Esta pesquisa irá analisar a cobertura feita pelo jornal de Santa Catarina no período de janeiro a maio de 2002 sobre a canonização de Santa Paulina, a primeira santa brasileira. A canonização de Santa Paulina em maio de 2002 foi um marco histórico para o Brasil e teve grande cobertura na imprensa, especialmente no jornal de Santa Catarina. A análise irá identificar os principais assuntos e critérios de notici
1. JULCIMERY SCHREIBER
CANONIZAÇÃO DE SANTA PAULINA:
Análise da abordagem do jornal de Santa Catarina no período de janeiro de
2002 a 19 de maio de 2002.
BLUMENAU
2011
2. JULCIMERY SCHREIBER
CANONIZAÇÃO DE SANTA PAULINA:
Análise da abordagem do jornal de Santa Catarina no período de janeiro de
2002 a 19 de maio de 2002.
Disciplina: Monografia
Coordenadora: Prof. Dra. Rosimeri Laurindo.
Professor Orientador: Esp. Rodrigo Rogério Ramos
Curso de Comunicação Social – Habilitação em
Jornalismo. SOCIESC / IBES – Instituto Blumenauense
de Ensino Superior.
BLUMENAU
2011
3. JULCIMERY SCHREIBER
CANONIZAÇÃO DE SANTA PAULINA:
Análise da abordagem do jornal de Santa Catarina no período de janeiro de
2002 a 19 de maio de 2002.
Monografia apresentada como requisito para conclusão do Curso de Comunicação
Social com Habilitação em Jornalismo – IBES/SOCIESC, aprovada pela Banca
Examinadora formada por:
______________________________________
Prof. Orientador Rodrigo Rogério Ramos
______________________________________
Prof.
______________________________________
Prof.
Blumenau, 21 de novembro de 2011.
4. Dedico este trabalho a minha família,
amigos e, a todos que confiam e
acreditam em Santa Paulina.
5. AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, pelo dom da vida, a toda a minha família,
especialmente meus pais, minha irmã Merci, meu tio Valdecir, minha tia Carmela, e
minha avó Maria, que sempre me apoiaram. Também agradeço a todas as pessoas
que conheci ao longo dos anos, por contribuírem de forma valorosa para meu
conhecimento e evolução nesta jornada.
Em especial agradeço ao meu querido amigo e professor Rodrigo Rogério
Ramos, pela confiança, e pela ajuda, em todos os sentidos, para que esta
monografia se tornasse realidade.
Agradeço ao querido professor e coordenador do curso de Jornalismo Eumar
Francisco da Silva, por todo apoio e conhecimento despendido para comigo.
Agradeço também, à professora e orientadora Dra. Rosimeri Laurindo, por orientar,
acreditar, apoiar e vibrar com o tema escolhido.
Sou grata a todos os colegas os quais estudei no período da graduação,
especialmente as amigas Beth e Theury, dois anjos que me acompanharam durante
esta jornada.
Agradeço também ao meu eterno amigo Roberto Issamu Morita Junior, por
toda a força e incentivo recebidos durante todo esse processo de importante
crescimento intelectual. Com carinho lembro e agradeço o grande amigo Marcelo
Saldanha, por mesmo distante torcer e acreditar no meu sucesso.
Obrigado aos amigos que convivo diariamente no ambiente de trabalho,
especialmente a amiga Richeli Lilian Duarte, ao amigo Gerson Hélio da Cruz e
também ao amigo, Secretário da Fazenda Fábio Francisco Flôr, por me liberar nos
dias em que precisei sair para estudar, além da oportunidade de começar a trabalhar
na área de comunicação no meu local de trabalho.
Finalmente, agradeço aos administradores do meu país por criarem o
programa PROUNI, ao qual fui beneficiada, permitindo-me concluir com êxito minha
formação.
7. RESUMO
Esta pesquisa tem o intuito de analisar a cobertura e a abordagem das matérias
veiculadas no jornal impresso de Santa Catarina no período de janeiro de 2002 a 19
de maio de 2002. Período que antecedeu a canonização da primeira santa do Brasil,
santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus. Foram coletadas e quantificadas as
matérias veiculadas nos meses de janeiro, fevereiro, março, abril, até dia 19 de
maio, data da canonização de Santa Paulina. Através desta pesquisa foi possível
constatar quantas matérias foram publicadas, quantas foram manchetes de capa,
quais os principais assuntos abordados e quais os critérios de noticiabilidades
encontrados com maior frequência. Ao realizar a análise do conteúdo, foi necessário
averiguar todo material veiculado, um a um. Primeiramente obteve-se uma análise
mensal dos assuntos abordados. Em seguida, foram selecionadas as matérias mais
significativas conforme a importância e relevância da abordagem. E por último, foi
realizada a análise das matérias de capas. Os métodos utilizados foram a pesquisa
quantitativa, qualitativa e também a análise de conteúdo através dos critérios de
noticiabilidades. Utilizou-se gráficos para sintetizar e demonstrar com clareza os
dados da presente pesquisa. Em quase uma década da canonização, por meio
desta pesquisa evidencia-se que a canonização de Santa Paulina, além de ser um
fato inédito que marcou pra sempre a história do Brasil, foi sem dúvidas o fator
determinante para o crescimento e desenvolvimento da cidade de Nova Trento,
Santa Catarina, Brasil.
PALAVRAS CHAVE: Santa Paulina, Canonização, Jornal de Santa Catarina.
8. ABSTRACT
These research aim to analyze the media coverage, and the approach of the
subjects under study by newspaper`s articles from Santa Catarina during the period
of January 2002 to May 19, 2002. The period preceded the canonization of the first
Brazilian Saint, Pauline of the Agonizing Heart of Jesus. The articles were collected
and selected during the months of January, February, March, April, and May.
Throughout the research, it was possible to list how many articles were published,
how many of them were front page; and also identify what were the main subjects
approached, and the frequency that the media criteria were approached. To better
analyze the contents, one by one, all the articles approaching the subject were
collected monthly; then they were classified by their relevance and meaning. After all,
the front pages were also observed. The research`s methods were quantitative and
qualitative. Inasmuch, the contents were analyzed according to the media criteria,
and graphics were used to better represent the research`s data. In conclusion, it
could be observed that ten years of Saint Pauline canonization has affected
immediately the development of the city of Nova Trento, Santa Catarina, Brazil;
moreover, her canonization was a historic fact that enriched Brazil`s history.
