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Assembleia Legislativa de São Paulo

Comissão da Verdade
do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”
Presidente: Adriano Diogo (PT)
Relator: André Soares (DEM)
Membros Titulares: Ed Thomas (PSB), Marco Zerbini (PSDB) e
Ulysses Tassinari (PV)
Suplentes: Estevam Galvão (DEM), João Paulo Rillo (PT), Mauro
Bragato (PSDB), Orlando Bolçone (PSB) e Regina Gonçalves (PV)
Assessoria Técnica da Comissão da Verdade: Ivan Seixas
(Coordenador), Amelinha Teles, Tatiana Merlino, Thais Barreto, Vivian
Mendes, Renan Quinalha e Ricardo Kobayashi
2

Lúcio Petit da Silva
(desaparecido em 21 de abri de 1974)

Dados Pessoais
Nome: Lúcio Petit da Silva - Beto
Data de nascimento: 1º de dezembro de 1943
Local de nascimento: Piratininga - SP
Organização Política: Partido Comunista do Brasil PCdoB
3

Dados biográficos
Lúcio nasceu em 1º de dezembro de 1943, em Piratininga (SP), filho de José
Bernardino da Silva Júnior e Julieta Petit da Silva. Cursou o primário em
Amparo e o ginasial em Duartina, no interior paulista. Por causa das
dificuldades financeiras da família, começou a trabalhar muito cedo. Foi viver
com um tio em Itajubá (MG), onde terminou o colegial e o curso superior no
Instituto Eletrotécnico de Engenharia. Fez parte do diretório acadêmico de
sua faculdade, onde iniciou sua militância política, encarregando-se do setor
de cultura. Participou das atividades do Centro Popular de Cultura (CPC) da
UNE. Escrevia poemas e crônicas sobre os problemas sociais brasileiros para o
jornal O Dínamo, do diretório acadêmico.
Em 1965, trabalhou em São Paulo (SP) como engenheiro da Light, da Engemix
e da Cia. Nativa, em Campinas (SP).
4

Em meados de 1970, abandonou o trabalho e a cidade para continuar a luta
políticana região Sudeste do Pará, local escolhido pelo PCdoB para iniciar a
Guerrilha do Araguaia. Lá já se encontravam sua irmã Maria Lúcia e seu irmão
Jaime (desaparecidos em 16 de junho de 1972 e no fim de novembro de
1973, respectivamente). No campo, destacou- se como excelente mateiro. Fez
vários poemas e literatura de cordel que eram recitados pelos camponeses da
região e nas sessões de terecô (religião local). Tornou-se vice-comandante do
Destacamento A – Helenira Rezende, após a morte do comandante André
Grabois, em 14 de outubro de 1973. Era conhecido como Beto. Visto pela
última vez por seus companheiros em 14 de janeiro de 1974, após forte
tiroteio com as Forças Armadas.
Theresa Braz Rosas, professora de fotografia e amiga de Lúcio, buscou
resgatar alguns de seus textos para lembrar a atuação literária do então aluno
da EFEI. Dos trabalhos que ele deixou escritos, apenas duas crônicas foram
encontradas, publicadas no jornal do diretório acadêmico da EFEI – O
Dínamo. Segundo informações obtidas no DA pela professora, os demais
exemplares do jornal, em que havia mais publicações de Lúcio “[…] foram
apreendidos pelo Batalhão de Itajubá” nos anos 1970.
5

Dados sobre sua morte
De acordo com o Relatório Arroyo, documento escrito pelo dirigente Ângelo
Arroyo que escapou do cerco militar à região da guerrilha em 1974:
Dia 14 [de janeiro de 1974], acamparam próximo a uma capoeira
abandonada onde a casa do morador havia sido queimada pelo
Exército. Ao amanhecer do dia 14, dois companheiros foram ver se
conseguiam alguma mandioca… Às 9h30, quando estavam
preparando uma refeição, ouviram um barulho estranho na mata.
Ficaram de sobreaviso, com as armas na mão. Viram então os
soldados que vinham seguindo o rastro e passaram a uns dez
metros de onde os companheiros se encontravam. Os soldados
atiraram, ouviram-se várias rajadas. J. [Ângelo Arroyo], Zezim e
Edinho [Hélio Luiz Navarro de Magalhães] escaparam por um lado.
Não se sabe se os outros três – Piauí [Antônio de Pádua Costa], Beto
[Lúcio Petit da Silva] e Antônio [Antônio Ferreira Pinto] – também
escaparam.
6

Documentos oficiais
No relatório da Marinha faz referência sobre Lúcio Petit da Silva e afirma
que foi morto em março de 1974.
7

