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Fevereiro de 2011                            3

                    PARANÁ I FEVEREIRO DE 2011 I EDIÇÃO 06




                                         Cintia Aleixo
                                         Camila Rodrigues
                                         Tiemi Lobato
                                         Gabriela Pinheiro
                                         Andréa Moraes
                                         Juliana Dacoregio
                                         Eder Alex
                                         Fred Gazzola
                                         Daniel Zanella




                                                             Foto: Marcos Monteiro
Edi
                    2                                                                                                                                                          Fevereiro de 2011




                                                                                                   “O estilo é ape- Colaboradores
                                                                                                   nas a ordem e o                                  Camila Rodrigues
                                                                                                                                                    Cursa 7° período de Jornalismo na Universida-

                                                                                                   movimento que                                 de Positivo. Colabora com o Lona e publica seus
                                                                                                                                                 textos no endereço relaxeeblogue.blogspot.com

                                                                                                     colocamos em


   torial
                                                                                                                                                    Marcos Monteiro
                                                                                                                                                    Cursa 3° período de Jornalismo na Uni-

                                                                                                    nossas ideias”.
                                                                                                                                                 versidade Positivo. Publica suas fotografias
                                                                                                                                                 no endereço flickr.com/marcos_fe e textos
                                                                                                                                                 no endereço disfim.wordpress.com

                                                                                                                                                    Daniel Zanella
                                                                                                                                                    Cursa 3° período de Jornalismo na UP.
                                                                                                                          Georges Buffon,
                                                                                                                                                 É colunista do periódico Notícias Paraná e
                                                                                                                   em Discurso sobre o Estilo.
                                                                                                                                                 integra algumas coletâneas por editoras in-

  A    crônica como um subgênero aos
       olhos dos críticos literários, um
  gênero menor e desigual diante do ve-
                                                 [Também por isso acusada de linguagem
                                                 preguiçosa e superficial.] Apesar da menor
                                                 circulação dos impressos nos tempos atuais
                                                                                                   mas, seus erros e inadequações. A sobrevi-
                                                                                                   vência vigorosa da crônica diante da lenta
                                                                                                   agonia dos impressos se deve em grande
                                                                                                                                                 dependentes. Publica suas crônicas no ende-
                                                                                                                                                 reço letrasnumcanto.com.br

  redicto dos contistas e romancistas, en-       - quando os periódicos se colocarão à serviço     parte ao seu poder de comunicação, a di-         Eder Alex
  tretanto, essencial aos que a praticam.        de seu tempo? - ela segue caminhando segura       versidade de vozes que ela proporciona,          Professor de Comunicação e Expressão de
  Historicamente, a crônica sempre esteve        na rotina dos leitores, agora em novos espa-      a infinidade de possibilidades e soluções.    Textos da FACEAR, publica sobre cinema, li-
  relacionada ao cotidiano de seus leitores,     ços, mais colaborativa e libertária, em blogues   O Relevo pretende perpetuar a crônica no      teratura, HQ, crônicas e contos no endereço
  transmutada numa prosa acessível e cor-        de visibilidade específica e públicos cativos,    impresso - sua origem e moradia natural       devaneiosdocotidiano.zip.net
  riqueira, capturando elementos narrativos      em coletivos literários amplos, o leitor como     - mas para isso é preciso entender os no-
  de todos os gêneros literários, camaleônica,   um espião privilegiado da casa do escritor,       vos tempos. Estamos tentando. Uma boa            Peter Hammer




   “                                                                                                                    ”
  dividindo o café da manhã em tom maior.        convivendo com suas paranóias, seus dile-         leitura a todos.                                 Fotógrafo e cuteleiro, nascido em Assis, São
                                                                                                                                                 Paulo. Fotografa para agências, jornais e revis-
                                                                                                                                                 tas e ministra cursos de cutelaria em Curitiba.

                                                                                                                                                     Tiemi Lobato
                                                                                                                                                     Antropóloga radicada em Curitiba. Publica seus




                          SONDAGEM
                                                                                                                                                 textos no endereço chicamitipo.blogspot.com

                                                                                                                                                     Lisa Alves
                                                                                                                                                     Estudante de Jornalismo e Gestão Am-
                                                                                                                                                 biental, nascida em Araxá(MG) e radicada
                                                                                                                                                 em Brasília. Colaborou em projetos teatrais
                                                                                                                                                 (Barão da Ralé - 2004), cinematográficos (O
                                                                                                                                                 Templo do Deus Capital - 2005), políticos
                                                                                                                                                 (Manifesto Potencialista -2001) e literários
                                                                                                                                                 (Trilhas – Coletânea de blogueiros pela
     O carteiro, conversador amável, não gosta de livros.                                                                                        CBJE ). Publica seus escritos no endereço
                                                                                                                                                 lisaallves.blogspot.com

    Tornam pesada a carga matinal, que na sua opinião e                                                                                            Gabriela Pinheiro

    dado o seu nome burocrático, devia constituir-se ape-
                                                                                                                                                   Designer curitibana. Publica seus textos
                                                                                                                                                 no endereço chicamitipo.blogspot.com

    nas de cartas. No máximo algum jornalzinho leve, mas                                                                                            Juliana Dacoregio
                                                                                                                                                    Jornalista e escritora catarinense, autora

    esses pacotes e mais pacotes que o senhor recebe, ler                                                                                        de “Diários do Purgatório” - livro autobio-
                                                                                                                                                 gráfico de poesia e crônicas -. Publica seus
                                                                                                                                                 textos nos endereços julianadacoregio.ops-
    tudo isso deve ser de morte! Explico-lhe que não é pre-                                                                                      blog.org e amalgama.blog.br

    ciso ler tudo isso, e ele muito se admira:                                                                                                      Cintia Aleixo
                                                                                                                                                    Cursa 7° período de Jornalismo na

     - Então o senhor guarda sem ler? E como é que sabe o                                                                                        Universidade Positivo. Colabora com o
                                                                                                                                                 Lona e publica seus textos no endereço

    que tem no miolo?
                                                                                                                                                 cintiaaleixo.wordpress.com


                                                             Carlos Drummond de Andrade
                                                                                                                                                    Andréa Moraes
                                                                                                                                                    Jornalista radicada em São Paulo, inte-
                                                                                                                                                 grou em 2009 a antologia Maus Escritores,
                                                                                                                                                 organizada por Marcelino Freire, e publica

