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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS
          UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO
    COMUNICAÇÃO SOCIAL COM ÊNFASE EM JORNALISMO




               DIERLI MIRELLE DOS SANTOS




A APROPRIAÇÃO DE IDENTIDADE NO AMBIENTE VIRTUAL: UMA
     ABORDAGEM SOBRE OS PERFIS FAKES DO TWITTER




                     SÃO LEOPOLDO
                          2011
Dierli Mirelle dos Santos




A APROPRIAÇÃO DE IDENTIDADE NO AMBIENTE VIRTUAL:
       uma abordagem sobre os perfis fakes do Twitter




                             Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
                             como requisito parcial para a obtenção do
                             título de Bacharel em Jornalismo, pelo Curso
                             de Comunicação Social habilitação em
                             Jornalismo da Universidade do Vale do Rio
                             dos Sinos

                             Orientadora: Prof. Dr. Adriana Amaral




                       São Leopoldo
                           2011
AGRADECIMENTOS



       Agradeço a meus pais pelo apoio, esforço e por sempre confiarem que eu chegaria até
aqui. À minha irmã Manuela que, mesmo inconscientemente, me motivou todos os dias.
       Á minha orientadora, Adriana Amaral, pelo permanente incentivo e disponibilidade
durante a construção desse trabalho. Por sua paciência e pelas risadas que me proporcionou.
       Aos colegas de trabalho, especialmente Ivo Stigger, pela compreensão e apoio em
todos os momentos.
       Aos colegas Adam, Luana, Ana, Tamires e José, pelas palavras motivadoras. Às
amigas Manoela e Márcia, por sempre me ouvirem. Às pessoas especiais que encontrei nesse
caminho, Bruna e Roberta.
RESUMO



A presente monografia aborda a representação de identidade de perfis fakes do Twitter e
como se dá sua apropriação no ambiente virtual. Dentro desse tema, foram analisados quatro
perfis atualizados por pessoas diferentes das representadas - pessoas conhecidas através da
mídia massiva: PVC, Cleber Machado, Serguei e Narcisa -, buscando entender como são
realizadas suas construções identitárias. Para isso, foram os conceitos de identidades,
identidades na internet e nas redes sociais a partir de teóricos como Stuart Hall (2002),
Manuel Castells (2000) e Sherry Turkle (1997), entre outros. A partir de múltiplas técnicas de
pesquisa empírica qualitativa aplicadas à internet (Fragoso, Recuero e Amaral, 2011), buscou-
se formas de compreender a construção e a representação dessas características identitárias,
tanto através da observação e categorização de conteúdos produzidos nos tweets, como de
questionários e entrevistas com os seguidores e mantenedores dos perfis, alem da comparação
de rastros dessa identidade a partir da decupagem de vídeos das personalidades. A partir dessa
reflexão, observa-se que as identidades nos sites de redes sociais encontram-se em constante
construção e apropriação das características dos outros sujeitos, além da criação, dentro da
amostra recortada, de fakes com o objetivo de fazer humor e entreter no Twitter.

Palavras-chave: identidade – redes sociais - Twitter – fakes
ABSTRACT




This paper addresses the representation of identity of fake profiles on Twitter and how their
appropriation on the virtual medium occurs. Within this subject, were analyzed four different
profiles updated by people other than the ones they are representing - personalities known
through the mass media: PVC, Cleber Machado, Serguei and Narcisa -, seeking to understand
how their identities are constructed. In order to reach this matter, the identity concepts on the
internet and the social networks were discussed through theorists such as Stuart Hall (2002),
Manuel (2000) and Sherry Turkle (1997), among others. Through multiple qualitative and
empirical research techniques applied to the internet (Fragoso, Recuero and Amaral, 2011),
the construction and the representation of these identities characteristics were sought by
means to understand them, as much through observation and categorization of the tweets
content, as through series of questions and interviews with the profiles followers and
maintainers, even comparing traces of these identities through the editing of videos from each
of the personalities. Through this series of thoughts, one can observe that the identities on the
social networking websites are in constant construction and appropriation of the
characteristics of other people, culminating on the creation of fakes - within the research
sample - intending to amuse and to entertain Twitter users.




Keywords: identity - social networks - Twitter - fakes
LISTA DE FIGURAS




FIGURA 1 – Perfil da pesquisa para os seguidores do perfil @pvc_espn.............................. 17
FIGURA 2 – Perfil da pesquisa para os seguidores do perfil @narcisaoficial........................ 18
FIGURA 3 – Perfil da pesquisa para os seguidores do perfil @oclebermachado................... 19
FIGURA 4 – Perfil da pesquisa para os seguidores do perfil @sergueirock...........................20
FIGURA 5 – Perfil de divulgação das pesquisas com os seguidores...................................... 21
FIGURA 6 – Perfil para contato com os objetos de estudo..................................................... 22
FIGURA 7 – Perfil do fake @gracekarioca............................................................................. 31
FIGURA 8 – Perfil do fake @pvc_espn................................................................................., 32
FIGURA 9 – Perfil do fake @e001.......................................................................................... 33
FIGURA 10 – Perfil do fake @luanapiovani........................................................................... 34
FIGURA 11 – Página inicial do Twitter.................................................................................. 45
FIGURA 12 – Página inicial o usuário do Twitter.................................................................. 47
FIGURA 13 – Página inicial do Twitter.................................................................................. 49
FIGURA 14 – Perfil do fake @pvc_espn................................................................................ 56
FIGURA 15 – Tweet do fake @pvc_espn sobre casamento real............................................. 57
FIGURA 16 – Tweet do fake @pvc_espn sobre o Steve Jobs................................................ 57
FIGURA 17 – Tweet do fake @pvc_espn sobre show............................................................ 58
FIGURA 18 – Tweet do fake @pvc_espn sobre a morte de Gaddafi...................................... 58
FIGURA 19 – Tweet do fake @pvc_espn sobre cruzeiro marítmo......................................... 59
FIGURA 20 – Perfil original do Paulo Vinícius Coelho......................................................... 59
FIGURA 21 – Tweet do perfil @pvcespn sobre jogo.............................................................. 60
FIGURA 22 – Tweet do perfil @pvcespn com dado estatístico.............................................. 60
FIGURA 23 – Tweet do perfil @pvcespn direcionando para o blog...................................... 60
FIGURA 24 – Características encontradas no perfil fake do e no original......................... 61
FIGURA 25 – Tweet do perfil @pvcespn sobre o fake........................................................... 61
FIGURA 26 – Tweets de interação entre fake e original......................................................... 62
FIGURA 27 – Tweets de interação entre fake e original sobre jogador.................................. 62
FIGURA 28 – Tweets de interação com seguidores do fake.................................................. 63
FIGURA 29 – Tweets de interação com seguidores com apropriação................................... 64
FIGURA 30 – Tweets de interação com seguidores com apropriação sobre futebol............. 64
FIGURA 31 – Perfil do fake @oclebermachado..................................................................... 72
FIGURA 32 – Tweet do @oclebermachado sobre futebol...................................................... 74
FIGURA 33 – Tweet do @oclebermachado sobre o campeonato........................................... 74
FIGURA 34 – Tweet do @oclebermachado sobre o jogador.................................................. 74
FIGURA 35 – Tweet do @oclebermachado sobre Kafafi....................................................... 75
FIGURA 36 – Tweet do @oclebermachado sobre o horário de verão.................................... 75
FIGURA 37 - Tweet do @oclebermachado dando RT.............................................................
FIGURA 38 – Tweet do @oclebermachado respondendo dúvida de seu seguidor................. 76
FIGURA 39– Tweet do @oclebermachado respondendo seu seguidor sobre o campeonato. 77
FIGURA 40 – Interação entre @oclebermachado e seus seguidores...................................... 77
FIGURA 41 – Interação entre @oclebermachado e seus seguidores...................................... 78
FIGURA 42 - Características encontradas no perfil fake e no Cléber Machado..................... 78
FIGURA 43 – Perfil do fake @sergueirock............................................................................. 83
FIGURA 44 – Tweet do @sergueirock sobre o horário de verão............................................ 86
FIGURA 45 – Tweet do @sergueirock sobre a morte de Steve Jobs...................................... 86
FIGURA 46 – Tweet do @sergueirock sobre o Ministério..................................................... 86
FIGURA 47 – Tweet do @sergueirock sobre o casamento real.............................................. 87
FIGURA 48 – Tweet do @sergueirock sobre o casamento real.............................................. 87
FIGURA 49 – Tweet do @sergueirock respondendo ofensas de seus seguidores...................87
FIGURA 50 – Tweet do @sergueirock respondendo seus seguidores.................................... 88
FIGURA 51 - Características encontradas no perfil fake e no Serguei................................... 88
FIGURA 52 - Perfil antigo do fake @narcisaoficial............................................................... 95
FIGURA 53 - Perfil do fake @narcisaoficial.......................................................................... 96
FIGURA 54 – Tweet da @narcisaoficial sobre o show do Justin Bieber................................ 97
FIGURA 55 – Tweet da @narcisaoficial usando bordão........................................................ 97
FIGURA 56 – Tweet da @narcisaoficial citando marca......................................................... 98
FIGURA 57 – Tweet da @narcisaoficial sobre empregada .....................................................98
FIGURA 58 – Tweet da @narcisaoficial sobre a morte de Steve Jobs................................... 98
FIGURA 59 – Tweet da @narcisaoficial interagindo com outros seguidores........................ 99
FIGURA 60 – Tweet da @narcisaoficial respondendo seguidor............................................. 99
FIGURA 61 – Características encontradas no perfil fake e na Narcisa..................................100
LISTA DE QUADROS




QUADRO 1 – Respostas para a opção “Outro” - @pvc_espn................................................ 65
QUADRO 2 – Respostas dissertativas sobre o perfil @pvc_espn........................................... 69
QUADRO 3 – Respostas para a opção “Outro” - @oclebermachado......................................79
QUADRO 4 – Respostas dissertativas dos seguidores do @oclebermachado........................ 80
QUADRO 5 – Respostas para a opção “Outro” - @sergueirock............................................. 89
QUADRO 6 – Respostas dissertativas sobre o perfil @sergueirock........................................91
QUADRO 7 – Respostas dos seguidores para a opção “Outros” - @narcisaoficial.............. 100
QUADRO 8 – Respostas dissertativas sobre o perfil @narcisaoficial.................................. 104
LISTA DE GRÁFICOS




GRÁFICO 1 – Respostas dos seguidores do @pvc_espn para a pergunta 1........................... 66
GRÁFICO 2 – Respostas dos seguidores do @pvc_espn para a pergunta 2............................67
GRÁFICO 3 – Respostas dos seguidores do @pvc_espn para a pergunta 3........................... 68
GRÁFICO 4 - Respostas dos seguidores do @oclebermachado para a pergunta 1................. 79
GRÁFICO 5 - Respostas dos seguidores do @oclebermachado para a pergunta 2................. 80
GRÁFICO 6 – Respostas dos seguidores do @sergueirock para a pergunta 1....................... 89
GRÁFICO 7 – Respostas dos seguidores do @sergueirock para a pergunta 2....................... 90
GRÁFICO 8 – Respostas dos seguidores da @narcisaoficial para a pergunta 1................... 101
GRÁFICO 9 – Respostas dos seguidores da @narcisaoficial para a pergunta 2................... 102
GRÁFICO 10 – Respostas dos seguidores da @narcisaoficial para a pergunta 3................. 103
SUMÁRIO




1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 11


2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS................................................................... 14
         2.1 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA..............................................................................14
         2.2 PESQUISA EMPÍRICA QUALITATIVA.............................................................14
         2.2.1 A escolha dos objetos.........................................................................................15
         2.2.2 Pesquisa de opinião............................................................................................16
         2.2.3 As entrevistas com os criadores dos fakes........................................................21
         2.2.4 Análise e categorização......................................................................................23


3 IDENTIDADE CULTURAL .......................................................................................... 24


4 IDENTIDADES NAS REDES SOCIAIS ....................................................................... 28


5 INTERNET E REDES SOCIAIS ................................................................................... 37
         5.1 COMUNIDADES VIRTUAIS E REDES SOCIAIS..............................................38
         5.2 SITES DE REDES SOCIAIS..................................................................................41
         5.2.1 Twitter.................................................................................................................44
         5.2.2 Laço social...........................................................................................................50
         5.2.3 Capital social......................................................................................................52


6 OS FAKES DO TWITTER E SUAS IDENTIDADES .................................................. 55
         6.1 PAULO VINÍCIUS COELHO (PVC), O JORNALISTA ESPORTIVO...............55
         6.1.1 O fake @pvc_espn e suas características.........................................................56
         6.1.2 O perfil original..................................................................................................59
         6.1.3 Interação entre o perfil fake e original.............................................................61
         6.1.4 Interação do fake com os seguidores ................................................................63
6.1.5 Pesquisa de opinião com os seguidores do @pvc_espn...................................65
          6.1.6 Entrevista com o “fake”....................................................................................70


          6.2 CLEBER MACHADO, O COMENTARISTA ESPORTIVO...............................72
          6.2.1 O fake @oclebermachado e suas características............................................74
          6.2.2 Interação com os seguidores.............................................................................76
          6.2.3 Pesquisa de opinião com os seguidores do perfil @oclebermachado............78
          6.2.4 Entrevista com o fake........................................................................................82


          6.3 SERGUEI, O ROCKEIRO......................................................................................83
          6.3.1 O fake @sergueirock e suas características.....................................................85
          6.3.2 Interação com os seguidores..............................................................................87
          6.3.3 Pesquisa de opinião com os seguidores do perfil @sergueirock...................88
          6.3.4 Entrevista com o fake.........................................................................................92


          6.4 NARCISA TAMBORINDEGUY, A SOCIALITE................................................93
          6.4.1 O perfil @narcisaoficial e suas características................................................95
          6.4.2 Interação com os seguidores..............................................................................99
          6.4.3 Pesquisa com seguidores do perfil @narcisaoficial ......................................100
          6.4.4 Entrevista com o criador do perfil ..............................................................105


7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 107


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 109


APÊNDICES .................................................................................................................... 112
11




1 INTRODUÇÃO


        Não há dúvidas da importância da internet na sociedade atual, trazendo mudanças
irreversíveis para o modo em que vivemos. Dentro desse universo, os sites de redes sociais
são hoje uma grande ferramenta de comunicação atualmente. O Twitter, mais que um site de
rede social, assume um papel importante não só na difusão de informação, mas também como
fonte e pauta. É cada vez mais freqüente a utilização dessa plataforma em veículos
tradicionais. Uma mistura de microblog com mensageiro instantâneo e Site de Rede Social, o
Twitter tem apropriações diferentes de acordo com os seus usuários, que buscam nele
diferentes objetivos. É notória sua relevância nos processos comunicacionais e nas rotinas
jornalísticas. No entanto, optei por analisar o Twitter como artefato cultural que potencializa a
construção e apropriação de identidades culturais. Atualmente, estudantes, jornalistas,
veículos, empresas e celebridades possuem perfil na plataforma. A idéia dessa pesquisa foi
analisar uma categoria do submundo do microblog, mal vista por muitos1: os fakes. 2
        Entende-se por perfil fake aquele que se apresenta como o de outra pessoa que não ela,
fingindo ser algo que não é. Segundo a definição de Mocellim (2007), o fake se afirma ser
outro, buscando ser outra pessoa ou se descrevendo diferente daquilo que é. Assim, o objetivo
é estudar a apropriação de identidade que esses perfis fazem no twitter. São muitos os perfis
como esse no site, alguns surpreendentemente bastante populares. Há casos, inclusive, em que
o fake consegue ganhar notoriedade e ultrapassar a barreira do anonimato.
        Mas por que estudar esse tipo de perfil? Primeiramente, por que ele é uma
representação de identidade no ciberespaço e essa representação gera processos interativos
com outros perfis. Aqui, não importa verificar se eles convencem ou não como pessoas, mas
sim como que eles constroem essas características identitárias dentro de seus perfis. Quais são
as semelhanças encontradas nos perfis fakes presentes também na identidade real dos
originais e como os seus seguidores enxergam isso, são outros dos questionamentos que esse
trabalho propõe. São perfis que conseguem se destacar, mesmo se assumindo como falsos,
conquistar seguidores, manter freqüente interação com eles, ditar memes e tendências.
        Para realizar esse estudo, foram necessárias diferentes abordagens metodológicas,
apresentadas no segundo capítulo. Ali, utilizando os conceitos de Fragoso, Recuero e Amaral

1
 http://www1.folha.uol.com.br/tec/968839-perfis-falsos-do-twitter-geram-mal-estar-com-celebridades.shtml
2
 Embora seja possível traduzir a palavra fake para falso, foi optado deixar como fake durante o trabalho por ser
o termo utilizado na internet.
12



(2011), busca-se entender a importância da utilização da pesquisa qualitativa no processo
metodológico de coleta de informações. Também neste capítulo é explicado, item por item,
todos os processos efetivados para a realização da pesquisa, desde a revisão bibliográfica até
as formas de aplicação das pesquisas aos seguidores dos perfis.
       No terceiro capítulo, os conceitos de identidades são apresentados. Resgata-se diversos
autores com o objetivo de compreender todas as facetas e modificações que o conceito de
identidade sofreu. Através de Hall (2002), as concepções de identidade são apresentadas, bem
como as cinco rupturas que fizeram com o que a essência identitária do sujeito seja, hoje,
fragmentada. Outros autores como Castells (2000) e Turkle (1997) nos ajudaram nessa
discussão, essencial para que se possa seguir ao próximo capítulo e abordar a identidade
dentro das redes sociais.
       Doring (2002) e Lemos (2002) são alguns dos autores que possibilitam compreender a
identidade nas redes sociais como algo mutável e em constante construção. O perfil ou a
página da web são os campos onde é representada a identidade e estão disponíveis para
modificação a qualquer momento. Assim, nas redes sociais, a identidade é efêmera, assim
como o seu processo de representação. Neste capítulo também são discutidas as concepções
de fake e a classificação criada por Nóbrega (2010) para diferenciá-lo. Através de Fontanella
(2011), também é abordada a utilização do anonimato e usos da internet como forma de
humor e entretenimento.
       O quarto capítulo conceitua as redes sociais, os sites de redes sociais, incluindo um
breve histórico sobre o surgimento deles. Recuero (2009) resgata desde a concepção e até os
conceitos de laço social e capital social. Esse subcapítulo também pretende traçar um
panorama do Twitter, desde sua criação, objetivos e mudanças, além de explicar o
funcionamento da plataforma.
       O quinto e último capítulo compreende relacionar os conceitos abordados no
referencial teórico com os resultados da pesquisa empírica, incluindo as observações
encontradas durante o percurso. A análise busca possibilitar uma reflexão sobre a recepção
dos perfis fakes e quanto à carga de características identitárias eles carregam e perfomatizam
na rede. Dessa forma, pretende-se analisar, dentro da amostra selecionada, como a construção
de suas identidades se dá e como ela é entendida. Também foram realizadas entrevistas com
os moderadores/criadores dos perfis, com o objetivo de compreender se seus objetivos ao
construir o fake foram atingidos - ou se foi mais uma vez apropriado para outros fins pelo
microblog. Assim, ao coletar e analisar os dados a partir de várias direções sobre um mesmo
13



perfil, pudemos construir uma nova compreensão a respeito desse envolto pelo anonimato,
mas que ganha visibilidade através das interações e dos processos culturais no ciberespaço.
14



2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS


       Neste capítulo inicial, abordaremos como foi o processo de pesquisa e suas etapas, da
pesquisa bibliográfica à pesquisa empírica.




2.1 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA


       Para atingir o objetivo geral deste trabalho, primeiramente foi realizada uma leitura e
revisão bibliográfica dos conceitos de identidade cultural e identidades nas redes sociais. Para
isso, foram utilizadas as bibliografias de diversos autores. Através de Hall (2002), foram
estudadas as três concepções da identidade e as cinco rupturas que possibilitaram as
modificações nela. Também foram utilizados trabalhos de Nóbrega (2010) e Lemos (2002)
buscando compreender como essa identidade era apresentada nas redes sociais e as
classificações dos fakes. Raquel Recuero foi a autora principal para a construção do
referencial teórico sobre redes sociais na internet. A obra auxiliou na compreensão da
estrutura e história das redes, possibilitando melhor o entendimento do Twitter. Para obter
mais informações sobre o funcionamento do microblog, além da larga utilização da
ferramenta, também foram utilizados os autores Zago (2008) e Spyer (2009) na
fundamentação teórica.
       Através da pesquisa bibliográfica foi possível ampliar os conceitos, entender as
mudanças e as estruturas da rede social, abrindo caminho para a aplicação dos outros
processos metodológicos.




