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CAPÍTULOIII O IMPACTODOS CONTOSDE FADASNA CRIANÇA E NA EDUCAÇÃO
B
Apesarde a criança vivernomesmomundodosadultos,elaopensa,sente e vê de forma
diferente.SegundoCostae Baganha(1989), para a criança, o mundo - pessoase coisas - nãoé
reconhecidocomoalgoforadela.Reconheceraexterioridadedomundoimplica,paraela,
reconhecerosprópriospoderese limites,e é nesse confrontoque elavai se construindo.
Bettelheim(1980) afirmaque a vidaintelectual de umacriança,atravésda história,dependeu
de mitos,religiões,contosde fadas,alimentandoaimaginaçãoe estimulandoafantasia,como
um importante agente socializador.A partirdosconteúdosdosmitos,lendase fábulas,as
crianças formamos conceitosde origense desígniosdomundoe de seuspadrõessociais.Os
contosde fadas,apesarde apresentarem fatosdocotidianoàsvezesde formabemrealista,
não se referemclaramente aomundoexterior,e seuconteúdopoucasvezesse assemelha
com a vidade seusouvintes.Suanaturezarealistafalaaosprocessosinterioresdoindivíduo
(BETTELHEIM, 1980). Para Dieckmann(1986, p. 49) oscontos de fadassão maisdo que estórias
bonitas,partindodaidéiade que elestêmimportânciaparaa formação e configuraçãodo
mundointeriorhumano.“[...] Asfigurase feições,comotambémaação do conto,são vividas
não maiscomo acontecimentoreal domundo,exterior,mascomopersonificaçãode
formaçõese evoluçõesinterioresdamente”.Essessímbolossãoamelhorimagemque
demonstraaquiloque se passacomo homem.Essasimagensouarquétiposrepresentados
pelospersonagensnoscontosde fadas,segundoPavoni (1989),são a própriapessoa.E o
mesmoacontece comas relaçõesreaisde unscom os outros:elasnão sãovistascomo
realmente são,massimpelaimagemque se temdelas.Estaimagemé constituídaatravésde
experiênciaspessoaiscomo outroe tambématravésda imagemdoarquétipode relaçãoou
de posiçãoprojetadanooutro. Narelaçãocom alguémde maiorautoridade,o
comportamentoé marcadoou alteradopelosarquétiposde autoridade inconscienteque a
pessoatraz, podendosernegativooupositivo.Portanto,omundoage sobre as pessoas
conforme ele é percebido.Sóaquiloque temressonânciacomos conteúdosdapsique é que é
percebido.Cadaum32 entende oque ocircunda e a si mesmoa partir dosapontamentos
arquetípicosdoseuinconsciente (PAVONI,1989). A criança, segundoDieckmann(1986),por
meiodessasfigurasdoscontosde fadas,aprende acorresponderàsexigênciase necessidades
dos outrose do ambiente,ase protegere a combateras investidascontrasuaprópria
personalidade.Aprende tambémaagir,resistire superarforçascomo os adultos,assimcomo
entendercomoelessãoatravésdaidéiaque fazde si mesma.Oscontosde fadas,segundo
Bettelheim(1980,p.32) levama criança a descobrirsua identidade e comunicação,e sugerem
experiênciasnecessáriasparadesenvolveraindamaisseucaráter.Elescontamà criança que,
apesardos infortúnios,elapoderáterumavidaboa;issose nãose intimidarpelasbatalhas
que irá travar. “[...] Estasestóriasprometem àcriança que,se elaousarse "engajar”nesta
busca atemorizante,ospoderesbenevolentesvirãoemsuaajuda,e elao conseguirá”.Elas
advertemtambémque,quemnãoousarencontrarsua verdadeiraidentidade,porreceioou
insignificância,teráumavidamonótona,se algoaindapiornãolhesacontecer.“Comoobras
de arte, oscontos de fadastêm muitosaspectosdignosde seremexploradosemacréscimoao
significadopsicológicoe impactoaque o livroestádestinado”(BETTELHEIM, 1980, p.21). A
herançacultural de um povoencontracomunicaçãocom a mente infantilatravésdeles.Estaé
exatamente amensagemque oscontosde fadatransmitemàcriança de formamúltipla:que
uma lutacontra dificuldadesgravesnavidaé inevitável,é parte intrínsecadaexistência
humana- mas que se a pessoanãose intimida,masse defrontade modofirme comas
opressõesinesperadase muitasvezesinjustaseladominarátodososobstáculose,aofim,
emergirávitoriosa(BETTELHEIM,1980, p.14). Para o autor, sónos contosde fadas a criança se
confrontacom as características essenciaisdoserhumano.Há noscontos de fadasum dilema
existencial tratadode maneirabreve e decisiva,permitindoàcriançacompreendersua
essência.Hápoucosdetalhes,de tramasimplificada,figurasclaras,maistípicasdoque únicas.
