1. JUVENTUDE DO CAMPO E POLÍTICAS PÚBLICAS: ALGUMAS REFLEXÕES DE
UM TEXTO EM CONSTRUÇÃO
Rogério Nunes da Silva 1, Maria Regina Clivati Capelo 2
1
Rogério Nunes da Silva- licenciado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina- Membro do Grupo de Pesquisa
Catálogo de Juventudes: (re)conhecendo desigualdades e diversidades”. Secretário Executivo da Comissão Pastoral da Terra, Londrina,
Paraná, Brasil.
2
Prfa. do Depto. De Ciências Sociais da UEL. Doutora em Educação pela UNICAMP.
RESUMO
Este artigo é fruto de um trabalho de pesquisa realizado no projeto" Catálogo de Juventudes:
(re)conhecendo desigualdades e diversidades" sub- grupo de pesquisa de Juventude do Campo, que
está sendo desenvolvido por um grupo interdisciplinar de professores e alunos da Universidade
Estadual de Londrina. Objetivamos no presente artigo, ainda que de forma preliminar, mapear as
diversas interpretações e conceitos acerca do campo brasileiro na atualidade. Outro foco de nossa
análise tem a intenção de explicitar como as ciências modernas constroem a noção de juventude
como uma categoria social, e como esta pode nos ajudar a pensar o campo e a juventude do campo
na contemporaneidade. Por fim buscamos identificar quais são os focos de tensão enfrentados pelos
jovens no campo e como as políticas públicas vêm atuando junto a esse segmento social.
Palavras-chave: Juventude, área rural, diversidade social, políticas públicas, juventude do campo.
YOUTH OF RURAL AREAS AND PUBLIC POLICIES: SOME REFLECTIONS ON A
TEXT IN CONSTRUCTION
ABSTRACT
This article is result of a research work of a subgroup of research on Youths of rural areas of the
Project "Catalogue of Youths: (Re) cognizing inequalities and diversities", which is being developed
by an interdisciplinary group of professors and students of the State Unviersity of Londrina. The
purpose of this paper is to map, even in a preliminary form, the several interpretations and concepts of
present Brazilian rural areas. Another focus of our analysis intends to explain how modern sciences
build the concept of youth as a social category and how this category can help us presently theorize
about the rural area and the youth of rural areas. Finally we tried to identify which are the tensions
faced by the youths of rural areas and how public policies are intervening in in this social segment.
Key Words: Youth, rural area, social diversity, public policies, youth of rural areas.
36
2. A SOCIOLOGIA E OS ESTUDOS DO Formação Do Brasil Contemporâneo(1942), têm
CAMPO BRASILEIRO como pano de fundo pensar a importância e o
papel do campo na formação das estruturas
As mudanças nas estruturas produtivas políticas, sociais, econômicas e culturais do
ocorridas na sociedade ocidental na Brasil.
contemporaneidade acarretaram em rupturas Celso Furtado nos aponta que a estrutura
e alterações nas instâncias sociais, assim se agrária brasileira apresenta-se com um dos
torna necessário confrontar as categorias problemas mais complexos de nossa economia
analíticas presentes na sociologia (juventude- agrária. A Compreensão do seu processo
campo- cidade) para que possamos pensar histórico nos permite identificar que a mesma se
a processualidade histórica. estrutura na grande propriedade privada, e esta
Ao olharmos para o processo histórico tem um papel central no processo de ocupação
brasileiro percebemos que o campo do território brasileiro.
constitui-se em um espaço de embate e Para o economista, a empresa agrícola
conflito. O desenvolvimento da sociedade escravista se constituiu como uma célula matriz
nacional, engendrou, e forjou uma estrutura do tecido das instituições nacionais. E a partir
fundiária de características específicas no desta que se estruturou a economia e a
caso brasileiro. Vale a pena ressaltar que sociedade brasileira. O processo de ocupação
este processo não se constitui como do território, e a formação da nossa sociedade
homogêneo e linear, e que em nossa foram conduzidos por homens economicamente
contemporaneidade, a problemática do poderosos que fizeram do controle da
campo ainda se coloca pautada nas propriedade da terra instrumento de conservação
discussões acadêmicas, políticas e sociais. do monopólio do poder. Essa relação entre
O campo se configurou como um grandes grupos econômicos e propriedade da
espaço de pesquisa e reflexão para a terra inviabilizou a estruturação de comunidades
sociologia brasileira. Historicamente a agrícolas. Diante da dificuldade de acesso às
sociedade nacional teve no campo, um dos melhores terras, a comercialização dos produtos
principais eixos de formação da identidade e a concorrência com a mão-de-obra escrava
nacional. Esta preocupação de entender o tiveram o papel de abrir novas fronteiras
campo brasileiro se explicita em diversos agrícolas para a expansão dos grandes
momentos ou obras importantes da produção latifúndios, esta limitação da estruturação
sociológica nacional. Podemos apontar, fundiária a partir da pequena propriedade. Com a
mesmo que cada um a partir de sua pratica de uma agricultura itinerante, os
perspectiva de análise, que as obras de pequenos agricultores desempenham a função
Gilberto Freyre e seu livro Casa Grande e de abrir os campos ou derrubar a mata para
Senzala (1933), Sergio Buarque de Holanda transformá-las em pasto.