 Expediente                                         ^ Contato
                                                                                                                                                 seus textos no endereço visiteedith.com,
a                                                                                                                                                coletivo literário composto por escritores
                                                                                                                                                 em início de carreira, fotógrafos e cineas-
Edição: Daniel Zanella                              Jornal Relevo no Twitter: www.twitter.com/jornalrelevo                                       tas.
Diagramação: Daniel Zanella                         Envie suas crônicas, críticas e sugestões para jornalrelevo@gmail.com




                                                             !
Fotógrafo responsável: Peter Hammer                                                                                                                Fred Gazzola
Diretor Comercial: Marcos Monteiro                                                                                                                 Músico e compositor, vocalista
Impressão: Gráfica Helvética
                                                                      O Relevo, às vezes, não se responsabiliza pelo                             da banda La Vigüela Rock. Publica
Tiragem: 2000                                                         conteúdo publicado de seus autores.                                        seu material fonográfico no endereço
                                                                                                                                                 myspace.com/laviguelarock
Edição finalizada em: 31 de janeiro, 20h
Choro Bandido
Fevereiro de 2011                                                                                   3




Noite No Apartamento
                                                                                                 Daniel Zanella
   Fez das tripas a primeira lira.               os sorrisos que só os desconhecidos trocam
                                                 entre si, as especulações amorosas. Bebo
   Não sei... Já ouvi isso em algum lugar,       pouco, não devo beber muito, sei que não
meu amor, mas até que ficou bonito nessa         devo. Conheço-me o tanto que preciso. Esse
crônica, viu? Essas letras amorosas que nos      é um tempo de sanidade, preciso lidar com
unem entre um oceano e outro. Mas, antes         meus demônios, com as distâncias, com as
que me esqueça, não seja assim, tão des-         saudades, com os pensamentos de ordem
carado, roube, mas dê algum crédito... Se        duvidosa, tantos a dizer que essa é a terra
você me disser novamente que não existe          da liberdade, que ele nunca vai saber, que
autor, vou dizer que Rubem Braga está te         é preciso aproveitar – minha mãe, sabe de
vendo, viu? Hoje foi um dia cansativo por        uma coisa: estou comendo muito mal. Sou
aqui, sabe, uma dor de cabeça que não me         um corpo que treme de sua própria carne
deixa, preciso arranjar um trabalho, vou         e alimenta severo as angústias, as flechas
escrever, vou dizer meus cansaços. Andar         agudas do ciúme. Será que ele vai aguentar
pelas ruas estrangeiras assusta um pouco,        um ano de separação? Choro lágrimas qua-
a rua de minha velha casa não tem tantas         se secas quando penso nisso, lágrimas tão
coisas, de tanto ver a rua de casa sei que ela   densas que quase não querem chorar. Será
é uma rua e é a minha casa, só os objetos        que vai me esperar? As pessoas por aqui di-
particulares não se perdem na memória. E         zem que não e de tanto dizerem que não,
o que será que você faz nesse momento?           a cada dia pergunto as mesmas garantias
Que horas deslizam nesse Brasil insalubre?       e peço que diga que me ama, preciso que
Escreve-me todo dia. Amo? Não sei expli-         me diga – embora as palavras venham em-
car: do que sei: sinto saudades maiores do       butidas de alguma obrigação de dizer que
que o amor que acho que sinto, uma falta         ama. Ele escreve crônicas, ora coisas dentro
de beijar sem motivo, de dizer uma coisa         de mim ora distantes ora perturbadoras.
sem sentido, de rir pra você de qualquer         Porque escrever sobre uma moça de chapéu
coisa apercebida, da torção de sobrancelha       ou uma escritora de cabelos encaracolados?
que você faz, da calmaria que esconde pro-       Peço pra que me preserve um pouco de seus
fundezas selvagens, essas coisas todas sobre     devaneios, mas são queixas vãs – o autor e o
todas as coisas que acho que é o amor. Hoje      personagem são um só, embora ele acredite
é dia de festa no apartamento. Gosto da          no narrador. Um rapaz acaba de perguntar
menina que divide o aluguel, mas ela é um        sobre a aliança que ostento quase deslocada
tanto pessimista. Menina, ânimo, você pre-       na noite de frio e de rumores alcoolicos ele-
cisa de algum livro? Não, não precisa. Não       vados. Conheço essa pergunta. Sim, tenho.
precisamos de livros. Nem de bibliotecas.        Ele não está aqui, gosto muito dele, mas
Precisamos de amor e de trabalho. Coisa          isso pouco importa pra você, não é? Cerve-
de cronista achar que o mundo encerra nos        ja amarga demais. O remédio não resolveu
livros. Uma gente de todo lugar se espalha       as dores de cabeça. A moça do apartamento
no apartamento, uma gente de histórias que       acaba de entrar num quartinho com alguém
gostaria de conhecer caso os ruídos de com-      que nunca vi. Acho que vou tomar um copo
preensão não fossem tantos. É uma gente          de água, mais um remédio, trocar de roupa
de tantas faces rotundas, as latas de cerve-     e dormir. Sim, vou dormir.                             Foto: Marcos Monteiro
ja como tentáculos em mãos de algo vazio,           Boa noite, meu amor.
Satisfaction
                        4                                                                                                                Fevereiro de 2011




