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Escassez de alimentos e ameaças à civilização - Scientific American Brasil                                  Página 1 de 11




              Reportagem

   edição 85 - Junho 2009


                 Escassez de alimentos e ameaças à civilização
      O maior risco à estabilidade global é o potencial da crise alimentar de provocar a
        derrocada de governos em países pobres. Essa crise está sendo gerada pelo
                      constante agravamento da degradação ambiental

   por Lester R. Brown


   Uma das tarefas mais difíceis de fazer é                                        PER-ANDERS PETTERSSON/Getty Images
   antecipar mudanças repentinas.
   Geralmente projetamos o futuro
   extrapolando tendências do passado. Na
   maioria das vezes, esse enfoque
   funciona. Mas, às vezes, falha
   espetacularmente e as pessoas são
   simplesmente surpreendidas por eventos
   como a atual crise econômica.

   Para muitos de nós, a idéia de que a
   civilização pode desintegrar-se
   provavelmente parece absurda. Quem
   não acharia difícil pensar seriamente
   sobre abandonar completamente aquilo
   que esperamos da vida comum? Que
   evidência poderia nos fazer prestar
   atenção a um alerta tão terrível – e como
   nos comportaríamos para responder a
   ele? Estamos tão habituados a uma longa
   lista de catástrofes improváveis que
   acabamos virtualmente programados a
   rejeitá-las num piscar de olhos: claro,
   nossa civilização pode ser dissolvida num
   caos – e a Terra também pode colidir
   com um asteróide!

   Durante muitos anos, tenho estudado
   tendências agrícolas, populacionais,
   ambientais, econômicas e suas
   interações. Os efeitos combinados dessas
   tendências e as tensões políticas que elas
   geram apontam para o colapso de
   governos e sociedades. Eu mesmo vinha
   resistindo à idéia de que a escassez de
   alimentos poderia levar à derrocada não Crianças aguardam a distribuição de alimentos em vilarejo da República do
   apenas de governos, isoladamente, mas Congo.
   também de nossa civilização global.




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   Não tenho mais como ignorar esse risco. Nosso reiterado fracasso em lidar com os declínios
   ambientais que minam a economia alimentar mundial – e, mais importante, reduzem os níveis dos
   lençóis freáticos, erodindo solos e elevando temperaturas – me obriga a concluir que esse colapso é
   possível.
   O Problema dos Estados Falimentares
   Mesmo um olhar superficial sobre os sinais vitais de nossa ordem mundial corrente acaba oferecendo
   sustentação, ainda que indesejável, à minha conclusão. E nós, no campo ambiental, entramos na
   terceira década de mapeamento de tendências de declínio do ambiente sem que tenhamos
   conseguido observar qualquer esforço significativo no sentido de reverter sequer uma delas.

   Em seis dos últimos nove anos, a produção mundial de grãos declinou para níveis menores que o
   consumo, estabelecendo uma perda acumulada nos estoques. Quando a safra de 2008 começou, os
   estoques acumulados de grãos (carryover, a soma de grãos nos silos quando se inicia a nova colheita)
   garantiam 62 dias de consumo, algo próximo de um recorde negativo. Como conseqüência, os preços
   internacionais dos grãos no 2o e 3o trimestres do ano passado atingiram os níveis mais elevados já
   registrados.

   Enquanto a demanda por alimentos cresce mais rapidamente que a oferta, a inflação do preço do
   alimento resultante exerce pressão severa nos governos dos países que já vinham balançando à beira
   do caos. De fato, mesmo antes da subida de patamar nos preços dos grãos, em 2008, o número de
   Estados falidos estava em expansão. Muitos de seus problemas decorrem do fracasso em reduzir o
   crescimento de suas populações. Mas se a situação alimentar continuar se deteriorando, nações
   inteiras irão à bancarrota a taxas sempre crescentes. Entramos em uma nova era geopolítica. No
   século 20, a maior ameaça à segurança internacional era o conflito das superpotências; hoje, são os
   Estados falimentares. Não é a concentração, mas a ausência de poder que nos coloca em risco.

   Estados vão à falência quando governos nacionais não conseguem oferecer segurança pessoal,
   segurança alimentar e serviços sociais básicos, como educação e saúde. Eles freqüentemente perdem
   o controle de parte ou de todo o território. Quando governos perdem seu monopólio do poder, a lei e
   a ordem começam a se desintegrar. Depois de certo ponto, países podem tornar-se tão perigosos que
   funcionários do socorro alimentar deixam de ter segurança e seus programas são interrompidos; na
   Somália e Afeganistão, condições deterioradas já colocaram esses programas em perigo.
   Estados falimentares são alvo da preocupação internacional, pois servem de fonte para o terrorismo,
   drogas, armas e refugiados, ameaçando a estabilidade política em todos os lugares. A Somália,
   primeira da lista dos Estados falimentares em 2008, tornou-se uma base para a pirataria. O Iraque,
   em quinto lugar, é campo fértil para treinamento de terroristas. O Afeganistão, em sétimo, é o
   principal fornecedor mundial de heroína. Em seguida ao enorme genocídio de 1994, refugiados de
   Ruanda, milhares de soldados armados, ajudaram a desestabilizar a vizinha República Democrática do
   Congo (número seis da lista).

   Nossa civilização global depende de uma rede funcional de nações saudáveis politicamente para
   controlar a disseminação de doenças infecciosas, gerenciar o sistema monetário internacional,
   dominar o terrorismo internacional e alcançar resultados em outros objetivos comuns. Se o sistema
   para o controle de doenças infecciosas – como pólio, Sars ou gripe aviária – entrar em colapso, a
   humanidade estará em apuros. Uma vez que Estados tenham falido, ninguém assumirá a
   responsabilidade por seus débitos em relação a credores estrangeiros. Se um número grande de
   Estados se desintegrar, sua queda irá ameaçar a estabilidade da civilização global em si.

   Uma Nova Forma de Escassez
   O surto de alta nos preços internacionais dos grãos em 2007/08 – e a ameaça que ele representou
   para a segurança alimentar – tem uma característica diferente e mais problemática do que os
   aumentos do passado. Durante a segunda metade do século 20, os preços dos grãos subiram
   dramaticamente várias vezes. Em 1972, por exemplo, reconhecendo a pobreza de sua safra anterior,
   os soviéticos discretamente provocaram a alta dos preços do arroz e milho, comprando esses
   produtos para manipular o mercado. Mas esse e outros choques de preços foram circunstanciais –
   seca na União Soviética, deficiência nas monções na Índia e um calor que fez encolher a safra no
   Cinturão do Milho, nos Estados Unidos. Além disso, os aumentos tiveram curta duração: os preços
   retornaram ao normal nas safras seguintes.

   Em contrapartida, a recente onda altista nos preços internacionais de grãos é tipicamente dirigida por
   tendência, o que torna improvável sua reversão sem a mudança nas tendências. Pelo lado da




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Escassez de alimentos e ameaças à civilização - Scientific American Brasil                  Página 3 de 11



   demanda essas tendências incluem o corrente acréscimo de mais de 70 milhões de pessoas
   anualmente; um número crescente de pessoas querendo subir na cadeia alimentar para consumir
   produtos de origem animal que utilizam muito grãos de produção intensiva (ver Efeito estufa dos
   hambúrgueres, de Nathan Fiala; SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL, março de 2009); e o enorme desvio
   de grãos voltados às destilarias que produzem o combustível etanol.
   A demanda extra de grãos associada à crescente afluência varia amplamente entre países. Pessoas
   em países de baixa renda, onde os grãos suprem 60% das calorias, como Índia, consomem
   diretamente cerca de 0,5 kg de grãos. Em países afluentes, como Estados Unidos e Canadá, o
   consumo de grãos por pessoa é de cerca de 2,0 kg, embora talvez 90% desse consumo se dê por via
   indireta, na forma de carne, leite e ovos de animais alimentados com grãos.