Elas sãoambivalentes,comooserhumanoé na vidareal.Essa polarizaçãoque dominaos
contosde fadas,tambémdominaamente da criança.Independente daidade e sexodoherói
da estória,de acordocom Bettelheim(1980),oscontosde fadastemgrande significado
psicológicoparacriançasde ambosos sexose todasas idades.Suaimportânciapessoal é
facilitadapelas33mudanças na identificaçãode criançacom os personagens,principalmente
pelofatoda mesmalidar,comdiferentesproblemas,umde cadavez.Um personagemé bom
e o outroé mau,espertoe tolo,lindoe feio,e porassimvai.Esta uniãode personagens
opostosfacilitaodesenvolvimentodapersonalidadedacriança.Asambigüidadespresentes
nas figurasreais,e todasas complexidadesque ascaracterizam, possibilitamque acriança
estabeleçaumapersonalidaderelativamenteestável nabase dasidentificaçõespositivas.
Depoisdisso,elaterácapacidade de compreenderasdiferençasentre aspessoas,e afazer
escolhassobre quemquerser(BETTELHEIM, 1980). As escolhasde seuspersonagensnãosão
tanto influenciadaspelocertoe errado,massimse despertamnelasimpatiaounão.Ela
escolhe oherói ouheroínapor quererse parecercom ele (a) e peloapelopositivoque tem.O
mesmoacontece coma presençadobeme do mal.Ao contráriode muitasestóriasmodernas,
ambosestãopresentes.Recebemformaemfigurase ações,e nãopodemficarde fora,já que
tendemaaparecerem todosos homens.Atravésdessadualidade,osproblemasde ordem
moral são colocadose intimadosaumaresolução.Nãoé o fato do malfeitorserpunidono
final daestóriaque torna nossaimersãonoscontosde fadasuma experiênciaemeducação
moral,emboraistotambémse dê.Noscontos de fadas,como na vida,a puniçãoouo temor
delaé apenasum fator limitadode intimidaçãodocrime.A convicçãode que o crime não
compensaé um meiode intimidaçãomuitomaisefetivo,e estaé a razão pelaqual nasestórias
de fadas a pessoamá sempre perde.Nãoé ofato de a virtude vencernofinal que promove a
moralidade,masde.oherói sermaisatraente paraa criança que se identificacomele em
todasas suaslutas.Devidoaesta identificaçãoacriança imaginaque sofre como herói suas
provase tribulaçõese triunfacomele quandoavirtude sai vitoriosa.A criançafaz tais
identificaçõesporcontaprópriae as lutasinteriorese exterioresdoherói imprimem
moralidade sobre ela(BETTELHEIM,1980, p. 15). Contudo,nãose pode precisarqual,nemem
que idade oufase será importante paraumacriança um conto emespecífico;sóa criança
poderárevelaroudeterminarque contoquerouvir,àmedidaque essesfalamaoseu
consciente e inconsciente.Naturalmente,umpai começaráa contar ou lerpara seufilhouma
estóriaque ele própriogostavaquandocriança,ouaindagosta. Se a criançanão se ligaà
estória,istosignificaque osmotivosoutemasaí apresentadosfalharamemdespertaruma
respostasignificativanestemomentodasuavida(BETTELHEIM, 1980, p.26).34 Então, segundo
Bettelheim(1980),o melhorafazer é contar uma outra estória,até que a respostaseja
positivae confirmadaatravésdo“conte outra vez”.Quandoelaobtivertudoque necessitava
da estória,ouquandoseusproblemasforemoutros,elapoderáperder oprazernestae
escolheroutra,noque deveráseratendida.Porém, mesmosabendoomotivodointeresse do
filhoemdeterminadoconto,ospaisnãodevemrevelá-lo.“[...] Asexperiênciase reaçõesmais
importantesdacriancinhasãoamplamente subconscientese devempermanecerassimaté
que elaalcance uma idade e compreensãomaismadura”(BETTELHEIM, 1980, p. 26). Não se
deve invadiroseuinconscientee trazera tonaos pensamentos,de maneiraconsciente,que
elagostariade conservarpré-consciente.Éexatamente tãoimportanteparao bem-estarda
criança sentirque seuspaiscompartilhamsuasemoções,divertindo-se comomesmocontode
fadas,quantoseusentimentode que seuspensamentosinterioresnãosãoconhecidospor
elesaté que eladecidarevelá-los.Se opai indicaque já os conhece,acriança ficaimpedidade
fazero presente maispreciosoaseupai,ode compartilharcomele oque até entãoera
secretoe privadopara ela(BETTELHEIM, 1980, p.26 - 27). Alémde perderoencantamentoda
estória,explicarporque umcontode fadas é tão atraente para a criança perde o poderde
ajudá-laa lutare dominarsozinhaoproblemaque tornouoconto significativo.Aodecifrar
para ela,não se favorece osentimentode superaçãoe êxitoque elaalcançariasozinha,
atravésda ruminaçãoda históriae por suasrepetiçõesde umasituaçãoárdua,penosa.Dessa
maneiraelasencontrariamsentidonavidae segurançaem si mesmas,pararesolveremseus
problemaspessoais,interiores,sozinhas(BETTELHEIM,1980). Dieckmann(1989, p. 44) aponta
o sentidode se narrar contosde fadasas crianças.“[...] O problemade se sera favorou contra