e seu Raízes do Brasil (1936) e Caio Prado Na década de 50 se inicia na agricultura
Júnior e sua grande análise contida na brasileira o que se convencionou a denominar
37
3. de processo de modernização tecnológica. reforma agrária ampla, massiva e sob o controle
O mesmo no Brasil, respirou os ares da dos trabalhadores, cresceria a demanda interna,
revolução verde nos Estados Unidos. Esse e esta impulsionaria a produção industrial e
processo de modernização, instituído pelo agrícola interna.
Estado a partir da década de 60, mais Para o segundo projeto, a Reforma agrária
especificamente com o golpe militar de 1964, e a distribuição de renda não tinham nenhuma
pode ser apontado como conservador, ou importância. O que era essencial era a abertura
seja, se muda e tecnifica o processo da economia brasileira aos capitais
produtivo agrícola, mas não se transforma a internacionais. Neste projeto, a agricultura
estrutura fundiária brasileira que deveria constituir-se em demandante de insumos
historicamente se baseou na grande industriais, químicos, mecânicos e biológicos. O
1
propriedade . mercado para a demanda desta produção
É importante apontar que no pré-64 a crescente seria prioritariamente o mercado
sociedade brasileira debatia dois projetos industrial externo: produzir para exportar.
antagônicos de desenvolvimento nacional: de Este movimento do capital na agricultura
um lado, o projeto apoiado pelos movimentos impôs novas formas de ocupação da fronteira
populares, que defendiam desenvolvimento agrícola, concentrou ainda mais a terra, a
com distribuição de renda e de outro lado, riqueza, a comercialização dos produtos
um projeto defendido pelas forças políticas agrícolas. Por outro lado, acelerou a
mais conservadoras, com amplo apoio do expropriação e a expulsão dos trabalhadores,
capital internacional, que defendia o acelerando o processo de urbanização na
crescimento econômico, através da sociedade brasileira, intensificou o fluxo
integração da economia brasileira com o migratório, consolidou o trabalho assalariado no
Capital internacional, tendo como mote campo e constitui-se no que hoje é chamado de
principal o crescimento econômico, em agronegócio2. (ALVES, 2005, P.4)
primeiro lugar, relegando a distribuição de A década de 70 pode ser marcada pela
renda lugar secundário. influência dos estudos marxistas em torno do
No primeiro projeto, a agricultura e os campo/rural na sociologia Estes procuraram
trabalhadores rurais tinham um papel romper com a concepção harmônica e idílica do
essencial, porque era vital a reforma agrária espaço rural, característica marcante dos
para a distribuição de renda. Através de uma estudos funcionalistas das décadas de 30 a 60.
1 2
Conforme dados do Incra, o Brasil continua sendo o país com Estamos chamando de agronegócio, o modelo de desenvolvimento agrícola
um dos maiores índices de concentração da terra. As 27 atual, que ocupa longas extensões de terra principalmente com a monocultura
propriedades de maior extensão se somadas atingem uma da cana-de-açúcar, da soja e do milho, onde grandes empresas capitalistas (a
superfície igual a do Estado de São Paulo. A soma das 300 maior parte delas estrangeiras) controlam o processo de produção,
maiores propriedades forma a superfície do Estado de São beneficiamento, industrialização e comercialização de produtos de origem
Paulo e Paraná. Enquanto 2,4 milhões de imóveis que agrícola, pecuária, florestal e extrativista, a maior parte destes produtos são
representam 57,6% das propriedades ocupam apenas 6% da produzidos tendo em vista o abastecimento do mercado internacional. Essas
empresas envolvem diversos setores da economia que incluem desde a
área, correspondente a 26, 7 milhões de hectares. Na outra produção até as fontes de financiamento como os bancos privados e estatais,
ponta os 70 mil imóveis que representam 1,7 das propriedades passando pela agroindústria e as empresas de comercialização. É um
ocupam uma área de 183 milhões, ou seja, 43,8% da área. In. verdadeiro complexo empresarial que ganhou importância para os interesses
REVERS, Isidoro. 2005. do comércio exterior brasileiro
38
4. A novidade trazida pelas análises marxistas deste modelo classificatório o "Brasil Rural" é
se expressa na seguinte equação: para o visto por uma imagem distorcida (essa visão
viés marxista dos anos 70 o campo estaria distorcida se traduz nos números da população
fadado à extinção, ou seja, o processo de rural brasileira-10 %). Para a mesma há alguns
modernização da atividade produtiva, problemas nesta classificação. A primeira se
industrialização das propriedades rurais, e o refere há não existência de divisões estruturais
conseqüente êxodo rural deste período, teria que nos permitam visualizar o que é "urbano" ou
como um de seus resultados a "extinção do " rural", a segunda esta colocada na
mundo rural" como universo diferenciado do heterogeneidade regional e a multiplicidade de
"mundo urbano" (AMARAL, CAPELO, entendimentos do que seja " rural" ou " campo"
MANTOVANELLI., 2004, p.5) na atualidade.