KEY WORDS: Saint Pauline, Canonization, Santa Catarina`s News Paper
9. SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10
2 apresentação do tema ............................................................................................................. 12
2.1 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA ................................................ 14
2.2 PRESSUPOSTOS ............................................................................................... 14
2.3 Justificativa e adequação à linha de pesquisa do curso DE JORNALISMO DO IBES .............. 15
2.4 Objetivos ............................................................................................................................... 17
2.4.1 Objetivo Geral ....................................................................................................................... 17
2.4.2 Objetivos Específicos ............................................................................................................. 17
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................................. 19
3.1 O catolicismo e a Santidade .................................................................................................. 19
3.1.1 O catolicismo no mundo e no Brasil ...................................................................................... 19
3.1.2 Os Santos ............................................................................................................................... 22
3.2 A imigração italiana no sul do país ........................................................................................ 24
3.2.1. Nova Trento e sua história ................................................................................................... 26
3.3 Santa Paulina ......................................................................................................................... 28
3.3.1 A Beatificação e a Canonização ............................................................................................. 31
3.4 O Jornal de Santa Catarina .................................................................................................... 34
3.5 Jornalismo Especializado ....................................................................................................... 36
3.6 Critérios de Noticiabilidade ................................................................................................... 38
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................... 44
4.1 Modalidade de Pesquisa ....................................................................................................... 44
4.2 Campo de Observação .......................................................................................................... 46
4.3 Coleta de Dados .................................................................................................................... 46
4.4 Critérios para Análise de Dados ............................................................................................ 48
4.5 descrição das etapas da investigação ................................................................................... 48
5 APRESENTAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS ......................................... 51
5.1 Análise geral das matérias selecionadas ............................................................................... 51
5.2 Análise das matérias “DESTAQUE”:....................................................................................... 74
5.3 Análise das Capas .................................................................................................................. 83
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 91
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 95
10. 10
1 INTRODUÇÃO
Em 19 de maio de 2002, os brasileiros presenciaram um fato inédito, que
marcou para sempre a história do País, a canonização da primeira santa Brasileira,
Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus. Milhares de pessoas
acompanharam o anúncio da canonização, feito pelo Papa João Paulo II no Vaticano
na Itália.
Fiéis de diferentes partes do mundo festejaram o feito. Principalmente no
estado de Santa Catarina, na cidade de Nova Trento, localidade de Vígolo, onde
Madre Paulina iniciou sua vida religiosa e atualmente está localizado o seu
Santuário.
Este fato além de ser esperado por milhares de fiéis do Brasil e do mundo foi
um dos assuntos religiosos que mais teve repercussão e cobertura na mídia do país,
perdendo apenas para a cobertura da morte do Papa João Paulo II, em 2005
responsável pela canonização de Madre Paulina.
Esta cobertura mereceu destaque nas páginas do Jornal de Santa Catarina,
popularmente conhecido como “Santa”, pela importância, exclusividade e relevância
do fato para a sociedade brasileira, principalmente para a comunidade católica.
Verificou-se que no ano de 2002, ano da canonização, segundo dados tirados
das reportagens do Jornal de Santa Catarina, o Brasil tinha cerca de 120 milhões de
adeptos do catolicismo. E mesmo possuindo o título de maior país católico do
mundo, foi somente depois de quinhentos anos de história que o Brasil conheceu
sua primeira santa.
Diante deste cenário, esta pesquisa tem o objetivo de verificar como o jornal
de Santa Catarina fez a cobertura do período que antecedeu a canonização de
Santa Paulina.
O principal motivo que levou a pesquisadora a estudar este tema foi que ao
realizar uma pesquisa sobre a imigração italiana em Blumenau e região, através do
(PEC) Projeto Experimental em Comunicação, descobriu que uma das imigrantes
italianas que chegou ao Brasil junto com as primeiras levas de imigrantes, tornou-se
a primeira Santa do país. Fato que aguçou o desejo de conhecer melhor sobre a
vida desta imigrante e a partir de leituras sobre Santa Paulina a pesquisadora
11. 11
buscou compreender o que a canonização da primeira santa do Brasil acrescentou
para a comunidade católica, especialmente na região de Nova Trento.
Para obter uma melhor compreensão a pesquisadora escolheu analisar o
método que o Jornal de Santa Catarina utilizou para fazer a cobertura da primeira
Santa do Brasil. E assim, entender como o “SANTA”, um jornal regional, abordou e
noticiou um fato religioso único e histórico no país, tornando esta cobertura inédita
para jornalismo nacional.
Através desta análise será possível observar quais os critérios de
noticiabilidade utilizados para selecionar as notícias referentes ao processo de
santificação de Madre Paulina. Assunto há muito tempo esperado e que acabara de
se tornar um fato inédito e histórico para o Brasil.
Outro motivo importante para a realização desta pesquisa é que em maio de
2012 completará dez anos da data da canonização. Durante este período ocorreram
muitas mudanças na cidade de Nova Trento e a canonização da primeira santa do
país foi o fator determinante para o crescimento e desenvolvimento econômico da
região. Acontecimento este, que contribuiu de forma significativa para o turismo
religioso no cenário nacional e internacional.
A cobertura da canonização da primeira santa do país, além de representar
um acontecimento histórico no Brasil é também pioneiro para o jornalismo nacional.
O Jornal de Santa Catarina foi um dos principais veículos regional e nacional a fazer
uma cobertura especial deste fato. E também, um dos veículos que mais publicou
matérias no período que antecedeu a santificação da religiosa de Nova Trento.
A presente pesquisa irá analisar como esta cobertura foi feita nos cinco
primeiro meses que antecederam a canonização, descobrirá quais foram os
assuntos e como foram abordados.
Apesar do Jornal de Santa Catarina não possuir uma editoria específica que
aborda o jornalismo religioso, o “Santa” veiculou a maioria das matérias sobre a
canonização na editoria geral e criou um espaço específico denominado “Vale”,
onde publicou grande parte das matérias.
Pode-se afirmar, portanto, que apesar do jornalismo religioso não fazer parte
das principais editorias dos jornais nacionais, este é um ramo do jornalismo
especializado que se encontra em ascendência, principalmente nesta última década.
12. 12
Nota-se que a partir do anúncio que Madre Paulina seria Santificada, a cidade
de Nova Trento mudou completamente, seja nos aspectos religiosos, econômicos e
relacionados à infraestrutura.
2 APRESENTAÇÃO DO TEMA
Nesta pesquisa o tema abordado demonstrará como foi realizada a cobertura
do Jornal de Santa Catarina, no período que antecedeu a canonização da primeira
Santa Brasileira: Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus.
