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    “ADOPT_DTV:
Barreiras
à
adopção
da
televisão
digital
no
contexto
da

        transição
da
televisão
analógica
para
o
digital
em
Portugal”


                      (
PTDC/CCI‐COM/102576/2008)

                                      


                 Relatório
do
Estudo
Etnográfico
‐
ANEXOS

                            
Setembro
de
2011












                                    1

Índice


Relatório da visita a casa da família 1 (“Rosário”) .................................................................5

   Transcrição da entrevista semi-estruturada ........................................................................... 10

Relatório da visita a casa da família 2 (“Sobral”) ................................................................. 21

   Transcrição da entrevista semi-estruturada ........................................................................... 25

Relatório da visita a casa da família 3 (“Roda”) ................................................................... 31

   Transcrição da entrevista semi-estruturada ........................................................................... 35

Relatório da visita a casa da família 4 (“Pereira”) ................................................................ 40

   Transcrição da entrevista semi-estruturada ........................................................................... 44

Relatório da visita a casa da família 5 (“Santos”) ................................................................ 51

   Transcrição da entrevista semi-estruturada ........................................................................... 55

Relatório da visita a casa da família 6 (“Alves”) .................................................................. 61

   Transcrição da entrevista semi-estruturada ........................................................................... 66

Relatório da visita a casa da família 7 (“Pinto”)................................................................... 73

   Transcrição da entrevista semi-estruturada ........................................................................... 77

Relatório da visita a casa da família 8 (“Lopes”) .................................................................. 82

   Transcrição da entrevista semi-estruturada ........................................................................... 86

Relatório da visita a casa da família 9 (“Gaudêncio”) .......................................................... 93

   Transcrição da entrevista semi-estruturada ........................................................................... 98

Relatório da visita a casa da família 10 (“Graça”) .............................................................. 102

   Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 106

Relatório da visita a casa da família 11 (“Assis”) ............................................................... 112

   Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 116

Relatório da visita a casa da família 12 (“Marques”) ......................................................... 124

   Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 129

Relatório da visita a casa da família 13 (“Andrade”) .......................................................... 137

                                                                                                                          2
Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 140

Relatório da visita a casa da família 14 (“Freitas”) ............................................................ 145

   Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 148

Relatório da visita a casa da família 15 (“Matos”) ............................................................. 156

   Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 162

Relatório da visita a casa da família 16 (“Mendonça”) ...................................................... 171

   Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 175

Relatório da visita a casa da família 17 (“Sousa”) .............................................................. 180

   Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 184

Relatório da visita a casa da família 18 (“Fragoso”) ........................................................... 193

   Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 198

Relatório da visita a casa da família 19 (“Baptista”) .......................................................... 211

   Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 213

Relatório da visita a casa da família 20 (“Mendes”) .......................................................... 219

   Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 222

Relatório da visita a casa da família 21 (“Costa”) .............................................................. 229

   Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 232

Relatório da visita a casa da família 22 (“Guerreiro”) ........................................................ 238

   Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 241

Relatório da visita a casa da família 23 (“Simões”) ............................................................ 249

   Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 254

Relatório da visita a casa da família 24 (“Fonseca”) .......................................................... 260

   Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 262

Relatório da visita a casa da família 25 (“Neves”) ............................................................. 268

   Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 269

Relatório da visita a casa da família 26 (“Gomes”) ............................................................ 275

   Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 278

                                                                                                                         3
Relatório da visita a casa da família 27 (“Brito”) ............................................................... 285

   Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 286

Relatório da visita a casa da família 28 (“Cardoso”) .......................................................... 293

   Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 298

Relatório da visita a casa da família 29 (“Justino”) ............................................................ 309

   Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 313

Relatório da visita a casa da família 30 (“Ribeiro”) ............................................................ 319

   Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 322




                                                                                                                         4
Relatório da visita a casa da família 1 (“Rosário”)
17 de Setembro de 2010
Nazaré


Adelaide (mãe): 33 anos, professora.
Carlos (pai): 37 anos, gerente de um bar.
Crianças: 8, 4 e 2 anos.
João (avô): 59 anos, marceneiro.
Marta (avó): 53 anos, auxiliar de acção educativa.


Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-
estruturada realizada em casa da família “Rosário”, residente na Nazaré, no dia 17 de
Setembro de 2010.
O agregado familiar dos “Rosário” é composto por cinco pessoas: os pais, Adelaide e
Carlos, de 33 e 37 anos, e os três filhos, de 8, 4 e 2 anos. Na entrevista estiveram
também presentes os avós, Marta e João, de 53 e 59 anos, que apesar de constituírem
um agregado familiar diferente (de quatro pessoas) participaram no questionário.
A família “Rosário” tem por hábito reunir-se toda à hora do jantar. As três gerações
juntam-se à mesa e, muitas vezes, os motivos das conversas surgem como reacção às
notícias do telejornal, «o único programa obrigatório» para a família. Na verdade, de

         Figura 1 - Família “Rosário” reúne-se à hora do jantar, depois de alguma insistência por parte
         da mãe em conseguir afastar as crianças do computador




                                                                                                          5
acordo com Adelaide e Carlos, que afirmam ver cerca de uma hora de televisão por
dia, o noticiário é um dos únicos conteúdos que os liga à televisão. «Preferências não
tenho… A única coisa que eu vejo mais é o noticiário. Esse sim é obrigatório e vemos
        Figura 2 - Na sala de estar, a televisão está ligada, mas ninguém presta atenção ao ecrã




em conjunto», explica Carlos. Por sua vez, Adelaide lembra que quando vêem mais
televisão, optam por séries do AXN e da FOX, ou pelos documentários do National
Wild, da National Geographic. Adelaide é professora e Carlos gerente de um bar. O
casal explica que, quando lhes sobra tempo entre o trabalho e os cuidados com os
filhos, não o aproveitam para ver televisão, privilegiando antes o computador e a
internet. «Quando tenho tempo livre não é para a televisão», revela Adelaide.
«Quando arranjo um tempinho gosto de ler ou de ligar a net», completa o marido.
No caso dos avós Marta e João, a rotina é bastante diferente. João assume-se o maior
consumidor de televisão da família, assistindo a uma média de quatro horas por dia,

        Figura 3 - Enquanto faz o jantar, a avó, Marta, de 53 anos, vai ouvindo o telejornal




                                                                                                   6
sobretudo durante a noite. A descrição que o marceneiro faz do seu dia-a-dia leva a
crer que a televisão é um passatempo muito importante. «Todos os dias começo
relacionado com a televisão. Começo às 06h00 da manhã, quando não é mais cedo, e
ligo logo a televisão (…) Vejo e revejo as notícias porque a SIC Notícias está, de hora a
hora, a repetir. Quando acabam as notícias das 10 para as 8 é quando começa a
publicidade e eu saio de casa. Devo ver para aí umas quatro horas de televisão (…) Tem
a ver com a estação do ano. Por exemplo, no Inverno, sou capaz de ver sete ou oito
horas de televisão por dia. Enquanto no Verão não… Passeia-se mais», descreve Carlos,
que elege o canal Hollywood e a Eurosport como canais preferidos, a par da SIC
Notícias. Para Marta, a televisão funciona sobretudo como uma presença de fundo. «É
mais como uma companhia. Se estiver em casa, gosto de pôr um canal que esteja a

        Figura 4 - Irmãos disputam acesso ao computador. O mais novo acaba por sair em
        desvantagem e começa a chorar




ouvir. Se estou a passar a ferro ou se ando de um lado para o outro, para não estar a
fixar os olhos, tenho a televisão naqueles programas da tarde. É-me indiferente… Ou é
a SIC, ou a RTP, ou a quatro… Onde se esteja a ouvir a falar», explica, sublinhando que
para si tanto faz ter apenas os quatro canais, ou uma grelha mais variada de
possibilidades. Quanto às crianças, estas dividem-se entre a Playstation, o
computador, a Wii e a televisão. De acordo com Carlos, os filhos vêem mais televisão
ao fim-de-semana, durante a manhã. Apesar de terem televisão no quarto, esta só é
ligada para ajudar a adormecer.



                                                                                         7
No que respeita ao conhecimento, atitudes e expectativas em relação à TV digital,
houve claramente um elemento da família que se destacou por estar informado sobre
o tema. Carlos assumiu prontamente que já tinha ouvido falar em TV digital. «A ideia
que eu tenho é que é um formato diferente, que tem a capacidade de transportar mais
        Figura 5 – A família “Rosário” afirmou já ter ouvido falar em televisão digital, nos noticiários




informação. O que permite uma série de funcionalidades. No imediato, uma melhor
qualidade de imagem e de som. E depois uma série de funcionalidades que a TV
normal não permite», explicou. Todos os entrevistados afirmaram ter ouvido falar na
TV digital, mas só Carlos é que espontaneamente relacionou o termo com o «apagão».
A família explicou que ouviu falar do assunto no noticiário. Questionado sobre as
vantagens que este tipo de transmissão televisiva poderá trazer, Carlos voltou a
sublinhar que a TV digital traz funcionalidades que até agora não existiam. «Por
exemplo, utilizando o nosso cabo, a qualidade de imagem é notória. Permite-nos…
Mas isso não sei se terá exactamente a ver com o digital… Permite-nos a gravação, ver
o programa à hora que bem entender… Uma série de funcionalidades». Quanto às
desvantagens, Carlos apontou «a necessidade de adaptar o equipamento mais antigo»
e, consequentemente, «os custos», como o principal problema.
A família “Rosário” afirma ter televisão por cabo digital numa das televisões e explicou
que as restantes recebem o sinal através da box ligada a essa televisão, na sala. Carlos
afirma que a família não sente necessidade de ter uma box para cada televisão.
Quanto ao conhecimento sobre o desligamento do sinal analógico de TV (P21.), todos
afirmaram estar a par, mas apenas Carlos relacionou a questão com a palavra

                                                                                                           8
“apagão”. Apesar de não saberem o nome que se dá ao processo, nem a data-limite
para o “switch-off”, Carlos considerou que a mudança está «para breve». Quando lhe
foi pedido para apontar uma data específica, o nazareno respondeu: «Se não for este
ano (2010), é já para o ano (2011). Acho que está assim para perto».
Carlos teve de se ausentar da entrevista antes de esta terminar, por motivos de
trabalho, mas Adelaide continuou a responder às questões sobre a TV digital. A
professora considera que esta não é mais complicada de utilizar do que a televisão
analógica (P24.), não notando qualquer diferença a nível de utilização.
Quando não sabem como funciona um dado equipamento electrónico (P23.),
normalmente pai (João) e filha (Adelaide) recorrem às instruções e vão
experimentando possíveis soluções para os problemas. Adelaide realça que, por vezes,
é a internet que a auxilia, caso os equipamentos não tragam instruções. «Também nos
suportamos na net. Por exemplo, eles têm consolas e, no outro dia, eu não sabia do
manual das instruções da consola para sintonizar um comando e fui ver na net»,
descreveu. João acrescenta que os mais novos têm mais facilidade em lidar com novas
      Figura 6 – Os membros mais jovens da família “Rosário” prevêem usar cada vez mais o
      computador e menos a TV, enquanto os avós imaginam-se a ver mais televisão daqui a 5 anos




tecnologias, por isso, pedir ajuda aos filhos também é uma boa solução. «Vai-se
experimentando, vai-se à procura. E vai-se esperando que algum filho chegue a casa e
que comece a dominar (risos)».
Questionados sobre se verão mais ou menos televisão daqui a 5 anos, João considerou
que passará mais tempo em frente ao ecrã «de certeza absoluta». «Daqui a cinco anos
já tenho 65, já vou para a reforma e vou ter mais tempo livre», disse, acrescentando
                                                                                                  9
que apenas a familiarização com os computadores e a informática lhe permitiria
desligar-se mais da televisão. Pelo contrário, Adelaide acha que «a tendência até vai
ser o inverso»: ver cada vez menos televisão. «Acho que, por exemplo, há cinco anos,
via bem mais televisão do que vejo hoje e vou substituindo gradualmente. Porque o
pouco tempo livre que tenho vou ocupando com a leitura, com a pesquisa de alguma
coisa que precise, mesmo para o trabalho… Portanto, vou substituindo a televisão».
No que toca ao futuro da televisão, João prevê que esta seja «bem mais evoluída». «A
televisão daqui a dez anos é capaz de não se parecer com nada do que é hoje». Face à
possibilidade de a televisão passar a incorporar serviços de informação prática ligados,
por exemplo, à saúde e ao emprego, a família demonstrou-se receptiva, mas mantém
algumas dúvidas, sobretudo porque a internet e a comunicação interpessoal
sobressaem como as formas privilegiadas de obter este tipo de informação. «Esse tipo
de informação costumamos procurar na net (…) Eventualmente era interessante, mas
eu não sei se iria substituir a busca na net pela da televisão», refere Adelaide. «Acho
que isso era mais vantajoso para os grandes centros. Agora para a gente aqui, que
somos mais pequenos, é mais fácil a pessoa rapidamente saber por alguém», conclui
João.
                  Transcrição da entrevista semi-estruturada

I – Televisão: posse, usos, preferências e atitudes
P1. Quais os programas favoritos?

Carlos: Preferências não tenho… A única coisa que eu vejo mais é o noticiário.

Adelaide: Algumas séries…

Carlos: Sim…

Adelaide: Eu vejo o noticiário e algumas séries.

As séries são dos canais portugueses?

Adelaide: Não. São do AXN, da FOX…

João: Eu é essencialmente as notícias… É a SIC Notícias, que está sempre a dar. Em
termos de filmes, é o canal Hollywood, e as séries é o AXN, a FOX… Ah e também os
canais de desporto.

Francisco: Quando não estou a ver bonecos, vejo filmes…

                                                                                     10
P3. Que tipo de programas habitualmente vê?

Adelaide: Costumamos ver os da National Wild, da National Geographic.

Carlos: O único canal obrigatório cá em casa são as notícias.

Marta: Eu no meu local de trabalho tenho só os quatro canais. E como faço turnos,
durante a noite, vejo as séries para estar acordada. A uma certa altura, a SIC acaba de
dar as novelas e as séries do CSI e eu viro para a dois, para ver aquelas entrevistas e
assim…

Então para si, ter apenas os quatro canais ou o serviço de canais temáticos é a
mesma coisa?

Marta: Sim, para o João é que não é a mesma coisa, porque ele gosta de ver o
Hollywood.

João: E desporto. Aquele canal… A Eurosport. Porque há uma parte que é falada e
comentada em português. Quando isso acontece eu estou sempre a ver.

Gostava de ter mais programas legendados?

João: Sim. Sinto a falta de se perceber o que se está a passar.


P4. O que mais gosta de fazer nos tempos livres?

Carlos: O difícil é ter tempos livres… Mas quando arranjo um tempinho gosto de ler ou
de ligar a net.

Adelaide: Por acaso ia dizer que quando tenho tempo livre não é para a televisão.

João: A mim é um bocado… É um bocado para a televisão… Os meus tempos livres são
um bocado exíguos e depois têm que servir para ver tudo… Para ver um bocado de
notícias, um bocado de desporto… Também sou um bocado adverso às telenovelas.
Todas elas, sejam nacionais ou internacionais.

Marta: Eu gosto de ver uma novela… Uma.

Qual?

Marta: É na SIC. Só vejo essa, mas se não vir também não há problema. É à noite.

Então e como é que conjugam isso?

João: Quando ela chega a casa e eu estou com tempo para ver qualquer coisa, tenho
que mudar para a telenovela.

(risos)

Marta: Não… Não é assim. Já estás a dormir… É quase à meia-noite que a novela dá.
                                                                                    11
Adelaide: Nós aqui não temos desses problemas (risos).

P5. Conte como passa um dia normal de semana?

Carlos: Amanhã, por exemplo, vou pôr a Adelaide à escola às 08h00, venho levantar os
miúdos, pequeno-almoço, vestir, levá-los à escola… Normalmente quando regresso de
levá-los à escola, venho eu tomar o pequeno-almoço e consultar o e-mail. E depois
trabalho.

João: Eu todos os dias começo relacionado com a televisão. Começo os dias às 06h00
da manhã, quando não é mais cedo, acordo e ligo logo a televisão.

Vê as notícias logo de manhã…

João: Sim, vejo e revejo, porque a SIC Notícias está, de hora a hora, a repetir.

Adelaide: Nós aqui também. Quando venho para baixo, antes de sair, ligo a SIC
Notícias. Entre o tempo de eles tomarem o pequeno-almoço e preparar as coisas para
sair, vê-se.

João: Quando acabam as notícias das 10 para as oito, que é quando começa a
publicidade, é à hora que eu saio de casa. Trabalho, tenho o horário normal de almoço
e saio do trabalho, por volta das 18h30/19h00. E depois é isto assim. É um bocadinho
de convivência com a família depois do jantar… E daqui a bocadinho está-se a ver outra
vez a SIC Notícias.

Nunca substitui as notícias da televisão pelas da rádio?

João: Dificilmente. Também tenho um bocadinho de dependência da rádio, mas é
porque tenho uma oficina própria onde a rádio está sempre ligada.

Lá não tem televisão?

João: Não. É uma carpintaria/mercenária. Não posso ter mesmo televisão. E, muitas
vezes, a rádio está ligada e passam-se horas em que ninguém consegue ouvir o que ela
está a transmitir. A música ouve-se, porque consegue-se ouvir com umas colunas boas,
mas o noticiário nem sempre se consegue ouvir. É estranho chegar lá e a rádio estar
apagada. Porque a primeira coisa que o rapaz faz quando chega à oficina é ligar a
rádio.

E já experimentaram ouvir rádio através da televisão?

Carlos: Sim, mas é só quando há uma entrevista qualquer que me interessa ouvir. Não
tenho por hábito fazer isso.

Mas sabem como é que se faz…

Carlos: Ah sim, sim.

P7. Quantos dias por semana vê televisão (em média)?


                                                                                   12
Adelaide: Eu sinceramente acho que vemos pouca televisão. Ela acaba por estar
ligada, mas vemos pouco.

Mas a televisão está ligada todos os dias?

Adelaide: Sim, isso está.

P8. Quantas horas de televisão vê por dia (em média)?

Adelaide: Uma hora.

Carlos: Sim, uma hora.

João: Eu devo ver para aí umas quatro horas de televisão. Porque vejo-a
essencialmente durante a noite.

Marta: Eu se estiver em casa, gosto de pôr um canal que esteja a ouvir. Se estou a
passar a ferro ou se ando de um lado para o outro, para não estar a fixar os olhos,
tenho a televisão naqueles programas da tarde. É me indiferente… Ou é a SIC, ou a
RTP, ou a quatro… Onde se esteja a ouvir… A ouvir falar.

Então, tem a televisão ligada durante muitas horas. Não é? Enquanto está a fazer as
tarefas domésticas?

Marta: Tenho, sim. Mas não estou a ver. É mais como uma companhia.

P9. Vê mais ou menos TV ao fim-de-semana?

Carlos: Os miúdos vêem mais, da parte da manhã.

João: Tem a ver com a estação do ano. Eu, por exemplo, no Inverno, sou capaz de ver
sete ou oito horas de televisão por dia. Enquanto no Verão não… Como eu vivo muito
perto da marginal, a gente sai mais no Verão, todos os dias. Passeia-se mais. No
Inverno, como não estou habituado a sair, passo o dia a ver televisão.

P11. Onde vê mais televisão?

Carlos: Nós é aqui na sala. Temos televisão no quarto dos miúdos, para eles às vezes
verem um filme ao fim-de-semana, ou para adormecerem… Mas normalmente vemos
na televisão da sala.

E eles têm autorização para irem ver televisão para o quarto, quando quiserem?

Carlos: Sim. Mas normalmente, por hábito, ficam cá em baixo. Mas se, por acaso, está
a chegar às 22h00 e eles estão muito alerta, eu mando-os para o quarto, eles vêem
qualquer coisa na televisão e adormecem.

                                                                                 13
João: Connosco é dividido. Muitas vezes, vemos uma parte da televisão no quarto e
outra parte na sala. Muitas vezes, está-se a ver qualquer coisa na sala, chega a hora de
deitar e continua-se a ver no quarto.

Adelaide: Nós, por exemplo, temos televisão no quarto, mas nem costumamos
acender.

P10. Vê mais televisão sozinho/a ou com companhia?

Carlos: Normalmente sentamo-nos para ver televisão. O que é obrigatório é o
noticiário e aí estamos à mesa. Aí sim é obrigatório e vemos em conjunto. Depois só se
for sentarmo-nos um bocadinho depois do jantar, a conversar um bocadinho.

Adelaide: Sim, e a ver qualquer coisa interessante…

E sozinhos? Têm o hábito de ver algum programa sozinhos?

Carlos: Não. Por exemplo, eu se vier para casa sozinho nem sequer ligo a televisão.
Estou ali no computador…

João: Eu gosto de ver sozinho. Até gosto mais de ver televisão sozinho. Acompanhado
sinto-me distraído. Talvez seja também por ser muitos anos a ver televisão. Mas é
assim, eu se estiver a ver um filme a meu gosto e tiver alguém que me distraia, perco
um bocado o gosto. E com o futebol é a mesma coisa. Gosto de ver, no máximo, com a
família. Não sou capaz de ver um jogo de futebol no café ou numa esplanada… Não
consigo concentrar-me a ver. Perco o interesse.

P12. (família) Quantos televisores têm em casa? Em que divisões? (Quantas divisões
tem a casa?)

Adelaide: Cinco. Nos três quartos, na sala e na cozinha. O do nosso quarto nunca é
ligado, o da cozinha muito raramente… E os quartos é quando os miúdos vão ver.

Carlos: Também temos cinco porque entretanto fomos reformando os televisores
velhos e pondo outros mais novos.

João: Nós temos quatro televisões.

P13. (família) Quando compraram o último televisor?

Adelaide: Em Agosto ou Junho de 2010.

Então foi há relativamente pouco tempo…

Adelaide: Sim.


                                                                                     14
P14. (família) Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses?

Carlos: Não.

P15. Usa teletexto? Em caso positivo, que tipo de informação procura?

Carlos: Eu uso com pouca frequência. Só se for para ir à procura de alguma
informação…

E que tipo de informação procura?

Carlos: Normalmente é para ver a programação da televisão, porque para outro tipo
de informação vou à net.

João: Nós raramente usamos.

II – TV digital: conhecimento, atitudes e expectativas
P16. Já ouviu falar de TV digital?