Para Abramovay (1998) o que Stropasolas (2002) salienta que na
caracteriza o meio rural brasileiro é a sociologia a um grupo de autores e intelectuais
presença da agricultura familiar enquanto que dedicam-se à análise das questões rurais.
unidade de produção. Segundo este a Para este, existe uma preponderância das
década de 80 pode ser caracterizada por análises que pautam-se na dicotomia cidade e
uma interiorização industrial, esta forma uma campo. Apontamos para a necessidade de
combinação agroindustrial que trás consigo ultrapassar a dualidade campo/cidade
aumento da produtividade das unidades evidenciada pelo autor citado. Assim
agrícolas. Para o mesmo, como entendemos que o campo é socialmente
conseqüência deste processo a uma produzido, e que as análises do campo devem
capitalização da atividade agrícola e ultrapassar esta concepção dualista, onde
exclusão do pequeno lavrador. Um outro campo/cidade se constituem em modelos de
aspecto levantado por Abramovay é que este desenvolvimento antagônicos, espaços sociais
processo de capitalização da agricultura que se contrapõem. O primeiro sinônimo do
brasileira tencionou ainda mais os conflitos atraso, do que deve ser superado, já a segunda,
3
por terra no território nacional . explicitação do moderno e do avanço.
Para Carneiro (2004)o rural vem sendo Acreditamos que pensar o campo na
construído como negação do urbano. Diante atualidade, é alargar nosso olhar, é fugir do
debate restrito apenas as preocupações
3
Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra existem hoje econômicas, ou seja, o campo não é sinônimo
no Brasil aproximadamente 200 mil famílias envolvidas em
conflitos agrários, estas estão acampadas e/ou dentro das áreas do agrícola, pois além da produção de gêneros
por elas reivindicadas. Essas famílias estão nos diversos
movimentos sociais de luta pela Terra. Só no Paraná no ano de alimentícios, o campo é lugar de reprodução de
2004 foram registradas 45 ocupações de terra, envolvendo
aproximadamente 5740 famílias. Essas ações no Paraná foram vida, de construção de relações sociais, de
conduzidas por 10 movimentos sociais diferentes, esses dados
nos mostram uma pluralidade de organizações no campo
formação de identidades coletivas.
paranaense/brasileiro e que a bandeira da reforma agrária vem Ao olharmos para o campo brasileiro
sendo defendida por um conjunto de movimentos sociais que
extrapola as estruturas e o alcance do Movimento dos percebemos uma heterogeneidade de
Trabalhadores(as) Rurais Sem Terra, como muitos acreditam.
interpretações, conceitos e perspectivas
39
5. colocadas a respeito do campo na mais um espaço de produção
contemporaneidade- está tendência também econômica/agrícola o campo se configura como
percebemos na sociologia, ou no que um espaço social de construção de vivências,
podemos chamar de sociologia rural. Um valores, enfim, de uma identidade social
outro aspecto do campo brasileiro a nosso diferenciada do mundo urbano e que o processo
ver, é a heterogeneidade das vivencias de desenvolvimento agrícola atual, traduzido
sociais e dos grupos sociais/étnicos presente naquilo vem se denominando agronegócio é
no campo. (são assalariados rurais, estritamente negativo a sociedade como um
posseiros, pequenos produtores, todo, pois gera um falso crescimento
extrativistas, indígenas, quilombolas). econômico(pois é financiado com o dinheiro
Diante das diversas análises expostas público e a maioria da produção dos bens
sucintamente nos parágrafos anteriores alimentares são produzidos nas pequenas
5
identificamos, ainda que preliminarmente propriedades) , expulsa as famílias do espaço
dois pressupostos teóricos e políticos no agrícola, viola o meio ambiente e as leis
momento atual acerca do campo. O primeiro trabalhistas e ameaça a soberania nacional(pois
entende que o campo está fadado a o modelo agrícola atual é controlado pelas
"extinção", ou seja, o processo de grandes empresas transnacionais).
industrialização/modernização da agricultura Partimos do pressuposto que o campo deve
tornará homogêneo as vivências e as ser pensando como um espaço de
realidades sociais no campo. Nesta heterogeneidade social e econômica , no
perspectiva de modelo agrícola o processo entanto, reconhecemos que esta
de mecanização, heterogeneidade esta limitada dentro do modo
industrialização/modernização da atividade capitalista de produção, ou seja, as relações de
agrícola ( nas pequenas propriedades por produção estão subordinadas ao interesse do
meio das agroindústrias, mais capital.