                                                                                                                           Gabriela Pinheiro
                                                                                                                   hoje eu tive tempo de lavar o cabelo
                                                                                                                e fazer a unha. estou só esperando o es-
                                                                                                                malte secar para poder arrumar o quarto
                                                                                                                e ir dormir cedo. desde que eu comecei a
                                                                                                                trabalhar nesse lugar novo eu ando sem
                                                                                                                tempo para nada. até meu intestino resol-
                                                                                                                veu funcionar na hora certa, meu orga-
                                                                                                                nismo inteiro sacou que hoje a noite eu
                                                                                                                tava livre. comi, fiz coco, tomei banho. é
                                                                                                                a melhor sequência do mundo.
                                                                                                                   é meio foda ficar assim na função,
                                                                                                                parece que não sobra tempo pra viver.
                                                                                                                eu tenho sempre essa impressão de que
                                                                                                                trabalho não conta como vida. são duas
                                                                                                                coisas: tua vida tá aqui e teu trabalho tá
                                                                                                                ali, um precisa do outro. mas o tempo
                                                                                                                livre só faz sentido quando temos em-
                                                                                                                prego. de nada adianta o tempo livre
                                                                                                                sem aquela sensação de que ele preci-
                                                                                                                sa ser aproveitado ao máximo, antes
                                                                                                                que chegue segunda-feira ou o fim das
                                                                                                                férias. eu tava precisando de um em-
                                                                                                                prego período integral, mas ao mesmo
                                                                                                                tempo eu fico sentindo falta de ficar
                                                                                                                sem fazer nada um pouco. engraçado
                                                                                                                como a gente nunca está satisfeito. a
                                                                                                                satisfação parece ser uma coisa possí-
                                                                                                                vel e completa, como se quando tudo
                                                                                                                estivesse certo, tudo estaria certo. mas
                                                                                                                é bem o contrário, ela é impossível e é
                                                                                           Foto: Peter Hammer
                                                                                                                o fim de tudo.


               Hora de Dormir
Tiemi Lobato




              Ando percebendo que tenho             meses de trabalho trash e viagens.
           muita dificuldade em dormir rápi-        Poxa, eu queria muito fazer espe-
           do sem estar bêbada ou ter fumado        cialização, mestrado, doutorado e
           um cigarrinho de artista. Acontece       ser uma acadêmica bonita, impor-
           que há uns 2 dias atrás eu tava nesse    tante e influente. Mas às vezes me
           esquema de ficar rolando na cama         parece que trampar 1 ano em cada
           e fiquei pensando no futuro. Sabe,       país do mundo vai me fazer muito
           se tem alguma coisa que eu man-          mais feliz. Tá certo que meus em-
           do muito bem, é planejar o futuro:       pregos, geralmente, tem tempo de
           “vou morar na Argentina, arranjar        expiração de 1 ano (depois disso
           um emprego, depois vou comprar           não aguento ficar no mesmo lugar),
           um carro e um cachorro São Bernar-       sendo assim, eu teria que morar em
           do, e vou pra Patagônia”. Acontece,      vários lugares... O que eu quero di-
           pessoal, que hoje descobri que tenho     zer é: imagina morar na Austrália
           que entregar minha monografia até        e dormir abraçada com um Coala?
           dia 25 de junho e, isso significa, que   Bem melhor do que dormir abra-
           depois do dia 25 eu vou ter o triplo     çada com “A Ambientalização dos
           de tempo pra ficar pirando em o que      Conflitos Sociais”.
           eu vou fazer depois de formada. Na           Sei lá... Acho que no fundo só
           verdade, a vida inteira eu fiz isso de    tou meio de saco cheio da biblio-
           ficar pensando em lugares legais pra      teca agora que tem um punk fe-
           morar, empregos susse pra ter, e os       dido pra caralho por lá, bem nos
           cachorros que combinam com cada           mesmos horários que eu. Também
           situação, e olha que nem tinha pers-      acho que ando meio com preguiça
           pectiva de me formar.                     de pensar, sabe? e daí o trabalho
              No fim, acho que sempre inter-         escravo vira uma opção atraente.                                                          Foto: Lisa Alves
           calei 2 anos de estudo com alguns         merda.
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 I Promisse Aceita Logo
Fevereiro de 2011




                                                                                                                                 Juliana Dacoregio
   Não vou demonstrar interesse quando                                                                                   Ah, sabe Highlander?
me desinteressar.                                                                                                        A solidão é um Highlander. Só
   Não vou cozinhar para você.                                                                                        morre se você cortar a cabeça fora.
   Não vou esconder minha mente confusa.                                                                              O que é muito difícil, já que a so-
   Não vou me desesperar se você não pu-                                                                              lidão está na SUA cabeça, então só
der.                                                                                                                  se você cortar a SUA cabeça fora.
   Não vou dizer que sim, quando quero                                                                                Já que não é recomendável, nem
dizer não.                                                                                                            higiênico… Abrace a solidão!
   Não vou conter meu entusiasmo infantil.                                                                                Também nem adianta tentar
   Não vou deixar de tirar meus sapatos e                                                                             sufocá-la com um travesseiro,
dançar descalça com medo de lhe envergo-                                                                              porque ela respira através de to-
nhar.                                                                                                                 dos os poros, assim como os sa-
   Não vou frear meus desejos.                                                                                        pos.
   Não vou me afastar de meus amigos.
                                                                                                                          Então, “táca-lhe” uma música
   Não vou viajar acompanhada quando
                                                                                                                      bem alta e aceite: você está so-
precisar de uma jornada só minha.
                                                                                                                      z i n ho.


                                                                                                 Foto: Peter Hammer




                                  Vidros, Folhas e
                                                  Foto: Peter Hammer




                          Outras Borboletas                                                                                                     Eder Alex


             A porta bateu com violência e eu                                                                             Na fotografia, o sorriso de quem
          permaneci à mesa, esperando que                                                                             ainda não sabia que o futuro seria
          voltasse, arrependida. Folhas caídas                                                                        ruim. Ela dentro de um vestidinho
          arrastavam a madrugada lá fora.                                                                             e, pela janela, a chuva. Parada no ar.




                                                                       O vento vai, a vida não
            Ela do outro lado do mundo e ele                                  volta.                                     Entre a cabeça e a arma, o vidro,
                                                                                                                      segurança que estilhaça. Alguém
          apenas do outro lado da rua. Eles
                                                                                                                      buzina, então escapa o tiro. A vida
          não sabiam o que sentir e a distância
                                                                                                                      toda passa num minuto: nem duas
          não sabia o que separar.
                                                                                                                      linhas.




            Ainda chorando, revirou o quarto.                                                                            Fiquei olhando para o chão
          As cartas estavam numa gaveta. Ras-                                                                         imundo da cozinha, os cacos de
          gou todas e depois enfiou-as na boca.                                                                       vidro espalhados exibiam em seus
          Não tinham gosto de borboletas.                                                                             reflexos minha solidão no plural.