João acena com a cabeça afirmativamente.

Que ideia é que têm do que é a televisão digital?

Carlos: A ideia que eu tenho é que é um formato diferente, que tem a capacidade de
transportar muito mais informação. O que permite uma série de funcionalidades. No
imediato, uma melhor qualidade de imagem e de som. E depois uma série de
funcionalidades que a TV normal não permite.

Todos já tinham ouvido falar?

Sim.

Carlos: No “apagão” (risos).

Onde é que ouviram falar? Na televisão?

Carlos: Sim, no noticiário.

O Carlos já respondeu um pouco a esta questão, mas vamos colocá-la na mesma
porque podem surgir outras ideias. Que vantagens é que associam à TV digital?

Carlos: Por exemplo, utilizando o nosso cabo, a qualidade de imagem é notória.
Permite-nos… Mas isso não sei se terá exactamente a ver com o digital… Permite-nos a
gravação, ver o programa à hora que eu bem entender… Uma série de
funcionalidades…


                                                                                 15
O serviço de Pausa TV, a rádio… Não é?

Carlos: Exacto.

P18. Que desvantagens associa à TV digital?

Carlos: A haver desvantagem, será a necessidade de adaptar o equipamento mais
antigo. O que também envolve custos…

Mais alguma?

Carlos: Não sei… Assim, honestamente, nunca pensei que desvantagens é que me
traria a TV digital.

E têm televisão digital aqui em casa?

Carlos: Nós temos digital, sim. Este sinal que recebemos é digital. Temos Cabovisão.

Em todas as televisões da casa?

Carlos: Não. Temos só na sala. Nas outras temos o sinal analógico por cabo.

Têm algum motivo especial para não terem televisão digital nas outras televisões?

Carlos: Não… Não há motivo nenhum em particular. Eu presumo – e agora estou a
falar um bocadinho de cor – que nós temos digital, porque esta caixa é digital. Mas não
sei… Porque o sinal que nós recebemos aqui é o mesmo sinal que é distribuído pelo
resto da casa. Nós temos é a caixa aqui.

Estão a pensar em colocar televisão digital nas outras televisões?

Carlos: Não. Não se coloca essa necessidade.

P21. O sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos, vai ser desligado -
sabia?

Carlos: Sim.

Adelaide: Sim, sabíamos.

Carlos: O “apagão”.

Sabem qual é o nome que se dá ao processo?

Carlos: Não…


                                                                                       16
P24. Quando é essa data-limite: tem ideia?

Carlos: Acho que está para breve. Não está?

Podem apontar um ano?

Carlos: Se não for este ano, é já para o ano. Acho que está assim para perto. Não está?

É sucintamente explicado o processo de desligamento do sinal analógico de
televisão.

(Carlos tem de abandonar a entrevista para ir trabalhar)

P24. Instalar e usar TV digital é mais complicado que a TV analógica, em sua opinião?

Adelaide: Acho que não.

Não sente nenhuma diferença a nível de utilização?

Adelaide: Não…

P23. Quando não sabe como funciona um dado equipamento electrónico, como
resolve a situação?

Adelaide: Ou por experimentação ou, se houver possibilidade de haver instruções,
consultar. Mas normalmente é por experimentação. Nós aqui, por exemplo, a nível das
gravações, foi o que fizemos. Fomos experimentando e a ver como é que funcionava.

E o João, em sua casa, como é que faz?

João: Se houver alguma indicação, nas instruções, tudo bem. Senão vai-se tentando.

Adelaide: E eu agora estava-me a lembrar que, às vezes, também nos suportamos na
net. Estava-me a lembrar porque, por exemplo, eles têm consolas e no outro dia eu
não sabia do manual de instruções da consola para sintonizar um comando e fui ver na
net.

João: Vai-se experimentar, vai-se à procura. E vai-se esperando que algum filho chegue
a casa e que comece a dominar (risos). Eles estão mais virados para estas novas
tecnologias.

P32. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do
que vê hoje em dia?

João: Se for vivo, de certeza absoluta que vou ver mais televisão.


                                                                                     17
Porquê?

João: Porque daqui a cinco anos já tenho 65 anos, já vou para a reforma e vou ter
portanto mais tempo livre (risos).

Adelaide: Eu acho que não. Acho que a tendência, se calhar, é até ser o inverso.

Acha que vai ter outros interesses?

Adelaide: Sim, porque eu acho que, por exemplo, há cinco anos atrás, via bem mais
televisão do que vejo hoje e vou substituindo gradualmente. Porque o pouco tempo
livre que tenho vou ocupando com a leitura, com a pesquisa de alguma coisa que
precise, mesmo para o trabalho… Portanto, vou substituindo a televisão.

P33. Como imaginam que a televisão venha a ser daqui a 10 anos?

João: Será, de certeza, bem mais evoluída. A televisão daqui a dez anos é capaz de não
se parecer com nada do que é hoje. É capaz de ser mais evoluída. A minha filha tocou
agora numa situação que é eu ver muito mais televisão do que via há uns anos atrás,
mas se, por exemplo, eu tenho seguido a evolução do manuseamento dos
computadores, se calhar hoje não via tanta televisão. Estava mais ao computador.

Mas ainda vai a tempo de se dedicar ao computador…

Adelaide: É! A gente vai pô-lo a experimentar.

João: Já tenho experimentado uns cursozitos, mas eles nos cursos nunca ensinam tudo
o que a gente quer. Mas isto também tem a ver com a idade, porque eu quando tinha
a vossa idade ia à procura do desconhecido e tentava saber, tentava conhecer… E com
a passagem dos anos, para mim, isso perdeu um bocadinho o interesse. Porque, se não
fosse isso, se calhar não estaria a ver tanta televisão como vejo hoje.

Outro tipo de serviços, como poderem procurar qual é a farmácia de serviço através
da televisão, ou outros serviços de informação útil… O que é que gostavam de poder
fazer através da televisão?

Adelaide: Por acaso nunca tinha pensado nisso, porque normalmente esse tipo de
informação costumamos procurar na net.

Acha que seria interessante ter serviços de procura de emprego, ou serviços ligados à
saúde na televisão?

Adelaide: Eventualmente sim. Mas, por exemplo, no meu caso, não sei se iria
substituir a busca na net pela da televisão.



                                                                                   18
João: Acho que isso era mais vantajoso para os grandes centros. Agora para a gente
aqui, que somos mais pequenos é mais fácil a pessoa rapidamente saber por alguém.

E se a televisão trouxesse agora um canal extra gratuito? Acham que seria
importante ou não iria trazer nada de proveitoso?

João: Acho que era mais um…

Como já têm tantos canais, não iria fazer a diferença…

Adelaide: Exacto.

Apesar de terem muitos equipamentos de entretenimento, fazem um esforço para
terem momentos em família, em que não “ligam” aos media…

Adelaide: Sim, principalmente à hora do jantar.

João: Eu disse que via uma média de 6 horas de televisão, mas são horas nocturnas,
em que eu estou meio a dormir, meio a ver televisão. Vejo metade, adormeço outra
metade e depois tenho que esperar para ver o resto do que não vi…


Caracterização de cada indivíduo da família

P36. Idade
Adelaide: 33 anos
Carlos: 37 anos.
Crianças: 8, 4 e 2 anos.
João: 59 anos.
Marta: 53 anos.
P37. Localidade de residência/ Concelho de residência/ Distrito de residência
Nazaré.
P38. Ocupação e Profissão
Adelaide: Professora.
Carlos: Gerente de um bar.
João: Marceneiro.
Marta: Auxiliar de Acção Educativa.
P39. Habilitações académicas
Adelaide: Licenciatura.
Carlos: 12º ano. Está a frequentar uma licenciatura.
João: 4º ano.
Marta: 9º ano.
P41. Nº de pessoas no agregado familiar
Estavam dois agregados familiares presentes na entrevista. O de Adelaide e Carlos,
com os três filhos (cinco pessoas) e o de João e Marta, com os dois filhos mais novos
(quatro pessoas).
                                                                                        19
P42. Uso de telemóvel (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de
competência?)
Todos usam telemóvel, há mais de dez anos.
P43. Uso de computador (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de
competência?)
Em casa de Adelaide e Carlos todos usam o computador, há cerca de 9 anos (até
mesmo as crianças). Em casa de João e Marta, os dois filhos usam o computador e João
afirma que está a esforçar-se por aprender a usar.
P44. Uso de internet (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de
competência?)
Os dois agregados familiares têm internet em casa há cerca de nove anos. Em casa de
João e Marta, só os filhos é que usam a internet.
P45. Equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal (rádio, VCR, DVD, etc)
Playstation, Wii, leitor de DVDs, rádio, leitor de CDs.




                                                                                 20
Relatório da visita a casa da família 2 (“Sobral”)
17 de Setembro de 2010
Nazaré


José (pai): 68 anos, reformado.
Beatriz (mãe): 60 anos, gerente de loja.
Laura (irmã): 70 anos, reformada.


Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-
estruturada realizada em casa da família “Sobral”, da Nazaré, no dia 17 de Setembro
de 2010.
A família “Sobral” é composta por três pessoas: o casal José e Beatriz, de 68 e 60 anos,
e a irmã de José, Laura, de 70 anos. José e Beatriz têm três filhos, de 22, 37 e 38 anos,
mas nenhum deles estava em casa no momento da entrevista, até porque já não
habitam na vila, regressando apenas nalguns fins-de-semana. A visita teve início pelas
23h00 e durou cerca de 1 hora e 15 minutos.
O casal “Sobral” passa grande parte do dia a trabalhar no supermercado do qual é
       Figura 1 – Beatriz, de 60 anos, tem pouco tempo livre. Quando não está no supermercado
       de que é proprietária, aproveita para adiantar as tarefas domésticas e consegue ver um
       pouco de televisão ao mesmo tempo.




proprietário. Neste momento, é Beatriz que faz a maior parte da gestão da loja e, por
isso, sobra-lhe pouco tempo para o lazer. Nos tempos livres, Beatriz acaba por

                                                                                                21
aproveitar para fazer tarefas domésticas. No dia da entrevista, esteve num dos
quartos, a passar a ferro, enquanto espreitava a programação na TV. Na verdade, esta
imagem representa bem os hábitos de Beatriz relativamente à televisão. A lojista
raramente está em frente ao ecrã, sem fazer outra coisa ao mesmo tempo. Quando
acontece, geralmente o cansaço fala mais alto e Beatriz acaba por adormecer. Ainda
assim, a nazarena revela que entre os seus programas de eleição estão “o Malato
(Quem quer ser milionário), e uma ou outra telenovela, que afirma nunca seguir ao
pormenor. No caso de José, a televisão ocupa um espaço muito mais relevante na
rotina. Enquanto a esposa não assiste a mais de uma hora de televisão por dia, José
afirma ver cerca de duas horas de TV diariamente. No entanto, Laura garante que o
irmão está sempre a ver televisão. Efectivamente, José liga a televisão logo pela
manhã, quando acorda, para se manter a par do que se passa no mundo. Depois, os
programas de entretenimento da manhã servem «para estar em fundo» e só se algum
tema lhe despertar interesse, segue a história com atenção. Mais tarde, quando vai
para a loja, José mantém a televisão ligada, mas diz que dificilmente presta atenção ao
que está a emitir. De facto, José gostaria de ter a oportunidade de ver mais os
programas de que gosta. Para além da falta de tempo, as questões técnicas impõem-se
na hora de ver os programas favoritos. «Há programas como o National Geographic, o
Odisseia, que eu tenho muita pena de não ver, porque gosto imenso deles. Mas esta
televisão não está bem sintonizada com alguns programas desses», explica. José
sublinha que outro dos motivos para ligar a TV é o futebol. «Gosto de ver futebol, mas
não sou doente pelo futebol. Ultimamente até tenho ido ao café, porque deixei de ter
a Sport TV», conta. Já a irmã, Laura, de 70 anos, admite que é quem vê mais televisão
na família: cerca de quatro horas diárias. No topo das suas preferências, estão os
programas de humor. Ultimamente vê sem falhar o programa Cinco para a Meia-Noite,
rejeitando a ideia de que este “talk show” interessa apenas aos jovens.
A família “Sobral” tem três televisões em casa e normalmente vê mais televisão na sala
de estar. Quanto às funcionalidades da televisão, José e Laura explicam que nunca
sentiram necessidade de utilizar o teletexto, nem sabiam como fazê-lo. No entanto,
José considera que um serviço como o teletexto pode ser bastante útil a partir do
momento em que se aprende a funcionar com ele. «Nunca percebi… Não é que não

                                                                                    22
tenha o seu interesse, para a gente ver aquilo que vai dar. Vermos os programas
antecipadamente. Mas eu não consulto porque nunca me ensinaram a mexer nisso (…)
Há muitas coisas destes comandos, que às vezes aparecem ali e ninguém sabe fazer.
Eu nunca fui ensinado e também nunca me preocupei muito em procurar saber. Mas
que tem interesse, tem», considera.
No que respeita ao conhecimento, atitudes e expectativas em relação à TV digital, foi
José o membro da família que demonstrou ter mais noções sobre o tema. Questionado

       Figura 2 - Laura, de 70 anos, vê cerca de quatro horas de televisão, sobretudo à noite. Um dos
       seus programas preferidos é o Cinco para a Meia-Noite, da RTP2.




sobre se já ouviu falar em TV digital, José respondeu afirmativamente, acrescentando
de imediato que esta é uma tecnologia já em utilização e que ainda só lhe conhece
uma vantagem. «Já ouvi falar. Já está em funcionamento… Mas tirando a qualidade da
imagem, não sei o qual é o benefício que traz», comenta. Quanto às desvantagens
deste tipo de transmissão, José diz não conhecer o suficiente sobre ela para lhe
apontar pontos fracos. Por sua vez, Laura reporta para a questão dos preços. «É
conforme o custo dela…», avisa.
Em casa dos Sobral, há televisão por cabo. Questionados sobre os motivos que
levaram a família a pagar uma assinatura de televisão, os Sobral discordam. Enquanto
Laura considera que a família precisava de ter uma grelha de canais mais alargada,
José conclui que não necessitava de mais do que quatro canais. «Bem vistas as coisas,
eu não precisava de mais de quatro canais. Eu continuo a usar os canais portugueses.
Não quer dizer com isso, que não tragam vantagens aqueles que eu não vejo. Gostaria

                                                                                                        23
de ver. Ainda não vejo porque há alguns que não estão sintonizados e precisava de
trazer aqui uma pessoa não para desfazer o que está, mas para organizar os canais. A
gente fica sempre com a impressão de que são poucos os quatro canais. Mas, quando
nós olhamos para trás, vemos que, na maioria dos casos, nós só usamos os quatro
canais. Se me perguntarem o que é que eu vi ontem, ou no resto dos dias, foi os
quatro canais», reflecte.
No que toca ao conhecimento acerca do “switch-off”, José afirmou estar a par do
processo. Apesar de não conhecer a data-limite para o “apagão”, o lojista suspeita que
«não vai estar muito tempo sem isso acontecer», acreditando que desligarão o sinal

       Figura 3 - A família “Sobral” não precisa de se preocupar em adaptar as suas televisões, pois
       tem um serviço de televisão paga. No entanto, José estava a par do apagão analógico.




ainda em 2011. Por sua vez, Laura admitiu já ter ouvido falar, «mas não ligou» ao
assunto.
A família “Sobral” não prevê que as suas rotinas relativamente à televisão mudem nos
próximos cinco anos. Laura imagina que passará o mesmo tempo em frente ao ecrã, e
José demonstra-se sem opinião sobre o assunto. A verdade é que, de acordo com estes
irmãos, a televisão seria muito mais interessante se apostasse nos conteúdos mais
ligados à cultura e ao espectáculo. Para José, regressar aos tempos do teatro na
televisão tornaria a programação mais apelativa. «Gostava que houvesse teatro na
televisão, como antigamente. Os teatros na televisão eram muito bonitos», sugere.
Por fim, a partir da questão “Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10
anos?”, José anteviu televisores cada vez mais finos, com mais qualidade e ao mesmo

                                                                                                       24
preço que os televisores tradicionais. «Ultimamente, a tendência tem sido aparelhos
fininhos. E estou convencido de que não vamos sair daí. Este televisor (aponta para o
seu televisor da sala) pesa 70 quilos. Têm que ser dois homens com força para o
transportar. De maneira que temos que esperar que venham outras coisas mais leves.
Estou convencido de que será esse o caminho. Não os vejo agora a voltarem outra vez
atrás. Quanto ao custo que podia impedir as pessoas de comprar, o plasma já está
quase ao mesmo preço do que um televisor vulgar. Aparelhos plasma, que ninguém
pensava poder comprar há uns anos atrás, estão ao mesmo preço que um televisor
normal. O caminho é serem mais leves, ao mesmo preço», prevê.




                  Transcrição da entrevista semi-estruturada

I – Televisão: posse, usos, preferências e atitudes
P1. Quais os programas favoritos?
Laura: Todos (risos). A partir das notícias, a minha preferência não é assim muito
grande. Gosto de coisas cómicas, gosto de um bom programa de fado… Gosto de
notícias na televisão, que me deixem mais esclarecida, entrevistas…

Laura assiste também diariamente ao programa “5 para a meia-noite”, da RTP2. Este
é um dos seus programas preferidos no momento.

Então vê mais programas portugueses ou também vê coisas estrangeiras?
Laura: Mas o que é que eu percebo de estrangeiro?
Programas que tenham legendas…
Laura: Com legendas sim. Vejo, mas não tenho assim muito tempo nem disposição
para estar a ver um filme, por exemplo. Não tenho paciência para ver a mesma série,
do princípio ao fim.
E a Beatriz?
Beatriz: Gosto de ver o programa do Malato.
Laura: Ah esse programa está muito interessante…
Beatriz: Gosto de ver uma novela… Vejo uns bocadinhos de vez em quando, mas não
vejo ao pormenor.
E o José?
Beatriz: O futebol…
José: Eu agora não me lembro quais são, mas gosto de muitos programas. Gosto de ver
futebol, mas não sou doente pelo futebol. Ultimamente até tenho ido ao café, porque
deixei de ter a Sport TV. Depois há programas como o National Geographic, o Odisseia,
que eu tenho muita pena de não ver, porque gosto imenso deles. Mas esta televisão
não está bem sintonizada com alguns programas desses.
P4. O que mais gosta de fazer nos tempos livres?
                                                                                     25
Beatriz: Eu nunca tenho tempo livre, estou sempre a trabalhar.

José: Não há tempos livres.

Mas quando têm um tempinho livre, o que fazem?

José: Vamos à Pederneira.

P7. Quantos dias por semana vê televisão (em média)?

José: Todos.

Beatriz: Todos.

Laura: Todos

P8. Quantas horas de televisão vê por dia (em média)?

Laura: Não sei. É incerto…

Cinco ou seis horas de TV por dia?

Laura: Eia não… Acho que não.

Quatro horas?

Laura: Talvez. Por aí…

E o senhor José?

Laura: Ele está sempre a ver televisão (risos).

José: Eu vejo televisão quando acordo, aí às 08h00/08h30. Gosto de pôr logo a
televisão a trabalhar para ver o que se passa no mundo. Depois vêm as notícias. Depois
sou capaz de adormecer um bocadinho. Hoje adormeci um bocadinho mais do que a
conta. Quando me levantei, era já tarde. Depois também vejo um bocado do programa
da manhã da RTP, umas vezes com atenção, outras só para estar em fundo. Vou-me
interessando por aquilo que eles às vezes lá põem.

Então quantas horas vê de televisão por dia? Quatro horas?

José: Não. Duas horas. Não vou dizer que quando vou para baixo, a televisão não está
ligada. Mas não estou com a mesma atenção. Está a televisão a trabalhar, e quando
vejo que há alguma coisa que me interessa, chego-me ao pé. Quando não interessa,
recuo.

E ao fim-de-semana?

José: Ao fim-de-semana é a mesma coisa.

Beatriz diz que nunca tem tempo para si, está sempre a trabalhar. Por isso, também
não tem tempo para a televisão.

                                                                                   26
P10. Vê mais televisão sozinho/a ou com companhia?

Laura: É quase sempre sozinhos… A maioria do tempo… A gente tem que se
desenvencilhar.

Vira-se para o irmão

Laura: Então e tu não gostas do “5 para a meia-noite”?

José: Já tenho visto… Não é nada do outro mundo.

Laura: É engraçado.

P10. Vê mais televisão sozinho/a ou com companhia?

José: É-me indiferente.

P11. Onde vê mais televisão?

José: É aqui (na sala).

P12. (família) Quantos televisores têm em casa? Em que divisões? (Quantas divisões
tem a casa?)

Laura: Três. Na sala e em dois quartos.

P13. (família) Quando compraram o último televisor?

Laura: Há cerca de cinco anos.

P14. (família) Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses?

Laura: A ver se não…

José: Eu quero ver se sim. Eu preciso de uma televisão maiorzinha para o meu quarto.
E eu compre duas, aqui há tempo, para as minhas filhas e têm o tamanho ideal.

P15. Usa teletexto? Em caso positivo, que tipo de informação procura?

Laura: Não.

José: Não. Nunca percebi… Não é que não tenha o seu interesse, para a gente ver
aquilo que vai dar. Vermos os programas antecipadamente. Mas eu não consulto
porque nunca me ensinaram a mexer nisso.

Laura: Nunca foi preciso…

José: Há muitas coisas destes comandos, que às vezes aparecem ali e ninguém sabe
fazer. Eu nunca fui ensinado e também nunca me preocupei muito em procurar saber.
Mas que tem interesse, tem.

II – TV digital: conhecimento, atitudes e expectativas
P16. Já ouviu falar de TV digital?

                                                                                   27
José: Já ouvi falar. Já está em funcionamento… Mas tirando a qualidade da imagem,
não sei o qual é o benefício que traz.

Portanto, a única vantagem que conhecem da TV digital, é o facto de trazer melhor
qualidade de imagem. Certo?

José: Sim, sim.

P18. Que desvantagens associa à TV digital?

José: Também não conheço o suficiente para saber se há desvantagens.

Laura: É conforme o custo dela…

Tem televisão digital aqui em sua casa?

Laura: Não…

José: É capaz… Aqui em casa… Essa é uma boa pergunta. Eu não sei se esta tem ou não
tem, mas é capaz de não ter.