   O potencial de consumo mais adiante é enorme, na medida em que cresce a renda entre
   consumidores pobres. Mas esse potencial fica ofuscado atrás da demanda insaciável por combustíveis
   automotivos baseados em biomassa. Um quarto da colheita de grãos deste ano nos Estados Unidos –
   suficiente para alimentar 125 milhões de americanos ou meio bilhão de indianos nos atuais níveis de
   consumo – será desviado para o abastecimento de automóveis. Apesar disso, mesmo se toda a safra
   americana de grãos fosse direcionada para a produção de etanol, ela atenderia no máximo a 18% das
   necessidades de combustível americanas. A quantidade de grãos necessários para encher o tanque de
   um veículo com tanque de 100 litros com etanol pode alimentar uma pessoa durante um ano.

   A recente fusão das economias dos alimentos e combustíveis implica que se o valor do grão destinado
   a alimentos é menor que o voltado para produção de combustível o mercado irá impulsionar o grão
   para a economia da energia. Essa dupla demanda está levando a uma competição épica entre
   automóveis e pessoas pelo abastecimento de grãos e a um problema político e moral de crucial
   importância e dimensões sem precedentes. Num esforço enorme para reduzir sua dependência de
   petróleo importado e substituí-lo por combustíveis à base de grãos, os Estados Unidos estão gerando
   uma insegurança alimentar global em escala nunca antes vista.

   Escassez de Água e Escassez de Alimentos
   Que dizer sobre suprimentos? As três tendências ambientais que mencionei anteriormente – escassez
   de água fresca, perda de solo arável e aumento da temperatura (além de outros efeitos) decorrente
   do aquecimento global – estão tornando cada vez mais difícil expandir o fornecimento mundial de
   grãos com a velocidade suficiente para torná-lo compatível com a demanda. De todas essas
   tendências, entretanto, a mais imediata é a propagação da escassez de água. O maior desafio aqui é
   a irrigação, que consome 70% do total de água fresca no mundo. Milhões de poços voltados à
   irrigação em muitos países estão agora bombeando água de fontes subterrâneas com velocidade
   maior do que a chuva é capaz de reabastecê-los. O resultado é a queda do nível do lençol freático em
   países habitados por metade da população mundial, incluindo os três maiores produtores de grãos –
   China, Índia e Estados Unidos.
   Geralmente, aqüíferos são depósitos de água renováveis, mas isso não ocorre com alguns dos mais
   importantes deles: os “aqüíferos fósseis”, assim chamados porque “armazenam água antiga e não
   podem ser reabastecidos pelas precipitações”. Por esse motivo – incluindo o vasto Aqüífero Ogallala,
   sob as Grandes Planícies dos Estados Unidos, o aqüífero Saudita e o profundo aqüífero sob o norte da
   planície da China – o esvaziamento desses reservatórios pode ser o fim do bombeamento. Em regiões
   áridas, essa perda também pode colocar um ponto final na agricultura.

   Na China, o lençol freático sob a planície do Norte chinês, uma área que produz mais da metade do
   trigo e a terça parte do milho, está decrescendo rapidamente. Bombeamento excessivo vem utilizando
   a maior parte da água da parte rasa do aqüífero, forçando os perfuradores de poços a recorrer à área
   profunda, que não é renovável. Um relatório do Banco Mundial prevê “conseqüências catastróficas
   para as futuras gerações”, a menos que o uso e fornecimento de água possam rapidamente voltar ao
   equilíbrio.

   Ao ritmo em que vêm caindo os níveis dos lençóis freáticos e secam os poços para irrigação, a safra
   de trigo da China, a maior do mundo, diminuiu em 8% desde o pico de 123 milhões de toneladas em
   1997. No mesmo período, a produção de arroz caiu 4%. A nação mais populosa do mundo pode, em
   breve, estar importando quantidades enormes de grãos.

   Mas a escassez de água é ainda mais preocupante na Índia. Ali, a margem entre o consumo de
   alimentos e a sobrevivência é ainda mais precária. Milhões de poços para irrigação vêm derrubando
   os níveis dos lençóis freáticos em quase todos os estados. Como relatou Fred Pearce na New




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   Scientist:

   Metade dos tradicionais poços perfurados manualmente e milhões de poços com canos de baixa
   profundidade já secaram, trazendo uma onda de suicídios entre os que dependiam dessas fontes.
   Apagões elétricos estão atingindo proporções epidêmicas em estados onde metade da eletricidade é
   usada para bombear água de profundidades superiores a 1 km.

   Um estudo do Banco Mundial relata que 15% do suprimento de alimentos na Índia são produzidos
   com água de minas superficiais. Em contrapartida, informa que 175 milhões de indianos consomem
   grão produzido com água de poços para irrigação que estarão exauridos em breve. A contínua
   retração dos suprimentos de água pode levar a inimagináveis escassez de alimentos e conflito social.
   Menos Solo, Mais Fome
   O escopo da segunda temível tendência – a perda de terras aráveis – também assusta. A camada
   arável do solo está se erodindo mais rapidamente que a formação de solos novos em talvez um terço
   do solo agriculturável do planeta. Essa fina camada de nutrientes essenciais às plantas, o mais básico
   fundamento da civilização, levou longos períodos geológicos para ser formada, embora tenha
   geralmente 15 cm de profundidade. Sua perda, devido à erosão por ação do vento e água, já levou
   civilizações antigas ao colapso.

   Em 2002, uma equipe das Nações Unidas avaliou a situação alimentar no Lesoto, o pequeno lar de
   dois milhões de pessoas embutido na África do Sul. A descoberta da equipe foi objetiva: “A agricultura
   no Lesoto está diante de um futuro catastrófico; a produção das colheitas está decaindo e pode cessar
   simultaneamente em grandes partes do país, se medidas não forem adotadas no sentido de reverter a
   erosão, degradação e declínio da fertilidade do solo”.

   No hemisfério ocidental, o Haiti – um dos primeiros estados a ser reconhecido como falimentar – era,
   com folga, auto-suficiente em grãos há 40 anos. Mas, desde então, o país perdeu quase todas as suas
   florestas e muito de seu solo arável, sendo forçado a importar mais da metade de seus grãos.

   A terceira e talvez mais difundida ameaça à segurança alimentar – elevação da temperatura da
   superfície – pode afetar a produtividade das colheitas em todos os lugares. Em muitos países a
   lavoura cresce em seu optimum termal, ou perto dele. Portanto, um pequeno aumento da
   temperatura durante o período de crescimento das plantas pode levar à diminuição da safra. Um
   estudo publicado pela National Academy of Sciences, dos Estados Unidos, confirmou uma regra
   empírica conhecida entre ecologistas das colheitas: para cada aumento de 1oC sobre o patamar-
   padrão, trigo, arroz e milho sofrem uma quebra de 10%.
   No passado, mais conhecido como o período em que as inovações no uso de fertilizantes, irrigação e
   variedades grandemente produtivas de trigo e arroz criaram a “revolução verde” dos anos 1960 e
   1970, a resposta à crescente demanda por alimento foi a bem-sucedida aplicação da agricultura
   científica: o conserto tecnológico. Nesta época, infelizmente, muitos dos mais produtivos avanços na
   tecnologia agrícola já foram colocados em prática, assim como o crescimento de longo prazo na
   produtividade da terra está sendo reduzido. Entre 1950 e 1990, os fazendeiros elevaram a
   produtividade da cultura de grãos no mundo todo por acre em mais de 2% ao ano, excedendo o
   crescimento populacional. Mas, a partir daí, o crescimento anual da produtividade vem sendo reduzido
   a pouco mais de 1%. Em alguns países, a produtividade parece próxima de seus limites práticos,
   incluindo os níveis de produtividade da cultura do arroz no Japão e China.

   Alguns analistas indicam que colheitas de plantas geneticamente modificadas criam linhagens fora de
   nossas previsões. Infelizmente, entretanto, nenhuma safra oriunda de plantas geneticamente
   modificadas tem elevado significativamente os níveis de produtividade, comparando-se com a
   duplicação ou triplicação ocorridas durante a revolução verde com o trigo e o arroz. E também não
   parece que isso volte a ocorrer, porque as técnicas convencionais para sementes de plantas já
   atingiram a maior parte do potencial para fazer crescer a produtividade das lavouras.