os contosde fada, aliás,jáé velho,e foi colocadoháquase cemanos pelopoetaWilhelm
Hauff",que colocouessaproblemáticacomoprefáciode suacoleçãode contos.Ascrianças
têmque encontrarformas,segundoCostae Baganha(1989, p. 38), de preencherovazioque
sentempelaausênciaafetiva,que asfazemsentirmedo.Umprimeirocontatocomoreal
deixaascrianças desiludidas.Elapercebeque omundoe as pessoasnãose compadecemcom
seusdesejos,e elasentãofazemusodafabulaçãoparapreencherovaziocomo “[...] o
abandono,omedo,a desconfiança,ainjustiça,apequenez,asubmissão,mastambéma
”raiva”,a rebeldia,ainsubmissão,odesafio,odesejode se afirmar”.35Estesrostospara os
seus“desejosinconfessáveis”sónosContosde Fadas podemserencontradose “decifrados”
pelacriança.Os contos de fadasoferecempersonagenssobre asquaisacriança pode
exteriorizaraquilo que se passacomelae de uma formacontrolável.Mostramà criança como
pode materializarosseusdesejosdestrutivosnumadadapersonagem, tirarde outraas
satisfaçõesque deseja,identificar-se comumaterceira,ligar-seaumaquarta da qual faz seu
ideal e assimsucessivamente,segundoasnecessidadesde momento.Alémdisso,
desacreditandoaslimitaçõesde tempoe espaço,permiteumarepresentaçãovisível,concreta
e simultâneade todasas facetasque constituemouniversodacriança(COSTA;BAGANHA,
1989, p.39).“A forma como tudovai sendoexperienciado,compreendido,explicado
solucionado,valorizado,resultade umaafetividadee de umarazão atuandoem sinergia”
(COSTA E BAGANHA,1989, p. 38). A intensidadedessesaspectosvariaaolongodo
desenvolvimento,mostrandoàcriançao momentocertode assumiro real,nãodevendoviver
para sempre nafantasia.De acordo com Bettelheim(1980),o conto de fadasguia a criança a
entendere abandonar,emsuamente consciente e inconsciente,seusdesejosde dependência
infantil e obterumaexistênciamaisindependente atravésdarealizaçãodoherói,da
experiênciapelomundoe doencontrocom o outro.Constataainda,que as crianças de hoje
não crescemmaisna segurançade um lar formadopor grandesfamíliase neminseridasem
grandescomunidades.Daíressaltaaimportânciadasimagensde heróissolitários,confiantes
interiormente,cujodestinoconvence acriançaque,apesarde se sentirrejeitadae
abandonadapelomundo,comoherói ouheroína,elaseráguiadae ajudadasempre que
precisar,estabelecendorelaçõessignificativase compensadorascomomesmo.ParaCosta e
Baganha (1989) a escolanão sóé responsável pelapropagaçãode conhecimento,comopode
subsidiaraformação pessoal de cadaser humano.Oscontos podemserum importante
instrumentopedagógico,porajudarnoprocessode simbolização,aomesmotempoemque
aliviapressõesinconscientes."Nessalutapelaindependência,aescoladesempenhaumpapel
muitoimportante porsero primeiroambienteque acriança encontraforada família,Os
companheirossubstituemosirmãos,oprofessoropai,e a professoraa mãe"(JUNG,1981,
p.59 apudSAIANI,2003, p.22). O que as crianças podemapreenderdoscontosde fadas,nãoé
percebidonapráticaPedagógica.[...] p. “Deixaracriança viverlivremente suafantasiageraum
conflitonoprofessor,que perde seupapelde educadore nãocorresponde aomodeloque foi
idealizadopelaPedagogia”(COSTA e BAGANHA,1989).36 Transformadosemtarefasescolares,
os contosde fadas perdemsuafunçãolúdicae estéticae impedemque asemoçõessejam
vivenciadas,Aomesmotempo,acredita-se que osimpulsosmaisprimitivospossamser
aprisionados(BETELHEIM,1980 p.13) Para Catherine Millot,(KUPFER,1995, apudSAIANI,
2003), "quandoopedagogoacreditaestarse dirigindoaoeuda criança é,à sua revelia,o
inconsciente dessacriançaque estásendoatingido",oque fazcom que osefeitosdos
métodospedagógicossejam,nomínimo,inverificáveis.ParaSaiani (2003) o que há de mais
fundamental paraumaprendizadobemsucedidoé arelaçãoque o professorestabelece como
aluno,a criação de uma tão encantadoraquantonecessáriaatmosfera.Paraeste háuma
relaçãoprofessoralunoprofundamente arraigadanoinconsciente coletivo.Opróprio
pedagogoprecisadosconhecimentosdapsicologiaparaasua própriaformação.“[...] É fato
notórioque as criançastêm uminstintoseguroparaperceberasincapacidadespessoaisdo
educador".ParaJung,o pedagogoprecisa,porisso,daratençãoespecial aseu próprioestado
psíquico,a fimde estar aptoa perceberseuerro,quandohouverqualquerfracassocomas
crianças que lhe sãoconfiadas(JUNG,1981, p.125 apudSAIANI,2003, p.18). Essa atençãoao
estadopsíquico,é obvio,conotaumaposiçãodiante da educaçãoque não encara o professor
como merotransmissorde conhecimentos,massimcomoumaponte para que a criança
evoluapsiquicamente."A criançase desenvolve apartirde um estadoinicial inconsciente e
