O documento discute como o mercado global de carnes vem mudando, com queda no consumo de carne bovina nos países desenvolvidos e aumento da carne de frango. Isso levou a uma redução das exportações brasileiras de carne bovina e maior foco na carne de frango. Além disso, custos elevados têm comprimido as margens dos frigoríficos brasileiros.
Análise do agronegócio de carnes no Brasil e no mundo
1. Agronegócio em Análise
Março de 2012
Custos elevados, retração das exportações e concorrência entre as carnes
provocam redução de margens dos frigoríficos
Regina Helena Couto Silva
Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos
O mercado mundial de carnes vem mudando de Todo este contexto deverá continuar ditando
forma estrutural desde a crise de 2008, sendo a dinâmica das exportações brasileiras, mais
percebido um efeito substituição entre as proteínas direcionada para a carne de frango. De fato, as
animais, em favor da carne de frango, cujos preços projeções do USDA1 para 2012 apontam para uma
são mais acessíveis. Esse movimento ocorreu elevação de 5% do volume exportado pelo Brasil de
principalmente nos países desenvolvidos, ao passo carne avícola, 2,8% de carne suína e 3,7% de carne
que nos países emergentes, inclusive no Brasil, o bovina. Com estes incrementos, as exportações de
incremento de consumo foi propiciado pela entrada carne de frango serão recorde, ao passo que as
no mercado consumidor da população de baixa exportações de carne suína seguirão no mesmo
renda, que passou a ter acesso a proteínas animais patamar dos últimos 10 anos e a carne bovina
de preços inferiores, o que ampliou o mercado ainda não recuperará o nível exportado em 2007.
de carne avícola. Além disso, a Rússia que é um
grande importador de carnes vem investindo na Nos últimos 10 anos, o consumo brasileiro de carnes
produção própria e reduzindo sua dependência cresceu a uma taxa média de 4% ao ano, com
externa. destaque para a carne de frango, chegando a uma
expansão anual média de 6% , ao passo que a carne
Esses movimentos levaram o complexo carnes bovina cresceu apenas 2% anualmente no mesmo
brasileiro a uma nova configuração, com perda de período. Enquanto a participação da carne avícola
importância da carne bovina na pauta exportadora no consumo nacional passou de 39% para 49% entre
e no ranking global e redirecionamento e 2000 e 2011, a de carne bovina caiu de 47% para 38%.
diversificação de mercados de destino. Some-se Já a participação da carne suína ficou estável em 13%.
a isso o câmbio apreciado e a elevação dos custos Isso é reflexo do incremento de renda da população e
de produção com ração e animais de reposição, do efeito da mobilidade social – nos últimos 10 anos
que estão provocando a compressão de margens mais de 40 milhões de pessoas saíram das camadas
dos frigoríficos. mais pobres de renda e ingressaram na classe C.
10.000 Bovina 9.655 10.138 Consumo doméstico
Suína de carnes - em mil
Avícola
7.792 7.750 toneladas
8.000 8.032 7.885
6.969
7.374
5.742 7.144
5.977 5.865
6.000 6.417
4.791 6.445
3.915
4.000
3.843
2.646
2.191 2.390 2.726
1.975
2.000 2.423
1.469 1.727 1.949
1.582
0
Fonte e (*) projeção: USDA
2011*
2012*
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
Elaboração: Bradesco
1
USDA – Sigla em inglês do Departamento de Agricultura dos EUA.
1
2. Consumo mundial 110.000
Carne Bovina
de carnes - em mil Carne de Frango
100.849
102.898
toneladas 100.000
Carne Suína
94.048
100.257
90.629
90.000 93.778
85.888
85.163 79.901 81.753
80.000
77.371
72.863
70.000
60.000
58.895
56.692 55.834
57.676
53.506 55.649
51.973 54.240 55.251
50.000 50.066
44.634 46.001
40.000
Fonte e projeção: USDA
2011*
2012*
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
Elaboração: Bradesco
Ao mesmo tempo, no mercado mundial, a retração do queda do consumo doméstico. Além disso, também
consumo de carne bovina vem ocorrendo de forma fizeram um movimento de substituição de proteínas
mais acentuada na Europa e na América do Norte, em – a demanda de carne bovina caiu 10% desde 2008,
função da crise financeira. Os EUA reduziram o volume ao passo que a demanda de carne de frango cresceu
importado2 em 13% entre 2008 e 2011, em razão da 1,3% no período.