   Manobrando pelo Alimento
   Na medida em que a segurança alimentar vem à tona, uma perigosa política de redução da oferta
   está sendo colocada em jogo: países agindo individualmente, segundo seus próprios interesses
   definidos de forma estreita, estão colocando muitos outros em apuros. Essa tendência começou em
   2007, quando relevantes países exportadores de trigo, como Rússia e Argentina, limitaram ou
   baniram suas exportações na esperança de aumentar a disponibilidade local do fornecimento de
   alimentos e, conseqüentemente, reduzir os preços dos produtos alimentares internamente. O Vietnã,




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Escassez de alimentos e ameaças à civilização - Scientific American Brasil                   Página 5 de 11



   segundo maior exportador mundial de arroz, depois da Tailândia, baniu suas exportações durante
   vários meses pela mesma razão. Esses movimentos podem garantir aqueles que vivem nos países
   exportadores, mas acabam criando pânico nos países importadores, que precisam contar com aquilo
   que sobrou do grão mundial exportável.

   Em resposta a essas restrições, importadores de grãos estão tentando se agarrar a acordos
   comerciais bilaterais de longo prazo que podem, eventualmente, amarrar futuros fornecimentos de
   grãos. Incapazes de contar com arroz do mercado mundial, as Filipinas recentemente negociaram um
   acordo trienal com o Vietnã para garantir a remessa de 1,5 milhão de toneladas de arroz anualmente.
   A ansiedade na importação de alimentos está até mesmo gerando esforços inteiramente novos por
   parte dos países importadores de comida, no que tange ao aluguel de fazendas em outros países.
   Apesar dessas medidas paliativas, preços de alimentos em crescente elevação e propagação da fome
   em muitos outros países estão começando a romper a ordem social. Em várias províncias da
   Tailândia, as depredações dos “saqueadores de arroz” têm forçado a população das vilas a guardar
   com armas carregadas seu alimento durante a noite. No Paquistão, um soldado armado escolta cada
   caminhão de grãos. Durante a primeira metade de 2008, 83 caminhões transportando grãos, no
   Sudão, foram seqüestrados antes de atingir os campos de refugiados de Darfur.

   Nenhum país está imune aos efeitos do estreitamento no fornecimento de suprimentos alimentares,
   nem mesmo os Estados Unidos, o maior celeiro mundial. Se a China voltar-se ao mercado mundial em
   busca de enormes quantidades de grãos, como fez recentemente em relação à soja, terá de comprar
   dos Estados Unidos. Para os consumidores americanos isso significará competir pela colheita de grãos
   americana contra 1,3 bilhão de consumidores chineses com rendimentos em rápido crescimento – o
   cenário de um pesadelo. Em tal circunstância, poderá ser tentador para os Estados Unidos restringir
   as exportações, como foi feito, por exemplo, com grãos e soja durante os anos 70, quando os preços
   domésticos ascenderam. Mas essa não é uma opção com a China. Investidores chineses agora têm
   cerca de um trilhão de dólares e ocupam uma posição de destaque como compradores de títulos para
   financiar o déficit fiscal americano. Gostando ou não, os consumidores americanos irão compartilhar
   seus grãos com os consumidores chineses, não importa o quanto aumentem os preços dos alimentos.

   Plano B: Nossa Única Opção
   Como a atual escassez de alimentos é movida por uma tendência, as razões ambientais por trás dela
   devem ser revertidas. Para fazer isso são exigidas medidas extraordinárias na demanda,
   redirecionamento dos negócios costumeiros – aquilo que nós do Earth Policy Institute chamamos de
   Plano A – para um salvador da civilização Plano B. Similar em escala e urgência à mobilização
   americana para a Segunda Guerra Mundial, o Plano B exibe quatro componentes: um enorme esforço
   para cortar emissões de carbono em 80% até 2020 a partir dos níveis de 2006; a estabilização da
   população mundial em oito bilhões por volta de 2040; a erradicação da pobreza; e a restauração das
   florestas, solos e aqüíferos.

   As emissões de dióxido de carbono líquido podem ser cortadas sistematicamente ao se aumentar a
   eficiência energética e investir significativamente em fontes de energia renováveis. Também devemos
   banir o desmatamento mundo afora, assim como o fizeram muitos países, e plantar bilhões de
   árvores para seqüestrar carbono. A transição dos combustíveis fósseis para formas de energia
   renováveis pode ser conduzida ao impor-se uma taxa sobre o carbono, enquanto se oferece
   certificados com uma redução do imposto de renda.
   A estabilização da população e erradicação da pobreza seguem de mãos dadas. De fato, a chave para
   acelerar a direção rumo a famílias menores é erradicar a pobreza – e vice-versa. Uma forma
   assegurar ao menos educação fundamental a todas as crianças. Outra é fornecer atendimento de
   saúde básica no nível de pequenas cidades, de forma que as pessoas possam ter confiança em que
   suas crianças irão sobre viver até a idade adulta. Mulheres em todos os lugares precisam ter acesso à
   saúde reprodutiva e a serviços voltados ao planejamento familiar.

   O quarto componente, restaurar os sistemas e recursos naturais da terra, incorpora uma iniciativa em
   nível mundial para deter a queda nos níveis dos lençóis freáticos ao aumentar a produtividade da
   água: a mais útil atividade que puder ser extraída de cada gota. Isso implica seguir na direção de
   sistemas de irrigação mais eficientes e de culturas mais eficientes no uso da água. Em alguns países,
   isso implica cultivar (e comer) mais trigo que arroz, considerando que o arroz é uma cultura de uso
   intenso da água. E, para indústrias e cidades, implica fazer aquilo que algumas já estão fazendo, ou
   seja, reciclar a água continuamente.




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   Ao mesmo tempo, precisamos lançar um esforço em escala mundial visando a conservação do solo,
   similar à resposta dos Estados Unidos à Dust Bowl dos anos 30. Criar terraços, plantar árvores que
   sirvam de cinturão contra a erosão decorrente do sopro dos ventos e praticar o plantio direto, quando
   o solo não é arado e os resíduos da cultura são deixados no campo, estão entre as mais importantes
   medidas para a conservação do solo.

   Não há nada de novo sobre nossos quatro objetivos, todos inter-relacionados. Eles já foram discutidos
   individualmente durante anos. De fato, criamos instituições inteiras para lidar com alguns deles, como
   o Banco Mundial para aliviar a pobreza. E fizemos progresso substancial em algumas regiões do
   mundo em ao menos um deles – a distribuição de serviços ligados ao planejamento familiar associada
   a uma orientação voltada a famílias pequenas, capazes de garantir estabilidade populacional.

   Para muitos na comunidade do desenvolvimento, os quatro objetivos do Plano B foram vistos como
   positivos, promovendo o desenvolvimento desde que não custem muito caro. Outros os encararam
   como objetivos humanitários – politicamente corretos e moralmente apropriados. Agora, uma terceira
   vertente mais racional e importante se apresenta: atingir esses objetivos pode ser necessário para
   prevenir o colapso de nossa civilização. E, além disso, o custo que projetamos para salvar a civilização
   não atinge a soma de US$ 200 bilhões anuais, um sexto dos gastos militares globais na atualidade.
   Em síntese, o Plano B é o novo orçamento de segurança.

                                          CONCEITOS-CHAVE
   - A escassez de alimentos e a resultante alta dos preços dos produtos comestíveis estão levando os
   países pobres ao caos.

   - Os “Estados falimentares” podem exportar doenças, terrorismo, drogas ilícitas, armas e refugiados.

   - Escassez de água, perdas de solo e elevação da temperatura em decorrência do aquecimento global
   estão colocando severos limites à produção de alimentos.