2.2 PESQUISA EMPÍRICA QUALITATIVA

       As ferramentas metodológicas desta pesquisa abrangem a pesquisa empírica
qualitativa. A pesquisa qualitativa busca uma compreensão aprofundada e holística dos
fenômenos em estudo, contextualizando e reconhecendo seu caráter dinâmico (FRAGOSO,
RECUERO E AMARAL 2011). Essa pesquisa não tem como objetivo quantificar as menções
presentes nas construções identitárias dos fakes e interações entre os usuários no Twitte rede,
mas sim entender os processos comunicacionais.
15



       Segundo as autoras, esse tipo de abordagem tem sido utilizado diversas vezes nos
estudos sobre experimentações das identidades online ao longo dos anos 90. Na pesquisa
empírica, independente do tema ou da área pesquisa, é necessário realizar observações. Para
realizá-las, é necessário criar subdivisões, que possibilitam focar melhor a análise, as
amostras. Fragoso, Recuero e Amaral explicam que o recorte na internet em específico é mais
difícil, devido ao número de usuários, a diferença entre eles e o dinamismo na rede. Por esse
motivo, a seleção de uma amostra apropriada é importante para o desenvolvimento da
pesquisa.




2.2.1 A escolha dos objetos


       Como o estudo deste trabalho é qualitativo, a quantidade não é um fator importante.
Assim, foram selecionados quatro perfis fakes para a observação. Os perfis deveriam ser
conhecidos, ter uma quantidade razoável de seguidores para que se pudesse fazer uma
pesquisa de opinião com eles também. Além disso, a pessoa representada no fake deveria ser
conhecida também, ou ser uma celebridade, possuindo material, entrevistas, vídeos do
youtube suficientes para a comparação entre sua performance mediada pela imagem e a
identidade caracterizada no microblog. Dentro desse parâmetro, foram encontrados os perfis
do @oclebermachado e @sergueirock, que representavam duas pessoas de áreas diferentes
(esporte e música, recpectivamente). Depois disso, optou-se por escolher objetos com
diferenciais. O perfil @narcisaoficial, que era fake e tornou-se também da própria Narcisa
Tamborindeguy foi selecionado por esse diferencial por acreditar ser interessante para o
estudo. O último perfil é um fake cuja pessoa representada também possuía um perfil no
microblog. Mais do que isso, eles interagiam. Querendo entender como foi realizado esse
processo, e pensando em mais uma forma de compará-los, foi selecionado o perfil
@pvc_espn.
       A partir dessa seleção, foi iniciada a observação dos perfis. A princípio, seria
escolhido um período de tempo determinado, mas, fazendo uma observação inicial, foi
constatado que todos realizavam comentários relacionando as características dos fakes com
determinados assuntos e notícias em destaque. Assim, foi determinado que a amostragem dos
tweets seria realizada pelo tipo de conteúdo e não por um período de tempo. Apesar da
escolha, vale registrar que os tweets analisados foram postados no site entre abril e novembro
de 2011.
16



       Realizada a amostragem, foi necessário pesquisar sobre as pessoas originais às quais
os fakes representavam para compreender quais características eram semelhantes. Buscou-se
material, principalmente em vídeos – a fim de perceber o maior número de detalhes e
características também. Os vídeos e entrevistas – grande parte de participações realizadas em
programas de televisão - foram transcritos, bem como todo o material selecionado para tentar
caracterizar ao máximo essas personalidades. Neste ponto, já era possível relacionar as
características representadas nos fakes com as das personas, sobretudo a partir dos seus
jargões.




2.2.2 Pesquisa de opinião


       A pesquisa de opinião com os seguidores dos perfis foi construída através do sistema
googledocs e publicada no Twitter. Devido às especificidades de cada perfil, foi necessário
realizar uma pesquisa específica para cada um deles.
       A pesquisa de opinião tinha como objetivo compreender o que motivava o usuário a
seguir um perfil assumidamente fake. A partir das observações, foram selecionadas algumas
opções de motivos: os que acham o perfil engraçado e são motivados pelo lado cômico do
perfil; aqueles que seguem o fake por gostar da personalidade original representada; aqueles
que não gostam da pessoa real e encontram no perfil uma forma de compartilhar e expressar
seus sentimentos por ela; aqueles que, devido à sua popularidade e grande número de
mensagem retuítadas, acabavam aparecendo tanto na timeline do usuário, que ele resolveu
segui-lo. Também foi disponibilizada uma opção de outros, onde os seguidores poderiam
escrever livremente o motivo.
       Abaixo, segue o exemplo da pesquisa realizada com os seguidores do perfil
@pvc_espn.
17




FIGURA 1 – Perfil da pesquisa para os seguidores do perfil @pvc_espn




                    Fonte: elaborado pela autora
18




              FIGURA 2 – Perfil da pesquisa para os seguidores do perfil @narcisaoficial




                                     Fonte: elaborada pela autora




      Na enquete, também foi questionado se os usuários já acharam que o perfil era fake,
visando descobrir se eles sabem que estão seguindo um fake e as características são tão
parecidas com as do original que em algum momento já confundiram.
19


              FIGURA 3 – Perfil da pesquisa para os seguidores do perfil @oclebermachado




                                     Fonte: elaborada pela autora




       As enquetes eram diferentes para cada perfil devido suas particularidades. Aos
seguidores do @pvc_espn, por exemplo, foi indagado se eles também seguiam o perfil oficial.
Aos da @narcisaoficial, se sabiam que o perfil era fake e hoje era também atualizado pela
própria Narcisa. Porém, a pergunta mais importante se manteve a todas: quais características
“reais” eles acreditavam que o perfil fake apresentava. Esse era um espaço para resposta
dissertativa, sem limite de caracteres.
20




               FIGURA 4 – Perfil da pesquisa para os seguidores do perfil @sergueirock




                                     Fonte: elaborada pela autora




       Para a coleta, visando obter um bom número de respostas, foram criados perfis
específicos, com nomes variáveis do nome @ajudeumtcc (@ajude1tcc, @ajude01tcc), etc.
Em cada um foi disponibilizado um perfil diferente na Biografia e o pedido de que o seguidor
respondesse a pesquisa sobre o determinado fake. No perfil em que havia informações sobre o
@sergueirock, por exemplo, foi adicionando seguidores do fake. Assim, os seguidores iriam
ver o perfil que estava seguindo e optar por responder ou não. Foi uma forma de divulgar a
pesquisa diretamente no público alvo. Foram criados inicialmente quatro perfis, um para cada
21



fake. Porém, devido à política de spam do Twitter, alguns ficaram suspensos, fazendo, ao
todo, que sete perfis fakes de divulgação fossem criados. A meta era conseguir, no mínimo,
50 respostas para cada perfil e foi ultrapassada.
       Assim, a internet, além de objeto de pesquisa, é também o local da pesquisa e a
ferramenta para coleta de dados, conforme explicam Fragoso, Recuero e Amaral (2011, p.17).


                  FIGURA 5 – Perfil de divulgação das pesquisas com os seguidores




                                   Fonte: http://www.twitter.com




2.2.3 As entrevistas com os criadores dos fakes


       Cumpridas as etapas de observação dos perfis e da pesquisa com seus seguidores, a
busca agora era com os próprios fakes. Talvez a mais difícil das etapas, a idéia era, depois da
observação pessoal e da análise dos próprios seguidores, buscar compreender como era a
construção de identidade de um perfil fake a partir dos seus criadores.
22



       A única forma de contato possível era o twitter. Com exceção do perfil da
@narcisaoficial, que possui um e-mail na Bio, não havia nenhum link ou endereço para
contato nos perfis. Assim, através de um perfil, nos mesmos moldes utilizados para a pesquisa
com os seguidores, foi tentado contado com eles. Diariamente, tweets eram enviados
explicando que o seu perfil era objeto de estudo de uma monografia e perguntando se eles
poderiam responder algumas questões básicas. Talvez devido ao grande número de seguidores
e interações que possuem, a maioria não respondeu. Depois de cerca de duas semanas de
tentativas, o perfil do @pvc_espn enviou um e-mail de contato. O @sergueioficial, cerca de
um mês após o início das tentativas, aceitou responder apenas três perguntas por Direct
Message do twitter – que, como mais tarde veremos, possuí limite de 160 caracteres. O último
a dar retorno foi o fake @oclebermachado, depois de grande insistência. Infelizmente, depois
de passado o e-mail de contato e envio das perguntas, ele informou que não respondia
questões como o moderador, somente como o fake.


                     FIGURA 6 – Perfil para contato com os objetos de estudo




                                  Fonte: http://www.twitter.com
23




2.2.4 Análise e categorização


       Por fim, foi realizada a comparação entre as transcrições decupadas dos vídeos das
personalidades com as observações dos fakes, os resultados das pesquisas e as entrevistas,
possibilitando a categorização e análise de dados.
       Neste capítulo, observamos as etapas da metodologia desenvolvida para observar os
fakes do Twitter. No próximo capítulo, trataremos dos conceitos de identidade cultural.
24



3 IDENTIDADE CULTURAL


       A identidade é um conceito estudado por diversas áreas do conhecimento e por isso,
possui diferentes definições. A dimensão pessoal ou individual, segundo Oliveira (1976), é
pesquisada principalmente pela psicologia, enquanto a identidade social ou coletiva é objeto
de estudo da sociologia ou antropologia. Alguns autores compreendem sob a perspectiva da
identidade pessoal, como uma "reflexidade da modernidade que se estende ao núcleo do eu"
(GIDDENS, 2002 p. 37). Outros a relacionam como uma ideia de identidade coletiva ligada a
sistemas culturais específicos.
       Para Castells (2000), a identidade é a fonte de significado para os próprios atores,
originada e construída por eles através de um processo de individuação e autoconstrução.
Assim, toda e qualquer identidade é construída.        Nóbrega (2010) defende que toda a
construção identitária é comunicada ao mundo através da representação. Ela é um projeto a
ser criado e que deve também ser reafirmado para se legitimar.
       Castells (2000) classifica três formas de construção de identidade: a legitimadora, a de
resistência e a de projeto. A primeira corresponde à identidade detentora de poder e dá origem
a uma sociedade civil. É introduzida pelas instituições dominantes da sociedade, buscando
expandir a dominação das instituições elitistas em relação aos atores sociais. A segunda está
relacionada a uma posição de desfavorecimento, desvalorização, levando os atores a
formarem comunidades, “trincheiras de resistência”, uma forma de sobreviver seguindo os
princípios diferentes dos impostos a eles ou pelas instituições. Essa representação, no
ciberespaço, pode ser representada pelos hackers, que utilizam os espaços virtuais para
ativismo e ações. A identidade de projeto é aquela em que os atores estavam em posição de
resistência até que, devido a utilização de qualquer tipo de material ao seu alcance,
construíram uma nova identidade, assumindo assim uma nova posição da sociedade. É a nova
identidade a ser construída, pois “cada tipo de processo de construção de identidade leva a um
resultado distinto no que tange a constituição da sociedade” (CASTELLS, 2000, p. 24).
       Já Hall (2002) distingue três concepções de identidade. A primeira, a identidade do
sujeito do Iluminismo, compreende a pessoa humana como um indivíduo centrado, unificado,
consciente. Seu centro consistia em um núcleo interior, que o acompanhava desde o seu
nascimento, desenvolvimento, permanecendo o mesmo ao longo de sua existência. O centro
essencial do eu era a identidade de uma pessoa. O autor considera essa uma concepção
individualista do sujeito e de sua identidade.
25



          A segunda concepção é a identidade do sujeito sociológico, noção que, segundo o
autor, reflete a complexidade do mundo moderno, onde o sujeito não é mais autônomo e auto-
suficiente. Essa identidade seria constituída pela relação do sujeito com outras pessoas
importantes para ele, pessoas que mediariam valores, sentidos e símbolos. A identidade e o eu
ganham uma concepção interativa. Mais do que isso, a identidade é resultado da interação
entre o eu e a sociedade. Apesar de ter uma essência interior, um "eu real", este seria formado
e modificado de acordo com as relações dos mundos culturais e as outras identidades
existentes.
          Hall (2002) explica que essas compreensões mudaram, citando o debate sobre as
velhas identidades estarem em declínio, fazendo surgir novas identidades. O sujeito, que antes
era compreendido como tendo uma identidade unificada e estável, torna-se fragmentado,
composto não mais por uma, mas por várias identidades, muitas contraditórias ou não
resolvidas. A "perda de um sentido de si" estável, chamada de descentração do sujeito, é um
deslocamento dos indivíduos do seu lugar no mundo social, cultural e de si mesmos. Essa
mudança no processo resulta na criação de um sujeito sem identidade fixa, essencial ou
permanente: a identidade do sujeito pós-moderno. O sujeito pós-moderno assume identidades
diferentes em diferentes momentos, identidades contraditórias, não relacionadas a um "eu"
coerentes. Para o autor, a ideia de identidade completamente unificada, segura e coerente não
é real.


                                         A medida em que os sistemas de significação e representação
                                         cultural se multiplicam, somos confrontados por uma
                                         multiplicidade desconcertante e ambiente de identidades
                                         possíveis, com cada uma das quais poderiam nos identificar - ao
                                         menos temporariamente (HALL, 2002, p.13).


          Na ideia de Hall, a identidade não é uma questão de ser, e sim de tornar-se. O
indivíduo pós-moderno tem sua identidade definida historicamente, resultando em diversas
identificações ao longo do tempo. Os elementos que a compõe permanecem articulados
parcialmente, tornando o sujeito aberto à mudanças, negociando seu papel social em
diferentes situações.
          Hall (2002) cita cinco rupturas “do pensar social” responsáveis por mudar a identidade
do sujeito unificado e estável para essa desfragmentada. A primeira delas, ruptura do
pensamento marxista, coloca as relações sociais no centro do pensamento, rejeitando as idéias
filosóficas sobre a existência de uma essência universal de homem. Karl Marx não aceita essa
concepção de sujeito com essência ideal. Sigmund Freud é o responsável pela segunda
26



ruptura, que ocorre com a sua descoberta do inconsciente, indo contra a idéia do sujeito
racional. Para Freud, a identidade não é formada totalmente, sendo preenchida através do
exterior, das formas que imaginamos sermos vistos pelos outros. Na terceira ruptura,
Ferdinand de Saussure defende que ‘não somos nós os autores’ das nossas afirmações ou dos
significados que nossa língua possui. Isso por que a língua, um sistema social, estaria
carregada de significados culturais, carregando ecos. Os significados das palavras não são
fixos, dependem da similaridade e da diferença. A identidade, assim, teria a mesma estrutura
que a língua, “eu sei quem eu sou em relação com o outro que eu não posso ser” (Hall, 2002,
p.40). A quarta ruptura tem relação com o poder, baseada nos pensamentos de Michel
Focault. Com o “poder disciplinar” e da vigilância, todas as pessoas seriam individualizadas.
Para Hall, quanto mais coletiva e organizada as instituições da modernidade tardia, maior o
isolamento e a individualização do sujeito individual.
       O impacto do feminismo para a sociedade contemporânea é a última ruptura do
pensamento que influenciou a concepção do sujeito e a identidade pós-moderna. Aqui, se
caracterizam todos os movimentos associados ao ano de 1968, como política sexual, lésbicas,
gays, lutas raciais e movimentos pacifistas, entre outros. O feminismo foi responsável por
questionar a distinção do público e o privado, abrir novas formas de vida social como a
família, a sexualidade, o trabalho doméstico. Também politizou a subjetividade, o processo de
identificação entre homens/mulheres, pais/mães, filhos/filhas. Hall (2002) explica que o
movimento expandiu, incluindo a formação de identidades sexuais e de gênero, questionando
também a noção de que homens e mulheres eram parte da mesma identidade, a "humanidade",
que seria substituída pela questão da diferença sexual.
       Mustaro (2004), explica o conceito ampliado de identidade defendido por Castells
(2000). Ao defender a ligação entre o aspecto cultural e a auto-representação na ação social, o
autor coloca a identidade como parte do processo de significado cultural, “formada por
atributos inter-relacionados que predominam sobre outras fontes de significado”. Porém, o
autor ressalta que essas múltiplas diversidades constroem elementos de contradição, não só
entre as relações do sujeito, mas em sua própria representação.
       A Identidade é relacional para Woodward (2000), pois depende de algo fora dela para
existir, de outra identidade que possibilite condições para que ela exista. Para a autora, a
identidade também é produzida por sistemas de representação, também compreendidas como
um processo cultural e que estabelecem identidades, tanto individuais quanto coletivas, “e os
sistemas simbólicos nos quais ela se baseia fornecem possíveis respostas às questões: Quem
sou eu? O que eu poderia ser? Quem eu quero ser?” (WOODWARD, 2000, p. 17).
27



       Para Kellner (1992 apud KILPP, 2003, p. 143), a identidade na modernidade tornou-se
problemática e o assunto da própria identidade transformou-se, por si só, em problema: “De
fato, somente em uma sociedade ansiosa com sua identidade, poderiam surgir os problemas de
identidade pessoal, ou auto-identidade, ou crise de identidade e tornarem-se preocupações e
assuntos de debate”.
       Bauman (2005, apud NÓBREGA, 2010) explica que, se antes a identidade humana de
uma pessoa era determinada através do trabalho, do seu desempenho social, atualmente ela é
conseqüência das escolhas. Para Nóbrega, devido à pós-modernidade, as identidades hoje se
formam em torno do lazer, da aparência, da imagem e do consumo, com laços frágeis em sua
delimitação.
       Na Internet, a inconstância da identidade é mais perceptível, segundo Turkle (1997).
Devido à tecnologia, é possível que uma pessoa esteja em vários lugares, em vários contextos
e em várias comunidades ao mesmo tempo. Essa grande presença no ciberespaço permite que
uma identidade seja criada, uma identidade seguindo os aspectos pós-modernos, flexível e em
constante mutação.
       No estudo do conceito de identidade, a alteridade é um dos aspectos encontrados. Isso
por que a identidade do sujeito também é constituída através de diferenças. Para Natal (2009,
p.45), a identidade não é formada apenas pela imagem que o sujeito envia de si mesmo, mas
também através da alteridade, quando se atribui um conteúdo específico à diferença que o
separa dele. A definição do ser assim dependeria também da diferença, “onde o outro se torna
parte integrante elemento constitutivo do ‘eu’”, sem perder sua própria identidade.
       Essa concepção trabalha a ideia de reafirmação das diferenças, onde o sujeito acredita
saber o que é o outro para poder atribuir uma diferença. De acordo com a autora, não há mais
uma crise de identidade, mas sim uma busca por identidade – busca por ser o que o outro não
é, “mas não somente isso” (NATAL p. 45). Embora nesse caso o “outro” seja parte integrante
da identidade, a constituição do “eu” ainda é própria.
       Após apresentar esses conceitos da identidade do sujeito, buscaremos compreender
como esta representação é encontrada nas redes sociais no próximo capítulo.
28




4 IDENTIDADES NAS REDES SOCIAIS


        No ciberespaço, há um permanente processo de construção e expressão de identidades
dos atores. As apropriações dos sujeitos demonstram que esse processo vai além das páginas
pessoais, Fotologs ou perfis no Orkut. Elas funcionam como uma presença do “eu” no
ciberespaço, onde o espaço é privado e ao mesmo tempo público. “Essa individualização
dessa expressão, de alguém, "que fala" através desse espaço é que permite que as redes sociais
sejam expressas na internet.” (RECUERO, 2009, p. 27). Para Régine Robin (1997 apud
LEMOS, 2002), a internet é um espaço de exploração de novas formas de identidade, que
podem servir tanto como instrumento de construção identirária quanto como forma de
socialização.
        Ao encontro disso, Natal (2009) afirma que hoje a identidade não está mais associada
a um rosto ou nome. É no ciberespaço que a carga de identidade de um indivíduo, seja ele
pessoa “real” ou não, é descarregada. Ao modificar algum aspecto dessa carga na internet, o
usuário irá editar mais do que uma informação, mas parte do que representa e é ali.
        Sibilia explica os aspectos da construção de si e da narração do eu por alguns weblogs.
Para a autora, a percepção de um weblog, como uma narrativa, através da personificação do
outro, é “essencial para que o processo comunicativo seja estabelecido” (SIBILIA, 2003 apud
RECUERO, 2009, p. 26). O entendimento do espaço do outro no cibersepaço ocorre através
da construção do site, com elementos identitários e de representação de si.
        A construção da identidade na internet através das páginas pessoais foi analisada por
Doring (2002), que concluiu que os websites pessoais eram apropriações individuais do
ciberespaço, utilizados permanentemente para a construção de si.


