Este documento apresenta um projeto de investigação sobre o download legal e ilegal de música. O projeto inclui a edição de um vinil para promover debate sobre o tema, bem como a recolha de opiniões de testemunhos individuais através de um livro e de postais distribuídos. O objetivo é analisar como as novas tecnologias digitais influenciam a indústria fonográfica e os modos de consumo e distribuição de música.
8º Encontro de Direito Digital - (re)Pensando os direitos autorais - Carlos L...
Copia-me o livro
3. INTRO
“Copia-me” O presente documento Esta contribuição
é um projecto com de investigação do Design
relevância social, é um objecto de Comunicação
cultural e comercial, de consciencialização não surge de uma
que pretende criar crítica acerca desta solicitação da empresa,
debate sobre problemática mas de um resultado
o download legal e uma análise sobre de percepção do
e ilegal de música, o comércio mercado, de modo
numa sociedade da indústria a responder de forma
de consumo fonográfica, mais original e sustentada,
e de disseminação especificadamente revelando uma
da informação. a empresa CDgo – loja atenção peculiar
de música da cidade como Designer
do Porto. e como Música.
Graciela Coelho
5. ÍNDICE
copia-me o projecto 5 copia-me o postal 9 copia-me a opinião 13 copia-me no facebook 29
copia-me no wordpress 39 copia-me o notebook 43 copia-me o livro 63
7. COPIA-ME
COPIA-ME
o projecto
o projecto
A CDgo teve início em 1978, numa Para assegurar o seu Surgem novos media, 5
loja do Centro Comercial de Cedofeita, sucesso e fidelizar como o mp3, mp4, ou
o público, a CDgo mesmo o iPod, e o CD
no Porto, com a designação de JoJo’s
investe neste canal torna-se obsoleto.
Music, transferindo-se em 1999 para de comercialização, A compra
a Rua de Cedofeita – instalações actuais introduz novas de música online
– num edifício tradicional do século xx funcionalidades, tem movimentado
de três pisos, com auditório, uma sala e dispõe títulos o mercado na Internet.
difíceis de encontrar A Apple, desenvolveu
vintage, e a respectiva loja.
em empresas um software de
concorrentes. reprodução de áudio,
Os produtos disponibilizados desde o início o iTunes, compatível
da sua fundação, no comércio de música, foram A diversificação com computadores
os discos de vinil e cassetes, e mais tarde os CDs, decorre, também, pela de sistemas
DVDs e SACDs. Para além da loja de música, aposta em actividades operacionais Mac
a empresa, em 1998, pensou em desenvolver complementares, OS x e Windows.
um site de comércio electrónico – www.jojomusic. como a organização de O iTunes contém
com. Só em Dezembro de 2003 foi lançada exposições e concertos, um componente,
a marca CDgo, em simultâneo com a apresentação e pela oferta adicional o iTunes Store,
da 3ª versão do site. Nesta época, a componente de livros e revistas. pelo qual os usuários
de vendas online ultrapassou a das vendas na loja, podem comprar
e, assim, a empresa transitou de um mercado Contudo, com arquivos digitais,
local para um mercado nacional e, recentemente, a crescente utilização como músicas.
internacional. A CDgo preocupa-se em apresentar de tecnologias digitais
um site como um instrumento de fácil navegação e com a Internet, os Nesta era da mobilidade
e pesquisa, pela grande quantidade de informação modos de distribuição da informação, que já
disponível – oferta de produtos e serviços. e consumo de música não está fechada num
são, maioritariamente, suporte material,
de acesso directo perde-se um símbolo
e utilizado cultural, digno de
de forma ilegal. menção, como o Vinil.
8. Note-se que o disco
de Vinil não é um
formato que estimula
a pirataria e, para
Estas transformações além disso, é uma “Este álbum
o projecto
COPIA-ME
exercem influência peça gráfica agradável,
na opinião em relação considerada um artigo contém músicas
ao download de música de luxo/colecção – que podem ser
na Internet. Opiniões, capas com um grande
estas, diferentes volume de informações duplicadas ou
6 entre consumidores, sobre o álbum, reproduzidas
músicos, editoras, os pormenores
entre outros. A verdade da ilustração, livremente
é que cada vez mais fotografia, tipografia.
existe uma tendência Autorizado pelo
de disponibilização Após esta análise, Decreto-lei n.º
do trabalho do próprio pensou-se na edição
artista, para conseguir de um Vinil como 63/85, de 14
introduzir-se objecto de motivação de Março.
no mundo da música. para o debate sobre
esta problemática. Artigo 31º)”.