Foto: Marcos Monteiro
  Foto: Marcos Monteiro
 Foto: Marcos Monteiro
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      Dazed and Confused
                                                                                                                                                                    Fevereiro de 2011




                                                                                                                                                  Camila Rodrigues
   Era fim de primavera, chovia como         cabelos. Entretanto, dentro de cada um
se os pingos nunca quisessem parar de        ainda existia um pouco de nós, aqueles
cair, como se os pingos também quises-       velhos meninos [e menina] cheios de pe-
sem nos rever sobre a óptica de pingo.       sares e convicções.
Chovia como se fosse um sinal, mas não          O horizonte cobria-se de laranja, in-
era. Era fim de primavera e alguns da-       sinuava um fim de tarde embebido em
quela mesa há anos não se viam. Ten-         água – da chuva - e álcool. E como era
távamos encontrar dentro de cada um          boa a sensação, como um bálsamo que
de nós os velhos meninos [e menina],         acalenta a alma, como um vento forte
que um dia fomos. Era um belo dia para       que naufraga nossos medos, como uma
reencontros, para repintar memórias,         reza que silencia quebrantos, como um
transformá-las em perigo, aumentando         solo ao vivo de qualquer música do Led
suas dimensões, caprichando nas pince-       Zeppelin. Éramos menos feios do que
ladas, assim como fazem os bons e ve-        pensávamos na época, enfim. Éramos
lhos amigos, como somos.                     menos pretensiosos.
   As autoestimas estavam exaltadas,              Um silêncio aterrador perturba mi-
nossos egos etílicos reverberavam calor,     nha chegada ao nirvana, o silêncio que
como corpos eletrizados, como apren-         precede a partida, a penúltima desco-
demos. Falávamos, interrompíamo-nos,         berta. Dizemos junto o sonoro, aflitivo,
ávidos. Aqueles corpos, de quem a co-        solitário e definitivo “é...”. Ele é o Franz
ragem escorria pelas pontas dos dedos        Ferdinand para a despedida. Desde os
na negra e turbulenta adolescência, qua-     primórdios, os amigos o evitam com
se se tocavam, eram condescendentes,         destreza. Sabíamos que ele viria, não tão
cúmplices e íntimos. Uma intimidade          cedo quando imaginávamos. Meninos
inocente, como a mão esquerda é da           [e menina] repetitivos sobre as mesmas
mão direita. Conjurávamos, amaldiçoá-        bandas de rock, meninos [e menina]
vamos, criávamos caso com outros que,        perdidos em outra década. Meninos [e
assim como nós, tentavam passar pela         menina] decididos em nunca pensar em
negra adolescência, com um único obje-       despedidas. Abraçamo-nos e tomamos o
tivo: passar dessa fase de merda sem fe-     rumo de casa. Meninos [e meninas] saíam
rimentos mais graves. Éramos meninos         de todos os cantos, voltavam para a casa,                                                                                 Foto: Peter Hammer

[e menina] sobreviventes, irmãos e, ago-     caminhando entre risos e pedras, voltan-
ra, adultos. Jornalista, professor de His-   do da escola, passando por caminhos es-
tória, professor de Geografia, radialista,   cusos, atrasados para o jantar. De repente
musicista e alguém cuja profissão tem        éramos nós, com aqueles uniformes hor-
a ver com informática. Algozes de nós        ríveis - os quais, prometi nunca mais usar
                                             - em um tom horrível de azul (Royal, se
mesmos a engendrar planos maquiavé-
                                             não me falha a memória). Numa sexta-
licos e encher nossas veias de um vene-
no libertador de superego. Nossas fei-       feira de chuva incomum à estação, no úl-
ções mudaram muito. Os tons de voz, os       timo dia de aula. Atordoados e confusos.


      Manifesto Contra o Desmatamento do Púbis
       (Ou em defesa de uma ecologia genital)
                                                                                                                                                       Andréa Moraes
   Uma das coisas mais irritantes que es-    nho, estrelinha e quetais são uma prova        por que iria amarelar diante de uns pe-     igualdade entre os sexos.
cuto das minhas amigas é essa moda de        de falta de imaginação, recurso de quem        linhos?                                        Essa história de que pelo saindo pra fora
depilar o púbis. Caraca! Se tantos poetas    tem repertório mental mais estreito do            Voltando ao púbis, não me venham         do biquíni é indecente também não cola.
já chamaram aquilo de flor, por que ar-      que de filme pornô exibido em motel            dizer que deixá-lo careca ou penteado é     Meu marido mesmo já se queixou que mui-
rancar o jardim, a vegetação em volta da     (ainda se vai a isso?) de quinta categoria.    uma forma de limpeza. Dispenso a as-        to homem fica olhando pra minha cara na
caverna? Considero isso a mais absoluta         A mulher que se submete à tortura da        sepsia da gilete. Pelo é proteção natural   praia. Aí o ciúme aparece e com ele o impul-
falta de romantismo.                         cera quente e à lâmina que talha sua pele      e nada mais garantido do que uma vagi-      so agressivo, a cópula tão desejada.
   Fala sério! O homem que gosta de          até encravar seus pelos, criando perebas       na coberta por muitos deles.                   A última vez que depilei a xandanga foi
                                             que detonam visualmente o presente                                                         no hospital, antes do parto, cesariana. En-
xana depilada está revelando uma indis-                                                        E depois, macho que é macho não
                                             que Deus lhe deu, tá precisando de re-                                                     tão, depilar é coisa de doente, de cirurgia,
farçável vocação para a pedofilia. Pois                                                     quer saber nem se você lavou. Costuma
                                                                                                                                        bisturi, carnificina.
se até Lolita tinha pelos, por que exigir    lho. Já que gosta de sofrer pra gozar,         ir direto ao ponto. De preferência, o G.
                                                                                                                                           Eu prefiro preservar minha ancestrali-
que uma mulher adulta os arranque? E         então, que apanhe de verdade, nas mãos            Na hora do oral, é mentira que pelo      dade não me rendendo à opressão sexual
vamos combinar que esses desenhinhos         de uma dominatrix.                             atrapalha. A gente que é mulher aguenta     imposta pelas minhas rivais. Pois se tenho
esculpidos com as pinças dos designers          Outro dia, uma conhecida me confes-         os deles. Homem que não pode encarar        coragem de assumir meus pelos publica-
de pentelhos, tipo bigodinho de Hitler –     sou que depila até o ânus. Meu, se o teu       nossos pentelhos tem que chupar com         mente, imagina o que não sou capaz de
argh, que coisa de nazista! – coraçãozi-     marido tem coragem de te fazer a curra,        canudinho. Pelo, no oral, é expressão de    fazer entre quatro paredes.
7