                            Enquanto a noção tradicional de identidade assume homogeneidade e estabilidade da
                            identidade pessoal (Erikson, 1968), a identidade pós moderna é entendida como uma
                            miscelânea (Kraus, 2000ª) ou “de diversas origens” (Gergen, 1991, p. 150) de sub-
                            identidades independentes e parcialmente contraditórias, que são construídas
                            novamente na identidade de trabalho cotidiana e relacionadas a outras para sustentar
                            um senso de coerência (Kraus, 2000a, 2000b). (DORING, 2002)3


        Para o autor, a personalidade também não é mais compreendida hoje em dia como
uma identidade homogênica e estática, mas como uma estrutura múltipla e dinâmica, que é
composta por vários “aspectos de si mesmo”. Os conceitos de identidade são foco da

3
 Tradução livre da autora. Disponível: http://jcmc.indiana.edu/vol7/issue3/doering.html - acesso em: 22 de out.
2011
29



construtividade e mudança. Isso por que a página pessoal está sempre em construção e pode
ser atualizada a qualquer momento. Doring defende que a idéia de “construção” da identidade
é importante para a compreensão do weblog como uma faceta de sua identidade. Essa
mutação na página do ator reflete na identidade do indivíduo, que também é constantemente
modificado. Recuero (2009) explica que, assim como o blog é constantemente alterado, a
identidade do indivíduo também é.
       Ao encontro disso, Lemos (2002) considera as páginas pessoais como formas de
construção de uma imagem identitária, mesmo que esteja sempre fragmentada e sendo
modificada. Para isso, usa de exemplo os diversos websites que estão, de forma sintomática,
permanentemente em construção. Para o autor “a web e suas páginas pessoais podem ser
vistas como formatos fluidos de construção de imagens identitárias” (LEMOS, 2002, p.10)
onde a rede não é apenas um hipertexto informativo, mas um hipertexto social complexo.
       Nas redes sociais, um ator pode utilizar o perfil do Orkut como forma de identidade,
onde suas preferências estão apontadas, e passíveis de mudança a qualquer momento. Já no
Fotolog, a forma de identificação do ator é o link. Segundo Recuero, perfis do Orkut, blogs,
Fotologs, são pistas de um "eu" que poderá ser percebido pelos demais. São construções
plurais de um sujeito, que representam as múltiplas facetas de sua identidade. Porém, Lemos
considera as incertezas presentes na identidade dos atores na internet: “no ciberespaço a
identidade é ambígua, não existindo certezas (sexo, classe, raça) para a determinação das
formas de interação” (LEMOS, 2002, p. 174-175).
       Nóbrega (2010) defende que, na rede, onde a representação dos atores ocorre por meio
da publicização do eu, o ego vira peça central. A autora explica que, se com a democratização
do acesso à internet, a possibilidade de o indivíduo encontrar alguém como ele ampliou-se, a
liberdade de se auto afirmar da maneira que quisesse também. Os atores passam a se
representar da maneira que desejam encontrar outros atores para interagir. A construção
identitária é expressa através de representação, sendo também reafirmadas com o objetivo de
se reafirmar.
       Na internet, os usuários usam as redes sociais como ferramentas na construção dessas
identidades. Entretanto, por ser uma concepção simbólica, Nóbrega não considera importante
verificar a autenticidade das informações, mas sim o processo de elaboração e utilização da
identidade construída.


                         Não importa aqui discutir a validade dessas concepções identitárias declaradas pelos
                         usuários das redes de relacionamento virtuais ou em até que ponto elas
30


                             correspondem ao real, mas sim a utilização desse tipo de mídia como substrato de
                             construções identitárias (NÓBREGA, 2010, p. 99).


           Nóbrega explica essa construção de identidades que ocorre no espaço simbólico:

                             Toda a concepção identitária se esboça em forma de representação e no caso das
                             redes virtuais de relacionamento, a representação do indivíduo se dá por meio da
                             publicização do eu. O ego se torna uma centralidade na rede. A forma de se projetar
                             a imagem na rede pode ser caracterizada como dramática, na medida em que é uma
                             espécie de processo teatral de representação. (NÓBREGA, 2010, p. 97).


          Para a autora, a identidade é uma convenção socialmente necessária, que forma-se
através de representação. E aparecem diariamente nas redes sociais, espaços abstratos em que
são estabelecidos laços afetivos e representações. Na internet, os usuários podem escolher
seus avatares com características físicas diferentes das suas no mundo real. Esse é um
exemplo da representação da sua identidade na rede. Porém, Nóbrega defende que além desse
tipo de representação, a internet reúne grupos de pessoas com características em comum e
excluem as que não possuem as características do modelo desejado.
          Algumas dessas representações nas redes sociais são os fakes. Mocellim (2007), em
seu estudo sobre os fakes no Orkut, explica que os usuários do site geralmente se referem a
um perfil como fake não só quando informações do perfil são falsas, mas também quando o
perfil se refere a uma pessoa que não é o usuário.

                             Alguém não pode ser considerado fake de si mesmo; nos casos em que as pessoas
                             expõem fatos, ou características, que não correspondem com ela na realidade, os
                             usuários costumam dizer que a pessoa está criando outra identidade, criando um
                             personagem, sendo falso, exagerando. Porém, fake serve para os casos em que
                             realmente busca-se ser outra pessoa, afirmando ser outro, e não sendo o mesmo,
                             apenas se descrevendo ou agindo de uma maneira diferente do esperado pelas
                             pessoas que o conhecem pessoalmente. (MOCELLIM, 2007, p. 10).



          O autor classifica os fakes em quatro tipos:

          a) Fakes obviamente falsos: personagens fictícios que utilizam características
consideradas bizarras, satíricas ou excêntricas. São facilmente percebidos como fakes e
geralmente demonstram isso intencionalmente.
          O perfil @gracekarioca4, por exemplo, é um fake obviamente falso, com um
personagem fictício e apresentação constante de determinadas características.



4
    www.twitter.com/gracekarioca - acesso em 10 de out 2011
31




                                 FIGURA 7 – Perfil do fake @gracekarioca




                                        Fonte: http://www.twitter.com




          b) Fakes que copiam personagens ou pessoas reais: os usuários criam perfis de
personagens de filmes, novelas, séries, ou mesmo dos atores que as interpretam. Geralmente,
é tido como óbvio que o perfil é fake, porém, muitos incorporam características e interagem
como o original. Alguns tentam realmente convencer que são os reais, outros deixam claro
que são falsos. No twitter, um dos exemplos é o perfil do @pvc_espn5, um dos objetos de
estudo desse trabalho e que será abordado posteriormente.




5
    www.twitter.com/pvc_espn - acesso em 10 de out 2011
32




                                  FIGURA 8 – Perfil do fake @pvc_espn




                                       Fonte: http://www.twitter.com




        c) Fakes espiões: São usuários que criam suas contas a fim de investigar perfis de
outros usuários. Esses perfis possuem poucas informações e frequentemente aparecem com
nomes que sugerem que somente essa utilização6. Mais utilizados no Orkut, foi uma prática
popular para a utilização da rede com mais privacidade.
        O usuário @e0017 é um exemplo desta categoria.




6
  O autor cita exemplos de perfis fakes dessa categoria nomeados com “Eu fucei mesmo”, “Agente Secreto”,
“Olho que tudo vê”.
7
  www.twitter.com/e001 - acesso em 10 de out 2011.
33




                                       FIGURA 9 – Perfil do fake @e001




                                         Fonte: http://www.twitter.com




          d) Fakes que se propõem como pessoas verdadeiras: Neste caso, os usuários
adotam nomes, adicionam amigos, colocam fotos, entram em comunidades, enviam recados,
como se fossem essa pessoa. Esses fakes querem ser reconhecidos como reais. Várias
celebridades possuem esse tipo de fake no microblog. O @luanapiovani8 é um deles.




8
    www.twitter.com/luanapiovani. acesso em 10 de out 2011.
34




                             FIGURA 10 – Perfil do fake @luanapiovani




                                    Fonte: http://www.twitter.com




       Por conta do recorte desse trabalho e da amostra escolhida, os tipos de fakes
observados neste trabalho são os itens a (fakes obviamente falsos) e o b (fakes que copiam
personagens ou pessoas reais)
       Embora esses fakes sejam parecidos com o conceito de “falsa representação” descrito
por Goffman (2004 apud MOCELLIM), quando alguém finge ser algo diferente do que
realmente é, Mocellim ressalta que há diferenças:


                       Porém a idéia de falsa representação não dá conta de tudo envolvido aqui. Falsa
                       representação leva a pensar que o que está sendo exibido, a representação que está
                       sendo observada, seja falsa. Ela não é falsa – e Goffman ressalta isso, no que trata de
                       relações face a face. Pode ser tomada como falsa, na medida em que trata da
                       interpretação de alguém que não existe realmente, ou da ocupação de posições
                       sociais as quais não deveriam estar ocupando; mas é verdadeira na medida em que
                       tudo o que é dito ou feito vem de uma pessoa, e representa o que uma pessoa pensa,
                       faz, ou é. (MOCELLIM, 2007, p. 11 ).


       Assim o autor entende que mesmo essa representação fake não quer dizer
necessariamente falsa, já que a representação da pessoa existe presencialmente. O fake do ator
35



Cristian Pior, por exemplo, tornou-se o famoso @hugogloss9 e conta com uma base forte de
seguidores e interações. Depois de conversar com o verdadeiro Cristian, o usuário resolveu
evitar problemas e criar outro perfil. Apesar de ser um perfil falso, as representações que ele
realiza são experiências reais e hoje continuam no seu perfil. Mesmo assim, sabe-se poucas
informações sobre o nome verdadeiro, fotos e ocupação do usuário.
        Para Mocellim (2007), os fakes também podem ser compreendidos como um dos
exemplos da fragmentação das identidades, causada através da diversificação dos contextos de
interação contemporâneos.
        A criação desses fakes podem ter vários objetivos distintos. Muitos deles não
pretendem convencer outros usuários que são a pessoa representada, criaram o perfil visando
explorar seu lado cômico. Fontanella (2011) defende a utilização da Internet não só como
forma para rir, mas acredita que hoje seja um dos seus usos mais freqüentes no dia-a-dia.
Dentro dessa concepção, o autor explica casos em que ocorre um processo de marginalização
dos usuários. São práticas culturais escondidas dos usuários comuns da internet, onde
geralmente eles vivem no anonimato, sem manter uma identidade persistente. É o caso do
imageboard 4chan10, o mais famoso em atividade. Segundo o autor, usuários desses fóruns
frequentemente são motivados pelo prazer de transgredir e ridicularizar determinados tipos de
usuários. Há uma divisão entre os usuários comuns, que utilizam a internet de maneira
"socialmente aceitável" e a dos grupos de usuários que vão além dos espaços seguros, que
ousam e freqüentam os conteúdos mais estranhos na rede. Os usuários do 4chan são exemplos
de usuários que, apesar de não criarem uma identidade na rede, produzem um conteúdo que
circula em outros fóruns e comunidades da rede, os memes11. Os chamados Anonymous, são
a incorporação da identidade social nas comunidades dos chans. Uma identidade flexível, mas
que permite que os seus usuários os reconheçam a si mesmo no que têm em comum.
        Para o autor, esse ocultamento da identidade pode trazer benefícios como a expressão
livre de ideias e sentimentos. Porém, o autor também cita Donath (1998), que considerava o
anonimato um elemento que inviabiliza a comunidade, sendo necessária alguma forma de
identificação de cada membro, mesmo que seja por um pseudônimo. Enquanto algumas
comunidades forçaram a identificação dos participantes, algumas utilizaram o anonimato para
criar um ambiente único de liberdade e igualdade.


9
  www.twitter.com/huglogloss - acesso em 10 de out 2011
10
   http://www.4chan.org/ - acesso em 10 de out 2011
11
   O termo meme é utilizado para definir pedaços da informação que se espalham pelas redes sociais na internet
através da replicação (RECUERO, 2009, p. 129).
36


                                   Citando Marc Guillaume, André Lemos captura bem esse espírito para
                                   uso da representação virtual para a transformação do sujeito
                                   individualista moderno em um “indivíduo espectral”, que escapa aos
                                   constrangimentos da identidade através do anonimato, fugindo assim à
                                   homogeneidade de comportamentos (Fontanella, 2010 p.6)


       Essse é o caso dos perfis fakes analisados neste trabalho. Eles se escondem através dos
seus perfis, geralmente não tentam mostrar seu “eu” real e dificilmente sabemos quem são.
Entretanto, possuem grande visibilidade e popularidade no site, criando bordões ou memes
que se propagam na rede.
       Até aqui, buscamos entender os conceitos de identidade e como acontece sua
representação nas redes sociais. No próximo capítulo, veremos as definições de comunidades,
redes sociais e sites de redes sociais.
37



5 INTERNET E REDES SOCIAIS


           Na sociedade atual, a cada minuto novas pessoas se conectam na internet, criam
conteúdo e consomem informações da rede. O que observamos hoje é um número cada vez
mais crescente de pessoas aderindo à tecnologia, a utilização em grande escala de dispositivos
móveis e a necessidade de se estar sempre conectado. Essa expansão na rede transformou a
maneira com que as pessoas se relacionam. Lemos (2002), explica que a tecnologia causa
mudanças que fazem parte do processo de evolução da humanidade e as conseqüências podem
ter representações e significações diversas. Assim como o fogo e a eletricidade, são inovações
que definiram e se incorporaram aos processos cotidianos. Blattmann (2009 apud LEMOS,
2002) considera a internet como o principal responsável pela mudança na forma de acesso,
obtenção, organização e uso de informação para produção de conhecimento. Se na década de
70 a maior parte da população não conhecia um computador, hoje todas as empresas possuem
um site. O e-mail transformou a forma de correspondência de longas distâncias, assim como
os serviços de mensagens instantâneas modificaram a idéia de conversa. Pesquisa realizada
em 11 países, incluindo o Brasil, aponta a internet como veículo indispensável por 70% dos
entrevistados12.
           Não é possível medir a autonomia dos usuários no ciberespaço. Enquanto nos meios
tradicionais o indivíduo lê, assiste e ouve, na internet, o público faz. Esse é o princípio básico
da WEB 2.0, cujo conteúdo se deve principalmente a participação dos usuários. Siqueira
(2009) explica que nessa geração os editores da Web estão criando plataformas ao invés de
conteúdo. Isso acontece por que agora são os usuários que agora criam conteúdo. O’Reilly
(2005), que cunhou o termo em 2003, defende que na Web 2.0 a arquitetura de participação é
fortalecida e há escabilidade de custo eficiente. Nessa geração, não há somente uma mudança
técnica, mas sim na forma em que os usuários e desenvolvedores a utilizam. O público deixou
de atuar somente como um consumidor da informação. A conexão entre usuários e
computadores resultou em um novo conceito de atividade coletiva. Essa nova forma baseou-
se no compartilhamento de informações, conhecimentos e interesses.
           A segunda geração da internet afeta a cultura comunicativa da sociedade, mudando
padrões e hábitos, com tecnologias que permitem a colaboração e interação de informações
em tempo real. Lévy (1999 apud LEMOS, 2002) explica que ela se tornou um meio de
comunicação modelo todos-todos, onde qualquer pessoa pode produzir e publicar conteúdo na


12
     http://g1.globo.com/Noticias/Tecnologia/0,,MUL1397901-6174,00.html – acesso em 10 de out. 2011
38



rede. Impulsionada por essa geração e difundida, principalmente, devido à facilidade de
acesso aos dispositivos móveis, as redes sociais viraram parte do cotidiano de quem tem
acesso à rede. Segundo dados do IBOPE13, 73,9 milhões de pessoas acessaram a web no
quarto trimestre de 2010. Número que tende a aumentar: de outubro de 2009 a outubro de
2010, o número de pessoas que acessam a internet regularmente cresceu 13,2%.14 Desse
número, 86% dos usuários possui algum perfil em uma rede social15. As redes sociais
atingiram um nível de importância e há muitas especulações sobre o seu futuro. Em 2009,
Tim Berners-Lee, famoso na história da internet por ter criado a World Wide Web, aponta as
redes sociais e celulares como o futuro da web.
        Sites populares atualmente, como Orkut, Facebook, Twitter e programas como MSN
tem como principal característica a interação e o compartilhamento de informações. São
plataformas que fazem parte da segunda geração da internet e permitem aproximação de
pessoas com afinidades, troca de músicas, fotos, vídeos, entre outros conteúdos.




5.1 COMUNIDADES VIRTUAIS E REDES SOCIAIS



        Para Castells (2003), a história das redes inicia-se junto com a história da própria
internet, já que as primeiras comunidades virtuais foram criadas pelos primeiros usuários de
redes de computadores. Segundo o autor, o Institute for Global Communication (IGC) foi o
articulador das primeiras redes de computadores dedicadas à divulgação de causas sociais
como a defesa do meio ambiente e a paz mundial. Para ele, as comunidades virtuais moldaram
formas, processos e usos da internet, tendo como características a liberdade de expressão e
autonomia.
        Recuero (2003) explica que inicialmente o termo comunidade representava o conceito
de "família", de comunidade rural. O agrupamento acontecia baseado na afinidade, mas era
restrito aos locais de abrangência, devido à ausência dos meios de comunicação. Porém, com
o surgimento da comunicação mediada pelo computador, a busca de novas formas de
estabelecer conexões acabou transformando o termo em “comunidades virtuais”.


13
   http://info.abril.com.br/noticias/internet/brasil-atinge-73-9-milhoes-de-internautas-18032011-32.shl - acesso
em 10 out. 2011
14
   http://blog.w3haus.co.uk/2011/04/19/numeros-da-internet-no-br/ - acesso em 10 out. 2011
15
   http://www1.folha.uol.com.br/tec/771611-ibope-aponta-que-87-dos-internautas-brasileiros-estao-em-redes-
sociais.shtml - acesso em 10 out. 2011
39



       Recuero (2003) define as comunidades virtuais:


                        A comunidade virtual é, assim, um grupo de pessoas que estabelecem entre si
                        relações sociais, que permaneçam um tempo suficiente para que elas possam
                        constituir um corpo organizado, através da comunicação mediada por computador.
                        (RECUERO, 2003. p.5).


       Assim, se antes a comunidade é entendida como um grupo de pessoas que interage
entre si, na internet essa mesma interação passa a ser mediada pelo computador e de forma
recíproca entre as partes.
       Segundo Rheingold (1992 apud RECUERO, 2003, p.5), as comunidades virtuais não
devem ser consideradas apenas lugares onde as pessoas se encontram. Elas formam uma
plataforma que possibilita os usuários atingir diversos fins. Uma dessas finalidades, segundo
Costa (2005), é a formação da idéia de inteligência coletiva. Isso por que as comunidades
virtuais funcionam como filtros humanos inteligentes, cumprindo um papel para um problema
que os programadores buscavam solucionar: o excesso de informação sem mecanismo
eficiente de seleção. Essa idéia atribui às comunidades virtuais a capacidade de resolver
problemas coletivamente em beneficio do indivíduo. Lévy (1992 apud RECUERO, 2003, p.5)
afirma que, além de estimular a formação de inteligência coletiva, as comunidades virtuais
também agem como um mecanismo de mediação cultural tradicional. Isso por que uma rede
de pessoas com o mesmo gosto e interesse produz um efeito mais desejado e eficiente do que
mecanismos de buscas. Assim, o autor defende que as comunidades virtuais organizadas
possuem um papel notável em “termos de conhecimento distribuído, de capacidade de ação e
de potência cooperativa.” (COSTA, 2005).
       Recuero explica que alguns autores defendem que comunidades virtuais devem ser
estudadas como redes sociais. Isso tem relação com as interações cooperativas e a força do
laço social, que veremos a seguir. Para a autora, as comunidades virtuais devem ser
adaptativas, auto-organizadas e cooperativas. Outro fator importante para a compreensão de
uma comunidade virtual como rede social é a possibilidade de associação de novos membros.
       Costa (2005), por sua vez, relaciona as diferenças entre os laços sociais e os sistemas
de troca de informações antigos com os atuais, defendendo que novas formas mais complexas
de comunidade surgiram.


