para metralhadoras e morteiros, orientou os policiais sobre
        • Assessora de Imprensa                                 de suas memórias, de forma direta e comovente, com lágrimas
                                                                                                                                                                                                   as técnicas de tiro antiaéreo.
        Jussara Pelissoli -         Tiragem                                         nos olhos dos entrevistados, ao lembrarem
                                                                                                                                                                                                      Brizola tinha sua posição bem definida: defesa da ordem
        Jornalista (RMT 6.108)      5.000 exemplares                                  dos dias em que lutaram pela defesa da
                                                                                      Constituição e olhares tristes pela pas-                                                                     constitucional, investidura de Jango na presidência da Re-
                                                                                                        sagem do tempo, mas                                                                        pública e resistência contra qualquer tentativa de golpe. A
       Comando-Geral da Brigada Militar
       Rua dos Andradas, 522 – Centro Histórico                                                           alegres quando recor-
       90.620.002 – Porto Alegre/RS                                                                         dam que fizeram a
                                                                                                               história.                                                                          Chegada de reforço no
       51 3288 2700
                                                                                                                                                                                                  Piratini para o efetivo do
       www.brigadamilitar.rs.gov.br                                                                                                                                                               Regimento Bento Gonçalves


4   Brigada Militar na Legalidade                                                                                                                                                                                                Brigada Militar na Legalidade      5
partir daquele momento, passou a se manifestar                                                                             chegou a possuir 104 emissoras em cadeia no Brasil e nos
     através da imprensa falada e escrita, na tentativa                                                                         países vizinhos, transmitindo informações em inglês, fran-
     de sensibilizar o povo rio-grandense e a opinião                                                                           cês, espanhol, alemão, italiano, árabe e turco. As transmis-
     pública do País. Entrou em contato com o co-                                                                               sões eram iniciadas com o Hino da Legalidade, de autoria
     mandante do III Exército, general Machado Lo-                                                                              de Lara de Lemos e Paulo César Pereio.


                                                                                                                                E
     pes, denunciando a tentativa de golpe. O general
     respondeu que era militar e que obedeceria às                                                                                    m Porto Alegre a situação começava a ficar tensa dian-
     ordens de seus superiores. Diante disso, o gover-                                                                                te do apelo do governador. Rapidamente a população
     nador buscou o apoio de outros governadores                                                                                formou inúmeros comitês de resistência e batalhões ope-
     e de outros comandantes do Exército, obtendo                                                                               rários para apoiar a Legalidade. Na Praça da Matriz, pelo
     sempre as mesmas respostas, de que cumpri-                                                                                 menos 10% da população porto-alegrense se aglomeravam
     riam ordens do ministro da Guerra. Apenas o                                                                                para auxiliar na defesa do Piratini, ao lado dos soldados da
     general Amauri Kruel, que estava sem comando,                                                                              Brigada Militar, transformando a área em uma verdadei-
     colocou-se à disposição de Brizola. Deslocou-se                                                                            ra praça de guerra. As manifestações de solidariedade ao
     para Porto Alegre e permaneceu incógnito no                                                                                governador foram inúmeras. A mobilização foi tão intensa
     Piratini, pois Brizola pretendia entregar-lhe o                                                                            que vários comitês foram criados em diversas cidades do
     comando militar da resistência, caso o general                                                                             Estado.
     Machado Lopes não apoiasse a Legalidade.                                                                                      Além da Rede da Legalidade, Brizola passou a exercer


     E
                                                                                                                                o controle da companhia telefônica e da companhia aérea
           nquanto isso, no Rio de Janeiro, o mare-                                                                             Varig. Solicitou à fábrica Taurus três mil revólveres para
           chal Lott lançou um manifesto em defesa                                                                              distribuí-los aos auxiliares do governo do Estado e a jor-     Policiais em um dos pontos de segurança, em frente à Catedral
     da posse de Jango e foi preso por ordem do ma-                                                                             nalistas, além de armar a população. Para atender à solici-
     rechal Denys. Antes de sua prisão, Lott orientou                                                                           tação, a Taurus trabalhou ininterruptamente. Armas foram
                                                                                                                                                                                               uma força da Marinha para intervir no Estado. Canhões e
     Brizola a procurar alguns militares que seriam                                                                             distribuídas no posto de recrutamento de populares, no
                                                                                                                                                                                               blindados do 2º Regimento de Cavalaria Motomecanizada
     favoráveis à Legalidade. No mesmo dia, o gover-                                                                            pavilhão da avenida Borges de Medeiros, conhecido como
                                                                                                                                                                                               foram instalados nas avenidas Mauá e Praia de Belas.
     nador foi procurado pelo coronel Roberto Osó-                                                                              Mata-Borrão.
                                                                                                                                                                                                  Havia rumores de que unidades do III Exército, sediadas
     rio de Pina e pelo professor Antônio de Pádua                                                                                 A Brigada Militar utilizou, além dos revólveres, metra-
                                                                                                                                                                                               na Serraria, pretendiam atacar quartéis da Brigada Mili-
     Ferreira da Silva, os quais relacionaram uma sé-                                                                           lhadoras Schwarzlose, fuzis-metralhadoras Ceskosloven-
                                                                                                                                                                                               tar, preferencialmente aqueles que mantinham seu efetivo
     rie de militares que poderiam apoiá-lo.                                                                                    zká Zbrojovka (FMZB), fuzis Ceskoslovenzká Zbrojovka,
                                                                                                                                                                                               aquartelado, que era o caso do Centro de Instrução Militar
        Brizola conseguiu que os jornais locais publi-                                                                          submetralhadoras INA (Indústria Nacional de Armas) e
                                                                                                                                                                                               (CIM). Ao tomar conhecimento, o comando manteve uma
     cassem o manifesto do marechal Lott, repudian-                                                                             pistolas automáticas Royal. Parte dessas armas foi importa-
                                                                                                                                                                                               companhia no interior do quartel, armada com revólveres
     do o golpe, como matéria paga. Sem eco, buscou                                                                             da da Tchecoslováquia para a Revolução de 1932, compra-
                                                                                                                                                                                               e fuzis-metralhadoras Ceskoslovenzká-Zbrojovka, sob o
     o apoio da população, através do rádio. Assim, na                                                                          das pelo governador Flores da Cunha.
                                                                                                                                                                                               comando do capitão Odilon Alves Chaves, e o restante do
     madrugada do dia 27, fez seu primeiro pronun-                                                                                 Na madrugada de 28 de agosto um radioamador inter-
                                                                                                                                                                                               efetivo se posicionou nas encostas do morro da Polícia.
     ciamento na rádio Gaúcha, que possuía dois ca-                                                                             ceptou uma mensagem do general Orlando Geisel, por or-
                                                                                                                                                                                                  A situação ficava cada vez mais tensa. O jornalista Di-
     nais de ondas curtas e grande potência no canal Multidão lotou Praça da Matriz                                             dem do marechal Denys, determinando ao comando do III
                                                                                                                                                                                               lamar Machado informou que os aviões da Base Aérea
     internacional, em ondas médias, o que permitia                                                                                           Exército que a Rede da Legalidade fosse silen-
                                                                                                                                                                                               de Canoas estavam prontos para decolar e bombardear o
     ampla cobertura em todo o território nacional.                                                                                           ciada, autorizando o bombardeio do Piratini,
                                                                                                                                                                                               Palácio Piratini. Diante dessa conjuntura, Brizola realizou
     Em seu pronunciamento falou sobre a renúncia de Jânio        formando a Rede Nacional da Legalidade, que foi instala-                     se fosse necessário, e comunicando o envio de
                                                                                                                                                                                               uma grande manifestação em frente ao Piratini, afirmou
     Quadros, sobre a tentativa de um golpe para impedir a posse  da pelo engenheiro Homero Simon nos porões do Palácio
                                                                                                                                                                                               que não se submeteria a nenhum golpe, pediu o apoio da
     de Jango e solicitou o apoio da população na defesa da Cons- Piratini e funcionava 24 horas por dia. A Brigada Militar
                                                                                                                                                                                               população, solicitou que retirassem as crianças do local e se
     tituição, da honra e da dignidade do povo brasileiro.        passou a fazer, também, a segurança dos transmissores da
                                                                                                                                                                                               despediu do povo gaúcho.
        Naquela manhã, Brizola requisitou a rádio Guaíba,         rádio Farroupilha, instalados na Ponta Grossa.
                                                                                                                                                                                                     Enquanto isso, o general José Machado Lopes recebeu
     transformando-a em emissora oficial. No início da tarde,         Inicialmente, as transmissões eram feitas por funcioná-
                                                                                                                                                                                                      a visita do coronel Diomário Moojen, comandante-
     a rádio Guaíba já estava transmitindo diretamente do Pi-     rios do Serviço de Imprensa do Piratini, que foram subs-
                                                                                                                                                                                                        geral da Brigada Militar, e confirmou que não se-
     ratini. O governador orientou que a Brigada Militar ocu-     tituídos por locutores profissionais, logo depois. A rádio
                                                                                                                                                                                                         ria o responsável pelo disparo do primeiro tiro.
     passe, com o máximo de forças, as torres da rádio Guaíba,    contava com a participação de jornalistas, radialistas e
                                                                                                                                                                                                          Machado Lopes, que vinha observando o proce-
     localizadas na Ilha da Pintada, e que o efetivo empregado    técnicos de todas as emissoras, sob a responsabilidade e
                                                                                                                                                                                                          dimento dos ministros militares, percebeu que
     nas lanchas do Corpo de Bombeiros fosse armado, a fim de     orientação de Hamilton Chaves, o chefe da assessoria de
                                                                                                                                                                                                          estavam comprometendo a democracia e agindo
     guarnecer o local.                                           imprensa do governo, e Antônio Carlos Galante Contur-
                                                                                                                                                                                                          ilegalmente. Assim, decidiu não mais acatar as
        Outras emissoras de Porto Alegre (inclusive a Gaúcha e    si. Seu alcance foi tanto que em determinados momentos
     a Farroupilha) e do interior do Estado uniram-se à Guaíba,   atingia 100% de audiência no Estado. A Rede da Legalidade
                                                                                                                                                                                                       Na pausa, a atualização
                                                                                                                                                                                                       dos fatos pela imprensa


6   Brigada Militar na Legalidade                                                                                                                                                                                            Brigada Militar na Legalidade     7
Coronel Neme relembra fatos
     ordens do ministro da Guerra; permaneceu no comando             Batalhões Policiais, Serviço de Engenharia e alunos dos 3º e
     do III Exército e agiu por conta própria, dentro da ideia de    4º anos do CIM, que formaram a Companhia de Petrechos
     manter o regime liberal democrático cristão, assegurando        Pesados. O Batalhão de Operações tinha um efetivo de 637


                                                                                                                                    decisivos para o Movimento
     a ordem pública. Depois de solicitar para ser recebido pelo     homens, sob o comando do major Heraclides Tarragô, e
     governador, deslocou-se até o Piratini, acompanhado por         integrou a 6ª Divisão de Infantaria, ao lado do 1º e do 18º
     oficiais do Exército. Na presença do governador, do doutor      Regimentos de Infantaria.
     João Caruso, do professor Francisco Brochado da Rocha              Jango, inteirado dos acontecimentos, ao voltar da China,


