2. Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir. George Orwell 01 de agosto
3. O tempo é uma invenção da morte: não o conhece a vida – a verdadeira – em que basta um momento de poesia para nos dar a eternidade inteira. Mário Quintana 02 de agosto
4. Sê...Se não puderes ser um pinheiro no topo de uma colina,Sê um arbusto no vale, mas sê o melhor arbusto à margem do regato.Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva e dá alegria a algum caminho.Se não puderes ser uma estrada, sê apenas uma senda,Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso... Mas sê o melhor no que quer que sejas.Pablo Neruda 03 de agosto
5. Quando entrar setembroE a boa nova andar nos camposQuero ver brotar o perdãoOnde a gente plantouJuntos outra vez Já sonhamos juntosSemeando as canções no ventoQuero ver crescer nossa vozNo que falta sonhar Já choramos muitoMuitos se perderam no caminhoMesmo assim não custa inventarUma nova cançãoQue venha nos trazer Sol de primaveraAbre as janelas do meu peitoA lição sabemos de cóSó nos resta aprenderBeto Guedes e Ronaldo Bastos 04 de agosto
6. Preciso ser um outropara ser eu mesmoSou grão de rochaSou o vento que a desgastaSou pólen sem insectoSou areia sustentandoo sexo das árvoresExisto onde me desconheçoaguardando pelo meu passadoansiando a esperança do futuroNo mundo que combato morrono mundo por que luto nasçoMia Couto 05 de agosto
7. Há um vilarejo aliOnde areja um vento bomNa varanda, quem descansaVê o horizonte deitar no chão Pra acalmar o coraçãoLá o mundo tem razãoTerra de heróis, lares de mãeParaíso se mudou para lá Por cima das casas, calFrutas em qualquer quintalPeitos fartos, filhos fortesSonho semeando o mundo real Toda gente cabe láPalestina, Shangri-láVem andar e voaVem andar e voaVem andar e voa Lá o tempo esperaLá é primaveraPortas e janelas ficam sempre abertasPra sorte entrar Em todas as mesas, pãoFlores enfeitandoOs caminhos, os vestidos, os destinosE essa canção Tem um verdadeiro amorPara quando você for Marisa Monte/Pedro baby/Calinhos Brown/Arnaldo Antunes 06 de agosto
8. Quero apenas cinco coisas...Primeiro é o amor sem fimA segunda é ver o outonoA terceira é o grave invernoEm quarto lugar o verãoA quinta coisa são teus olhosNão quero dormir sem teus olhos.Não quero ser... sem que me olhes.Abro mão da primavera para que continues me olhando. Pablo Neruda 07 de agosto
9. Amo a liberdade, por isso, todas as coisas que amo deixo-as livres. Se voltarem é porque as conquistei. Se não voltarem é porque nunca as possuí. Bob Marley 08 de agosto
10. A solidão é como uma chuva.Ergue-se do mar ao encontro das noites;de planícies distantes e remotassobe ao céu, que sempre a guarda.E do céu tomba sobre a cidade.Cai como chuva nas horas ambíguas,quando todas as vielas se voltam para a manhãe quando os corpos, que nada encontraram,desiludidos e tristes se separam;e quando aqueles que se odeiamtêm de dormir juntos na mesma cama:então, a solidão vai com os rios...Rainer Maria Rilke 09 de agosto
11. Perdi vinte em vinte e nove amizades Por conta de uma pedra em minhas mãos Embriaguei morrendo vinte e nove vezes Estou aprendendo a viver sem você Já que você não me quer mais Passei vinte e nove meses num navio E vinte e nove dias na prisão E aos vinte e nove com o retorno de saturno Decidi começar a viver Quando você deixou de me amar Aprendi a perdoar e a pedir perdão E vinte e nove anjos me saudaram E tive vinte e nove amigos outra vez Renato Russo 10 de agosto
12. O homem se torna muitas vezes o que ele próprio acredita que é. Se insisto em repetir para mim mesmo que não posso fazer uma determinada coisa, é possível que acabe me tornando realmente incapaz de fazê-la. Ao contrário, se tenho a convicção de que posso fazê-la, certamente adquirirei a capacidade de realizá-la, mesmo que não a tenha no começo. Mahatma Gandhi 11 de agosto
13. Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou tv. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar do calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver. Amyr Klink 12 de agosto