Reflectiu-se que,
adoptando novamente
o Vinil como
formato principal
de distribuição de
música, seria uma
adequada aposta
comercial e uma forma
de revivalismo e valor
à música enquanto Existem músicas que
suporte material. já não têm direitos
de autor, nem de
reprodução. Refere o
artigo que “o direito
de autor caduca,
70 anos após a morte
do criador, mesmo
que a obra só tenha
sido publicada
ou divulgada
postumamente”.
9. COPIA-ME
o projecto
7
Num objecto O design desta O álbum seria posteriormente,
que significa, edição em vinil foi distribuído no auditório da loja,
intelectualmente, desenvolvido, gratuitamente, a nível com músicos, editoras,
o incopiável, de forma manual, nacional, com o apoio críticos, entre outros.
o conteúdo pode ser em papel milimétrico, da CDgo, não apenas
copiado. Copiar o que para que possa para criar discussão “Copia-me!”
já é de todos revela ser reproduzido e reflexão sobre
a ironia pretendida facilmente. As cores o download legal
para debate. foram alteradas para e ilegal de música,
o seu inverso, de forma mas também
a obter mais contraste promover um debate
e robustez. a ser realizado,
10. Apostou-se na divulgação do projecto,
o projecto
COPIA-ME
com a criação de um blogue – no serviço
WordPress.com – e de uma página comunitária
na Rede Social Facebook, de forma a obter
proveito sobre “O Poder do Efeito Viral”.
8 O projecto foi proposto na CDgo, no dia 22
de Maio de 2010, onde foram detectados alguns
contratempos. Era possível, apenas, a reprodução
de um exemplar do Vinil. Visto que a edição seria
distribuída gratuitamente, implicava alguns
gastos monetários não oferecendo consideráveis
vantagens à CDgo.
Após a verificação deste obstáculo, pensou-se
em desenvolver o livro “Copia-me” que reúne
um conjunto de testemunhos e expressões
individuais – sobre a pirataria, os direitos
de autor, a disponibilização gratuita de músicas
pelos próprios autores, e o retorno do vinil como
uma estratégia comercial, visto que o cd já não
contempla – com um artigo de opinião e com
a pro-actividade do público que aderiu ao projecto
na Rede Social Facebook. Para além de ser um
livro que não exige grande dispêndio na sua
reprodução, torna-se um objecto de divulgação
da empresa CDgo, de consciencialização sobre
esta problemática, (que serve como guia de alguns
aspectos/opiniões a ter em consideração no dia
do debate) funcionando, também, como notebook.
13. COPIA-ME
o postal
Deverão as pessoas
ter acesso a uma
COPIA-ME
obra como forma
o postal
de conhecimento
e participação
activa, cultural
e crítica
11
na sociedade?
“Sou filosoficamente
contra o próprio
conceito de direito
de autor em qualquer
arte. Aceito receber
direitos de autor
porque é a única
forma possível,
embora desviada,
de a comunidade me
permitir usar o meu
tempo a inventar
mais canções. Mas,
salvo em casos de
utilizações comerciais,
ou para fins lucrativos
privados, nunca me
servi dos direitos de
autor para autorizar
ou deixar de autorizar.
As minhas canções
saem de casa como os
filhos, e vão à sua vida.
14. Usem-nas como
quiserem, as acções
ficam para quem as
pratica, a comunidade
que assuma a crítica.”
José Mário Branco
Este postal foi
desenvolvido com base
na opinião de José
Mário Branco, em que
refere que “as canções
são como filhos:
o postal
COPIA-ME
geram-se, nascem,
crescem e depois
vão à sua vida.”
Quis-se representar
na ilustração, o poder
12 e velocidade da
reprodução – os filhos,
mais rebeldes, que
querem rapidamente
sair de casa e aqueles
que se apaixonam,
casam e têm filhos,
e assim por diante.
A vantagem dos postais
é que dispensam do uso
do envelope tornando
a correspondência
simples e barata,
e, por esse motivo,
foi escolhido como
suporte gráfico para
difusão de informação.
O postal será
distribuído em locais
públicos adequados
para o efeito, como
escolas, cafés
e salas concerto.