                                                                                                                                    E
     e do coronel Diomário Moojen, o general Machado Lo-             voou para o Uruguai, via França e Estados Unidos. Quan-
     pes comunicou que o comando e todos os generais do III          do decidiu retornar ao Brasil, passou por Porto Alegre, a           m agosto de 1961 o então major da Brigada Militar João
     Exército não aceitariam nenhuma solução para a crise, fora      fim de conversar com Brizola. Chegando à capital, em 1º             Pedro Neme ocupava o cargo de subchefe da Casa Militar.
     da Constituição. Em consequência, foi criado o Comando          de setembro, Jango foi ovacionado por uma multidão que         Era homem da extrema confiança do governador Leonel Brizola,
     Unificado das Forças Armadas do Sul, integrado pelo III         o aguardava em frente ao Piratini. No dia seguinte, o Con-     acompanhando diretamente suas decisões e seus atos.
     Exército, V Zona Aérea, Brigada Militar e Forças Públicas,      gresso aprovou a Emenda Constitucional, que instituía o
                                                                                                                                       Hoje, aos 85 anos de idade, reformado, o coronel Neme relembra
     sob o comando de Machado Lopes.                                 Parlamentarismo no Brasil.
        O III Exército possuía a artilharia mais poderosa e o par-      Depois de conversar com Brizola, e aconselhado por          momentos daqueles dias tumultuados em que, de dentro do Pirati-
     que de manutenção mais completo do País, além de contar         Tancredo Neves, Jango foi para Brasília no dia 5 de setem-     ni, Brizola inflamou a população gaúcha a incorporar a campanha
     com importantes regimentos de infantaria, unidades blin-        bro. Nesse ínterim, Brizola anunciou o fim das transmis-       de resistência civil às pretensões golpistas dos militares contra a
     dadas e 40 mil homens, que passaram a atuar ao lado dos         sões da Rede da Legalidade.                                    posse de João Goulart (Jango) como presidente do Brasil, diante


                                                                     F
     13 mil homens da Brigada Militar.                                                                                              da renúncia de Jânio Quadros.                                                           Jango, à esquerda, com o Maj.
        Paralelamente, cem sargentos da Força Aérea Brasileira             inalmente, em 7 de setembro de 1961, Jango assumiu                                                                                               Neme, hoje coronel reformado
     (FAB) impediram que 12 modernos jatos ingleses Gloster                a presidência da República, indicando Tancredo Ne-         Entrevista concedida a Jussara Pelissoli e Sd. José de Mattos
     Meteor, com alto poder de fogo, decolassem da Base Aé-          ves para ser seu primeiro-ministro.
     rea de Canoas para bombardear o Piratini. Os praças se             Somente dois dias depois o Batalhão de Operações re-           No momento em que o governador fundamental, porque por intermédio                      Cel. Neme: Isso mesmo. E o III Exér-
                                                                                                                                    Brizola decidiu dar início à Campanha dela a voz do Brizola se espalhou por todo cito os largou de mão e apoiou Brizola.
     insubordinaram, deram-se as mãos em volta dos jatos para        tornou de Torres. Ao chegar em Porto Alegre, a tropa foi
                                                                                                                                    da Legalidade já colocou a Brigada Mili- o Brasil, não só no Rio Grande do Sul, e
     impedir a entrada dos pilotos, esvaziaram os pneus e de-        passada em revista por Brizola, acompanhado pelo major         tar (BM) de prontidão. Barricadas foram aí foi todo mundo apoiando. A rádio foi           Até que o III Exército aderisse à Cam-
     sarmaram os aviões. Só restou ao comandante e aos pilotos       Heraclides Tarragô, e desfilou sob aplausos da multidão        montadas nos telhados do Piratini                 vital. O Brizola foi pessoalmente panha, em algum momento Brizola dei-
     partirem em um avião de passageiros para fora do Estado.        pela avenida Borges de Medeiros, terminando em frente ao       e da Catedral e em frente a es-                       no Correio do Povo requisitar xou transparecer que tinha medo de ser


     E
                                                                     quartel do 1º Batalhão de Guardas.                             ses prédios. Como foi a movi-
                                                                                                                                                                          “Sem a            a rádio Guaíba, porque não preso pelos militares?
           m 30 de agosto o general Machado Lopes comunicou             Assim, a Corporação – que estava saindo de um proces-       mentação da BM dentro do                                 podia haver demora.              Cel. Neme: Não. O Brizola assumiu
           sua decisão aos demais comandos do Exército e teve        so de transição, em que seus homens, antes aquartelados        Palácio naqueles dias?          BM, Brizola não                                        mesmo aquele movimento. Ele não ti-
     a adesão de vários oficiais de outros Estados. Ao ser infor-    e preparados exclusivamente para a guerra, começavam a            Cel. Neme: Era uma mo- imaginaria fazer                  Para o senhor, qual é a nha tempo para ter medo.
                                                                                                                                    vimentação intensa, poli-                                lembrança mais significati-
     mado de que o Ministério da Guerra havia de-                    ser empregados nas atividades de policiamento ostensivo
                                                                                                                                    ciais militares para todos             tanto.”          va do período da Legalidade?      Com a Campanha da Legalidade, o go-
     signado o general Osvaldo Cordeiro de Farias                        – prestou inestimável apoio ao governo do Estado du-       os lados. O Regimento Bento                               Cel. Neme: Foram tantos vernador Brizola conseguiu retardar a ins-
     para substituí-lo no comando, Machado Lopes                           rante a Campanha da Legalidade.                          Gonçalves, que já guarnecia o                      os momentos importantes que é talação da ditadura que veio em 1964?
     declarou que não mais receberia ordens do ma-                                                                                  Palácio, levou todo o seu efetivo para lá. difícil destacar um. Mas o mais impor-         Cel. Neme: Exatamente. O Jango de-
     rechal Denys e que prenderia seu substituto,                                                                                   Era policial em alerta 24 horas por dia, tante foi quando se conseguiu fazer o veria assumir, os militares no poder não
     caso desembarcasse em Porto Alegre.                                                                                            dentro, em cima e fora do prédio.          entendimento com o comandante do III concordavam e o Brizola dentro do Pi-
        Ao mesmo tempo, o coronel Moojen ex-                                                                                                                                   Exército, general José Machado Lopes.       ratini fez a Legalidade. Aí os militares
                                                                                                                                       A tropa estava imbuída da missão?                                                   tiveram que recuar.
     pediu correspondência a todos os coman-
                                                                                                                                       Cel. Neme: Total. A Brigada é a Bri-        Numa intenção velada, o III Exército
     dantes-gerais das outras polícias militares,                                                                                   gada até hoje, acostumada com revolu- já apoiava Brizola?                                 O senhor era um homem da total con-
     buscando apoio à causa da Legalidade, afir-                                                                                    ções. É uma Corporação ativista, está          Cel. Neme: Teve que apoiar,                   fiança do Brizola. De onde veio essa
     mando que o único caminho a ser seguido                                                                                        sempre progredindo, avançando. Ela se porque todos os generais do                                relação?
     era o da defesa da Constituição.                                                                                               acostumou a ser considerada força mili- interior do Estado já estavam                                  Cel. Neme: A farda me
                                                                                                                                    tar e não apenas polícia.                  com o Brizola, então só o
                                                                                                                                                                                                                     “A farda           ajudou a ser o braço direi-
        As preocupações aumentaram diante
     da informação de que unidades da Mari-                                                                                                                                    Machado Lopes aqui (em           me ajudou a ser to do Brizola, porque se eu
     nha de Guerra se deslocavam para o sul                                                                                            Sem a participação da Brigada Militar, Porto Alegre) é que falta-         o braço direito fosse civil não me escuta-
                                                                                                                                    Brizola teria tido condições de deflagrar va. Ele sentiu que não tinha                               riam. Eu sempre promovi
     do País. Para guarnecer a região próxima
                                                                                                                                    a Campanha da Legalidade?                  mais força, estavam todos           do Brizola”          a execução das ordens do
     ao rio Mampituba, em Torres, foi criado                                                                                           Cel. Neme: Não, nem imaginaria po- apoiando o Brizola.                                         Brizola e com isso ele acabou
     o Batalhão de Operações, integrado pelos                                                                                       der fazer tanto.                                                                               depositando muita confiança em
     efetivos do 1º Batalhão de Guardas, 3º e 4º                                                                                                                                   O III Exército se declarou a favor do mim. Mas eu sempre fui respeitado por
                                                                                                                                       A Rede da Legalidade foi um instru- Movimento da Legalidade em defesa dos todos porque tinha a minha conduta.
                                                                                                                                    mento fundamental para o êxito do Mo- preceitos constitucionais, contrariando Mesmo com o poder na mão eu nunca
                Governador confere armamento                                                                                        vimento?                                   ordens dos ministros militares que que- prejudiquei quem quer que fosse e fui
                                                                                                                                       Cel. Neme: Fundamental, dez vezes riam calar o Brizola.                             respeitado por isso.


8   Brigada Militar na Legalidade                                                                                                                                                                                                    Brigada Militar na Legalidade      9
Efetivo do Regimento Bento Gonçalves
      viveu a Legalidade sob a tensão do Piratini
        Jussara Pelissoli


      C      aiu o portão. Essa era uma expressão utilizada pelo
             efetivo da Brigada Militar nos anos 60 para o aler-
      ta de prontidão geral da tropa. Foi com ela que no dia 26
                                                                                                                                  usava uma capa e carregava a ‘Lurdinha’, ape-
                                                                                                                                  lido dado à submetralhadora fabricada pela
                                                                                                                                  Indústria Nacional de Armas (INA), da qual o
      de agosto de 1961 o então 3º sargento Solon Andrade de                                                                      governador não se separou durante o episódio
      Araújo Sobrinho, hoje capitão reformado, soube que ele e                                                                    da Legalidade”.
      outros dez colegas de farda do Regimento Bento Gonçal-                                                                         “Havia barricadas nos telhados do Palácio,
      ves – que estavam no Batalhão de Montenegro para parti-                                                                     da Catedral e até de um prédio numa rua la-
      das de futebol de confraternização entre unidades da Cor-                                                                   teral ao Piratini”, recorda o capitão Solon. Já Policiais descansavam como era possível
      poração – teriam que retornar a Porto Alegre.                                                                               o tenente Requia destaca que, para as barrica-
         O governador Leonel Brizola havia recebido a notícia                                                                     das do telhado do Piratini, local de maior risco no caso       contra a tentativa de golpe à posse de Jango, a resposta
      da renúncia do presidente da República Jânio Quadros,                                                                       de um ataque aéreo – que não estava descartado – foram         do capitão Solon não foi patriotismo, nem lealdade ou re-
      acompanhada da intenção dos ministros militares de im-                                                                      designados policiais militares solteiros, pois havendo         sistência. “Era medo”, afirma. “Medo, sobretudo, de um
      pedir a posse do vice João Goulart. Brizola dava início ao                                                                  mortes eles não deixariam viúvas e filhos órfãos de pais.      bombardeio aéreo que poderia ser ordenado pelo Minis-