                        Isso nos remete a uma transmutação do conceito de "comunidade" em "rede social".
                        Se solidariedade, vizinhança e parentesco eram aspectos predominantes quando se
                        procurava definir uma comunidade, hoje eles são apenas alguns dentre os muitos
                        padrões possíveis das redes sociais (COSTA, 2005, p. 8).
40




       Para Aguiar (2008, p.22), “redes sociais são, antes de tudo, relações entre pessoas,
estejam elas interagindo em causa própria, em defesa de outrem ou em nome de uma
organização, mediadas ou não por sistemas informatizados”. Para a autora, a rede seria como
um método de interação que tem como objetivo alguma mudança concreta na vida das
pessoas, no coletivo ou nas organizações. Algumas redes são informais e espontâneas, quando
surgem da necessidade do indivíduo em interações cotidianas, com familiares, amigos,
trabalho, etc. Outras são criadas intencionalmente, chamadas de “indivíduos ou grupos com
poder de liderança, que articulam pessoas em torno de interesses, projetos e/ou objetivos
comuns” por Aguiar (2008, p.22). Enquanto a primeira é formada por indivíduos e atores
sociais, a segunda possui participantes que atuam apenas institucionalmente. Entram nessa
categoria, perfis de empresas e instituições. Para a autora, as redes espontâneas tendem a
conseguir interações mais abrangentes do que as redes estimuladas por objetivos
institucionais.
       Wasserman e Faust (1994 apud RECUERO, 2009) conceituam redes sociais como um
conjunto de atores, organizações ou outras entidades, conectados por motivos de amizade,
relacionamentos sociais, profissionais e troca de informação. Ela é formada basicamente por
atores sociais e suas conexões, onde atores são os nós das redes (pessoas, instituições ou
grupos) e as conexões são interações ou laços sociais (WASSERMAN E FAUST, DEGENNE
E FORSE, 1999 apud RECUERO, 2009). A representação pode ser constituída de um perfil
no Orkut enquanto a conexão são as relações que os atores criam na rede. Uma rede seria a
forma de observar padrões de conexões em um grupo social através das conexões realizadas
entre seus atores. Não é possível isolar os atores sociais nem suas conexões, pois um depende
do outro para formar sua estrutura social dentro da rede.
       Atores são representados por nós e moldam as estruturas sociais através da interação e
da constituição de laços sociais. São as pessoas envolvidas na rede, as pessoas que estão por
trás de seus perfis nas redes. Enquanto isso, as conexões em uma rede social são constituídas
dos laços sociais que são formados através da interação social entre os atores. A interação no
ciberespaço também é uma forma de conectar pares de atores e demonstrar que tipo de relação
eles possuem entre si.
       Recuero defende que as características das redes sociais são relevantes no ciberespaço
justamente por que a internet permite que essas informações permaneçam no ciberespaço. A
autora distingue as redes sociais em dois tipos: as redes emergentes e as redes de filiação ou
redes de associação. As redes emergentes são baseadas na interação e conversação mediadas
41



pelo computador. Nas redes emergentes, a interação é do tipo mútuo e elas tendem a ser mais
conectadas e menores. Comentários em blogs são exemplos desse tipo de rede, que necessita
de maior esforço dos atores sociais para manter o perfil atualizado e um laço social forte.
       Em contraponto, as redes sociais de filiação possuem conexões forjadas, onde há
somente um grupo de atores, que não partem do laço social de outros membros. Um exemplo
desse tipo de rede são as listas de amigos de um perfil do Orkut. Não é necessário interação
entre os atores para manter o usuário na rede, apesar dos usuários poderem ter tido laços em
outros espaços. Os atores permanecem nas conexões, mas não precisam interagir ou conversar
entre eles. Esse tipo de rede pode ser muito maior, já que não necessita de esforço dos atores e
tendem a agregar mais nós.




5.2 SITES DE REDES SOCIAIS

       Para Recuero (2009), os sites de redes sociais são uma conseqüência da apropriação
das ferramentas de comunicação mediadas pelos atores sociais. Uma das principais
características dos sites de redes sociais é a exposição das conexões de um indivíduo, que
torna público suas relações com outros usuários, quem são seus amigos, etc. Outro elemento
determinante, segundo Recuero, são as construções de representações das pessoas envolvidas.
A autora defende a distinção entre as redes sociais e a ferramenta que as suporta afirmando
que as redes “são, por si, expressões de grupos sociais, de pessoas e instituições que estão
permanentemente interconectadas pelas novas tecnologias de comunicação e informação.”
(2009, p. 102). Assim, os sites de redes sociais seriam os espaços para essa expressão.
       Boyd & Ellison (2007 apud RECUERO, 2009) consideram sites de redes sociais os
sistemas permitem a representação virtual através da criação de um perfil, a capacidade e de
conexão com outras pessoas e a navegação entre as conexões formadas pelos nós das redes.
       Recuero explica as diferenças entre os sites de redes sociais e as outras formas de
comunicação mediada pelo computador:


                        A grande diferença entre sites de redes sociais e outras formas de comunicação
                        mediada pelo computador é o modo como permitem a visibilidade e a articulação
                        das redes sociais, a manutenção dos laços estabelecidos no espaço off-line.
                        (RECUERO, 2009, p. 102)


       Dessa forma, tanto os fotologs, os blogs e sites como Facebook e Twitter são
exemplos de sites de redes sociais, já que possuem mecanismos de individualização,
42



exposição das redes sociais de cada ator e a possibilidade dos usuários construírem interações
nesses espaços como características.
         Para Recuero (2009), há os tipos de sites de redes sociais propriamente ditos e os sites
de redes sociais apropriados. Os sites propriamente ditos são focados em expor e publicar
intencionalmente as redes e conexões dos atores. Nesses sites, é necessária a criação do perfil
para a interação com outros usuários, como Orkut e Facebook, visando a ampliação das redes,
facilitando a conexão e o fortalecimento do laço social. Nos sites apropriados, não há essa
intenção original, mas seus atores acabaram tornando-os sites de redes sociais devido sua
utilização. É o caso do Fotolog, um site sem espaço para perfil, nem são mostradas as
conexões. Porém, devido a construção de alguns usuários e suas interações com outros atores,
acabam agregando características de rede social ao site.
        Muitos atores que não querem ser identificados optam por criar perfis falsos nos sites
de redes sociais. Essa prática foi bastante observada no Orkut, onde os usuários criavam perfis
com nomes falsos, utilizando a identidade de personagens reais ou fictícios. Dessa forma,
interagiam sem que os outros atores soubessem sua identidade real.
        Segundo o conceito de Boyd e Ellison (2007 apud RECUERO, 2009), o perfil é uma
página onde o usuário escreve sobre si mesmo. Ao se cadastrar em um site de rede social, o
usuário preenche um formulário com diversos campos sobre sua vida, enviando fotos e
personalizando seu perfil. Após isso, ele é convidado a se conectar com outros usuários. Nesta
definição, o SixDegrees16 foi o primeiro site a ter todas as características de rede social
mediada pelo computador. O Sixdegrees permitia somente que os usuários se conectassem
com outros e navegassem entre os perfis. Por questões financeiras, o site durou pouco mais de
três anos. Se em 1997 tivemos o primeiro site de rede social, foi somente em 2002 que houve
sua popularização, com o Friendster17. A rede foi percussora em levar esse tipo de site a
cultura de massa, mas não conseguiu suportar a quantidade de usuários. Em 2003, Last.Fm18,
MySpace19 e Linkedin20 são criados, exemplificando a segmentação das redes. A primeira,
voltada aos fãs de música, é baseada no compartilhamento e recomendação musical dos
usuários. Possui fórum, estações rádio um sistema colaborativo de etiquetamento e indexação
dos arquivos de música. O MySpace foi criado para reunir em um só perfil fotos, blogs,
vídeos e música. Apesar de ser inicialmente ser comparado ao Friendster, ganhou relevância

16
   http://www.sixdegrees.com/ - acesso em 25 ago. 2011
17
   http://www.friendster.com/ - acesso em 25 ago. 2011
18
   http://www.lastfm.com.br/ - acesso em 25 ago. 2011
19
   http://www.myspace.com/ - acesso em 25 ago. 2011
20
   http://www.linkedin.com/ - acesso em 25 ago. 2011
43



no cenário musical, tornando-se “uma importante fonte de informações sobre turnês, datas e
lançamentos de álbuns para as revistas/sites/jornais especializados em música” (AMARAL,
2007, p.96). Durante um período, o MySpace chegou a ser a rede social mais popular nos
Estados Unidos. Já o Linkedin tem como foco a rede profissional, sendo utilizado por
empresas e empregadores. Em 2010 o site contava com 70 milhões de usuários e um milhão
de empresas cadastradas. Assim, vários outros sites de redes sociais surgiram e continuam a
surgir. Mais segmentados, hoje é possível encontrar sites para nichos cada vez mais
específicos como adoradores de hamster (HAMSTERster21) ou fanáticos                            por futebol
(Kigol22).
        No Brasil, durante muito tempo a rede social mais acessada foi o Orkut23. Durante o
mês de maio de 2010, o site recebeu 26 milhões de visitantes únicos. Criada em 2004 por um
funcionário do Google, a rede inicialmente só permitia o cadastro de um usuário através de
um convite de outro usuário já cadastrado. O site permite a criação de perfis com interesses,
fotos e criação de comunidades que funcionam como fóruns. No Brasil, país que, junto com a
Índia, domina a participação de usuários, a rede teve importância na popularização dos sites
de redes sociais. Segundo pesquisa Ibope Nielsen com 8561 entrevistados, o Orkut foi a porta
de entrada para a internet no brasil. Para 82% daqueles que acessam as redes, o Orkut foi a
primeira delas. Em Setembro de 2011, foi divulgada a pesquisa do Ibope Nielsen indicando
que o Facebook ultrapassou o Orkut em número de usuários no Brasil24.
        O Facebook é atualmente a maior rede social do mundo. Dados apontam que 750
milhões de pessoas estavam conectadas na rede em 201125. Em 2012, a companhia estima que
o número alcance um bilhão. Criado em 2004, o sistema era inicialmente focado a alunos de
Harvard, passando depois a ser disponível a outras escolas. O site funciona através de perfis e
páginas de comunidade, com o diferencial da criação de aplicativos.
        Dentre todos os sites de redes sociais disponíveis atualmente, o Twitter será o foco
neste trabalho, portanto, será descrito a seguir.




21
   http://www.hamsterster.com/ - acesso em 22 out. 2011
22
   http://kigol.com.br/ - acesso em 22 out. 2011
23
   http://www.orkut.com – acesso em 22 out. 2011
24
   http://www1.folha.uol.com.br/tec/973266-facebook-ultrapassa-orkut-em-usuarios-no-brasil.shtml acesso em
22 out. 2011
25
   http://exame.abril.com.br/tecnologia/facebook/noticias/facebook-atinge-750-milhoes-de-usuarios acesso em
22 out. 2011
44



5.2.1 Twitter


       O Twitter é um misto de microblog, mensageiro instantâneo e Site de Rede Social
(SRS). Sua descrição depende do tipo de apropriação dos usuários.
       Microblogs são ferramentas de blogs simplificadas, geralmente relacionadas à idéia de
mobilidade e com restrições no tamanho das mensagens (ZAGO, 2008). A autora explica a
ferramenta de microblogging como uma mistura de rede social e mensagens instantâneas.
(ORIHUELA, 2007 apud ZAGO, 2008). Já o ato de postar mensagens em um blog pessoal
através de dispositivos móveis ou comunicadores instantâneos é chamada de microblogging.
(MCFE-DRIES, 2007 apud ZAGO, 2008). Embora a ferramenta tenha características de blog,
sua maior diferença é a restrição do tamanho das mensagens, que permite maior facilidade de
integração com outras ferramentas digitais. O microblogging privilegia “a brevidade dos
textos, a mobilidade dos usuários e as redes virtuais como entorno social emergente” (ZAGO,
2008, p.7). Essas características fazem dos microblogs ferramentas ágeis e rápidas na
cobertura de acontecimentos e na comunicação em geral. O usuário, por ter diversas opções
de postagem, pode enviar uma mensagem a qualquer momento do dia, em qualquer lugar, não
dependendo mais de um computador para isso. A freqüência de várias atualizações por hora,
muitas vezes com uma narrativa de minuto-a-minuto ou ao vivo da rotina diária ou de eventos
fazem com que os microblogs tenham como característica a atualização constante, como
explica Trasel (2008). Outro fator considerado importante na distinção de blog e
microblogging é a simplicidade de manutenção. Segundo Zago (2008), desde 2006 centenas
de outras ferramentas de microblogs foram criadas, baseadas no mesmo padrão de funções do
Twitter, hoje a mais famosa e bem sucedida delas.
       O Twitter é um serviço de microblog onde os usuários respondem, em até 140
caracteres, a pergunta “What’s happening?”. Spyer (2009, p. 36) define o site como “uma
ferramenta para “micro-blogagem” baseada em uma estrutura assimétrica de contatos, no
compartilhamento de links e na possibilidade de busca em tempo real”. No seu próprio site o
twitter é caracterizado como “uma rede de informação em termo real que conecta as últimas
informações sobre o que você achar interessante”. Com uma estrutura similar a de um blog,
grande parte dos usuários utiliza a plataforma para ler notícias, conversar, trocar links e
comentar assuntos da atualidade.
       O conceito do Twitter começou a ser pensado no ano 2000 pelo programador Jack
Dorsey. Somente seis anos mais tarde, uma mensagem foi publicada na primeira versão do
serviço. Dom Sagolla, integrante da equipe que lançou o site, escreveu: “oh this is going to be
45



addictive”, em 21 de março de 2006. Originalmente, a pergunta que o Twitter fazia na página
inicial era “o que você está fazendo?”. Em julho de 2009 seu slogan mudou para "compartilhe
e descubra o que está acontecendo neste momento, em qualquer lugar do mundo" e a pergunta
passou a ser “O que está acontecendo?”. Essa pergunta mudou devido às apropriações e usos
dos interagentes que passaram a compartilhar não só o que estavam fazendo, mas o que
acontecia ao seu redor.
        Para Lima (2009), essas modificações mostram uma mudança nos objetivos dos
fundadores do site. Se no início a plataforma tinha o objetivo de formar uma comunidade
global de amigos e conhecidos, hoje a sua interface mostra a pretensão de tornar o Twitter o
"pulso da internet global". A página inicial do site, desde 6 de junho em português – assim
como todo o site26 – apresenta a frase “Siga o que lhe interessa”, mostrando o twitter como o
local que possui atualizações instantâneas de amigos, celebridades e especialistas. Em
,pesquisa realizada em 2009 mostrou que. para 45% dos usuários, as redes sociais substituem
a informações dos portais de notícias27.


                                   FIGURA 11 – Página inicial do Twitter




                                               Fonte: www.twitter.com



        Após se logar, a página apresenta uma caixa de texto e o espaço de 140 caracteres para
publicação de alguma mensagem. O texto pode incluir links para vídeos, fotos e outros sites.
26
  http://www1.folha.uol.com.br/tec/926605-twitter-lanca-versao-em-portugues.shtml - acesso em 22 out. 2011
27
  http://www.administradores.com.br/informe-se/tecnologia/para-45-dos-internautas-brasileiros-redes-sociais-
substituem-portais-de-noticias/40315/ - acesso em 22 out. 2011
46



Muitos usuários utilizaram encurtadores de URL, já que alguns links são extensos e não
utilize todo o espaço para publicação. O limite de caracteres permite a integração do twitter
com mensagens de texto via celular. As atualizações podem ocorrer por meio de SMS,
serviços de mensagens instantâneas, aplicativos ou pelo site oficial. Para O’REILLY (2009), a
possibilidade de enviar e receber mensagens por vários mecanismos, em tempo real, faz do
twitter uma plataforma de comunicação muito útil, que pode se encaixar na rotina de trabalho
de qualquer um. Segundo o site, usuários móveis do serviço cresceram 182% no último ano.
        Conforme informações do site, o twitter possui 175 milhões de usuários registrados e
95 milhões de mensagens são escritas por dia. Uma pesquisa realizada em junho de 2009 pela
ComScore mostra que o site cresceu 1460% em relação a junho de 200828. Embora o site não
divulgue os números relativos aos perfis brasileiros, uma pesquisa realizada pelo grupo norte-
americano Web Ecology, mostra que a língua portuguesa é a segunda mais usada na
plataforma, atrás somente do inglês.
        Cada mensagem postada no Twitter é chamada de “tweet” ou “tuíte”. Ao se logar, a
página inicial do site apresenta os tweets das pessoas que o usuário segue. No twitter,
diferente de outras redes sociais como Orkut e Facebook em que adiciona-se perfis como
amigos, o usuário segue outro perfil. O perfil seguido pode optar por segui-lo de volta, ou
não. A partir do momento em que se segue algum perfil, as atualizações desta pessoa passam
a aparecer na página inicial, não precisando acessar cada página para ler suas mensagens. Há
um ano, as pessoas mandavam 50 milhões de tweets diariamente. No dia 11 de março de
2011, a contagem chegou a 177 milhões, segundo informações divulgadas no blog do
twitter29.
        Para falar com alguém no Twitter e a pessoa ter conhecimento disso, é necessário
colocar um @ seguido do nome do usuário. Não é necessário seguir a pessoa, nem ser seguido
por ela para mencionar alguém em uma mensagem. O usuário da pessoa (ex. @dierli) utiliza o
limite de caracteres disponíveis para o tweet.


        A seguinte imagem descreve os elementos da página inicial do usuário na última
versão do Twitter:




28
   http://www.techcrunch.com/2009/08/03/twitter-reaches-445-million-people-worldwide-in-june-comscore -
acesso em 22 out. 2011
29
   http://blog.twitter.com/2011/03/happy-birthday-twitter.html - acesso em 22 out. 2011
47


                           FIGURA 12 – Página inicial o usuário do Twitter




                                        Fonte: http://www.twitter.com


       1- Caixa de texto
       2- Mensagem postada
       3- Mensagem recebida de outro usuário
       4- Mensagem postada como resposta a outro usuário
       5- Lista de perfis que está seguindo
       6- Lista de seguidores
       7- Assuntos do Momento (Trend Topics)
       8- Quem seguir
       9- Mensagens (Direct Message)
       10- Pesquisa


       No campo número 1, observamos caixa de texto com o limite de 140 caracteres para o
usuário respondê-la. O número 2 é um exemplo de uma mensagem que foi escrita no campo
1. O campo 3 mostra um tweet com a menção de outro usuário. Essa mensagem fica com o
link do perfil citado em vermelho e também aparecerá na timeline do outro perfil, ou na aba
48



“mentions”. No campo 4, temos a situação inversa: outro perfil respondeu ao tweet. Os
campos 5 e 6 apresentam, respectivamente, a lista de perfis que está se seguindo e os
seguidores. No campo 7, temos os Assuntos do Momentos. Ainda chamados de Trend Topics
pela maioria dos usuários - , a lista dos dez termos mais postados no site. É possível visualizar
os Trend Topics de todo mundo ou em algum país específico. Nesse ranking das palavras
mais escritas, algumas aparecem com o símbolo #, chamadas de Hashtags. A Hashtag não é
uma invenção da plataforma, e sim dos seus usuários. Ela agrupa mensagens que possuem um
determinado termo depois do #, facilitando as buscas. É muito utilizada em cobertura de
eventos e notícias.
           No dia 17 de Junho de 2010, foi criado o "Promoted Tweets", uptades patrocinados
por empresas e organizações que aparecem em meio às buscas feitas por assuntos
relacionados dentro da ferramenta. Essa é uma forma do Twitter ganhar dinheiro com o
serviço e das empresas ganharem mais visibilidade, utilizando a rede como forma de
publicidade.
           Outra forma de interação que o Twitter possibilita são Mensagens. (número 10). São
mensagens privadas, que chegam ao destinatário por e-mail, além de aparecerem neste campo
específico. Quando um tweet enviado com a letra d antes do nome do usuário, uma mensagem
privada é enviada. Somente a pessoa que envia e quem recebe tem acesso às chamadas
“DMs” (abreviação de Direct Message, quando o site não havia versão em português). Só é
possível enviar uma DM para um usuário que segue o seu perfil. Dessa forma, se o perfil
@dierli segue o usuário @exemplo, mas o contrário não ocorre, somente o @exemplo poderá
enviar esse tipo de mensagem.
           Uma das ferramentas mais utilizadas pelos usuários é o Retuíte (ou Retweet). Ele tem
como função replicar uma determinada mensagem de algum outro usuário, dando o crédito
para o original. O botão de retweet fica abaixo do tweet original, do lado da opção de
resposta. Alguns usuários optam por proteger seus updates. Assim, somente seguidores
podem visualizar suas mensagens. O'Reilly (2009) considera o Twitter como uma máquina
capaz de produzir perguntas e respostas. Isso por que seus participantes gostam de ajudar e,
através de frases curtas e do retuíte, é possível ter um alcance muito grande das informações.
           Além disso, há os APPs para acessar o Twitter, que possibilita que seus usuários não
dependam somente da versão web, mas também via mobile ou programas como o
Tweetdeck30.