15. COPIA-ME
a opinião
Os testemunhos
que prestaram opinião,
foram seleccionados
conforme o seu perfil –
formação e trabalho –
e, na maioria dos casos,
pela adesão ao projecto
COPIA-ME
Copia-me na Rede
a opinião
Social Facebook,
sendo, de igual forma,
analisado o seu perfil.
Durante o processo 13
de comunicação
com os testemunhos,
surgiram algumas
dificuldades pela pouca
disponibilidade em
desenvolver um artigo
de opinião.
16. Foram comunicados,
via email, cerca
de 50 possíveis
testemunhos,
individuais
e colectivos,
12 responderam
ao contacto.
a opinião
COPIA-ME
Dentro do prazo
estipulado, apenas
5 deram opinião.
Foi pertinente
14 e fundamental
o trabalho de campo,
com o intuito
de recolher e ter
conhecimento
de diversas opiniões
críticas, de modo
a obter uma reflexão
sobre a problemática
analisada neste
projecto.
17. “VIVEMOS
NUMA
SOCIEDADE
CAPITALISTA.”
“A minha opinião seria apenas a de uma pessoa
que ouve música, não estou de forma alguma
envolvida no processo de produção musical.
No fundo, sou aquilo a que gostam de chamar
de consumidor - embora não perceba
bem essa visão utilitária do objecto cultural
e artístico. Existem músicos com visões bastante
COPIA-ME
interessantes sobre esse tema: Adolfo Luxúria
a opinião
Canibal (dos Mão Morta) e José Mário Branco.
O download tido como ilegal não considero
YOURI PAIVA como um problema. Problema é existir cada
vez mais aquilo a que chamamos de produtos Download 15
Idade culturais, como se a cultura e a arte fossem mero
25 anos entretenimento e que, como todo e qualquer Referências
Naturalidade
Roterdão, Holanda produto, deve-se pagar para se usufruir dele Adolfo Luxúria Canibal;
Localização actual (eu acho que pagar seja o que for é um mau José Mário Branco.
Lisboa, Portugal princípio, mas vivemos numa sociedade Karl Marx.
capitalista e entrar com demasiado Marx
Formação faria com que entrássemos no campo
Licenciatura em História do hipotético - e a CDgo quer lá saber do Marx
na Faculdade de Letras
da Universidade de Lisboa; para alguma coisa). Ora bem, a arte – como
Curso de Fotografia objecto que reflecte uma necessidade de um autor
no Ar.Co - Centro de Artes mudar qualquer coisa neste mundo – não pode
e Comunicação Visual;
Curso de Fotografia ser encarada como produto para consumo, mas
no MEF - Movimento sim como algo que é fundamental, necessário
Expressão Fotográfica. e, por isso mesmo, deve estar totalmente
disponível para toda a população.
Ocupação
Fotógrafo e Estagiário No fundo, não me interessam novas formas
na Associação Casa
da Achada – Centro de explorar o mercado. Interessa-me
Mário Dionísio. que deixe de existir mercado.”
18. “ESTA SITUAÇÃO
ENVOLVE UMA
MUDANÇA
DO PARADIGMA
DA INDÚSTRIA
MUSICAL.”
ARTUR MOREIRA
a opinião
COPIA-ME
Idade “Como me parece fácil
26 anos de perceber, para o
Naturalidade
Porto, Portugal autor é extremamente
Localização actual vantajoso ver a sua
16 Amesterdão, Holanda obra difundida de
maneira a conseguir
Formação chegar (ou seja,
Licenciatura ser efectivamente
em Engenharia Civil;
Certificado em Estudos ouvida) a um público
de Jazz – New England à escala mundial,
Conservatory, Boston. como contrapartida
vê-se despido de
Ocupação remuneração por parte
Eng. Civil e Músico da pessoa que entra
em contacto com a
sua criação.
Não fosse o facto desta
escolha não poder ser
feita pelo autor (apesar
de algumas vezes o
ser) e esta situação
não me pareceria
tremendamente
injusta.