   - Sem uma intervenção forte e rápida para enfrentar esses fatores, uma série de governos pode
   entrar em colapso, ameaçando a ordem mundial.
   – Os editores

                                      ESTADOS FALIMENTARES
   Todos os anos, o Fund for Peace e a Carnegie Endowment for International Peace analisam em
   conjunto e listam países utilizando 12 indicadores sociais, econômicos, políticos e militares de bem-
   estar nacional. Abaixo, classificados do pior para o melhor, de acordo com o número de pontos
   combinados em 2007, estão os 20 países no mundo mais próximos do colapso:

   Somália
   Sudão
   Zimbabue
   Chade
   Iraque
   República Democrática do Congo
   Afeganistão
   Costa do Marfim
   Paquistão
   República Centro-Africana
   Guiné
   Bangladesh
   Birmânia (Myanmar)
   Haiti
   Coréia do Norte
   Etiópia
   Uganda
   Líbano
   Nigéria
   Sri Lanka

    [ESTRESSE ALIMENTAR EM ALTA] - Números que seguem pelo caminho errado




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Escassez de alimentos e ameaças à civilização - Scientific American Brasil                  Página 7 de 11



   O número absoluto                                                         YASUYOSHI CHIBA/Getty Images
   e a porcentagem
   de pessoas
   subnutridas nos 70
   países menos
   desenvolvidos do
   mundo estão
   aumentando,
   enquanto a
   reserva mundial de
   suprimentos
   alimentares
   remanescente do
   período anterior (a
   quantidade de
   grãos nos silos
   quando se inicia a
   nova safra) se encontra em declínio.

                  [CAUSAS E EFEITOS] - Escassez na oferta de alimentos
   A escassez de alimentos                                               SAMUEL VELASCO / 5W Infographics
   está emergindo como
   causa central da falência
   de Estados. Carência de
   comida surge a partir de
   uma rede de causas
   entrelaçadas, efeitos e
   feedbacks cujas interações
   freqüentemente
   intensificam os efeitos de
   qualquer um dos fatores
   isolados. Alguns dos
   fatores mais comuns estão
   ilustrados no diagrama. De
   acordo com o autor, as
   diversas carências de
   oferta de alimento não
   resultam de uma única
   falha, determinada pelo
   clima, mas resultam de
   quatro tendências críticas
   de longo prazo: rápido
   crescimento populacional,
   perda da camada superior
   do solo, propagação da
   escassez de água e
   elevação das
   temperaturas.




      [LENÇÓIS FREÁTICOS EM DECLÍNIO] - Irrigação pode produzir uma severa
                              escassez de água




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Escassez de alimentos e ameaças à civilização - Scientific American Brasil                      Página 8 de 11



   O grande dreno no suprimento de água           FEDERAÇÃO COREANA PARA O MOVIMENTO AMBIENTAL (Brown);
                                                                 SAMUEL VELASCO 5W Infographics (illustração)
   fresca é a irrigação, responsável por 70%
   do uso desse líquido. A irrigação é
   essencial na maioria das fazendas com alta
   produtividade, mas muitos aqüíferos que
   abastecem culturas irrigadas estão sendo
   esvaziados com maior rapidez que a chuva
   é capaz de reabastecê-los. Além disso,
   quando fazendeiros ligam torneiras a
   aqüíferos fósseis, que armazenam água
   antiga em rochas impermeáveis à chuva,
   estão minando um recurso não renovável.
   Bombear de poços cada vez mais
   profundos é problemático também de outra
   maneira: consome muita energia. Em
   alguns estados da Índia, metade da
   eletricidade disponível é usada para
   bombeamento de água.




                 [SOLOS ERODIDOS] - A terra arável está desaparecendo
   A camada superior do solo, outro fator                                    SAMUEL VELASCO /5W Infographics
   vital para a manutenção do
   fornecimento mundial de alimentos, é
   também um recurso essencial não-
   renovável: mesmo em um saudável
   ecossistema que recebe umidade
   adequada e materiais orgânicos e
   inorgânicos, pode levar séculos para se
   gerar uma camada superficial de solo
   de 2,5 cm. Se a vegetação
   estabilizadora do solo desaparece –
   quando existe desmatamento ou a
   pastagem excessiva transforma o
   capim em deserto – a camada superior
   do solo é perdida devido à ação do
   vento e da chuva. Terra arável é
   também ameaçada por estradas,
   edificações e outros usos não
   agrícolas.




http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/escassez_de_alimentos_e_ameacas_a_civiliza... 13/04/2012
Escassez de alimentos e ameaças à civilização - Scientific American Brasil                       Página 9 de 11




                         COMO ESTADOS FALIDOS AMEAÇAM O MUNDO
   Quando o governo de uma nação não consegue mais oferecer segurança ou serviços básicos aos seus
   cidadãos, o caos social resultante pode ter sérios efeitos adversos além das próprias fronteiras
   nacionais:

   Disseminação de doenças

   Abrigo a terroristas e piratas

   Estímulo ao extremismo político

   Geração de violência e refugiados que podem fugir para países vizinhos

                         APOSTAS NO JOGO DA POLÍTICA ALIMENTAR
   Ansiosas por assegurar futuros suprimentos de grãos, várias nações estão silenciosamente fazendo
   acordos com países produtores, visando garantir a atividade agrícola nos territórios. A prática deixa
   mais escasso o fornecimento a outras nações importadoras e eleva preços. Alguns exemplos:

   China: procura alugar terras na Austrália, Brasil, Birmânia (Mianmar), Rússia e Uganda.

   Arábia Saudita: procura terra agriculturável no Egito, Paquistão, África do Sul, Tailândia, Turquia e
   Ucrânia.

   Índia: empresas do agronegócio buscam terras cultiváveis no Paraguai e Uruguai

   Líbia: aluga 100 mil hectares na Ucrânia em troca de acesso aos seus campos de petróleo.

   Coréia do Sul: busca firmar acordos sobre terras com Madagáscar, Rússia e Sudão.

     [TEMPERATURAS EM ELEVAÇÃO] - Clima mais quente reduz a produtividade
   A agricultura como existe hoje tem                                          SAMUEL VELASCO /5W Infographics
   sido moldada por um sistema climático
   que pouco mudou nos últimos 11 mil
   anos de história. Como a maioria das
   culturas foi desenvolvida visando a
   máxima produção sob essas condições
   estáveis, as temperaturas mais altas
   esperadas em virtude do aquecimento
   global irão reduzir a produtividade das
   safras em unidades por área.
   Ecologistas agrícolas calculam que
   para cada aumento de 1o acima do
   padrão, trigo, arroz e milho
   apresentarão uma queda de 10%.




                              [SOLUÇÕES] - O QUE DEVE SER FEITO?




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   Plano B, o mapa            SONNY TUMBELAKA Getty Images ( plantando árvore); GETTY IMAGES ( aerogeradores); ANDREW
                             CABALLERO-REYNOLDS Getty Images ( atendimento de saúde); MARY KNOX MERRILL Getty Images
   do caminho para                                                                                (plantas de tratamento)
   corrigir fatores que
   ameaçam nossa
   civilização, tem
   quatro
   componentes
   principais: um
   esforço para cortar
   as emissões de
   carbono em 80%
   até
   2020, a
   estabilização da
   população mundial
   em oito bilhões de
   pessoas, ou
   menos, por volta
   de 2040; a
   erradicação da
   pobreza; e a
   restauração das
   florestas, solos e
   aqüíferos do
   planeta. Este
   quadro destaca
   algumas das
   principais ações necessárias para atingir esses objetivos.

   Substituir combustíveis fósseis por outros renováveis para a eletricidade e o calor.

   Plantar árvores visando reduzir enchentes, conservar o solo, seqüestrar carbono e deter o
   desmatamento.

   Oferecer atendimento de saúde básico, reprodutivo e planejamento familiar.

   Reciclar água servida para aumentar sua produtividade, como faz essa planta de tratamento de
   esgoto em Orange County, Califórnia.

                                            PARA CONHECER MAIS
   Outgrowing the Earth: The food security challenge in an age of falling water tables and
   rising temperatures . Lester R. Brown. W. W. Norton, Earth Policy Institute, 2004. Disponível em
   www.earthpolicy.org/Books/Out/Contents.htm

   Collapse: How societies chooseto fail or succeed. Jared Diamond.Penguin, 2005.