  Um Dia de Domingo
Fevereiro de 2011




                                                                                                                 Cintia Aleixo
   Amanhece. É domingo.
   Domingo ensolarado. Um sol de 30º
está derretendo os neurônios.
   Primavera. As flores estão a colorir a
cidade. De repente do céu caem lágri-
mas. Nada faz sentido, num instante sol,
no outro não!
   Sentido? Mas o que realmente faz
sentido? Não sei! Você sabe? Se souber
então me conte. Depois da tempestade
vem a bonança, pelo menos é o que diz
o ditado. Mas na vida não é bem assim.
Após a tempestade vem mais tempesta-
de. Não entendo, nem os pingos da chu-
va nem os pingos que caem dos olhos.
Lágrimas, porque elas existem? Dizem
que é para lavar a dor que assombra a
alma.
   Continuo a não entender, nem vida,




                                                                    Maria
nem chuva, nem lágrimas.




                                                                                                                Fred Gazzola
  Sempre meio-dia
  Essa era a hora de Maria
  Acordar

  E no pensamento
  Lembranças que queria
  Apagar

  Medos travestidos
  Em tolos caprichos
  De brincar com o amor

  Maria sabia cuidar
  Dos seus problemas sozinha
  Mas faltava alguém
  Pra lhe dar bom dia todo dia

  Era quando o sol vinha bater
  Na sua janela só pra ver
  Maria acordar na solidão

  Maria passava
  A tarde inteira
  A suspirar
                                            Foto: Marcos Monteiro

  Revia os planos


                                                  ANUNCIE
  Feitos todo ano




                                                                             Zanella
  De mudar                                                                        Revistaria, Loja e Livraria

  Sonhos resumidos
  Num olhar perdido
  A buscar alguém
                                                     NO
                                                   RELEVO
                                                                        (41) 3643-1123
                                                                        BREVE NET HOUSE E LOJA
  Maria sabia cuidar                                                    DE ASSISTÊNCIA EM INFORMÁTICA
  Dos seus problemas sozinha
  Mas faltava alguém                                                               Rua Gralha Azul, 269, Jardim Industrial
  Pra lhe dar bom dia todo dia                 jornalrelevo@gmail.com            próximo ao Supermercado Supra - Araucária
Fevereiro de 2011

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A crônica como um subgênero aos olhos dos críticos literários