19. COPIA-ME
a opinião
Por outro lado, que de outra maneira de arte é vista
dentro dos agentes seriam impossíveis, e remunerada.
envolvidos, o que compensam o pouco Pela minha parte Download
soma mais perdas que já recebia com creio que é muito
será a parte das a venda dos Cds. mais uma mudança 17
editoras que vêm de paradigma...”
os seus lucros Tendo isto em mente Comprar
muitíssimo minorados acho que convém
sem a existência reflectir sobre
de nenhuma se esta situação
contrapartida, envolve uma mudança
ao contrário do autor do paradigma da
que vê a difusão indústria musical
da sua obra aumentar (de direcção inversa
de tal maneira à mudança introduzida
que muitas vezes quando a música
os lucros provenientes começou a ser
dos concertos, difundida de maneira
física pelas editoras)
ou se realmente existe
um retrocesso
em relação à maneira
como a autoria
de uma obra
21. “FONTE DE
PROGRESSO
E GLOBALIZAÇÃO”
MIGUEL QUEIRÓS “Há alguns anos atrás de lucros em si e ir buscá-lo
podíamos gravar astronómicos a serviços associados.
Idade programas de TV montado e se recusam Enquanto as editoras
31 anos para ver mais tarde, a actualizá-lo. não mudarem
Naturalidade
Vale de Cambra, Portugal podíamos gravar O sistema de venda de atitude, a ‘guerra’
COPIA-ME
Localização actual as nossas músicas de música tradicional vai continuar, ainda
a opinião
Vila Nova de Gaia, Portugal para ouvir no ‘faliu’, é um facto, há mais que os piratas
walkman, e isso que acordar! não sentem que
Formação era normal. Agora, estejam a cometer
Licenciatura chama-se pirataria! As editoras têm nenhuma ilegalidade
em Arquitectura
na Escola Superior de deixar de ver devido aos lucros 19
Artística do Porto (ESAP). Ao invés do que nos a pirataria como astronómicos obtidos
querem fazer crer, um inimigo, pelas editoras
Ocupação a ‘guerra’ da pirataria e olhá-la como que não chegam
Arquitecto na internet não é fonte de progresso aos artistas,
na EVA | evolutionary
architecture. travada entre os e de globalização. e medidas como
artistas e os ‘piratas’, É facilmente a do governo francês
é uma guerra entre observável que que visam penalizar
as editoras e os o valor de um artista os internautas
‘piratas’. A questão ‘aumenta’ graças que não controlem
fulcral da pirataria, à difusão que obtém o acesso de terceiros
é uma questão com a pirataria, aos seus computadores,
de comodismo, porque não só servem para exaltar
de falta de querer rentabilizar esse os ânimos.”
acompanhar valor acrescentado
a evolução tecnológica em concertos,
e social por parte merchandising, entre
das editoras que outros, descentrando Download
têm o seu sistema a fonte de lucro
de obtenção principal do produto
22. “ANEXO
DE CAUSALIDADE”
TIAGO ESTEVES
Idade
31 anos
Naturalidade
Barcelos, Portugal
Localização actual
Londres, Reino Unido
Formação
Licenciatura
em Direito
a opinião
COPIA-ME
na Universidade
de Coimbra;
Licenciatura
em Música
Comercial
na Universidade
20 de Westminster.
Ocupação
Membro e fundador
do projecto Katzgraben
e do projecto The Sound
of Places (TSOP).
23. “Poder-se-ia aqui não físico acabou por Pouco relevante será
discutir infindáveis se tornar a referência discutir legalidades de
tópicos sobre aquilo de praticabilidade partilhas de ficheiros,
que mais ‘preocupa’ e o alimento de um inventar ‘perseguições
a indústria musical novo objecto – o a piratas’ de forma
mundial e os seus leitor de mp3 ou ipod. repressiva e ineficaz,
alicerces já corroídos Por outro lado, essa criar novas leis que
e enferrujados. mesma ‘revolução’ venham preencher
É uma indústria em digital veio trazer lacunas impossíveis.
crise, em decadência estúdios caseiros para Toda a gente sabe (ou
visível, a espingardar dentro dos quartos deveria saber) que os
mecanismos inócuos e uma corda para o direitos de autor são
sobre direitos de autor, pescoço das grandes de uma complexidade
pirataria e o milagre editoras, grandes única, até que por
do aparecimento produtoras, grandes para a sua existência
de um novo formato estúdios. Tudo se imaterial precisam
que venha consentir tornou mais acessível de visibilidade, tacto,
o ‘controlo’ que o e mais democrático. de um suporte físico
digital vulgar mp3 Não vale a pena tentar qualquer que venha
não permite. O mais analisar aqui todos dar-lhes relevância
COPIA-ME
impressionante é que os pormenores. Seria não só jurídica mas
a opinião
ainda não percebeu tarefa impossível para também cultural,
(ou não quer perceber) tão poucas palavras. O artística e social.
que a era digital já que importa dizer
aniquilou um negócio é que se vive hoje uma
de décadas, leitmotiv mudança inevitável 21
da globalização de formas de ouvir,
da música pop, editar, gravar e
e termómetro partilhar música.
de estratégias
comerciais que
de artístico têm
muito pouco.