                                                                                                                                  A
      Movimento da Legalidade para garantir que Jango, como                                                                                                                                      tério da Aeronáutica”. O bombardeio não ocorreu e hoje
      era conhecido o vice-presidente, assumisse o cargo a que                                                                            tensão dominava aqueles dias e não havia descanso.     o capitão Solon consegue dar risadas ao contar que, no
      tinha direito constitucional e colocou a Brigada Militar de                                                                         “Dormíamos nas barricadas mesmo. O revezamen-          meio daquela tensão, um alarme falso do ataque aéreo
      prontidão.                                                                                                                  to dos turnos era de uma barricada para outra”, conta o        esvaziou a frente do Palácio e as adjacências, tomadas por
         O capitão Solon conta que todo o efetivo do Regimen-                                                                     capitão Solon. Ele também lembra que cinco mil sacos de        uma multidão calculada em 50 mil pessoas.
      to Bento Gonçalves, situado na avenida Aparício Borges,                                                                     aniagem doados pelo Instituto Rio-Grandense do Arroz              “Havia uma senha para alertar as pessoas sobre o bom-
      deslocou-se em direção ao Palácio Piratini para reforçar                                                                    (Irga), além de serem preenchidos com areia para formar        bardeio aéreo. Se a iluminação pública fosse apagada, so-
                                                                    Barricadas estrategicamente posicionadas
      a tropa que lá fazia a guarda. Eram aproximadamente 150                                                                     as barricadas, foram usados como colchões. “Eram 25 sa-        aria a sirene de um carro de bombeiros, que estava posi-
      policiais militares. “No caminho, tivemos que desviar dos                                                                   cos acomodados dentro de um e nós os usávamos como             cionado entre o Piratini e o antigo prédio da Assembleia,
                                                                    quartéis do Exército para não lhes chamar a atenção. Na-      colchonetes”, recorda o capitão. O tenente Requia tem          para dar tempo de as pessoas fugirem da área. Uma certa
                                                                    quele momento ainda não se sabia se o Exército estava a fa-   lembrança semelhante. “Não tínhamos folga. Quando o            noite a luz piscou, a sirene soou e em questão de segundos
                                                                    vor ou contra o Movimento da Legalidade”, lembra Solon,       cansaço dominava, tirávamos um cochilo com a arma em           não tinha mais ninguém na frente do Palácio; desapareceu
                                                                    que em 1961, aos 26 anos de idade, estava nos quadros da      punho, sentados no espaço entre o Palácio e a Catedral”,       todo mundo”, diverte-se ao lembrar. “O mais hilário é que
                                                                    Brigada Militar havia quatro anos.                            conta Requia, que, apesar de tudo, tinha a seu favor a vi-     na barricada em frente à Catedral estavam dois soldados
                                                                       Uma lembrança que ele revela com entusiasmo é que,                   talidade de atleta, pois disputava corridas pelo Es- com uma metralhadora e eles também correram de lá com
                                                                    com o deslocamento de todo o efetivo, o Regimento pas-                   tado, nas quais sagrou-se campeão fundista mui-     arma e tudo”.
                                                                    sou a ser guarnecido por policiais inativos, residentes nas              tas vezes, com medalhas e matérias da imprensa
                                                                    imediações. “Lembro de um PM com uma deficiência fí-                        guardadas até hoje.
                                                                    sica na perna que, com um facão na mão, dirigiu-se ao                           Ao ser questionado sobre o sentimento
                                                                    comandante do Regimento, tenente-coronel Átilo Cava-                          dominante naquela situação em que Brizola
                                                                    leiro Escobar, e disse: Pode deixar, coronel, aqui ninguém                    conseguiu mobilizar uma imensa multidão
                                                                    entra”.


                                                                    F     oram 13 dias dentro do Palácio Piratini e nos arre-
                                                                          dores. O tenente reformado Eduardo Requia, então
                                                                    3º sargento, com 23 anos de idade, conta que o governador
                                                                                                                                                                   Parte da tropa do Palácio
                                                                                                                                                                com Requia (último à direita)
                                                                    Brizola, ao circular pelas dependências do prédio, sempre                                      e Solon (em pé, ao centro)
      Brizola cumprimentando o efetivo                              cumprimentava os policiais. “No frio de agosto, Brizola

                                                                                                                                                               Ten. Eduardo Requia
                                                                                                                                                               no telhado do Piratini
10   Brigada Militar na Legalidade                                                                                                                                                                                          Brigada Militar na Legalidade     11
Alunos do CIM estavam
                                                                                                                                   preparados para o combate
                                                                                                                                     Maj. Najara Silva e Sd. José de Mattos




      Ten. Requia: Maior            Cap. Solon: Revezamento
                                                                                                                                   N       a tarde de 26 de agosto de 1961,
                                                                                                                                           o Centro de Instrução Mili-
                                                                                                                                   tar (CIM), localizado na área da atual
      emoção foi o desfile na       dos turnos era de uma                                                                          Academia de Polícia Militar (avenida
      Borges de Medeiros            barricada para outra                                                                           Aparício Borges), entrou em estado de



      O
                                                                                                                                   prontidão, devido à possibilidade de
              tenente Requia conta que não acreditava que o                                                                        enfrentamento com tropas do III Exér-
              bombardeio aéreo fosse autorizado. “A esperança                                                                      cito, por causa do início da Campanha
      era de que tudo se resolvesse na paz, que nenhum tiro fosse                                                                  da Legalidade. Os alunos do Curso de
      disparado e muito menos acontecesse o ataque aéreo”, diz                                                                     Oficiais começaram a organizar a defesa
      Requia, que torcia por uma solução pacífica para a revo-                                                                     do quartel, a partir do planejamento do
      lução em que havia se transformado a ousadia de Brizola.
                                                                    Governador passa a tropa em revista no                         capitão Odilon Alves Chaves. Do tenen-
                                                                    desfile da avenida Borges de Medeiros                          te Wellinton Carlos Soveral receberam
      “A frente do Palácio era uma praça de guerra. Lembro que
      meus pais, em Santa Maria, ficavam rezando pela minha                                                                        instruções para defesa e ataque, caso os
      segurança e para tudo terminar bem”, conta.                   avenida Borges de Medeiros, realizado em 9 de setembro,        blindados do Exército investissem contra
         As recordações são muitas para o capitão Solon. No         dois dias após a posse de Jango na presidência, sob os limi-   o efetivo da Brigada Militar.
      relicário da Legalidade, ele destaca uma como ato de he-      tes do parlamentarismo, instituído por emenda constitu-           O coronel reformado Bento Mathu-                                                        CIM manteve prontidão geral
      roísmo do então 1º sargento Argus Mesquita de Aragão,         cional. O então sargento Requia, a cavalo, conduzia seu pe-    zalen de Vasconcelos era um dos cade-
      batedor-motociclista do Regimento Bento Gonçalves, que        lotão e se emocionava com a multidão aplaudindo a tropa        tes do CIM e relata que foram cavadas trincheiras e espal-  e medo, diante da ameaça concreta de combate, e grupos
      recebeu a missão de se infiltrar em um quartel do III Exér-   e com o Hino da Legalidade, que ressoava rua a fora. “Era      dões para metralhadoras nas adjacências da Unidade, em      iam se revezando nas trincheiras, conforme a evolução dos
      cito, no bairro Serraria, para saber das estratégias que lá   uma coisa inacreditável”, recorda o militar, hoje com 73       posições estratégicas para a defesa. Além de revólveres e   fatos.
      estavam sendo elaboradas. “Não sei como ele conseguiu         anos de idade. Ele afirma que após a Campanha da Lega-         armas longas, os alunos receberam metralhadoras, fuzis-        “O clima ficou mais tenso quando no dia 29, próximo
      entrar lá com motocicleta e tudo, mas quando voltou es-       lidade não vivenciou fato semelhante em movimentação,          metralhadoras e coquetéis molotov para combater os blin-    ao meio-dia, o tenente Ubirajara de Sá Gomes passou pelas
      tava bastante nervoso e disse que havia muito movimento       adesão popular, expectativa ou tensão como aqueles dias.       dados, sendo que alguns cadetes fo-                                              posições, dando a ordem de alimen-
      no Exército”, relembra Solon. “Mas, além de um ato                                                                           ram posicionados na base do Morro                                                tar as armas e esperar pelo ataque. Fe-
      heroico, penso que ele tenha aceitado o desafio em                                                                                                                                                            lizmente não houve combate, graças
                                                                                                                                   da Polícia.
      gratidão à Brigada Militar, pois antes dessa missão


                                                                                                                                   O
                                                                                                                                                                                                                    ao bom senso e alto espírito patrió-
      ele havia sido promovido de soldado a sargento”.
                                                                                                                                           coronel Bento acredita que                                               tico do comandante do III Exército,


      E     mocionado, o capitão Solon revela a sua me-
            lhor lembrança do episódio. Depois de toda
      a situação serenada, com Jango na presidência da
                                                                                                                                           alguns oficiais discordavam
                                                                                                                                   da posição do governo do Estado
                                                                                                                                   quanto à defesa da previsão consti-
                                                                                                                                   tucional, diante da renúncia de Jânio
                                                                                                                                                                                                                    general Machado Lopes, que aderiu
                                                                                                                                                                                                                    à Legalidade, evitando um derrama-
                                                                                                                                                                                                                    mento de sangue”, recorda.
                                                                                                                                                                                                                       O coronel Bento também tece elo-
      República, o governador Brizola reuniu o efetivo do
                                                                                                                                   Quadros, mas a lealdade, a hierarquia                                            gios ao então comandante-geral da
      Regimento Bento Gonçalves para agradecer e cum-
                                                                                                                                   e a disciplina fizeram com que todos                                             BM, coronel Diomário Moojen. “Ele
      primentar pessoalmente os policiais militares. “Ele
                                                                                                                                   permanecessem ao lado do comando                                                 teve uma participação leal, serena e
      apertou a mão de cada um, tantos quanto pôde.
                                                                                                                                   da Brigada Militar, em apoio ao go-                                              destemida no episódio, permanecen-
      Eu recebi o aperto de mão do governador Brizola”,
                                                                                                                                   vernador Brizola. “Esse foi um fator                                             do ao lado do governador, comandan-
      recorda satisfeito por ter dado sua contribuição à
                                                                                                                                   decisivo para a vitória da Legalida-                                             te supremo da Brigada Militar, o que
      Campanha da Legalidade.
                                                                                                                                   de”, declara o coronel. Lembra, ainda,   Cel. Bento Mathuzalen era cadete        fez os cadetes vibrarem nas trincheiras,
         Já para o tenente Requia, o momento de maior
                                                                                                                                   que foram dias de muita expectativa      do CIM durante o episódio
      emoção foi o desfile do efetivo da Brigada Militar na                           Do telhado do Palácio, a visão era ampla                                                                                      como uma vitória de todos”, destaca.