  • 1. Fevereiro de 2011 3 PARANÁ I FEVEREIRO DE 2011 I EDIÇÃO 06 Cintia Aleixo Camila Rodrigues Tiemi Lobato Gabriela Pinheiro Andréa Moraes Juliana Dacoregio Eder Alex Fred Gazzola Daniel Zanella Foto: Marcos Monteiro
  • 2. Edi 2 Fevereiro de 2011 “O estilo é ape- Colaboradores nas a ordem e o Camila Rodrigues Cursa 7° período de Jornalismo na Universida- movimento que de Positivo. Colabora com o Lona e publica seus textos no endereço relaxeeblogue.blogspot.com colocamos em torial Marcos Monteiro Cursa 3° período de Jornalismo na Uni- nossas ideias”. versidade Positivo. Publica suas fotografias no endereço flickr.com/marcos_fe e textos no endereço disfim.wordpress.com Daniel Zanella Cursa 3° período de Jornalismo na UP. Georges Buffon, É colunista do periódico Notícias Paraná e em Discurso sobre o Estilo. integra algumas coletâneas por editoras in- A crônica como um subgênero aos olhos dos críticos literários, um gênero menor e desigual diante do ve- [Também por isso acusada de linguagem preguiçosa e superficial.] Apesar da menor circulação dos impressos nos tempos atuais mas, seus erros e inadequações. A sobrevi- vência vigorosa da crônica diante da lenta agonia dos impressos se deve em grande dependentes. Publica suas crônicas no ende- reço letrasnumcanto.com.br redicto dos contistas e romancistas, en- - quando os periódicos se colocarão à serviço parte ao seu poder de comunicação, a di- Eder Alex tretanto, essencial aos que a praticam. de seu tempo? - ela segue caminhando segura versidade de vozes que ela proporciona, Professor de Comunicação e Expressão de Historicamente, a crônica sempre esteve na rotina dos leitores, agora em novos espa- a infinidade de possibilidades e soluções. Textos da FACEAR, publica sobre cinema, li- relacionada ao cotidiano de seus leitores, ços, mais colaborativa e libertária, em blogues O Relevo pretende perpetuar a crônica no teratura, HQ, crônicas e contos no endereço transmutada numa prosa acessível e cor- de visibilidade específica e públicos cativos, impresso - sua origem e moradia natural devaneiosdocotidiano.zip.net riqueira, capturando elementos narrativos em coletivos literários amplos, o leitor como - mas para isso é preciso entender os no- de todos os gêneros literários, camaleônica, um espião privilegiado da casa do escritor, vos tempos. Estamos tentando. Uma boa Peter Hammer “ ” dividindo o café da manhã em tom maior. convivendo com suas paranóias, seus dile- leitura a todos. Fotógrafo e cuteleiro, nascido em Assis, São Paulo. Fotografa para agências, jornais e revis- tas e ministra cursos de cutelaria em Curitiba. Tiemi Lobato Antropóloga radicada em Curitiba. Publica seus SONDAGEM textos no endereço chicamitipo.blogspot.com Lisa Alves Estudante de Jornalismo e Gestão Am- biental, nascida em Araxá(MG) e radicada em Brasília. Colaborou em projetos teatrais (Barão da Ralé - 2004), cinematográficos (O Templo do Deus Capital - 2005), políticos (Manifesto Potencialista -2001) e literários (Trilhas – Coletânea de blogueiros pela O carteiro, conversador amável, não gosta de livros. CBJE ). Publica seus escritos no endereço lisaallves.blogspot.com Tornam pesada a carga matinal, que na sua opinião e Gabriela Pinheiro dado o seu nome burocrático, devia constituir-se ape- Designer curitibana. Publica seus textos no endereço chicamitipo.blogspot.com nas de cartas. No máximo algum jornalzinho leve, mas Juliana Dacoregio Jornalista e escritora catarinense, autora esses pacotes e mais pacotes que o senhor recebe, ler de “Diários do Purgatório” - livro autobio- gráfico de poesia e crônicas -. Publica seus textos nos endereços julianadacoregio.ops- tudo isso deve ser de morte! Explico-lhe que não é pre- blog.org e amalgama.blog.br ciso ler tudo isso, e ele muito se admira: Cintia Aleixo Cursa 7° período de Jornalismo na - Então o senhor guarda sem ler? E como é que sabe o Universidade Positivo. Colabora com o Lona e publica seus textos no endereço que tem no miolo? cintiaaleixo.wordpress.com Carlos Drummond de Andrade Andréa Moraes Jornalista radicada em São Paulo, inte- grou em 2009 a antologia Maus Escritores, organizada por Marcelino Freire, e publica Expediente ^ Contato seus textos no endereço visiteedith.com, a coletivo literário composto por escritores em início de carreira, fotógrafos e cineas- Edição: Daniel Zanella Jornal Relevo no Twitter: www.twitter.com/jornalrelevo tas. Diagramação: Daniel Zanella Envie suas crônicas, críticas e sugestões para jornalrelevo@gmail.com ! Fotógrafo responsável: Peter Hammer Fred Gazzola Diretor Comercial: Marcos Monteiro Músico e compositor, vocalista Impressão: Gráfica Helvética O Relevo, às vezes, não se responsabiliza pelo da banda La Vigüela Rock. Publica Tiragem: 2000 conteúdo publicado de seus autores. seu material fonográfico no endereço myspace.com/laviguelarock Edição finalizada em: 31 de janeiro, 20h
  • 3. Choro Bandido Fevereiro de 2011 3 Noite No Apartamento Daniel Zanella Fez das tripas a primeira lira. os sorrisos que só os desconhecidos trocam entre si, as especulações amorosas. Bebo Não sei... Já ouvi isso em algum lugar, pouco, não devo beber muito, sei que não meu amor, mas até que ficou bonito nessa devo. Conheço-me o tanto que preciso. Esse crônica, viu? Essas letras amorosas que nos é um tempo de sanidade, preciso lidar com unem entre um oceano e outro. Mas, antes meus demônios, com as distâncias, com as que me esqueça, não seja assim, tão des- saudades, com os pensamentos de ordem carado, roube, mas dê algum crédito... Se duvidosa, tantos a dizer que essa é a terra você me disser novamente que não existe da liberdade, que ele nunca vai saber, que autor, vou dizer que Rubem Braga está te é preciso aproveitar – minha mãe, sabe de vendo, viu? Hoje foi um dia cansativo por uma coisa: estou comendo muito mal. Sou aqui, sabe, uma dor de cabeça que não me um corpo que treme de sua própria carne deixa, preciso arranjar um trabalho, vou e alimenta severo as angústias, as flechas escrever, vou dizer meus cansaços. Andar agudas do ciúme. Será que ele vai aguentar pelas ruas estrangeiras assusta um pouco, um ano de separação? Choro lágrimas qua- a rua de minha velha casa não tem tantas se secas quando penso nisso, lágrimas tão coisas, de tanto ver a rua de casa sei que ela densas que quase não querem chorar. Será é uma rua e é a minha casa, só os objetos que vai me esperar? As pessoas por aqui di- particulares não se perdem na memória. E zem que não e de tanto dizerem que não, o que será que você faz nesse momento? a cada dia pergunto as mesmas garantias Que horas deslizam nesse Brasil insalubre? e peço que diga que me ama, preciso que Escreve-me todo dia. Amo? Não sei expli- me diga – embora as palavras venham em- car: do que sei: sinto saudades maiores do butidas de alguma obrigação de dizer que que o amor que acho que sinto, uma falta ama. Ele escreve crônicas, ora coisas dentro de