semelhanteaodoanimal até atingira consciência primitiva,e aseguir,gradativamente,a
consciênciacivilizada”.(JUNG,1981, p.105 apudSAIANI,2003 p. 18). Certamente,quandouma
criança de seisanosentra na escola,aindaé,emtodosentido,apenasumprodutodospais;é
dotada,semdúvida,de uma consciênciado”eu"em estadoembrionário,masde maneira
algumaé capaz de afirmarsua personalidade,sejacomofor(SAIANI,2003 p.58) Trata-se de
um estadode indiferenciaçãoentre osujeitoe oobjeto.Parao desenvolvimentodacriança,
para que elaconstrua sua própriapersonalidade,é fundamental que váse libertandodessa
atmosferapsíquicacriadapelospais.Serianecessárioumrompimentoumbilical simbólico,
semo qual seriaimpossível aproduçãode cultura.(SAIANI,2003, p.19) SegundoSaiani (2003)
uma das funçõesdaescola,comoinstituição,é contribuirparaa gradual diferenciaçãodoego,
com o objetivode formarumindividuoconsciente.37Desse modoemerge aconsciênciaa
partir doinconsciente,comoumanovailhaaflorasobre a superfície do mar.Pelaeducaçãoe
formaçãodas crianças, procuramosauxiliaresse processo.A escolaé apenasummeioque
procura apoiarde modoapropriadooprocessode formação da consciência.Sobesse aspecto,
culturaé consciêncianograu maisaltopossível (JUNG, 1981a, p.56 apudSAIANI,P.26).A
relaçãoentre a criança e o professor,é determinanteparao êxitodoensinoe da
transformaçãodas criançasem adultossaudáveis,que é averdadeirafinalidadedaescola.
Para Jung,1981 apud Saiani,2003, o importante é aescolalibertara criança de sua identidade
com a famíliae torna-laconsciente de si própria.Semessaconsciência,elanuncasaberáoque
desejade verdade,estandosempre dependente dafamília,procurandoapenasimitaros
outros.“Ninguém,absolutamente ninguém, estácomsuaeducação terminadaaodeixaro
curso superior”.Ouseja:oeducadornão deve serapenasportadorda culturade modo
passivo,mastambémdesenvolvê-lapormeiode si próprio(JUNG,1981, p.61 apudSAIANI,
2003, p.26).Os contos de fadas,segundoSaiani (2003),são um canal entre o professore a
criança no trabalhoafetivo,ajudando-aasuperarseusproblemasinteriores,possibilitando
que o intelectopossase desenvolvere trabalharcom o mínimode interferênciasemocionais.
38 CONCLUSÃOEste trabalhodedicou-se atravésde umaabordagemde referencial teórico,
buscar as principaisfontessobre aorigeme odesenvolvimentodoscontosde fadasaos longos
dos anos.Comointroduçãoao tema,buscou-se explanarde maneirabreve,sua
contextualizaçãohistórica,ouseja,onde e comosurgiram, seusprincipaisescritorese aquem
se destinavam.Igualmente,foi de essencialimportância,aexplicaçãode comofuncionaa
psique humana,seuconscientee inconsciente coletivo.Este comoreferênciaprincipal aoque
se tentoudemonstrarcomofonte comum, a temáticade todosos contos.Comoexpoente
desse estudo,apresentou-seoarquétipo,ouseja,asimagensprimordiaisque temosdo
homeme do mundo,comobase estruturadorada idéiaque fazemosde nósmesmose dos
outros.Dando ganchoao objetivodotrabalhoemdesvendarosconteúdosimplícitosnos
contosde fadas,procurou-se demonstrarcomodestinoàformaçãoconsciente e inconsciente
da criança, passandoa históriade todahumanidade,aslutasque virão,e a certezade que elas
irão sairvitoriosasnabusca de seulugarno mundo.Considerandootrabalhocomouma
pequenaintroduçãoaoestudodoscontosde fadas,sua complexafonte de relações,
considerações,e temáticas,e aconcepçãosubjetivaque temos de infânciae pelomesmoser
um trabalhomovidoporum objetivopessoal (poissemmotivação,aativaçãode minha
energiapsíquicaseriaimpossível),ressaltoanecessidadede fazeralgumasconsiderações.Em
primeiro,acreditonarelevânciadotrabalho,porconsideraroseducadorescomoseres
humanos,dotadosde psique,carregadosde afetividade e inseridosemrelaçõesde si parasi e
de si para o outro,inseridosnumasociedadeonde desempenhamosdiversospapéisque
assumem:filhos,pais,cônjugesetc.Em segundo,pelaescolaserpalcodasdiversasinterações
cognitivase afetivase porseremhoje,aspectorelevante entre arupturacada vezmais
precoce entre a criança e sua família,tendonãosó o educadorcomo transmissordossaberes
historicamenteacumulados,mastambémcomoserconstituídode psique,e suasrelações
humanasestritamente necessáriasàcriança.39 As mudanças,portanto,devemseriniciadas
neste cotidiano,incluindonadiscussãoe neste processoossujeitosdapráticaeducativa.A
verdadeiraeducaçãopode respeitare aproveitaranaturezainfantil.Se afantasiae as
emoçõesinfantispuderemestarintegradasnoprocessode desenvolvimentoe conhecimento,
a criança irá sentir-se respeitadae terácondiçõessatisfatóriasde ingressaremummundo
social e cultural.