12   Brigada Militar na Legalidade                                                                                                                                                                                           Brigada Militar na Legalidade     13
Divisa foi protegida                                                                                                         Sacrifícios no
     contra invasão da Marinha                                                                                                    cumprimento
        Jussara Pelissoli e Sd. José de Mattos
                                                                                                                                  do dever
     O       governador Leonel Brizola mobilizava civis e mi-
             litares para garantir a ordem jurídica e constitu-
     cional, enfrentando as forças autoritárias e oligarquias                                                                       Sd. José de Mattos
                                                                                                                                                                                               Trincheira na defesa da divisa do Estado com Santa Catarina
     poderosas que se posicionavam contra o vice-presidente


                                                                                                                                  “U
     João Goulart que, pela Constituição, deveria suceder
     Jânio Quadros frente à sua renúncia na presidência do                                                                                   m sentimento de dever cumprido”. A decla-         se, enquanto seus colegas de farda controlavam para que
     País. Um novo problema surgiu quando informações de-                                                                                    ração do sargento reformado Máximo Rodri-         os oficiais não descobrissem sua travessia clandestina.
     ram conta de que unidades da Marinha se preparavam                                                                           gues Carrilha, atualmente com 82 anos, reporta a 1961        Ele trazia um saco plástico amarrado na cabeça, com a
     para invadir o Estado.                                                                                                       quando era soldado do 1º Batalhão Policial e esteve à        farda e os alimentos. Lembra, ainda, que em uma das
        Era necessário proteger a fronteira com Santa Cata-                                                                       disposição do Batalhão de Operações, que foi enviado         vezes atravessou o Mampituba tranquilamente, mas na
     rina, próximo ao rio Mampituba, em Torres. A Brigada                                                                         para Torres, a fim de guarnecer a fronteira do Estado        volta o leito do rio havia subido e ele acabou retornan-
     Militar criou, então, o Batalhão de Operações, com efe-                                                                      com Santa Catarina na Campanha da Legalidade. Máxi-          do para a margem gaúcha a mais de um quilômetro do
                                                                   Embarque para Torres
     tivo de 637 homens de algumas de suas unidades, in-                                                                          mo refere, também, parte do juramento do Policial Mili-      acampamento, dentro de uma chácara, cujo proprietá-
     cluindo alunos dos 3º e 4º anos do Centro de Instrução                                                                       tar: “Mesmo com o sacrifício da própria vida.”               rio apontou uma arma na sua direção por pensar que se
     Militar (CIM). Desse grupo fazia parte o aluno-oficial        o moral da tropa era muito alto e mantínhamos sempre              O sargento Máximo havia prestado serviço nas filei-       tratava de um ladrão de galinhas.
     Jerônimo Carlos Santos Braga, hoje coronel reformado,         a certeza da vitória”, salienta o oficial. “Para nós, estava   ras das Forças Armadas por um ano, no município de              O descanso também não era totalmente reparador.
     na função de municiador do fuzil-metralhadora FMZB,           tudo mais focado na participação da Brigada e na res-          Livramento, onde adquiriu experiência na área de defesa      Como não havia colchões, nem cobertores à disposição,
     da Companhia de Metralhadoras.                                ponsabilidade de honrar a missão do que propriamente           de quartel e território e ataques de infantaria. Ingressou   eles improvisavam, dormindo sobre galhos e folhas de
        A tropa do Batalhão de Operações se deslocou até           no aspecto político daquele Movimento”, complementa.           na Brigada Militar em 1960, no 1º Batalhão Policial. Já      árvores dentro das barracas, que acabavam servindo,
     Torres em caminhões e ônibus, sob o comando do ca-                O coronel Jerônimo também relembra que, antes do           no ano seguinte, foi requisitado para compor o Batalhão      apenas, para abrigar de chuvas, do sereno e do frio da
     pitão Odilon Alves Chaves. As condições do tempo não          embarque para Torres, a tropa tinha noção do desenro-          de Operações, que se deslocou para Torres. O momento         noite.


                                                                                                                                                                                               A
     eram favoráveis à instalação da tropa no terreno, devi-       lar dos fatos por meio da Rádio da Legalidade. Já dis-         era de indecisão e seus familiares choravam apreensi-
     do ao inverno rigoroso, com frio intenso e muita chuva.       tante de Porto Alegre, os policiais que faziam vigília no      vos, por não saberem o que poderia acontecer ao jovem              pós duas semanas de prontidão e sacrifícios em
     Foi distribuída uma barraca para cada dois policiais e,       farol e na barra do Mampituba, quando liam as notícias         soldado que estava sendo enviado para uma missão em                Torres, a tropa retornou a Porto Alegre e, junto
     no solo, foram cavados espaldões para metralhadoras,          nos jornais, ficavam na expectativa de novas decisões,         apoio ao chamado do governador Leonel Brizola pelo           com os demais pelotões, participou do desfile da Briga-
     “tocas de raposa” (buraco para um só atirador) e abrigos      que apontassem para a posse de Jango e o fim pacífico          cumprimento da Constituição Federal.                         da Militar na avenida Borges de Medeiros, determinado
     antiaéreos.                                                   da Campanha da Legalidade.                                        O sargento declara que aquele foi um período difí-        pelo governador Brizola.
                                           Conforme o coronel                                                                     cil para os policiais militares, diante do frio do inverno      Com o mesmo entusiasmo de 50 anos atrás, Máximo
                                        Jerônimo, o momento                                                                       e da pouca comida e água para a tropa. Eles comiam           diz que lutaria até o fim, defendendo o Estado e o gover-
                                        de maior preocupação                                                                      muitas bananas, pois a alimentação distribuída ao efe-       nador, e que faria tudo novamente pelo cumprimento
                                        foi quando se definiu                                                                     tivo da base, situada às margens do rio Mampituba, não       da Carta Máxima do País e pela Brigada Militar. “Isso
                                        posicionar um grupo                                                                       chegava até o morro, nas trincheiras onde Máximo se          é uma relíquia para nós”, destaca o sargento reforma-
                                        a cerca de dois quilô-                                                                    manteve. Lembra, ainda, de ter se utilizado de destreza      do, expressando o seu sentimento pela participação na
                                        metros à direita do lo-                                                                   para pegar algumas rapaduras na barraca da alimenta-         Campanha da Legalidade e pelos 30 anos de farda, com
                                        cal onde a tropa estava                                                                   ção e levá-las para comer com os colegas nas trincheiras.    serviços prestados entre o policiamento ostensivo e o
                                        instalada, mantendo                                                                          Além dos armamentos pesados, faziam-lhe com-              Hospital da Brigada Militar.
                                        fogueiras acesas, com                                                                     panhia na trincheira os apetrechos para o chimarrão:
                                        o objetivo de simular                                                                     bomba, cuia e chaleira. “Nadei no rio Mampituba, de
                                                                                                                                  um lado ao outro, no mínimo três vezes, durante as                                                Efetivo enfrentou
                                        uma nova posição na                                                                                                                                                                          adversidades em Torres
                                        área, a fim de enganar o                                                                  duas semanas em que permaneci em Torres”. Foi dessa
       Cel. Jerônimo participou da                                                                                                maneira que o então soldado Máximo conseguiu, algu-
         Legalidade, protegendo a       adversário. “Apesar de
                                        todas as adversidades,                                                                    mas vezes, saciar fome e sede, pois atravessava o rio para
                    divisa do Estado                                         No retorno, tropa desfilou na Borges de Medeiros
                                                                                                                                  buscar bolachas e erva de chimarrão no lado catarinen-



14   Brigada Militar na Legalidade                                                                                                             Brigada Militar na Legalidade    15
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Revista Brigada Militar na Legalidade