A pesquisadora após relatar a importância da canonização da primeira santa
do país, apresentará um breve histórico da vida e das obras de Santa Paulina. E
evidenciará porque a cobertura do jornal de Santa Catarina tornou-se uma cobertura
regional, única, sem precedentes, transformando-se em pioneira para o jornalismo
nacional.
Santa Paulina, a primeira santa do Brasil, fundadora da Congregação das
Irmãzinhas da Imaculada Conceição1, foi canonizada no dia 19 de maio de 2002, na
cidade de Nova Trento, situada no Vale do Rio Tijucas, próxima 84 km de
Florianópolis, Brusque, 21 km ao Norte e, a Nordeste, Balneário Camboriú, a 60 km
e Tijucas a 31 km.
A canonização representa um fato inédito no Brasil, uma vez que, nunca
antes na história do país, houve a canonização de um santo ou uma santa. Foram
502 anos à espera de um santo brasileiro. Isto pode ser considerado muito tempo
para um país, que na época da canonização, em 2002, já detinha aproximadamente
25% da população adepta ao catolicismo do mundo.
Considerando que a região de Nova Trento e seus arredores, foi colonizada
principalmente por descendentes italianos, os quais tinham na religião católica
grande devoção, fato que contribui para que a região da cidade de Nova Trento
1
Aos 12 de julho de 1890 juntamente com sua amiga, Virginia Rosa Nicolodi, Amábile deu início à
ordem religiosa, cuidando de Lúcia Angela Viviani, portadora de câncer, em fase terminal. Após
algum tempo, juntou-se a ela a segunda irmã Teresa Anna Maule. Em 1894 o trio fundou a
Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição recebendo, então, os nomes de Irmã
Paulina do Coração Agonizante de Jesus, Irmã Matilde da Imaculada Conceição e Irmã Inês de São
José.
13. 13
tenha muitos adeptos ao catolicismo, a canonização de Santa Paulina foi um marco
histórico na Igreja Católica do país, além de mudar a rotina da cidade de Nova
Trento.
A organização religiosa inicial da região de Nova Trento teve uma dinâmica
própria. Como estavam isolados no meio da floresta, estes imigrantes reconstruíram
sua sociedade nos moldes da anterior, com capelas para reuniões semanais,
tomando como princípios a religiosidade adquirida na terra natal, porém, adaptada a
esse novo contexto. A religiosidade era algo do cotidiano e base da estrutura da
comunidade dos italianos.
No entender de Silva (2001, p. 74)
[...] a religião, portanto, seria um fator fundamental no processo de
identificação cultural do imigrante italiano, sendo este um fenômeno
extensivo a outras populações de origem européia que emigraram para a
região sul do Brasil, a fim de constituir núcleos de pequenos proprietários.
Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro Geografia e Estatística), o Brasil
é um país de grande diversidade religiosa. No censo de 2000, a maioria da
população se declarou católica, cerca de 73% (setenta e três por cento).2
Para o estado de Santa Catarina, a canonização da Santa Paulina trouxe
contribuições significativas para o turismo religioso e para o crescimento econômico
da cidade, transformando a cidade de Nova Trento em centro de peregrinação do
turismo religioso seja ele nacional ou internacional.
Assim, apesar de ser um evento regional, devido a sua importância, teve uma
grande repercussão nacional e internacional. O jornal de Santa Catarina, um dos
pioneiros na região, não poderia deixar um fato considerado inédito no Brasil “passar
em branco”. Ainda mais se tratando da canonização da primeira santa do país,
considerando que ela iniciou sua vida religiosa no Estado de Santa Catarina.
No ano de 2012, a canonização de Santa Paulina estará completando 10
anos. Como Santa Paulina viveu e iniciou sua obra de benemerência no Vale do Rio
Tijucas, mais precisamente, na cidade de Nova Trento, é nesta região que ela
exerce uma maior influência religiosa.
Diante de tal informação, é importante realizar uma análise de todo o material
2
Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/7a12/conhecer_brasil/default.php?id_tema_menu=2&id_tema
_submenu=5
14. 14
publicado no Jornal de Santa Catarina sobre a canonização de Santa Paulina, no
período de 01 de janeiro à 19 de maio de 2002, procurando identificar através da
analise de conteúdo como a cobertura do evento repercutiu perante os fiéis.
2.1 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA
Compreender de que maneira foi realizada a cobertura do Jornal de Santa
Catarina no período que antecedeu a canonização da primeira Santa Brasileira e
identificar quais as respectivas abordagens.
2.1.1 Questão Problema
A principal questão problema da pesquisa é saber como o jornal de Santa
Catarina fez a cobertura da canonização da primeira Santa do Brasil, no período de
janeiro a 19 maio 2002?
As perguntas a seguir, são questões específicas, que ajudaram a responder a
questão problema mais detalhadamente:
Qual o espaço destinado às informações relativas à canonização de Madre
Paulina no Jornal de Santa Catarina?
Como foi realizada a cobertura mensal das matérias referentes ao tema
Canonização?
Qual o foco e quais matérias deram origem a capas?
Quais os principais critérios de noticiabilidade utilizados nas matérias?
2.2 PRESSUPOSTOS
15. 15
É importante reunir as matérias publicadas pelo Jornal de Santa Catarina
sobre Santa Paulina no período que antecedeu a sua canonização, justamente pelo
valor que Santa Paulina tem na vida religiosa de muitos fiéis católicos no Brasil e no
mundo. Através desta cobertura observa-se que a cidade de Nova Trento, antes
uma cidade pequena sem nenhuma expressão significativa no cenário nacional
passa a ser a região do milagre econômico. A cidade de Nova Trento, localizada na
área de abrangência do Jornal de Santa Catarina, foi cenário de parte da vida e obra
da Santa, contribuindo para o fortalecimento do turismo religioso catarinense. A
partir destas informações podemos observar os pressupostos a seguir:
Em relação à análise das matérias, percebe-se que a cobertura do Jornal de
Santa Catarina, nos meses antecedentes à canonização foi direcionada aos leitores
da religião católica, portanto, o tema pode ter se tornado repetitivo e pouco atraente
para pessoas que não se identificam com a religião católica.
As publicações foram relacionadas às mudanças ocorridas na cidade de Nova
Trento, principalmente na área econômica em função do turismo religioso. Um
aspecto da cobertura que ficou em evidência foi a valorização do crescimento
econômico através do turismo religioso.
A canonização interferiu definitivamente na estrutura econômica e cultural de
Nova Trento. Mesmo as autoridades sabendo que o feito traria um grande
contingente de pessoas à cidade, não houve planejamento e organização na
infraestrutura da cidade para receber os fiéis.