   Climate change 2007. Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate
   Change.Cambridge University Press, 2007. Disponível em www.ipcc.ch

   Plan B 3.0: Mobilizing to save civilization. Lester R. Brown. W. W. Norton, Earth Policy Institute,
   2008. Disponível em www.earthpolicy. org/Books/PB3

    Lester R. Brown Na definição do Washington Post, é “um dos mais influentes pensadores do
    mundo”. O Telegraph, de Calcutá, vem chamando Brown de “guru do movimento ambientalista”.
    Brown é fundador do Worldwatch Institute (1974) e do the Earth Policy Institute (2001), que é
    dirigido por ele hoje. É autor ou coautor de 50 livros; seu mais recente trabalho é Plano B 3.0:
    Mobilizando para salvar a civilização. Já recebeu muitos prêmios e homenagens, incluindo 24 títulos
    honorários e um MacArthur Fellowship.

                                 © Duetto Editorial. Todos os direitos reservados.




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  • 1. Escassez de alimentos e ameaças à civilização - Scientific American Brasil Página 1 de 11 Reportagem edição 85 - Junho 2009 Escassez de alimentos e ameaças à civilização O maior risco à estabilidade global é o potencial da crise alimentar de provocar a derrocada de governos em países pobres. Essa crise está sendo gerada pelo constante agravamento da degradação ambiental por Lester R. Brown Uma das tarefas mais difíceis de fazer é PER-ANDERS PETTERSSON/Getty Images antecipar mudanças repentinas. Geralmente projetamos o futuro extrapolando tendências do passado. Na maioria das vezes, esse enfoque funciona. Mas, às vezes, falha espetacularmente e as pessoas são simplesmente surpreendidas por eventos como a atual crise econômica. Para muitos de nós, a idéia de que a civilização pode desintegrar-se provavelmente parece absurda. Quem não acharia difícil pensar seriamente sobre abandonar completamente aquilo que esperamos da vida comum? Que evidência poderia nos fazer prestar atenção a um alerta tão terrível – e como nos comportaríamos para responder a ele? Estamos tão habituados a uma longa lista de catástrofes improváveis que acabamos virtualmente programados a rejeitá-las num piscar de olhos: claro, nossa civilização pode ser dissolvida num caos – e a Terra também pode colidir com um asteróide! Durante muitos anos, tenho estudado tendências agrícolas, populacionais, ambientais, econômicas e suas interações. Os efeitos combinados dessas tendências e as tensões políticas que elas geram apontam para o colapso de governos e sociedades. Eu mesmo vinha resistindo à idéia de que a escassez de alimentos poderia levar à derrocada não Crianças aguardam a distribuição de alimentos em vilarejo da República do apenas de governos, isoladamente, mas Congo. também de nossa civilização global. http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/escassez_de_alimentos_e_ameacas_a_civiliza... 13/04/2012
  • 2. Escassez de alimentos e ameaças à civilização - Scientific American Brasil Página 2 de 11 Não tenho mais como ignorar esse risco. Nosso reiterado fracasso em lidar com os declínios ambientais que minam a economia alimentar mundial – e, mais importante, reduzem os níveis dos lençóis freáticos, erodindo solos e elevando temperaturas – me obriga a concluir que esse colapso é possível. O Problema dos Estados Falimentares Mesmo um olhar superficial sobre os sinais vitais de nossa ordem mundial corrente acaba oferecendo sustentação, ainda que indesejável, à minha conclusão. E nós, no campo ambiental, entramos na terceira década de mapeamento de tendências de declínio do ambiente sem que tenhamos conseguido observar qualquer esforço significativo no sentido de reverter sequer uma delas. Em seis dos últimos nove anos, a produção mundial de grãos declinou para níveis menores que o consumo, estabelecendo uma perda acumulada nos estoques. Quando a safra de 2008 começou, os estoques acumulados de grãos (carryover, a soma de grãos nos silos quando se inicia a nova colheita) garantiam 62 dias de consumo, algo próximo de um recorde negativo. Como conseqüência, os preços internacionais dos grãos no 2o e 3o trimestres do ano passado atingiram os níveis mais elevados já registrados. Enquanto a demanda por alimentos cresce mais rapidamente que a oferta, a inflação do preço do alimento resultante exerce pressão severa nos governos dos países que já vinham balançando à beira do caos. De fato, mesmo antes da subida de patamar nos preços dos grãos, em 2008, o número de Estados falidos estava em expansão. Muitos de seus problemas decorrem do fracasso em reduzir o crescimento de suas populações. Mas se a situação alimentar continuar se deteriorando, nações inteiras irão à bancarrota a taxas sempre crescentes. Entramos em uma nova era geopolítica. No século 20, a maior ameaça à segurança internacional era o conflito das superpotências; hoje, são os Estados falimentares. Não é a concentração, mas a ausência de poder que nos coloca em risco. Estados vão à falência quando governos nacionais não conseguem oferecer segurança pessoal, segurança alimentar e serviços sociais básicos, como educação e saúde. Eles freqüentemente perdem o controle de parte ou de todo o território. Quando governos perdem seu monopólio do poder, a lei e a ordem começam a se desintegrar. Depois de certo ponto, países podem tornar-se tão perigosos que funcionários do socorro alimentar deixam de ter segurança e seus programas são interrompidos; na Somália e Afeganistão, condições deterioradas já colocaram esses programas em perigo. Estados falimentares são alvo da preocupação internacional, pois servem de fonte para o terrorismo, drogas, armas e refugiados, ameaçando a estabilidade política em todos os lugares. A Somália, primeira da lista dos Estados falimentares em 2008, tornou-se uma base para a pirataria. O Iraque, em quinto lugar, é campo fértil para treinamento de terroristas. O Afeganistão, em sétimo, é o principal fornecedor mundial de heroína. Em seguida ao enorme genocídio de 1994, refugiados de Ruanda, milhares de soldados armados, ajudaram a desestabilizar a vizinha República Democrática do Congo (número seis da lista). Nossa civilização global depende de uma rede funcional de nações saudáveis politicamente para controlar a disseminação de doenças infecciosas, gerenciar o sistema monetário internacional, dominar o terrorismo internacional e alcançar resultados em outros objetivos comuns. Se o sistema para o controle de doenças infecciosas – como pólio, Sars ou gripe aviária – entrar em colapso, a humanidade estará em apuros. Uma vez que Estados tenham falido, ninguém assumirá a responsabilidade por seus débitos em relação a credores estrangeiros. Se um número grande de Estados se desintegrar, sua queda irá ameaçar a estabilidade da civilização global em si. Uma Nova Forma de Escassez O surto de alta nos preços internacionais dos grãos em 2007/08 – e a ameaça que ele representou para a segurança alimentar – tem uma característica diferente e mais problemática do que os aumentos do passado. Durante a segunda metade do século 20, os preços dos grãos subiram dramaticamente várias vezes. Em 1972, por exemplo, reconhecendo a pobreza de sua safra anterior, os soviéticos discretamente provocaram a alta dos preços do arroz e milho, comprando esses produtos para manipular o mercado. Mas esse e outros choques de preços foram circunstanciais – seca na União Soviética, deficiência nas monções na Índia e um calor que fez encolher a safra no Cinturão do Milho, nos Estados Unidos. Além disso, os aumentos tiveram curta duração: os preços retornaram ao normal nas safras seguintes. Em contrapartida, a recente onda altista nos preços internacionais de grãos é tipicamente dirigida por tendência, o que torna improvável sua reversão sem a mudança nas tendências. Pelo lado da http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/escassez_de_alimentos_e_ameacas_a_civiliza... 13/04/2012