  • 1. Brigada Militar na Legalidade EDIÇÃO ESPECIAL - Agosto - 2011 Corporação resgata bravura do efetivo no Movimento
  • 2. Mensagem do Comandante-Geral Mensagem do Governador do Estado T endo a honra de comandar a Brigada Militar no ano em que comemoramos o cinquentenário da Campa- nha da Legalidade em nosso Estado, resolvi chamar inte- da do cristal da antena. Houve movimentação de efetivos do Exército para o local, mas antes do confronto o bom senso desfez a ordem e não ocorreu uma luta entre as duas A Campanha da Legalidade marca um momento de grande emoção em minha vida, pois remete ao pri- a Legalidade como movimento de todo o povo gaúcho, assim como prestemos as justas homenagens a Brizola, grantes da Corporação para formar uma Comissão Editorial instituições militares. meiro movimento político do qual participei. Tinha apenas Jango e tantos outros personagens que, a partir do nosso que desenvolvesse a revista Brigada Militar na Legalidade e A Brigada Militar mobilizou-se em todo o Estado. Hou- 14 anos e lembro bem que naquela época nós, jovens estu- Estado, marcaram fortemente a luta por um País demo- vejo que o resultado é muito positivo para a nossa Instituição. ve preparação de defesa de diversas cidades. Torres é um dantes – eu era estudante secundarista, orgulhávamo-nos de crático e justo. A proposta é resgatar parte da atividade coordenada capítulo à parte. Um Batalhão de Operações deslocou-se estar participando de um movimento em defesa da demo- A Legalidade é um dos maiores símbolos da presença do pelo comandante-geral daquele momento histórico, coro- para aquele município, os efetivos foram distribuídos ao cracia. Essa mesma democracia defendida e reafirmada nas Rio Grande do Sul no cenário político nacional, com suas nel Diomário Moojen, com uma visão diferenciada: aquela longo das margens do rio Mampituba, em pontos estraté- barricadas do Palácio Piratini, sob a inspiradora liderança lideranças políticas e seu povo defendendo um País justo e de quem viveu na Brigada Militar todos os momentos de gicos, permanecendo 15 dias posicionados, esperando um do saudoso Leonel Brizola, que foi quebrada mais tarde, democrático como hoje, finalmente, estamos conseguindo agosto e parte de setembro do ano de 1961, quando o povo ataque de forças contrárias à posse de João Goulart. em 1964, com o Golpe Militar. Foi o início de um ciclo de construir. Nesse sentido, a Legalidade dialoga muito com gaúcho apoiou integralmente a ideia do governador Leo- No Centro de Instrução Militar, atual Academia de Po- injustiças a uma das grandes referências do Movimento da o nosso projeto para o Rio Grande e a forma como enten- nel de Moura Brizola de levar o presidente João Goulart lícia Militar, os cadetes também foram mobilizados para a Legalidade, o então vice-presidente João Goulart (Jango). demos necessária sua presença no cenário nacional: como a ocupar o lugar que a Constituição determinava, após a defesa da ordem constitucional, ficando por duas semanas Sobre Jango, aliás, orgulha-me ter participado e contri- um Estado que tem uma forte identidade própria e que se renúncia, em 25 de agosto, de Jânio Quadros. à espera de um embate com forças que pretendiam calar buído na reparação à memória desse grande homem públi- insere de forma plena no projeto nacional. A Brigada Militar desempenhou, e se mantém hoje Leonel Brizola. co quando, em 2008, na condição de Ministro da Justiça, Por tudo isso, queremos marcar a passagem do cinquen- nessa trajetória, papel importante na defesa dos preceitos Ao final, no dia 9 de setembro de 1961, as tropas briga- concedemos oficialmente a anistia a João Goulart. Confor- tenário da Legalidade com profundo respeito e gratidão. constitucionais, por meio da proteção da vida, do patri- dianas desfilaram em Porto Alegre, sendo aplaudidas pela me afirmei naquela ocasião, perante seus familiares presen- As atuais gerações devem conhecer todos aqueles que, há mônio público e da preservação da ordem pública no Rio população, que entoava o Hino da Legalidade, reconhecen- tes à cerimônia de anistia, Jango acabou sendo derrotado 50 anos, participaram de alguma forma da defesa da de- Grande do Sul. do a importância da Brigada Militar nesta página da histó- pelo seu conjunto de virtudes e não pelos seus defeitos. mocracia em nosso País, liderando ou apoiando a luta pela O Regimento Bento Gonçalves, comandado pelo tenen- ria do Brasil. O ano de 2011 marca os cinquenta anos desse movi- Legalidade. Além das homenagens que faremos aos perso- te-coronel Átilo Cavalheiro Escobar, protegeu o Palácio Gostaria que tivessem sido ouvidos todos os brigadianos mento que garantiu a posse democrática do vice-presidente nagens e familiares e das diversas publicações que, durante Piratini, a Assembleia Legislativa e a Praça da Matriz, onde que participaram da Campanha da Legalidade, mas devido eleito. Ciente da dimensão histórica desse episódio para o todo este ano, celebrarão a data, creio que a inauguração se concentraram mais de 50 mil pessoas durante aqueles ao espaço reduzido às páginas desta revista, foram entre- nosso Estado é que constituí uma Comissão Especial para do Memorial da Legalidade, no porão do Palácio Piratini, 12 dias da Campanha da Legalidade. Os brigadianos do vistados alguns para representar o conjunto. Contudo, dei- tratar das celebrações dos 50 anos da Legalidade. Tendo seja uma marca importante que Regimento Bento Gonçalves postaram-se nos telhados do xo a possibilidade de que outras edições aconteçam, pois o Legislativo gaúcho como parceiro, será um conjunto de deixaremos para as gerações Piratini, da Catedral Metropolitana e nos edifícios ao redor muitos dos que participaram podem, ao ler estas páginas, iniciativas que trarão aos nossos dias um pouco do que foi futuras. A sala a partir da qual da Praça da Matriz, montando barricadas e colocando me- recordar seus momentos e pro- aquele período. Aos que viveram aquela época, a oportuni- o governador Brizola liderou a tralhadoras naqueles locais para evitar o ataque ao gover- curar a Comissão Editorial para dade de reviverem e, de alguma forma, sentirem-se parte Cadeia da Legalidade passará Caco Argemi/Palácio Piratini nador Leonel Brizola. relatar suas experiências. da história; aos mais jovens, a oportunidade de conhece- a ser local de visitação pública Convém destacar o major Emílio Neme, homem de con- Parabéns aos brigadianos rem um dos mais ricos episódios da história do Rio Grande onde, de forma permanente, fiança de Leonel Brizola, que, com sua liderança, auxiliou que defenderam a bandeira da do Sul. os cidadãos terão contato com na organização das defesas do Piratini e esteve ao lado do democracia, mantendo a ordem Sob a liderança do governador Leonel Brizola, o povo um dos mais significativos mo- governador, inclusive durante os seus pronunciamentos legal em nosso País, salvaguar- gaúcho demonstrou grande engajamento na causa da de- mentos da vida política do Rio no estúdio da Rede da Legalidade, nos porões do Palácio, daram a Constituição e evitaram Arquivo PM5 mocracia, num movimento que adiou o desfecho trágico Grande e do Brasil. por meio da rádio Guaíba. que um regime inconstitucional que ocorreria em 1º de abril de 1964. Num momento em Participamos, ainda, da proteção do transmissor da rá- fosse implantado no Brasil. que o País procura enfrentar com clareza a triste memória Tarso Genro dio Guaíba, na Ilha da Pintada, onde um contingente do da ditadura militar, nada mais justo que se homenageie Governador do Estado do Rio Grande do Sul Batalhão Pedro e Paulo, juntamente com os bombeiros, Coronel Sérgio Roberto de Abreu que em lanchas patrulhavam o lago Guaíba, evitou a retira- Comandante-Geral da Brigada Militar 2 Brigada Militar na Legalidade Brigada Militar na Legalidade 3
  • 3. Expediente Editorial Maj. Paulo César Franquilin Pereira Campanha da Legalidade E Coordenador da Comissão Editorial m março deste ano, o comandante-geral da Brigada Mi- litar determinou a produção de uma revista para contar Fragmentos de uma história o envolvimento da Corporação na Campanha da Legalidade. Maj. Najara Santos da Silva - Historiadora A O desafio era recriar, pelo sentimento de quem viveu aqueles dias, o cenário de uma página histórica de nosso País. pós derrotar o marechal Henrique Lott e Ademar de Uma comissão editorial foi criada e decidiu que a revista Barros nas eleições de 1960, Jânio Quadros assumiu traria uma visão diferenciada da Legalidade, salientando os Publicação especial alusiva aos 50 anos do a presidência da República em janeiro de 1961, anuncian- detalhes que não são encontrados nos livros e materiais já pro- Movimento da Legalidade, em agosto de 2011. do, logo após sua posse, a retomada das relações diplomá- duzidos. Passamos a fazer o levantamento dos nomes que vi- venciaram o episódio e começamos a contatar os entrevistados, ticas com a União Soviética, desagradando a cúpula de seu Governador do Estado Produção e Revisão partido. Em agosto, Jânio condecorou Ernesto Che Gueva- que foram indicando outros, numa rede de resgate da partici- do Rio Grande do Sul Comissão Editorial ra com a Ordem do Cruzeiro do Sul, a mais alta distinção pação da Brigada Militar naqueles dias de agosto e setembro de Tarso Genro 1961, para mostrar o quanto os brigadianos contribuíram para do governo brasileiro, aumentando o descontentamento. Edição a Campanha da Legalidade. Depois de comparecer às comemorações do Dia do Sol- Secretário de Estado da Jussara Pelissoli Ouvimos os que viveram os dias da Legalidade no Palácio dado, em 25 de agosto de 1961, Jânio Quadros retornou ao Segurança Pública Piratini, aguardando um bombardeio aéreo; outros que fica- Palácio do Planalto e renunciou à presidência da República. Airton Michels Fotografias ram no Centro de Instrução Militar, prontos para um possí- No dia seguinte, na ausência do vice-presidente João • Acervo do Museu da vel confronto com o Exército; aqueles que se deslocaram até Belchior Marques Goulart (Jango), o presidente da Câmara Brigada Militar Brigada Militar Torres para defender a divisa do Estado, além de juntarmos Federal, deputado Ranieri Mazzilli, assumiu a presidência Comandante-Geral • Acervo do Museu da depoimentos de outras pessoas que viveram aqueles dias e da República, sem nenhum poder. Quem realmente gover- Cel. Sérgio Roberto de Comunicação Hipólito confirmaram a importância da Brigada Militar para que a nava o País eram os ministros militares, sob a chefia do ma- Abreu José da Costa Constituição fosse respeitada. Os anônimos agora têm nomes e ficarão registrados para rechal Odílio Denys, Ministro da Guerra. Jango, que estava • Arquivo pessoal do Ten. na Malásia, foi informado sobre a renúncia de Jânio Qua- sempre na história brigadiana, enquanto outros já conhecidos Nos fundos do Palácio, Brizola conversa com brigadianos Subcomandante-Geral Ref. Eduardo Requia dros e que seria preso assim que desembarcasse no Brasil, voltaram a falar sobre suas experiências no episódio. Cel. Altair de Freitas • Arquivo pessoal do Cel. Agregamos, ainda, declarações de descendentes dos prin- por ordem dos militares. Cunha Ref. Bento Mathuzalen cipais nomes da Campanha da Legalidade: Brizola e Jango. Com isso, iniciaram as manifestações simpáticas à Lega- cou a Brigada Militar e a Polícia Civil de sobreaviso, até que de Vasconcelos Também ouvimos pessoas que não integravam a Brigada Mi- lidade, porém foram reprimidas em todos os Estados brasi- fosse possível se certificar a respeito. Chefe do Estado-Maior • Jussara Pelissoli litar, mas que tiveram envolvimento com a Instituição. Eram