Nos meses de abril e maio o Jornal de Santa Catarina deu prioridade aos
assuntos econômicos e aos relacionados a histórias de vida de Santa Paulina e de
pessoas próximas a ela. Também no mês de abril foi publicada uma quantidade
excessiva de matérias de capa. Pois foram publicadas oito capas em todo o período
pesquisado, entre abril e maio foram seis manchetes de capa, sendo que quatro
delas foram em abril.
Na semana que antecede a canonização, todos os dias foram veiculados
matérias sobre a canonização, dando ênfase a história de vida da primeira Santa do
país utilizando um espaço significativo nas paginas do jornal.
16. 16
2.3 JUSTIFICATIVA E ADEQUAÇÃO À LINHA DE PESQUISA DO CURSO DE
JORNALISMO DO IBES
No presente trabalho a linha de pesquisa enquadra-se na modalidade de
“Mídia Regional” relacionada ao Curso de Comunicação Social com habilitação em
Jornalismo do IBES/SOCIESC.
O Jornal de Santa Catarina foi o escolhido para a realização desta pesquisa
por tratar-se de um jornal de circulação regional, com tradição e reconhecimento na
imprensa catarinense, por abranger várias regiões do estado de Santa Catarina e
atingir milhares de leitores. E, principalmente por ser um dos principais veículos
regional que fez a cobertura da canonização no período pesquisado.
A canonização da primeira Santa do Brasil é um marco para a comunidade
católica do país e de outras partes do mundo. Pois além da Itália país de origem de
Santa Paulina, outros países localizados em diferentes continentes aguardavam o
anúncio da santificação. Conforme dados publicados nas matérias do Jornal de
Santa Catarina, além do Brasil, os países de Camarões, Moçambique, Chade, Itália,
Guatemala, Nicarágua, Colômbia, Chile, Argentina, e Bolívia seguem e difundem a
doutrina da congregação fundada por Santa Paulina em Nova Trento, SC.
Como o catolicismo ainda representa a maioria dos brasileiros, atualmente é
comum aos meios jornalísticos explorar e enfatizar temas relacionados ao turismo
religioso. Nos diferentes tipos de mídias, notícias relacionadas a fatos religiosos
ganham cada vez mais destaque. E no jornalismo impresso não é diferente, porém,
vale destacar que o Jornal de Santa Catarina foi pioneiro em relação à cobertura de
assuntos religiosos, noticiando e realizando de forma ampla a cobertura da
canonização de Santa Paulina.
O fato de termos no Estado de Santa Catarina, na cidade de Nova Trento, o
Santuário da primeira Santa Brasileira faz com que muitos turistas venham conhecer
o local em busca de graças, milagres e também para pagar promessas. Não há
duvidas de que a canonização da Santa Paulina trouxe contribuições significativas
para a cidade de Nova Trento, pois em menos de uma década a cidade sentiu o
efeito visível do que podemos chamar de milagre do turismo religioso.
Com o aumento do turismo religioso houve um grande crescimento
17. 17
econômico na cidade, transformando a pequena e pacata Nova Trento em um centro
de peregrinação.
Segundo informações da SANTUR3, a cidade, atualmente, é considerada a
capital catarinense do turismo religioso, e o segundo maior pólo de turismo religioso
do país, ganhando visibilidade e destaque em âmbito nacional e internacional,
perdendo apenas para Aparecida do Norte, no estado de São Paulo, onde está
localizado o Santuário de Nossa Senhora de Aparecida.
Pela grande relevância deste feito e devido à quantidade de católicos no
Brasil, principalmente em Santa Catarina, é importante analisar como a mídia local,
neste caso, o Jornal de Santa Catarina abordou este assunto religioso, fato
considerado inédito em nosso país.
Além, disto a presente pesquisa abre caminhos para demais estudiosos e
pesquisadores, que objetivam estudar assuntos relacionados à santificação de
Madre Paulina, oportunizando a partir dos resultados obtidos terem uma nova visão
sobre a canonização de Madre Paulina.
2.4 OBJETIVOS
2.4.1 Objetivo Geral
O objetivo geral é analisar, as matérias publicadas no Jornal de Santa
Catarina, no período de cinco meses que antecederam a canonização da Santa
Paulina, buscando delimitar qual o papel do SANTA, na divulgação de tal fato.
2.4.2 Objetivos Específicos
3
Santa Catarina Turismo S/A
18. 18
Determinar a quantidade de matérias sobre o tema, publicadas no período
estabelecido.
Verificar qual o posicionamento do jornal e o principal foco das matérias
jornalísticas, diante do processo de canonização da Santa Paulina.
Constatar quantas matérias foram capas e quais os tipos de abordagens.
Verificar quais os principais critérios de noticiabilidade utilizados nas notícias
sobre Santa Paulina veiculadas no período determinado
Averiguar quais as principais mudanças culturais e econômicas ocorridas na
cidade de Nova Trento após a canonização.
19. 19
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 O CATOLICISMO E A SANTIDADE
3.1.1 O catolicismo no mundo e no Brasil
A palavra Catolicismo tem origem no grego katholikos, com o significado de
“geral” ou ”universal“. O Catolicismo é a vertente do cristianismo mais disseminada
no mundo todo e também o mais antigo, conhecido como igreja organizada, sendo a
que possui maior número de adeptos no Brasil (ARSEGO, 2008)
A Igreja Católica Apostólica Romana, como oficialmente é conhecida, foi
fundada4 pelo apóstolo Pedro pouco depois da morte de Jesus Cristo, segundo a
Bíblia, com o intuito de disseminar a filosofia cristã.
Peres (1995) relata que o Império Romano perseguiu os judeus, porém,
adotou o cristianismo como religião oficial em 380 d.C5. Mas, foi na Idade Média, a
partir do século V d.C., que a Igreja expandiu seus territórios, com a alegação de
que a salvação aconteceria na simplicidade. Por conta disto, os fiéis doavam terras,
animais, pedras preciosas e outras riquezas para a Igreja, tornando-a cada vez mais
potente.
Sobre o início do cristianismo, Arsego (2008, p. 10) relata:
No início, o cristianismo era uma seita de judeus para judeus, e não tinha
uma hierarquia rígida. Existiam bispos independentes, com opiniões
diferentes sobre a fé. Porém essa fase tão democrática teve fim no ano 312
quando o então imperador romano Constantino, que era judeu, mas havia
aderido ao cristianismo, convocou o primeiro Concílio das Igrejas, que teve
a participação de 318 bispos cristãos, (cristãos e não católicos, pois o
catolicismo ainda não havia sido fundado).