30
     http://www.tweetdeck.com/ acesso em 22 out. 2011
49




                              FIGURA 13 – Página inicial do Twitter




                                  Fonte: http://www.twitter.com


       O perfil do usuário pode ser visto por todos, inclusive por quem não possui conta –
exceto quando ele for privado. A imagem acima apresenta o perfil visto por alguém que segue
o usuário. O usuário preenche o seu nome, sua “Bio” (em 160 caracteres) e tem espaço para
incluir um link que poderá redirecionar para outra rede social, blog ou site. Ao lado, é
possível ver quantos tweets o ator escreveu e o número de perfis ele segue e é seguido.
Abaixo, temos os tweets que o dono do perfil escreveu, tanto como resposta à um ou mais
usuários, quanto para toda a timeline. Caso o dono do perfil tenha protegido seus uptades,
somente pessoas que o seguem conseguem visualizá-los (perfil privado). Neste caso, tanto
para não-seguidores quanto usuários sem conta, o perfil do ator mostra apenas o nome, bio,
link para página pessoal, número de tweets, seguidores e seguindo.
       O twitter ganhou visibilidade na mídia devido sua utilização por famosos. Sites de
notícias passaram a usar como pauta informações postadas pelos atores na plataforma.
Discussões com usuários ou colegas também tiveram maior repercussão, exposição e
chegaram a outras mídias. Ao mesmo tempo, o site tornou-se uma forma de divulgação e
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Apropriação de identidade em perfis fakes no Twitter