18.000
Leste Asiático UE América do Norte América do Sul CEI Oriente Médio África Consumo mundial de
16.000 15.819 15.859 carne bovina por região-
15.738 em mil toneladas
14.000 14.710 14.655
12.384
12.404
12.000
10.527 10.632 12.074
10.000 10.726
8.659 8.416 8.690
7.969
8.000 7.945
7.559 7.675
6.473
7.149
6.000
5.051
4.246
4.000 3.942
3.631 2.878
2.247
2.726 1.734 2.489
2.000
1.312
1.269
1.082 Fonte e (*) projeção: USDA
-
2011*
2012*
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
Elaboração: Bradesco
Consumo aparente de 35.500
35.355
carnes nos EUA
35.000
34.659
Agronegócio em Análise
34.791
34.500
34.200
34.000
33.746 34.009 33.920
33.500
33.539
33.256
33.000
32.475
32.500
32.317
Fonte e Projeção: USDA 32.000
Elaboração: Bradesco 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
2
Os EUA são o 4º maior importador de carnes e responde por 6% das importações globais de carnes. As importações abastecem 8% do consumo
doméstico de carne bovina e 5% da carne suína. As importações norte-americanas de carne de frango são irrelevantes.
DEPEC 2
3. 14.000
Avicola
13.890
Consumo de
Bovina 13.677
Carnes nos EUA
Suína 13.435 13.606
13.000 12.737 12.830 13.470
12.664
12.502 12.239
12.000 12.351 12.340 12.403 11.750
11.477
11.000 11.158
10.000
8.684 9.013
9.000
8.643
8.396 8.818 8.813
8.454 8.526
8.653
8.384
8.000
Fonte e projeção: USDA
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
Elaboração: Bradesco
Importações de 4.000
Japão Rússia
Carnes Avícola, México EUA 3.418
Bovina e Suína por 3.500 UE - 27 Arábia Saudita
países
3.000 2.958
2.715 2.963 2.740
2.500
2.480
2.262 2.114
2.000 1.823
1.901
1.500 1.320 1.545
1.638
1.095 1.322
1.351
1.000 1.085
1.129 1.178
880
630
616 452
500 459
510
297
Fonte e Projeção: USDA 0
Elaboração: Bradesco 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012*
Paralelamente, a Rússia, que é o 2º maior a dependência externa caiu de 38% para 26% entre
importador e responde por 10% das importações 2008 e 2012.
globais, também vem reduzindo o volume importado
de carnes. Mas diferentemente do que ocorreu nos Adicionalmente, o mercado brasileiro de carnes tem
EUA onde o consumo interno e por consequência as forte dependência da demanda russa, o que representa
compras externas recuaram, na Rússia o consumo um risco, dado que 20% das nossas exportações
doméstico vem crescendo, a exemplo de outros de carnes tem como destino este mercado. Mas, de
emergentes, ou seja o país investiu na ampliação todo modo, essa concentração vem se reduzindo nos
Agronegócio em Análise
da produção doméstica, reduzindo sua dependência últimos anos, com a conquista de outros mercados,
de importações de carnes. De fato, a participação o que possibilitou um pouco mais de pulverização,
da Rússia nas importações globais do complexo aspecto bastante positivo para setores exportadores.
carnes caiu de 16% em 2008 para 9,9% em 2012.
Nesse sentido, as importações de carne de frango Prova disso, é que, em 2001 55% das exportações
que atendiam a 31% da demanda doméstica do brasileiras de carne suína estavam concentradas na
país, passaram a responder por 11%, sendo a Rússia. No ano passado essa concentração se reduziu
diferença complementada com produção própria. A para 24,5%. Outros mercados como Hong Kong, Ucrânia,
dependência russa de carne bovina importada foi Angola, Cingapura, Uruguai e Venezuela ganharam
reduzida de 45% para 43%. No caso da carne suína participação, que passou de 22% para 54% no período.