14. Toda forma de vício é ruim, não importa que seja droga, álcool ou idealismo. Carl Gustav Jung 13 de agosto
15. O amor é uma companhia.Já não sei andar só pelos caminhos, Porque já não posso andar só.Um pensamento visível faz-me andar mais depressaE ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar. Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.Todo eu sou qualquer força que me abandona.Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio. Alberto Caeiro 14 de agosto
17. Quem - estando ausente - entra no quartoQuem deita ao lado meu, Quem passa no meu coração seus lábios quentes, Quem desperta em mim as feras todasQuem me rasga e curaQuem me atrai?Quem murmura na treva e acende estrelasQuem me leva em marés de sono e risoQuem invade meu dia após a noiteQuem vem – estando ausente -E nunca vai?Lya Luft 16 de agosto
18. Eu sou como eu sou Pronome pessoal intransferível do homem que iniciei na medida do impossível eu sou como eu sou agora sem grandes segredos dantes sem novos secretos dentes nesta hora eu sou como eu sou presente desaferrolhado indecente feito um pedaço de mim eu sou como eu sou vidente e vivo tranquilamente todas as horas do fim. Torquato Neto 17 de agosto
19. Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã... Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã, E assim será possível; mas hoje não... Não, hoje nada; hoje não posso. A persistência confusa da minha subjetividade objetiva, O sono da minha vida real, intercalado, O cansaço antecipado e infinito, Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico... Esta espécie de alma... Só depois de amanhã... Álvaro de Campos 18 de agosto
20. “Não, não ofereço perigo algum: sou quieta como folha de outono esquecida entre as páginas de um livro, sou definida e clara como o jarro com a bacia de ágata no canto do quarto – se tomada com cuidado, verto água límpida sobre as mãos para que se possa refrescar o rosto mas, se tocada por dedos bruscos num segundo me estilhaço em cacos, me esfarelo em poeira dourada. Caio F. 19 de agosto
21. “Se a realidade nos alimenta com lixo, a mente pode nos alimentar com flores. Caio F. 20 de agosto
22. A liberdade não pode faltar a quem a deseja realmente, mas a quem deseja conquistá-la, ela indica o caminho dos perigos; é prometida a quem por ela arrisca a vida, nunca é prêmio de um desejo indolente. Giovanni Berchet 21 de agosto
23. O meu olhar é nítido como um girassol.Tenho o costume de andar pelas estradasOlhando para a direita e para a esquerda,E de, vez em quando olhando para trás...E o que vejo a cada momentoÉ aquilo que nunca antes eu tinha visto,E eu sei dar por isso muito bem...Sei ter o pasmo essencialQue tem uma criança se, ao nascer,Reparasse que nascera deveras...Sinto-me nascido a cada momentoPara a eterna novidade do Mundo...Creio no mundo como num malmequer,Porque o vejo. Mas não penso nelePorque pensar é não compreender ...O Mundo não se fez para pensarmos nele(Pensar é estar doente dos olhos)Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,Mas porque a amo, e amo-a por isso,Porque quem ama nunca sabe o que amaNem sabe por que ama, nem o que é amar ...Amar é a eterna inocência,E a única inocência não pensar...Fernando Pessoa (Alberto Caeiro) 22 de agosto
24. Eu quero amor feinho.Amor feinho não olha um pro outro.Uma vez encontrado, é igual fé,não teologa mais.Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexoe filhos tem os quantos haja.Tudo que não fala, faz.Planta beijo de três cores ao redor da casae saudade roxa e branca,da comum e da dobrada.Amor feinho é bom porque não fica velho.Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:eu sou homem você é mulher.Amor feinho não tem ilusão,o que ele tem é esperança:eu quero amor feinho. Adélia Prado 23 de agosto