Nada que não fosse
previsível. Primeiro,
veio o CD, o formato
perfeito, que destruiu
o supremo vinil,
o último prazer
analógico. Depois, após
inúmeras tentativas de
encontrar um formato
áudio ainda mais
perfeito (blu-ray, dvd-
audio, etc), o formato
24. Colocam-se
hoje inúmeras
questões:
Existe realmente Existe uma efectiva Será justo impedir Será realmente eficaz
a opinião
COPIA-ME
um nexo de oferta de um formato uma democratização uma ‘perseguição’
causalidade físico com valor, isto é, cultural em prol do à tal pirataria (uma
entre downloads será justa a cobrança valor da propriedade pirataria que nem
(supostamente) de determinados sobre direitos de autor? é pirataria pois
ilegais e a descida valores por uma mera nela não existem
22 das vendas caixa de plástico com ambições de copiar
fonográficas? um CD dentro? e revender um produto)
para benefício da
divulgação artística?
25. O músico é a peça fundamental deste xadrez.
COPIA-ME
Possui toda a liberdade de disponibilizar
a opinião
a sua própria música ao preço que quiser, Download
e sob o formato que considere mais apropriado.
É também a ele que se pede a tomada
de consciência relativa aos seus direitos
como criador (o direito de autor existe Comprar 23
a partir do momento em que a obra é criada)
e o desprendimento de ‘indústrias lucrativas’
de pseudo-sociedades que se dizem protectoras.
Essa tomada de consciência deve estender-se
também a todos os âmbitos de produção artística.
Com determinação e sem hipocrisias. Talvez
seja esta uma perspectiva que parte de um certo
diletantismo, mas tal não é justificação para dar
azo à desconfiança ou à confusão de interesses
antagónicos. O músico deve ser soberano para
que perdas de autoria na hierarquia de uma
indústria caduca não se repitam. E à célebre
discussão sobre a eventual ilegalidade de partilha
de ficheiros deve ser acrescentada uma valente
dose de pragmatismo. Antes perder a fonte
de lucro do que vender a alma ao diabo.”
26. “NOVA
ORDEM”
NUNO CATARINO
Idade
30 anos
Naturalidade
Esposende, Portugal
Localização actual
a opinião
COPIA-ME
Lisboa, Portugal
Formação
Licenciatura
em Publicidade e Marketing
na Escola Superior
24 de Comunicação Social;
Pós-Graduação em
Comunicação, Cultura
e Tecnologias de Informação
no Instituto Superior
de Ciências do Trabalho
e da Empresa (ISCTE).
Ocupação
Assessor para a Comunicação
e Marketing na Associação
Portuguesa de Apoio à Vítima;
Crítico de Jazz no Público;
Colaborador da Jazz.pt
e do Bodyspace.
27. “Além de ter alterado A partir de 2003 pelo próprio
de forma definitiva a indústria da música consumidor)
a forma como começou a dar provas e deixando
são percepcionados, da sua capacidade a possibilidade
consumidos de reinventar o seu ao utilizador de pagar
e comercializados negócio, criando 10 USD pelo envio
diversos dispositivos novas áreas de uma edição física.