prioritariamente nas grandes propriedades Assim, no nosso entendimento torna-se
explicitado no agronegócio) é um elemento necessário para pensar o campo na atualidade
dinamizador da economia nacional, romper com a visão que reputa o atraso a este
tendendo a expandir-se e ocupar cada vez espaço, em contraponto da modernidade como
menos mão-de-obra, este modelo vem característica do mundo urbano. Desta forma
fortalecendo-se e sendo priorizado pelo o ainda que provisoriamente, para nós o conceito
4
investimento do poder público .
5
Dados do IBGE nos mostram que mais que um modelo agrícola o
A segunda perspectiva aponta que agronegócio é um fenômeno político e ideológico que mascara os
dados da produtividade no Brasil. Conforme o instituto, 78,1% da
produção total de soja no país é proveniente de pequenos e médios
4
Este opção do poder público é evidente quando olhamos o agricultores. Outros produtos de consumo como ovos, café, feijão,
montante de recurso destinado aos grandes produtores e aos milho, mandioca são em sua maioria oriundos de pequenos
pequenos produtores. Segundo dados da Comissão Pastoral da agricultores: os camponeses produzem mais de 77% dos ovos;
Terra, em 2005 o agronegócio receberá aproximadamente 70,4% do café; 78,5% do feijão; 54,4% do milho; 91,9% da
39,5 bilhões de investimentos, enquanto que os pequenos mandioca. Já a produção de horticultura e legumes é totalmente
produtores não receberam mais do que 7 bilhões. proveniente de pequenos agricultores.
40
6. de campo, representa mais que um espaço influenciaram na criação das instituições
de produção agrícola. Ao olharmos para o modernas(escola- estado). As faixas etárias
mesmo o enxergamos como o "campo de reconhecidas e as categorias sociais que delas
vida", de relações sociais, de luta pela terra, se originaram sofreram mudanças, alterações e
ou seja "[...] é muito mais do que aquele supressões na modernidade. O período definido
espaço geográfico que se situa além do como de transição e ingresso na maturidade se
perímetro urbano, é um espaço de materializou em 3 termos mais contundentes:
6
possibilidades que dinamizam a tessitura de juventude, adolescência e puberdade(GROPPO,
relações sociais" (AMARAL, CAPELO, 2000).
MANTOVANELLI, 2004, p.5) forjando a As ciências médicas criaram a concepção
construção de vivências sociais específicas e de puberdade para significar e explicar a fase de
diferenciadas do mundo urbano. transformação no corpo do indivíduo. A
Acreditamos que apesar das inúmeras psicologia e a psicanálise criaram a concepção
transformações ocorridas na sociedade de adolescência, para explicar o período
brasileira contemporânea, o campo ainda se correspondente às mudanças na personalidade
coloca como um espaço que forja e nos e no comportamento. Para a sociologia a
ajuda a pensar as mudanças em curso na concepção de juventude é o período de
sociedade. Assim apesar da hiper- interstício entre funções sociais da infância e as
valorização dos benefícios do mundo urbano funções sociais do homem adulto.
(que em via de regra mascara os problemas Ao observamos a produção sociológica a
e as contradições deste) o campo ainda se respeito observamos que o conceito de
coloca como elemento formador e definidor juventude vem se afirmando como uma
de identidades coletivas. categoria social . Assim descarta-se a
possibilidade de definir por somente uma faixa
O CONCEITO DE JUVENTUDE etária específica, ou "classe de idade", ou ainda
uma classe social. Ao tomarmos esta idéia do
Ao olharmos para a modernidade conceito de juventude como uma categoria
percebemos que esta constrói faixas etárias social temos dois eixos norteadores: o primeiro
(infância- terceira idade), que não são aponta para a idéia que o conceito de juventude
apenas limites etários naturais, mas são é uma representação sócio-cultural e o segundo
também representações simbólicas e que o mesmo também se configura como uma
situações sociais. A sociedade moderna não situação social, Groppo mostra isto ao afirmar
é constituída apenas por estruturas de que "a juventude é uma concepção,
classe, mas também por faixas etárias e a representação ou criação simbólica fabricada
cronologização do curso da vida que também pelos grupos sociais ou pelos próprios indivíduos
tidos como jovens, para significar uma série de
comportamentos e atitudes a eles atribuídos".