beijar sem motivo, de dizer uma coisa de mim ora distantes ora perturbadoras. sem sentido, de rir pra você de qualquer Porque escrever sobre uma moça de chapéu coisa apercebida, da torção de sobrancelha ou uma escritora de cabelos encaracolados? que você faz, da calmaria que esconde pro- Peço pra que me preserve um pouco de seus fundezas selvagens, essas coisas todas sobre devaneios, mas são queixas vãs – o autor e o todas as coisas que acho que é o amor. Hoje personagem são um só, embora ele acredite é dia de festa no apartamento. Gosto da no narrador. Um rapaz acaba de perguntar menina que divide o aluguel, mas ela é um sobre a aliança que ostento quase deslocada tanto pessimista. Menina, ânimo, você pre- na noite de frio e de rumores alcoolicos ele- cisa de algum livro? Não, não precisa. Não vados. Conheço essa pergunta. Sim, tenho. precisamos de livros. Nem de bibliotecas. Ele não está aqui, gosto muito dele, mas Precisamos de amor e de trabalho. Coisa isso pouco importa pra você, não é? Cerve- de cronista achar que o mundo encerra nos ja amarga demais. O remédio não resolveu livros. Uma gente de todo lugar se espalha as dores de cabeça. A moça do apartamento no apartamento, uma gente de histórias que acaba de entrar num quartinho com alguém gostaria de conhecer caso os ruídos de com- que nunca vi. Acho que vou tomar um copo preensão não fossem tantos. É uma gente de água, mais um remédio, trocar de roupa de tantas faces rotundas, as latas de cerve- e dormir. Sim, vou dormir. Foto: Marcos Monteiro ja como tentáculos em mãos de algo vazio, Boa noite, meu amor.
  • 4. Satisfaction 4 Fevereiro de 2011 Gabriela Pinheiro hoje eu tive tempo de lavar o cabelo e fazer a unha. estou só esperando o es- malte secar para poder arrumar o quarto e ir dormir cedo. desde que eu comecei a trabalhar nesse lugar novo eu ando sem tempo para nada. até meu intestino resol- veu funcionar na hora certa, meu orga- nismo inteiro sacou que hoje a noite eu tava livre. comi, fiz coco, tomei banho. é a melhor sequência do mundo. é meio foda ficar assim na função, parece que não sobra tempo pra viver. eu tenho sempre essa impressão de que trabalho não conta como vida. são duas coisas: tua vida tá aqui e teu trabalho tá ali, um precisa do outro. mas o tempo livre só faz sentido quando temos em- prego. de nada adianta o tempo livre sem aquela sensação de que ele preci- sa ser aproveitado ao máximo, antes que chegue segunda-feira ou o fim das férias. eu tava precisando de um em- prego período integral, mas ao mesmo tempo eu fico sentindo falta de ficar sem fazer nada um pouco. engraçado como a gente nunca está satisfeito. a satisfação parece ser uma coisa possí- vel e completa, como se quando tudo estivesse certo, tudo estaria certo. mas é bem o contrário, ela é impossível e é Foto: Peter Hammer o fim de tudo. Hora de Dormir Tiemi Lobato Ando percebendo que tenho meses de trabalho trash e viagens. muita dificuldade em dormir rápi- Poxa, eu queria muito fazer espe- do sem estar bêbada ou ter fumado cialização, mestrado, doutorado e um cigarrinho de artista. Acontece ser uma acadêmica bonita, impor- que há uns 2 dias atrás eu tava nesse tante e influente. Mas às vezes me esquema de ficar rolando na cama parece que trampar 1 ano em cada e fiquei pensando no futuro. Sabe, país do mundo vai me fazer muito se tem alguma coisa que eu man- mais feliz. Tá certo que meus em- do muito bem, é planejar o futuro: pregos, geralmente, tem tempo de “vou morar na Argentina, arranjar expiração de 1 ano (depois disso um emprego, depois vou comprar não aguento ficar no mesmo lugar), um carro e um cachorro São Bernar- sendo assim, eu teria que morar em do, e vou pra Patagônia”. Acontece, vários lugares... O que eu quero di- pessoal, que hoje descobri que tenho zer é: imagina morar na Austrália que entregar minha monografia até e dormir abraçada com um Coala? dia 25 de junho e, isso significa, que Bem melhor do que dormir abra- depois do dia 25 eu vou ter o triplo çada com “A Ambientalização dos de tempo pra ficar pirando em o que Conflitos Sociais”. eu vou fazer depois de formada. Na Sei lá... Acho que no fundo só verdade, a vida inteira eu fiz isso de tou meio de saco cheio da biblio- ficar pensando em lugares legais pra teca agora que tem um punk fe- morar, empregos susse pra ter, e os dido pra caralho por lá, bem nos cachorros que combinam com cada mesmos horários que eu. Também situação, e olha que nem tinha pers- acho que ando meio com preguiça pectiva de me formar. de pensar, sabe? e daí o trabalho No fim, acho que sempre inter- escravo vira uma opção atraente. Foto: Lisa Alves calei 2 anos de estudo com alguns merda.
  • 5. 5 I Promisse Aceita Logo Fevereiro de 2011 Juliana Dacoregio Não vou demonstrar interesse quando Ah, sabe Highlander? me desinteressar. A solidão é um Highlander. Só Não vou cozinhar para você. morre se você cortar a cabeça fora. Não vou esconder minha mente confusa. O que é muito difícil, já que a so- Não vou me desesperar se você não pu- lidão está na SUA cabeça, então só der. se você cortar a SUA cabeça fora. Não vou dizer que sim, quando quero Já que não é recomendável, nem dizer não. higiênico… Abrace a solidão! Não vou conter meu entusiasmo infantil. Também nem adianta tentar Não vou deixar de tirar meus sapatos e sufocá-la com um travesseiro, dançar descalça com medo de lhe envergo- porque ela respira através de to- nhar. dos os poros, assim como os sa- Não vou frear meus desejos. pos. Não vou me afastar de meus amigos. Então, “táca-lhe” uma música Não vou viajar acompanhada quando bem alta e aceite: você está so- precisar de uma jornada só minha. z i n ho. Foto: Peter Hammer Vidros, Folhas e Foto: Peter Hammer Outras Borboletas Eder Alex A porta bateu com violência e eu Na fotografia, o sorriso de quem permaneci à mesa, esperando que ainda não sabia que o futuro seria voltasse, arrependida. Folhas caídas ruim. Ela dentro de um vestidinho arrastavam a madrugada lá fora. e, pela janela, a chuva. Parada no ar. O vento vai, a vida não Ela do outro lado do mundo e ele volta. Entre a cabeça e a arma, o vidro, segurança que estilhaça. Alguém apenas do outro lado da rua. Eles buzina, então escapa o tiro. A vida não sabiam o que sentir e a distância toda passa num minuto: nem duas não sabia o que separar. linhas. Ainda chorando, revirou o quarto. Fiquei olhando para o chão As cartas estavam numa gaveta. Ras- imundo da cozinha, os cacos de gou todas e depois enfiou-as na boca. vidro espalhados exibiam em seus Não tinham gosto de borboletas. reflexos minha solidão no plural. Foto: Marcos Monteiro Foto: Marcos Monteiro Foto: Marcos Monteiro