P19. (família) Que tipo de TV tem em casa?

José: Temos Cabovisão.

Porque é que têm este serviço de televisão paga?

José: Bem vistas as coisas, eu não precisava de mais de quatro canais.

Laura: Precisavas…

José: Eu continuo a usar os canais portugueses. Não quer dizer com isso, que não
tragam vantagens aqueles que eu não vejo. Gostaria de ver. Ainda não vejo porque há
alguns que não estão sintonizados e precisava de trazer aqui uma pessoa não para
desfazer o que está, mas para organizar os canais. A gente fica sempre com a
impressão de que são poucos os quatro canais. Mas, quando nós olhamos para trás,
vemos que, na maioria dos casos, nós só usamos os quatro canais. Se me perguntarem
o que é que eu vi ontem, ou no resto dos dias, foi os quatro canais.

P21. O sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos, vai ser desligado -
sabia?

José: Sei, sei.

P22. Quando é essa data-limite: tem ideia?

José: Não sei. Isso não perguntei.

Sabem se será este ano, para o ano, daqui a vinte anos?

José: Não, não. Estou convencido de que será daqui a um ano ou assim.

Em 2011?
                                                                                     28
José: Julgo que sim. Acho que não vai estar muito tempo sem isso acontecer.

E sabem como se chama esse processo?

Laura: Eu já ouvi falar, mas não liguei.

É sucintamente explicado o “switch-off”

P32. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do
que vê hoje em dia?

José: Não sei.

Laura: Eu sou capaz de ver a mesma coisa.

P31. O que gostaria de ver / aceder através da TV digital?

José: Em termos de conteúdos, gostava que houvesse teatro na televisão, como
antigamente. Os teatros na televisão eram muito bonitos.

Laura: Sim, era muito interessante!

P33. Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10 anos?

José: Ultimamente, a tendência tem sido aparelhos fininhos. E estou convencido de
que não vamos sair daí. Este televisor (aponta para o seu televisor da sala) pesa 70
quilos. Têm que ser dois homens com força para o transportar. De maneira que temos
que esperar que venham outras coisas mais leves. Estou convencido de que será esse o
caminho. Não os vejo agora a voltarem outra vez atrás. Quanto ao custo que podia
impedir as pessoas de comprar, o plasma já está quase ao mesmo preço do que um
televisor vulgar. Aparelhos plasma, que ninguém pensava poder comprar há uns anos
atrás, estão ao mesmo preço que um televisor normal. O caminho é serem mais leves,
ao mesmo preço.

Caracterização de cada indivíduo da família

P36. Idade
José: 68 anos.
Beatriz: 60 anos.
Laura: 70 anos.
P37. Localidade de residência/ Concelho de residência/ Distrito de residência
Nazaré
P38. Ocupação e Profissão
José: reformado.
Laura: reformada.
Beatriz: gerente de loja.
P39. Habilitações académicas
José: 4ª classe.
Laura: 4ª classe.

                                                                                  29
Laura: 4ª classe.
P41. Nº de pessoas no agregado familiar
Quatro pessoas.
P42. Uso de telemóvel (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de
competência?)
José: Usa de vez em quando. Há seis meses.
Laura: Sim. Há dois ou três anos.
P43. Uso de computador (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de
competência?)
Não usam.
P44. Uso de internet (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de
competência?)
Não usam.
P45. Equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal (rádio, VCR, DVD, etc)
Rádio, VCR, DVD.




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Relatório da visita a casa da família 3 (“Roda”)
11-10-2010
Famalicão, Nazaré


Margarida (mãe): 35 anos, auxiliar de Acção Educativa.
Jacinto (pai): 40 anos, pedreiro.
Célia (filha): 20 anos, doméstica.
Sandra (filha): 18 anos, doméstica.
Fátima (filha): 15 anos, estudante.
Henrique (filho): 14 anos, estudante.


Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-
estruturada realizada em casa da família “Roda”, residente em Famalicão, no concelho
da Nazaré, no dia 11 de Outubro de 2010.
A família “Roda” é composta por 8 elementos: um casal com cinco filhos – quatro
raparigas e um rapaz – e um neto recém-nascido. A mãe tem 35 anos e o pai 40. As
raparigas têm 20, 18, 15 anos e 19 meses e o rapaz tem 14 anos. Margarida é auxiliar
de acção educativa e o marido pedreiro. As filhas de 20 e 18 anos já não estudam e são
domésticas.


       Figura 1 – O televisor na sala da família “Roda” foi encontrado pelo pai, que o mandou
       arranjar e o levou para casa




                                                                                                31
Figura 2 – A mãe, Margarida, aproveita os tempos-livres para trabalhar em casa, remodelando
       o quarto de uma das filhas




A visita teve início às 18h00 e durou cerca de 40 minutos. A televisão tem lugar central
na sala desta família. Entre alguma confusão decorrente dos trabalhos de remodelação
da casa, que a própria Margarida leva a cabo, a televisão está acesa, com som, mas
ninguém está a ver. Célia, de 20 anos, cuida da filha recém-nascida num dos quartos e
a irmã Sandra faz-lhe companhia. Só mais tarde vão para a sala ver um pouco de
       Figura 3 – Célia teve um filho há pouco tempo e passa muitas horas em frente ao ecrã. As
       telenovelas são o seu género televisivo de eleição




televisão. Célia senta-se no sofá com o bebé ao colo e assiste ao novo programa da
Fátima Lopes, na TVI. A irmã Sandra junta-se a ela e divide a atenção entre o televisor
e a sua irmã mais nova, de 19 meses, com quem vai brincando. Mais tarde, mudam de
canal, de forma a poderem ver a novela brasileira que têm seguido, na SIC, ao fim da
tarde. Margarida está ocupada com as tarefas domésticas e não se interessa pelo que

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passa na TV. O único televisor da casa está na sala há cerca de cinco meses. O marido
de Margarida encontrou-o e mandou arranjá-lo. A família recebe mais de quatro
canais, mas não pagam assinatura. Margarida não sabe «se é TV Cabo ou Cabovisão».
Na entrevista, não estiveram presentes o pai, de 40 anos, nem o filho de 14 anos. Este
último é o único elemento da família que passa mais tempo ao computador do que a
ver televisão. De acordo com a mãe, o jovem entretém-se a “jogar”. Entre as
entrevistadas, Célia e Sandra passam a maior parte do dia em casa pois já não estudam
e não estão empregadas. Sandra, de 18 anos, explica que para além das tarefas
domésticas, vê “mais de cinco horas por dia” de televisão, elegendo as telenovelas, as
       Figura 4 – Sandra, de 18 anos, está desempregada e, no tempo que sobra das tarefas
       domésticas, vê TV, sobretudo telenovelas e programas da MTV




séries e os programas da MTV como os seus predilectos. Só o domingo difere do resto
da semana, pois Sandra prefere “sair” a ver televisão. Normalmente “irmãos e primos”
vêem televisão juntos, já que há apenas um televisor na casa. É unânime que nenhuma
rapariga na casa gosta de ver programas sobre desporto. Célia vê “novelas e algumas
séries” e, tal como a irmã Sandra, passa grande parte do dia em frente ao ecrã. Já
Fátima, que ainda estuda, vê menos televisão do que as irmãs, não ultrapassando as
cinco horas diárias. A jovem de 15 anos prefere ver a «SIC, a SIC Mulher, a MTV e a
MTV Portugal», não perdendo os programas sobre «moda e remodelação de casas». Já
a matriarca, Margarida, gosta de ver as telenovelas e séries do canal AXN. «Vejo umas
quatro ou cinco horas de TV por dia. Chego do trabalho às 17h00, faço o jantar, mas
costumo ver a novela das 19h00 às 20h00 e depois vou-me deitar». Desde que tem a

                                                                                            33
nova televisão, não usa o teletexto. «Eu usava muito, mas como esta televisão não tem
comando… O comando que usamos é o da TV Cabo e não tem teletexto».
       Figura 5 – A mãe, Margarida, explica que a família só tem o comando da TV Cabo, por isso,
       não consegue aceder ao teletexto, um serviço que antigamente utilizava




Quando questionadas acerca da televisão digital (P16. “Já ouviu falar da TV digital?”),
apenas Margarida e Fátima respondem afirmativamente. Margarida diz ter ouvido
mencionar o assunto no telejornal, enquanto Fátima explica que o que vê é «em casa
das amigas». No entanto, nenhuma conseguiu mencionar vantagens ou desvantagens
desta tecnologia. Célia e Sandra afirmaram que nunca ouviram falar em TV digital e
nenhuma das entrevistadas estava a par do desligamento do sinal, nem faziam ideia da
data-limite deste processo. Margarida demonstrou saber vagamente o que as pessoas
sem TV digital têm que fazer para continuarem a receber os quatro canais gratuitos de
TV em casa: «Ouvi falar que tem que se comprar um aparelho para adaptar à
televisão». Fátima «não fazia ideia». Nenhuma das entrevistadas conhecia os custos
envolvidos para quem não tem TV Digital continuar a ter TV em casa. Questionada
sobre «quanto estaria disposta a pagar para continuar a ter TV», Margarida referiu,
rindo-se: «Alguma coisa vai ter que se pagar… Nunca dão nada de graça».
Margarida considera que, daqui a 5 anos, vai ver menos televisão do que actualmente.
«Cada vez temos que trabalhar mais para ter alguma coisa (risos). E os programas
começam a ser desinteressantes. Estão a repetir muito os programas e uma pessoa
começa a perder o interesse na televisão por isso», explica. Fátima partilha da mesma
opinião. «São sempre os mesmos programas, sempre a mesma coisa. Torna-se

                                                                                                   34
repetitivo». Ao ouvir falar de serviços interactivos como a possibilidade de ver quais são
as farmácias de serviço na sua zona ou de procurar emprego através da televisão, a mãe
olha para a filha Sandra e acena com a cabeça dizendo que “sim”, é útil. «A pessoa não
ter que sair de casa para ir à procura de emprego ou saber onde está uma farmácia onde
possa ir buscar um medicamento era muito bom». Por outro lado, há serviços que a
televisão permite que não são alheios a esta família, como a rádio. Margarida explica que
ouve «muitas vezes» rádio através da televisão porque gosta de ouvir a RDP África. Por
fim, as entrevistadas têm dificuldade em expressar a forma como imaginam a televisão
daqui a 10 anos e apenas Margarida lança algumas ideias, considerando que «o aparelho
vai ser mais fininho, mas cada vez maior».


                 Transcrição da entrevista semi-estruturada


P1. Quais os programas favoritos?

Margarida (mãe): Novelas e séries do AXN.

Célia (filha): Também gosto de ver novelas e algumas séries. A novela é a da SIC,
“Caras e Bocas”.

Sandra (filha): Vejo as mesmas coisas e também gosto de ouvir música na televisão
(MTV). Mas o que vejo mais é a telenovela e filmes. A minha série preferida é o CSI.

Fátima (filha): Vejo a SIC, a SIC Mulher, a MTV e a MTV Portugal. Na SIC Mulher vejo
programas de moda, remodelação de casas…

P2. Quais os programas dos quais não gosta?

Margarida: Futebol (risos)

Fátima: Programas de desporto.

P4. O que mais gosta de fazer nos tempos livres? Usa o computador?

Sandra: Uso o computador dos meus irmãos.

Margarida: Elas vêm mais televisão do que usam o computador, mas o irmão usa mais
o computador do que a televisão, para jogar e ouvir música.

P5. Conte como passa um dia normal de semana?

Sandra: De manhã estou em casa, limpo as coisas, faço o almoço para o meu irmão,
depois vou buscar a minha mãe. É sempre assim.
                                                                                    35
P7. Quantos dias por semana vê televisão (em média)?

Sandra: Todos os dias. Vejo mais de segunda a sábado porque ao domingo costumo
sair.

Fátima: Vejo todos os dias.

P8. Quantas horas de televisão vê por dia (em média)?

Sandra: Mais de cinco horas por dia.

Margarida: Vejo umas quatro ou cinco horas de TV por dia. Chego do trabalho às
17h00, depois é fazer jantar, mas costumo ver a novela das 19h00 às 20h00 e depois
vou-me deitar.

Célia: Vejo mais ou menos o mesmo que ela (Sandra).

Fátima: Acho que não vejo mais de cinco horas por dia.

P10. Vê mais televisão sozinho/a ou com companhia?

Sandra: Vejo com os meus primos e os meus irmãos.

Fátima: Vejo com as minhas irmãs.

P12. (família) Quantos televisores têm em casa? Em que divisões? (Quantas divisões
tem a casa?)

Margarida: Um. Na sala.

P13. (família) Quando compraram o último televisor?

Margarida: Este televisor foi o meu marido que encontrou e o mandou arranjar. Temo-
lo há cerca de cinco meses.

P14. (família) Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses?

Margarida: Não.

P15. Usa teletexto? Em caso positivo, que tipo de informação procura?

Margarida: Não. Eu usava muito o teletexto, mas como esta televisão não tem
comando…O comando que usamos é o da TV Cabo e não tem teletexto.

P16. Já ouviu falar de TV digital?

Margarida: Eu já ouvi falar, no telejornal.

Célia: Nunca ouvi falar.

Sandra: Eu também não.

Fátima: Já ouvi falar.

                                                                                36
P17. Que vantagens associa à TV digital?

Margarida: Não. Eu ouvi falar, mas como não eram daquelas coisas que me estavam a
interessar, não liguei muito.

Fátima: O que vejo é em casa das minhas amigas.

P19. (família) Que tipo de TV tem em casa?

Margarida: Não sei se é TV Cabo se é Cabovisão. Temos mais de quatro canais.

P21. O sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos, vai ser desligado -
sabia?

Margarida: Não.

P22. Quando é essa data-limite: tem ideia?

Margarida: Não.

P25. Sabe o que as pessoas sem TV digital têm que fazer para continuarem a receber
os 4 canais gratuitos de TV em casa?

Margarida: Ouvi falar que tem que se comprar um aparelho para adaptar à televisão.

Fátima: Não fazia ideia.

P26. Sabe se há custos envolvidos para continuar a ter TV em casa?

Margarida: Não sei.

P27. Quanto estaria disposto/a a pagar para continuar a ter TV em casa?

Margarida: Alguma coisa vai ter que se pagar… Nunca dão nada de graça (risos).

P31. O que gostaria de ver / aceder através da TV digital?

Margarida: Basicamente o que vemos agora. As séries, as novelas…Às vezes lá vemos
uns programas sobre os modelos ou remodelações de casas…

P32. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do
que vê hoje em dia?

Margarida: Menos. Isto cada vez temos que trabalhar mais para ter alguma coisa
(risos). E também os programas começam a ser desinteressantes. Estão a repetir muito
os programas e uma pessoa começa a perder o interesse na televisão por isso.

Fátima: Menos. São sempre os mesmos programas, sempre a mesma coisa. Torna-se
repetitivo.

P32.1 Se, por exemplo, a televisão proporcionasse serviços como poderem ver quais
são as farmácias de serviço na vossa zona ou poderem procurar emprego através da
televisão, isso seria útil para vocês?
                                                                                 37
Margarida: (Olhando para a filha Sandra e acenando com a cabeça) Sim.

Sandra: Era bom.

Margarida: A pessoa não ter que sair de casa para ir à procura de emprego ou saber
onde está uma farmácia onde possa ir buscar um medicamento era muito bom.

P32.2 Ouvem rádio na televisão?

Margarida: Oh, muitas vezes.

P32.3 Porquê?

Margarida: Porque gosto de ouvir a RDP África.

P33. Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10 anos? Acha que vai ser
igual?

Margarida: Não. Vão acabar com estas televisões. Agora é tudo LCDs e plasmas. O
aparelho vai ser mais fininho, mas vai ser cada vez maior.

P33.1 O que acham dos serviços de vídeo-on-demand e pausaTV?

Fátima: Acho bom. Dá jeito.

Caracterização de cada indivíduo da família
P36. Idade
Margarida (mãe): 35 anos.
Jacinto (pai): 40 anos.
Célia (filha): 20 anos.
Sandra (filha): 18 anos.
Fátima (filha): 15 anos.
Henrique (filho): 14 anos.
P37. Localidade de residência/ Concelho de residência
Famalicão, Nazaré.
P38. Ocupação e Profissão
Margarida: Auxiliar de Acção Educativa.
Jacinto: Pedreiro.
Célia: Doméstica.
Sandra: Doméstica.
Fátima: Estudante.
Henrique: Estudante.
P39. Habilitações académicas
Margarida: 9º ano.
Jacinto: 4ª classe.
Célia: 9º ano.
Sandra: 9º ano.
P42. Uso de telemóvel
Margarida: Sim.
                                                                               38
Jacinto: Sim.
Célia: Sim.
Sandra: Sim.
Fátima: Sim.
Henrique: Sim.
P43. Uso de computador
Margarida: Não.
Jacinto: Não.
Célia: Não.
Sandra: Sim. O do irmão.
Fátima: Sim. O do irmão.
Henrique: Sim.
P44. Uso de internet
Margarida: Não.
Jacinto: Não.
Célia: Não.
Sandra: Não.
Fátima: Não.
Henrique: Não.

Nota: Os restantes elementos da família são um recém-nascido e uma criança de 19
meses. A caracterização dos elementos da família que não estavam presentes na
entrevista foi fornecida pela mãe.




                                                                             39
Relatório da visita a casa da família 4 (“Pereira”)
15-11-2010
Valado dos Frades – Nazaré


Isabel (mãe): 73 anos, reformada.
João (pai): 77 anos, reformado.


Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-
estruturada realizada em casa da família “Pereira”, residente em Valado dos Frades, no
concelho da Nazaré, no dia 15 de Novembro de 2010.
O agregado familiar dos “Pereira” é composto por um casal: Isabel, de 73 anos, e João,
de 77 anos. Os dois têm ritmos muito diferentes. Apesar de reformada, Isabel ainda
trabalha - é proprietária de uma retrosaria no rés-do-chão da casa - enquanto João se
mantém em casa. A visita teve início pelas 14h00 e durou cerca de 90 minutos. João
almoça mais cedo que Isabel, mas faz companhia à esposa, tal como a televisão,
sempre ligada em casa dos “Pereira”. No ecrã passa o programa As Tardes da Júlia, na
TVI, mas o que os fez escolher aquele canal foi o noticiário, que não gostam de perder.
Quem liga a televisão é quase sempre Isabel. Mesmo não estando atenta às imagens,

       Figura 1 – À hora do almoço, Isabel, de 73 anos, aproveita para ver um pouco de televisão, pois
       valoriza muito o telejornal




                                                                                                         40
«num ou noutro canal», à hora do almoço, tem sempre a emissão nas notícias. «Tudo
em português, para poder lidar e ouvir. Às vezes até tenho a televisão muito alta, para
ouvir e fazer outras coisas. Quando estou atrasada, já não pode ser nada, tenho que
apagar. Porque levamos sempre mais tempo a fazer as coisas quando estamos a ver
televisão». Isabel afirma escolher os programas tendo em conta os momentos do dia e
o seu estado de espírito. «Durante o dia tem que ser coisas de acção para me
despertar (risos). Lamechices vejo à noite», explica a comerciante, concluindo que vê
cerca de quatro horas de televisão por dia, principalmente ao serão. «A televisão
funciona sempre em casa, porque não gosto do silêncio. Muitas vezes não estou a
olhar para ela, mas está a funcionar». No trabalho, Isabel não tem televisão, para não
se distrair, e só ouve rádio. No entanto, se lhe tirassem o ecrã do quotidiano, seria
dramático. «Ai não. Era difícil. Eu às vezes não sou capaz de adormecer sem ver
televisão. Mas isto também tem a ver com a idade», explica depois de admitir que, em
tempos, «já viu outro tipo de programas, mais responsáveis», e que agora só vê TV
para se “distrair” e não para «se meter em assuntos rigorosos».
Já para João, a ausência da televisão não faria muita diferença. «Depois de ter optado
       Figura 2 – Nos últimos anos, João tem visto cada vez menos TV, pois passa a maior parte do
       tempo na internet




pelo computador deixei a televisão», afirma, explicando que liga a televisão à hora do
lanche, porque gosta de ver o fórum da SIC Notícias, mas que até o futebol deixou de
ver na TV para seguir na Internet. «Cheguei a ver muitas horas de televisão. Agora não.
Cerca de 45 minutos à hora do almoço e mais um pouco ao lanche». O mundo dos
blogues foi o que levou João a «fugir da televisão» e a correr para o computador. Aos
                                                                                                    41
76 anos, criou o seu primeiro blogue e não tardou até idealizar o segundo, que hoje
actualiza com a colaboração do genro. «O primeiro blogue foi criado em 2009. Eu não
sabia mexer em computadores, andava à procura das teclas. Todos os dias tinha
problemas naquilo porque não percebia nada até que dois alunos da escola onde a
minha filha dá aulas vieram fazer um estágio à biblioteca do Valado e ensinaram-nos a
mexer em computadores. (…) Agora o blogue tornou-se o meu vício. E eu era contra a
Internet!». João sublinha que a sustentação dos dois blogues lhe exigem horas, mas
ainda tem tempo para «outras pesquisas». «Também tenho que dar resposta aos e-
mails que me enviam (…) E à noite, por exemplo, a última coisa que faço é ir às
notícias. Não vou muito aos jornais, mas vou às notícias isoladas que me interessam.
Por exemplo, se vejo que na Nazaré houve um temporal, vou lá clicar para ler a
notícia». Isabel faz questão de mencionar que foi ela a dar a ideia de comprar um
computador portátil e aderir à Internet: «Para fazer pesquisas, que é tão interessante.
Pensei que, com o portátil, ele saía de casa e ia para “cascos de rolha” fazer os seus
trabalhos. Afinal não. Enfiou-se em casa com o portátil, é impressionante. É capaz de
estar horas, horas e horas ao computador».
Apesar de estar cada vez mais afastado da televisão, João continua a ter uma opinião
sobre esta. «Sabe o que é que eu tenho contra a televisão? É nós não nos podermos
manifestar em cima do acontecimento porque estão os telefones sempre impedidos
(…) As pessoas que falam na televisão muitas vezes falam partidariamente ou
“clubisticamente”. Nós (cidadãos) devíamos poder dar sugestões para ajudar».
Também Isabel, que gosta de fazer “rally de canais”, considera que os conteúdos
televisivos poderiam melhorar. Questionada sobre a possibilidade de ter um canal
sobre a região Oeste, a valadense considerou que «a televisão ganhava muito» com
isso. «Pelo menos um canal que fosse mais dedicado a Portugal. Nós temos coisas
lindíssimas, buraquinhos lindíssimos. Se houvesse um canal português que se
dedicasse a esse tipo de conteúdos, se calhar teríamos muito mais turistas do que
temos. A Galiza nesse aspecto é muito mais esperta. Mostra aquilo tudo». Tanto Isabel
como João sabem utilizar as possibilidades que a sua televisão oferece. Isabel, por
exemplo, utiliza o teletexto para ver os números da lotaria. Já João procura conteúdos
sobre desporto, nomeadamente os resultados e classificação das equipas.