6
DADOS POPULAÇÃO RURAL-URBANA (GROPPO, 2000, p. 8)
41
7. Rezende apud Groppo (2000) sugere o
uso sociológico no plural do termo Algumas considerações sobre a juventude do
"JUVENTUDE", pois para o mesmo há uma campo e os estudos dos jovens do campo na
diversidade na vivência desta fase de sociologia contemporânea.
transição. Percebemos essa característica
quando o mesmo afirma: Na atualidade há um crescimento da
Esta concepção alerta-nos sobre a atenção dirigida aos jovens no Brasil( meios de
existência, na realidade dos
comunicação- poder público- sociedade civil) no
projetos sociais concretos, de uma
pluralidade de juventudes: de cada que se refere aos meios de comunicação
recorte sócio- cultural, classe
percebe-se a preponderância de dois eixos de
social, estrato, etnia, religião,
mundo urbano ou rural, gênero etc- tematizações: um primeiro voltado ao mercado
saltam subcategoria de indivíduos
de consumo e temas ligados a cultura-
jovens, com características,
símbolos, comportamento, comportamento e lazer juvenil e um segundo nos
subculturas e sentimentos próprios.
noticiários abordando temas ligados aos
Cada juventude pode reinterpretar
`a sua maneira o que é "ser jovem", "problemas sociais'que afetam os jovens
constratando-se não apenas em
brasileiros.
relação às crianças adultos, mas
também em relação a outras Na academia crescem as dissertações de
juventudes" (GROPPO, 2000, p.
mestrado e teses de doutorado que tem como
15)
temática os jovens. Estes estudos em sua
Entendemos que a definição de maioria, têm tido como enfoque discutir, analisar
juventude, apropriando-nos do referencial os sistemas e instituições presentes na vida dos
construído pelas ciências modernas, que as jovens(escola- família) ou ainda as estruturas
"juventudes" possuem a função social de sociais que colocam os jovens em situações
"maturação" do indivíduo, ou seja, da "problemáticas". No entanto, apesar do
socialização e integração do indivíduo à reconhecimento da diversidade dos grupos e
sociedade moderna e adulta, e que esse vivências juvenis a maioria destes estudos se
processo se processa de maneira focam no urbano, sendo pouco expressivos as
heterogênea e diversificada, pois cada grupo produções e reflexões acerca do "universo
juvenil cria e (re) cria identidades específicas. juvenil" no campo.
Diante disto nos colocamos uma Mesmo diante da pouca atenção, e dos
questão: Será que a elaboração de políticas poucos estudos acerca dos jovens no espaço do
públicas voltadas ao público juvenil no campo encontramos algumas análises que
espaço do campo vem incorporando esta tentam entender e explicar o contexto juvenil
noção de diversidade juvenil, ou seja as camponês. (ABRAMOVAY 1998) salienta que
políticas públicas no campo brasileiro na atualidade visualizamos um conjunto de
visualizam e reafirmam que há um conjunto transformações no campo. Os grandes
de jovens forjando uma identidade juvenil proprietários vêm ampliando as bases técnicas
diferenciada do mundo urbano? de produção, isto vem acarretando em um
42
8. desemprego estrutural no campo, na esfera relações que estes jovens constroem com a
dos pequenos produtores percebe-se a sociedade mais ampla, para que assim
emergência de novas formas de organização possamos entender as continuidades e
e articulação que visam garantir a descontinuidades na formação da noção ser
permanência no campo. Um dos efeitos jovem no campo e do campo.
destas transformações ocorridas no universo Para Stropassolas (2002, p.12) o desafio é
camponês para o autor se evidencia na compreender as ruralidades conforme as
migração seletiva pautada na questão de representações construídas pelos jovens, o
gênero e faixa etária, a migração de jovens é mesmo aponta que o rural ainda é entendido
mais acentuada, principalmente a migração como diferente do urbano, pois ao observar os
feminina. Para o autor esse processo de jovens do oeste catarinense o autor evidencia
migração seletiva que ocorre no campo se que nas atividades cotidianas nesta região "o
configura como uma de forma de reorganizar rural ainda é apresentado como diferente do
as relações familiares - pois em muitos casos urbano, com redes de sociabilidade que incluem
a área de terra é pequena, assim uma o jogo de futebol como espaço masculino".
repartição da propriedade que contemplasse Carneiro (2004) novamente aponta para a
todos os filhos(as) inviabilizaria o sustento existência de poucos estudos sobre o universo
familiar de todos(as) - e garantir a social e cultural dos jovens rurais, para a mesma
7
permanência dos pequenos no campo . o jovem no espaço do campo é olhado na
Guigou (1968) ao pensar o contexto maioria dos estudos a partir do espaço do
rural francês afirma que o conceito de trabalho familiar.