  • 1. UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO COMUNICAÇÃO SOCIAL COM ÊNFASE EM JORNALISMO DIERLI MIRELLE DOS SANTOS A APROPRIAÇÃO DE IDENTIDADE NO AMBIENTE VIRTUAL: UMA ABORDAGEM SOBRE OS PERFIS FAKES DO TWITTER SÃO LEOPOLDO 2011
  • 2. Dierli Mirelle dos Santos A APROPRIAÇÃO DE IDENTIDADE NO AMBIENTE VIRTUAL: uma abordagem sobre os perfis fakes do Twitter Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Jornalismo, pelo Curso de Comunicação Social habilitação em Jornalismo da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Orientadora: Prof. Dr. Adriana Amaral São Leopoldo 2011
  • 3. AGRADECIMENTOS Agradeço a meus pais pelo apoio, esforço e por sempre confiarem que eu chegaria até aqui. À minha irmã Manuela que, mesmo inconscientemente, me motivou todos os dias. Á minha orientadora, Adriana Amaral, pelo permanente incentivo e disponibilidade durante a construção desse trabalho. Por sua paciência e pelas risadas que me proporcionou. Aos colegas de trabalho, especialmente Ivo Stigger, pela compreensão e apoio em todos os momentos. Aos colegas Adam, Luana, Ana, Tamires e José, pelas palavras motivadoras. Às amigas Manoela e Márcia, por sempre me ouvirem. Às pessoas especiais que encontrei nesse caminho, Bruna e Roberta.
  • 4. RESUMO A presente monografia aborda a representação de identidade de perfis fakes do Twitter e como se dá sua apropriação no ambiente virtual. Dentro desse tema, foram analisados quatro perfis atualizados por pessoas diferentes das representadas - pessoas conhecidas através da mídia massiva: PVC, Cleber Machado, Serguei e Narcisa -, buscando entender como são realizadas suas construções identitárias. Para isso, foram os conceitos de identidades, identidades na internet e nas redes sociais a partir de teóricos como Stuart Hall (2002), Manuel Castells (2000) e Sherry Turkle (1997), entre outros. A partir de múltiplas técnicas de pesquisa empírica qualitativa aplicadas à internet (Fragoso, Recuero e Amaral, 2011), buscou- se formas de compreender a construção e a representação dessas características identitárias, tanto através da observação e categorização de conteúdos produzidos nos tweets, como de questionários e entrevistas com os seguidores e mantenedores dos perfis, alem da comparação de rastros dessa identidade a partir da decupagem de vídeos das personalidades. A partir dessa reflexão, observa-se que as identidades nos sites de redes sociais encontram-se em constante construção e apropriação das características dos outros sujeitos, além da criação, dentro da amostra recortada, de fakes com o objetivo de fazer humor e entreter no Twitter. Palavras-chave: identidade – redes sociais - Twitter – fakes
  • 5. ABSTRACT This paper addresses the representation of identity of fake profiles on Twitter and how their appropriation on the virtual medium occurs. Within this subject, were analyzed four different profiles updated by people other than the ones they are representing - personalities known through the mass media: PVC, Cleber Machado, Serguei and Narcisa -, seeking to understand how their identities are constructed. In order to reach this matter, the identity concepts on the internet and the social networks were discussed through theorists such as Stuart Hall (2002), Manuel (2000) and Sherry Turkle (1997), among others. Through multiple qualitative and empirical research techniques applied to the internet (Fragoso, Recuero and Amaral, 2011), the construction and the representation of these identities characteristics were sought by means to understand them, as much through observation and categorization of the tweets content, as through series of questions and interviews with the profiles followers and maintainers, even comparing traces of these identities through the editing of videos from each of the personalities. Through this series of thoughts, one can observe that the identities on the social networking websites are in constant construction and appropriation of the characteristics of other people, culminating on the creation of fakes - within the research sample - intending to amuse and to entertain Twitter users. Keywords: identity - social networks - Twitter - fakes
  • 6. LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 – Perfil da pesquisa para os seguidores do perfil @pvc_espn.............................. 17 FIGURA 2 – Perfil da pesquisa para os seguidores do perfil @narcisaoficial........................ 18 FIGURA 3 – Perfil da pesquisa para os seguidores do perfil @oclebermachado................... 19 FIGURA 4 – Perfil da pesquisa para os seguidores do perfil @sergueirock...........................20 FIGURA 5 – Perfil de divulgação das pesquisas com os seguidores...................................... 21 FIGURA 6 – Perfil para contato com os objetos de estudo..................................................... 22 FIGURA 7 – Perfil do fake @gracekarioca............................................................................. 31 FIGURA 8 – Perfil do fake @pvc_espn................................................................................., 32 FIGURA 9 – Perfil do fake @e001.......................................................................................... 33 FIGURA 10 – Perfil do fake @luanapiovani........................................................................... 34 FIGURA 11 – Página inicial do Twitter.................................................................................. 45 FIGURA 12 – Página inicial o usuário do Twitter.................................................................. 47 FIGURA 13 – Página inicial do Twitter.................................................................................. 49 FIGURA 14 – Perfil do fake @pvc_espn................................................................................ 56 FIGURA 15 – Tweet do fake @pvc_espn sobre casamento real............................................. 57 FIGURA 16 – Tweet do fake @pvc_espn sobre o Steve Jobs................................................ 57 FIGURA 17 – Tweet do fake @pvc_espn sobre show............................................................ 58 FIGURA 18 – Tweet do fake @pvc_espn sobre a morte de Gaddafi...................................... 58 FIGURA 19 – Tweet do fake @pvc_espn sobre cruzeiro marítmo......................................... 59 FIGURA 20 – Perfil original do Paulo Vinícius Coelho......................................................... 59 FIGURA 21 – Tweet do perfil @pvcespn sobre jogo.............................................................. 60 FIGURA 22 – Tweet do perfil @pvcespn com dado estatístico.............................................. 60 FIGURA 23 – Tweet do perfil @pvcespn direcionando para o blog...................................... 60 FIGURA 24 – Características encontradas no perfil fake do e no original......................... 61 FIGURA 25 – Tweet do perfil @pvcespn sobre o fake........................................................... 61 FIGURA 26 – Tweets de interação entre fake e original......................................................... 62 FIGURA 27 – Tweets de interação entre fake e original sobre jogador.................................. 62 FIGURA 28 – Tweets de interação com seguidores do fake.................................................. 63 FIGURA 29 – Tweets de interação com seguidores com apropriação................................... 64 FIGURA 30 – Tweets de interação com seguidores com apropriação sobre futebol............. 64
  • 7. FIGURA 31 – Perfil do fake @oclebermachado..................................................................... 72 FIGURA 32 – Tweet do @oclebermachado sobre futebol...................................................... 74 FIGURA 33 – Tweet do @oclebermachado sobre o campeonato........................................... 74 FIGURA 34 – Tweet do @oclebermachado sobre o jogador.................................................. 74 FIGURA 35 – Tweet do @oclebermachado sobre Kafafi....................................................... 75 FIGURA 36 – Tweet do @oclebermachado sobre o horário de verão.................................... 75 FIGURA 37 - Tweet do @oclebermachado dando RT............................................................. FIGURA 38 – Tweet do @oclebermachado respondendo dúvida de seu seguidor................. 76 FIGURA 39– Tweet do @oclebermachado respondendo seu seguidor sobre o campeonato. 77 FIGURA 40 – Interação entre @oclebermachado e seus seguidores...................................... 77 FIGURA 41 – Interação entre @oclebermachado e seus seguidores...................................... 78 FIGURA 42 - Características encontradas no perfil fake e no Cléber Machado..................... 78 FIGURA 43 – Perfil do fake @sergueirock............................................................................. 83 FIGURA 44 – Tweet do @sergueirock sobre o horário de verão............................................ 86 FIGURA 45 – Tweet do @sergueirock sobre a morte de Steve Jobs...................................... 86 FIGURA 46 – Tweet do @sergueirock sobre o Ministério..................................................... 86 FIGURA 47 – Tweet do @sergueirock sobre o casamento real.............................................. 87 FIGURA 48 – Tweet do @sergueirock sobre o casamento real.............................................. 87 FIGURA 49 – Tweet do @sergueirock respondendo ofensas de seus seguidores...................87 FIGURA 50 – Tweet do @sergueirock respondendo seus seguidores.................................... 88 FIGURA 51 - Características encontradas no perfil fake e no Serguei................................... 88 FIGURA 52 - Perfil antigo do fake @narcisaoficial............................................................... 95 FIGURA 53 - Perfil do fake @narcisaoficial.......................................................................... 96 FIGURA 54 – Tweet da @narcisaoficial sobre o show do Justin Bieber................................ 97 FIGURA 55 – Tweet da @narcisaoficial usando bordão........................................................ 97 FIGURA 56 – Tweet da @narcisaoficial citando marca......................................................... 98 FIGURA 57 – Tweet da @narcisaoficial sobre empregada .....................................................98 FIGURA 58 – Tweet da @narcisaoficial sobre a morte de Steve Jobs................................... 98 FIGURA 59 – Tweet da @narcisaoficial interagindo com outros seguidores........................ 99 FIGURA 60 – Tweet da @narcisaoficial respondendo seguidor............................................. 99 FIGURA 61 – Características encontradas no perfil fake e na Narcisa..................................100
  • 8. LISTA DE QUADROS QUADRO 1 – Respostas para a opção “Outro” - @pvc_espn................................................ 65 QUADRO 2 – Respostas dissertativas sobre o perfil @pvc_espn........................................... 69 QUADRO 3 – Respostas para a opção “Outro” - @oclebermachado......................................79 QUADRO 4 – Respostas dissertativas dos seguidores do @oclebermachado........................ 80 QUADRO 5 – Respostas para a opção “Outro” - @sergueirock............................................. 89 QUADRO 6 – Respostas dissertativas sobre o perfil @sergueirock........................................91 QUADRO 7 – Respostas dos seguidores para a opção “Outros” - @narcisaoficial.............. 100 QUADRO 8 – Respostas dissertativas sobre o perfil @narcisaoficial.................................. 104
  • 9. LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 – Respostas dos seguidores do @pvc_espn para a pergunta 1........................... 66 GRÁFICO 2 – Respostas dos seguidores do @pvc_espn para a pergunta 2............................67 GRÁFICO 3 – Respostas dos seguidores do @pvc_espn para a pergunta 3........................... 68 GRÁFICO 4 - Respostas dos seguidores do @oclebermachado para a pergunta 1................. 79 GRÁFICO 5 - Respostas dos seguidores do @oclebermachado para a pergunta 2................. 80 GRÁFICO 6 – Respostas dos seguidores do @sergueirock para a pergunta 1....................... 89 GRÁFICO 7 – Respostas dos seguidores do @sergueirock para a pergunta 2....................... 90 GRÁFICO 8 – Respostas dos seguidores da @narcisaoficial para a pergunta 1................... 101 GRÁFICO 9 – Respostas dos seguidores da @narcisaoficial para a pergunta 2................... 102 GRÁFICO 10 – Respostas dos seguidores da @narcisaoficial para a pergunta 3................. 103
  • 10. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 11 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS................................................................... 14 2.1 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA..............................................................................14 2.2 PESQUISA EMPÍRICA QUALITATIVA.............................................................14 2.2.1 A escolha dos objetos.........................................................................................15 2.2.2 Pesquisa de opinião............................................................................................16 2.2.3 As entrevistas com os criadores dos fakes........................................................21 2.2.4 Análise e categorização......................................................................................23 3 IDENTIDADE CULTURAL .......................................................................................... 24 4 IDENTIDADES NAS REDES SOCIAIS ....................................................................... 28 5 INTERNET E REDES SOCIAIS ................................................................................... 37 5.1 COMUNIDADES VIRTUAIS E REDES SOCIAIS..............................................38 5.2 SITES DE REDES SOCIAIS..................................................................................41 5.2.1 Twitter.................................................................................................................44 5.2.2 Laço social...........................................................................................................50 5.2.3 Capital social......................................................................................................52 6 OS FAKES DO TWITTER E SUAS IDENTIDADES .................................................. 55 6.1 PAULO VINÍCIUS COELHO (PVC), O JORNALISTA ESPORTIVO...............55 6.1.1 O fake @pvc_espn e suas características.........................................................56 6.1.2 O perfil original..................................................................................................59 6.1.3 Interação entre o perfil fake e original.............................................................61 6.1.4 Interação do fake com os seguidores ................................................................63
  • 11. 6.1.5 Pesquisa de opinião com os seguidores do @pvc_espn...................................65 6.1.6 Entrevista com o “fake”....................................................................................70 6.2 CLEBER MACHADO, O COMENTARISTA ESPORTIVO...............................72 6.2.1 O fake @oclebermachado e suas características............................................74 6.2.2 Interação com os seguidores.............................................................................76 6.2.3 Pesquisa de opinião com os seguidores do perfil @oclebermachado............78 6.2.4 Entrevista com o fake........................................................................................82 6.3 SERGUEI, O ROCKEIRO......................................................................................83 6.3.1 O fake @sergueirock e suas características.....................................................85 6.3.2 Interação com os seguidores..............................................................................87 6.3.3 Pesquisa de opinião com os seguidores do perfil @sergueirock...................88 6.3.4 Entrevista com o fake.........................................................................................92 6.4 NARCISA TAMBORINDEGUY, A SOCIALITE................................................93 6.4.1 O perfil @narcisaoficial e suas características................................................95 6.4.2 Interação com os seguidores..............................................................................99 6.4.3 Pesquisa com seguidores do perfil @narcisaoficial ......................................100 6.4.4 Entrevista com o criador do perfil ..............................................................105 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 107 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 109 APÊNDICES .................................................................................................................... 112
  • 12. 11 1 INTRODUÇÃO Não há dúvidas da importância da internet na sociedade atual, trazendo mudanças irreversíveis para o modo em que vivemos. Dentro desse universo, os sites de redes sociais são hoje uma grande ferramenta de comunicação atualmente. O Twitter, mais que um site de rede social, assume um papel importante não só na difusão de informação, mas também como fonte e pauta. É cada vez mais freqüente a utilização dessa plataforma em veículos tradicionais. Uma mistura de microblog com mensageiro instantâneo e Site de Rede Social, o Twitter tem apropriações diferentes de acordo com os seus usuários, que buscam nele diferentes objetivos. É notória sua relevância nos processos comunicacionais e nas rotinas jornalísticas. No entanto, optei por analisar o Twitter como artefato cultural que potencializa a construção e apropriação de identidades culturais. Atualmente, estudantes, jornalistas, veículos, empresas e celebridades possuem perfil na plataforma. A idéia dessa pesquisa foi analisar uma categoria do submundo do microblog, mal vista por muitos1: os fakes. 2 Entende-se por perfil fake aquele que se apresenta como o de outra pessoa que não ela, fingindo ser algo que não é. Segundo a definição de Mocellim (2007), o fake se afirma ser outro, buscando ser outra pessoa ou se descrevendo diferente daquilo que é. Assim, o objetivo é estudar a apropriação de identidade que esses perfis fazem no twitter. São muitos os perfis como esse no site, alguns surpreendentemente bastante populares. Há casos, inclusive, em que o fake consegue ganhar notoriedade e ultrapassar a barreira do anonimato. Mas por que estudar esse tipo de perfil? Primeiramente, por que ele é uma representação de identidade no ciberespaço e essa representação gera processos interativos com outros perfis. Aqui, não importa verificar se eles convencem ou não como pessoas, mas sim como que eles constroem essas características identitárias dentro de seus perfis. Quais são as semelhanças encontradas nos perfis fakes presentes também na identidade real dos originais e como os seus seguidores enxergam isso, são outros dos questionamentos que esse trabalho propõe. São perfis que conseguem se destacar, mesmo se assumindo como falsos, conquistar seguidores, manter freqüente interação com eles, ditar memes e tendências. Para realizar esse estudo, foram necessárias diferentes abordagens metodológicas, apresentadas no segundo capítulo. Ali, utilizando os conceitos de Fragoso, Recuero e Amaral 1 http://www1.folha.uol.com.br/tec/968839-perfis-falsos-do-twitter-geram-mal-estar-com-celebridades.shtml 2 Embora seja possível traduzir a palavra fake para falso, foi optado deixar como fake durante o trabalho por ser o termo utilizado na internet.
  • 13. 12 (2011), busca-se entender a importância da utilização da pesquisa qualitativa no processo metodológico de coleta de informações. Também neste capítulo é explicado, item por item, todos os processos efetivados para a realização da pesquisa, desde a revisão bibliográfica até as formas de aplicação das pesquisas aos seguidores dos perfis. No terceiro capítulo, os conceitos de identidades são apresentados. Resgata-se diversos autores com o objetivo de compreender todas as facetas e modificações que o conceito de identidade sofreu. Através de Hall (2002), as concepções de identidade são apresentadas, bem como as cinco rupturas que fizeram com o que a essência identitária do sujeito seja, hoje, fragmentada. Outros autores como Castells (2000) e Turkle (1997) nos ajudaram nessa discussão, essencial para que se possa seguir ao próximo capítulo e abordar a identidade dentro das redes sociais. Doring (2002) e Lemos (2002) são alguns dos autores que possibilitam compreender a identidade nas redes sociais como algo mutável e em constante construção. O perfil ou a página da web são os campos onde é representada a identidade e estão disponíveis para modificação a qualquer momento. Assim, nas redes sociais, a identidade é efêmera, assim como o seu processo de representação. Neste capítulo também são discutidas as concepções de fake e a classificação criada por Nóbrega (2010) para diferenciá-lo. Através de Fontanella (2011), também é abordada a utilização do anonimato e usos da internet como forma de humor e entretenimento. O quarto capítulo conceitua as redes sociais, os sites de redes sociais, incluindo um breve histórico sobre o surgimento deles. Recuero (2009) resgata desde a concepção e até os conceitos de laço social e capital social. Esse subcapítulo também pretende traçar um panorama do Twitter, desde sua criação, objetivos e mudanças, além de explicar o funcionamento da plataforma. O quinto e último capítulo compreende relacionar os conceitos abordados no referencial teórico com os resultados da pesquisa empírica, incluindo as observações encontradas durante o percurso. A análise busca possibilitar uma reflexão sobre a recepção dos perfis fakes e quanto à carga de características identitárias eles carregam e perfomatizam na rede. Dessa forma, pretende-se analisar, dentro da amostra selecionada, como a construção de suas identidades se dá e como ela é entendida. Também foram realizadas entrevistas com os moderadores/criadores dos perfis, com o objetivo de compreender se seus objetivos ao construir o fake foram atingidos - ou se foi mais uma vez apropriado para outros fins pelo microblog. Assim, ao coletar e analisar os dados a partir de várias direções sobre um mesmo
  • 14. 13 perfil, pudemos construir uma nova compreensão a respeito desse envolto pelo anonimato, mas que ganha visibilidade através das interações e dos processos culturais no ciberespaço.
  • 15. 14 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Neste capítulo inicial, abordaremos como foi o processo de pesquisa e suas etapas, da pesquisa bibliográfica à pesquisa empírica. 2.1 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA Para atingir o objetivo geral deste trabalho, primeiramente foi realizada uma leitura e revisão bibliográfica dos conceitos de identidade cultural e identidades nas redes sociais. Para isso, foram utilizadas as bibliografias de diversos autores. Através de Hall (2002), foram estudadas as três concepções da identidade e as cinco rupturas que possibilitaram as modificações nela. Também foram utilizados trabalhos de Nóbrega (2010) e Lemos (2002) buscando compreender como essa identidade era apresentada nas redes sociais e as classificações dos fakes. Raquel Recuero foi a autora principal para a construção do referencial teórico sobre redes sociais na internet. A obra auxiliou na compreensão da estrutura e história das redes, possibilitando melhor o entendimento do Twitter. Para obter mais informações sobre o funcionamento do microblog, além da larga utilização da ferramenta, também foram utilizados os autores Zago (2008) e Spyer (2009) na fundamentação teórica. Através da pesquisa bibliográfica foi possível ampliar os conceitos, entender as mudanças e as estruturas da rede social, abrindo caminho para a aplicação dos outros processos metodológicos. 2.2 PESQUISA EMPÍRICA QUALITATIVA As ferramentas metodológicas desta pesquisa abrangem a pesquisa empírica qualitativa. A pesquisa qualitativa busca uma compreensão aprofundada e holística dos fenômenos em estudo, contextualizando e reconhecendo seu caráter dinâmico (FRAGOSO, RECUERO E AMARAL 2011). Essa pesquisa não tem como objetivo quantificar as menções presentes nas construções identitárias dos fakes e interações entre os usuários no Twitte rede, mas sim entender os processos comunicacionais.
  • 16. 15 Segundo as autoras, esse tipo de abordagem tem sido utilizado diversas vezes nos estudos sobre experimentações das identidades online ao longo dos anos 90. Na pesquisa empírica, independente do tema ou da área pesquisa, é necessário realizar observações. Para realizá-las, é necessário criar subdivisões, que possibilitam focar melhor a análise, as amostras. Fragoso, Recuero e Amaral explicam que o recorte na internet em específico é mais difícil, devido ao número de usuários, a diferença entre eles e o dinamismo na rede. Por esse motivo, a seleção de uma amostra apropriada é importante para o desenvolvimento da pesquisa. 2.2.1 A escolha dos objetos Como o estudo deste trabalho é qualitativo, a quantidade não é um fator importante. Assim, foram selecionados quatro perfis fakes para a observação. Os perfis deveriam ser conhecidos, ter uma quantidade razoável de seguidores para que se pudesse fazer uma pesquisa de opinião com eles também. Além disso, a pessoa representada no fake deveria ser conhecida também, ou ser uma celebridade, possuindo material, entrevistas, vídeos do youtube suficientes para a comparação entre sua performance mediada pela imagem e a identidade caracterizada no microblog. Dentro desse parâmetro, foram encontrados os perfis do @oclebermachado e @sergueirock, que representavam duas pessoas de áreas diferentes (esporte e música, recpectivamente). Depois disso, optou-se por escolher objetos com diferenciais. O perfil @narcisaoficial, que era fake e tornou-se também da própria Narcisa Tamborindeguy foi selecionado por esse diferencial por acreditar ser interessante para o estudo. O último perfil é um fake cuja pessoa representada também possuía um perfil no microblog. Mais do que isso, eles interagiam. Querendo entender como foi realizado esse processo, e pensando em mais uma forma de compará-los, foi selecionado o perfil @pvc_espn. A partir dessa seleção, foi iniciada a observação dos perfis. A princípio, seria escolhido um período de tempo determinado, mas, fazendo uma observação inicial, foi constatado que todos realizavam comentários relacionando as características dos fakes com determinados assuntos e notícias em destaque. Assim, foi determinado que a amostragem dos tweets seria realizada pelo tipo de conteúdo e não por um período de tempo. Apesar da escolha, vale registrar que os tweets analisados foram postados no site entre abril e novembro de 2011.
  • 17. 16 Realizada a amostragem, foi necessário pesquisar sobre as pessoas originais às quais os fakes representavam para compreender quais características eram semelhantes. Buscou-se material, principalmente em vídeos – a fim de perceber o maior número de detalhes e características também. Os vídeos e entrevistas – grande parte de participações realizadas em programas de televisão - foram transcritos, bem como todo o material selecionado para tentar caracterizar ao máximo essas personalidades. Neste ponto, já era possível relacionar as características representadas nos fakes com as das personas, sobretudo a partir dos seus jargões. 2.2.2 Pesquisa de opinião A pesquisa de opinião com os seguidores dos perfis foi construída através do sistema googledocs e publicada no Twitter. Devido às especificidades de cada perfil, foi necessário realizar uma pesquisa específica para cada um deles. A pesquisa de opinião tinha como objetivo compreender o que motivava o usuário a seguir um perfil assumidamente fake. A partir das observações, foram selecionadas algumas opções de motivos: os que acham o perfil engraçado e são motivados pelo lado cômico do perfil; aqueles que seguem o fake por gostar da personalidade original representada; aqueles que não gostam da pessoa real e encontram no perfil uma forma de compartilhar e expressar seus sentimentos por ela; aqueles que, devido à sua popularidade e grande número de mensagem retuítadas, acabavam aparecendo tanto na timeline do usuário, que ele resolveu segui-lo. Também foi disponibilizada uma opção de outros, onde os seguidores poderiam escrever livremente o motivo. Abaixo, segue o exemplo da pesquisa realizada com os seguidores do perfil @pvc_espn.
  • 18. 17 FIGURA 1 – Perfil da pesquisa para os seguidores do perfil @pvc_espn Fonte: elaborado pela autora
  • 19. 18 FIGURA 2 – Perfil da pesquisa para os seguidores do perfil @narcisaoficial Fonte: elaborada pela autora Na enquete, também foi questionado se os usuários já acharam que o perfil era fake, visando descobrir se eles sabem que estão seguindo um fake e as características são tão parecidas com as do original que em algum momento já confundiram.