leiros, principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo. No Diante da confirmação, a Brigada Militar foi colocada Cel. Valmor Araújo de • Sd. José de Mattos estudantes, militares, trabalhadores e políticos que vivencia- Rio Grande do Sul, entretanto, quando o governador Leo- de prontidão, assumindo todas as posições consideradas Mello ram o Movimento. nel Brizola foi informado pelo jornalista Hamilton Chaves, estratégicas pelo Comando-Geral e seu Estado-Maior. O Nosso objetivo é trazer uma ideia do panorama da época e seu assessor de imprensa, sobre a renúncia de Jânio, colo- Palácio Piratini e adjacências transformaram-se numa ver- Comissão Editorial mostrar que os brigadianos trabalharam pela Legalidade em dadeira cidadela. Metralhadoras foram instaladas no Pira- Coordenação vários pontos do Rio Grande do Sul, armados, atentos, ca- vando trincheiras, montando barricadas, insones e cansados, tini, nas torres da Catedral Metropolitana e nos edifícios Maj. Paulo César Projeto Gráfico e mais altos, no entorno da Praça da Matriz. Barricadas fo- Diagramação dispostos a lutar até a morte para defender o preceito cons- Franquilin Pereira - ram posicionadas onde se faziam necessárias. O efetivo do titucional da posse do vice-presidente, frente à renúncia do Jornalista (RMT 9.751) EDICTA – Edição & Regimento Bento Gonçalves, responsável pela segurança presidente do Brasil. Mensagem A liderança de Leonel Brizola e o comando firme do coronel do Piratini e das sedes dos poderes Legislativo e Judiciário, Redação www.edicta.com.br Moojen permitiram que a Corporação entrasse para a história além de contar com todo o seu efetivo disponível, foi refor- • Maj. Najara Santos da edicta@edicta.com.br como parte da força militar que garantiu a posse do presidente çado com policiais de outras unidades da Corporação, sob Silva - Historiadora João Goulart. A habilidade política de Jango, aceitando o parla- o comando do tenente-coronel Átilo Cavalheiro Escobar. O • Sd. José de Mattos - Impressão mentarismo, evitou o derramamento de sangue e mortes. capitão Odilon Alves Chaves, instrutor de técnica e tática Jornalista (RMT 11.435) Corag Cinquenta anos depois, a Brigada Militar escreve uma parte para metralhadoras e morteiros, orientou os policiais sobre • Assessora de Imprensa de suas memórias, de forma direta e comovente, com lágrimas as técnicas de tiro antiaéreo. Jussara Pelissoli - Tiragem nos olhos dos entrevistados, ao lembrarem Brizola tinha sua posição bem definida: defesa da ordem Jornalista (RMT 6.108) 5.000 exemplares dos dias em que lutaram pela defesa da Constituição e olhares tristes pela pas- constitucional, investidura de Jango na presidência da Re- sagem do tempo, mas pública e resistência contra qualquer tentativa de golpe. A Comando-Geral da Brigada Militar Rua dos Andradas, 522 – Centro Histórico alegres quando recor- 90.620.002 – Porto Alegre/RS dam que fizeram a história. Chegada de reforço no 51 3288 2700 Piratini para o efetivo do www.brigadamilitar.rs.gov.br Regimento Bento Gonçalves 4 Brigada Militar na Legalidade Brigada Militar na Legalidade 5
  • 4. partir daquele momento, passou a se manifestar chegou a possuir 104 emissoras em cadeia no Brasil e nos através da imprensa falada e escrita, na tentativa países vizinhos, transmitindo informações em inglês, fran- de sensibilizar o povo rio-grandense e a opinião cês, espanhol, alemão, italiano, árabe e turco. As transmis- pública do País. Entrou em contato com o co- sões eram iniciadas com o Hino da Legalidade, de autoria mandante do III Exército, general Machado Lo- de Lara de Lemos e Paulo César Pereio. E pes, denunciando a tentativa de golpe. O general respondeu que era militar e que obedeceria às m Porto Alegre a situação começava a ficar tensa dian- ordens de seus superiores. Diante disso, o gover- te do apelo do governador. Rapidamente a população nador buscou o apoio de outros governadores formou inúmeros comitês de resistência e batalhões ope- e de outros comandantes do Exército, obtendo rários para apoiar a Legalidade. Na Praça da Matriz, pelo sempre as mesmas respostas, de que cumpri- menos 10% da população porto-alegrense se aglomeravam riam ordens do ministro da Guerra. Apenas o para auxiliar na defesa do Piratini, ao lado dos soldados da general Amauri Kruel, que estava sem comando, Brigada Militar, transformando a área em uma verdadei- colocou-se à disposição de Brizola. Deslocou-se ra praça de guerra. As manifestações de solidariedade ao para Porto Alegre e permaneceu incógnito no governador foram inúmeras. A mobilização foi tão intensa Piratini, pois Brizola pretendia entregar-lhe o que vários comitês foram criados em diversas cidades do comando militar da resistência, caso o general Estado. Machado Lopes não apoiasse a Legalidade. Além da Rede da Legalidade, Brizola passou a exercer E o controle da companhia telefônica e da companhia aérea nquanto isso, no Rio de Janeiro, o mare- Varig. Solicitou à fábrica Taurus três mil revólveres para chal Lott lançou um manifesto em defesa distribuí-los aos auxiliares do governo do Estado e a jor- Policiais em um dos pontos de segurança, em frente à Catedral da posse de Jango e foi preso por ordem do ma- nalistas, além de armar a população. Para atender à solici- rechal Denys. Antes de sua prisão, Lott orientou tação, a Taurus trabalhou ininterruptamente. Armas foram uma força da Marinha para intervir no Estado. Canhões e Brizola a procurar alguns militares que seriam distribuídas no posto de recrutamento de populares, no blindados do 2º Regimento de Cavalaria Motomecanizada favoráveis à Legalidade. No mesmo dia, o gover- pavilhão da avenida Borges de Medeiros, conhecido como foram instalados nas avenidas Mauá e Praia de Belas. nador foi procurado pelo coronel Roberto Osó- Mata-Borrão. Havia rumores de que unidades do III Exército, sediadas rio de Pina e pelo professor Antônio de Pádua A Brigada Militar utilizou, além dos revólveres, metra- na Serraria, pretendiam atacar quartéis da Brigada Mili- Ferreira da Silva, os quais relacionaram uma sé- lhadoras Schwarzlose, fuzis-metralhadoras Ceskosloven- tar, preferencialmente aqueles que mantinham seu efetivo rie de militares que poderiam apoiá-lo. zká Zbrojovka (FMZB), fuzis Ceskoslovenzká Zbrojovka, aquartelado, que era o caso do Centro de Instrução Militar Brizola conseguiu que os jornais locais publi- submetralhadoras INA (Indústria Nacional de Armas) e (CIM). Ao tomar conhecimento, o comando manteve uma cassem o manifesto do marechal Lott, repudian- pistolas automáticas Royal. Parte dessas armas foi importa- companhia no interior do quartel, armada com revólveres do o golpe, como matéria paga. Sem eco, buscou da da Tchecoslováquia para a Revolução de 1932, compra- e fuzis-metralhadoras Ceskoslovenzká-Zbrojovka, sob o o apoio da população, através do rádio. Assim, na das pelo governador Flores da Cunha. comando do capitão Odilon Alves Chaves, e o restante do madrugada do dia 27, fez seu primeiro pronun- Na madrugada de 28 de agosto um radioamador inter- efetivo se posicionou nas encostas do morro da Polícia. ciamento na rádio Gaúcha, que possuía dois ca- ceptou uma mensagem do general Orlando Geisel, por or- A situação ficava cada vez mais tensa. O jornalista Di- nais de ondas curtas e grande potência no canal Multidão lotou Praça da Matriz dem do marechal Denys, determinando ao comando do III lamar Machado informou que os aviões da Base Aérea internacional, em ondas médias, o que permitia Exército que a Rede da Legalidade fosse silen- de Canoas estavam prontos para decolar e bombardear o ampla cobertura em todo o território nacional. ciada, autorizando o bombardeio do Piratini, Palácio Piratini. Diante dessa conjuntura, Brizola realizou Em seu pronunciamento falou sobre a renúncia de Jânio formando a Rede Nacional da Legalidade, que foi instala- se fosse necessário, e comunicando o envio de uma grande manifestação em frente ao Piratini, afirmou Quadros, sobre a tentativa de um golpe para impedir a posse da pelo engenheiro Homero Simon nos porões do Palácio que não se submeteria a nenhum golpe, pediu o apoio da de Jango e solicitou o apoio da população na defesa da Cons- Piratini e funcionava 24 horas por dia. A Brigada Militar população, solicitou que retirassem as crianças do local e se tituição, da honra e da dignidade do povo brasileiro. passou a fazer, também, a segurança dos transmissores da despediu do povo gaúcho. Naquela manhã, Brizola requisitou a rádio Guaíba, rádio Farroupilha, instalados na Ponta Grossa. Enquanto isso, o general José Machado Lopes recebeu transformando-a em emissora oficial. No início da tarde, Inicialmente, as transmissões eram feitas por funcioná- a visita do coronel Diomário Moojen, comandante- a rádio Guaíba já estava transmitindo diretamente do Pi- rios do Serviço de Imprensa do Piratini, que foram subs- geral da Brigada Militar, e confirmou que não se- ratini. O governador orientou que a Brigada Militar ocu- tituídos por locutores profissionais, logo depois. A rádio ria o responsável pelo disparo do primeiro tiro. passe, com o máximo de forças, as torres da rádio Guaíba, contava com a participação de jornalistas, radialistas e Machado Lopes, que vinha observando o proce- localizadas na Ilha da Pintada, e que o efetivo empregado técnicos de todas as emissoras, sob a responsabilidade e dimento dos ministros militares, percebeu que nas lanchas do Corpo de Bombeiros fosse armado, a fim de orientação de Hamilton Chaves, o chefe da assessoria de estavam comprometendo a democracia e agindo guarnecer o local. imprensa do governo, e Antônio Carlos Galante Contur- ilegalmente. Assim, decidiu não mais acatar as Outras emissoras de Porto Alegre (inclusive a Gaúcha e si. Seu alcance foi tanto que em determinados momentos a Farroupilha) e do interior do Estado uniram-se à Guaíba, atingia 100% de audiência no Estado. A Rede da Legalidade Na pausa, a atualização dos fatos pela imprensa 6 Brigada Militar na Legalidade Brigada Militar na Legalidade 7