culturais, a internet de negócio, Estes novos modelos
revolucionou de forma especificamente de negócio, ainda que
notória o negócio através da internet pouco comuns, são
da música. Se ao longo (online music) já representativos
da história, a indústria e do telemóvel da emergência uma
se habituou (mobile music). nova era no mundo
a diversas evoluções, da música. O próprio
nomeadamente Em 2007 o grupo Girl Talk utiliza como
quando se assistia britânico Radiohead método de trabalho
à substituição do disponibilizou o seu a recolha de samples
paradigma do principal disco ‘In Rainbows’ de outros artistas,
suporte, essa evolução de forma gratuita, numa técnica
COPIA-ME
acabou por acontecer, deixando ao utilizador ‘copy-paste’, que
a opinião
de uma maneira geral, a possibilidade apesar de derivar
de uma forma pacífica. de pagar o que da cultura ‘mash
Se entre 1980 e 2002 entendesse pelo up’ lhes acrescenta
sempre se assistiu download, vendendo elementos de inovação
a um crescente volume posteriormente uma – os seus discos ‘Night 25
de vendas de música edição especial Ripper’ (2006) e ‘Feed
em formato físico do disco com vários the Animals’ (2008)
(inicialmente vinil, extras – a acção foram casos de
depois CD de forma traduziu-se num enorme popularidade
hegemónica). Essa sucesso a dois e, simultaneamente,
evolução da facturação níveis, pelo número de aclamação crítica.
do CD nos EUA, Europa de downloads e pela O artista/DJ americano
e Japão, começou facturação económico é um ícone deste novo
a decair em 2002, pela venda da edição sistema de produção
com a generalização física do disco. O e distribuição, de uma
do consumo americano Greg Gillis, cultura emergente
de música através mais conhecido pelo que transcende do
de formatos digitais. pseudónimo Girl próprio acto criativo
A partir de 2003 somos Talk, teve um gesto para o modelo de
confrontados com a semelhante, ao editar negócio, como atestam
quebra da hegemonia em 2008 o seu disco os documentários
do formato CD, rumo ‘Feed the Animals’, ‘Good Copy Bad Copy’
à multiplicação dos disponibilizando (2007) e ‘RIP: A Remix
formatos e à afirmação o download de forma Manifesto’ (2008).
do formato digital gratuita (ou pelo
online e móvel. um preço definido
28. Numa era em que Não é a primeira
o mp3 (MPEG-1 vez que a indústria
audio layer 3) musical enfrenta
e outros formatos mudanças
digitais (como o FLAC) significativas devido
se tornam no meio à introdução de
primordial de consumo inovações tecnológicas,
da música, os formatos mas é a mudança
CD e DVD (musical) que mais dificuldades
perdem mercado, de adaptação criou
e as empresas não ao negócio da música.
conseguem equilibrar Nesta ‘nova ordem
o negócio através musical 2.0’,
dos formatos digitais, a noção de consumo
uma vez que a de conteúdos
acessibilidade gratuita musicais deve ser
aos conteúdos quase entendida como
se “institucionalizou”, uma prática cultural
pelo menos de uma dinâmica, que remete
a opinião
COPIA-ME
forma informal. para valores, atitudes
Através de blogs e sites e apropriações
de partilha (como múltiplas. Estes novos
RapidShare, SendSpace padrões de consumo
ou Megaupload) são no entanto ainda
26 ou torrents, a partilha condicionados pelos
de música banalizou- media tradicionais,
se, tornando acessível que continuam
em poucos cliques a funcionar
milhares de horas como mediadores
de música, desde importantes –
gravações históricas a cultura musical
de clássicos até 2.0 não está desligada
à música popular da rádio, da televisão
mais universal. (generalista e canais
temáticos de música)
ou da imprensa
(suplementos culturais,
revistas especializadas
e fanzines).
29. No entanto, Aos artistas e aos Referências
complementa-se agentes da indústria, Radiohead;
Greg Gillis.
com as fontes de que na maior parte Download
informação online: dos casos não sabem Documentários
webzines (como o site ainda reagir a este “Good Copy Bad Copy”, 2007;
“RIP: A Remix Manifesto”, 2008.
de referência Pitchfork), novo paradigma,
blogs (focados na cabe o papel de Comprar Tecnologias
informação/notícias, procurar encontrar RapidShare;
SendSpace;
de crítica especializada formas de reverter Megaupload.
ou até com a simples as enormes
função de partilha/ potencialidades Informação online
distribuição de mp3) das novas ferramentas Pitchfork;
Amazon.
e outras fontes disponíveis
de informação ao seu favor.”
online - as críticas da
Amazon, feitas pelos
utilizadores/clientes
acabam por vezes
por ter mais
COPIA-ME
relevância crítica do
a opinião
que um texto crítico
publicado num jornal.