"jovem"se refere mais que uma fase de Segundo Durston apud Carneiro (2004), o
transição, e propõe a seguinte tipificação: a olhar a partir da ótica do trabalho reforça a
existência de jovens rurais-agrícolas, estes invisibilidade da juventude rural nas demais
seriam aqueles jovens que vivem e esferas da vida social, para o mesmo autor a
trabalham no campo, um segundo grupo na categoria "JUVENTUDE RURAL" é fluída,
classificação proposta pelo autor são os imprecisa, variável e extremamente
operários rurais, ou seja, aqueles que heterogênea. Ainda segundo o autor está
trabalham na cidade e residem na vila rural. invisibilidade pauta-se em um olhar baseado na
Para Guigou o critério etário não é suficiente compreensão urbana de juventude. No mundo
para definir o jovem rural, faz-se necessário urbano a noção de juventude se sustenta em
pensar a noção de pertencimento, analisar as dois eixos: o primeiro na visualização/existência
de um espaço cultural propriamente juvenil e no
7
Na década de 1960 o grupo etário que migrava para as adiamento das responsabilidades e dos papéis
cidades tinha uma media de 40 a 49 anos, nos anos 1990 o
grupo etário migrante passou a ter 15 a 19 anos. Sendo assim
dos adultos. No campo tradicionalmente o jovem
foi se configurando um mundo rural mais masculino e mais começa a trabalhar mais cedo em relação ao
envelhecido. Os autores ressalvam as diferenças regionais,
mostrando, por exemplo, que no Nordeste brasileiro há o mundo urbano. Outro aspecto apontado pelo
menor grau de masculinização.
autor se refere à família. Os jovens no campo
43
9. se constituem como chefe de família mais que tem reduzido perspectivas de trabalho na
"precocemente" comparando com os jovens agricultura e concomitantemente tem aumentado
que residem na cidade. Diante destas duas referências do padrão de consumo(novas
premissas a sociedade entende, que necessidades).
"parece legítimo supor que no campo a No entanto, reconhecemos que mesmo
juventude acabou antes de começar". A partir diante destas transformações na estrutura
desta evidencia conclui o autor, a juventude produtiva que reduz as possibilidade de trabalho
rural não é foco de atenção de projetos e na agricultura, existe ainda no campo uma
políticas de combate à pobreza e enorme diversidade juvenil na atualidade (de
desenvolvimento rural. gênero- escolaridade- condição econômica). Isso
Carneiro (2004) sinaliza que há uma nos remete para impossibilidade de pensar um
dificuldade em delimitar o que se designa perfil da " juventude do campo " ou um tipo ideal
como "JUVENTUDE RURAL" - para a do " jovem campo". Assim a formulação de
mesma esta é uma categoria socialmente políticas públicas direcionadas ao jovem no
construída, que se caracteriza pela campo deve contemplar esta diversidade, ou
transitoriedade, outro ponto limitador está seja, os desafios enfrentados pelos jovens no
pautado na imprecisão do que se entende campo não se restringem ao acesso a terra, ou a
por rural, num contexto de intensificação dos criação de políticas de financiamento agrícola
universos do campo e da cidade. O debate específicas aos jovens camponeses. Pensar
no meio acadêmico segundo a autora vem políticas públicas tendo como foco os grupos
apontando para a necessidade de ampliar a juvenis camponeses significa entender que estes
definição do rural para além do setor desenvolvem diversas relações com a terra e
agrícola., esse novo rural para a mesma com a atividade agrícola.
inclui um número cada vez mais
diversificado de ocupações- o que lhe Juventude no campo na contemporaneidade
mereceu o rótulo do "novo rural", e é e o desafio de construir políticas públicas
resultado de processos recentes que têm específicas 8.
transformado o mundo rural em um espaço
cada vez mais heterogêneo e diversificado. No Brasil atualmente são aproximadamente
"Contudo, devemos admitir que esse "novo"
nem sempre significa uma melhoria na 8
Optamos por manter o conceito usado pelos autores na fonte
original. Assim em diversos momentos encontraremos as
qualidade de vida no conjunto da população expressões Juventude Rural e Juventude do Campo, Rural e Campo.
Como opção conceitual preferimos o conceito de campo e
rural e nem pode ser entendido como um juventude do campo, pois para nós o conceito de campo nos
possibilita abranger todas as situações que estão presentes no
fenômeno generalizado no país" mundo rural, bem como para fugir da armadilha que considera o
rural como espaço exclusivo da agricultura ou da pecuária em
(CARNEIRO, 2004, p.245). oposição à modernidade industrial do urbano. Essa oposição não
Neste contexto de transformações no satisfaz a necessidade de compreender o campo em toda a sua
complexidade e diversidade. No entanto, reconhecemos que há
campo percebemos que a juventude é a faixa uma diversidade conceitual e de entendimentos sobre o campo na
atualidade.