4
Apesar da alegação da Igreja Romana de sua fundação no ano 33 d.C e de ter sido Pedro o
primeiro papa, a história eclesiástica registra que Gregório I (509-604), foi o verdadeiro primeiro
papa. O termo “papa” vem de um decreto de Gregório VII, de 1073, que quer dizer “pai” (PERES,
1997, p. 05).
5
Depois de Cristo
20. 20
Outro fator importante para a expansão cristã foram as Cruzadas 6.
Financiados pela Igreja, exércitos se lançavam mundo afora com o intuito de
conversão e catequização dos não católicos. Na maioria das vezes, fazendo uso de
violência.
Conforme afirma Peres (1995), entre os séculos XVIII e XIX, o poder de
intervenção da Igreja Católica nas questões políticas sofreu uma grande perda com
a eclosão do ideário iluminista e o advento das revoluções liberais. A necessidade
de instalação de um Estado Laico7 favoreceu uma restrição das atividades da Igreja
ao campo essencialmente religioso. É o que descreve Arsego (2008, p. 12):
Para os católicos, a Igreja é santa e única, e segundo ela mesma, o Estado
não tem competência nos assuntos religiosos, sendo assim, a Igreja não
pode recorrer ao Estado, mesmo quanto este é o único representante de
uma sociedade somente católica, e que faça uso dos poderes políticos em
benefício da Igreja.
Ainda na visão de Peres (1995), no século XX, a Igreja católica sofreu uma
profunda renovação de suas práticas quando promoveu o Concílio de Vaticano II,
acontecido durante a década de 1960. Nesse episódio, uma nova postura da
instituição foi orientada em direção às questões sociais e injustiças que afligiam os
menos beneficiados.
Sobre o assunto Beozzo (2001, p. 27) afirma:
Em sua primeira sessão pública, o Concílio Vaticano II contou com a
participação de 2.540 padres conciliares. Ao longo dos quatro anos foi
contabilizada a participação média de 230 bispos brasileiros nas aulas
conciliares. Nestas, a participação do episcopado brasileiro foi composta
por cerca de 262 intervenções escritas e 64 orais no decorrer das
celebrações, intervenções e votações dos documentos conciliares, enfim,
daquilo que se passava no interior da Basílica de São Pedro, onde o
Concílio fora realizado.
6
As Cruzadas foram expedições organizadas pela nobreza sob a inspiração do Papado para libertar
a Terra Santa, isto é, a Palestina, onde Jesus Cristo nascera, pregara e morrera, do domínio dos
turcos. Para "salvar" a Europa Oriental e a Terra Santa o Papa Urbano II convocou a nobreza
européia dando origem em 1095 a 1a. Cruzada transformava assim guerra tão comum no Ocidente,
em "guerra contra os infiéis".
7
É uma nação ou país que é oficialmente neutro em relação às questões religiosas, não apoiando
nem se opondo a nenhuma religião. Um estado laico trata todos seus cidadãos igualmente,
independente de sua escolha religiosa e não deve dar preferência a indivíduos de certa religião,
além de proteger a liberdade religiosa de cada cidadão (Disponível em:
http://www.suapesquisa.com/o_que_e/estado_laico.htm. Acesso em 29 set 2001)
21. 21
Em 1929, após a assinatura do Tratado de Latrão8, foi fundado o Estado do
Vaticano, uma cidade-estado de 44 hectares habitada por pouco mais de 800
pessoas. O Vaticano, centro da Igreja Católica, é considerado o menor Estado do
mundo. Em 2000, o Vaticano, representado pelo papa João Paulo II, pediu
oficialmente perdão pelos erros cometidos pela Igreja, no passado.
O catolicismo, segundo Beozzo (2001), é uma ramificação do cristianismo e,
de acordo com algumas estatísticas recentes, cerca de um bilhão de pessoas
professam ser adeptas do catolicismo, que tem o Brasil e o México como os
principais redutos de convertidos. De fato, as origens do catolicismo estão ligadas
aos primeiros passos dados na história do cristianismo. Sobre o tema Arsego (2008,
p.20) destaca:
Os católicos ocupavam uma posição contra as atitudes dos homens que
buscavam constantemente o lucro, condenava pessoas que se
preocupassem mais com o dinheiro do que com sua família e com a
religião. A usura era vista como um grande pecado, porém o simples ato da
confissão poderia levar o cidadão ao céu. A igreja objetivava convencer a
todos, que a riqueza e hábitos como a usura os afastava de Deus. Não só
membros da igreja, mas também os reis passaram a condenar a usura. Era
um grave pecado enriquecer mediante a necessidade do próximo.
Sobre o catolicismo no Brasil, Souza Lima (1979) afirma que ele chegou junto
com o descobrimento e lançou profundas raízes na sociedade. Em 1549, seis
jesuítas da Companhia de Jesus acompanharam o Governador-Geral Tomé de
Souza, chefiados pelo Padre Manoel de Nóbrega, em 1580 os carmelitas descalços
chegaram ao Brasil e em 1581 as missões dos beneditinos tiveram início.
Durante o século XVI e XVII, o governo português, representado pelos
governadores-gerais, buscou o equilíbrio entre o governo central e a Igreja Católica,
controlando a atividade eclesiástica da colônia por meio do padroado, pois arcava
com o sustento da igreja e nomeava os bispos e párocos e concedia licenças para a
construção de novas igrejas, ajudando financeiramente todo este processo (Souza
Lima 1979).
8
Tratado assinado em Roma, no palácio de Latrão, em 11 de fevereiro de 1929, entre a Santa Sé e
a Itália e ratificado em 7 de junho de 1929. Este tratado tinha como principais aspectos: definir que
a religião católica é a única religião do estado italiano; reconhecer a personalidade jurídica
internacional da Santa Sé e a soberania plena sobre o estado da cidade do Vaticano, sem nenhuma
ingerência da Itália; reconhecer que os representantes da Santa Sé gozavam das mesmas
imunidades e regalias que os representantes diplomáticos acreditados em Itália; garantia da
liberdade de comunicações da Santa Sé com todo o mundo, etc (In Infopédia. Porto: Porto Editora,
2003-2011. Disponível em: http://www.infopedia.pt/$tratado-de-latrao>. Acesso em: 29 set 2011).