Enquadrado num novo
sistema, moldado por
novas regras (ainda 27
maleáveis), o mercado
sente ainda os efeitos
de uma crise que já
se traduz no início
de uma nova era,
no novo tempo da
música digital. Entre
iPods, blogs, podcasts,
MySpace e mp3,
o modelo de
negócio da música
foi reconfigurado
numa adaptação
ao conceito do ‘global’.
32. Portugal, Reino Unido, França, Brasil, Espanha,
Luxemburgo, Roménia, Estados Unidos,
Argentina, Canadá, Suíça, Alemanha e Lituânia
são os países dos quais fazem parte os fãs
A página comunitária do Copia-me. Em Portugal, as cidades de maior
do Copia-me na Rede aderência são Lisboa, Vila Nova de Famalicão,
Social Facebook foi Amadora e Porto.
criada no dia 23
de Maio de 2010, Desde a sua criação até ao dia 6 de Junho
pretende divulgar de 2010 houveram 20 publicações do público,
o projecto e, sem incluir as publicações do próprio criador
interactivamente, da página. Entre elas, foram reveladas
estabelecer um 8 opiniões sobre o download legal e ilegal
espaço de discussão de música – 6 pessoas a favor do download
e opinião, através de ilegal e 2 em oposição.
textos, vídeos e/ou
no facebook
COPIA-ME
imagens sobre o tema. Foram seleccionadas apenas 5 opiniões,
para serem apresentadas neste livro.
A página reúne 461
fãs no total, sendo
53% público masculino
30 e 45% feminino,
de idade compreendida
entre os 13 e os 60 Download (6)
anos, porém o público
que revela maior
adesão está entre
os 18 e 24 anos Comprar (2)
de idade.
33. 461 FÃS
8:00 pm
445 FÃS
8:00 pm
406 FÃS
8:00 pm
343 FÃS
8:00 pm
no facebook
COPIA-ME
126 FÃS 31
8:00 pm
0 FÃS
23 MAIO 30 MAIO 6 JUNHO 13 JUNHO 20 JUNHO
domingo domingo domingo domingo domingo
TOTAL DE FÃS no facebook
34. GÉNEROS no facebook
53% PÚBLICO
no facebook
COPIA-ME
masculino
45% PÚBLICO
feminino
32 2% PÚBLICO
outros
35. IDADES no facebook
53% PÚBLICO
no facebook
COPIA-ME
masculino
24%
18 – 24 anos
45% PÚBLICO 33
feminino
26%
18 – 24 anos
2% PÚBLICO
outros
36. 25 MAIO
às 0:22
OPINIÃO I
Teixeira Moita
“A Net e os downloads Já ando nisto há
ilegais estão a matar muitos anos e reparo
o autor. Tudo isto que existe um
porque existe essa interesse crescente
vontade política por parte dos jovens
de acessibilidade e imprensa pela
gratuita e ilimitada música pop dos 80
aos conteúdos, que e 90 e até pela Música
parte do princípio Experimental dessa
de que, se eu posso época. E querem
no facebook
COPIA-ME
criar uma música saber porquê?
e colocá-la na Internet, Porque neste momento
sou um artista igual é praticamente
a um ‘profissional’. impossível
Isto interessa ao encontrarmos uma
34 sistema político proposta interessante
porque... envolve e inovadora nessas
as pessoas áreas. O ‘Copy Paste’
numa atmosfera domina na criação
aparentemente e já poucos arriscam
‘democrática’, o que a via profissional
as afasta da política ou se dedicam
activa que deve ser as outras actividades.”
questionada todos
os dias.
Comprar
37. 25 MAIO
às 1:15
OPINIÃO 2
Buga Daz Coubz
“O ‘problema’ dos Quantas foram
artistas porem as as bandas portuguesas
suas próprias músicas que REALMENTE
online, é que deixam conseguiram tocar
de ter que se submeter no estrangeiro, sem
à ditadura das ser para os emigrantes,
grandes (e pequenas) antes da ‘pirataria’
empresas, essas sim, na net! Alguma
que se apropriam editora apostava
dos direitos de autor no estrangeiro?
no facebook
COPIA-ME
de quem assinam...
isso é ROUBAR quem Hoje em dia existem
criou algo! E se uma bandas que tâm
banda quer meter a mais sucesso no
sua música disponível estrangeiro do que cá...
gratuitamente? garanto, que não foi 35
nenhuma editora que
tornou possível, mas
sim a livre circulação
das músicas...”