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Os Contos de Fadas e seu Impacto no Desenvolvimento Infantil

  • 1. CAPÍTULOIII O IMPACTODOS CONTOSDE FADASNA CRIANÇA E NA EDUCAÇÃO B Apesarde a criança vivernomesmomundodosadultos,elaopensa,sente e vê de forma diferente.SegundoCostae Baganha(1989), para a criança, o mundo - pessoase coisas - nãoé reconhecidocomoalgoforadela.Reconheceraexterioridadedomundoimplica,paraela, reconhecerosprópriospoderese limites,e é nesse confrontoque elavai se construindo. Bettelheim(1980) afirmaque a vidaintelectual de umacriança,atravésda história,dependeu de mitos,religiões,contosde fadas,alimentandoaimaginaçãoe estimulandoafantasia,como um importante agente socializador.A partirdosconteúdosdosmitos,lendase fábulas,as crianças formamos conceitosde origense desígniosdomundoe de seuspadrõessociais.Os contosde fadas,apesarde apresentarem fatosdocotidianoàsvezesde formabemrealista, não se referemclaramente aomundoexterior,e seuconteúdopoucasvezesse assemelha com a vidade seusouvintes.Suanaturezarealistafalaaosprocessosinterioresdoindivíduo (BETTELHEIM, 1980). Para Dieckmann(1986, p. 49) oscontos de fadassão maisdo que estórias bonitas,partindodaidéiade que elestêmimportânciaparaa formação e configuraçãodo mundointeriorhumano.“[...] Asfigurase feições,comotambémaação do conto,são vividas não maiscomo acontecimentoreal domundo,exterior,mascomopersonificaçãode formaçõese evoluçõesinterioresdamente”.Essessímbolossãoamelhorimagemque demonstraaquiloque se passacomo homem.Essasimagensouarquétiposrepresentados pelospersonagensnoscontosde fadas,segundoPavoni (1989),são a própriapessoa.E o mesmoacontece comas relaçõesreaisde unscom os outros:elasnão sãovistascomo realmente são,massimpelaimagemque se temdelas.Estaimagemé constituídaatravésde experiênciaspessoaiscomo outroe tambématravésda imagemdoarquétipode relaçãoou de posiçãoprojetadanooutro. Narelaçãocom alguémde maiorautoridade,o comportamentoé marcadoou alteradopelosarquétiposde autoridade inconscienteque a pessoatraz, podendosernegativooupositivo.Portanto,omundoage sobre as pessoas conforme ele é percebido.Sóaquiloque temressonânciacomos conteúdosdapsique é que é percebido.Cadaum32 entende oque ocircunda e a si mesmoa partir dosapontamentos arquetípicosdoseuinconsciente (PAVONI,1989). A criança, segundoDieckmann(1986),por meiodessasfigurasdoscontosde fadas,aprende acorresponderàsexigênciase necessidades dos outrose do ambiente,ase protegere a combateras investidascontrasuaprópria personalidade.Aprende tambémaagir,resistire superarforçascomo os adultos,assimcomo entendercomoelessãoatravésdaidéiaque fazde si mesma.Oscontosde fadas,segundo Bettelheim(1980,p.32) levama criança a descobrirsua identidade e comunicação,e sugerem experiênciasnecessáriasparadesenvolveraindamaisseucaráter.Elescontamà criança que, apesardos infortúnios,elapoderáterumavidaboa;issose nãose intimidarpelasbatalhas que irá travar. “[...] Estasestóriasprometem àcriança que,se elaousarse "engajar”nesta busca atemorizante,ospoderesbenevolentesvirãoemsuaajuda,e elao conseguirá”.Elas advertemtambémque,quemnãoousarencontrarsua verdadeiraidentidade,porreceioou insignificância,teráumavidamonótona,se algoaindapiornãolhesacontecer.“Comoobras de arte, oscontos de fadastêm muitosaspectosdignosde seremexploradosemacréscimoao significadopsicológicoe impactoaque o livroestádestinado”(BETTELHEIM, 1980, p.21). A herançacultural de um povoencontracomunicaçãocom a mente infantilatravésdeles.Estaé exatamente amensagemque oscontosde fadatransmitemàcriança de formamúltipla:que
  • 2. uma lutacontra dificuldadesgravesnavidaé inevitável,é parte intrínsecadaexistência humana- mas que se a pessoanãose intimida,masse defrontade modofirme comas opressõesinesperadase muitasvezesinjustaseladominarátodososobstáculose,aofim, emergirávitoriosa(BETTELHEIM,1980, p.14). Para o autor, sónos contosde fadas a criança se confrontacom as características essenciaisdoserhumano.Há noscontos de fadasum dilema existencial tratadode maneirabreve e decisiva,permitindoàcriançacompreendersua essência.Hápoucosdetalhes,de tramasimplificada,figurasclaras,maistípicasdoque únicas. Elas sãoambivalentes,comooserhumanoé na vidareal.Essa polarizaçãoque dominaos contosde fadas,tambémdominaamente da criança.Independente daidade e sexodoherói da estória,de acordocom Bettelheim(1980),oscontosde fadastemgrande significado