                                                                                    42
No que respeita ao conhecimento, atitudes e expectativas em relação à TV Digital,
Isabel e João afirmam já terem ouvido falar nesta (P16), mas Isabel confessa «não
estar assim muito por dentro» do assunto. Questionado sobre as vantagens deste tipo
de transmissão, João afirma que ouviu dizer que é «muito melhor», mas revela-se um
pouco confuso quanto ao avanço das tecnologias ligadas à televisão. «Agora ainda vai
aparecer outra, não é? Eu, como não estou muito virado a aderir a estas
transformações, ou porque nos telefonam ou porque temos lido que vai haver uma
nova tecnologia, às vezes não aprofundo e não sou capaz de, como agora sugere,
explicar o que é». João e Isabel, que têm TV Digital há uma semana, estão
constantemente a ser contactados, através do telefone fixo, por empresas que os
informam dos novos serviços de televisão, Internet e telefone no Mercado. Foi num
desses telefonemas que João ouviu falar, pela primeira vez, na TV Digital. «Outro dia
foi através da oferta de um novo serviço, prestado pela Cabovisão, outras vezes é por
outras empresas, que telefonam a perguntar se já temos os serviços ou se estamos
satisfeitos com o trabalho que nos é fornecido e a dizer que têm agora um pacote e
“tal”. Depois, numa altura qualquer, foi-nos dito que este sistema que temos é uma
coisa efémera e relativamente perto vai acabar». O casal explica que colocou a TV
Digital «mais por causa do telefone» pois «vinha tudo junto». Isabel realça que notou
diferença «na cor» e gostou da imagem, para além de o pacote que lhes ofereciam ser
“bom”. De acordo com a valadense, a nova caixa que tem por cima da televisão traz
serviços com os quais ainda não aprendeu a lidar, mas sabe que existem. «Gravar um
programa enquanto estamos a ver outro. Mais ainda não aprendi, ainda não tive
tempo». João e Isabel dizem estar a par do desligamento do sinal analógico de TV
(P21), mas desconhecem a data-limite para o processo. «Já falaram sobre isso, mas
não liguei assim muita importância».
João e Isabel estão a pensar comprar uma televisão nova nos próximos tempos. «Um
plasmazinho pequenino. Não pode ser muito grande senão depois é exagero», diz
Isabel. João até prevê que, se começar a ter problemas de mobilidade, acabará por ter
dificuldades em mexer no computador e passará a adormecer a olhar para a televisão.
Para o casal, o futuro da televisão é “imprevisível”, mas a evolução é “imparável”. «Eu
acho que o futuro passa mais pelo telemóvel completo do que propriamente pela

                                                                                    43
televisão. Desde que me conheço, até aos dias de hoje, a evolução é impensável.
Nunca me tinha passado pela cabeça as coisas que foram vindo», exclama Isabel.



                  Transcrição da entrevista semi-estruturada


A primeira parte da entrevista fez-se ainda na fase que deveria ser apenas de
observação, tendo em conta as dificuldades em realizar a observação não-
participante. Aproveitou-se a altura para se falar sobre o consumo que a família faz
de outros media, como o computador, tendo o tema surgido espontaneamente.

João: Eu tenho dois blogues. Veja lá que até tenho dois blogues com esta idade!
(risos). Um, durou um ano, ainda o tenho e depois fiz um segundo blogue em que eu
sou o fornecedor do material e o meu genro faz a paginação. Eu só tenho a 4ª classe.
Como ele tem muito mais capacidades, faz a contextualização da informação e a
paginação. Por exemplo, se quero falar da terra da abóbora, ele vai fazer uma pesquisa
e vai escrever que a abóbora veio da América, etc. Ou seja, faz o complemento às
minhas informações. Ontem houve Crisma e eu fiz fotografias e, passado uma hora, já
tinha no blogue parte delas. Tenho é alguma dificuldade no sentido em que tenho na
minha cabeça uma orientação e depois sai ao contrário porque o blogue é ao
contrário. A primeira coisa que pus vem no fim. Eu procuro orientar-me nesse aspecto
porque a nível de datas, etc. aquilo é uma miscelânea que não tem pés nem cabeça. O
blogue que o meu genro organiza já não é assim. Está tudo impecável porque ele o
sabe paginar. O primeiro blogue foi criado em Agosto de 2009, quando tinha 76 anos.
Eu não sabia mexer em computadores, andava à procura das teclas. Todos os dias
tinha problemas naquilo porque não percebia nada até que, em Julho de 2009, dois
alunos da escola onde a minha filha dá aulas vieram fazer um estágio à biblioteca do
Valado e ensinaram-nos a mexer em computadores. (…) Agora o blogue tornou-se o
meu vício. E eu era contra a internet!

Isabel: Eu é que lhe dei a ideia de ele comprar um portátil e pôr internet, para fazer
pesquisas, que é tão interessante. Pensei que, com o portátil, ele saía de casa e ia para
cascos de rolha fazer os seus trabalhos. Afinal não. Enfiou-se em casa com o portátil, é
impressionante. E é capaz de estar horas, horas e horas ao computador. Por mim tudo
bem! Ele antes era contra a internet. Dizia que era muito viciante e perigoso. Afinal são
horas e horas…

João: A sustentação de dois blogues, a busca de fotografias e a organização por temas
exigem horas. Depois também tenho que dar resposta aos e-mails que me enviam.
Quando se chega a noite, vou lá ver e já lá tenho trinta coisas para ir abrir. Alguns
dizem-me assim “Ah eu nem os abro, mando-os para o lixo”, mas eu respondo “Epá, eu
para saber se são bons ou se não prestam tenho que os abrir!”. E os que me conhecem
sabem que há coisas que para mim não têm interesse e podiam ter um bocadinho de
cuidado em não enviar esses mails.


                                                                                      44
Isabel: (Explica ao marido) Mas as pessoas quando acham alguma coisa interessante
enviam para a lista toda de contactos. É isso que eles fazem. Mas o João não envia
assim, o João faz a escolha.

João: (…) Em relação às outras buscas. Por exemplo, à noite, a última coisa que faço é
ir às notícias. Não vou muito aos jornais, mas vou às notícias isoladas, que me
interessam. Por exemplo, se vejo que na Nazaré houve um temporal, vou lá clicar para
ler a notícias. Em relação a compras ou sites de outros países, não vou muito. No mail,
faço categorias para todos os temas “Católicas, Maliciosas, Amizade”, etc. Se me
enviam e-mails sobre a América ou as Cataratas do Niágara ponho-as numa pasta e
gosto, mas não sou de ir procurar esses temas.

E a Isabel, também usa a Internet?

Isabel: Não. Só quando ele me chama para ver alguma coisa. Nem tinha tempo!

João: Ela é mais televisão…

Isabel: Há uma coisa muito importante. Mesmo que eu (olham um para o outro e
riem-se) quisesse ou me disponibilizasse para ir à Internet não podia porque está
sempre ocupada! Mas não tenho essa necessidade porque tenho o dia muito ocupado
e à noite fico cansada e vejo um bocadinho de televisão. Mas já vi outro tipo de
programas, mais responsáveis e assim…Agora não, agora vejo para me distrair, não
vou para me meter em assuntos rigorosos. Também sou capaz de ver, mas vejo mais
televisão para me distrair. Por exemplo, vou muitas vezes à “Travel”, que tem coisas
muito engraçadas e eu gosto de ver, mas é preciso estar bem. De manhã tenho um
hábito tremendo de acender a televisão e de ver parte das notícias, nem que seja a
parte dos jornais (Revista de Imprensa). Estou sempre à espera que eles apareçam.
Eles dão os cabeçalhos dos jornais e fico mais ou menos a saber o que é que se passa.
Porque, muitas vezes, chego aqui à hora do almoço e já passou da uma e as notícias já
avançaram. Mas estou sempre nas notícias. Num ou noutro posto (canal), estou
sempre nas notícias. É tudo em português, que é para eu poder lidar e ouvir. Às vezes
até tenho a televisão muito alta, para ouvir e fazer outras coisas. Às vezes, quando
estou muito atrasada, já não pode ser nada, tenho que apagar. Porque levamos
sempre mais tempo a fazer as coisas quando estamos a ver televisão porque sempre
nos distraímos. Se há uma ou outra novela que me interesse – o que é raro acontecer –
até vejo. Ultimamente até tenho visto uma no primeiro canal depois de almoço – das
14h30 às 15h00 - mas não quer dizer que veja sempre. É muita acção, eu gosto muito
de acção. Lamechices vejo à noite. Durante o dia tem que ser coisas de acção para me
despertar (risos).

P8. Quantas horas de televisão vê por dia (em média)?

Isabel: À noite vejo bastantes. Cerca de 4 horas por dia. A televisão funciona sempre
em casa, porque não gosto do silêncio. Muitas vezes não estou a olhar para ela, mas a
televisão está a funcionar. Não estou a olhar, mas estou a ouvir, porque é português.
Se for estrangeiro não, porque tenho que estar a olhar para as legendas.

Mas também vê facilmente programas com legendas?
                                                                                    45
Isabel: Vejo muito. Filmes principalmente.

Gostava que esses filmes fossem dobrados em português?

Isabel: Não, não. Eu penso que, a partir do momento em que a televisão portuguesa
deixar de legendar filmes, vai haver muitos mais analfabetos em Portugal. Porque
quem gosta de ver um bom filme e não sabe falar inglês, italiano ou até mesmo o
espanhol, se vir um filme dobrado deixa de saber definir as línguas. Eu posso nem estar
a olhar, mas sei que é um filme inglês que está a dar. Aprende-se qualquer coisinha,
sabemos como é que os actores falam, sabe-se isso tudo. E se for dobrado em
português não tem graça. Mas durante o dia não vejo televisão. No trabalho não tenho
televisão, só ouço rádio. Quando vêm clientes, baixo um pouco o volume, mas quando
estou sozinha aumento o som porque não gosto de estar em silêncio. Na casa da
costura ainda tenho outra coisa – o meu marido perguntou-me porque é que eu a
comprei – que é um leitor de CDs. E quando estou sozinha, a passar a ferro ou a fazer
qualquer coisa para mim, e preciso de descansar a cabeça e não estar nervosa, ponho
os meus “cdzinhos”.

João: Rádio temos por todo o lado, se for preciso ligá-los. Como na retrosaria não
temos televisão, ela tem o rádio todo o dia aberto. No leitor de CDs lá ouve a Ana
Moura…

Isabel: É engraçado, porque eu não era muito de ouvir fados, mas é o que tenho lá
mais.

O facto de usarem tanto o computador e o rádio quer dizer que, se vos tirassem a
televisão do dia-a-dia, não seria dramático?

Isabel: Ai não. Era difícil. Eu às vezes não sou capaz de adormecer sem ver televisão.
Mas isto também já tem a ver com a idade.

Então, mesmo utilizando outro tipo de media, a televisão continua a ser central para
si?

Isabel: Para mim é.

E para o João?

Isabel: Para ele não…

João: Depois de ter optado pelo computador deixei a televisão. Vejo sempre à hora do
lanche, por volta das 17h00, ligo a SIC Notícias porque gosto de ver o fórum. Vejo um
bocado de futebol, mas até deixei de ver o futebol na televisão (risos). Quando dá na
Sport TV, já não vou ao café ver, vejo na Internet. Cheguei a ver muitas horas de
televisão. Agora não. Cerca de 45 minutos à hora do almoço e mais um pouco ao
lanche.

Isabel: Ele foge da televisão. Ele ultimamente foge da televisão. Mas isso, pelo que eu
me apercebo, quase todas as pessoas que têm o computador e a internet vêem pouca
televisão.
                                                                                    46
João: Quase não vejo televisão.

Substituiu o consumo de televisão pelo consumo do computador e internet?

João: Um bocado.

Isabel: Ainda em relação à televisão. E gosto de fazer rally de canais também. Gosto do
canal 2. Acho que tem coisas muito giras. Tem aquele programa, perto da meia-noite
(Bairro Alto), com um rapazinho – esqueci-me do nome dele, às vezes não sei os
nomes – muito simples, mas conhecedor. Gosto daquela maneira de entrevista. E é
giro porque ele leva lá muita gente nova e falam sobre música, sobre isto e sobre
aquilo e vê-se muito bem. Também via o “5 para a Meia Noite” porque achava piada. E
gosto das séries inglesas. Eu sou diversificada nesse aspecto.

P2. Quais os programas dos quais não gosta?

Isabel: Sei lá, quando eles ralham muito não me apetece ver. Debates malcriados. Às
vezes ainda ficava a ver para depois falar sobre isso, mas depois pensava assim “Ai não
estou para te aturar”. Já gostei mais do que gosto daquele debate da segunda-feira
(Prós e Contras). Acho que a apresentadora, quando não lhe agrada aquilo que o outro
quer dizer, corta muito. E eu não gosto muito dela. Também não gosto muito da Judite
Sousa.

Acha que esses programas prestam serviço público?

Isabel: Não presta tanto serviço como eles podem pensar. É um debate de alerta, mas
nem todos os portugueses estão preparados para esse tipo de debate. Ouvem, mas
não entendem. Por isso é que eles dizem todos: “Ah, fala-se nisto e fala-se naquilo mas
nunca se resolve nada”. Nem tem que se resolver. É para alertar o problema. Mas já
ouvi mais esses programas. Às vezes fazem muito barulho.

João: Sabe o que é que eu tenho contra a televisão? É nós não nos podermos
manifestar em cima do acontecimento porque estão os telefones sempre impedidos.

Acham que os programas de televisão deviam ser mais interactivos?

João: Eu acho que sim. As pessoas que falam na televisão muitas vezes falam
partidariamente ou clubisticamente. Nós (cidadãos) devíamos poder dar sugestões
para ajudar.

Se a televisão tivesse mais canais regionais, que mostrassem mais Portugal, isso
agradar-vos-ia?

Isabel: Era. Porque, por exemplo, no canal “Travel” há, de facto, um português mas
não é à hora boa para mim.

Se houvesse, por exemplo, um canal sobre a região oeste, acham que era
interessante?

Isabel: Ai eu acho que sim. A televisão ganhava muito. Ou pelo menos um canal que
fosse mais dedicado a Portugal. Nós temos coisas lindíssimas, buraquinhos lindíssimos.
                                                                                    47
Se houvesse um canal português que se dedicasse a esse tipo de conteúdos, nós se
calhar teríamos muito mais turistas do que temos. A Galiza nesse aspecto é muito mais
esperta. Mostra aquilo tudo.

P12. (família) Quantos televisores têm em casa? Em que divisões?

Isabel: Agora só temos duas. Já tivemos três. Uma na sala e outra na cozinha.

P11. Onde vê mais televisão?

Isabel: Eu vejo mais na sala.

João: Eu é mais na cozinha.

P13. (família) Quando compraram o último televisor?

Há uns cinco, seis anos.

P14. (família) Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses?

Isabel: Eu acho que sim (risos). Esta (da cozinha) voltará para o quarto porque é
pequenina. Vai uma nova para a sala, assim mais direitinha, destas agora novas. Um
plasmazinho pequenino, não pode ser muito grande senão depois é exagero.

P15. Usa teletexto? Em caso positivo, que tipo de informação procura?

Isabel: Utilizo o teletexto para ver os números da lotaria.

João: Eu é o desporto. Para ver as classificações, o resultado dos jogo.

Isabel: E às vezes também vou procurar páginas e leio alguma coisa q ache
interessante. E quando não sei muito bem e estou intrigada sobre uma notícia vou
procurar a notícia e vejo. Isso sou capaz de fazer, mas não sou capaz de fazer muitas
coisas.

II – TV digital: conhecimento, atitudes e expectativas
P16. Já ouviu falar de TV digital?

João: Ouvir falar já ouvi…

Isabel: Pois, mas não estou assim muito por dentro…

P17. Que vantagens associa à TV digital?

João: São uns ladrões (risos) porque eu tinha um aparelho que via a SportTV e eles
vieram tirá-lo. Quando nós não tínhamos televisão digital comprámos um aparelho –
havia quem vendesse - que era ligado à televisão, e a gente via a SportTV.

Isabel: Oh João, mas isso era pirata… Estavas sempre aflito. Ele até a utilizava e, às
vezes, ficava com medo.

João: Depois veio a digital e o aparelho deixou de ter funcionalidade. Mas isto é um
“entre-aspas”. Ouço dizer que a TV digital é muito melhor. Agora ainda vai aparecer
                                                                                   48
outra, não é? Eu, como não estou muito virado a aderir a estas transformações, ou
porque nos telefonam ou porque temos lido que vai haver uma nova tecnologia, às
vezes não aprofundo e não sou capaz de, como agora sugere, explicar o que é.

Onde é que ouviram falar na TV digital?

João: Outro dia foi através da oferta de um novo serviço, prestado pela Cabovisão,
outras vezes é por outras empresas, que telefonam a perguntar se já temos os serviços
ou se estamos satisfeitos com o trabalho que nos é fornecido, a dizer que têm agora
um pacote “tal”. E depois, numa altura qualquer, foi-nos dito que este sistema que
temos é uma coisa efémera e relativamente perto vai acabar.

P20. Porque razão têm TV digital?

João: Foi mais por causa do telefone. Vinha tudo junto.

Isabel: Para mim teve mais influência a cor. Gostei da imagem. E como o pacote foi
bom…

Quando é que aderiram a este pacote de TV digital?

João: A semana passada. Porque acabou o outro pacote que tínhamos.

Isabel: E isto traz coisas que ainda não aprendi, mas sei que tem, que é gravar um
programa enquanto estamos a ver outro. Mas ainda não aprendi, ainda não tive
tempo.

P21. O sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos, vai ser desligado -
sabia?

Sim.

P22. Quando é essa data-limite: tem ideia?

Já falaram sobre isso, mas não liguei assim muita importância.

P25. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do
que vê hoje em dia?

Isabel: Eu acho que enquanto tivermos capacidade para ver e compreender, vamos ver
televisão. Se estivermos doentes não apetece porque cansa. Mas se calhar vamos ver
menos.

João: Eu, se calhar, é o contrário. Começo a ter dificuldades em mexer no computador
e deixa-me adormecer a olhar para a televisão (risos). Digo eu, mas isso é no caso de
perder a mobilidade, etc.

Isabel: É a presença. Eu não gosto muito de estar só.

P26. Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10 anos?


                                                                                  49
Isabel: Da maneira como as coisas estão a avançar, hoje é de uma maneira, amanhã é
de outra… É rápido. Isso aí faz-me pensar.

João: É imprevisível dizer o que é amanhã, quanto mais daqui a anos… É uma coisa
impressionante o que o telemóvel hoje faz. É imparável de tal forma que suponho que
um dia isto ainda vai ser destruído porque infelizmente está na mão do Homem e na
capacidade dele poder destruir ou destruir-se.

Isabel: Eu acho que o futuro passa mais pelo telemóvel completo do que propriamente
pela televisão. Desde que me conheço, até aos dias de hoje, a evolução é impensável.
Nunca me tinha passado pela cabeça as coisas que foram vindo.

Caracterização de cada indivíduo da família

P36. Idade
Isabel: 73 anos.
João: 77 anos.
P37. Localidade de residência/ Concelho de residência/ Distrito de residência
Valado dos Frades, Nazaré, Leiria.
P38. Ocupação e Profissão
Ambos reformados, mas Isabel ainda trabalha numa retrosaria.
P39. Habilitações académicas
Ambos possuem a 4ª classe.
P40. Nível de rendimento da família (Se tivesse de se enquadra num escalão de
rendimento com 3 níveis: baixo, médio, alto. Em qual se enquadraria?)
P41. Nº de pessoas no agregado familiar
2 pessoas.
P42. Uso de telemóvel (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de
competência?)
Sim.
P43. Uso de computador (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de
competência?)
Sim. João usa desde 2009. Isabel só usa quando o marido a chama para ver alguma
coisa.
P44. Uso de internet (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de
competência?)
Sim. João utiliza a Internet diariamente.
P45. Equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal (rádio, VCR, DVD, etc.)
Duas televisões e rádios.




                                                                                  50
Relatório da visita a casa da família 5 (“Santos”)
19 de Outubro de 2010
Alenquer


Catarina: 73 anos, reformada.


Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-
estruturada realizada em casa da família “Santos”, residente em Alenquer, no dia 19
de Outubro de 2010.
       Figura 1 – Catarina, reformada de 73 anos, usa um televisor antigo, que já não funciona, como
       base para outro, de modo a que este ultimo fique mais alto




A família “Santos” é composta por apenas um elemento: Catarina, de 73 anos,
reformada desde os 35. A entrevista teve início pelas 15h00 e durou cerca de 90
minutos. Catarina mostra o quarto onde vê televisão. Em cima da cómoda tem dois
televisores, um em cima do outro, mas apenas um funciona. «Esta televisão quando
veio para cá já não trabalhava. Trouxe-a para pôr a outra em cima dela, porque senão
ficava muito baixa», explica. É deitada na cama que vê mais televisão. Quando não sai
de casa, vê televisão quase todo o dia. «Levanto-me às 07h00 e ligo a televisão só para
ver o tempo que vai fazer. Depois fico a ver as notícias e só depois é que costumo
mudar de canais à procura daquilo que mais gosto», descreve Catarina, acrescentando
que vê sempre, pelo menos, cinco, seis horas de televisão por dia. «Passo muito tempo
sozinha»,     refere,       quando         lhe      pedem         para       descrever         um      dia
                                                                                                       51
normal de semana. Quanto aos fins-de-semana, Catarina pede que nem falemos neles,
pois a programação na TV não é tão boa, e sente-se mais a solidão. «Ai não me fale no
fim-de-semana, que são os dias piores para mim». Catarina está completamente
isolada da família. Enquanto descreve quem está nas várias fotografias espalhadas pela
sala, explica que os familiares a foram abandonando aos poucos. Um dos seus filhos
faleceu jovem e os outros não lhe falam. Catarina nem sequer sabe onde eles vivem.
De vez em quando, para se distrair, ainda vai ao baile, mas não como antigamente. Em
casa, já lá vai o tempo em que se entretinha a fazer bordados. Por isso, o seu principal

       Figura 2 – Catarina passa pelo menos cinco horas do seu dia deitada, em frente à televisão




passatempo é a televisão. É esta que lhe proporciona, muitas vezes, a sensação de
estar acompanhada. «Gosto de ver o Quem quer ser Milionário, porque às vezes até
acerto em certas perguntas que o Malato faz. Participo sozinha aqui comigo. Eu digo
assim: “É tal”, e às vezes bate certo (…) Não perco dia nenhum esse concurso, porque
acho graça. E eu também estou aqui sozinha e, parecendo que não, vou participando
também cá para comigo». Catarina não gosta da TVI, porque o canal exibe demasiadas
telenovelas. Apesar de gostar de alguns programas deste género, Catarina prefere os
programas que apelam à sua participação. «Gosto de ver a Conceição Lino e o
programa das manhãs, na SIC. Gosto de ver e, muitas vezes, ainda ligo para lá e
inscrevo-me para ver se me sai alguma coisa para eu poder sair daqui para fora»,
conta, acrescentando que o programa Preço Certo de Fernando Mendes, também a
diverte muito. Catarina vê televisão através do sinal analógico terrestre. Para além da
habitual “chuvinha” na RTP, Catarina queixa-se das interferências na televisão quando
                                                                                                    52
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 “ADOPT_DTV:
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digital
no
contexto
da
 transição
da
televisão
analógica
para
o
digital
em
Portugal”

 (
PTDC/CCI‐COM/102576/2008)
 
 Relatório
do
Estudo
Etnográfico
‐
ANEXOS
 
Setembro
de
2011
 
 
 