25. Nas palmas de tuas mãosleio as linhas da minha vida.Linhas cruzadas, sinuosas,interferindo no teu destino.Não te procurei, não me procurastes –íamos sozinhos por estradas diferentes.Indiferentes, cruzamosPassavas com o fardo da vida...Corri ao teu encontro.Sorri. Falamos.Esse dia foi marcadocom a pedra brancada cabeça de um peixe.E, desde então, caminhamosjuntos pela vida... Cora Coralina 24 de agosto
26. O que me tranqüilizaé que tudo o que existe,existe com uma precisão absoluta.O que for do tamanho de uma cabeça de alfinetenão transborda nem uma fração de milímetroalém do tamanho de uma cabeça de alfinete.Tudo o que existe é de uma grande exatidão.Pena é que a maior parte do que existecom essa exatidãonos é tecnicamente invisível.O bom é que a verdade chega a nóscomo um sentido secreto das coisas.Nós terminamos adivinhando, confusos,a perfeição. Clarice Lispector 25 de agosto
27. Chamo-te porque tudo está ainda no princípioE suportar é o tempo mais comprido.Peço-te que venhas e me dês a liberdade,Que um só dos teus olhares me purifique e acabe.Há muitas coisas que eu quero ver.Peço-Te que sejas o presente.Peço-Te que inundes tudo.E que o teu reino antes do tempo venha.E se derrame sobre a TerraEm primavera feroz precipitado.Sophia de Mello Breyner Andresen 26 de agosto
28. Divaga em meio à noite a lua preguiçosa;Como uma bela, entre coxins e devaneios,Que afaga com a mão discreta e vaporosa,Antes de adormecer, o contorno dos seios.No dorso de cetim das tenras avalanchas,Morrendo, ela se entrega a longos estertores,E os olhos vai pousando sobre as níveas manchasQue no azul desabrocham como estranhas flores.Se às vezes neste globo, ébria de ócio e prazer,Deixa ela uma furtiva lágrima escorrer,Um poeta caridoso, ao sono pouco afeito,No côncavo das mãos toma essa gota rala,De irisados reflexos como um grão de opala,E bem longe do sol a acolhe no seu peito. Charles Baudelaire 27 de agosto
29. O susto em nós foi avançar muito pra dentro do proibido. Muito pra perto de uma zona perigosa. A boca da noite. O desconhecido.Vagos caminhos de uma via nebulosa.Vários conceitos pra falar da mesma coisao susto em nós foi descobrir porteirasde territórios nunca antes percorridosno fundo de todos nós um visitanteno fundo a falta de sentidoVisitantes de nós mesmos cometeríamosa imprudência de quase enlouquecerpra chegar à compreensão.E uma coisa afiada nos conduziaatravés da trilha da poesiae do difícil trajeto da paixão.Bruna Lombardi 28 de agosto
30. Não tenho mais os olhos de meninanem corpo adolescente, e a peletranslúcida há muito se manchou.Há rugas onde havia sedas, sou uma estruturaagrandada pelos anos e o peso dos fardos bons ou ruins.(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)O que te posso dar é mais que tudoo que perdi: dou-te os meus ganhos.A maturidade que consegue rirquando em outros tempos choraria,busca te agradarquando antigamente quereriaapenas ser amada.Posso dar-te muito mais do que belezae juventude agora: esses dourados anosme ensinaram a amar melhor, com mais paciênciae não menos ardor, a entender-tese precisas, a aguardar-te quando vais,a dar-te regaço de amante e colo de amiga,e sobretudo força — que vem do aprendizado.Isso posso te dar: um mar antigo e confiávelcujas marés — mesmo se fogem — retornam,cujas correntes ocultas não levam destroçosmas o sonho interminável das sereias. Lya Luft 29 de agosto
31. "Há no fundo das almas um princípio inato de justiça e de virtude, com o qual nós julgávamos as nossas ações e as dos outros como boas ou más; e é a este princípio que dou o nome de consciência. Jean-Jacques Rousseau - 30 de agosto
32. A vida é para nós o que concebemos dela. Para o rústico cujo campo lhe é tudo, esse campo é um império. Para o César cujo império lhe ainda é pouco, esse império é um campo. O pobre possui um império; o grande possui um campo. Na verdade, não possuímos mais que as nossas próprias sensações; nelas, pois, que não no que elas vêem, temos que fundamentar a realidade da nossa vida. Fernando Pessoa 31 de agosto