demográfica mais afetada por essa dinâmica
44
10. 9
34 milhões de brasileiros jovens, na faixa três assuntos mais interessam os jovens rurais:
etária dos 15 a 24 anos. Diante deste são eles emprego, cultura e lazer
contexto e contingente de jovens Os números da pesquisa confirmam
percebemos uma crescente preocupação por conclusões das pesquisas qualitativas que
parte do poder público em desenvolver apontam que a educação se coloca como um
políticas e programas específicos a este importante instrumento visualizado pelos jovens
grupo social. para o acesso a uma ocupação bem remunerada
Para Abramo (1997) as políticas e os e menos penosa que a agricultura, assim a
programas desenvolvidos pelas instituições educação é vista pelo enfoque do acesso ao
dividem-se em 2 blocos: no primeiro bloco se mundo trabalho.Diante disso, visualizamos que
enquadram os programas de ressocialização, também no meio rural o estudo é encarado como
o segundo bloco é evidenciado pelos condição de ascensão social- "ser alguém na
programas de capacitação profissional. Para vida", o que no olhar de muitos jovens
a autora estes dois modelos de ação junto camponeses, essa "melhoria na qualidade de
aos jovens visam intervir nas dificuldades de vida significa não ser agricultor".
integração social (contenção do risco). A Do total de jovens rurais que trabalham ou
mesma salienta que os programas são já trabalharam (66%), mais da metade (37%)
falhos, pois passam longe de entender de estão vinculados ao mercado de trabalho na
forma ampla e aprofundada o universo cidade, estes números indicam uma ausência
juvenil. de alternativa de emprego no meio rural.
A contemporaneidade apresenta como Esta visualização do potencial da
traço marcante à experiência de diversas escolarização como meio de "mudar de vida"
vivências juvenis em grupos concretos que pode ser questionada quando olhamos para os
têm como papel forjar e criar as identidades dados da escolaridade. Sobre escolaridade a
juvenis. Essa diversidade se apresenta no pesquisa conclui que entre os jovens rurais de
aspecto econômico, social, étnico e hoje apenas 1% deles não estudou, enquanto
geográfico. No entanto, apesar desta 60% dos seus pais não estudaram ou fizeram
heterogeneidade juvenil são poucos os até a 4ª. série. Para Carneiro(2004) "o grande
estudos, as políticas públicas que vêm gargalo parece se localizar na idade em que o
procurando explicitar e contemplar em sua jovem começa a ser definido socialmente como
ação o universo juvenil construído no espaço 'trabalhador' em potencial, esperando-se, então,
do campo brasileiro. que ele contribua para aumentar a renda da
Nos poucos estudos realizados, uma família" (p. 249). Isto explica por que entre os
das questões que têm recebido atenção 60% que freqüentaram o ensino fundamental,
especial é o desejo dos jovens de apenas 14% concluíram a 8ª. série. A autora
permanecerem no campo e as condições de
realização desse desejo. Segundo dados da 9
Salientamos que todos os dados sobre a realidade da juventude
rural presentes na pesquisa “ Perfil da Juventude Brasileira”
pesquisa "Perfil da Juventude Brasileira", citados neste artigo têm como fonte o artigo de CARNEIRO 2004.
45
11. soma-se a muitos outros pesquisadores10 matérias didáticos, a organização curricular, e o
que destacam a valorização social da quadro de professores(as) são estritamente
educação escolar como condição de urbanocêntricos, não considerando a
melhoria de vida para os jovens rurais. especificidade do universo social/étnica e cultural
Um primeiro desafio colocado às camponês.
políticas que têm como foco os jovens Um segundo ponto que apontamos é a
camponeses tem como pauta a educação. É questão do trabalho na agricultura.
evidente a importância das instituições Tradicionalmente na organização familiar do
escolares nos projetos de vida pessoal trabalho não há individualização da renda. No
destes (segundo dados da pesquisa " Perfil entanto tem se observado a tendência de
da Juventude Brasileira a maioria dos jovens remuneração do jovem agricultor como
rurais considera a escola importante para o mecanismo mantê-lo por mais tempo engajado
11
futuro profissional- 95%) . A escola também no trabalho familiar e como conseqüência da
é um importante espaço de sociabilidade. No própria pressão dos jovens. Outro aspecto
entanto, a escolarização na maioria dos visualizado é o aumento das opções de
casos é um primeiro passo para deixar de ser trabalho/emprego no campo fora da atividade
agricultor(a). Assim ao nosso ver, é de agrícola, percebemos que este movimento se
extrema importância a ampliação do sistema apresenta como uma alternativa aos jovens que
escolar no campo, e em todos os níveis de desejam continuar vivendo em sua comunidade
ensino, para que os jovens possam ter a de origem. Com isso se torna primordial para
oportunidade de conciliar o acesso a que os jovens camponeses permaneçam no
educação a vivência no seu espaço de campo e não somente na atividade agrícola, a
origem e a atividade agrícola. ampliação de políticas públicas que
Um outro desafio referente à educação potencializam as alternativas de geração de
esta centrado no aspecto pedagógico- trabalho e renda para os jovens em atividades
curricular. Os currículos escolares em sua agrícolas ou não agrícolas, para que os mesmo
maioria não refletem ou contribuem para que possam ter a possibilidade de acesso aos bens
os jovens camponeses reflitam sobre o seu matérias/culturais/educacionais produzidos na
espaço de vida. Em sua grande maioria, os contemporaneidade sem ter que deixar o campo.