  • 3. Escassez de alimentos e ameaças à civilização - Scientific American Brasil Página 3 de 11 demanda essas tendências incluem o corrente acréscimo de mais de 70 milhões de pessoas anualmente; um número crescente de pessoas querendo subir na cadeia alimentar para consumir produtos de origem animal que utilizam muito grãos de produção intensiva (ver Efeito estufa dos hambúrgueres, de Nathan Fiala; SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL, março de 2009); e o enorme desvio de grãos voltados às destilarias que produzem o combustível etanol. A demanda extra de grãos associada à crescente afluência varia amplamente entre países. Pessoas em países de baixa renda, onde os grãos suprem 60% das calorias, como Índia, consomem diretamente cerca de 0,5 kg de grãos. Em países afluentes, como Estados Unidos e Canadá, o consumo de grãos por pessoa é de cerca de 2,0 kg, embora talvez 90% desse consumo se dê por via indireta, na forma de carne, leite e ovos de animais alimentados com grãos. O potencial de consumo mais adiante é enorme, na medida em que cresce a renda entre consumidores pobres. Mas esse potencial fica ofuscado atrás da demanda insaciável por combustíveis automotivos baseados em biomassa. Um quarto da colheita de grãos deste ano nos Estados Unidos – suficiente para alimentar 125 milhões de americanos ou meio bilhão de indianos nos atuais níveis de consumo – será desviado para o abastecimento de automóveis. Apesar disso, mesmo se toda a safra americana de grãos fosse direcionada para a produção de etanol, ela atenderia no máximo a 18% das necessidades de combustível americanas. A quantidade de grãos necessários para encher o tanque de um veículo com tanque de 100 litros com etanol pode alimentar uma pessoa durante um ano. A recente fusão das economias dos alimentos e combustíveis implica que se o valor do grão destinado a alimentos é menor que o voltado para produção de combustível o mercado irá impulsionar o grão para a economia da energia. Essa dupla demanda está levando a uma competição épica entre automóveis e pessoas pelo abastecimento de grãos e a um problema político e moral de crucial importância e dimensões sem precedentes. Num esforço enorme para reduzir sua dependência de petróleo importado e substituí-lo por combustíveis à base de grãos, os Estados Unidos estão gerando uma insegurança alimentar global em escala nunca antes vista. Escassez de Água e Escassez de Alimentos Que dizer sobre suprimentos? As três tendências ambientais que mencionei anteriormente – escassez de água fresca, perda de solo arável e aumento da temperatura (além de outros efeitos) decorrente do aquecimento global – estão tornando cada vez mais difícil expandir o fornecimento mundial de grãos com a velocidade suficiente para torná-lo compatível com a demanda. De todas essas tendências, entretanto, a mais imediata é a propagação da escassez de água. O maior desafio aqui é a irrigação, que consome 70% do total de água fresca no mundo. Milhões de poços voltados à irrigação em muitos países estão agora bombeando água de fontes subterrâneas com velocidade maior do que a chuva é capaz de reabastecê-los. O resultado é a queda do nível do lençol freático em países habitados por metade da população mundial, incluindo os três maiores produtores de grãos – China, Índia e Estados Unidos. Geralmente, aqüíferos são depósitos de água renováveis, mas isso não ocorre com alguns dos mais importantes deles: os “aqüíferos fósseis”, assim chamados porque “armazenam água antiga e não podem ser reabastecidos pelas precipitações”. Por esse motivo – incluindo o vasto Aqüífero Ogallala, sob as Grandes Planícies dos Estados Unidos, o aqüífero Saudita e o profundo aqüífero sob o norte da planície da China – o esvaziamento desses reservatórios pode ser o fim do bombeamento. Em regiões áridas, essa perda também pode colocar um ponto final na agricultura. Na China, o lençol freático sob a planície do Norte chinês, uma área que produz mais da metade do trigo e a terça parte do milho, está decrescendo rapidamente. Bombeamento excessivo vem utilizando a maior parte da água da parte rasa do aqüífero, forçando os perfuradores de poços a recorrer à área profunda, que não é renovável. Um relatório do Banco Mundial prevê “conseqüências catastróficas para as futuras gerações”, a menos que o uso e fornecimento de água possam rapidamente voltar ao equilíbrio. Ao ritmo em que vêm caindo os níveis dos lençóis freáticos e secam os poços para irrigação, a safra de trigo da China, a maior do mundo, diminuiu em 8% desde o pico de 123 milhões de toneladas em 1997. No mesmo período, a produção de arroz caiu 4%. A nação mais populosa do mundo pode, em breve, estar importando quantidades enormes de grãos. Mas a escassez de água é ainda mais preocupante na Índia. Ali, a margem entre o consumo de alimentos e a sobrevivência é ainda mais precária. Milhões de poços para irrigação vêm derrubando os níveis dos lençóis freáticos em quase todos os estados. Como relatou Fred Pearce na New http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/escassez_de_alimentos_e_ameacas_a_civiliza... 13/04/2012
  • 4. Escassez de alimentos e ameaças à civilização - Scientific American Brasil Página 4 de 11 Scientist: Metade dos tradicionais poços perfurados manualmente e milhões de poços com canos de baixa profundidade já secaram, trazendo uma onda de suicídios entre os que dependiam dessas fontes. Apagões elétricos estão atingindo proporções epidêmicas em estados onde metade da eletricidade é usada para bombear água de profundidades superiores a 1 km. Um estudo do Banco Mundial relata que 15% do suprimento de alimentos na Índia são produzidos com água de minas superficiais. Em contrapartida, informa que 175 milhões de indianos consomem grão produzido com água de poços para irrigação que estarão exauridos em breve. A contínua retração dos suprimentos de água pode levar a inimagináveis escassez de alimentos e conflito social. Menos Solo, Mais Fome O escopo da segunda temível tendência – a perda de terras aráveis – também assusta. A camada arável do solo está se erodindo mais rapidamente que a formação de solos novos em talvez um terço do solo agriculturável do planeta. Essa fina camada de nutrientes essenciais às plantas, o mais básico fundamento da civilização, levou longos períodos geológicos para ser formada, embora tenha geralmente 15 cm de profundidade. Sua perda, devido à erosão por ação do vento e água, já levou civilizações antigas ao colapso. Em 2002, uma equipe das Nações Unidas avaliou a situação alimentar no Lesoto, o pequeno lar de dois milhões de pessoas embutido na África do Sul. A descoberta da equipe foi objetiva: “A agricultura no Lesoto está diante de um futuro catastrófico; a produção das colheitas está decaindo e pode cessar simultaneamente em grandes partes do país, se medidas não forem adotadas no sentido de reverter a erosão, degradação e declínio da fertilidade do solo”. No hemisfério ocidental, o Haiti – um dos primeiros estados a ser reconhecido como falimentar – era, com folga, auto-suficiente em grãos há 40 anos. Mas, desde então, o país perdeu quase todas as suas florestas e muito de seu solo arável, sendo forçado a importar mais da metade de seus grãos. A terceira e talvez mais difundida ameaça à segurança alimentar – elevação da temperatura da superfície – pode afetar a produtividade das colheitas em todos os lugares. Em muitos países a lavoura cresce em seu optimum termal, ou perto dele. Portanto, um pequeno aumento da temperatura durante o período de crescimento das plantas pode levar à diminuição da safra. Um estudo publicado pela National Academy of Sciences, dos Estados Unidos, confirmou uma regra empírica conhecida entre ecologistas das colheitas: para cada aumento de 1oC sobre o patamar- padrão, trigo, arroz e milho sofrem uma quebra de 10%. No passado, mais conhecido como o período em que as inovações no uso de fertilizantes, irrigação e variedades grandemente produtivas de trigo e arroz criaram a “revolução verde” dos anos 1960 e 1970, a resposta à crescente demanda por alimento foi a bem-sucedida aplicação da agricultura científica: o conserto tecnológico. Nesta época, infelizmente, muitos dos mais produtivos avanços na tecnologia agrícola já foram colocados em prática, assim como o crescimento de longo prazo na produtividade da terra está sendo reduzido. Entre 1950 e 1990, os fazendeiros elevaram a produtividade da cultura de grãos no mundo todo por acre em mais de 2% ao ano, excedendo o crescimento populacional. Mas, a partir daí, o crescimento anual da produtividade vem sendo reduzido a pouco mais de 1%. Em alguns países, a produtividade parece próxima de seus limites práticos, incluindo os níveis de produtividade da cultura do arroz no Japão e China. Alguns analistas indicam que colheitas de plantas geneticamente modificadas criam linhagens fora de nossas previsões. Infelizmente, entretanto, nenhuma safra oriunda de plantas geneticamente modificadas tem elevado significativamente os níveis de produtividade, comparando-se com a duplicação ou triplicação ocorridas durante a revolução verde com o trigo e o arroz. E também não parece que isso volte a ocorrer, porque as técnicas convencionais para sementes de plantas já atingiram a maior parte do potencial para fazer crescer a produtividade das lavouras. Manobrando pelo Alimento Na medida em que a segurança alimentar vem à tona, uma perigosa política de redução da oferta está sendo colocada em jogo: países agindo individualmente, segundo seus próprios interesses definidos de forma estreita, estão colocando muitos outros em apuros. Essa tendência começou em 2007, quando relevantes países exportadores de trigo, como Rússia e Argentina, limitaram ou baniram suas exportações na esperança de aumentar a disponibilidade local do fornecimento de alimentos e, conseqüentemente, reduzir os preços dos produtos alimentares internamente. O Vietnã, http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/escassez_de_alimentos_e_ameacas_a_civiliza... 13/04/2012