  • 5. Coronel Neme relembra fatos ordens do ministro da Guerra; permaneceu no comando Batalhões Policiais, Serviço de Engenharia e alunos dos 3º e do III Exército e agiu por conta própria, dentro da ideia de 4º anos do CIM, que formaram a Companhia de Petrechos manter o regime liberal democrático cristão, assegurando Pesados. O Batalhão de Operações tinha um efetivo de 637 decisivos para o Movimento a ordem pública. Depois de solicitar para ser recebido pelo homens, sob o comando do major Heraclides Tarragô, e governador, deslocou-se até o Piratini, acompanhado por integrou a 6ª Divisão de Infantaria, ao lado do 1º e do 18º oficiais do Exército. Na presença do governador, do doutor Regimentos de Infantaria. João Caruso, do professor Francisco Brochado da Rocha Jango, inteirado dos acontecimentos, ao voltar da China, E e do coronel Diomário Moojen, o general Machado Lo- voou para o Uruguai, via França e Estados Unidos. Quan- pes comunicou que o comando e todos os generais do III do decidiu retornar ao Brasil, passou por Porto Alegre, a m agosto de 1961 o então major da Brigada Militar João Exército não aceitariam nenhuma solução para a crise, fora fim de conversar com Brizola. Chegando à capital, em 1º Pedro Neme ocupava o cargo de subchefe da Casa Militar. da Constituição. Em consequência, foi criado o Comando de setembro, Jango foi ovacionado por uma multidão que Era homem da extrema confiança do governador Leonel Brizola, Unificado das Forças Armadas do Sul, integrado pelo III o aguardava em frente ao Piratini. No dia seguinte, o Con- acompanhando diretamente suas decisões e seus atos. Exército, V Zona Aérea, Brigada Militar e Forças Públicas, gresso aprovou a Emenda Constitucional, que instituía o Hoje, aos 85 anos de idade, reformado, o coronel Neme relembra sob o comando de Machado Lopes. Parlamentarismo no Brasil. O III Exército possuía a artilharia mais poderosa e o par- Depois de conversar com Brizola, e aconselhado por momentos daqueles dias tumultuados em que, de dentro do Pirati- que de manutenção mais completo do País, além de contar Tancredo Neves, Jango foi para Brasília no dia 5 de setem- ni, Brizola inflamou a população gaúcha a incorporar a campanha com importantes regimentos de infantaria, unidades blin- bro. Nesse ínterim, Brizola anunciou o fim das transmis- de resistência civil às pretensões golpistas dos militares contra a dadas e 40 mil homens, que passaram a atuar ao lado dos sões da Rede da Legalidade. posse de João Goulart (Jango) como presidente do Brasil, diante F 13 mil homens da Brigada Militar. da renúncia de Jânio Quadros. Jango, à esquerda, com o Maj. Paralelamente, cem sargentos da Força Aérea Brasileira inalmente, em 7 de setembro de 1961, Jango assumiu Neme, hoje coronel reformado (FAB) impediram que 12 modernos jatos ingleses Gloster a presidência da República, indicando Tancredo Ne- Entrevista concedida a Jussara Pelissoli e Sd. José de Mattos Meteor, com alto poder de fogo, decolassem da Base Aé- ves para ser seu primeiro-ministro. rea de Canoas para bombardear o Piratini. Os praças se Somente dois dias depois o Batalhão de Operações re- No momento em que o governador fundamental, porque por intermédio Cel. Neme: Isso mesmo. E o III Exér- Brizola decidiu dar início à Campanha dela a voz do Brizola se espalhou por todo cito os largou de mão e apoiou Brizola. insubordinaram, deram-se as mãos em volta dos jatos para tornou de Torres. Ao chegar em Porto Alegre, a tropa foi da Legalidade já colocou a Brigada Mili- o Brasil, não só no Rio Grande do Sul, e impedir a entrada dos pilotos, esvaziaram os pneus e de- passada em revista por Brizola, acompanhado pelo major tar (BM) de prontidão. Barricadas foram aí foi todo mundo apoiando. A rádio foi Até que o III Exército aderisse à Cam- sarmaram os aviões. Só restou ao comandante e aos pilotos Heraclides Tarragô, e desfilou sob aplausos da multidão montadas nos telhados do Piratini vital. O Brizola foi pessoalmente panha, em algum momento Brizola dei- partirem em um avião de passageiros para fora do Estado. pela avenida Borges de Medeiros, terminando em frente ao e da Catedral e em frente a es- no Correio do Povo requisitar xou transparecer que tinha medo de ser E quartel do 1º Batalhão de Guardas. ses prédios. Como foi a movi- “Sem a a rádio Guaíba, porque não preso pelos militares? m 30 de agosto o general Machado Lopes comunicou Assim, a Corporação – que estava saindo de um proces- mentação da BM dentro do podia haver demora. Cel. Neme: Não. O Brizola assumiu sua decisão aos demais comandos do Exército e teve so de transição, em que seus homens, antes aquartelados Palácio naqueles dias? BM, Brizola não mesmo aquele movimento. Ele não ti- a adesão de vários oficiais de outros Estados. Ao ser infor- e preparados exclusivamente para a guerra, começavam a Cel. Neme: Era uma mo- imaginaria fazer Para o senhor, qual é a nha tempo para ter medo. vimentação intensa, poli- lembrança mais significati- mado de que o Ministério da Guerra havia de- ser empregados nas atividades de policiamento ostensivo ciais militares para todos tanto.” va do período da Legalidade? Com a Campanha da Legalidade, o go- signado o general Osvaldo Cordeiro de Farias – prestou inestimável apoio ao governo do Estado du- os lados. O Regimento Bento Cel. Neme: Foram tantos vernador Brizola conseguiu retardar a ins- para substituí-lo no comando, Machado Lopes rante a Campanha da Legalidade. Gonçalves, que já guarnecia o os momentos importantes que é talação da ditadura que veio em 1964? declarou que não mais receberia ordens do ma- Palácio, levou todo o seu efetivo para lá. difícil destacar um. Mas o mais impor- Cel. Neme: Exatamente. O Jango de- rechal Denys e que prenderia seu substituto, Era policial em alerta 24 horas por dia, tante foi quando se conseguiu fazer o veria assumir, os militares no poder não caso desembarcasse em Porto Alegre. dentro, em cima e fora do prédio. entendimento com o comandante do III concordavam e o Brizola dentro do Pi- Ao mesmo tempo, o coronel Moojen ex- Exército, general José Machado Lopes. ratini fez a Legalidade. Aí os militares A tropa estava imbuída da missão? tiveram que recuar. pediu correspondência a todos os coman- Cel. Neme: Total. A Brigada é a Bri- Numa intenção velada, o III Exército dantes-gerais das outras polícias militares, gada até hoje, acostumada com revolu- já apoiava Brizola? O senhor era um homem da total con- buscando apoio à causa da Legalidade, afir- ções. É uma Corporação ativista, está Cel. Neme: Teve que apoiar, fiança do Brizola. De onde veio essa mando que o único caminho a ser seguido sempre progredindo, avançando. Ela se porque todos os generais do relação? era o da defesa da Constituição. acostumou a ser considerada força mili- interior do Estado já estavam Cel. Neme: A farda me tar e não apenas polícia. com o Brizola, então só o “A farda ajudou a ser o braço direi- As preocupações aumentaram diante da informação de que unidades da Mari- Machado Lopes aqui (em me ajudou a ser to do Brizola, porque se eu nha de Guerra se deslocavam para o sul Sem a participação da Brigada Militar, Porto Alegre) é que falta- o braço direito fosse civil não me escuta- Brizola teria tido condições de deflagrar va. Ele sentiu que não tinha riam. Eu sempre promovi do País. Para guarnecer a região próxima a Campanha da Legalidade? mais força, estavam todos do Brizola” a execução das ordens do ao rio Mampituba, em Torres, foi criado Cel. Neme: Não, nem imaginaria po- apoiando o Brizola. Brizola e com isso ele acabou o Batalhão de Operações, integrado pelos der fazer tanto. depositando muita confiança em efetivos do 1º Batalhão de Guardas, 3º e 4º O III Exército se declarou a favor do mim. Mas eu sempre fui respeitado por A Rede da Legalidade foi um instru- Movimento da Legalidade em defesa dos todos porque tinha a minha conduta. mento fundamental para o êxito do Mo- preceitos constitucionais, contrariando Mesmo com o poder na mão eu nunca Governador confere armamento vimento? ordens dos ministros militares que que- prejudiquei quem quer que fosse e fui Cel. Neme: Fundamental, dez vezes riam calar o Brizola. respeitado por isso. 8 Brigada Militar na Legalidade Brigada Militar na Legalidade 9
  • 6. Efetivo do Regimento Bento Gonçalves viveu a Legalidade sob a tensão do Piratini Jussara Pelissoli C aiu o portão. Essa era uma expressão utilizada pelo efetivo da Brigada Militar nos anos 60 para o aler- ta de prontidão geral da tropa. Foi com ela que no dia 26 usava uma capa e carregava a ‘Lurdinha’, ape- lido dado à submetralhadora fabricada pela Indústria Nacional de Armas (INA), da qual o de agosto de 1961 o então 3º sargento Solon Andrade de governador não se separou durante o episódio Araújo Sobrinho, hoje capitão reformado, soube que ele e da Legalidade”. outros dez colegas de farda do Regimento Bento Gonçal- “Havia barricadas nos telhados do Palácio, ves – que estavam no Batalhão de Montenegro para parti- da Catedral e até de um prédio numa rua la- das de futebol de confraternização entre unidades da Cor- teral ao Piratini”, recorda o capitão Solon. Já Policiais descansavam como era possível poração – teriam que retornar a Porto Alegre. o tenente Requia destaca que, para as barrica- O governador Leonel Brizola havia recebido a notícia das do telhado do Piratini, local de maior risco no caso contra a tentativa de golpe à posse de Jango, a resposta da renúncia do presidente da República Jânio Quadros, de um ataque aéreo – que não estava descartado – foram do capitão Solon não foi patriotismo, nem lealdade ou re- acompanhada da intenção dos ministros militares de im- designados policiais militares solteiros, pois havendo sistência. “Era medo”, afirma. “Medo, sobretudo, de um pedir a posse do vice João Goulart. Brizola dava início ao mortes eles não deixariam viúvas e filhos órfãos de pais. bombardeio aéreo que poderia ser ordenado pelo Minis- A Movimento da Legalidade para garantir que Jango, como tério da Aeronáutica”. O bombardeio não ocorreu e hoje era conhecido o vice-presidente, assumisse o cargo a que tensão dominava aqueles dias e não havia descanso. o capitão Solon consegue dar risadas ao contar que, no tinha direito constitucional e colocou a Brigada Militar de “Dormíamos nas barricadas mesmo. O revezamen- meio daquela tensão, um alarme falso do ataque aéreo prontidão. to dos turnos era de uma barricada para outra”, conta o esvaziou a frente do Palácio e as adjacências, tomadas por O capitão Solon conta que todo o efetivo do Regimen- capitão Solon. Ele também lembra que cinco mil sacos de uma multidão calculada em 50 mil pessoas. to Bento Gonçalves, situado na avenida Aparício Borges, aniagem doados pelo Instituto Rio-Grandense do Arroz “Havia uma senha para alertar as pessoas sobre o bom- deslocou-se em direção ao Palácio Piratini para reforçar (Irga), além de serem preenchidos com areia para formar bardeio aéreo. Se a iluminação pública fosse apagada, so- Barricadas estrategicamente posicionadas a tropa que lá fazia a guarda. Eram aproximadamente 150 as barricadas, foram usados como colchões. “Eram 25 sa- aria a sirene de um carro de bombeiros, que estava posi- policiais militares. “No caminho, tivemos que desviar dos cos acomodados dentro de um e nós os usávamos como cionado entre o Piratini e o antigo prédio da Assembleia, quartéis do Exército para não lhes chamar a atenção. Na- colchonetes”, recorda o capitão. O tenente Requia tem para dar tempo de as pessoas fugirem da área. Uma certa quele momento ainda não se sabia se o Exército estava a fa- lembrança semelhante. “Não tínhamos folga. Quando o noite a luz piscou, a sirene soou e em questão de segundos vor ou contra o Movimento da Legalidade”, lembra Solon, cansaço dominava, tirávamos um cochilo com a arma em não tinha mais ninguém na frente do Palácio; desapareceu que em 1961, aos 26 anos de idade, estava nos quadros da punho, sentados no espaço entre o Palácio e a Catedral”, todo mundo”, diverte-se ao lembrar. “O mais hilário é que Brigada Militar havia quatro anos. conta Requia, que, apesar de tudo, tinha a seu favor a vi- na barricada em frente à Catedral estavam dois soldados Uma lembrança que ele revela com entusiasmo é que, talidade de atleta, pois disputava corridas pelo Es- com uma metralhadora e eles também correram de lá com com o deslocamento de todo o efetivo, o Regimento pas- tado, nas quais sagrou-se campeão fundista mui- arma e tudo”. sou a ser guarnecido por policiais inativos, residentes nas tas vezes, com medalhas e matérias da imprensa imediações. “Lembro de um PM com uma deficiência fí- guardadas até hoje. sica na perna que, com um facão na mão, dirigiu-se ao Ao ser questionado sobre o sentimento comandante do Regimento, tenente-coronel Átilo Cava- dominante naquela situação em que Brizola leiro Escobar, e disse: Pode deixar, coronel, aqui ninguém conseguiu mobilizar uma imensa multidão entra”. F oram 13 dias dentro do Palácio Piratini e nos arre- dores. O tenente reformado Eduardo Requia, então 3º sargento, com 23 anos de idade, conta que o governador Parte da tropa do Palácio com Requia (último à direita) Brizola, ao circular pelas dependências do prédio, sempre e Solon (em pé, ao centro) Brizola cumprimentando o efetivo cumprimentava os policiais. “No frio de agosto, Brizola Ten. Eduardo Requia no telhado do Piratini 10 Brigada Militar na Legalidade Brigada Militar na Legalidade 11