Download
38. 27 MAIO
às 2:45
OPINIÃO 3
André Simão
“É claro que se Acho que chegamos Como é óbvio, a maior
pode disponibilizar a um limbo irracional parte das bandas
gratuitamente. em que os músicos que oferecem os
É claro que há mais são negociantes seus álbuns estão,
acesso à informação de mercado indirectamente,
e cultura. É claro paralelo, altruistas a oferecer os seus
que as bandas podem e obrigatoriamente concertos. talvez
ganhar visibilidade desinteressados, no novo paradigma
e capitaliza-la as editoras são o se venha a passar
vendendo espectáculos. bicho papão (todos exactamente isso:
no facebook
COPIA-ME
Mas isto são efeitos esqueceram a Blue a música deixa
colaterais de uma Note, 4AD, Mute, ECM, de ser um bem
questão que, quanto só para enumerar as transacionável, passa
a mim, se esgota nela pontas dos respectivos a ser exclusivo de
própria: se um artista icebergs) e os piratas amadores, altruistas
36 ou editora investem são heróis e desinteressados.
capital próprio na de contra-cultura, Não me parece
produção de um álbum cultos, informados, mal. mas que há-de
então quem o copia arautos da democracia. demover muitos e bons
fá-lo indevidamente autores, isso há-de.”
e CONTRA a vontade Uma coisa é falar-se
do autor. Ou seja, de um novo paradigma.
temos um dado Outra é achar-se que
objectivo e só por o velho pode coexistir Comprar
milagre rebatível: certo com esse novo que
tipo de autor e autoria ainda não existe
perdem força. num mundo florido de
anarquia e altruísmo.
39. 4 JUNHO 6 JUNHO
às 19:09 às 18:15
OPINIÃO 4 OPINIÃO 5
Melissa Oliveira Tiago Gonçalves
“A pirataria é uma “Alguma vez roubaria
forma de partilha um carro? Não.
e se não houvesse Mas se pudesse
downloads ilegais fazer cópias do meu
não tínhamos acesso carro, ficar com ele
a tanta coisa boa! e partilhar as cópias
Ter um CD original com outras pessoas,
nas mãos também fá-lo-ia. As associações
é precioso e eu anti-pirataria nem
própria invisto sequer se dão
no facebook
COPIA-ME
nisso quando ao trabalho de usar
posso e quero. argumentos que façam
sentido... Só querem
É preciso ouvir é dinheiro, querem
e partilhar muita o preço exagerado
música para conhecer de 15€ por cada CD 37
um pequeno pedaço quando 90% daquilo
das tantas obras que que produzem é lixo
existem no mundo!” sonoro e só os outros
10% valem realmente
esse dinheiro.”
Download
Download
42. Este blogue foi criado No dia 27 de Maio No dia 31 de Maio Desde a sua criação
no dia 24 de Maio foi publicado o post foi criado o post até ao dia 20
de 2010. Pretende “O Vinil”, onde foi “As canções, para de Junho de 2010,
também dar explicada a origem mim, são como filhos”, o blogue conseguiu
a conhecer o projecto, do nome do projecto onde foi publicada 157 visualizações.
e ser um espaço de – 32 visualizações. a ilustração do postal
no wordpress
COPIA-ME
debate sobre o tema. sobre a opinião
de José Mário Branco
e colocada a pergunta
existente no mesmo
– 15 visualizações.
40
43. 157 VIS.
8:00 am
149 VIS.
8:00 am
128 VIS.
8:00 am
85 VIS.
8:00 am
no wordpress
COPIA-ME
9 VIS. 41
8:00 am
0 VIS.
24 MAIO 31 MAIO 7 JUNHO 14 JUNHO 21 JUNHO
segunda segunda segunda segunda segunda
TOTAL DE VISUALIZAÇÕES no wordpress
65. COPIA-ME
o livro
O livro é encadernado
com argolas, com
o intuito de não exigir
grande dispêndio.
1 Retire as argolas do livro. 2 Coloque as folhas de forma
acertada na fotocopiadora.
Este livro encontra-
se disponível para
download – em www.
slideshare.net/copiame
– e pode ser duplicado
livremente.
(Leia atentamente
as instruções
que se seguem).
COPIA-ME
o livro
3 Programe o número 4 Carregue no botão “Copiar”.
de cópias que pretende.
63