  • 6. 6 Dazed and Confused Fevereiro de 2011 Camila Rodrigues Era fim de primavera, chovia como cabelos. Entretanto, dentro de cada um se os pingos nunca quisessem parar de ainda existia um pouco de nós, aqueles cair, como se os pingos também quises- velhos meninos [e menina] cheios de pe- sem nos rever sobre a óptica de pingo. sares e convicções. Chovia como se fosse um sinal, mas não O horizonte cobria-se de laranja, in- era. Era fim de primavera e alguns da- sinuava um fim de tarde embebido em quela mesa há anos não se viam. Ten- água – da chuva - e álcool. E como era távamos encontrar dentro de cada um boa a sensação, como um bálsamo que de nós os velhos meninos [e menina], acalenta a alma, como um vento forte que um dia fomos. Era um belo dia para que naufraga nossos medos, como uma reencontros, para repintar memórias, reza que silencia quebrantos, como um transformá-las em perigo, aumentando solo ao vivo de qualquer música do Led suas dimensões, caprichando nas pince- Zeppelin. Éramos menos feios do que ladas, assim como fazem os bons e ve- pensávamos na época, enfim. Éramos lhos amigos, como somos. menos pretensiosos. As autoestimas estavam exaltadas, Um silêncio aterrador perturba mi- nossos egos etílicos reverberavam calor, nha chegada ao nirvana, o silêncio que como corpos eletrizados, como apren- precede a partida, a penúltima desco- demos. Falávamos, interrompíamo-nos, berta. Dizemos junto o sonoro, aflitivo, ávidos. Aqueles corpos, de quem a co- solitário e definitivo “é...”. Ele é o Franz ragem escorria pelas pontas dos dedos Ferdinand para a despedida. Desde os na negra e turbulenta adolescência, qua- primórdios, os amigos o evitam com se se tocavam, eram condescendentes, destreza. Sabíamos que ele viria, não tão cúmplices e íntimos. Uma intimidade cedo quando imaginávamos. Meninos inocente, como a mão esquerda é da [e menina] repetitivos sobre as mesmas mão direita. Conjurávamos, amaldiçoá- bandas de rock, meninos [e menina] vamos, criávamos caso com outros que, perdidos em outra década. Meninos [e assim como nós, tentavam passar pela menina] decididos em nunca pensar em negra adolescência, com um único obje- despedidas. Abraçamo-nos e tomamos o tivo: passar dessa fase de merda sem fe- rumo de casa. Meninos [e meninas] saíam rimentos mais graves. Éramos meninos de todos os cantos, voltavam para a casa, Foto: Peter Hammer [e menina] sobreviventes, irmãos e, ago- caminhando entre risos e pedras, voltan- ra, adultos. Jornalista, professor de His- do da escola, passando por caminhos es- tória, professor de Geografia, radialista, cusos, atrasados para o jantar. De repente musicista e alguém cuja profissão tem éramos nós, com aqueles uniformes hor- a ver com informática. Algozes de nós ríveis - os quais, prometi nunca mais usar - em um tom horrível de azul (Royal, se mesmos a engendrar planos maquiavé- não me falha a memória). Numa sexta- licos e encher nossas veias de um vene- no libertador de superego. Nossas fei- feira de chuva incomum à estação, no úl- ções mudaram muito. Os tons de voz, os timo dia de aula. Atordoados e confusos. Manifesto Contra o Desmatamento do Púbis (Ou em defesa de uma ecologia genital) Andréa Moraes Uma das coisas mais irritantes que es- nho, estrelinha e quetais são uma prova por que iria amarelar diante de uns pe- igualdade entre os sexos. cuto das minhas amigas é essa moda de de falta de imaginação, recurso de quem linhos? Essa história de que pelo saindo pra fora depilar o púbis. Caraca! Se tantos poetas tem repertório mental mais estreito do Voltando ao púbis, não me venham do biquíni é indecente também não cola. já chamaram aquilo de flor, por que ar- que de filme pornô exibido em motel dizer que deixá-lo careca ou penteado é Meu marido mesmo já se queixou que mui- rancar o jardim, a vegetação em volta da (ainda se vai a isso?) de quinta categoria. uma forma de limpeza. Dispenso a as- to homem fica olhando pra minha cara na caverna? Considero isso a mais absoluta A mulher que se submete à tortura da sepsia da gilete. Pelo é proteção natural praia. Aí o ciúme aparece e com ele o impul- falta de romantismo. cera quente e à lâmina que talha sua pele e nada mais garantido do que uma vagi- so agressivo, a cópula tão desejada. Fala sério! O homem que gosta de até encravar seus pelos, criando perebas na coberta por muitos deles. A última vez que depilei a xandanga foi que detonam visualmente o presente no hospital, antes do parto, cesariana. En- xana depilada está revelando uma indis- E depois, macho que é macho não que Deus lhe deu, tá precisando de re- tão, depilar é coisa de doente, de cirurgia, farçável vocação para a pedofilia. Pois quer saber nem se você lavou. Costuma bisturi, carnificina. se até Lolita tinha pelos, por que exigir lho. Já que gosta de sofrer pra gozar, ir direto ao ponto. De preferência, o G. Eu prefiro preservar minha ancestrali- que uma mulher adulta os arranque? E então, que apanhe de verdade, nas mãos Na hora do oral, é mentira que pelo dade não me rendendo à opressão sexual vamos combinar que esses desenhinhos de uma dominatrix. atrapalha. A gente que é mulher aguenta imposta pelas minhas rivais. Pois se tenho esculpidos com as pinças dos designers Outro dia, uma conhecida me confes- os deles. Homem que não pode encarar coragem de assumir meus pelos publica- de pentelhos, tipo bigodinho de Hitler – sou que depila até o ânus. Meu, se o teu nossos pentelhos tem que chupar com mente, imagina o que não sou capaz de argh, que coisa de nazista! – coraçãozi- marido tem coragem de te fazer a curra, canudinho. Pelo, no oral, é expressão de fazer entre quatro paredes.
  • 7. 7 Um Dia de Domingo Fevereiro de 2011 Cintia Aleixo Amanhece. É domingo. Domingo ensolarado. Um sol de 30º está derretendo os neurônios. Primavera. As flores estão a colorir a cidade. De repente do céu caem lágri- mas. Nada faz sentido, num instante sol, no outro não! Sentido? Mas o que realmente faz sentido? Não sei! Você sabe? Se souber então me conte. Depois da tempestade vem a bonança, pelo menos é o que diz o ditado. Mas na vida não é bem assim. Após a tempestade vem mais tempesta- de. Não entendo, nem os pingos da chu- va nem os pingos que caem dos olhos. Lágrimas, porque elas existem? Dizem que é para lavar a dor que assombra a alma. Continuo a não entender, nem vida, Maria nem chuva, nem lágrimas. Fred Gazzola Sempre meio-dia Essa era a hora de Maria Acordar E no pensamento Lembranças que queria Apagar Medos travestidos Em tolos caprichos De brincar com o amor Maria sabia cuidar Dos seus problemas sozinha Mas faltava alguém Pra lhe dar bom dia todo dia Era quando o sol vinha bater Na sua janela só pra ver Maria acordar na solidão Maria passava A tarde inteira A suspirar Foto: Marcos Monteiro Revia os planos ANUNCIE Feitos todo ano Zanella De mudar Revistaria, Loja e Livraria Sonhos resumidos Num olhar perdido A buscar alguém NO RELEVO (41) 3643-1123 BREVE NET HOUSE E LOJA Maria sabia cuidar DE ASSISTÊNCIA EM INFORMÁTICA Dos seus problemas sozinha Mas faltava alguém Rua Gralha Azul, 269, Jardim Industrial Pra lhe dar bom dia todo dia jornalrelevo@gmail.com próximo ao Supermercado Supra - Araucária