  • 20. 19 FIGURA 3 – Perfil da pesquisa para os seguidores do perfil @oclebermachado Fonte: elaborada pela autora As enquetes eram diferentes para cada perfil devido suas particularidades. Aos seguidores do @pvc_espn, por exemplo, foi indagado se eles também seguiam o perfil oficial. Aos da @narcisaoficial, se sabiam que o perfil era fake e hoje era também atualizado pela própria Narcisa. Porém, a pergunta mais importante se manteve a todas: quais características “reais” eles acreditavam que o perfil fake apresentava. Esse era um espaço para resposta dissertativa, sem limite de caracteres.
  • 21. 20 FIGURA 4 – Perfil da pesquisa para os seguidores do perfil @sergueirock Fonte: elaborada pela autora Para a coleta, visando obter um bom número de respostas, foram criados perfis específicos, com nomes variáveis do nome @ajudeumtcc (@ajude1tcc, @ajude01tcc), etc. Em cada um foi disponibilizado um perfil diferente na Biografia e o pedido de que o seguidor respondesse a pesquisa sobre o determinado fake. No perfil em que havia informações sobre o @sergueirock, por exemplo, foi adicionando seguidores do fake. Assim, os seguidores iriam ver o perfil que estava seguindo e optar por responder ou não. Foi uma forma de divulgar a pesquisa diretamente no público alvo. Foram criados inicialmente quatro perfis, um para cada
  • 22. 21 fake. Porém, devido à política de spam do Twitter, alguns ficaram suspensos, fazendo, ao todo, que sete perfis fakes de divulgação fossem criados. A meta era conseguir, no mínimo, 50 respostas para cada perfil e foi ultrapassada. Assim, a internet, além de objeto de pesquisa, é também o local da pesquisa e a ferramenta para coleta de dados, conforme explicam Fragoso, Recuero e Amaral (2011, p.17). FIGURA 5 – Perfil de divulgação das pesquisas com os seguidores Fonte: http://www.twitter.com 2.2.3 As entrevistas com os criadores dos fakes Cumpridas as etapas de observação dos perfis e da pesquisa com seus seguidores, a busca agora era com os próprios fakes. Talvez a mais difícil das etapas, a idéia era, depois da observação pessoal e da análise dos próprios seguidores, buscar compreender como era a construção de identidade de um perfil fake a partir dos seus criadores.
  • 23. 22 A única forma de contato possível era o twitter. Com exceção do perfil da @narcisaoficial, que possui um e-mail na Bio, não havia nenhum link ou endereço para contato nos perfis. Assim, através de um perfil, nos mesmos moldes utilizados para a pesquisa com os seguidores, foi tentado contado com eles. Diariamente, tweets eram enviados explicando que o seu perfil era objeto de estudo de uma monografia e perguntando se eles poderiam responder algumas questões básicas. Talvez devido ao grande número de seguidores e interações que possuem, a maioria não respondeu. Depois de cerca de duas semanas de tentativas, o perfil do @pvc_espn enviou um e-mail de contato. O @sergueioficial, cerca de um mês após o início das tentativas, aceitou responder apenas três perguntas por Direct Message do twitter – que, como mais tarde veremos, possuí limite de 160 caracteres. O último a dar retorno foi o fake @oclebermachado, depois de grande insistência. Infelizmente, depois de passado o e-mail de contato e envio das perguntas, ele informou que não respondia questões como o moderador, somente como o fake. FIGURA 6 – Perfil para contato com os objetos de estudo Fonte: http://www.twitter.com
  • 24. 23 2.2.4 Análise e categorização Por fim, foi realizada a comparação entre as transcrições decupadas dos vídeos das personalidades com as observações dos fakes, os resultados das pesquisas e as entrevistas, possibilitando a categorização e análise de dados. Neste capítulo, observamos as etapas da metodologia desenvolvida para observar os fakes do Twitter. No próximo capítulo, trataremos dos conceitos de identidade cultural.
  • 25. 24 3 IDENTIDADE CULTURAL A identidade é um conceito estudado por diversas áreas do conhecimento e por isso, possui diferentes definições. A dimensão pessoal ou individual, segundo Oliveira (1976), é pesquisada principalmente pela psicologia, enquanto a identidade social ou coletiva é objeto de estudo da sociologia ou antropologia. Alguns autores compreendem sob a perspectiva da identidade pessoal, como uma "reflexidade da modernidade que se estende ao núcleo do eu" (GIDDENS, 2002 p. 37). Outros a relacionam como uma ideia de identidade coletiva ligada a sistemas culturais específicos. Para Castells (2000), a identidade é a fonte de significado para os próprios atores, originada e construída por eles através de um processo de individuação e autoconstrução. Assim, toda e qualquer identidade é construída. Nóbrega (2010) defende que toda a construção identitária é comunicada ao mundo através da representação. Ela é um projeto a ser criado e que deve também ser reafirmado para se legitimar. Castells (2000) classifica três formas de construção de identidade: a legitimadora, a de resistência e a de projeto. A primeira corresponde à identidade detentora de poder e dá origem a uma sociedade civil. É introduzida pelas instituições dominantes da sociedade, buscando expandir a dominação das instituições elitistas em relação aos atores sociais. A segunda está relacionada a uma posição de desfavorecimento, desvalorização, levando os atores a formarem comunidades, “trincheiras de resistência”, uma forma de sobreviver seguindo os princípios diferentes dos impostos a eles ou pelas instituições. Essa representação, no ciberespaço, pode ser representada pelos hackers, que utilizam os espaços virtuais para ativismo e ações. A identidade de projeto é aquela em que os atores estavam em posição de resistência até que, devido a utilização de qualquer tipo de material ao seu alcance, construíram uma nova identidade, assumindo assim uma nova posição da sociedade. É a nova identidade a ser construída, pois “cada tipo de processo de construção de identidade leva a um resultado distinto no que tange a constituição da sociedade” (CASTELLS, 2000, p. 24). Já Hall (2002) distingue três concepções de identidade. A primeira, a identidade do sujeito do Iluminismo, compreende a pessoa humana como um indivíduo centrado, unificado, consciente. Seu centro consistia em um núcleo interior, que o acompanhava desde o seu nascimento, desenvolvimento, permanecendo o mesmo ao longo de sua existência. O centro essencial do eu era a identidade de uma pessoa. O autor considera essa uma concepção individualista do sujeito e de sua identidade.
  • 26. 25 A segunda concepção é a identidade do sujeito sociológico, noção que, segundo o autor, reflete a complexidade do mundo moderno, onde o sujeito não é mais autônomo e auto- suficiente. Essa identidade seria constituída pela relação do sujeito com outras pessoas importantes para ele, pessoas que mediariam valores, sentidos e símbolos. A identidade e o eu ganham uma concepção interativa. Mais do que isso, a identidade é resultado da interação entre o eu e a sociedade. Apesar de ter uma essência interior, um "eu real", este seria formado e modificado de acordo com as relações dos mundos culturais e as outras identidades existentes. Hall (2002) explica que essas compreensões mudaram, citando o debate sobre as velhas identidades estarem em declínio, fazendo surgir novas identidades. O sujeito, que antes era compreendido como tendo uma identidade unificada e estável, torna-se fragmentado, composto não mais por uma, mas por várias identidades, muitas contraditórias ou não resolvidas. A "perda de um sentido de si" estável, chamada de descentração do sujeito, é um deslocamento dos indivíduos do seu lugar no mundo social, cultural e de si mesmos. Essa mudança no processo resulta na criação de um sujeito sem identidade fixa, essencial ou permanente: a identidade do sujeito pós-moderno. O sujeito pós-moderno assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades contraditórias, não relacionadas a um "eu" coerentes. Para o autor, a ideia de identidade completamente unificada, segura e coerente não é real. A medida em que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e ambiente de identidades possíveis, com cada uma das quais poderiam nos identificar - ao menos temporariamente (HALL, 2002, p.13). Na ideia de Hall, a identidade não é uma questão de ser, e sim de tornar-se. O indivíduo pós-moderno tem sua identidade definida historicamente, resultando em diversas identificações ao longo do tempo. Os elementos que a compõe permanecem articulados parcialmente, tornando o sujeito aberto à mudanças, negociando seu papel social em diferentes situações. Hall (2002) cita cinco rupturas “do pensar social” responsáveis por mudar a identidade do sujeito unificado e estável para essa desfragmentada. A primeira delas, ruptura do pensamento marxista, coloca as relações sociais no centro do pensamento, rejeitando as idéias filosóficas sobre a existência de uma essência universal de homem. Karl Marx não aceita essa concepção de sujeito com essência ideal. Sigmund Freud é o responsável pela segunda
  • 27. 26 ruptura, que ocorre com a sua descoberta do inconsciente, indo contra a idéia do sujeito racional. Para Freud, a identidade não é formada totalmente, sendo preenchida através do exterior, das formas que imaginamos sermos vistos pelos outros. Na terceira ruptura, Ferdinand de Saussure defende que ‘não somos nós os autores’ das nossas afirmações ou dos significados que nossa língua possui. Isso por que a língua, um sistema social, estaria carregada de significados culturais, carregando ecos. Os significados das palavras não são fixos, dependem da similaridade e da diferença. A identidade, assim, teria a mesma estrutura que a língua, “eu sei quem eu sou em relação com o outro que eu não posso ser” (Hall, 2002, p.40). A quarta ruptura tem relação com o poder, baseada nos pensamentos de Michel Focault. Com o “poder disciplinar” e da vigilância, todas as pessoas seriam individualizadas. Para Hall, quanto mais coletiva e organizada as instituições da modernidade tardia, maior o isolamento e a individualização do sujeito individual. O impacto do feminismo para a sociedade contemporânea é a última ruptura do pensamento que influenciou a concepção do sujeito e a identidade pós-moderna. Aqui, se caracterizam todos os movimentos associados ao ano de 1968, como política sexual, lésbicas, gays, lutas raciais e movimentos pacifistas, entre outros. O feminismo foi responsável por questionar a distinção do público e o privado, abrir novas formas de vida social como a família, a sexualidade, o trabalho doméstico. Também politizou a subjetividade, o processo de identificação entre homens/mulheres, pais/mães, filhos/filhas. Hall (2002) explica que o movimento expandiu, incluindo a formação de identidades sexuais e de gênero, questionando também a noção de que homens e mulheres eram parte da mesma identidade, a "humanidade", que seria substituída pela questão da diferença sexual. Mustaro (2004), explica o conceito ampliado de identidade defendido por Castells (2000). Ao defender a ligação entre o aspecto cultural e a auto-representação na ação social, o autor coloca a identidade como parte do processo de significado cultural, “formada por atributos inter-relacionados que predominam sobre outras fontes de significado”. Porém, o autor ressalta que essas múltiplas diversidades constroem elementos de contradição, não só entre as relações do sujeito, mas em sua própria representação. A Identidade é relacional para Woodward (2000), pois depende de algo fora dela para existir, de outra identidade que possibilite condições para que ela exista. Para a autora, a identidade também é produzida por sistemas de representação, também compreendidas como um processo cultural e que estabelecem identidades, tanto individuais quanto coletivas, “e os sistemas simbólicos nos quais ela se baseia fornecem possíveis respostas às questões: Quem sou eu? O que eu poderia ser? Quem eu quero ser?” (WOODWARD, 2000, p. 17).
  • 28. 27 Para Kellner (1992 apud KILPP, 2003, p. 143), a identidade na modernidade tornou-se problemática e o assunto da própria identidade transformou-se, por si só, em problema: “De fato, somente em uma sociedade ansiosa com sua identidade, poderiam surgir os problemas de identidade pessoal, ou auto-identidade, ou crise de identidade e tornarem-se preocupações e assuntos de debate”. Bauman (2005, apud NÓBREGA, 2010) explica que, se antes a identidade humana de uma pessoa era determinada através do trabalho, do seu desempenho social, atualmente ela é conseqüência das escolhas. Para Nóbrega, devido à pós-modernidade, as identidades hoje se formam em torno do lazer, da aparência, da imagem e do consumo, com laços frágeis em sua delimitação. Na Internet, a inconstância da identidade é mais perceptível, segundo Turkle (1997). Devido à tecnologia, é possível que uma pessoa esteja em vários lugares, em vários contextos e em várias comunidades ao mesmo tempo. Essa grande presença no ciberespaço permite que uma identidade seja criada, uma identidade seguindo os aspectos pós-modernos, flexível e em constante mutação. No estudo do conceito de identidade, a alteridade é um dos aspectos encontrados. Isso por que a identidade do sujeito também é constituída através de diferenças. Para Natal (2009, p.45), a identidade não é formada apenas pela imagem que o sujeito envia de si mesmo, mas também através da alteridade, quando se atribui um conteúdo específico à diferença que o separa dele. A definição do ser assim dependeria também da diferença, “onde o outro se torna parte integrante elemento constitutivo do ‘eu’”, sem perder sua própria identidade. Essa concepção trabalha a ideia de reafirmação das diferenças, onde o sujeito acredita saber o que é o outro para poder atribuir uma diferença. De acordo com a autora, não há mais uma crise de identidade, mas sim uma busca por identidade – busca por ser o que o outro não é, “mas não somente isso” (NATAL p. 45). Embora nesse caso o “outro” seja parte integrante da identidade, a constituição do “eu” ainda é própria. Após apresentar esses conceitos da identidade do sujeito, buscaremos compreender como esta representação é encontrada nas redes sociais no próximo capítulo.
  • 29. 28 4 IDENTIDADES NAS REDES SOCIAIS No ciberespaço, há um permanente processo de construção e expressão de identidades dos atores. As apropriações dos sujeitos demonstram que esse processo vai além das páginas pessoais, Fotologs ou perfis no Orkut. Elas funcionam como uma presença do “eu” no ciberespaço, onde o espaço é privado e ao mesmo tempo público. “Essa individualização dessa expressão, de alguém, "que fala" através desse espaço é que permite que as redes sociais sejam expressas na internet.” (RECUERO, 2009, p. 27). Para Régine Robin (1997 apud LEMOS, 2002), a internet é um espaço de exploração de novas formas de identidade, que podem servir tanto como instrumento de construção identirária quanto como forma de socialização. Ao encontro disso, Natal (2009) afirma que hoje a identidade não está mais associada a um rosto ou nome. É no ciberespaço que a carga de identidade de um indivíduo, seja ele pessoa “real” ou não, é descarregada. Ao modificar algum aspecto dessa carga na internet, o usuário irá editar mais do que uma informação, mas parte do que representa e é ali. Sibilia explica os aspectos da construção de si e da narração do eu por alguns weblogs. Para a autora, a percepção de um weblog, como uma narrativa, através da personificação do outro, é “essencial para que o processo comunicativo seja estabelecido” (SIBILIA, 2003 apud RECUERO, 2009, p. 26). O entendimento do espaço do outro no cibersepaço ocorre através da construção do site, com elementos identitários e de representação de si. A construção da identidade na internet através das páginas pessoais foi analisada por Doring (2002), que concluiu que os websites pessoais eram apropriações individuais do ciberespaço, utilizados permanentemente para a construção de si. Enquanto a noção tradicional de identidade assume homogeneidade e estabilidade da identidade pessoal (Erikson, 1968), a identidade pós moderna é entendida como uma miscelânea (Kraus, 2000ª) ou “de diversas origens” (Gergen, 1991, p. 150) de sub- identidades independentes e parcialmente contraditórias, que são construídas novamente na identidade de trabalho cotidiana e relacionadas a outras para sustentar um senso de coerência (Kraus, 2000a, 2000b). (DORING, 2002)3 Para o autor, a personalidade também não é mais compreendida hoje em dia como uma identidade homogênica e estática, mas como uma estrutura múltipla e dinâmica, que é composta por vários “aspectos de si mesmo”. Os conceitos de identidade são foco da 3 Tradução livre da autora. Disponível: http://jcmc.indiana.edu/vol7/issue3/doering.html - acesso em: 22 de out. 2011
  • 30. 29 construtividade e mudança. Isso por que a página pessoal está sempre em construção e pode ser atualizada a qualquer momento. Doring defende que a idéia de “construção” da identidade é importante para a compreensão do weblog como uma faceta de sua identidade. Essa mutação na página do ator reflete na identidade do indivíduo, que também é constantemente modificado. Recuero (2009) explica que, assim como o blog é constantemente alterado, a identidade do indivíduo também é. Ao encontro disso, Lemos (2002) considera as páginas pessoais como formas de construção de uma imagem identitária, mesmo que esteja sempre fragmentada e sendo modificada. Para isso, usa de exemplo os diversos websites que estão, de forma sintomática, permanentemente em construção. Para o autor “a web e suas páginas pessoais podem ser vistas como formatos fluidos de construção de imagens identitárias” (LEMOS, 2002, p.10) onde a rede não é apenas um hipertexto informativo, mas um hipertexto social complexo. Nas redes sociais, um ator pode utilizar o perfil do Orkut como forma de identidade, onde suas preferências estão apontadas, e passíveis de mudança a qualquer momento. Já no Fotolog, a forma de identificação do ator é o link. Segundo Recuero, perfis do Orkut, blogs, Fotologs, são pistas de um "eu" que poderá ser percebido pelos demais. São construções plurais de um sujeito, que representam as múltiplas facetas de sua identidade. Porém, Lemos considera as incertezas presentes na identidade dos atores na internet: “no ciberespaço a identidade é ambígua, não existindo certezas (sexo, classe, raça) para a determinação das formas de interação” (LEMOS, 2002, p. 174-175). Nóbrega (2010) defende que, na rede, onde a representação dos atores ocorre por meio da publicização do eu, o ego vira peça central. A autora explica que, se com a democratização do acesso à internet, a possibilidade de o indivíduo encontrar alguém como ele ampliou-se, a liberdade de se auto afirmar da maneira que quisesse também. Os atores passam a se representar da maneira que desejam encontrar outros atores para interagir. A construção identitária é expressa através de representação, sendo também reafirmadas com o objetivo de se reafirmar. Na internet, os usuários usam as redes sociais como ferramentas na construção dessas identidades. Entretanto, por ser uma concepção simbólica, Nóbrega não considera importante verificar a autenticidade das informações, mas sim o processo de elaboração e utilização da identidade construída. Não importa aqui discutir a validade dessas concepções identitárias declaradas pelos usuários das redes de relacionamento virtuais ou em até que ponto elas
  • 31. 30 correspondem ao real, mas sim a utilização desse tipo de mídia como substrato de construções identitárias (NÓBREGA, 2010, p. 99). Nóbrega explica essa construção de identidades que ocorre no espaço simbólico: Toda a concepção identitária se esboça em forma de representação e no caso das redes virtuais de relacionamento, a representação do indivíduo se dá por meio da publicização do eu. O ego se torna uma centralidade na rede. A forma de se projetar a imagem na rede pode ser caracterizada como dramática, na medida em que é uma espécie de processo teatral de representação. (NÓBREGA, 2010, p. 97). Para a autora, a identidade é uma convenção socialmente necessária, que forma-se através de representação. E aparecem diariamente nas redes sociais, espaços abstratos em que são estabelecidos laços afetivos e representações. Na internet, os usuários podem escolher seus avatares com características físicas diferentes das suas no mundo real. Esse é um exemplo da representação da sua identidade na rede. Porém, Nóbrega defende que além desse tipo de representação, a internet reúne grupos de pessoas com características em comum e excluem as que não possuem as características do modelo desejado. Algumas dessas representações nas redes sociais são os fakes. Mocellim (2007), em seu estudo sobre os fakes no Orkut, explica que os usuários do site geralmente se referem a um perfil como fake não só quando informações do perfil são falsas, mas também quando o perfil se refere a uma pessoa que não é o usuário. Alguém não pode ser considerado fake de si mesmo; nos casos em que as pessoas expõem fatos, ou características, que não correspondem com ela na realidade, os usuários costumam dizer que a pessoa está criando outra identidade, criando um personagem, sendo falso, exagerando. Porém, fake serve para os casos em que realmente busca-se ser outra pessoa, afirmando ser outro, e não sendo o mesmo, apenas se descrevendo ou agindo de uma maneira diferente do esperado pelas pessoas que o conhecem pessoalmente. (MOCELLIM, 2007, p. 10). O autor classifica os fakes em quatro tipos: a) Fakes obviamente falsos: personagens fictícios que utilizam características consideradas bizarras, satíricas ou excêntricas. São facilmente percebidos como fakes e geralmente demonstram isso intencionalmente. O perfil @gracekarioca4, por exemplo, é um fake obviamente falso, com um personagem fictício e apresentação constante de determinadas características. 4 www.twitter.com/gracekarioca - acesso em 10 de out 2011
  • 32. 31 FIGURA 7 – Perfil do fake @gracekarioca Fonte: http://www.twitter.com b) Fakes que copiam personagens ou pessoas reais: os usuários criam perfis de personagens de filmes, novelas, séries, ou mesmo dos atores que as interpretam. Geralmente, é tido como óbvio que o perfil é fake, porém, muitos incorporam características e interagem como o original. Alguns tentam realmente convencer que são os reais, outros deixam claro que são falsos. No twitter, um dos exemplos é o perfil do @pvc_espn5, um dos objetos de estudo desse trabalho e que será abordado posteriormente. 5 www.twitter.com/pvc_espn - acesso em 10 de out 2011
  • 33. 32 FIGURA 8 – Perfil do fake @pvc_espn Fonte: http://www.twitter.com c) Fakes espiões: São usuários que criam suas contas a fim de investigar perfis de outros usuários. Esses perfis possuem poucas informações e frequentemente aparecem com nomes que sugerem que somente essa utilização6. Mais utilizados no Orkut, foi uma prática popular para a utilização da rede com mais privacidade. O usuário @e0017 é um exemplo desta categoria. 6 O autor cita exemplos de perfis fakes dessa categoria nomeados com “Eu fucei mesmo”, “Agente Secreto”, “Olho que tudo vê”. 7 www.twitter.com/e001 - acesso em 10 de out 2011.
  • 34. 33 FIGURA 9 – Perfil do fake @e001 Fonte: http://www.twitter.com d) Fakes que se propõem como pessoas verdadeiras: Neste caso, os usuários adotam nomes, adicionam amigos, colocam fotos, entram em comunidades, enviam recados, como se fossem essa pessoa. Esses fakes querem ser reconhecidos como reais. Várias celebridades possuem esse tipo de fake no microblog. O @luanapiovani8 é um deles. 8 www.twitter.com/luanapiovani. acesso em 10 de out 2011.
  • 35. 34 FIGURA 10 – Perfil do fake @luanapiovani Fonte: http://www.twitter.com Por conta do recorte desse trabalho e da amostra escolhida, os tipos de fakes observados neste trabalho são os itens a (fakes obviamente falsos) e o b (fakes que copiam personagens ou pessoas reais) Embora esses fakes sejam parecidos com o conceito de “falsa representação” descrito por Goffman (2004 apud MOCELLIM), quando alguém finge ser algo diferente do que realmente é, Mocellim ressalta que há diferenças: Porém a idéia de falsa representação não dá conta de tudo envolvido aqui. Falsa representação leva a pensar que o que está sendo exibido, a representação que está sendo observada, seja falsa. Ela não é falsa – e Goffman ressalta isso, no que trata de relações face a face. Pode ser tomada como falsa, na medida em que trata da interpretação de alguém que não existe realmente, ou da ocupação de posições sociais as quais não deveriam estar ocupando; mas é verdadeira na medida em que tudo o que é dito ou feito vem de uma pessoa, e representa o que uma pessoa pensa, faz, ou é. (MOCELLIM, 2007, p. 11 ). Assim o autor entende que mesmo essa representação fake não quer dizer necessariamente falsa, já que a representação da pessoa existe presencialmente. O fake do ator
  • 36. 35 Cristian Pior, por exemplo, tornou-se o famoso @hugogloss9 e conta com uma base forte de seguidores e interações. Depois de conversar com o verdadeiro Cristian, o usuário resolveu evitar problemas e criar outro perfil. Apesar de ser um perfil falso, as representações que ele realiza são experiências reais e hoje continuam no seu perfil. Mesmo assim, sabe-se poucas informações sobre o nome verdadeiro, fotos e ocupação do usuário. Para Mocellim (2007), os fakes também podem ser compreendidos como um dos exemplos da fragmentação das identidades, causada através da diversificação dos contextos de interação contemporâneos. A criação desses fakes podem ter vários objetivos distintos. Muitos deles não pretendem convencer outros usuários que são a pessoa representada, criaram o perfil visando explorar seu lado cômico. Fontanella (2011) defende a utilização da Internet não só como forma para rir, mas acredita que hoje seja um dos seus usos mais freqüentes no dia-a-dia. Dentro dessa concepção, o autor explica casos em que ocorre um processo de marginalização dos usuários. São práticas culturais escondidas dos usuários comuns da internet, onde geralmente eles vivem no anonimato, sem manter uma identidade persistente. É o caso do imageboard 4chan10, o mais famoso em atividade. Segundo o autor, usuários desses fóruns frequentemente são motivados pelo prazer de transgredir e ridicularizar determinados tipos de usuários. Há uma divisão entre os usuários comuns, que utilizam a internet de maneira "socialmente aceitável" e a dos grupos de usuários que vão além dos espaços seguros, que ousam e freqüentam os conteúdos mais estranhos na rede. Os usuários do 4chan são exemplos de usuários que, apesar de não criarem uma identidade na rede, produzem um conteúdo que circula em outros fóruns e comunidades da rede, os memes11. Os chamados Anonymous, são a incorporação da identidade social nas comunidades dos chans. Uma identidade flexível, mas que permite que os seus usuários os reconheçam a si mesmo no que têm em comum. Para o autor, esse ocultamento da identidade pode trazer benefícios como a expressão livre de ideias e sentimentos. Porém, o autor também cita Donath (1998), que considerava o anonimato um elemento que inviabiliza a comunidade, sendo necessária alguma forma de identificação de cada membro, mesmo que seja por um pseudônimo. Enquanto algumas comunidades forçaram a identificação dos participantes, algumas utilizaram o anonimato para criar um ambiente único de liberdade e igualdade. 9 www.twitter.com/huglogloss - acesso em 10 de out 2011 10 http://www.4chan.org/ - acesso em 10 de out 2011 11 O termo meme é utilizado para definir pedaços da informação que se espalham pelas redes sociais na internet através da replicação (RECUERO, 2009, p. 129).
  • 37. 36 Citando Marc Guillaume, André Lemos captura bem esse espírito para uso da representação virtual para a transformação do sujeito individualista moderno em um “indivíduo espectral”, que escapa aos constrangimentos da identidade através do anonimato, fugindo assim à homogeneidade de comportamentos (Fontanella, 2010 p.6) Essse é o caso dos perfis fakes analisados neste trabalho. Eles se escondem através dos seus perfis, geralmente não tentam mostrar seu “eu” real e dificilmente sabemos quem são. Entretanto, possuem grande visibilidade e popularidade no site, criando bordões ou memes que se propagam na rede. Até aqui, buscamos entender os conceitos de identidade e como acontece sua representação nas redes sociais. No próximo capítulo, veremos as definições de comunidades, redes sociais e sites de redes sociais.