Outras duas questões importantes que
10
Ver : DEMARTINI (1979), ABRAMOVAY e outros
(1998); CARNEIRO (1998); SILVESTRO e outros (2001); devem ser foco de políticas públicas, e que
PEREIRA (2004).
11
Esses números se aproximam bastante dos jovens residentes
tencionam as relações familiares/produtivas no
na cidade, isto é um indicativo das que apesar das campo, interferindo na permanência- ou na
especificidades, há semelhanças entre o universo cultural dos
jovens do campo e da cidade, percebemos isto quando migração para a cidade é a questão sucessória
(CARNEIRO, 2004, p.260) salienta:“nesse sentido, diríamos
que a juventude, “rural” e ” urbana”, estaria sendo afetada na unidade familiar e a de gênero. Stropassolas
pela mesma ordem de problemas própria de uma sociedade ao
mesmo tempo globalizada e subdesenvolvida. No entanto, (2002) identifica que o processo migratório do
entender a maneira como os jovens reagem e se adaptam a
essa realidade exige levar em conta os que os diferencia
segundo os variados contextos sociais, econômicos e culturais”
46
12. campo para a cidade na atualidade tem dois que tanto as oprime.
pontos mais agudos: o primeiro se refere a Finalizando reafirmamos que a construção
questão geracional, ou seja, ou jovens de políticas públicas direcionadas aos jovens do
migram mais para a cidade que as outras campo têm como desafio reconhecer e atender
faixas etárias, a segunda esta centrada na os mesmos a partir da diversidade juvenil (pois
questão de gênero, este fluxo migratório é são várias formas de ser jovens no campo-
mais intenso quando olhamos para as moças assalariados rurais- agricultores familiares-
do campo. indígenas- quilombolas- posseiros), que é
Assim, de forma paradoxal o sistema inerente a juventude na contemporaneidade.
patriarcal camponês (ao privar os jovens do No entanto, quando apontamos para a
espaço de decisão na unidade familiar e ao importância da diversidade juvenil presente no
preterir as jovens camponesas do processo campo, não estamos nos esquecendo do
sucessório-partilha da terra, relegando a conjunto de desigualdades e discriminações
estas exclusivamente o universo doméstico) presentes na sociedade atual (condição
tende ampliar as opções dos(as) jovens(as) econômica, gênero, etnia). Assim diversidade
camponeses para além da agricultura. não é sinônimo de desigualdade como defendem
Entendemos, portanto, que é urgente e entendem os Neoliberais. Também não
desenvolver uma política de reforma agrária estamos engrossando o discurso pós-moderno
massiva e inclusiva, pautada não na lógica presente nas ciências modernas, partilhamos da
do mercado, onde o governo atua como afirmação de Capelo (2005) quando a mesma
agente comprador de terra, mas sim em um aponta para as armadilhas presentes na
processo de desapropriação das terras construção pós-moderna ao afirmar "ao ressaltar
grilhadas, dos latifúndios improdutivos, das diferenças, desigualdades e complexidades do
terra devolutas. A nosso ver esse processo mundo rural, não queremos também nos tornar
de desconcentração fundiária e distribuição presas fáceis do relativismo pós-moderno que
de terra atenuariam os problemas tudo admite, entretanto NADA É, de fato"
sucessórios no interior das famílias Assim, terminamos este texto com a
camponesas, pois possibilitaria aos jovens certeza de que o investimento no campo por
que querem continuar na sua função de meio de políticas públicas (tendo como foco
agricultor ter um espaço de terra condizente destas políticas os pequenos produtores(as)
com suas necessidades básicas. Um outro rurais- ampliação e efetivação dos direitos dos
ponto fundamental que deve ser pautado assalariados rurais) se constitui na atualidade
pelas políticas públicas no campo se refere como uma alternativa viável e necessária a
às políticas específicas as mulheres, estas sociedade brasileira de enfrentamento dos
devem ser subsidiadas para assumir cada nossos problemas sociais. Acreditamos também
vez os espaços de decisão na unidade que só haverá esperança de reprodução da vida
familiar agrícola, rompendo com as cercas e dos nossos jovens(as) no campo brasileiro com
amarras impostas pelo espaço doméstico uma mudança de opção de modelo agrícola nas
47
13. nossas esferas governamentais, ou seja, CONFLITOS NO CAMPO- Brasil 2004.
dentro do modelo agrícola agressivo, Comissão Pastoral da Terra, Coordenação
exclusivamente exportador e economicista Nacional. Goiânia 2004.
traduzido pela expressão agronegócio e
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