Depoimento de testemunhas
Em depoimento prestado ao MPF em julho de 2001, Margarida Ferreira
Félix afirmou:
[…] no dia 21 de abril de 1974, os três últimos guerrilheiros foram
presos na casa do Manezinho das Duas, quando eles vieram pedir
um pouco de sal; que os guerrilheiros eram o Beto [Lúcio Petit da
Silva], Antônio [Antônio Ferreira Pinto] e Valdir [Uirassu de Assis
Batista]; que os soldados do Exército enganaram os
guerrilheiros, simulando que estavam pousando o helicóptero na
casa da declarante, mas na verdade uma equipe de soldados foi
para a casa do Manezinho das Duas, e lá prenderam os três; que o
marido da declarante ajudou a embarcar os três guerrilheiros vivos
em um helicóptero do Exército.
8
Seu marido, o ex-guia do Exército Antônio Félix da Silva, complementa:
[…] em abril de 1974, poucos militares ainda andavam na mata; que os
militares achavam que apenas três ou quatro guerrilheiros ainda
estavam vivos; que os militares pousaram em uma clareira perto de
sua casa e foram a pé até a casa de Manezinho das Duas e se
esconderam em um bananal próximo da casa; que no dia seguinte,
pela manhã, o declarante foi até a casa do Manezinho das Duas,
conforme determinação dos militares; que lá chegando, por volta
das 7 horas da manhã, do dia 21/04/1974, o declarante viu Antônio,
Valdir e Beto sentados em um banco na sala da casa, com os pulsos
amarrados para trás com uma corda fina, parecendo ser de nylon;
que o declarante viu um militar se comunicando pelo rádio; que, por
volta das 9 horas da manhã, chegou o helicóptero que levou os
militares e os três prisioneiros; que o declarante apenas percebeu
que Valdir estava ferido, parecendo ser um lecho [ferida de
leishmaniose] na batata de sua perna, que atingia metade da
mesma, tendo dificuldade para andar até o helicóptero.
9

Conforme depoimento prestado ao MPF por Adalgisa Moraes da Silva, os
três guerrilheiros foram levados presos para a base militar de Bacaba,
localizada próxima a São Domingos do Araguaia (PA), às margens da
Transamazônica, onde foi construído um centro de torturas e um campo de
concentração das Forças Armadas, e que se tornou, também, segundo
moradores da região, um cemitério clandestino. A partir daí não se obteve
mais nenhuma informação sobre o paradeiro dos três.
10

Providências posteriores
O nome de Lúcio Petit consta na lista de desaparecidos políticos do anexo I, da
lei 9.140/95.
Em homenagem, a cidade de Campinas deu seu nome a uma rua.
Lúcio Petit da Silva foi homenageado pela cidade de São Paulo (SP), que deu
seu nome a uma rua no bairro Visconde do Rio Branco. Outra rua com seu
nome se localiza em Belo Horizonte (MG).

Informações extraídas do DOSSIÊ DITADURA: Mortos e Desaparecidos Políticos no
Brasil 1964-1985. IEVE- Instituto de Estudos Sobre Violência do Estado e Imprensa
Oficial, São Paulo, 2009.