DEPEC 3
4. 450.000
Hong Kong Exportações
403.572
400.000 377.078 Rússia brasileiras de carne
Ucrania
350.000 Argentina suína por países de
destino (soma 70%
300.000
267.562
233.984 das exportações
250.000 313.840 brasileiras de carne
200.000
suína) 2001 - 2011
em toneladas
150.000 122.132 126.449
151.964
129.734
100.000
49.693 60.968 61.708
73.908
50.000
32.506 41.578
0 28.084
96
-50.000
Fonte: Secex
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
Elaboração: Bradesco
No caso da carne de frango o Brasil perdeu importantes A carne bovina também perdeu mercados relevantes como
mercados consumidores como a Europa, que a Europa, que respondia por quase 40% das exportações
respondia por 20% das exportações em 2001 e passou em 2001, e passou para 9% em 2011. Os EUA também,
para 6% em 2011. A Rússia, que neste segmento não que já responderam por 7% e caíram para 1,2% no
tinha forte concentração, também perdeu participação período. Em sentido contrário, o risco se concentrou na
saindo de 7,7% para pouco menos de 2%. Houve maior Rússia, que passou de 0,4% para 21,7% no período entre
pulverização dos mercados de destino, e dois países 2001 e 2011. Apesar disso, essa participação na pauta
que ganharam relevância foram a China e a África exportadora do Brasil vem se reduzindo desde 2008,
do Sul que respondem cada um por 5%, antes uma quando foi de 28,6%, visto que a Rússia vem reduzindo
participação de 1,5%. sua dependência externa como mostrado anteriormente.
500.000
Rússia 461.909
Hong Kong
Exportações
450.000
Irã
Egito
brasileiras de carne
400.000 Europa bovina por países de
334.068
350.000 322.226.829
destino (soma 70%
das exportações
300.000
brasileiras de carne
250.000 suína) 2001 - 2011
183.904 165.496 237.631
200.000 188.556
em toneladas
194.551.435
150.000
130.724
100.000 105.651
51.149 56.148
50.000
81.598
2.269 35.616
0
Agronegócio em Análise
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
Fonte: Secex
Elaboração: Bradesco
Em sentido contrário, como já comentado, o consumo impulso, entretanto, veio dos países emergentes, que
de carne avícola vem crescendo globalmente. Na tiveram forte crescimento de renda, impulsionando
América do Norte e na União Europeia, que juntas a demanda de proteínas animais. Assim, no Leste
respondem por 35% da demanda mundial de carne Asiático, na América do Sul e o no Oriente Médio o
de frango, o consumo deste tipo de carne cresceu em consumo doméstico de carne de frango cresceu 5,5%
média 1,5% ao ano nos últimos quatro anos. O forte em média nos últimos quatro anos.
DEPEC 4
5. Leste Asiático UE América do Norte América do Sul CEI Oriente Médio África
20.000 Consumo mundial de
18.000 17.627 18.388 carne avícola por região-
16.786
16.000
em mil toneladas
14.509 16.101
14.000 13.504
13.866
11.731
12.000 12.689 12.384
10.427
10.000 10.921
8.358 9.100
7.917
8.000 7.301 7.687
6.666
8.200 7.656
6.179
6.000
5.948 4.289 5.464 4.398
4.000 2.959 3.957
1.947 Fonte e projeção: USDA
2.000 2.741 Elaboração: Bradesco
1.990
-
2011*
2012*
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
Com isso, as exportações de carne avícola do Brasil foram Além da alteração na demanda global por carnes,
beneficiadas, tendo em vista que o Oriente Médio responde outros fatores também explicam o baixo desempenho
por 38% das exportações brasileiras de carne de frango e a das exportações brasileiras de carne bovina nos
Ásia por 26%. Esse cenário tem levado a uma dinâmica de últimos anos, como câmbio apreciado, custos elevados
exportações do complexo carnes no Brasil mais centrada na na compra de boi pronto para abate e consumo
carne avícola em detrimento da carne bovina. Claramente, doméstico aquecido, que evidentemente são fatores
desde 2007 as exportações brasileiras de carne bovina que também tem direcionando a ação dos frigoríficos
caíram 40% em volume, ao passo que, no mesmo período, para atender prioritariamente ao mercado interno,
os embarques de carne avícola cresceram 16%. reduzindo os volumes exportados.