  • 38. 37 5 INTERNET E REDES SOCIAIS Na sociedade atual, a cada minuto novas pessoas se conectam na internet, criam conteúdo e consomem informações da rede. O que observamos hoje é um número cada vez mais crescente de pessoas aderindo à tecnologia, a utilização em grande escala de dispositivos móveis e a necessidade de se estar sempre conectado. Essa expansão na rede transformou a maneira com que as pessoas se relacionam. Lemos (2002), explica que a tecnologia causa mudanças que fazem parte do processo de evolução da humanidade e as conseqüências podem ter representações e significações diversas. Assim como o fogo e a eletricidade, são inovações que definiram e se incorporaram aos processos cotidianos. Blattmann (2009 apud LEMOS, 2002) considera a internet como o principal responsável pela mudança na forma de acesso, obtenção, organização e uso de informação para produção de conhecimento. Se na década de 70 a maior parte da população não conhecia um computador, hoje todas as empresas possuem um site. O e-mail transformou a forma de correspondência de longas distâncias, assim como os serviços de mensagens instantâneas modificaram a idéia de conversa. Pesquisa realizada em 11 países, incluindo o Brasil, aponta a internet como veículo indispensável por 70% dos entrevistados12. Não é possível medir a autonomia dos usuários no ciberespaço. Enquanto nos meios tradicionais o indivíduo lê, assiste e ouve, na internet, o público faz. Esse é o princípio básico da WEB 2.0, cujo conteúdo se deve principalmente a participação dos usuários. Siqueira (2009) explica que nessa geração os editores da Web estão criando plataformas ao invés de conteúdo. Isso acontece por que agora são os usuários que agora criam conteúdo. O’Reilly (2005), que cunhou o termo em 2003, defende que na Web 2.0 a arquitetura de participação é fortalecida e há escabilidade de custo eficiente. Nessa geração, não há somente uma mudança técnica, mas sim na forma em que os usuários e desenvolvedores a utilizam. O público deixou de atuar somente como um consumidor da informação. A conexão entre usuários e computadores resultou em um novo conceito de atividade coletiva. Essa nova forma baseou- se no compartilhamento de informações, conhecimentos e interesses. A segunda geração da internet afeta a cultura comunicativa da sociedade, mudando padrões e hábitos, com tecnologias que permitem a colaboração e interação de informações em tempo real. Lévy (1999 apud LEMOS, 2002) explica que ela se tornou um meio de comunicação modelo todos-todos, onde qualquer pessoa pode produzir e publicar conteúdo na 12 http://g1.globo.com/Noticias/Tecnologia/0,,MUL1397901-6174,00.html – acesso em 10 de out. 2011
  • 39. 38 rede. Impulsionada por essa geração e difundida, principalmente, devido à facilidade de acesso aos dispositivos móveis, as redes sociais viraram parte do cotidiano de quem tem acesso à rede. Segundo dados do IBOPE13, 73,9 milhões de pessoas acessaram a web no quarto trimestre de 2010. Número que tende a aumentar: de outubro de 2009 a outubro de 2010, o número de pessoas que acessam a internet regularmente cresceu 13,2%.14 Desse número, 86% dos usuários possui algum perfil em uma rede social15. As redes sociais atingiram um nível de importância e há muitas especulações sobre o seu futuro. Em 2009, Tim Berners-Lee, famoso na história da internet por ter criado a World Wide Web, aponta as redes sociais e celulares como o futuro da web. Sites populares atualmente, como Orkut, Facebook, Twitter e programas como MSN tem como principal característica a interação e o compartilhamento de informações. São plataformas que fazem parte da segunda geração da internet e permitem aproximação de pessoas com afinidades, troca de músicas, fotos, vídeos, entre outros conteúdos. 5.1 COMUNIDADES VIRTUAIS E REDES SOCIAIS Para Castells (2003), a história das redes inicia-se junto com a história da própria internet, já que as primeiras comunidades virtuais foram criadas pelos primeiros usuários de redes de computadores. Segundo o autor, o Institute for Global Communication (IGC) foi o articulador das primeiras redes de computadores dedicadas à divulgação de causas sociais como a defesa do meio ambiente e a paz mundial. Para ele, as comunidades virtuais moldaram formas, processos e usos da internet, tendo como características a liberdade de expressão e autonomia. Recuero (2003) explica que inicialmente o termo comunidade representava o conceito de "família", de comunidade rural. O agrupamento acontecia baseado na afinidade, mas era restrito aos locais de abrangência, devido à ausência dos meios de comunicação. Porém, com o surgimento da comunicação mediada pelo computador, a busca de novas formas de estabelecer conexões acabou transformando o termo em “comunidades virtuais”. 13 http://info.abril.com.br/noticias/internet/brasil-atinge-73-9-milhoes-de-internautas-18032011-32.shl - acesso em 10 out. 2011 14 http://blog.w3haus.co.uk/2011/04/19/numeros-da-internet-no-br/ - acesso em 10 out. 2011 15 http://www1.folha.uol.com.br/tec/771611-ibope-aponta-que-87-dos-internautas-brasileiros-estao-em-redes- sociais.shtml - acesso em 10 out. 2011
  • 40. 39 Recuero (2003) define as comunidades virtuais: A comunidade virtual é, assim, um grupo de pessoas que estabelecem entre si relações sociais, que permaneçam um tempo suficiente para que elas possam constituir um corpo organizado, através da comunicação mediada por computador. (RECUERO, 2003. p.5). Assim, se antes a comunidade é entendida como um grupo de pessoas que interage entre si, na internet essa mesma interação passa a ser mediada pelo computador e de forma recíproca entre as partes. Segundo Rheingold (1992 apud RECUERO, 2003, p.5), as comunidades virtuais não devem ser consideradas apenas lugares onde as pessoas se encontram. Elas formam uma plataforma que possibilita os usuários atingir diversos fins. Uma dessas finalidades, segundo Costa (2005), é a formação da idéia de inteligência coletiva. Isso por que as comunidades virtuais funcionam como filtros humanos inteligentes, cumprindo um papel para um problema que os programadores buscavam solucionar: o excesso de informação sem mecanismo eficiente de seleção. Essa idéia atribui às comunidades virtuais a capacidade de resolver problemas coletivamente em beneficio do indivíduo. Lévy (1992 apud RECUERO, 2003, p.5) afirma que, além de estimular a formação de inteligência coletiva, as comunidades virtuais também agem como um mecanismo de mediação cultural tradicional. Isso por que uma rede de pessoas com o mesmo gosto e interesse produz um efeito mais desejado e eficiente do que mecanismos de buscas. Assim, o autor defende que as comunidades virtuais organizadas possuem um papel notável em “termos de conhecimento distribuído, de capacidade de ação e de potência cooperativa.” (COSTA, 2005). Recuero explica que alguns autores defendem que comunidades virtuais devem ser estudadas como redes sociais. Isso tem relação com as interações cooperativas e a força do laço social, que veremos a seguir. Para a autora, as comunidades virtuais devem ser adaptativas, auto-organizadas e cooperativas. Outro fator importante para a compreensão de uma comunidade virtual como rede social é a possibilidade de associação de novos membros. Costa (2005), por sua vez, relaciona as diferenças entre os laços sociais e os sistemas de troca de informações antigos com os atuais, defendendo que novas formas mais complexas de comunidade surgiram. Isso nos remete a uma transmutação do conceito de "comunidade" em "rede social". Se solidariedade, vizinhança e parentesco eram aspectos predominantes quando se procurava definir uma comunidade, hoje eles são apenas alguns dentre os muitos padrões possíveis das redes sociais (COSTA, 2005, p. 8).
  • 41. 40 Para Aguiar (2008, p.22), “redes sociais são, antes de tudo, relações entre pessoas, estejam elas interagindo em causa própria, em defesa de outrem ou em nome de uma organização, mediadas ou não por sistemas informatizados”. Para a autora, a rede seria como um método de interação que tem como objetivo alguma mudança concreta na vida das pessoas, no coletivo ou nas organizações. Algumas redes são informais e espontâneas, quando surgem da necessidade do indivíduo em interações cotidianas, com familiares, amigos, trabalho, etc. Outras são criadas intencionalmente, chamadas de “indivíduos ou grupos com poder de liderança, que articulam pessoas em torno de interesses, projetos e/ou objetivos comuns” por Aguiar (2008, p.22). Enquanto a primeira é formada por indivíduos e atores sociais, a segunda possui participantes que atuam apenas institucionalmente. Entram nessa categoria, perfis de empresas e instituições. Para a autora, as redes espontâneas tendem a conseguir interações mais abrangentes do que as redes estimuladas por objetivos institucionais. Wasserman e Faust (1994 apud RECUERO, 2009) conceituam redes sociais como um conjunto de atores, organizações ou outras entidades, conectados por motivos de amizade, relacionamentos sociais, profissionais e troca de informação. Ela é formada basicamente por atores sociais e suas conexões, onde atores são os nós das redes (pessoas, instituições ou grupos) e as conexões são interações ou laços sociais (WASSERMAN E FAUST, DEGENNE E FORSE, 1999 apud RECUERO, 2009). A representação pode ser constituída de um perfil no Orkut enquanto a conexão são as relações que os atores criam na rede. Uma rede seria a forma de observar padrões de conexões em um grupo social através das conexões realizadas entre seus atores. Não é possível isolar os atores sociais nem suas conexões, pois um depende do outro para formar sua estrutura social dentro da rede. Atores são representados por nós e moldam as estruturas sociais através da interação e da constituição de laços sociais. São as pessoas envolvidas na rede, as pessoas que estão por trás de seus perfis nas redes. Enquanto isso, as conexões em uma rede social são constituídas dos laços sociais que são formados através da interação social entre os atores. A interação no ciberespaço também é uma forma de conectar pares de atores e demonstrar que tipo de relação eles possuem entre si. Recuero defende que as características das redes sociais são relevantes no ciberespaço justamente por que a internet permite que essas informações permaneçam no ciberespaço. A autora distingue as redes sociais em dois tipos: as redes emergentes e as redes de filiação ou redes de associação. As redes emergentes são baseadas na interação e conversação mediadas
  • 42. 41 pelo computador. Nas redes emergentes, a interação é do tipo mútuo e elas tendem a ser mais conectadas e menores. Comentários em blogs são exemplos desse tipo de rede, que necessita de maior esforço dos atores sociais para manter o perfil atualizado e um laço social forte. Em contraponto, as redes sociais de filiação possuem conexões forjadas, onde há somente um grupo de atores, que não partem do laço social de outros membros. Um exemplo desse tipo de rede são as listas de amigos de um perfil do Orkut. Não é necessário interação entre os atores para manter o usuário na rede, apesar dos usuários poderem ter tido laços em outros espaços. Os atores permanecem nas conexões, mas não precisam interagir ou conversar entre eles. Esse tipo de rede pode ser muito maior, já que não necessita de esforço dos atores e tendem a agregar mais nós. 5.2 SITES DE REDES SOCIAIS Para Recuero (2009), os sites de redes sociais são uma conseqüência da apropriação das ferramentas de comunicação mediadas pelos atores sociais. Uma das principais características dos sites de redes sociais é a exposição das conexões de um indivíduo, que torna público suas relações com outros usuários, quem são seus amigos, etc. Outro elemento determinante, segundo Recuero, são as construções de representações das pessoas envolvidas. A autora defende a distinção entre as redes sociais e a ferramenta que as suporta afirmando que as redes “são, por si, expressões de grupos sociais, de pessoas e instituições que estão permanentemente interconectadas pelas novas tecnologias de comunicação e informação.” (2009, p. 102). Assim, os sites de redes sociais seriam os espaços para essa expressão. Boyd & Ellison (2007 apud RECUERO, 2009) consideram sites de redes sociais os sistemas permitem a representação virtual através da criação de um perfil, a capacidade e de conexão com outras pessoas e a navegação entre as conexões formadas pelos nós das redes. Recuero explica as diferenças entre os sites de redes sociais e as outras formas de comunicação mediada pelo computador: A grande diferença entre sites de redes sociais e outras formas de comunicação mediada pelo computador é o modo como permitem a visibilidade e a articulação das redes sociais, a manutenção dos laços estabelecidos no espaço off-line. (RECUERO, 2009, p. 102) Dessa forma, tanto os fotologs, os blogs e sites como Facebook e Twitter são exemplos de sites de redes sociais, já que possuem mecanismos de individualização,
  • 43. 42 exposição das redes sociais de cada ator e a possibilidade dos usuários construírem interações nesses espaços como características. Para Recuero (2009), há os tipos de sites de redes sociais propriamente ditos e os sites de redes sociais apropriados. Os sites propriamente ditos são focados em expor e publicar intencionalmente as redes e conexões dos atores. Nesses sites, é necessária a criação do perfil para a interação com outros usuários, como Orkut e Facebook, visando a ampliação das redes, facilitando a conexão e o fortalecimento do laço social. Nos sites apropriados, não há essa intenção original, mas seus atores acabaram tornando-os sites de redes sociais devido sua utilização. É o caso do Fotolog, um site sem espaço para perfil, nem são mostradas as conexões. Porém, devido a construção de alguns usuários e suas interações com outros atores, acabam agregando características de rede social ao site. Muitos atores que não querem ser identificados optam por criar perfis falsos nos sites de redes sociais. Essa prática foi bastante observada no Orkut, onde os usuários criavam perfis com nomes falsos, utilizando a identidade de personagens reais ou fictícios. Dessa forma, interagiam sem que os outros atores soubessem sua identidade real. Segundo o conceito de Boyd e Ellison (2007 apud RECUERO, 2009), o perfil é uma página onde o usuário escreve sobre si mesmo. Ao se cadastrar em um site de rede social, o usuário preenche um formulário com diversos campos sobre sua vida, enviando fotos e personalizando seu perfil. Após isso, ele é convidado a se conectar com outros usuários. Nesta definição, o SixDegrees16 foi o primeiro site a ter todas as características de rede social mediada pelo computador. O Sixdegrees permitia somente que os usuários se conectassem com outros e navegassem entre os perfis. Por questões financeiras, o site durou pouco mais de três anos. Se em 1997 tivemos o primeiro site de rede social, foi somente em 2002 que houve sua popularização, com o Friendster17. A rede foi percussora em levar esse tipo de site a cultura de massa, mas não conseguiu suportar a quantidade de usuários. Em 2003, Last.Fm18, MySpace19 e Linkedin20 são criados, exemplificando a segmentação das redes. A primeira, voltada aos fãs de música, é baseada no compartilhamento e recomendação musical dos usuários. Possui fórum, estações rádio um sistema colaborativo de etiquetamento e indexação dos arquivos de música. O MySpace foi criado para reunir em um só perfil fotos, blogs, vídeos e música. Apesar de ser inicialmente ser comparado ao Friendster, ganhou relevância 16 http://www.sixdegrees.com/ - acesso em 25 ago. 2011 17 http://www.friendster.com/ - acesso em 25 ago. 2011 18 http://www.lastfm.com.br/ - acesso em 25 ago. 2011 19 http://www.myspace.com/ - acesso em 25 ago. 2011 20 http://www.linkedin.com/ - acesso em 25 ago. 2011
  • 44. 43 no cenário musical, tornando-se “uma importante fonte de informações sobre turnês, datas e lançamentos de álbuns para as revistas/sites/jornais especializados em música” (AMARAL, 2007, p.96). Durante um período, o MySpace chegou a ser a rede social mais popular nos Estados Unidos. Já o Linkedin tem como foco a rede profissional, sendo utilizado por empresas e empregadores. Em 2010 o site contava com 70 milhões de usuários e um milhão de empresas cadastradas. Assim, vários outros sites de redes sociais surgiram e continuam a surgir. Mais segmentados, hoje é possível encontrar sites para nichos cada vez mais específicos como adoradores de hamster (HAMSTERster21) ou fanáticos por futebol (Kigol22). No Brasil, durante muito tempo a rede social mais acessada foi o Orkut23. Durante o mês de maio de 2010, o site recebeu 26 milhões de visitantes únicos. Criada em 2004 por um funcionário do Google, a rede inicialmente só permitia o cadastro de um usuário através de um convite de outro usuário já cadastrado. O site permite a criação de perfis com interesses, fotos e criação de comunidades que funcionam como fóruns. No Brasil, país que, junto com a Índia, domina a participação de usuários, a rede teve importância na popularização dos sites de redes sociais. Segundo pesquisa Ibope Nielsen com 8561 entrevistados, o Orkut foi a porta de entrada para a internet no brasil. Para 82% daqueles que acessam as redes, o Orkut foi a primeira delas. Em Setembro de 2011, foi divulgada a pesquisa do Ibope Nielsen indicando que o Facebook ultrapassou o Orkut em número de usuários no Brasil24. O Facebook é atualmente a maior rede social do mundo. Dados apontam que 750 milhões de pessoas estavam conectadas na rede em 201125. Em 2012, a companhia estima que o número alcance um bilhão. Criado em 2004, o sistema era inicialmente focado a alunos de Harvard, passando depois a ser disponível a outras escolas. O site funciona através de perfis e páginas de comunidade, com o diferencial da criação de aplicativos. Dentre todos os sites de redes sociais disponíveis atualmente, o Twitter será o foco neste trabalho, portanto, será descrito a seguir. 21 http://www.hamsterster.com/ - acesso em 22 out. 2011 22 http://kigol.com.br/ - acesso em 22 out. 2011 23 http://www.orkut.com – acesso em 22 out. 2011 24 http://www1.folha.uol.com.br/tec/973266-facebook-ultrapassa-orkut-em-usuarios-no-brasil.shtml acesso em 22 out. 2011 25 http://exame.abril.com.br/tecnologia/facebook/noticias/facebook-atinge-750-milhoes-de-usuarios acesso em 22 out. 2011
  • 45. 44 5.2.1 Twitter O Twitter é um misto de microblog, mensageiro instantâneo e Site de Rede Social (SRS). Sua descrição depende do tipo de apropriação dos usuários. Microblogs são ferramentas de blogs simplificadas, geralmente relacionadas à idéia de mobilidade e com restrições no tamanho das mensagens (ZAGO, 2008). A autora explica a ferramenta de microblogging como uma mistura de rede social e mensagens instantâneas. (ORIHUELA, 2007 apud ZAGO, 2008). Já o ato de postar mensagens em um blog pessoal através de dispositivos móveis ou comunicadores instantâneos é chamada de microblogging. (MCFE-DRIES, 2007 apud ZAGO, 2008). Embora a ferramenta tenha características de blog, sua maior diferença é a restrição do tamanho das mensagens, que permite maior facilidade de integração com outras ferramentas digitais. O microblogging privilegia “a brevidade dos textos, a mobilidade dos usuários e as redes virtuais como entorno social emergente” (ZAGO, 2008, p.7). Essas características fazem dos microblogs ferramentas ágeis e rápidas na cobertura de acontecimentos e na comunicação em geral. O usuário, por ter diversas opções de postagem, pode enviar uma mensagem a qualquer momento do dia, em qualquer lugar, não dependendo mais de um computador para isso. A freqüência de várias atualizações por hora, muitas vezes com uma narrativa de minuto-a-minuto ou ao vivo da rotina diária ou de eventos fazem com que os microblogs tenham como característica a atualização constante, como explica Trasel (2008). Outro fator considerado importante na distinção de blog e microblogging é a simplicidade de manutenção. Segundo Zago (2008), desde 2006 centenas de outras ferramentas de microblogs foram criadas, baseadas no mesmo padrão de funções do Twitter, hoje a mais famosa e bem sucedida delas. O Twitter é um serviço de microblog onde os usuários respondem, em até 140 caracteres, a pergunta “What’s happening?”. Spyer (2009, p. 36) define o site como “uma ferramenta para “micro-blogagem” baseada em uma estrutura assimétrica de contatos, no compartilhamento de links e na possibilidade de busca em tempo real”. No seu próprio site o twitter é caracterizado como “uma rede de informação em termo real que conecta as últimas informações sobre o que você achar interessante”. Com uma estrutura similar a de um blog, grande parte dos usuários utiliza a plataforma para ler notícias, conversar, trocar links e comentar assuntos da atualidade. O conceito do Twitter começou a ser pensado no ano 2000 pelo programador Jack Dorsey. Somente seis anos mais tarde, uma mensagem foi publicada na primeira versão do serviço. Dom Sagolla, integrante da equipe que lançou o site, escreveu: “oh this is going to be
  • 46. 45 addictive”, em 21 de março de 2006. Originalmente, a pergunta que o Twitter fazia na página inicial era “o que você está fazendo?”. Em julho de 2009 seu slogan mudou para "compartilhe e descubra o que está acontecendo neste momento, em qualquer lugar do mundo" e a pergunta passou a ser “O que está acontecendo?”. Essa pergunta mudou devido às apropriações e usos dos interagentes que passaram a compartilhar não só o que estavam fazendo, mas o que acontecia ao seu redor. Para Lima (2009), essas modificações mostram uma mudança nos objetivos dos fundadores do site. Se no início a plataforma tinha o objetivo de formar uma comunidade global de amigos e conhecidos, hoje a sua interface mostra a pretensão de tornar o Twitter o "pulso da internet global". A página inicial do site, desde 6 de junho em português – assim como todo o site26 – apresenta a frase “Siga o que lhe interessa”, mostrando o twitter como o local que possui atualizações instantâneas de amigos, celebridades e especialistas. Em ,pesquisa realizada em 2009 mostrou que. para 45% dos usuários, as redes sociais substituem a informações dos portais de notícias27. FIGURA 11 – Página inicial do Twitter Fonte: www.twitter.com Após se logar, a página apresenta uma caixa de texto e o espaço de 140 caracteres para publicação de alguma mensagem. O texto pode incluir links para vídeos, fotos e outros sites. 26 http://www1.folha.uol.com.br/tec/926605-twitter-lanca-versao-em-portugues.shtml - acesso em 22 out. 2011 27 http://www.administradores.com.br/informe-se/tecnologia/para-45-dos-internautas-brasileiros-redes-sociais- substituem-portais-de-noticias/40315/ - acesso em 22 out. 2011
  • 47. 46 Muitos usuários utilizaram encurtadores de URL, já que alguns links são extensos e não utilize todo o espaço para publicação. O limite de caracteres permite a integração do twitter com mensagens de texto via celular. As atualizações podem ocorrer por meio de SMS, serviços de mensagens instantâneas, aplicativos ou pelo site oficial. Para O’REILLY (2009), a possibilidade de enviar e receber mensagens por vários mecanismos, em tempo real, faz do twitter uma plataforma de comunicação muito útil, que pode se encaixar na rotina de trabalho de qualquer um. Segundo o site, usuários móveis do serviço cresceram 182% no último ano. Conforme informações do site, o twitter possui 175 milhões de usuários registrados e 95 milhões de mensagens são escritas por dia. Uma pesquisa realizada em junho de 2009 pela ComScore mostra que o site cresceu 1460% em relação a junho de 200828. Embora o site não divulgue os números relativos aos perfis brasileiros, uma pesquisa realizada pelo grupo norte- americano Web Ecology, mostra que a língua portuguesa é a segunda mais usada na plataforma, atrás somente do inglês. Cada mensagem postada no Twitter é chamada de “tweet” ou “tuíte”. Ao se logar, a página inicial do site apresenta os tweets das pessoas que o usuário segue. No twitter, diferente de outras redes sociais como Orkut e Facebook em que adiciona-se perfis como amigos, o usuário segue outro perfil. O perfil seguido pode optar por segui-lo de volta, ou não. A partir do momento em que se segue algum perfil, as atualizações desta pessoa passam a aparecer na página inicial, não precisando acessar cada página para ler suas mensagens. Há um ano, as pessoas mandavam 50 milhões de tweets diariamente. No dia 11 de março de 2011, a contagem chegou a 177 milhões, segundo informações divulgadas no blog do twitter29. Para falar com alguém no Twitter e a pessoa ter conhecimento disso, é necessário colocar um @ seguido do nome do usuário. Não é necessário seguir a pessoa, nem ser seguido por ela para mencionar alguém em uma mensagem. O usuário da pessoa (ex. @dierli) utiliza o limite de caracteres disponíveis para o tweet. A seguinte imagem descreve os elementos da página inicial do usuário na última versão do Twitter: 28 http://www.techcrunch.com/2009/08/03/twitter-reaches-445-million-people-worldwide-in-june-comscore - acesso em 22 out. 2011 29 http://blog.twitter.com/2011/03/happy-birthday-twitter.html - acesso em 22 out. 2011
  • 48. 47 FIGURA 12 – Página inicial o usuário do Twitter Fonte: http://www.twitter.com 1- Caixa de texto 2- Mensagem postada 3- Mensagem recebida de outro usuário 4- Mensagem postada como resposta a outro usuário 5- Lista de perfis que está seguindo 6- Lista de seguidores 7- Assuntos do Momento (Trend Topics) 8- Quem seguir 9- Mensagens (Direct Message) 10- Pesquisa No campo número 1, observamos caixa de texto com o limite de 140 caracteres para o usuário respondê-la. O número 2 é um exemplo de uma mensagem que foi escrita no campo 1. O campo 3 mostra um tweet com a menção de outro usuário. Essa mensagem fica com o link do perfil citado em vermelho e também aparecerá na timeline do outro perfil, ou na aba
  • 49. 48 “mentions”. No campo 4, temos a situação inversa: outro perfil respondeu ao tweet. Os campos 5 e 6 apresentam, respectivamente, a lista de perfis que está se seguindo e os seguidores. No campo 7, temos os Assuntos do Momentos. Ainda chamados de Trend Topics pela maioria dos usuários - , a lista dos dez termos mais postados no site. É possível visualizar os Trend Topics de todo mundo ou em algum país específico. Nesse ranking das palavras mais escritas, algumas aparecem com o símbolo #, chamadas de Hashtags. A Hashtag não é uma invenção da plataforma, e sim dos seus usuários. Ela agrupa mensagens que possuem um determinado termo depois do #, facilitando as buscas. É muito utilizada em cobertura de eventos e notícias. No dia 17 de Junho de 2010, foi criado o "Promoted Tweets", uptades patrocinados por empresas e organizações que aparecem em meio às buscas feitas por assuntos relacionados dentro da ferramenta. Essa é uma forma do Twitter ganhar dinheiro com o serviço e das empresas ganharem mais visibilidade, utilizando a rede como forma de publicidade. Outra forma de interação que o Twitter possibilita são Mensagens. (número 10). São mensagens privadas, que chegam ao destinatário por e-mail, além de aparecerem neste campo específico. Quando um tweet enviado com a letra d antes do nome do usuário, uma mensagem privada é enviada. Somente a pessoa que envia e quem recebe tem acesso às chamadas “DMs” (abreviação de Direct Message, quando o site não havia versão em português). Só é possível enviar uma DM para um usuário que segue o seu perfil. Dessa forma, se o perfil @dierli segue o usuário @exemplo, mas o contrário não ocorre, somente o @exemplo poderá enviar esse tipo de mensagem. Uma das ferramentas mais utilizadas pelos usuários é o Retuíte (ou Retweet). Ele tem como função replicar uma determinada mensagem de algum outro usuário, dando o crédito para o original. O botão de retweet fica abaixo do tweet original, do lado da opção de resposta. Alguns usuários optam por proteger seus updates. Assim, somente seguidores podem visualizar suas mensagens. O'Reilly (2009) considera o Twitter como uma máquina capaz de produzir perguntas e respostas. Isso por que seus participantes gostam de ajudar e, através de frases curtas e do retuíte, é possível ter um alcance muito grande das informações. Além disso, há os APPs para acessar o Twitter, que possibilita que seus usuários não dependam somente da versão web, mas também via mobile ou programas como o Tweetdeck30. 30 http://www.tweetdeck.com/ acesso em 22 out. 2011
  • 50. 49 FIGURA 13 – Página inicial do Twitter Fonte: http://www.twitter.com O perfil do usuário pode ser visto por todos, inclusive por quem não possui conta – exceto quando ele for privado. A imagem acima apresenta o perfil visto por alguém que segue o usuário. O usuário preenche o seu nome, sua “Bio” (em 160 caracteres) e tem espaço para incluir um link que poderá redirecionar para outra rede social, blog ou site. Ao lado, é possível ver quantos tweets o ator escreveu e o número de perfis ele segue e é seguido. Abaixo, temos os tweets que o dono do perfil escreveu, tanto como resposta à um ou mais usuários, quanto para toda a timeline. Caso o dono do perfil tenha protegido seus uptades, somente pessoas que o seguem conseguem visualizá-los (perfil privado). Neste caso, tanto para não-seguidores quanto usuários sem conta, o perfil do ator mostra apenas o nome, bio, link para página pessoal, número de tweets, seguidores e seguindo. O twitter ganhou visibilidade na mídia devido sua utilização por famosos. Sites de notícias passaram a usar como pauta informações postadas pelos atores na plataforma. Discussões com usuários ou colegas também tiveram maior repercussão, exposição e chegaram a outras mídias. Ao mesmo tempo, o site tornou-se uma forma de divulgação e