  • 5. Escassez de alimentos e ameaças à civilização - Scientific American Brasil Página 5 de 11 segundo maior exportador mundial de arroz, depois da Tailândia, baniu suas exportações durante vários meses pela mesma razão. Esses movimentos podem garantir aqueles que vivem nos países exportadores, mas acabam criando pânico nos países importadores, que precisam contar com aquilo que sobrou do grão mundial exportável. Em resposta a essas restrições, importadores de grãos estão tentando se agarrar a acordos comerciais bilaterais de longo prazo que podem, eventualmente, amarrar futuros fornecimentos de grãos. Incapazes de contar com arroz do mercado mundial, as Filipinas recentemente negociaram um acordo trienal com o Vietnã para garantir a remessa de 1,5 milhão de toneladas de arroz anualmente. A ansiedade na importação de alimentos está até mesmo gerando esforços inteiramente novos por parte dos países importadores de comida, no que tange ao aluguel de fazendas em outros países. Apesar dessas medidas paliativas, preços de alimentos em crescente elevação e propagação da fome em muitos outros países estão começando a romper a ordem social. Em várias províncias da Tailândia, as depredações dos “saqueadores de arroz” têm forçado a população das vilas a guardar com armas carregadas seu alimento durante a noite. No Paquistão, um soldado armado escolta cada caminhão de grãos. Durante a primeira metade de 2008, 83 caminhões transportando grãos, no Sudão, foram seqüestrados antes de atingir os campos de refugiados de Darfur. Nenhum país está imune aos efeitos do estreitamento no fornecimento de suprimentos alimentares, nem mesmo os Estados Unidos, o maior celeiro mundial. Se a China voltar-se ao mercado mundial em busca de enormes quantidades de grãos, como fez recentemente em relação à soja, terá de comprar dos Estados Unidos. Para os consumidores americanos isso significará competir pela colheita de grãos americana contra 1,3 bilhão de consumidores chineses com rendimentos em rápido crescimento – o cenário de um pesadelo. Em tal circunstância, poderá ser tentador para os Estados Unidos restringir as exportações, como foi feito, por exemplo, com grãos e soja durante os anos 70, quando os preços domésticos ascenderam. Mas essa não é uma opção com a China. Investidores chineses agora têm cerca de um trilhão de dólares e ocupam uma posição de destaque como compradores de títulos para financiar o déficit fiscal americano. Gostando ou não, os consumidores americanos irão compartilhar seus grãos com os consumidores chineses, não importa o quanto aumentem os preços dos alimentos. Plano B: Nossa Única Opção Como a atual escassez de alimentos é movida por uma tendência, as razões ambientais por trás dela devem ser revertidas. Para fazer isso são exigidas medidas extraordinárias na demanda, redirecionamento dos negócios costumeiros – aquilo que nós do Earth Policy Institute chamamos de Plano A – para um salvador da civilização Plano B. Similar em escala e urgência à mobilização americana para a Segunda Guerra Mundial, o Plano B exibe quatro componentes: um enorme esforço para cortar emissões de carbono em 80% até 2020 a partir dos níveis de 2006; a estabilização da população mundial em oito bilhões por volta de 2040; a erradicação da pobreza; e a restauração das florestas, solos e aqüíferos. As emissões de dióxido de carbono líquido podem ser cortadas sistematicamente ao se aumentar a eficiência energética e investir significativamente em fontes de energia renováveis. Também devemos banir o desmatamento mundo afora, assim como o fizeram muitos países, e plantar bilhões de árvores para seqüestrar carbono. A transição dos combustíveis fósseis para formas de energia renováveis pode ser conduzida ao impor-se uma taxa sobre o carbono, enquanto se oferece certificados com uma redução do imposto de renda. A estabilização da população e erradicação da pobreza seguem de mãos dadas. De fato, a chave para acelerar a direção rumo a famílias menores é erradicar a pobreza – e vice-versa. Uma forma assegurar ao menos educação fundamental a todas as crianças. Outra é fornecer atendimento de saúde básica no nível de pequenas cidades, de forma que as pessoas possam ter confiança em que suas crianças irão sobre viver até a idade adulta. Mulheres em todos os lugares precisam ter acesso à saúde reprodutiva e a serviços voltados ao planejamento familiar. O quarto componente, restaurar os sistemas e recursos naturais da terra, incorpora uma iniciativa em nível mundial para deter a queda nos níveis dos lençóis freáticos ao aumentar a produtividade da água: a mais útil atividade que puder ser extraída de cada gota. Isso implica seguir na direção de sistemas de irrigação mais eficientes e de culturas mais eficientes no uso da água. Em alguns países, isso implica cultivar (e comer) mais trigo que arroz, considerando que o arroz é uma cultura de uso intenso da água. E, para indústrias e cidades, implica fazer aquilo que algumas já estão fazendo, ou seja, reciclar a água continuamente. http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/escassez_de_alimentos_e_ameacas_a_civiliza... 13/04/2012
  • 6. Escassez de alimentos e ameaças à civilização - Scientific American Brasil Página 6 de 11 Ao mesmo tempo, precisamos lançar um esforço em escala mundial visando a conservação do solo, similar à resposta dos Estados Unidos à Dust Bowl dos anos 30. Criar terraços, plantar árvores que sirvam de cinturão contra a erosão decorrente do sopro dos ventos e praticar o plantio direto, quando o solo não é arado e os resíduos da cultura são deixados no campo, estão entre as mais importantes medidas para a conservação do solo. Não há nada de novo sobre nossos quatro objetivos, todos inter-relacionados. Eles já foram discutidos individualmente durante anos. De fato, criamos instituições inteiras para lidar com alguns deles, como o Banco Mundial para aliviar a pobreza. E fizemos progresso substancial em algumas regiões do mundo em ao menos um deles – a distribuição de serviços ligados ao planejamento familiar associada a uma orientação voltada a famílias pequenas, capazes de garantir estabilidade populacional. Para muitos na comunidade do desenvolvimento, os quatro objetivos do Plano B foram vistos como positivos, promovendo o desenvolvimento desde que não custem muito caro. Outros os encararam como objetivos humanitários – politicamente corretos e moralmente apropriados. Agora, uma terceira vertente mais racional e importante se apresenta: atingir esses objetivos pode ser necessário para prevenir o colapso de nossa civilização. E, além disso, o custo que projetamos para salvar a civilização não atinge a soma de US$ 200 bilhões anuais, um sexto dos gastos militares globais na atualidade. Em síntese, o Plano B é o novo orçamento de segurança. CONCEITOS-CHAVE - A escassez de alimentos e a resultante alta dos preços dos produtos comestíveis estão levando os países pobres ao caos. - Os “Estados falimentares” podem exportar doenças, terrorismo, drogas ilícitas, armas e refugiados. - Escassez de água, perdas de solo e elevação da temperatura em decorrência do aquecimento global estão colocando severos limites à produção de alimentos. - Sem uma intervenção forte e rápida para enfrentar esses fatores, uma série de governos pode entrar em colapso, ameaçando a ordem mundial. – Os editores ESTADOS FALIMENTARES Todos os anos, o Fund for Peace e a Carnegie Endowment for International Peace analisam em conjunto e listam países utilizando 12 indicadores sociais, econômicos, políticos e militares de bem- estar nacional. Abaixo, classificados do pior para o melhor, de acordo com o número de pontos combinados em 2007, estão os 20 países no mundo mais próximos do colapso: Somália Sudão Zimbabue Chade Iraque República Democrática do Congo Afeganistão Costa do Marfim Paquistão República Centro-Africana Guiné Bangladesh Birmânia (Myanmar) Haiti Coréia do Norte Etiópia Uganda Líbano Nigéria Sri Lanka [ESTRESSE ALIMENTAR EM ALTA] - Números que seguem pelo caminho errado http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/escassez_de_alimentos_e_ameacas_a_civiliza... 13/04/2012