22. 22
Sobre a influência da igreja na monarquia portuguesa Godoy (1998, p. 203)
destaca:
A Igreja desempenhou um papel eficiente de controle, colaborando para
com a calibração da obediência em relação à Coroa Portuguesa. A Igreja
era subordinada ao Estado pelo regime do chamado padroado real, que
como ensina Boris Fausto, consistiu em uma ampla concessão da Igreja de
Roma ao Estado Português, em troca da garantia de que a Coroa
promoveria e asseguraria os direitos e a organização da Igreja em todas as
terras descobertas.
Souza Lima (1979) salienta que logo após a Proclamação da República, foi
decretada a separação entre o Estado e a Igreja, assim a república acabou com o
padroado e reconheceu o caráter laico do Estado, garantindo a liberdade religiosa.
Sobre a liberdade religiosa, Silva (1997, p. 244) salientou o seguinte:
A República principiou estabelecendo a liberdade religiosa com a
separação da Igreja do Estado. Isso se deu antes da constitucionalização
do novo regime, com o Decreto n. 119-A, de 1.890, da lavra de Ruy
Barbosa, expedido pelo governo provisório.
Ainda em relação ao papel da Igreja após a proclamação da república,
Delgado & Passos (2003) descrevem que o governo de Getúlio Vargas foi marcado
pela aprovação da Constituição de 1934, onde prevê uma colaboração entre a Igreja
e o Estado e, neste momento foram atendidas várias reivindicações católicas, tais
como aulas religiosas facultativas nas escolas públicas e a presença do nome de
Deus na Constituição.
3.1.2 Os Santos
Conforme destaca Peres (1995), a palavra “santo”, entre os católicos,
representa determinados indivíduos que desempenharam alguma obra admirável ou
ainda, que tiveram vida exemplar durante sua estadia na terra. Os santos são
geralmente reconhecidos pelo martírio, virtude heróica, e milagres e, para se
tornarem santos passam por um processo chamado canonização.
23. 23
A Igreja Católica baseia sua crença no dogma da comunhão dos santos 9 e na
passagem bíblica "Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas,
orações e intercessões, ações de graça, em favor de todos os homens". (1 Tm. 2:1).
Na visão de Teixeira (2005, p. 17):
Os santos sempre ocuparam um lugar de destaque na vida do povo,
manifestando a presença de um “poder” especial e sobre-humano, que
penetra nos diversos espaços de vida e favorece, numa estreita
aproximação e familiaridade com seus devotos, a proteção diante das
incertezas da vida.
Se a adoração das pessoas aumenta e continua durante cinco a dez anos
depois da morte da pessoa, então o bispo é autorizado a iniciar uma investigação
oficial da vida e obra do candidato, de modo a ver se a reputação de santidade é
fundada na verdade.
Peres (1995) observa que o candidato a santo deve estar morto há pelo
menos cinco anos antes que um processo de canonização possa ser oficialmente
iniciado. Quando uma pessoa religiosa muito respeitada morre, o bispo local tem
que deixar que a reputação de santidade dessa pessoa cresça por si só.
Como explica Teixeira (2005, p. 17):
Foi esse culto que marcou a peculiar dinâmica religiosa brasileira, de
caráter predominantemente leigo, seja nas confrarias e irmandades, seja
nos oratórios, capelas de beira de estrada e santuários. O catolicismo
brasileiro foi durante muito tempo um catolicismo de “muita reza e pouca
missa, muito santo e pouco padre”.
Na Igreja Católica existem diferentes níveis de honra para os santos. Existem
aqueles que são venerados localmente ou por ordens religiosas de padres ou freiras
são beatificadas, chamadas de beato. Somente aqueles que são canonizados pelo
Papa são realmente santos (PERES, 1995).
A Congregação pelas Causas dos Santos é o órgão da Igreja Católica que
supervisiona a canonização dos santos. O processo é extenso e minucioso e, uma
vez canonizado, os fiéis se asseguram de rezar com confiança ao santo para que
interceda com Deus em seu benefício. Com isso, o nome do santo é acrescentado a
9
A Comunhão dos Santos (em latim, Communio Sanctorum) é a união espiritual de todos os cristãos
vivos e mortos, aqueles na terra, no céu e, na doutrina católica, no purgatório (IGREJA CATÓLICA.
Compêndio do Catecismo da Igreja Católica (em português). Coimbra: Gráfica de Coimbra, 2000. p.
211).
24. 24
uma lista, com a determinação de um dia no qual será celebrada uma Missa em sua
homenagem.10
Falando sobre santidade, Besen (2002) afirma que ela é o caminho percorrido
pelos que procuram fazer a vontade de Deus nas situações concretas da vida,
deixando-se conduzir pelo Espírito Santo vivendo em comunhão perfeita com Cristo.
Para que uma pessoa possa ser considerada santa, são necessários dois
milagres, devidamente certificados por meio de diagnósticos médicos, depoimentos
pessoais, além de uma análise minuciosa da pessoa curada.
Em geral são quatro critérios utilizados na determinação do milagre da cura, a
instantaneidade (deve ser rápida e sem tratamentos), a perfeição (não deve haver
seqüelas), a duração (não poderá ser passageira) e o reconhecimento de que a
medicina não poderia ter realizado tal cura.11
3.2 A IMIGRAÇÃO ITALIANA NO SUL DO PAÍS
Os imigrantes europeus, que não eram portugueses, chegaram ao Brasil,
incentivados pelo governo brasileiro pela necessidade de mão de obra, que coincidiu
com a abolição da escravatura em 1888. Fato destacado por Schreiber (2010, p. 22):
O Brasil nesta época na segunda metade do século 19, estava
necessitando de braços para ocupar o espaço, que em breve deixaria de
ser ativo e que era o regime da escravidão, praticamente a escravidão já
estava não mais funcionando porque lei do ventre livre, lei do sexagenário
que forma leis anteriores e o Governo de Pedro II nesta época decide fazer
o contrato Caetano Pinto, que foi feito com um representante de casas de
agentes de imigrações. Este agente de imigração se encarregaria de trazer
para o Brasil 100 mil imigrantes, não seria especificamente para os italianos
(PETRY, 2010 apud SCHREIBER, 2010, p. 22).
Milhares de italianos e alemães chegaram para trabalhar nas fazendas de
café no interior de São Paulo, nas indústrias e na zona rural no sul do país. A
10
IGREJA CATÓLICA. Compêndio do Catecismo da Igreja Católica (em português). Coimbra:
Gráfica de Coimbra, 2000. p. 210.
11
IGREJA CATÓLICA. Compêndio do Catecismo da Igreja Católica (em português). Coimbra:
Gráfica de Coimbra, 2000. p. 210.