  • 7. Alunos do CIM estavam preparados para o combate Maj. Najara Silva e Sd. José de Mattos Ten. Requia: Maior Cap. Solon: Revezamento N a tarde de 26 de agosto de 1961, o Centro de Instrução Mili- tar (CIM), localizado na área da atual emoção foi o desfile na dos turnos era de uma Academia de Polícia Militar (avenida Borges de Medeiros barricada para outra Aparício Borges), entrou em estado de O prontidão, devido à possibilidade de tenente Requia conta que não acreditava que o enfrentamento com tropas do III Exér- bombardeio aéreo fosse autorizado. “A esperança cito, por causa do início da Campanha era de que tudo se resolvesse na paz, que nenhum tiro fosse da Legalidade. Os alunos do Curso de disparado e muito menos acontecesse o ataque aéreo”, diz Oficiais começaram a organizar a defesa Requia, que torcia por uma solução pacífica para a revo- do quartel, a partir do planejamento do lução em que havia se transformado a ousadia de Brizola. Governador passa a tropa em revista no capitão Odilon Alves Chaves. Do tenen- desfile da avenida Borges de Medeiros te Wellinton Carlos Soveral receberam “A frente do Palácio era uma praça de guerra. Lembro que meus pais, em Santa Maria, ficavam rezando pela minha instruções para defesa e ataque, caso os segurança e para tudo terminar bem”, conta. avenida Borges de Medeiros, realizado em 9 de setembro, blindados do Exército investissem contra As recordações são muitas para o capitão Solon. No dois dias após a posse de Jango na presidência, sob os limi- o efetivo da Brigada Militar. relicário da Legalidade, ele destaca uma como ato de he- tes do parlamentarismo, instituído por emenda constitu- O coronel reformado Bento Mathu- CIM manteve prontidão geral roísmo do então 1º sargento Argus Mesquita de Aragão, cional. O então sargento Requia, a cavalo, conduzia seu pe- zalen de Vasconcelos era um dos cade- batedor-motociclista do Regimento Bento Gonçalves, que lotão e se emocionava com a multidão aplaudindo a tropa tes do CIM e relata que foram cavadas trincheiras e espal- e medo, diante da ameaça concreta de combate, e grupos recebeu a missão de se infiltrar em um quartel do III Exér- e com o Hino da Legalidade, que ressoava rua a fora. “Era dões para metralhadoras nas adjacências da Unidade, em iam se revezando nas trincheiras, conforme a evolução dos cito, no bairro Serraria, para saber das estratégias que lá uma coisa inacreditável”, recorda o militar, hoje com 73 posições estratégicas para a defesa. Além de revólveres e fatos. estavam sendo elaboradas. “Não sei como ele conseguiu anos de idade. Ele afirma que após a Campanha da Lega- armas longas, os alunos receberam metralhadoras, fuzis- “O clima ficou mais tenso quando no dia 29, próximo entrar lá com motocicleta e tudo, mas quando voltou es- lidade não vivenciou fato semelhante em movimentação, metralhadoras e coquetéis molotov para combater os blin- ao meio-dia, o tenente Ubirajara de Sá Gomes passou pelas tava bastante nervoso e disse que havia muito movimento adesão popular, expectativa ou tensão como aqueles dias. dados, sendo que alguns cadetes fo- posições, dando a ordem de alimen- no Exército”, relembra Solon. “Mas, além de um ato ram posicionados na base do Morro tar as armas e esperar pelo ataque. Fe- heroico, penso que ele tenha aceitado o desafio em lizmente não houve combate, graças da Polícia. gratidão à Brigada Militar, pois antes dessa missão O ao bom senso e alto espírito patrió- ele havia sido promovido de soldado a sargento”. coronel Bento acredita que tico do comandante do III Exército, E mocionado, o capitão Solon revela a sua me- lhor lembrança do episódio. Depois de toda a situação serenada, com Jango na presidência da alguns oficiais discordavam da posição do governo do Estado quanto à defesa da previsão consti- tucional, diante da renúncia de Jânio general Machado Lopes, que aderiu à Legalidade, evitando um derrama- mento de sangue”, recorda. O coronel Bento também tece elo- República, o governador Brizola reuniu o efetivo do Quadros, mas a lealdade, a hierarquia gios ao então comandante-geral da Regimento Bento Gonçalves para agradecer e cum- e a disciplina fizeram com que todos BM, coronel Diomário Moojen. “Ele primentar pessoalmente os policiais militares. “Ele permanecessem ao lado do comando teve uma participação leal, serena e apertou a mão de cada um, tantos quanto pôde. da Brigada Militar, em apoio ao go- destemida no episódio, permanecen- Eu recebi o aperto de mão do governador Brizola”, vernador Brizola. “Esse foi um fator do ao lado do governador, comandan- recorda satisfeito por ter dado sua contribuição à decisivo para a vitória da Legalida- te supremo da Brigada Militar, o que Campanha da Legalidade. de”, declara o coronel. Lembra, ainda, Cel. Bento Mathuzalen era cadete fez os cadetes vibrarem nas trincheiras, Já para o tenente Requia, o momento de maior que foram dias de muita expectativa do CIM durante o episódio emoção foi o desfile do efetivo da Brigada Militar na Do telhado do Palácio, a visão era ampla como uma vitória de todos”, destaca. 12 Brigada Militar na Legalidade Brigada Militar na Legalidade 13
  • 8. Divisa foi protegida Sacrifícios no contra invasão da Marinha cumprimento Jussara Pelissoli e Sd. José de Mattos do dever O governador Leonel Brizola mobilizava civis e mi- litares para garantir a ordem jurídica e constitu- cional, enfrentando as forças autoritárias e oligarquias Sd. José de Mattos Trincheira na defesa da divisa do Estado com Santa Catarina poderosas que se posicionavam contra o vice-presidente “U João Goulart que, pela Constituição, deveria suceder Jânio Quadros frente à sua renúncia na presidência do m sentimento de dever cumprido”. A decla- se, enquanto seus colegas de farda controlavam para que País. Um novo problema surgiu quando informações de- ração do sargento reformado Máximo Rodri- os oficiais não descobrissem sua travessia clandestina. ram conta de que unidades da Marinha se preparavam gues Carrilha, atualmente com 82 anos, reporta a 1961 Ele trazia um saco plástico amarrado na cabeça, com a para invadir o Estado. quando era soldado do 1º Batalhão Policial e esteve à farda e os alimentos. Lembra, ainda, que em uma das Era necessário proteger a fronteira com Santa Cata- disposição do Batalhão de Operações, que foi enviado vezes atravessou o Mampituba tranquilamente, mas na rina, próximo ao rio Mampituba, em Torres. A Brigada para Torres, a fim de guarnecer a fronteira do Estado volta o leito do rio havia subido e ele acabou retornan- Militar criou, então, o Batalhão de Operações, com efe- com Santa Catarina na Campanha da Legalidade. Máxi- do para a margem gaúcha a mais de um quilômetro do Embarque para Torres tivo de 637 homens de algumas de suas unidades, in- mo refere, também, parte do juramento do Policial Mili- acampamento, dentro de uma chácara, cujo proprietá- cluindo alunos dos 3º e 4º anos do Centro de Instrução tar: “Mesmo com o sacrifício da própria vida.” rio apontou uma arma na sua direção por pensar que se Militar (CIM). Desse grupo fazia parte o aluno-oficial o moral da tropa era muito alto e mantínhamos sempre O sargento Máximo havia prestado serviço nas filei- tratava de um ladrão de galinhas. Jerônimo Carlos Santos Braga, hoje coronel reformado, a certeza da vitória”, salienta o oficial. “Para nós, estava ras das Forças Armadas por um ano, no município de O descanso também não era totalmente reparador. na função de municiador do fuzil-metralhadora FMZB, tudo mais focado na participação da Brigada e na res- Livramento, onde adquiriu experiência na área de defesa Como não havia colchões, nem cobertores à disposição, da Companhia de Metralhadoras. ponsabilidade de honrar a missão do que propriamente de quartel e território e ataques de infantaria. Ingressou eles improvisavam, dormindo sobre galhos e folhas de A tropa do Batalhão de Operações se deslocou até no aspecto político daquele Movimento”, complementa. na Brigada Militar em 1960, no 1º Batalhão Policial. Já árvores dentro das barracas, que acabavam servindo, Torres em caminhões e ônibus, sob o comando do ca- O coronel Jerônimo também relembra que, antes do no ano seguinte, foi requisitado para compor o Batalhão apenas, para abrigar de chuvas, do sereno e do frio da pitão Odilon Alves Chaves. As condições do tempo não embarque para Torres, a tropa tinha noção do desenro- de Operações, que se deslocou para Torres. O momento noite. A eram favoráveis à instalação da tropa no terreno, devi- lar dos fatos por meio da Rádio da Legalidade. Já dis- era de indecisão e seus familiares choravam apreensi- do ao inverno rigoroso, com frio intenso e muita chuva. tante de Porto Alegre, os policiais que faziam vigília no vos, por não saberem o que poderia acontecer ao jovem pós duas semanas de prontidão e sacrifícios em Foi distribuída uma barraca para cada dois policiais e, farol e na barra do Mampituba, quando liam as notícias soldado que estava sendo enviado para uma missão em Torres, a tropa retornou a Porto Alegre e, junto no solo, foram cavados espaldões para metralhadoras, nos jornais, ficavam na expectativa de novas decisões, apoio ao chamado do governador Leonel Brizola pelo com os demais pelotões, participou do desfile da Briga- “tocas de raposa” (buraco para um só atirador) e abrigos que apontassem para a posse de Jango e o fim pacífico cumprimento da Constituição Federal. da Militar na avenida Borges de Medeiros, determinado antiaéreos. da Campanha da Legalidade. O sargento declara que aquele foi um período difí- pelo governador Brizola. Conforme o coronel cil para os policiais militares, diante do frio do inverno Com o mesmo entusiasmo de 50 anos atrás, Máximo Jerônimo, o momento e da pouca comida e água para a tropa. Eles comiam diz que lutaria até o fim, defendendo o Estado e o gover- de maior preocupação muitas bananas, pois a alimentação distribuída ao efe- nador, e que faria tudo novamente pelo cumprimento foi quando se definiu tivo da base, situada às margens do rio Mampituba, não da Carta Máxima do País e pela Brigada Militar. “Isso posicionar um grupo chegava até o morro, nas trincheiras onde Máximo se é uma relíquia para nós”, destaca o sargento reforma- a cerca de dois quilô- manteve. Lembra, ainda, de ter se utilizado de destreza do, expressando o seu sentimento pela participação na metros à direita do lo- para pegar algumas rapaduras na barraca da alimenta- Campanha da Legalidade e pelos 30 anos de farda, com cal onde a tropa estava ção e levá-las para comer com os colegas nas trincheiras. serviços prestados entre o policiamento ostensivo e o instalada, mantendo Além dos armamentos pesados, faziam-lhe com- Hospital da Brigada Militar. fogueiras acesas, com panhia na trincheira os apetrechos para o chimarrão: o objetivo de simular bomba, cuia e chaleira. “Nadei no rio Mampituba, de um lado ao outro, no mínimo três vezes, durante as Efetivo enfrentou uma nova posição na adversidades em Torres área, a fim de enganar o duas semanas em que permaneci em Torres”. Foi dessa Cel. Jerônimo participou da maneira que o então soldado Máximo conseguiu, algu- Legalidade, protegendo a adversário. “Apesar de todas as adversidades, mas vezes, saciar fome e sede, pois atravessava o rio para divisa do Estado No retorno, tropa desfilou na Borges de Medeiros buscar bolachas e erva de chimarrão no lado catarinen- 14 Brigada Militar na Legalidade Brigada Militar na Legalidade 15