 1

  • 2. Índice Relatório da visita a casa da família 1 (“Rosário”) .................................................................5 Transcrição da entrevista semi-estruturada ........................................................................... 10 Relatório da visita a casa da família 2 (“Sobral”) ................................................................. 21 Transcrição da entrevista semi-estruturada ........................................................................... 25 Relatório da visita a casa da família 3 (“Roda”) ................................................................... 31 Transcrição da entrevista semi-estruturada ........................................................................... 35 Relatório da visita a casa da família 4 (“Pereira”) ................................................................ 40 Transcrição da entrevista semi-estruturada ........................................................................... 44 Relatório da visita a casa da família 5 (“Santos”) ................................................................ 51 Transcrição da entrevista semi-estruturada ........................................................................... 55 Relatório da visita a casa da família 6 (“Alves”) .................................................................. 61 Transcrição da entrevista semi-estruturada ........................................................................... 66 Relatório da visita a casa da família 7 (“Pinto”)................................................................... 73 Transcrição da entrevista semi-estruturada ........................................................................... 77 Relatório da visita a casa da família 8 (“Lopes”) .................................................................. 82 Transcrição da entrevista semi-estruturada ........................................................................... 86 Relatório da visita a casa da família 9 (“Gaudêncio”) .......................................................... 93 Transcrição da entrevista semi-estruturada ........................................................................... 98 Relatório da visita a casa da família 10 (“Graça”) .............................................................. 102 Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 106 Relatório da visita a casa da família 11 (“Assis”) ............................................................... 112 Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 116 Relatório da visita a casa da família 12 (“Marques”) ......................................................... 124 Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 129 Relatório da visita a casa da família 13 (“Andrade”) .......................................................... 137 2
  • 3. Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 140 Relatório da visita a casa da família 14 (“Freitas”) ............................................................ 145 Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 148 Relatório da visita a casa da família 15 (“Matos”) ............................................................. 156 Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 162 Relatório da visita a casa da família 16 (“Mendonça”) ...................................................... 171 Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 175 Relatório da visita a casa da família 17 (“Sousa”) .............................................................. 180 Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 184 Relatório da visita a casa da família 18 (“Fragoso”) ........................................................... 193 Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 198 Relatório da visita a casa da família 19 (“Baptista”) .......................................................... 211 Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 213 Relatório da visita a casa da família 20 (“Mendes”) .......................................................... 219 Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 222 Relatório da visita a casa da família 21 (“Costa”) .............................................................. 229 Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 232 Relatório da visita a casa da família 22 (“Guerreiro”) ........................................................ 238 Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 241 Relatório da visita a casa da família 23 (“Simões”) ............................................................ 249 Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 254 Relatório da visita a casa da família 24 (“Fonseca”) .......................................................... 260 Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 262 Relatório da visita a casa da família 25 (“Neves”) ............................................................. 268 Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 269 Relatório da visita a casa da família 26 (“Gomes”) ............................................................ 275 Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 278 3
  • 4. Relatório da visita a casa da família 27 (“Brito”) ............................................................... 285 Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 286 Relatório da visita a casa da família 28 (“Cardoso”) .......................................................... 293 Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 298 Relatório da visita a casa da família 29 (“Justino”) ............................................................ 309 Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 313 Relatório da visita a casa da família 30 (“Ribeiro”) ............................................................ 319 Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 322 4
  • 5. Relatório da visita a casa da família 1 (“Rosário”) 17 de Setembro de 2010 Nazaré Adelaide (mãe): 33 anos, professora. Carlos (pai): 37 anos, gerente de um bar. Crianças: 8, 4 e 2 anos. João (avô): 59 anos, marceneiro. Marta (avó): 53 anos, auxiliar de acção educativa. Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi- estruturada realizada em casa da família “Rosário”, residente na Nazaré, no dia 17 de Setembro de 2010. O agregado familiar dos “Rosário” é composto por cinco pessoas: os pais, Adelaide e Carlos, de 33 e 37 anos, e os três filhos, de 8, 4 e 2 anos. Na entrevista estiveram também presentes os avós, Marta e João, de 53 e 59 anos, que apesar de constituírem um agregado familiar diferente (de quatro pessoas) participaram no questionário. A família “Rosário” tem por hábito reunir-se toda à hora do jantar. As três gerações juntam-se à mesa e, muitas vezes, os motivos das conversas surgem como reacção às notícias do telejornal, «o único programa obrigatório» para a família. Na verdade, de Figura 1 - Família “Rosário” reúne-se à hora do jantar, depois de alguma insistência por parte da mãe em conseguir afastar as crianças do computador 5
  • 6. acordo com Adelaide e Carlos, que afirmam ver cerca de uma hora de televisão por dia, o noticiário é um dos únicos conteúdos que os liga à televisão. «Preferências não tenho… A única coisa que eu vejo mais é o noticiário. Esse sim é obrigatório e vemos Figura 2 - Na sala de estar, a televisão está ligada, mas ninguém presta atenção ao ecrã em conjunto», explica Carlos. Por sua vez, Adelaide lembra que quando vêem mais televisão, optam por séries do AXN e da FOX, ou pelos documentários do National Wild, da National Geographic. Adelaide é professora e Carlos gerente de um bar. O casal explica que, quando lhes sobra tempo entre o trabalho e os cuidados com os filhos, não o aproveitam para ver televisão, privilegiando antes o computador e a internet. «Quando tenho tempo livre não é para a televisão», revela Adelaide. «Quando arranjo um tempinho gosto de ler ou de ligar a net», completa o marido. No caso dos avós Marta e João, a rotina é bastante diferente. João assume-se o maior consumidor de televisão da família, assistindo a uma média de quatro horas por dia, Figura 3 - Enquanto faz o jantar, a avó, Marta, de 53 anos, vai ouvindo o telejornal 6
  • 7. sobretudo durante a noite. A descrição que o marceneiro faz do seu dia-a-dia leva a crer que a televisão é um passatempo muito importante. «Todos os dias começo relacionado com a televisão. Começo às 06h00 da manhã, quando não é mais cedo, e ligo logo a televisão (…) Vejo e revejo as notícias porque a SIC Notícias está, de hora a hora, a repetir. Quando acabam as notícias das 10 para as 8 é quando começa a publicidade e eu saio de casa. Devo ver para aí umas quatro horas de televisão (…) Tem a ver com a estação do ano. Por exemplo, no Inverno, sou capaz de ver sete ou oito horas de televisão por dia. Enquanto no Verão não… Passeia-se mais», descreve Carlos, que elege o canal Hollywood e a Eurosport como canais preferidos, a par da SIC Notícias. Para Marta, a televisão funciona sobretudo como uma presença de fundo. «É mais como uma companhia. Se estiver em casa, gosto de pôr um canal que esteja a Figura 4 - Irmãos disputam acesso ao computador. O mais novo acaba por sair em desvantagem e começa a chorar ouvir. Se estou a passar a ferro ou se ando de um lado para o outro, para não estar a fixar os olhos, tenho a televisão naqueles programas da tarde. É-me indiferente… Ou é a SIC, ou a RTP, ou a quatro… Onde se esteja a ouvir a falar», explica, sublinhando que para si tanto faz ter apenas os quatro canais, ou uma grelha mais variada de possibilidades. Quanto às crianças, estas dividem-se entre a Playstation, o computador, a Wii e a televisão. De acordo com Carlos, os filhos vêem mais televisão ao fim-de-semana, durante a manhã. Apesar de terem televisão no quarto, esta só é ligada para ajudar a adormecer. 7
  • 8. No que respeita ao conhecimento, atitudes e expectativas em relação à TV digital, houve claramente um elemento da família que se destacou por estar informado sobre o tema. Carlos assumiu prontamente que já tinha ouvido falar em TV digital. «A ideia que eu tenho é que é um formato diferente, que tem a capacidade de transportar mais Figura 5 – A família “Rosário” afirmou já ter ouvido falar em televisão digital, nos noticiários informação. O que permite uma série de funcionalidades. No imediato, uma melhor qualidade de imagem e de som. E depois uma série de funcionalidades que a TV normal não permite», explicou. Todos os entrevistados afirmaram ter ouvido falar na TV digital, mas só Carlos é que espontaneamente relacionou o termo com o «apagão». A família explicou que ouviu falar do assunto no noticiário. Questionado sobre as vantagens que este tipo de transmissão televisiva poderá trazer, Carlos voltou a sublinhar que a TV digital traz funcionalidades que até agora não existiam. «Por exemplo, utilizando o nosso cabo, a qualidade de imagem é notória. Permite-nos… Mas isso não sei se terá exactamente a ver com o digital… Permite-nos a gravação, ver o programa à hora que bem entender… Uma série de funcionalidades». Quanto às desvantagens, Carlos apontou «a necessidade de adaptar o equipamento mais antigo» e, consequentemente, «os custos», como o principal problema. A família “Rosário” afirma ter televisão por cabo digital numa das televisões e explicou que as restantes recebem o sinal através da box ligada a essa televisão, na sala. Carlos afirma que a família não sente necessidade de ter uma box para cada televisão. Quanto ao conhecimento sobre o desligamento do sinal analógico de TV (P21.), todos afirmaram estar a par, mas apenas Carlos relacionou a questão com a palavra 8
  • 9. “apagão”. Apesar de não saberem o nome que se dá ao processo, nem a data-limite para o “switch-off”, Carlos considerou que a mudança está «para breve». Quando lhe foi pedido para apontar uma data específica, o nazareno respondeu: «Se não for este ano (2010), é já para o ano (2011). Acho que está assim para perto». Carlos teve de se ausentar da entrevista antes de esta terminar, por motivos de trabalho, mas Adelaide continuou a responder às questões sobre a TV digital. A professora considera que esta não é mais complicada de utilizar do que a televisão analógica (P24.), não notando qualquer diferença a nível de utilização. Quando não sabem como funciona um dado equipamento electrónico (P23.), normalmente pai (João) e filha (Adelaide) recorrem às instruções e vão experimentando possíveis soluções para os problemas. Adelaide realça que, por vezes, é a internet que a auxilia, caso os equipamentos não tragam instruções. «Também nos suportamos na net. Por exemplo, eles têm consolas e, no outro dia, eu não sabia do manual das instruções da consola para sintonizar um comando e fui ver na net», descreveu. João acrescenta que os mais novos têm mais facilidade em lidar com novas Figura 6 – Os membros mais jovens da família “Rosário” prevêem usar cada vez mais o computador e menos a TV, enquanto os avós imaginam-se a ver mais televisão daqui a 5 anos tecnologias, por isso, pedir ajuda aos filhos também é uma boa solução. «Vai-se experimentando, vai-se à procura. E vai-se esperando que algum filho chegue a casa e que comece a dominar (risos)». Questionados sobre se verão mais ou menos televisão daqui a 5 anos, João considerou que passará mais tempo em frente ao ecrã «de certeza absoluta». «Daqui a cinco anos já tenho 65, já vou para a reforma e vou ter mais tempo livre», disse, acrescentando 9
  • 10. que apenas a familiarização com os computadores e a informática lhe permitiria desligar-se mais da televisão. Pelo contrário, Adelaide acha que «a tendência até vai ser o inverso»: ver cada vez menos televisão. «Acho que, por exemplo, há cinco anos, via bem mais televisão do que vejo hoje e vou substituindo gradualmente. Porque o pouco tempo livre que tenho vou ocupando com a leitura, com a pesquisa de alguma coisa que precise, mesmo para o trabalho… Portanto, vou substituindo a televisão». No que toca ao futuro da televisão, João prevê que esta seja «bem mais evoluída». «A televisão daqui a dez anos é capaz de não se parecer com nada do que é hoje». Face à possibilidade de a televisão passar a incorporar serviços de informação prática ligados, por exemplo, à saúde e ao emprego, a família demonstrou-se receptiva, mas mantém algumas dúvidas, sobretudo porque a internet e a comunicação interpessoal sobressaem como as formas privilegiadas de obter este tipo de informação. «Esse tipo de informação costumamos procurar na net (…) Eventualmente era interessante, mas eu não sei se iria substituir a busca na net pela da televisão», refere Adelaide. «Acho que isso era mais vantajoso para os grandes centros. Agora para a gente aqui, que somos mais pequenos, é mais fácil a pessoa rapidamente saber por alguém», conclui João. Transcrição da entrevista semi-estruturada I – Televisão: posse, usos, preferências e atitudes P1. Quais os programas favoritos? Carlos: Preferências não tenho… A única coisa que eu vejo mais é o noticiário. Adelaide: Algumas séries… Carlos: Sim… Adelaide: Eu vejo o noticiário e algumas séries. As séries são dos canais portugueses? Adelaide: Não. São do AXN, da FOX… João: Eu é essencialmente as notícias… É a SIC Notícias, que está sempre a dar. Em termos de filmes, é o canal Hollywood, e as séries é o AXN, a FOX… Ah e também os canais de desporto. Francisco: Quando não estou a ver bonecos, vejo filmes… 10
  • 11. P3. Que tipo de programas habitualmente vê? Adelaide: Costumamos ver os da National Wild, da National Geographic. Carlos: O único canal obrigatório cá em casa são as notícias. Marta: Eu no meu local de trabalho tenho só os quatro canais. E como faço turnos, durante a noite, vejo as séries para estar acordada. A uma certa altura, a SIC acaba de dar as novelas e as séries do CSI e eu viro para a dois, para ver aquelas entrevistas e assim… Então para si, ter apenas os quatro canais ou o serviço de canais temáticos é a mesma coisa? Marta: Sim, para o João é que não é a mesma coisa, porque ele gosta de ver o Hollywood. João: E desporto. Aquele canal… A Eurosport. Porque há uma parte que é falada e comentada em português. Quando isso acontece eu estou sempre a ver. Gostava de ter mais programas legendados? João: Sim. Sinto a falta de se perceber o que se está a passar. P4. O que mais gosta de fazer nos tempos livres? Carlos: O difícil é ter tempos livres… Mas quando arranjo um tempinho gosto de ler ou de ligar a net. Adelaide: Por acaso ia dizer que quando tenho tempo livre não é para a televisão. João: A mim é um bocado… É um bocado para a televisão… Os meus tempos livres são um bocado exíguos e depois têm que servir para ver tudo… Para ver um bocado de notícias, um bocado de desporto… Também sou um bocado adverso às telenovelas. Todas elas, sejam nacionais ou internacionais. Marta: Eu gosto de ver uma novela… Uma. Qual? Marta: É na SIC. Só vejo essa, mas se não vir também não há problema. É à noite. Então e como é que conjugam isso? João: Quando ela chega a casa e eu estou com tempo para ver qualquer coisa, tenho que mudar para a telenovela. (risos) Marta: Não… Não é assim. Já estás a dormir… É quase à meia-noite que a novela dá. 11
  • 12. Adelaide: Nós aqui não temos desses problemas (risos). P5. Conte como passa um dia normal de semana? Carlos: Amanhã, por exemplo, vou pôr a Adelaide à escola às 08h00, venho levantar os miúdos, pequeno-almoço, vestir, levá-los à escola… Normalmente quando regresso de levá-los à escola, venho eu tomar o pequeno-almoço e consultar o e-mail. E depois trabalho. João: Eu todos os dias começo relacionado com a televisão. Começo os dias às 06h00 da manhã, quando não é mais cedo, acordo e ligo logo a televisão. Vê as notícias logo de manhã… João: Sim, vejo e revejo, porque a SIC Notícias está, de hora a hora, a repetir. Adelaide: Nós aqui também. Quando venho para baixo, antes de sair, ligo a SIC Notícias. Entre o tempo de eles tomarem o pequeno-almoço e preparar as coisas para sair, vê-se. João: Quando acabam as notícias das 10 para as oito, que é quando começa a publicidade, é à hora que eu saio de casa. Trabalho, tenho o horário normal de almoço e saio do trabalho, por volta das 18h30/19h00. E depois é isto assim. É um bocadinho de convivência com a família depois do jantar… E daqui a bocadinho está-se a ver outra vez a SIC Notícias. Nunca substitui as notícias da televisão pelas da rádio? João: Dificilmente. Também tenho um bocadinho de dependência da rádio, mas é porque tenho uma oficina própria onde a rádio está sempre ligada. Lá não tem televisão? João: Não. É uma carpintaria/mercenária. Não posso ter mesmo televisão. E, muitas vezes, a rádio está ligada e passam-se horas em que ninguém consegue ouvir o que ela está a transmitir. A música ouve-se, porque consegue-se ouvir com umas colunas boas, mas o noticiário nem sempre se consegue ouvir. É estranho chegar lá e a rádio estar apagada. Porque a primeira coisa que o rapaz faz quando chega à oficina é ligar a rádio. E já experimentaram ouvir rádio através da televisão? Carlos: Sim, mas é só quando há uma entrevista qualquer que me interessa ouvir. Não tenho por hábito fazer isso. Mas sabem como é que se faz… Carlos: Ah sim, sim. P7. Quantos dias por semana vê televisão (em média)? 12
  • 13. Adelaide: Eu sinceramente acho que vemos pouca televisão. Ela acaba por estar ligada, mas vemos pouco. Mas a televisão está ligada todos os dias? Adelaide: Sim, isso está. P8. Quantas horas de televisão vê por dia (em média)? Adelaide: Uma hora. Carlos: Sim, uma hora. João: Eu devo ver para aí umas quatro horas de televisão. Porque vejo-a essencialmente durante a noite. Marta: Eu se estiver em casa, gosto de pôr um canal que esteja a ouvir. Se estou a passar a ferro ou se ando de um lado para o outro, para não estar a fixar os olhos, tenho a televisão naqueles programas da tarde. É me indiferente… Ou é a SIC, ou a RTP, ou a quatro… Onde se esteja a ouvir… A ouvir falar. Então, tem a televisão ligada durante muitas horas. Não é? Enquanto está a fazer as tarefas domésticas? Marta: Tenho, sim. Mas não estou a ver. É mais como uma companhia. P9. Vê mais ou menos TV ao fim-de-semana? Carlos: Os miúdos vêem mais, da parte da manhã. João: Tem a ver com a estação do ano. Eu, por exemplo, no Inverno, sou capaz de ver sete ou oito horas de televisão por dia. Enquanto no Verão não… Como eu vivo muito perto da marginal, a gente sai mais no Verão, todos os dias. Passeia-se mais. No Inverno, como não estou habituado a sair, passo o dia a ver televisão. P11. Onde vê mais televisão? Carlos: Nós é aqui na sala. Temos televisão no quarto dos miúdos, para eles às vezes verem um filme ao fim-de-semana, ou para adormecerem… Mas normalmente vemos na televisão da sala. E eles têm autorização para irem ver televisão para o quarto, quando quiserem? Carlos: Sim. Mas normalmente, por hábito, ficam cá em baixo. Mas se, por acaso, está a chegar às 22h00 e eles estão muito alerta, eu mando-os para o quarto, eles vêem qualquer coisa na televisão e adormecem. 13
  • 14. João: Connosco é dividido. Muitas vezes, vemos uma parte da televisão no quarto e outra parte na sala. Muitas vezes, está-se a ver qualquer coisa na sala, chega a hora de deitar e continua-se a ver no quarto. Adelaide: Nós, por exemplo, temos televisão no quarto, mas nem costumamos acender. P10. Vê mais televisão sozinho/a ou com companhia? Carlos: Normalmente sentamo-nos para ver televisão. O que é obrigatório é o noticiário e aí estamos à mesa. Aí sim é obrigatório e vemos em conjunto. Depois só se for sentarmo-nos um bocadinho depois do jantar, a conversar um bocadinho. Adelaide: Sim, e a ver qualquer coisa interessante… E sozinhos? Têm o hábito de ver algum programa sozinhos? Carlos: Não. Por exemplo, eu se vier para casa sozinho nem sequer ligo a televisão. Estou ali no computador… João: Eu gosto de ver sozinho. Até gosto mais de ver televisão sozinho. Acompanhado sinto-me distraído. Talvez seja também por ser muitos anos a ver televisão. Mas é assim, eu se estiver a ver um filme a meu gosto e tiver alguém que me distraia, perco um bocado o gosto. E com o futebol é a mesma coisa. Gosto de ver, no máximo, com a família. Não sou capaz de ver um jogo de futebol no café ou numa esplanada… Não consigo concentrar-me a ver. Perco o interesse. P12. (família) Quantos televisores têm em casa? Em que divisões? (Quantas divisões tem a casa?) Adelaide: Cinco. Nos três quartos, na sala e na cozinha. O do nosso quarto nunca é ligado, o da cozinha muito raramente… E os quartos é quando os miúdos vão ver. Carlos: Também temos cinco porque entretanto fomos reformando os televisores velhos e pondo outros mais novos. João: Nós temos quatro televisões. P13. (família) Quando compraram o último televisor? Adelaide: Em Agosto ou Junho de 2010. Então foi há relativamente pouco tempo… Adelaide: Sim. 14
  • 15. P14. (família) Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses? Carlos: Não. P15. Usa teletexto? Em caso positivo, que tipo de informação procura? Carlos: Eu uso com pouca frequência. Só se for para ir à procura de alguma informação… E que tipo de informação procura? Carlos: Normalmente é para ver a programação da televisão, porque para outro tipo de informação vou à net. João: Nós raramente usamos. II – TV digital: conhecimento, atitudes e expectativas P16. Já ouviu falar de TV digital? João acena com a cabeça afirmativamente. Que ideia é que têm do que é a televisão digital? Carlos: A ideia que eu tenho é que é um formato diferente, que tem a capacidade de transportar muito mais informação. O que permite uma série de funcionalidades. No imediato, uma melhor qualidade de imagem e de som. E depois uma série de funcionalidades que a TV normal não permite. Todos já tinham ouvido falar? Sim. Carlos: No “apagão” (risos). Onde é que ouviram falar? Na televisão? Carlos: Sim, no noticiário. O Carlos já respondeu um pouco a esta questão, mas vamos colocá-la na mesma porque podem surgir outras ideias. Que vantagens é que associam à TV digital? Carlos: Por exemplo, utilizando o nosso cabo, a qualidade de imagem é notória. Permite-nos… Mas isso não sei se terá exactamente a ver com o digital… Permite-nos a gravação, ver o programa à hora que eu bem entender… Uma série de funcionalidades… 15
  • 16. O serviço de Pausa TV, a rádio… Não é? Carlos: Exacto. P18. Que desvantagens associa à TV digital? Carlos: A haver desvantagem, será a necessidade de adaptar o equipamento mais antigo. O que também envolve custos… Mais alguma? Carlos: Não sei… Assim, honestamente, nunca pensei que desvantagens é que me traria a TV digital. E têm televisão digital aqui em casa? Carlos: Nós temos digital, sim. Este sinal que recebemos é digital. Temos Cabovisão. Em todas as televisões da casa? Carlos: Não. Temos só na sala. Nas outras temos o sinal analógico por cabo. Têm algum motivo especial para não terem televisão digital nas outras televisões? Carlos: Não… Não há motivo nenhum em particular. Eu presumo – e agora estou a falar um bocadinho de cor – que nós temos digital, porque esta caixa é digital. Mas não sei… Porque o sinal que nós recebemos aqui é o mesmo sinal que é distribuído pelo resto da casa. Nós temos é a caixa aqui. Estão a pensar em colocar televisão digital nas outras televisões? Carlos: Não. Não se coloca essa necessidade. P21. O sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos, vai ser desligado - sabia? Carlos: Sim. Adelaide: Sim, sabíamos. Carlos: O “apagão”. Sabem qual é o nome que se dá ao processo? Carlos: Não… 16
  • 17. P24. Quando é essa data-limite: tem ideia? Carlos: Acho que está para breve. Não está? Podem apontar um ano? Carlos: Se não for este ano, é já para o ano. Acho que está assim para perto. Não está? É sucintamente explicado o processo de desligamento do sinal analógico de televisão. (Carlos tem de abandonar a entrevista para ir trabalhar) P24. Instalar e usar TV digital é mais complicado que a TV analógica, em sua opinião? Adelaide: Acho que não. Não sente nenhuma diferença a nível de utilização? Adelaide: Não… P23. Quando não sabe como funciona um dado equipamento electrónico, como resolve a situação? Adelaide: Ou por experimentação ou, se houver possibilidade de haver instruções, consultar. Mas normalmente é por experimentação. Nós aqui, por exemplo, a nível das gravações, foi o que fizemos. Fomos experimentando e a ver como é que funcionava. E o João, em sua casa, como é que faz? João: Se houver alguma indicação, nas instruções, tudo bem. Senão vai-se tentando. Adelaide: E eu agora estava-me a lembrar que, às vezes, também nos suportamos na net. Estava-me a lembrar porque, por exemplo, eles têm consolas e no outro dia eu não sabia do manual de instruções da consola para sintonizar um comando e fui ver na net. João: Vai-se experimentar, vai-se à procura. E vai-se esperando que algum filho chegue a casa e que comece a dominar (risos). Eles estão mais virados para estas novas tecnologias. P32. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do que vê hoje em dia? João: Se for vivo, de certeza absoluta que vou ver mais televisão. 17
  • 18. Porquê? João: Porque daqui a cinco anos já tenho 65 anos, já vou para a reforma e vou ter portanto mais tempo livre (risos). Adelaide: Eu acho que não. Acho que a tendência, se calhar, é até ser o inverso. Acha que vai ter outros interesses? Adelaide: Sim, porque eu acho que, por exemplo, há cinco anos atrás, via bem mais televisão do que vejo hoje e vou substituindo gradualmente. Porque o pouco tempo livre que tenho vou ocupando com a leitura, com a pesquisa de alguma coisa que precise, mesmo para o trabalho… Portanto, vou substituindo a televisão. P33. Como imaginam que a televisão venha a ser daqui a 10 anos? João: Será, de certeza, bem mais evoluída. A televisão daqui a dez anos é capaz de não se parecer com nada do que é hoje. É capaz de ser mais evoluída. A minha filha tocou agora numa situação que é eu ver muito mais televisão do que via há uns anos atrás, mas se, por exemplo, eu tenho seguido a evolução do manuseamento dos computadores, se calhar hoje não via tanta televisão. Estava mais ao computador. Mas ainda vai a tempo de se dedicar ao computador… Adelaide: É! A gente vai pô-lo a experimentar. João: Já tenho experimentado uns cursozitos, mas eles nos cursos nunca ensinam tudo o que a gente quer. Mas isto também tem a ver com a idade, porque eu quando tinha a vossa idade ia à procura do desconhecido e tentava saber, tentava conhecer… E com a passagem dos anos, para mim, isso perdeu um bocadinho o interesse. Porque, se não fosse isso, se calhar não estaria a ver tanta televisão como vejo hoje. Outro tipo de serviços, como poderem procurar qual é a farmácia de serviço através da televisão, ou outros serviços de informação útil… O que é que gostavam de poder fazer através da televisão? Adelaide: Por acaso nunca tinha pensado nisso, porque normalmente esse tipo de informação costumamos procurar na net. Acha que seria interessante ter serviços de procura de emprego, ou serviços ligados à saúde na televisão? Adelaide: Eventualmente sim. Mas, por exemplo, no meu caso, não sei se iria substituir a busca na net pela da televisão. 18