psicológicoparacriançasde ambosos sexose todasas idades.Suaimportânciapessoal é facilitadapelas33mudanças na identificaçãode criançacom os personagens,principalmente pelofatoda mesmalidar,comdiferentesproblemas,umde cadavez.Um personagemé bom e o outroé mau,espertoe tolo,lindoe feio,e porassimvai.Esta uniãode personagens opostosfacilitaodesenvolvimentodapersonalidadedacriança.Asambigüidadespresentes nas figurasreais,e todasas complexidadesque ascaracterizam, possibilitamque acriança estabeleçaumapersonalidaderelativamenteestável nabase dasidentificaçõespositivas. Depoisdisso,elaterácapacidade de compreenderasdiferençasentre aspessoas,e afazer escolhassobre quemquerser(BETTELHEIM, 1980). As escolhasde seuspersonagensnãosão tanto influenciadaspelocertoe errado,massimse despertamnelasimpatiaounão.Ela escolhe oherói ouheroínapor quererse parecercom ele (a) e peloapelopositivoque tem.O mesmoacontece coma presençadobeme do mal.Ao contráriode muitasestóriasmodernas, ambosestãopresentes.Recebemformaemfigurase ações,e nãopodemficarde fora,já que tendemaaparecerem todosos homens.Atravésdessadualidade,osproblemasde ordem moral são colocadose intimadosaumaresolução.Nãoé o fato do malfeitorserpunidono final daestóriaque torna nossaimersãonoscontosde fadasuma experiênciaemeducação moral,emboraistotambémse dê.Noscontos de fadas,como na vida,a puniçãoouo temor delaé apenasum fator limitadode intimidaçãodocrime.A convicçãode que o crime não compensaé um meiode intimidaçãomuitomaisefetivo,e estaé a razão pelaqual nasestórias de fadas a pessoamá sempre perde.Nãoé ofato de a virtude vencernofinal que promove a moralidade,masde.oherói sermaisatraente paraa criança que se identificacomele em todasas suaslutas.Devidoaesta identificaçãoacriança imaginaque sofre como herói suas provase tribulaçõese triunfacomele quandoavirtude sai vitoriosa.A criançafaz tais identificaçõesporcontaprópriae as lutasinteriorese exterioresdoherói imprimem moralidade sobre ela(BETTELHEIM,1980, p. 15). Contudo,nãose pode precisarqual,nemem que idade oufase será importante paraumacriança um conto emespecífico;sóa criança poderárevelaroudeterminarque contoquerouvir,àmedidaque essesfalamaoseu consciente e inconsciente.Naturalmente,umpai começaráa contar ou lerpara seufilhouma estóriaque ele própriogostavaquandocriança,ouaindagosta. Se a criançanão se ligaà estória,istosignificaque osmotivosoutemasaí apresentadosfalharamemdespertaruma respostasignificativanestemomentodasuavida(BETTELHEIM, 1980, p.26).34 Então, segundo Bettelheim(1980),o melhorafazer é contar uma outra estória,até que a respostaseja positivae confirmadaatravésdo“conte outra vez”.Quandoelaobtivertudoque necessitava da estória,ouquandoseusproblemasforemoutros,elapoderáperder oprazernestae escolheroutra,noque deveráseratendida.Porém, mesmosabendoomotivodointeresse do
  • 3. filhoemdeterminadoconto,ospaisnãodevemrevelá-lo.“[...] Asexperiênciase reaçõesmais importantesdacriancinhasãoamplamente subconscientese devempermanecerassimaté que elaalcance uma idade e compreensãomaismadura”(BETTELHEIM, 1980, p. 26). Não se deve invadiroseuinconscientee trazera tonaos pensamentos,de maneiraconsciente,que elagostariade conservarpré-consciente.Éexatamente tãoimportanteparao bem-estarda criança sentirque seuspaiscompartilhamsuasemoções,divertindo-se comomesmocontode fadas,quantoseusentimentode que seuspensamentosinterioresnãosãoconhecidospor elesaté que eladecidarevelá-los.Se opai indicaque já os conhece,acriança ficaimpedidade fazero presente maispreciosoaseupai,ode compartilharcomele oque até entãoera secretoe privadopara ela(BETTELHEIM, 1980, p.26 - 27). Alémde perderoencantamentoda estória,explicarporque umcontode fadas é tão atraente para a criança perde o poderde ajudá-laa lutare dominarsozinhaoproblemaque tornouoconto significativo.Aodecifrar para ela,não se favorece osentimentode superaçãoe êxitoque elaalcançariasozinha, atravésda ruminaçãoda históriae por suasrepetiçõesde umasituaçãoárdua,penosa.Dessa maneiraelasencontrariamsentidonavidae segurançaem si mesmas,pararesolveremseus problemaspessoais,interiores,sozinhas(BETTELHEIM,1980). Dieckmann(1989, p. 44) aponta o sentidode se narrar contosde fadasas crianças.