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Lucio Petit da Silva

  • 1. Assembleia Legislativa de São Paulo Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva” Presidente: Adriano Diogo (PT) Relator: André Soares (DEM) Membros Titulares: Ed Thomas (PSB), Marco Zerbini (PSDB) e Ulysses Tassinari (PV) Suplentes: Estevam Galvão (DEM), João Paulo Rillo (PT), Mauro Bragato (PSDB), Orlando Bolçone (PSB) e Regina Gonçalves (PV) Assessoria Técnica da Comissão da Verdade: Ivan Seixas (Coordenador), Amelinha Teles, Tatiana Merlino, Thais Barreto, Vivian Mendes, Renan Quinalha e Ricardo Kobayashi
  • 2. 2 Lúcio Petit da Silva (desaparecido em 21 de abri de 1974) Dados Pessoais Nome: Lúcio Petit da Silva - Beto Data de nascimento: 1º de dezembro de 1943 Local de nascimento: Piratininga - SP Organização Política: Partido Comunista do Brasil PCdoB
  • 3. 3 Dados biográficos Lúcio nasceu em 1º de dezembro de 1943, em Piratininga (SP), filho de José Bernardino da Silva Júnior e Julieta Petit da Silva. Cursou o primário em Amparo e o ginasial em Duartina, no interior paulista. Por causa das dificuldades financeiras da família, começou a trabalhar muito cedo. Foi viver com um tio em Itajubá (MG), onde terminou o colegial e o curso superior no Instituto Eletrotécnico de Engenharia. Fez parte do diretório acadêmico de sua faculdade, onde iniciou sua militância política, encarregando-se do setor de cultura. Participou das atividades do Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE. Escrevia poemas e crônicas sobre os problemas sociais brasileiros para o jornal O Dínamo, do diretório acadêmico. Em 1965, trabalhou em São Paulo (SP) como engenheiro da Light, da Engemix e da Cia. Nativa, em Campinas (SP).
  • 4. 4 Em meados de 1970, abandonou o trabalho e a cidade para continuar a luta políticana região Sudeste do Pará, local escolhido pelo PCdoB para iniciar a Guerrilha do Araguaia. Lá já se encontravam sua irmã Maria Lúcia e seu irmão Jaime (desaparecidos em 16 de junho de 1972 e no fim de novembro de 1973, respectivamente). No campo, destacou- se como excelente mateiro. Fez vários poemas e literatura de cordel que eram recitados pelos camponeses da região e nas sessões de terecô (religião local). Tornou-se vice-comandante do Destacamento A – Helenira Rezende, após a morte do comandante André Grabois, em 14 de outubro de 1973. Era conhecido como Beto. Visto pela última vez por seus companheiros em 14 de janeiro de 1974, após forte tiroteio com as Forças Armadas. Theresa Braz Rosas, professora de fotografia e amiga de Lúcio, buscou resgatar alguns de seus textos para lembrar a atuação literária do então aluno da EFEI. Dos trabalhos que ele deixou escritos, apenas duas crônicas foram encontradas, publicadas no jornal do diretório acadêmico da EFEI – O Dínamo. Segundo informações obtidas no DA pela professora, os demais exemplares do jornal, em que havia mais publicações de Lúcio “[…] foram apreendidos pelo Batalhão de Itajubá” nos anos 1970.
  • 5. 5 Dados sobre sua morte De acordo com o Relatório Arroyo, documento escrito pelo dirigente Ângelo Arroyo que escapou do cerco militar à região da guerrilha em 1974: Dia 14 [de janeiro de 1974], acamparam próximo a uma capoeira abandonada onde a casa do morador havia sido queimada pelo Exército. Ao amanhecer do dia 14, dois companheiros foram ver se conseguiam alguma mandioca… Às 9h30, quando estavam preparando uma refeição, ouviram um barulho estranho na mata. Ficaram de sobreaviso, com as armas na mão. Viram então os soldados que vinham seguindo o rastro e passaram a uns dez metros de onde os companheiros se encontravam. Os soldados atiraram, ouviram-se várias rajadas. J. [Ângelo Arroyo], Zezim e Edinho [Hélio Luiz Navarro de Magalhães] escaparam por um lado. Não se sabe se os outros três – Piauí [Antônio de Pádua Costa], Beto [Lúcio Petit da Silva] e Antônio [Antônio Ferreira Pinto] – também escaparam.
  • 6. 6 Documentos oficiais No relatório da Marinha faz referência sobre Lúcio Petit da Silva e afirma que foi morto em março de 1974.
  • 7. 7 Depoimento de testemunhas Em depoimento prestado ao MPF em julho de 2001, Margarida Ferreira Félix afirmou: […] no dia 21 de abril de 1974, os três últimos guerrilheiros foram presos na casa do Manezinho das Duas, quando eles vieram pedir um pouco de sal; que os guerrilheiros eram o Beto [Lúcio Petit da Silva], Antônio [Antônio Ferreira Pinto] e Valdir [Uirassu de Assis Batista]; que os soldados do Exército enganaram os guerrilheiros, simulando que estavam pousando o helicóptero na casa da declarante, mas na verdade uma equipe de soldados foi para a casa do Manezinho das Duas, e lá prenderam os três; que o marido da declarante ajudou a embarcar os três guerrilheiros vivos em um helicóptero do Exército.
  • 8. 8 Seu marido, o ex-guia do Exército Antônio Félix da Silva, complementa: […] em abril de 1974, poucos militares ainda andavam na mata; que os militares achavam que apenas três ou quatro guerrilheiros ainda estavam vivos; que os militares pousaram em uma clareira perto de sua casa e foram a pé até a casa de Manezinho das Duas e se esconderam em um bananal próximo da casa; que no dia seguinte, pela manhã, o declarante foi até a casa do Manezinho das Duas, conforme determinação dos militares; que lá chegando, por volta das 7 horas da manhã, do dia 21/04/1974, o declarante viu Antônio, Valdir e Beto sentados em um banco na sala da casa, com os pulsos amarrados para trás com uma corda fina, parecendo ser de nylon; que o declarante viu um militar se comunicando pelo rádio; que, por volta das 9 horas da manhã, chegou o helicóptero que levou os militares e os três prisioneiros; que o declarante apenas percebeu que Valdir estava ferido, parecendo ser um lecho [ferida de leishmaniose] na batata de sua perna, que atingia metade da mesma, tendo dificuldade para andar até o helicóptero.
  • 9. 9 Conforme depoimento prestado ao MPF por Adalgisa Moraes da Silva, os três guerrilheiros foram levados presos para a base militar de Bacaba, localizada próxima a São Domingos do Araguaia (PA), às margens da Transamazônica, onde foi construído um centro de torturas e um campo de concentração das Forças Armadas, e que se tornou, também, segundo moradores da região, um cemitério clandestino. A partir daí não se obteve mais nenhuma informação sobre o paradeiro dos três.
  • 10. 10 Providências posteriores O nome de Lúcio Petit consta na lista de desaparecidos políticos do anexo I, da lei 9.140/95. Em homenagem, a cidade de Campinas deu seu nome a uma rua. Lúcio Petit da Silva foi homenageado pela cidade de São Paulo (SP), que deu seu nome a uma rua no bairro Visconde do Rio Branco. Outra rua com seu nome se localiza em Belo Horizonte (MG). Informações extraídas do DOSSIÊ DITADURA: Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil 1964-1985. IEVE- Instituto de Estudos Sobre Violência do Estado e Imprensa Oficial, São Paulo, 2009.