  • 19. João: Acho que isso era mais vantajoso para os grandes centros. Agora para a gente aqui, que somos mais pequenos é mais fácil a pessoa rapidamente saber por alguém. E se a televisão trouxesse agora um canal extra gratuito? Acham que seria importante ou não iria trazer nada de proveitoso? João: Acho que era mais um… Como já têm tantos canais, não iria fazer a diferença… Adelaide: Exacto. Apesar de terem muitos equipamentos de entretenimento, fazem um esforço para terem momentos em família, em que não “ligam” aos media… Adelaide: Sim, principalmente à hora do jantar. João: Eu disse que via uma média de 6 horas de televisão, mas são horas nocturnas, em que eu estou meio a dormir, meio a ver televisão. Vejo metade, adormeço outra metade e depois tenho que esperar para ver o resto do que não vi… Caracterização de cada indivíduo da família P36. Idade Adelaide: 33 anos Carlos: 37 anos. Crianças: 8, 4 e 2 anos. João: 59 anos. Marta: 53 anos. P37. Localidade de residência/ Concelho de residência/ Distrito de residência Nazaré. P38. Ocupação e Profissão Adelaide: Professora. Carlos: Gerente de um bar. João: Marceneiro. Marta: Auxiliar de Acção Educativa. P39. Habilitações académicas Adelaide: Licenciatura. Carlos: 12º ano. Está a frequentar uma licenciatura. João: 4º ano. Marta: 9º ano. P41. Nº de pessoas no agregado familiar Estavam dois agregados familiares presentes na entrevista. O de Adelaide e Carlos, com os três filhos (cinco pessoas) e o de João e Marta, com os dois filhos mais novos (quatro pessoas). 19
  • 20. P42. Uso de telemóvel (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Todos usam telemóvel, há mais de dez anos. P43. Uso de computador (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Em casa de Adelaide e Carlos todos usam o computador, há cerca de 9 anos (até mesmo as crianças). Em casa de João e Marta, os dois filhos usam o computador e João afirma que está a esforçar-se por aprender a usar. P44. Uso de internet (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Os dois agregados familiares têm internet em casa há cerca de nove anos. Em casa de João e Marta, só os filhos é que usam a internet. P45. Equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal (rádio, VCR, DVD, etc) Playstation, Wii, leitor de DVDs, rádio, leitor de CDs. 20
  • 21. Relatório da visita a casa da família 2 (“Sobral”) 17 de Setembro de 2010 Nazaré José (pai): 68 anos, reformado. Beatriz (mãe): 60 anos, gerente de loja. Laura (irmã): 70 anos, reformada. Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi- estruturada realizada em casa da família “Sobral”, da Nazaré, no dia 17 de Setembro de 2010. A família “Sobral” é composta por três pessoas: o casal José e Beatriz, de 68 e 60 anos, e a irmã de José, Laura, de 70 anos. José e Beatriz têm três filhos, de 22, 37 e 38 anos, mas nenhum deles estava em casa no momento da entrevista, até porque já não habitam na vila, regressando apenas nalguns fins-de-semana. A visita teve início pelas 23h00 e durou cerca de 1 hora e 15 minutos. O casal “Sobral” passa grande parte do dia a trabalhar no supermercado do qual é Figura 1 – Beatriz, de 60 anos, tem pouco tempo livre. Quando não está no supermercado de que é proprietária, aproveita para adiantar as tarefas domésticas e consegue ver um pouco de televisão ao mesmo tempo. proprietário. Neste momento, é Beatriz que faz a maior parte da gestão da loja e, por isso, sobra-lhe pouco tempo para o lazer. Nos tempos livres, Beatriz acaba por 21
  • 22. aproveitar para fazer tarefas domésticas. No dia da entrevista, esteve num dos quartos, a passar a ferro, enquanto espreitava a programação na TV. Na verdade, esta imagem representa bem os hábitos de Beatriz relativamente à televisão. A lojista raramente está em frente ao ecrã, sem fazer outra coisa ao mesmo tempo. Quando acontece, geralmente o cansaço fala mais alto e Beatriz acaba por adormecer. Ainda assim, a nazarena revela que entre os seus programas de eleição estão “o Malato (Quem quer ser milionário), e uma ou outra telenovela, que afirma nunca seguir ao pormenor. No caso de José, a televisão ocupa um espaço muito mais relevante na rotina. Enquanto a esposa não assiste a mais de uma hora de televisão por dia, José afirma ver cerca de duas horas de TV diariamente. No entanto, Laura garante que o irmão está sempre a ver televisão. Efectivamente, José liga a televisão logo pela manhã, quando acorda, para se manter a par do que se passa no mundo. Depois, os programas de entretenimento da manhã servem «para estar em fundo» e só se algum tema lhe despertar interesse, segue a história com atenção. Mais tarde, quando vai para a loja, José mantém a televisão ligada, mas diz que dificilmente presta atenção ao que está a emitir. De facto, José gostaria de ter a oportunidade de ver mais os programas de que gosta. Para além da falta de tempo, as questões técnicas impõem-se na hora de ver os programas favoritos. «Há programas como o National Geographic, o Odisseia, que eu tenho muita pena de não ver, porque gosto imenso deles. Mas esta televisão não está bem sintonizada com alguns programas desses», explica. José sublinha que outro dos motivos para ligar a TV é o futebol. «Gosto de ver futebol, mas não sou doente pelo futebol. Ultimamente até tenho ido ao café, porque deixei de ter a Sport TV», conta. Já a irmã, Laura, de 70 anos, admite que é quem vê mais televisão na família: cerca de quatro horas diárias. No topo das suas preferências, estão os programas de humor. Ultimamente vê sem falhar o programa Cinco para a Meia-Noite, rejeitando a ideia de que este “talk show” interessa apenas aos jovens. A família “Sobral” tem três televisões em casa e normalmente vê mais televisão na sala de estar. Quanto às funcionalidades da televisão, José e Laura explicam que nunca sentiram necessidade de utilizar o teletexto, nem sabiam como fazê-lo. No entanto, José considera que um serviço como o teletexto pode ser bastante útil a partir do momento em que se aprende a funcionar com ele. «Nunca percebi… Não é que não 22
  • 23. tenha o seu interesse, para a gente ver aquilo que vai dar. Vermos os programas antecipadamente. Mas eu não consulto porque nunca me ensinaram a mexer nisso (…) Há muitas coisas destes comandos, que às vezes aparecem ali e ninguém sabe fazer. Eu nunca fui ensinado e também nunca me preocupei muito em procurar saber. Mas que tem interesse, tem», considera. No que respeita ao conhecimento, atitudes e expectativas em relação à TV digital, foi José o membro da família que demonstrou ter mais noções sobre o tema. Questionado Figura 2 - Laura, de 70 anos, vê cerca de quatro horas de televisão, sobretudo à noite. Um dos seus programas preferidos é o Cinco para a Meia-Noite, da RTP2. sobre se já ouviu falar em TV digital, José respondeu afirmativamente, acrescentando de imediato que esta é uma tecnologia já em utilização e que ainda só lhe conhece uma vantagem. «Já ouvi falar. Já está em funcionamento… Mas tirando a qualidade da imagem, não sei o qual é o benefício que traz», comenta. Quanto às desvantagens deste tipo de transmissão, José diz não conhecer o suficiente sobre ela para lhe apontar pontos fracos. Por sua vez, Laura reporta para a questão dos preços. «É conforme o custo dela…», avisa. Em casa dos Sobral, há televisão por cabo. Questionados sobre os motivos que levaram a família a pagar uma assinatura de televisão, os Sobral discordam. Enquanto Laura considera que a família precisava de ter uma grelha de canais mais alargada, José conclui que não necessitava de mais do que quatro canais. «Bem vistas as coisas, eu não precisava de mais de quatro canais. Eu continuo a usar os canais portugueses. Não quer dizer com isso, que não tragam vantagens aqueles que eu não vejo. Gostaria 23
  • 24. de ver. Ainda não vejo porque há alguns que não estão sintonizados e precisava de trazer aqui uma pessoa não para desfazer o que está, mas para organizar os canais. A gente fica sempre com a impressão de que são poucos os quatro canais. Mas, quando nós olhamos para trás, vemos que, na maioria dos casos, nós só usamos os quatro canais. Se me perguntarem o que é que eu vi ontem, ou no resto dos dias, foi os quatro canais», reflecte. No que toca ao conhecimento acerca do “switch-off”, José afirmou estar a par do processo. Apesar de não conhecer a data-limite para o “apagão”, o lojista suspeita que «não vai estar muito tempo sem isso acontecer», acreditando que desligarão o sinal Figura 3 - A família “Sobral” não precisa de se preocupar em adaptar as suas televisões, pois tem um serviço de televisão paga. No entanto, José estava a par do apagão analógico. ainda em 2011. Por sua vez, Laura admitiu já ter ouvido falar, «mas não ligou» ao assunto. A família “Sobral” não prevê que as suas rotinas relativamente à televisão mudem nos próximos cinco anos. Laura imagina que passará o mesmo tempo em frente ao ecrã, e José demonstra-se sem opinião sobre o assunto. A verdade é que, de acordo com estes irmãos, a televisão seria muito mais interessante se apostasse nos conteúdos mais ligados à cultura e ao espectáculo. Para José, regressar aos tempos do teatro na televisão tornaria a programação mais apelativa. «Gostava que houvesse teatro na televisão, como antigamente. Os teatros na televisão eram muito bonitos», sugere. Por fim, a partir da questão “Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10 anos?”, José anteviu televisores cada vez mais finos, com mais qualidade e ao mesmo 24
  • 25. preço que os televisores tradicionais. «Ultimamente, a tendência tem sido aparelhos fininhos. E estou convencido de que não vamos sair daí. Este televisor (aponta para o seu televisor da sala) pesa 70 quilos. Têm que ser dois homens com força para o transportar. De maneira que temos que esperar que venham outras coisas mais leves. Estou convencido de que será esse o caminho. Não os vejo agora a voltarem outra vez atrás. Quanto ao custo que podia impedir as pessoas de comprar, o plasma já está quase ao mesmo preço do que um televisor vulgar. Aparelhos plasma, que ninguém pensava poder comprar há uns anos atrás, estão ao mesmo preço que um televisor normal. O caminho é serem mais leves, ao mesmo preço», prevê. Transcrição da entrevista semi-estruturada I – Televisão: posse, usos, preferências e atitudes P1. Quais os programas favoritos? Laura: Todos (risos). A partir das notícias, a minha preferência não é assim muito grande. Gosto de coisas cómicas, gosto de um bom programa de fado… Gosto de notícias na televisão, que me deixem mais esclarecida, entrevistas… Laura assiste também diariamente ao programa “5 para a meia-noite”, da RTP2. Este é um dos seus programas preferidos no momento. Então vê mais programas portugueses ou também vê coisas estrangeiras? Laura: Mas o que é que eu percebo de estrangeiro? Programas que tenham legendas… Laura: Com legendas sim. Vejo, mas não tenho assim muito tempo nem disposição para estar a ver um filme, por exemplo. Não tenho paciência para ver a mesma série, do princípio ao fim. E a Beatriz? Beatriz: Gosto de ver o programa do Malato. Laura: Ah esse programa está muito interessante… Beatriz: Gosto de ver uma novela… Vejo uns bocadinhos de vez em quando, mas não vejo ao pormenor. E o José? Beatriz: O futebol… José: Eu agora não me lembro quais são, mas gosto de muitos programas. Gosto de ver futebol, mas não sou doente pelo futebol. Ultimamente até tenho ido ao café, porque deixei de ter a Sport TV. Depois há programas como o National Geographic, o Odisseia, que eu tenho muita pena de não ver, porque gosto imenso deles. Mas esta televisão não está bem sintonizada com alguns programas desses. P4. O que mais gosta de fazer nos tempos livres? 25
  • 26. Beatriz: Eu nunca tenho tempo livre, estou sempre a trabalhar. José: Não há tempos livres. Mas quando têm um tempinho livre, o que fazem? José: Vamos à Pederneira. P7. Quantos dias por semana vê televisão (em média)? José: Todos. Beatriz: Todos. Laura: Todos P8. Quantas horas de televisão vê por dia (em média)? Laura: Não sei. É incerto… Cinco ou seis horas de TV por dia? Laura: Eia não… Acho que não. Quatro horas? Laura: Talvez. Por aí… E o senhor José? Laura: Ele está sempre a ver televisão (risos). José: Eu vejo televisão quando acordo, aí às 08h00/08h30. Gosto de pôr logo a televisão a trabalhar para ver o que se passa no mundo. Depois vêm as notícias. Depois sou capaz de adormecer um bocadinho. Hoje adormeci um bocadinho mais do que a conta. Quando me levantei, era já tarde. Depois também vejo um bocado do programa da manhã da RTP, umas vezes com atenção, outras só para estar em fundo. Vou-me interessando por aquilo que eles às vezes lá põem. Então quantas horas vê de televisão por dia? Quatro horas? José: Não. Duas horas. Não vou dizer que quando vou para baixo, a televisão não está ligada. Mas não estou com a mesma atenção. Está a televisão a trabalhar, e quando vejo que há alguma coisa que me interessa, chego-me ao pé. Quando não interessa, recuo. E ao fim-de-semana? José: Ao fim-de-semana é a mesma coisa. Beatriz diz que nunca tem tempo para si, está sempre a trabalhar. Por isso, também não tem tempo para a televisão. 26
  • 27. P10. Vê mais televisão sozinho/a ou com companhia? Laura: É quase sempre sozinhos… A maioria do tempo… A gente tem que se desenvencilhar. Vira-se para o irmão Laura: Então e tu não gostas do “5 para a meia-noite”? José: Já tenho visto… Não é nada do outro mundo. Laura: É engraçado. P10. Vê mais televisão sozinho/a ou com companhia? José: É-me indiferente. P11. Onde vê mais televisão? José: É aqui (na sala). P12. (família) Quantos televisores têm em casa? Em que divisões? (Quantas divisões tem a casa?) Laura: Três. Na sala e em dois quartos. P13. (família) Quando compraram o último televisor? Laura: Há cerca de cinco anos. P14. (família) Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses? Laura: A ver se não… José: Eu quero ver se sim. Eu preciso de uma televisão maiorzinha para o meu quarto. E eu compre duas, aqui há tempo, para as minhas filhas e têm o tamanho ideal. P15. Usa teletexto? Em caso positivo, que tipo de informação procura? Laura: Não. José: Não. Nunca percebi… Não é que não tenha o seu interesse, para a gente ver aquilo que vai dar. Vermos os programas antecipadamente. Mas eu não consulto porque nunca me ensinaram a mexer nisso. Laura: Nunca foi preciso… José: Há muitas coisas destes comandos, que às vezes aparecem ali e ninguém sabe fazer. Eu nunca fui ensinado e também nunca me preocupei muito em procurar saber. Mas que tem interesse, tem. II – TV digital: conhecimento, atitudes e expectativas P16. Já ouviu falar de TV digital? 27
  • 28. José: Já ouvi falar. Já está em funcionamento… Mas tirando a qualidade da imagem, não sei o qual é o benefício que traz. Portanto, a única vantagem que conhecem da TV digital, é o facto de trazer melhor qualidade de imagem. Certo? José: Sim, sim. P18. Que desvantagens associa à TV digital? José: Também não conheço o suficiente para saber se há desvantagens. Laura: É conforme o custo dela… Tem televisão digital aqui em sua casa? Laura: Não… José: É capaz… Aqui em casa… Essa é uma boa pergunta. Eu não sei se esta tem ou não tem, mas é capaz de não ter. P19. (família) Que tipo de TV tem em casa? José: Temos Cabovisão. Porque é que têm este serviço de televisão paga? José: Bem vistas as coisas, eu não precisava de mais de quatro canais. Laura: Precisavas… José: Eu continuo a usar os canais portugueses. Não quer dizer com isso, que não tragam vantagens aqueles que eu não vejo. Gostaria de ver. Ainda não vejo porque há alguns que não estão sintonizados e precisava de trazer aqui uma pessoa não para desfazer o que está, mas para organizar os canais. A gente fica sempre com a impressão de que são poucos os quatro canais. Mas, quando nós olhamos para trás, vemos que, na maioria dos casos, nós só usamos os quatro canais. Se me perguntarem o que é que eu vi ontem, ou no resto dos dias, foi os quatro canais. P21. O sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos, vai ser desligado - sabia? José: Sei, sei. P22. Quando é essa data-limite: tem ideia? José: Não sei. Isso não perguntei. Sabem se será este ano, para o ano, daqui a vinte anos? José: Não, não. Estou convencido de que será daqui a um ano ou assim. Em 2011? 28
  • 29. José: Julgo que sim. Acho que não vai estar muito tempo sem isso acontecer. E sabem como se chama esse processo? Laura: Eu já ouvi falar, mas não liguei. É sucintamente explicado o “switch-off” P32. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do que vê hoje em dia? José: Não sei. Laura: Eu sou capaz de ver a mesma coisa. P31. O que gostaria de ver / aceder através da TV digital? José: Em termos de conteúdos, gostava que houvesse teatro na televisão, como antigamente. Os teatros na televisão eram muito bonitos. Laura: Sim, era muito interessante! P33. Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10 anos? José: Ultimamente, a tendência tem sido aparelhos fininhos. E estou convencido de que não vamos sair daí. Este televisor (aponta para o seu televisor da sala) pesa 70 quilos. Têm que ser dois homens com força para o transportar. De maneira que temos que esperar que venham outras coisas mais leves. Estou convencido de que será esse o caminho. Não os vejo agora a voltarem outra vez atrás. Quanto ao custo que podia impedir as pessoas de comprar, o plasma já está quase ao mesmo preço do que um televisor vulgar. Aparelhos plasma, que ninguém pensava poder comprar há uns anos atrás, estão ao mesmo preço que um televisor normal. O caminho é serem mais leves, ao mesmo preço. Caracterização de cada indivíduo da família P36. Idade José: 68 anos. Beatriz: 60 anos. Laura: 70 anos. P37. Localidade de residência/ Concelho de residência/ Distrito de residência Nazaré P38. Ocupação e Profissão José: reformado. Laura: reformada. Beatriz: gerente de loja. P39. Habilitações académicas José: 4ª classe. Laura: 4ª classe. 29
  • 30. Laura: 4ª classe. P41. Nº de pessoas no agregado familiar Quatro pessoas. P42. Uso de telemóvel (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) José: Usa de vez em quando. Há seis meses. Laura: Sim. Há dois ou três anos. P43. Uso de computador (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Não usam. P44. Uso de internet (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Não usam. P45. Equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal (rádio, VCR, DVD, etc) Rádio, VCR, DVD. 30
  • 31. Relatório da visita a casa da família 3 (“Roda”) 11-10-2010 Famalicão, Nazaré Margarida (mãe): 35 anos, auxiliar de Acção Educativa. Jacinto (pai): 40 anos, pedreiro. Célia (filha): 20 anos, doméstica. Sandra (filha): 18 anos, doméstica. Fátima (filha): 15 anos, estudante. Henrique (filho): 14 anos, estudante. Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi- estruturada realizada em casa da família “Roda”, residente em Famalicão, no concelho da Nazaré, no dia 11 de Outubro de 2010. A família “Roda” é composta por 8 elementos: um casal com cinco filhos – quatro raparigas e um rapaz – e um neto recém-nascido. A mãe tem 35 anos e o pai 40. As raparigas têm 20, 18, 15 anos e 19 meses e o rapaz tem 14 anos. Margarida é auxiliar de acção educativa e o marido pedreiro. As filhas de 20 e 18 anos já não estudam e são domésticas. Figura 1 – O televisor na sala da família “Roda” foi encontrado pelo pai, que o mandou arranjar e o levou para casa 31
  • 32. Figura 2 – A mãe, Margarida, aproveita os tempos-livres para trabalhar em casa, remodelando o quarto de uma das filhas A visita teve início às 18h00 e durou cerca de 40 minutos. A televisão tem lugar central na sala desta família. Entre alguma confusão decorrente dos trabalhos de remodelação da casa, que a própria Margarida leva a cabo, a televisão está acesa, com som, mas ninguém está a ver. Célia, de 20 anos, cuida da filha recém-nascida num dos quartos e a irmã Sandra faz-lhe companhia. Só mais tarde vão para a sala ver um pouco de Figura 3 – Célia teve um filho há pouco tempo e passa muitas horas em frente ao ecrã. As telenovelas são o seu género televisivo de eleição televisão. Célia senta-se no sofá com o bebé ao colo e assiste ao novo programa da Fátima Lopes, na TVI. A irmã Sandra junta-se a ela e divide a atenção entre o televisor e a sua irmã mais nova, de 19 meses, com quem vai brincando. Mais tarde, mudam de canal, de forma a poderem ver a novela brasileira que têm seguido, na SIC, ao fim da tarde. Margarida está ocupada com as tarefas domésticas e não se interessa pelo que 32
  • 33. passa na TV. O único televisor da casa está na sala há cerca de cinco meses. O marido de Margarida encontrou-o e mandou arranjá-lo. A família recebe mais de quatro canais, mas não pagam assinatura. Margarida não sabe «se é TV Cabo ou Cabovisão». Na entrevista, não estiveram presentes o pai, de 40 anos, nem o filho de 14 anos. Este último é o único elemento da família que passa mais tempo ao computador do que a ver televisão. De acordo com a mãe, o jovem entretém-se a “jogar”. Entre as entrevistadas, Célia e Sandra passam a maior parte do dia em casa pois já não estudam e não estão empregadas. Sandra, de 18 anos, explica que para além das tarefas domésticas, vê “mais de cinco horas por dia” de televisão, elegendo as telenovelas, as Figura 4 – Sandra, de 18 anos, está desempregada e, no tempo que sobra das tarefas domésticas, vê TV, sobretudo telenovelas e programas da MTV séries e os programas da MTV como os seus predilectos. Só o domingo difere do resto da semana, pois Sandra prefere “sair” a ver televisão. Normalmente “irmãos e primos” vêem televisão juntos, já que há apenas um televisor na casa. É unânime que nenhuma rapariga na casa gosta de ver programas sobre desporto. Célia vê “novelas e algumas séries” e, tal como a irmã Sandra, passa grande parte do dia em frente ao ecrã. Já Fátima, que ainda estuda, vê menos televisão do que as irmãs, não ultrapassando as cinco horas diárias. A jovem de 15 anos prefere ver a «SIC, a SIC Mulher, a MTV e a MTV Portugal», não perdendo os programas sobre «moda e remodelação de casas». Já a matriarca, Margarida, gosta de ver as telenovelas e séries do canal AXN. «Vejo umas quatro ou cinco horas de TV por dia. Chego do trabalho às 17h00, faço o jantar, mas costumo ver a novela das 19h00 às 20h00 e depois vou-me deitar». Desde que tem a 33
  • 34. nova televisão, não usa o teletexto. «Eu usava muito, mas como esta televisão não tem comando… O comando que usamos é o da TV Cabo e não tem teletexto». Figura 5 – A mãe, Margarida, explica que a família só tem o comando da TV Cabo, por isso, não consegue aceder ao teletexto, um serviço que antigamente utilizava Quando questionadas acerca da televisão digital (P16. “Já ouviu falar da TV digital?”), apenas Margarida e Fátima respondem afirmativamente. Margarida diz ter ouvido mencionar o assunto no telejornal, enquanto Fátima explica que o que vê é «em casa das amigas». No entanto, nenhuma conseguiu mencionar vantagens ou desvantagens desta tecnologia. Célia e Sandra afirmaram que nunca ouviram falar em TV digital e nenhuma das entrevistadas estava a par do desligamento do sinal, nem faziam ideia da data-limite deste processo. Margarida demonstrou saber vagamente o que as pessoas sem TV digital têm que fazer para continuarem a receber os quatro canais gratuitos de TV em casa: «Ouvi falar que tem que se comprar um aparelho para adaptar à televisão». Fátima «não fazia ideia». Nenhuma das entrevistadas conhecia os custos envolvidos para quem não tem TV Digital continuar a ter TV em casa. Questionada sobre «quanto estaria disposta a pagar para continuar a ter TV», Margarida referiu, rindo-se: «Alguma coisa vai ter que se pagar… Nunca dão nada de graça». Margarida considera que, daqui a 5 anos, vai ver menos televisão do que actualmente. «Cada vez temos que trabalhar mais para ter alguma coisa (risos). E os programas começam a ser desinteressantes. Estão a repetir muito os programas e uma pessoa começa a perder o interesse na televisão por isso», explica. Fátima partilha da mesma opinião. «São sempre os mesmos programas, sempre a mesma coisa. Torna-se 34
  • 35. repetitivo». Ao ouvir falar de serviços interactivos como a possibilidade de ver quais são as farmácias de serviço na sua zona ou de procurar emprego através da televisão, a mãe olha para a filha Sandra e acena com a cabeça dizendo que “sim”, é útil. «A pessoa não ter que sair de casa para ir à procura de emprego ou saber onde está uma farmácia onde possa ir buscar um medicamento era muito bom». Por outro lado, há serviços que a televisão permite que não são alheios a esta família, como a rádio. Margarida explica que ouve «muitas vezes» rádio através da televisão porque gosta de ouvir a RDP África. Por fim, as entrevistadas têm dificuldade em expressar a forma como imaginam a televisão daqui a 10 anos e apenas Margarida lança algumas ideias, considerando que «o aparelho vai ser mais fininho, mas cada vez maior». Transcrição da entrevista semi-estruturada P1. Quais os programas favoritos? Margarida (mãe): Novelas e séries do AXN. Célia (filha): Também gosto de ver novelas e algumas séries. A novela é a da SIC, “Caras e Bocas”. Sandra (filha): Vejo as mesmas coisas e também gosto de ouvir música na televisão (MTV). Mas o que vejo mais é a telenovela e filmes. A minha série preferida é o CSI. Fátima (filha): Vejo a SIC, a SIC Mulher, a MTV e a MTV Portugal. Na SIC Mulher vejo programas de moda, remodelação de casas… P2. Quais os programas dos quais não gosta? Margarida: Futebol (risos) Fátima: Programas de desporto. P4. O que mais gosta de fazer nos tempos livres? Usa o computador? Sandra: Uso o computador dos meus irmãos. Margarida: Elas vêm mais televisão do que usam o computador, mas o irmão usa mais o computador do que a televisão, para jogar e ouvir música. P5. Conte como passa um dia normal de semana? Sandra: De manhã estou em casa, limpo as coisas, faço o almoço para o meu irmão, depois vou buscar a minha mãe. É sempre assim. 35
  • 36. P7. Quantos dias por semana vê televisão (em média)? Sandra: Todos os dias. Vejo mais de segunda a sábado porque ao domingo costumo sair. Fátima: Vejo todos os dias. P8. Quantas horas de televisão vê por dia (em média)? Sandra: Mais de cinco horas por dia. Margarida: Vejo umas quatro ou cinco horas de TV por dia. Chego do trabalho às 17h00, depois é fazer jantar, mas costumo ver a novela das 19h00 às 20h00 e depois vou-me deitar. Célia: Vejo mais ou menos o mesmo que ela (Sandra). Fátima: Acho que não vejo mais de cinco horas por dia. P10. Vê mais televisão sozinho/a ou com companhia? Sandra: Vejo com os meus primos e os meus irmãos. Fátima: Vejo com as minhas irmãs. P12. (família) Quantos televisores têm em casa? Em que divisões? (Quantas divisões tem a casa?) Margarida: Um. Na sala. P13. (família) Quando compraram o último televisor? Margarida: Este televisor foi o meu marido que encontrou e o mandou arranjar. Temo- lo há cerca de cinco meses. P14. (família) Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses? Margarida: Não. P15. Usa teletexto? Em caso positivo, que tipo de informação procura? Margarida: Não. Eu usava muito o teletexto, mas como esta televisão não tem comando…O comando que usamos é o da TV Cabo e não tem teletexto. P16. Já ouviu falar de TV digital? Margarida: Eu já ouvi falar, no telejornal. Célia: Nunca ouvi falar. Sandra: Eu também não. Fátima: Já ouvi falar. 36
  • 37. P17. Que vantagens associa à TV digital? Margarida: Não. Eu ouvi falar, mas como não eram daquelas coisas que me estavam a interessar, não liguei muito. Fátima: O que vejo é em casa das minhas amigas. P19. (família) Que tipo de TV tem em casa? Margarida: Não sei se é TV Cabo se é Cabovisão. Temos mais de quatro canais. P21. O sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos, vai ser desligado - sabia? Margarida: Não. P22. Quando é essa data-limite: tem ideia? Margarida: Não. P25. Sabe o que as pessoas sem TV digital têm que fazer para continuarem a receber os 4 canais gratuitos de TV em casa? Margarida: Ouvi falar que tem que se comprar um aparelho para adaptar à televisão. Fátima: Não fazia ideia. P26. Sabe se há custos envolvidos para continuar a ter TV em casa? Margarida: Não sei. P27. Quanto estaria disposto/a a pagar para continuar a ter TV em casa? Margarida: Alguma coisa vai ter que se pagar… Nunca dão nada de graça (risos). P31. O que gostaria de ver / aceder através da TV digital? Margarida: Basicamente o que vemos agora. As séries, as novelas…Às vezes lá vemos uns programas sobre os modelos ou remodelações de casas… P32. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do que vê hoje em dia? Margarida: Menos. Isto cada vez temos que trabalhar mais para ter alguma coisa (risos). E também os programas começam a ser desinteressantes. Estão a repetir muito os programas e uma pessoa começa a perder o interesse na televisão por isso. Fátima: Menos. São sempre os mesmos programas, sempre a mesma coisa. Torna-se repetitivo. P32.1 Se, por exemplo, a televisão proporcionasse serviços como poderem ver quais são as farmácias de serviço na vossa zona ou poderem procurar emprego através da televisão, isso seria útil para vocês? 37