“[...] O problemade se sera favorou contra os contosde fada, aliás,jáé velho,e foi colocadoháquase cemanos pelopoetaWilhelm Hauff",que colocouessaproblemáticacomoprefáciode suacoleçãode contos.Ascrianças têmque encontrarformas,segundoCostae Baganha(1989, p. 38), de preencherovazioque sentempelaausênciaafetiva,que asfazemsentirmedo.Umprimeirocontatocomoreal deixaascrianças desiludidas.Elapercebeque omundoe as pessoasnãose compadecemcom seusdesejos,e elasentãofazemusodafabulaçãoparapreencherovaziocomo “[...] o abandono,omedo,a desconfiança,ainjustiça,apequenez,asubmissão,mastambéma ”raiva”,a rebeldia,ainsubmissão,odesafio,odesejode se afirmar”.35Estesrostospara os seus“desejosinconfessáveis”sónosContosde Fadas podemserencontradose “decifrados” pelacriança.Os contos de fadasoferecempersonagenssobre asquaisacriança pode exteriorizaraquilo que se passacomelae de uma formacontrolável.Mostramà criança como pode materializarosseusdesejosdestrutivosnumadadapersonagem, tirarde outraas satisfaçõesque deseja,identificar-se comumaterceira,ligar-seaumaquarta da qual faz seu ideal e assimsucessivamente,segundoasnecessidadesde momento.Alémdisso, desacreditandoaslimitaçõesde tempoe espaço,permiteumarepresentaçãovisível,concreta e simultâneade todasas facetasque constituemouniversodacriança(COSTA;BAGANHA, 1989, p.39).“A forma como tudovai sendoexperienciado,compreendido,explicado solucionado,valorizado,resultade umaafetividadee de umarazão atuandoem sinergia” (COSTA E BAGANHA,1989, p. 38). A intensidadedessesaspectosvariaaolongodo desenvolvimento,mostrandoàcriançao momentocertode assumiro real,nãodevendoviver para sempre nafantasia.De acordo com Bettelheim(1980),o conto de fadasguia a criança a entendere abandonar,emsuamente consciente e inconsciente,seusdesejosde dependência infantil e obterumaexistênciamaisindependente atravésdarealizaçãodoherói,da experiênciapelomundoe doencontrocom o outro.Constataainda,que as crianças de hoje não crescemmaisna segurançade um lar formadopor grandesfamíliase neminseridasem grandescomunidades.Daíressaltaaimportânciadasimagensde heróissolitários,confiantes interiormente,cujodestinoconvence acriançaque,apesarde se sentirrejeitadae abandonadapelomundo,comoherói ouheroína,elaseráguiadae ajudadasempre que
  • 4. precisar,estabelecendorelaçõessignificativase compensadorascomomesmo.ParaCosta e Baganha (1989) a escolanão sóé responsável pelapropagaçãode conhecimento,comopode subsidiaraformação pessoal de cadaser humano.Oscontos podemserum importante instrumentopedagógico,porajudarnoprocessode simbolização,aomesmotempoemque aliviapressõesinconscientes."Nessalutapelaindependência,aescoladesempenhaumpapel muitoimportante porsero primeiroambienteque acriança encontraforada família,Os companheirossubstituemosirmãos,oprofessoropai,e a professoraa mãe"(JUNG,1981, p.59 apudSAIANI,2003, p.22). O que as crianças podemapreenderdoscontosde fadas,nãoé percebidonapráticaPedagógica.[...] p. “Deixaracriança viverlivremente suafantasiageraum conflitonoprofessor,que perde seupapelde educadore nãocorresponde aomodeloque foi idealizadopelaPedagogia”(COSTA e BAGANHA,1989).36 Transformadosemtarefasescolares, os contosde fadas perdemsuafunçãolúdicae estéticae impedemque asemoçõessejam vivenciadas,Aomesmotempo,acredita-se que osimpulsosmaisprimitivospossamser aprisionados(BETELHEIM,1980 p.13) Para Catherine Millot,(KUPFER,1995, apudSAIANI, 2003), "quandoopedagogoacreditaestarse dirigindoaoeuda criança é,à sua revelia,o inconsciente dessacriançaque estásendoatingido",oque fazcom que osefeitosdos métodospedagógicossejam,nomínimo,inverificáveis.ParaSaiani (2003) o que há de mais fundamental paraumaprendizadobemsucedidoé arelaçãoque o professorestabelece como aluno,a criação de uma tão encantadoraquantonecessáriaatmosfera.Paraeste háuma relaçãoprofessoralunoprofundamente arraigadanoinconsciente coletivo.Opróprio pedagogoprecisadosconhecimentosdapsicologiaparaasua própriaformação.“[...] É fato notórioque as criançastêm uminstintoseguroparaperceberasincapacidadespessoaisdo educador".ParaJung,o pedagogoprecisa,porisso,daratençãoespecial aseu próprioestado psíquico,a fimde estar aptoa perceberseuerro,quandohouverqualquerfracassocomas crianças que lhe sãoconfiadas(JUNG,1981, p.125 apudSAIANI,2003, p.18). Essa atençãoao estadopsíquico,é obvio,conotaumaposiçãodiante da educaçãoque não encara o professor como merotransmissorde conhecimentos,massimcomoumaponte para que a criança evoluapsiquicamente."A criançase desenvolve apartirde um estadoinicial inconsciente e semelhanteaodoanimal até atingira consciência primitiva,e aseguir,gradativamente,a consciênciacivilizada”.