  • 7. Escassez de alimentos e ameaças à civilização - Scientific American Brasil Página 7 de 11 O número absoluto YASUYOSHI CHIBA/Getty Images e a porcentagem de pessoas subnutridas nos 70 países menos desenvolvidos do mundo estão aumentando, enquanto a reserva mundial de suprimentos alimentares remanescente do período anterior (a quantidade de grãos nos silos quando se inicia a nova safra) se encontra em declínio. [CAUSAS E EFEITOS] - Escassez na oferta de alimentos A escassez de alimentos SAMUEL VELASCO / 5W Infographics está emergindo como causa central da falência de Estados. Carência de comida surge a partir de uma rede de causas entrelaçadas, efeitos e feedbacks cujas interações freqüentemente intensificam os efeitos de qualquer um dos fatores isolados. Alguns dos fatores mais comuns estão ilustrados no diagrama. De acordo com o autor, as diversas carências de oferta de alimento não resultam de uma única falha, determinada pelo clima, mas resultam de quatro tendências críticas de longo prazo: rápido crescimento populacional, perda da camada superior do solo, propagação da escassez de água e elevação das temperaturas. [LENÇÓIS FREÁTICOS EM DECLÍNIO] - Irrigação pode produzir uma severa escassez de água http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/escassez_de_alimentos_e_ameacas_a_civiliza... 13/04/2012
  • 8. Escassez de alimentos e ameaças à civilização - Scientific American Brasil Página 8 de 11 O grande dreno no suprimento de água FEDERAÇÃO COREANA PARA O MOVIMENTO AMBIENTAL (Brown); SAMUEL VELASCO 5W Infographics (illustração) fresca é a irrigação, responsável por 70% do uso desse líquido. A irrigação é essencial na maioria das fazendas com alta produtividade, mas muitos aqüíferos que abastecem culturas irrigadas estão sendo esvaziados com maior rapidez que a chuva é capaz de reabastecê-los. Além disso, quando fazendeiros ligam torneiras a aqüíferos fósseis, que armazenam água antiga em rochas impermeáveis à chuva, estão minando um recurso não renovável. Bombear de poços cada vez mais profundos é problemático também de outra maneira: consome muita energia. Em alguns estados da Índia, metade da eletricidade disponível é usada para bombeamento de água. [SOLOS ERODIDOS] - A terra arável está desaparecendo A camada superior do solo, outro fator SAMUEL VELASCO /5W Infographics vital para a manutenção do fornecimento mundial de alimentos, é também um recurso essencial não- renovável: mesmo em um saudável ecossistema que recebe umidade adequada e materiais orgânicos e inorgânicos, pode levar séculos para se gerar uma camada superficial de solo de 2,5 cm. Se a vegetação estabilizadora do solo desaparece – quando existe desmatamento ou a pastagem excessiva transforma o capim em deserto – a camada superior do solo é perdida devido à ação do vento e da chuva. Terra arável é também ameaçada por estradas, edificações e outros usos não agrícolas. http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/escassez_de_alimentos_e_ameacas_a_civiliza... 13/04/2012
  • 9. Escassez de alimentos e ameaças à civilização - Scientific American Brasil Página 9 de 11 COMO ESTADOS FALIDOS AMEAÇAM O MUNDO Quando o governo de uma nação não consegue mais oferecer segurança ou serviços básicos aos seus cidadãos, o caos social resultante pode ter sérios efeitos adversos além das próprias fronteiras nacionais: Disseminação de doenças Abrigo a terroristas e piratas Estímulo ao extremismo político Geração de violência e refugiados que podem fugir para países vizinhos APOSTAS NO JOGO DA POLÍTICA ALIMENTAR Ansiosas por assegurar futuros suprimentos de grãos, várias nações estão silenciosamente fazendo acordos com países produtores, visando garantir a atividade agrícola nos territórios. A prática deixa mais escasso o fornecimento a outras nações importadoras e eleva preços. Alguns exemplos: China: procura alugar terras na Austrália, Brasil, Birmânia (Mianmar), Rússia e Uganda. Arábia Saudita: procura terra agriculturável no Egito, Paquistão, África do Sul, Tailândia, Turquia e Ucrânia. Índia: empresas do agronegócio buscam terras cultiváveis no Paraguai e Uruguai Líbia: aluga 100 mil hectares na Ucrânia em troca de acesso aos seus campos de petróleo. Coréia do Sul: busca firmar acordos sobre terras com Madagáscar, Rússia e Sudão. [TEMPERATURAS EM ELEVAÇÃO] - Clima mais quente reduz a produtividade A agricultura como existe hoje tem SAMUEL VELASCO /5W Infographics sido moldada por um sistema climático que pouco mudou nos últimos 11 mil anos de história. Como a maioria das culturas foi desenvolvida visando a máxima produção sob essas condições estáveis, as temperaturas mais altas esperadas em virtude do aquecimento global irão reduzir a produtividade das safras em unidades por área. Ecologistas agrícolas calculam que para cada aumento de 1o acima do padrão, trigo, arroz e milho apresentarão uma queda de 10%. [SOLUÇÕES] - O QUE DEVE SER FEITO? http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/escassez_de_alimentos_e_ameacas_a_civiliza... 13/04/2012
  • 10. Escassez de alimentos e ameaças à civilização - Scientific American Brasil Página 10 de 11 Plano B, o mapa SONNY TUMBELAKA Getty Images ( plantando árvore); GETTY IMAGES ( aerogeradores); ANDREW CABALLERO-REYNOLDS Getty Images ( atendimento de saúde); MARY KNOX MERRILL Getty Images do caminho para (plantas de tratamento) corrigir fatores que ameaçam nossa civilização, tem quatro componentes principais: um esforço para cortar as emissões de carbono em 80% até 2020, a estabilização da população mundial em oito bilhões de pessoas, ou menos, por volta de 2040; a erradicação da pobreza; e a restauração das florestas, solos e aqüíferos do planeta. Este quadro destaca algumas das principais ações necessárias para atingir esses objetivos. Substituir combustíveis fósseis por outros renováveis para a eletricidade e o calor. Plantar árvores visando reduzir enchentes, conservar o solo, seqüestrar carbono e deter o desmatamento. Oferecer atendimento de saúde básico, reprodutivo e planejamento familiar. Reciclar água servida para aumentar sua produtividade, como faz essa planta de tratamento de esgoto em Orange County, Califórnia. PARA CONHECER MAIS Outgrowing the Earth: The food security challenge in an age of falling water tables and rising temperatures . Lester R. Brown. W. W. Norton, Earth Policy Institute, 2004. Disponível em www.earthpolicy.org/Books/Out/Contents.htm Collapse: How societies chooseto fail or succeed. Jared Diamond.Penguin, 2005. Climate change 2007. Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change.Cambridge University Press, 2007. Disponível em www.ipcc.ch Plan B 3.0: Mobilizing to save civilization. Lester R. Brown. W. W. Norton, Earth Policy Institute, 2008. Disponível em www.earthpolicy. org/Books/PB3 Lester R. Brown Na definição do Washington Post, é “um dos mais influentes pensadores do mundo”. O Telegraph, de Calcutá, vem chamando Brown de “guru do movimento ambientalista”. Brown é fundador do Worldwatch Institute (1974) e do the Earth Policy Institute (2001), que é dirigido por ele hoje. É autor ou coautor de 50 livros; seu mais recente trabalho é Plano B 3.0: Mobilizando para salvar a civilização. Já recebeu muitos prêmios e homenagens, incluindo 24 títulos honorários e um MacArthur Fellowship. © Duetto Editorial. Todos os direitos reservados. http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/escassez_de_alimentos_e_ameacas_a_civiliza... 13/04/2012
  • 11. Escassez de alimentos e ameaças à civilização - Scientific American Brasil Página 11 de 11 http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/escassez_de_alimentos_e_ameacas_a_civiliza... 13/04/2012