25. 25
imigração italiana no Brasil foi intensa, tendo como seu ápice no período entre os
anos de 1870 e 1926.
Um aspecto peculiar à imigração em massa, italiana, é que ela começou a
ocorrer pouco após a unificação da Itália12, razão pela qual uma identidade nacional
desses imigrantes se forjou, em grande medida, no Brasil. Como já supracitado, o
início da imigração coincidiu com o processo de abolição da escravatura e da
expansão das plantações de café, conforme descreve Marques (2001, p. 97):
Com a diáspora européia, novos imigrantes passaram a povoar Santa
Catarina, contribuindo de fora significativa para a sua formação multi-
étnica. Esta fascinante experiência coletiva de migrar e recomeçar a vida
num novo ambiente, está presente na memória de grande parte do povo
catarinense e vem sendo relida de modo cada vez mais intensivo nos
últimos anos. Nesta, a história tem um papel importante, pelo fato de
iluminar o presente com luzes do passado.
Os italianos eram católicos, falavam uma língua latina e tinham costumes
parecidos com a raiz luso-brasileira. Isso contribuiria para europeizar a cultura do
Brasil na visão do governo brasileiro.
Dreher (1993) descreve que as colônias foram fundadas em áreas rurais do
país, e famílias provindas da Europa, aí se estabeleceram. Seguindo o mesmo
projeto, colônias com imigrantes italianos também foram criadas no sul do Brasil.
Em 1875, foram fundadas as primeiras colônias italianas de Santa Catarina,
como Criciúma e Urussanga, assim como outras no Paraná. Nas colônias do Sul do
Brasil, os imigrantes italianos puderam se agrupar no seu próprio grupo étnico, onde
podiam falar o italiano e manter sua cultura e tradições.
A emigração foi, portanto, também desencadeada a partir do próprio
sistema camponês. Ela foi, ao mesmo tempo, desencadeada por e
organizada pelo sistema de parentesco: uma dimensão desse sistema,
como o padrão de herança, expulsava pessoas; outra dimensão, o “espírito
de parentesco”, fazia com que a migração se fizesse através de parentes
(irmãos, primos etc., assim como afins) que iriam replicar o modelo em
outro lugar, para em seguida, recomeçar tudo de novo (SILVA, 2001, p.
33).
12
A campanha para a unificação da península itálica começou com esforços para expulsar os
austríacos. [...] todo o movimento de unificação se havia caracterizado pela hostilidade à Igreja.
Este entrave com a igreja só foi resolvido em 1929, quando uma série de acordos firmados entre o
governo italiano e Pio XI (BURNS, 1999, p. 592/523).
26. 26
A imigração italiana para o sul foi muito importante para o desenvolvimento
econômico desta região, assim como para a cultura e formação étnica da população.
Ainda sobre imigração italiana Silva (2001, p. 46) destaca:
[...] onde muitos imigrantes italianos foram instalados em núcleos coloniais
em área ainda habitada por índios, os quais durante longo tempo, tornaram
a vida dos colonos muito difícil; a contrapartida é verdadeira, já que a
própria sobrevivência dos indígenas entrava em risco, pois seus territórios
tornavam-se cada vez mais exíguos.
Os primeiros imigrantes italianos chegaram ao estado de Santa Catarina por
volta de 1836, oriundos da Sardenha, fundando a colônia de Nova Itália (atual São
João Batista). Esses imigrantes pioneiros chegaram em número reduzido e pouco
influenciaram na demografia do estado. Foi mais tarde, a partir de 1875, que passou
a ser assentado no estado número maior de imigrantes italianos, que se dedicaram
principalmente à agricultura e à indústria de carvão.
De acordo com Silva (2001), a partir de 1910, vários imigrantes gaúchos
vieram para Santa Catarina, entre eles, milhares de descendentes italianos. Esses
imigrantes ítalo-brasileiros colonizaram grande parte do Oeste catarinense.
Atualmente vivem em Santa Catarina três milhões de italianos e descendentes,
representando cerca de 50% da população catarinense.
3.2.1. Nova Trento e sua história
A cidade de Nova Trento localiza-se a uma latitude 27º17'09" sul e a uma
longitude 48º55'47" oeste, estando a uma altitude de 30 metros. Sua população
estimada em 2009 (dados IBGE) era de 12.025 habitantes. Está situada a
aproximadamente 84 quilômetros de Florianópolis (capital do Estado), possuindo
uma área total de 431 Km2.13
A agricultura é uma de suas principais atividades econômicas com o cultivo
de fumo, milho, feijão e a uva, além da fabricação e comercialização de vinho
13
Disponível em: http://www.novatrento.sc.gov.br/conteudo/?item=25362&fa=6589. Acesso em: 17
out 2010.
27. 27
colonial, porém, o turismo religioso tem lugar de destaque na economia da cidade,
sendo que, atualmente, a cidade representa o segundo maior pólo de turismo
religioso do país.14
A história do município de Nova Trento inicia muito tempo antes da chegada
dos primeiros imigrantes trentino-italianos15, provenientes da região norte da Itália, a
partir de 1875. No período de 1834 e 1838, esta região havia sido ocupada por
norte-americanos, com a intenção de explorar a madeira abundante do local.16
Somente a partir de 1875, de acordo com Silva (2001) começam a chegar os
primeiros grupos de imigrantes trentino-italianos. Eles deixaram para trás um período
de crise, fome, miséria e desesperança, na qual a Europa passava. O momento
coincidiu com a vontade governamental brasileira de povoar as terras localizadas ao
sul, como conta Petry (2010 apud Schreiber 2010, p. 21):
[...] o governo de Dom Pedro decide fazer o contrato Caetano Pinto. Este
agente de imigração se encarregaria de trazer para o Brasil 100 mil
imigrantes, porém, neste tempo, a Itália estava com sérios problemas
internos, de excedentes de população, mas também devido as guerras que
lá haviam ocorrido. Uma pobreza muito grande, principalmente no norte da
Itália. E é justamente este contingente de italianos que vai atender aquele
processo de divulgação que o Brasil fazia lá na Europa em relação ao país.
Promessas eram muitas, oferecia-se casa, utensílios para trabalho agrícola,
animais, uma certa provisão de acordo, com a família se tivesse filho, se
fosse casado, se fosse solteiro, somente o casal recebia uma certa provisão
e um soldo.
Completa Silva (2001) relatando que do porto de Itajaí, os imigrantes foram
encaminhados para regiões de mata virgem, sem boas condições de comunicação.