(JUNG,1981, p.105 apudSAIANI,2003 p. 18). Certamente,quandouma criança de seisanosentra na escola,aindaé,emtodosentido,apenasumprodutodospais;é dotada,semdúvida,de uma consciênciado”eu"em estadoembrionário,masde maneira algumaé capaz de afirmarsua personalidade,sejacomofor(SAIANI,2003 p.58) Trata-se de um estadode indiferenciaçãoentre osujeitoe oobjeto.Parao desenvolvimentodacriança, para que elaconstrua sua própriapersonalidade,é fundamental que váse libertandodessa atmosferapsíquicacriadapelospais.Serianecessárioumrompimentoumbilical simbólico, semo qual seriaimpossível aproduçãode cultura.(SAIANI,2003, p.19) SegundoSaiani (2003) uma das funçõesdaescola,comoinstituição,é contribuirparaa gradual diferenciaçãodoego, com o objetivode formarumindividuoconsciente.37Desse modoemerge aconsciênciaa partir doinconsciente,comoumanovailhaaflorasobre a superfície do mar.Pelaeducaçãoe formaçãodas crianças, procuramosauxiliaresse processo.A escolaé apenasummeioque procura apoiarde modoapropriadooprocessode formação da consciência.Sobesse aspecto, culturaé consciêncianograu maisaltopossível (JUNG, 1981a, p.56 apudSAIANI,P.26).A relaçãoentre a criança e o professor,é determinanteparao êxitodoensinoe da transformaçãodas criançasem adultossaudáveis,que é averdadeirafinalidadedaescola.
  • 5. Para Jung,1981 apud Saiani,2003, o importante é aescolalibertara criança de sua identidade com a famíliae torna-laconsciente de si própria.Semessaconsciência,elanuncasaberáoque desejade verdade,estandosempre dependente dafamília,procurandoapenasimitaros outros.“Ninguém,absolutamente ninguém, estácomsuaeducação terminadaaodeixaro curso superior”.Ouseja:oeducadornão deve serapenasportadorda culturade modo passivo,mastambémdesenvolvê-lapormeiode si próprio(JUNG,1981, p.61 apudSAIANI, 2003, p.26).Os contos de fadas,segundoSaiani (2003),são um canal entre o professore a criança no trabalhoafetivo,ajudando-aasuperarseusproblemasinteriores,possibilitando que o intelectopossase desenvolvere trabalharcom o mínimode interferênciasemocionais. 38 CONCLUSÃOEste trabalhodedicou-se atravésde umaabordagemde referencial teórico, buscar as principaisfontessobre aorigeme odesenvolvimentodoscontosde fadasaos longos dos anos.Comointroduçãoao tema,buscou-se explanarde maneirabreve,sua contextualizaçãohistórica,ouseja,onde e comosurgiram, seusprincipaisescritorese aquem se destinavam.Igualmente,foi de essencialimportância,aexplicaçãode comofuncionaa psique humana,seuconscientee inconsciente coletivo.Este comoreferênciaprincipal aoque se tentoudemonstrarcomofonte comum, a temáticade todosos contos.Comoexpoente desse estudo,apresentou-seoarquétipo,ouseja,asimagensprimordiaisque temosdo homeme do mundo,comobase estruturadorada idéiaque fazemosde nósmesmose dos outros.Dando ganchoao objetivodotrabalhoemdesvendarosconteúdosimplícitosnos contosde fadas,procurou-se demonstrarcomodestinoàformaçãoconsciente e inconsciente da criança, passandoa históriade todahumanidade,aslutasque virão,e a certezade que elas irão sairvitoriosasnabusca de seulugarno mundo.Considerandootrabalhocomouma pequenaintroduçãoaoestudodoscontosde fadas,sua complexafonte de relações, considerações,e temáticas,e aconcepçãosubjetivaque temos de infânciae pelomesmoser um trabalhomovidoporum objetivopessoal (poissemmotivação,aativaçãode minha energiapsíquicaseriaimpossível),ressaltoanecessidadede fazeralgumasconsiderações.Em primeiro,acreditonarelevânciadotrabalho,porconsideraroseducadorescomoseres humanos,dotadosde psique,carregadosde afetividade e inseridosemrelaçõesde si parasi e de si para o outro,inseridosnumasociedadeonde desempenhamosdiversospapéisque assumem:filhos,pais,cônjugesetc.Em segundo,pelaescolaserpalcodasdiversasinterações cognitivase afetivase porseremhoje,aspectorelevante entre arupturacada vezmais precoce entre a criança e sua família,tendonãosó o educadorcomo transmissordossaberes historicamenteacumulados,mastambémcomoserconstituídode psique,e suasrelações humanasestritamente necessáriasàcriança.39 As mudanças,portanto,devemseriniciadas neste cotidiano,incluindonadiscussãoe neste processoossujeitosdapráticaeducativa.A verdadeiraeducaçãopode respeitare aproveitaranaturezainfantil.Se afantasiae as emoçõesinfantispuderemestarintegradasnoprocessode desenvolvimentoe conhecimento, a criança irá sentir-se respeitadae terácondiçõessatisfatóriasde ingressaremummundo social e cultural.