em mil toneladas
4.000
Bovina Exportações Brasileiras
Frango
3.242 3.300 3.465 do Complexo Carnes
Suínos
3.200
2.739 2.992
2.400 2.189
1.577 1.610
1.600
1.596 1.375
1.325
870 872
735 761 730
800 621 707 582
590
619 488
570 Fonte e (*) Projeção: USDA
162 Elaboração: Bradesco
231
0 82
2012*
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
Agronegócio em Análise
35%
Bovina
Coeficiente de Exportações 29,3%
30%
Suína 28,4%
de Carnes - Avícola
25,8%
1997 - 2012 25% 23,0% 26,7% 24,4%
25,5%
22,6%
23,9%
22,6%
20%
20,2% 19,4%
17,3%
15% 15,1% 17,1% 14,9%
13,9% 15,7%
14,7%
13,3%
10% 12,0%
6,2% 7,4%
3,8%
5% 5,9%
5,3%
Fonte e Projeção: USDA
Elaboração: Bradesco 0%
2011*
2012*
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
DEPEC 5
6. Com essa configuração, o Brasil empatou com a como o maior exportador global de carne avícola,
Austrália na 2º posição de maior exportador global com participação de 36% e manteve a posição no
de carne bovina, com uma participação de 17% ranking de exportação de carne suína, no 4º lugar,
no ano passado. Ademais o Brasil se confirmou com 9%.
em mil toneladas
2.400
2.189
Exportações de Carne
Brasil EUA Austrália Argentina
Bovina dos maiores
1.845 exportadores
1.800
1.407 1.558
1.375
1.316
1.200
1.250
1.120 1.142
905 1.043
872
754
650 655
600
Fonte e projeção: USDA
488 Elaboração: Bradesco
423
354 260
298 300
168
209
-
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011* 2012*
em mil toneladas
3.550
Brasil 3.300 3.465
Exportações de Carne 3.242 3.181
EUA
de Frango dos maiores UE - 27 3.069
3.039
exportadores 2.950
2.739 2.966
2.520 2.416 2.678
2.350 2.361
2.231
2.170
1.903
1.750
1.226 1.100
Fonte e Projeção: USDA 1.150 992 1.120
Elaboração: Bradesco 783
870 762
718 635
550
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011* 2012*
Esse cenário exportador se refletiu na produção doméstica. De todo modo, é importante ressaltar mais
doméstica. Os abates de bovinos recuaram 7% entre uma vez, que o consumo interno evitou retração mais
2007 e 2011, voltando para o mesmo nível registrado acentuada da produção de carne bovina, pois ao passo
em 2005. Em sentido contrário, os abates de frangos que os volumes embarcados caíram 40% entre 2007 e
cresceram 20% no mesmo período, impulsionados 2011, os abates se retraíram em apenas 7% no mesmo
tanto pelas exportações quanto pela demanda período, sustentados pelo mercado interno.
Agronegócio em Análise
38.000 5.500.000
Suíno
5.227.151 Abates de Bovinos,
Bovino 4.895.496
Frango
5.000.000
34.180
Suinos e Aves - Em
33.000
31.509 4.500.000
milhares de cabeças
3.974.779 31.788 abatidas
4.000.000
28.648
28.000
3.500.000
27.221
22.943 3.000.000
23.000 2.579.928
2.500.000
21.723
2.000.000
18.000 16.998
1.500.000 Fonte: IBGE
14.885 16.734 Elaboração: Bradesco
13.000 1.000.000
jan/98
mai/98
set/98
jan/99
mai/99
set/99
jan/00
mai/00
set/00
jan/01
mai/01
set/01
jan/02
mai/02
set/02
jan/03
mai/03
set/03
jan/04
mai/04
set/04
jan/05
mai/05
set/05
jan/06
mai/06
set/06
jan/07
mai/07
set/07
jan/08
mai/08
set/08
jan/09
mai/09
set/09
jan/10
mai/10
set/10
jan/11
mai/11
set/11
DEPEC 6