  • 38. Margarida: (Olhando para a filha Sandra e acenando com a cabeça) Sim. Sandra: Era bom. Margarida: A pessoa não ter que sair de casa para ir à procura de emprego ou saber onde está uma farmácia onde possa ir buscar um medicamento era muito bom. P32.2 Ouvem rádio na televisão? Margarida: Oh, muitas vezes. P32.3 Porquê? Margarida: Porque gosto de ouvir a RDP África. P33. Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10 anos? Acha que vai ser igual? Margarida: Não. Vão acabar com estas televisões. Agora é tudo LCDs e plasmas. O aparelho vai ser mais fininho, mas vai ser cada vez maior. P33.1 O que acham dos serviços de vídeo-on-demand e pausaTV? Fátima: Acho bom. Dá jeito. Caracterização de cada indivíduo da família P36. Idade Margarida (mãe): 35 anos. Jacinto (pai): 40 anos. Célia (filha): 20 anos. Sandra (filha): 18 anos. Fátima (filha): 15 anos. Henrique (filho): 14 anos. P37. Localidade de residência/ Concelho de residência Famalicão, Nazaré. P38. Ocupação e Profissão Margarida: Auxiliar de Acção Educativa. Jacinto: Pedreiro. Célia: Doméstica. Sandra: Doméstica. Fátima: Estudante. Henrique: Estudante. P39. Habilitações académicas Margarida: 9º ano. Jacinto: 4ª classe. Célia: 9º ano. Sandra: 9º ano. P42. Uso de telemóvel Margarida: Sim. 38
  • 39. Jacinto: Sim. Célia: Sim. Sandra: Sim. Fátima: Sim. Henrique: Sim. P43. Uso de computador Margarida: Não. Jacinto: Não. Célia: Não. Sandra: Sim. O do irmão. Fátima: Sim. O do irmão. Henrique: Sim. P44. Uso de internet Margarida: Não. Jacinto: Não. Célia: Não. Sandra: Não. Fátima: Não. Henrique: Não. Nota: Os restantes elementos da família são um recém-nascido e uma criança de 19 meses. A caracterização dos elementos da família que não estavam presentes na entrevista foi fornecida pela mãe. 39
  • 40. Relatório da visita a casa da família 4 (“Pereira”) 15-11-2010 Valado dos Frades – Nazaré Isabel (mãe): 73 anos, reformada. João (pai): 77 anos, reformado. Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi- estruturada realizada em casa da família “Pereira”, residente em Valado dos Frades, no concelho da Nazaré, no dia 15 de Novembro de 2010. O agregado familiar dos “Pereira” é composto por um casal: Isabel, de 73 anos, e João, de 77 anos. Os dois têm ritmos muito diferentes. Apesar de reformada, Isabel ainda trabalha - é proprietária de uma retrosaria no rés-do-chão da casa - enquanto João se mantém em casa. A visita teve início pelas 14h00 e durou cerca de 90 minutos. João almoça mais cedo que Isabel, mas faz companhia à esposa, tal como a televisão, sempre ligada em casa dos “Pereira”. No ecrã passa o programa As Tardes da Júlia, na TVI, mas o que os fez escolher aquele canal foi o noticiário, que não gostam de perder. Quem liga a televisão é quase sempre Isabel. Mesmo não estando atenta às imagens, Figura 1 – À hora do almoço, Isabel, de 73 anos, aproveita para ver um pouco de televisão, pois valoriza muito o telejornal 40
  • 41. «num ou noutro canal», à hora do almoço, tem sempre a emissão nas notícias. «Tudo em português, para poder lidar e ouvir. Às vezes até tenho a televisão muito alta, para ouvir e fazer outras coisas. Quando estou atrasada, já não pode ser nada, tenho que apagar. Porque levamos sempre mais tempo a fazer as coisas quando estamos a ver televisão». Isabel afirma escolher os programas tendo em conta os momentos do dia e o seu estado de espírito. «Durante o dia tem que ser coisas de acção para me despertar (risos). Lamechices vejo à noite», explica a comerciante, concluindo que vê cerca de quatro horas de televisão por dia, principalmente ao serão. «A televisão funciona sempre em casa, porque não gosto do silêncio. Muitas vezes não estou a olhar para ela, mas está a funcionar». No trabalho, Isabel não tem televisão, para não se distrair, e só ouve rádio. No entanto, se lhe tirassem o ecrã do quotidiano, seria dramático. «Ai não. Era difícil. Eu às vezes não sou capaz de adormecer sem ver televisão. Mas isto também tem a ver com a idade», explica depois de admitir que, em tempos, «já viu outro tipo de programas, mais responsáveis», e que agora só vê TV para se “distrair” e não para «se meter em assuntos rigorosos». Já para João, a ausência da televisão não faria muita diferença. «Depois de ter optado Figura 2 – Nos últimos anos, João tem visto cada vez menos TV, pois passa a maior parte do tempo na internet pelo computador deixei a televisão», afirma, explicando que liga a televisão à hora do lanche, porque gosta de ver o fórum da SIC Notícias, mas que até o futebol deixou de ver na TV para seguir na Internet. «Cheguei a ver muitas horas de televisão. Agora não. Cerca de 45 minutos à hora do almoço e mais um pouco ao lanche». O mundo dos blogues foi o que levou João a «fugir da televisão» e a correr para o computador. Aos 41
  • 42. 76 anos, criou o seu primeiro blogue e não tardou até idealizar o segundo, que hoje actualiza com a colaboração do genro. «O primeiro blogue foi criado em 2009. Eu não sabia mexer em computadores, andava à procura das teclas. Todos os dias tinha problemas naquilo porque não percebia nada até que dois alunos da escola onde a minha filha dá aulas vieram fazer um estágio à biblioteca do Valado e ensinaram-nos a mexer em computadores. (…) Agora o blogue tornou-se o meu vício. E eu era contra a Internet!». João sublinha que a sustentação dos dois blogues lhe exigem horas, mas ainda tem tempo para «outras pesquisas». «Também tenho que dar resposta aos e- mails que me enviam (…) E à noite, por exemplo, a última coisa que faço é ir às notícias. Não vou muito aos jornais, mas vou às notícias isoladas que me interessam. Por exemplo, se vejo que na Nazaré houve um temporal, vou lá clicar para ler a notícia». Isabel faz questão de mencionar que foi ela a dar a ideia de comprar um computador portátil e aderir à Internet: «Para fazer pesquisas, que é tão interessante. Pensei que, com o portátil, ele saía de casa e ia para “cascos de rolha” fazer os seus trabalhos. Afinal não. Enfiou-se em casa com o portátil, é impressionante. É capaz de estar horas, horas e horas ao computador». Apesar de estar cada vez mais afastado da televisão, João continua a ter uma opinião sobre esta. «Sabe o que é que eu tenho contra a televisão? É nós não nos podermos manifestar em cima do acontecimento porque estão os telefones sempre impedidos (…) As pessoas que falam na televisão muitas vezes falam partidariamente ou “clubisticamente”. Nós (cidadãos) devíamos poder dar sugestões para ajudar». Também Isabel, que gosta de fazer “rally de canais”, considera que os conteúdos televisivos poderiam melhorar. Questionada sobre a possibilidade de ter um canal sobre a região Oeste, a valadense considerou que «a televisão ganhava muito» com isso. «Pelo menos um canal que fosse mais dedicado a Portugal. Nós temos coisas lindíssimas, buraquinhos lindíssimos. Se houvesse um canal português que se dedicasse a esse tipo de conteúdos, se calhar teríamos muito mais turistas do que temos. A Galiza nesse aspecto é muito mais esperta. Mostra aquilo tudo». Tanto Isabel como João sabem utilizar as possibilidades que a sua televisão oferece. Isabel, por exemplo, utiliza o teletexto para ver os números da lotaria. Já João procura conteúdos sobre desporto, nomeadamente os resultados e classificação das equipas. 42
  • 43. No que respeita ao conhecimento, atitudes e expectativas em relação à TV Digital, Isabel e João afirmam já terem ouvido falar nesta (P16), mas Isabel confessa «não estar assim muito por dentro» do assunto. Questionado sobre as vantagens deste tipo de transmissão, João afirma que ouviu dizer que é «muito melhor», mas revela-se um pouco confuso quanto ao avanço das tecnologias ligadas à televisão. «Agora ainda vai aparecer outra, não é? Eu, como não estou muito virado a aderir a estas transformações, ou porque nos telefonam ou porque temos lido que vai haver uma nova tecnologia, às vezes não aprofundo e não sou capaz de, como agora sugere, explicar o que é». João e Isabel, que têm TV Digital há uma semana, estão constantemente a ser contactados, através do telefone fixo, por empresas que os informam dos novos serviços de televisão, Internet e telefone no Mercado. Foi num desses telefonemas que João ouviu falar, pela primeira vez, na TV Digital. «Outro dia foi através da oferta de um novo serviço, prestado pela Cabovisão, outras vezes é por outras empresas, que telefonam a perguntar se já temos os serviços ou se estamos satisfeitos com o trabalho que nos é fornecido e a dizer que têm agora um pacote e “tal”. Depois, numa altura qualquer, foi-nos dito que este sistema que temos é uma coisa efémera e relativamente perto vai acabar». O casal explica que colocou a TV Digital «mais por causa do telefone» pois «vinha tudo junto». Isabel realça que notou diferença «na cor» e gostou da imagem, para além de o pacote que lhes ofereciam ser “bom”. De acordo com a valadense, a nova caixa que tem por cima da televisão traz serviços com os quais ainda não aprendeu a lidar, mas sabe que existem. «Gravar um programa enquanto estamos a ver outro. Mais ainda não aprendi, ainda não tive tempo». João e Isabel dizem estar a par do desligamento do sinal analógico de TV (P21), mas desconhecem a data-limite para o processo. «Já falaram sobre isso, mas não liguei assim muita importância». João e Isabel estão a pensar comprar uma televisão nova nos próximos tempos. «Um plasmazinho pequenino. Não pode ser muito grande senão depois é exagero», diz Isabel. João até prevê que, se começar a ter problemas de mobilidade, acabará por ter dificuldades em mexer no computador e passará a adormecer a olhar para a televisão. Para o casal, o futuro da televisão é “imprevisível”, mas a evolução é “imparável”. «Eu acho que o futuro passa mais pelo telemóvel completo do que propriamente pela 43
  • 44. televisão. Desde que me conheço, até aos dias de hoje, a evolução é impensável. Nunca me tinha passado pela cabeça as coisas que foram vindo», exclama Isabel. Transcrição da entrevista semi-estruturada A primeira parte da entrevista fez-se ainda na fase que deveria ser apenas de observação, tendo em conta as dificuldades em realizar a observação não- participante. Aproveitou-se a altura para se falar sobre o consumo que a família faz de outros media, como o computador, tendo o tema surgido espontaneamente. João: Eu tenho dois blogues. Veja lá que até tenho dois blogues com esta idade! (risos). Um, durou um ano, ainda o tenho e depois fiz um segundo blogue em que eu sou o fornecedor do material e o meu genro faz a paginação. Eu só tenho a 4ª classe. Como ele tem muito mais capacidades, faz a contextualização da informação e a paginação. Por exemplo, se quero falar da terra da abóbora, ele vai fazer uma pesquisa e vai escrever que a abóbora veio da América, etc. Ou seja, faz o complemento às minhas informações. Ontem houve Crisma e eu fiz fotografias e, passado uma hora, já tinha no blogue parte delas. Tenho é alguma dificuldade no sentido em que tenho na minha cabeça uma orientação e depois sai ao contrário porque o blogue é ao contrário. A primeira coisa que pus vem no fim. Eu procuro orientar-me nesse aspecto porque a nível de datas, etc. aquilo é uma miscelânea que não tem pés nem cabeça. O blogue que o meu genro organiza já não é assim. Está tudo impecável porque ele o sabe paginar. O primeiro blogue foi criado em Agosto de 2009, quando tinha 76 anos. Eu não sabia mexer em computadores, andava à procura das teclas. Todos os dias tinha problemas naquilo porque não percebia nada até que, em Julho de 2009, dois alunos da escola onde a minha filha dá aulas vieram fazer um estágio à biblioteca do Valado e ensinaram-nos a mexer em computadores. (…) Agora o blogue tornou-se o meu vício. E eu era contra a internet! Isabel: Eu é que lhe dei a ideia de ele comprar um portátil e pôr internet, para fazer pesquisas, que é tão interessante. Pensei que, com o portátil, ele saía de casa e ia para cascos de rolha fazer os seus trabalhos. Afinal não. Enfiou-se em casa com o portátil, é impressionante. E é capaz de estar horas, horas e horas ao computador. Por mim tudo bem! Ele antes era contra a internet. Dizia que era muito viciante e perigoso. Afinal são horas e horas… João: A sustentação de dois blogues, a busca de fotografias e a organização por temas exigem horas. Depois também tenho que dar resposta aos e-mails que me enviam. Quando se chega a noite, vou lá ver e já lá tenho trinta coisas para ir abrir. Alguns dizem-me assim “Ah eu nem os abro, mando-os para o lixo”, mas eu respondo “Epá, eu para saber se são bons ou se não prestam tenho que os abrir!”. E os que me conhecem sabem que há coisas que para mim não têm interesse e podiam ter um bocadinho de cuidado em não enviar esses mails. 44
  • 45. Isabel: (Explica ao marido) Mas as pessoas quando acham alguma coisa interessante enviam para a lista toda de contactos. É isso que eles fazem. Mas o João não envia assim, o João faz a escolha. João: (…) Em relação às outras buscas. Por exemplo, à noite, a última coisa que faço é ir às notícias. Não vou muito aos jornais, mas vou às notícias isoladas, que me interessam. Por exemplo, se vejo que na Nazaré houve um temporal, vou lá clicar para ler a notícias. Em relação a compras ou sites de outros países, não vou muito. No mail, faço categorias para todos os temas “Católicas, Maliciosas, Amizade”, etc. Se me enviam e-mails sobre a América ou as Cataratas do Niágara ponho-as numa pasta e gosto, mas não sou de ir procurar esses temas. E a Isabel, também usa a Internet? Isabel: Não. Só quando ele me chama para ver alguma coisa. Nem tinha tempo! João: Ela é mais televisão… Isabel: Há uma coisa muito importante. Mesmo que eu (olham um para o outro e riem-se) quisesse ou me disponibilizasse para ir à Internet não podia porque está sempre ocupada! Mas não tenho essa necessidade porque tenho o dia muito ocupado e à noite fico cansada e vejo um bocadinho de televisão. Mas já vi outro tipo de programas, mais responsáveis e assim…Agora não, agora vejo para me distrair, não vou para me meter em assuntos rigorosos. Também sou capaz de ver, mas vejo mais televisão para me distrair. Por exemplo, vou muitas vezes à “Travel”, que tem coisas muito engraçadas e eu gosto de ver, mas é preciso estar bem. De manhã tenho um hábito tremendo de acender a televisão e de ver parte das notícias, nem que seja a parte dos jornais (Revista de Imprensa). Estou sempre à espera que eles apareçam. Eles dão os cabeçalhos dos jornais e fico mais ou menos a saber o que é que se passa. Porque, muitas vezes, chego aqui à hora do almoço e já passou da uma e as notícias já avançaram. Mas estou sempre nas notícias. Num ou noutro posto (canal), estou sempre nas notícias. É tudo em português, que é para eu poder lidar e ouvir. Às vezes até tenho a televisão muito alta, para ouvir e fazer outras coisas. Às vezes, quando estou muito atrasada, já não pode ser nada, tenho que apagar. Porque levamos sempre mais tempo a fazer as coisas quando estamos a ver televisão porque sempre nos distraímos. Se há uma ou outra novela que me interesse – o que é raro acontecer – até vejo. Ultimamente até tenho visto uma no primeiro canal depois de almoço – das 14h30 às 15h00 - mas não quer dizer que veja sempre. É muita acção, eu gosto muito de acção. Lamechices vejo à noite. Durante o dia tem que ser coisas de acção para me despertar (risos). P8. Quantas horas de televisão vê por dia (em média)? Isabel: À noite vejo bastantes. Cerca de 4 horas por dia. A televisão funciona sempre em casa, porque não gosto do silêncio. Muitas vezes não estou a olhar para ela, mas a televisão está a funcionar. Não estou a olhar, mas estou a ouvir, porque é português. Se for estrangeiro não, porque tenho que estar a olhar para as legendas. Mas também vê facilmente programas com legendas? 45
  • 46. Isabel: Vejo muito. Filmes principalmente. Gostava que esses filmes fossem dobrados em português? Isabel: Não, não. Eu penso que, a partir do momento em que a televisão portuguesa deixar de legendar filmes, vai haver muitos mais analfabetos em Portugal. Porque quem gosta de ver um bom filme e não sabe falar inglês, italiano ou até mesmo o espanhol, se vir um filme dobrado deixa de saber definir as línguas. Eu posso nem estar a olhar, mas sei que é um filme inglês que está a dar. Aprende-se qualquer coisinha, sabemos como é que os actores falam, sabe-se isso tudo. E se for dobrado em português não tem graça. Mas durante o dia não vejo televisão. No trabalho não tenho televisão, só ouço rádio. Quando vêm clientes, baixo um pouco o volume, mas quando estou sozinha aumento o som porque não gosto de estar em silêncio. Na casa da costura ainda tenho outra coisa – o meu marido perguntou-me porque é que eu a comprei – que é um leitor de CDs. E quando estou sozinha, a passar a ferro ou a fazer qualquer coisa para mim, e preciso de descansar a cabeça e não estar nervosa, ponho os meus “cdzinhos”. João: Rádio temos por todo o lado, se for preciso ligá-los. Como na retrosaria não temos televisão, ela tem o rádio todo o dia aberto. No leitor de CDs lá ouve a Ana Moura… Isabel: É engraçado, porque eu não era muito de ouvir fados, mas é o que tenho lá mais. O facto de usarem tanto o computador e o rádio quer dizer que, se vos tirassem a televisão do dia-a-dia, não seria dramático? Isabel: Ai não. Era difícil. Eu às vezes não sou capaz de adormecer sem ver televisão. Mas isto também já tem a ver com a idade. Então, mesmo utilizando outro tipo de media, a televisão continua a ser central para si? Isabel: Para mim é. E para o João? Isabel: Para ele não… João: Depois de ter optado pelo computador deixei a televisão. Vejo sempre à hora do lanche, por volta das 17h00, ligo a SIC Notícias porque gosto de ver o fórum. Vejo um bocado de futebol, mas até deixei de ver o futebol na televisão (risos). Quando dá na Sport TV, já não vou ao café ver, vejo na Internet. Cheguei a ver muitas horas de televisão. Agora não. Cerca de 45 minutos à hora do almoço e mais um pouco ao lanche. Isabel: Ele foge da televisão. Ele ultimamente foge da televisão. Mas isso, pelo que eu me apercebo, quase todas as pessoas que têm o computador e a internet vêem pouca televisão. 46
  • 47. João: Quase não vejo televisão. Substituiu o consumo de televisão pelo consumo do computador e internet? João: Um bocado. Isabel: Ainda em relação à televisão. E gosto de fazer rally de canais também. Gosto do canal 2. Acho que tem coisas muito giras. Tem aquele programa, perto da meia-noite (Bairro Alto), com um rapazinho – esqueci-me do nome dele, às vezes não sei os nomes – muito simples, mas conhecedor. Gosto daquela maneira de entrevista. E é giro porque ele leva lá muita gente nova e falam sobre música, sobre isto e sobre aquilo e vê-se muito bem. Também via o “5 para a Meia Noite” porque achava piada. E gosto das séries inglesas. Eu sou diversificada nesse aspecto. P2. Quais os programas dos quais não gosta? Isabel: Sei lá, quando eles ralham muito não me apetece ver. Debates malcriados. Às vezes ainda ficava a ver para depois falar sobre isso, mas depois pensava assim “Ai não estou para te aturar”. Já gostei mais do que gosto daquele debate da segunda-feira (Prós e Contras). Acho que a apresentadora, quando não lhe agrada aquilo que o outro quer dizer, corta muito. E eu não gosto muito dela. Também não gosto muito da Judite Sousa. Acha que esses programas prestam serviço público? Isabel: Não presta tanto serviço como eles podem pensar. É um debate de alerta, mas nem todos os portugueses estão preparados para esse tipo de debate. Ouvem, mas não entendem. Por isso é que eles dizem todos: “Ah, fala-se nisto e fala-se naquilo mas nunca se resolve nada”. Nem tem que se resolver. É para alertar o problema. Mas já ouvi mais esses programas. Às vezes fazem muito barulho. João: Sabe o que é que eu tenho contra a televisão? É nós não nos podermos manifestar em cima do acontecimento porque estão os telefones sempre impedidos. Acham que os programas de televisão deviam ser mais interactivos? João: Eu acho que sim. As pessoas que falam na televisão muitas vezes falam partidariamente ou clubisticamente. Nós (cidadãos) devíamos poder dar sugestões para ajudar. Se a televisão tivesse mais canais regionais, que mostrassem mais Portugal, isso agradar-vos-ia? Isabel: Era. Porque, por exemplo, no canal “Travel” há, de facto, um português mas não é à hora boa para mim. Se houvesse, por exemplo, um canal sobre a região oeste, acham que era interessante? Isabel: Ai eu acho que sim. A televisão ganhava muito. Ou pelo menos um canal que fosse mais dedicado a Portugal. Nós temos coisas lindíssimas, buraquinhos lindíssimos. 47
  • 48. Se houvesse um canal português que se dedicasse a esse tipo de conteúdos, nós se calhar teríamos muito mais turistas do que temos. A Galiza nesse aspecto é muito mais esperta. Mostra aquilo tudo. P12. (família) Quantos televisores têm em casa? Em que divisões? Isabel: Agora só temos duas. Já tivemos três. Uma na sala e outra na cozinha. P11. Onde vê mais televisão? Isabel: Eu vejo mais na sala. João: Eu é mais na cozinha. P13. (família) Quando compraram o último televisor? Há uns cinco, seis anos. P14. (família) Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses? Isabel: Eu acho que sim (risos). Esta (da cozinha) voltará para o quarto porque é pequenina. Vai uma nova para a sala, assim mais direitinha, destas agora novas. Um plasmazinho pequenino, não pode ser muito grande senão depois é exagero. P15. Usa teletexto? Em caso positivo, que tipo de informação procura? Isabel: Utilizo o teletexto para ver os números da lotaria. João: Eu é o desporto. Para ver as classificações, o resultado dos jogo. Isabel: E às vezes também vou procurar páginas e leio alguma coisa q ache interessante. E quando não sei muito bem e estou intrigada sobre uma notícia vou procurar a notícia e vejo. Isso sou capaz de fazer, mas não sou capaz de fazer muitas coisas. II – TV digital: conhecimento, atitudes e expectativas P16. Já ouviu falar de TV digital? João: Ouvir falar já ouvi… Isabel: Pois, mas não estou assim muito por dentro… P17. Que vantagens associa à TV digital? João: São uns ladrões (risos) porque eu tinha um aparelho que via a SportTV e eles vieram tirá-lo. Quando nós não tínhamos televisão digital comprámos um aparelho – havia quem vendesse - que era ligado à televisão, e a gente via a SportTV. Isabel: Oh João, mas isso era pirata… Estavas sempre aflito. Ele até a utilizava e, às vezes, ficava com medo. João: Depois veio a digital e o aparelho deixou de ter funcionalidade. Mas isto é um “entre-aspas”. Ouço dizer que a TV digital é muito melhor. Agora ainda vai aparecer 48
  • 49. outra, não é? Eu, como não estou muito virado a aderir a estas transformações, ou porque nos telefonam ou porque temos lido que vai haver uma nova tecnologia, às vezes não aprofundo e não sou capaz de, como agora sugere, explicar o que é. Onde é que ouviram falar na TV digital? João: Outro dia foi através da oferta de um novo serviço, prestado pela Cabovisão, outras vezes é por outras empresas, que telefonam a perguntar se já temos os serviços ou se estamos satisfeitos com o trabalho que nos é fornecido, a dizer que têm agora um pacote “tal”. E depois, numa altura qualquer, foi-nos dito que este sistema que temos é uma coisa efémera e relativamente perto vai acabar. P20. Porque razão têm TV digital? João: Foi mais por causa do telefone. Vinha tudo junto. Isabel: Para mim teve mais influência a cor. Gostei da imagem. E como o pacote foi bom… Quando é que aderiram a este pacote de TV digital? João: A semana passada. Porque acabou o outro pacote que tínhamos. Isabel: E isto traz coisas que ainda não aprendi, mas sei que tem, que é gravar um programa enquanto estamos a ver outro. Mas ainda não aprendi, ainda não tive tempo. P21. O sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos, vai ser desligado - sabia? Sim. P22. Quando é essa data-limite: tem ideia? Já falaram sobre isso, mas não liguei assim muita importância. P25. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do que vê hoje em dia? Isabel: Eu acho que enquanto tivermos capacidade para ver e compreender, vamos ver televisão. Se estivermos doentes não apetece porque cansa. Mas se calhar vamos ver menos. João: Eu, se calhar, é o contrário. Começo a ter dificuldades em mexer no computador e deixa-me adormecer a olhar para a televisão (risos). Digo eu, mas isso é no caso de perder a mobilidade, etc. Isabel: É a presença. Eu não gosto muito de estar só. P26. Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10 anos? 49
  • 50. Isabel: Da maneira como as coisas estão a avançar, hoje é de uma maneira, amanhã é de outra… É rápido. Isso aí faz-me pensar. João: É imprevisível dizer o que é amanhã, quanto mais daqui a anos… É uma coisa impressionante o que o telemóvel hoje faz. É imparável de tal forma que suponho que um dia isto ainda vai ser destruído porque infelizmente está na mão do Homem e na capacidade dele poder destruir ou destruir-se. Isabel: Eu acho que o futuro passa mais pelo telemóvel completo do que propriamente pela televisão. Desde que me conheço, até aos dias de hoje, a evolução é impensável. Nunca me tinha passado pela cabeça as coisas que foram vindo. Caracterização de cada indivíduo da família P36. Idade Isabel: 73 anos. João: 77 anos. P37. Localidade de residência/ Concelho de residência/ Distrito de residência Valado dos Frades, Nazaré, Leiria. P38. Ocupação e Profissão Ambos reformados, mas Isabel ainda trabalha numa retrosaria. P39. Habilitações académicas Ambos possuem a 4ª classe. P40. Nível de rendimento da família (Se tivesse de se enquadra num escalão de rendimento com 3 níveis: baixo, médio, alto. Em qual se enquadraria?) P41. Nº de pessoas no agregado familiar 2 pessoas. P42. Uso de telemóvel (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Sim. P43. Uso de computador (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Sim. João usa desde 2009. Isabel só usa quando o marido a chama para ver alguma coisa. P44. Uso de internet (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Sim. João utiliza a Internet diariamente. P45. Equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal (rádio, VCR, DVD, etc.) Duas televisões e rádios. 50
  • 51. Relatório da visita a casa da família 5 (“Santos”) 19 de Outubro de 2010 Alenquer Catarina: 73 anos, reformada. Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi- estruturada realizada em casa da família “Santos”, residente em Alenquer, no dia 19 de Outubro de 2010. Figura 1 – Catarina, reformada de 73 anos, usa um televisor antigo, que já não funciona, como base para outro, de modo a que este ultimo fique mais alto A família “Santos” é composta por apenas um elemento: Catarina, de 73 anos, reformada desde os 35. A entrevista teve início pelas 15h00 e durou cerca de 90 minutos. Catarina mostra o quarto onde vê televisão. Em cima da cómoda tem dois televisores, um em cima do outro, mas apenas um funciona. «Esta televisão quando veio para cá já não trabalhava. Trouxe-a para pôr a outra em cima dela, porque senão ficava muito baixa», explica. É deitada na cama que vê mais televisão. Quando não sai de casa, vê televisão quase todo o dia. «Levanto-me às 07h00 e ligo a televisão só para ver o tempo que vai fazer. Depois fico a ver as notícias e só depois é que costumo mudar de canais à procura daquilo que mais gosto», descreve Catarina, acrescentando que vê sempre, pelo menos, cinco, seis horas de televisão por dia. «Passo muito tempo sozinha», refere, quando lhe pedem para descrever um dia 51
  • 52. normal de semana. Quanto aos fins-de-semana, Catarina pede que nem falemos neles, pois a programação na TV não é tão boa, e sente-se mais a solidão. «Ai não me fale no fim-de-semana, que são os dias piores para mim». Catarina está completamente isolada da família. Enquanto descreve quem está nas várias fotografias espalhadas pela sala, explica que os familiares a foram abandonando aos poucos. Um dos seus filhos faleceu jovem e os outros não lhe falam. Catarina nem sequer sabe onde eles vivem. De vez em quando, para se distrair, ainda vai ao baile, mas não como antigamente. Em casa, já lá vai o tempo em que se entretinha a fazer bordados. Por isso, o seu principal Figura 2 – Catarina passa pelo menos cinco horas do seu dia deitada, em frente à televisão passatempo é a televisão. É esta que lhe proporciona, muitas vezes, a sensação de estar acompanhada. «Gosto de ver o Quem quer ser Milionário, porque às vezes até acerto em certas perguntas que o Malato faz. Participo sozinha aqui comigo. Eu digo assim: “É tal”, e às vezes bate certo (…) Não perco dia nenhum esse concurso, porque acho graça. E eu também estou aqui sozinha e, parecendo que não, vou participando também cá para comigo». Catarina não gosta da TVI, porque o canal exibe demasiadas telenovelas. Apesar de gostar de alguns programas deste género, Catarina prefere os programas que apelam à sua participação. «Gosto de ver a Conceição Lino e o programa das manhãs, na SIC. Gosto de ver e, muitas vezes, ainda ligo para lá e inscrevo-me para ver se me sai alguma coisa para eu poder sair daqui para fora», conta, acrescentando que o programa Preço Certo de Fernando Mendes, também a diverte muito. Catarina vê televisão através do sinal analógico terrestre. Para além da habitual “chuvinha” na RTP, Catarina queixa-se das interferências na televisão quando 52