O grupo dos primeiros imigrantes, cerca de 20 famílias originárias da Valsugana, no
Alto Vale do Brenta, no Trentino, e de Monza, se estabeleceram a 16 quilômetros da
atual Nova Trento.
14
Disponível em: http://www.novatrento.sc.gov.br/conteudo/?item=25362&fa=6589. Acesso em: 17
out 2010.
15
A região trentina caracteriza-se por ser única de montanha, praticamente privada de território plano
além dos 100 metros acima do mar, o que significa que, quando se fala da utilização da sua
superfície, se faz no sentido vertical sendo que 69,9% do território situa-se acima dos 1.000 metros,
isto determina um forte limite à superfície agrária cultivável. (SILVA, 2001, p. 19-20).
16
Disponível em: http://www.novatrento.sc.gov.br/conteudo/?item=25362&fa=6589. Acesso em: 17
out 2010.
28. 28
Ali se formou uma comunidade italiana agrícola e extremamente católica que
foi emancipada no dia 08 de agosto de 1892, através da Lei Provincial número 36,
promulgada pelo presidente da província Tenente Joaquim Machado.17
Petry (2010 apud SCHREIBER, p. 26) acrescenta:
Ninguém veio direto pensando: “olha, nós vamos para a região do Vale do
Itajaí, nós vamos para Caxias no Rio Grande do Sul”. Eles somente sabiam
para onde seriam distribuídos: no Rio de Janeiro. E o próprio Dr. Blumenau
também não sabia que tipo de imigrantes viria para cá, ele só recebia um
telegrama dizendo que deveria estar preparado para receber duzentos,
oitocentos imigrantes que viriam [...]
Conforme destaca Cadorin (2001), entre os imigrantes italianos vindos nessa
leva de 1875, destaca-se uma em especial: Amabile Lucia Visintainer, que nasceu
em Vígolo Vattaro, Trento, Itália e, junto com seus pais e irmãos, emigrou para o
Brasil e veio instalar-se no bairro de Vígolo18, em Nova Trento, onde seu pai recebeu
terras.
3.3 SANTA PAULINA
Amábile Lucia Visintainer nasceu em 16 de dezembro de 1865, em Vígolo
Vattaro, Itália. Era a segunda de quatorze filhos e como nasceu durante o inverno e
no final da tarde, só foi batizada no dia seguinte. Era comum entre as famílias
trentinas, o grande cuidado com e educação religiosa dos filhos, desde seu
nascimento (CADORIN, 2001).
De acordo com Cadorin (2001) denota-se que desde criança Amábile já se
dedicava ao trabalho e à fé religiosa. Com oito anos de idade ela foi empregada em
uma fábrica de tecidos, encarregada de separar casulos de bicho-da-seda. Ela
sempre teve uma aparência delicada, porém, aparentava estar cada vez mais frágil.
Anna estava desconfiada de que sua filha Amábile não estivesse
alimentando-se corretamente e, ao questioná-la, descobriu que a menina dividia sua
17
Disponível em: http://www.novatrento.sc.gov.br/conteudo/?item=25362&fa=6589. Acesso em: 17
out 2010.
18
O Vale do Alto Alferes chamou-se Vígolo, porque as famílias que aí tomavam posse de terrenos,
eram quase todas de Vigolo Vattaro, no Trentino (CADORIN, 2001, p. 26)
29. 29
comida com as demais colegas pobres, as quais não tinham o que comer (BESEN,
2002).
Sobre a missão de Amábile, Gil & Gil Filho (2010, p. 117) analisam:
[...] antes de vir ao Brasil, Amabile cuidara de sua avó doente como uma
enfermeira, que em seu leito lhe deu uma bênção particular lhe dizendo:
“Como foste generosa e doce comigo, tu o serás com tantos outros no
mundo novo aonde irás; muitos te recordarão, como eu, com gratidão e
amor.
Então a família Visintainer decidiu, em razão da grave crise econômica que
assolava a Europa, realizar a viagem a uma nova terra, tentar a vida em uma nova
pátria.
Souza (2010) descreve que a família deixou a Itália em 1875, juntamente com
tantas outras, que já não mais suportavam tal crise, sendo que a viagem durou três
meses e, ao chegarem, por sugestão do padre jesuíta de Itajaí, as famílias
escolheram a localidade de Alferes, no Vale do Rio Tijucas, para se instalarem.
Amábile ajudava no sustento da família e cuidava dos irmãos menores,
aproveitando os curtos intervalos do trabalho para realizar suas orações, e conforme
destaca Cadorin (2001, p. 35), no ano seguinte à sua chegada aconteceu algo
importante:
1876. Chegou a Nova Trento e a Vígolo outro grupo de colonos tiroleses,
entre os quais a família de Francesco Nicolodi com sua esposa, Ângela
Dallago, e seus filhos. Para nós, merece uma atenção especial a filha
Virginia, nascida em Aldeno (Trentino) a 3 de agosto de 1864, 16 meses
mais velha que Amábile.
Amábile conheceu Virginia Nicolodi, que morava próximo de sua casa, e
conforme destaca Besen (2002), nasceu entre elas, uma grande amizade, sendo
que seus pais construíram um moinho para preparar fubá e encarregaram as duas
filhas de servir aos fregueses.
As duas meninas passavam o dia no trabalho e ficavam tão entretidas em
servir às pessoas e com o exercício da oração e da leitura espiritual que esqueciam
as horas.
Souza (2010) destaca que com o passar dos anos, após a construção de uma
pequena igreja, Amábile e Virginia foram designadas para ensinar o catecismo às
crianças da localidade. Era o início de suas vidas religiosas, pois, além de ajudar na
30. 30
catequese, as duas ajudavam doentes e necessitados, tendo como propósito
principal, a caridade. Veja-se:
Ambas gostaram tanto da experiência que optaram em ter uma casa para
aquele fim. Quando conseguiram realizar este ideal, decidiram deixar a
casa paterna e foram morar juntas, acolhendo os doentes onde moravam
para dar-lhes melhor tratamento [...] surgiam tantos doentes para serem
atendidos como se ali fosse um ambulatório, posto de saúde ou mesmo um
hospital. Aliás, foi denominada de “hospitalzinho São Vigílio” (SOUZA,
2010, p. 49).
Para Cadorin (2001) uma das maiores provações de Amábile e Virginia foi a
internação da Sra. Ângela Lucia Viviani, portadora de câncer. Esta internação
repercutiu na comunidade e virou polêmica, pois, uma mulher naquele estado não
poderia ser tratada por duas jovens que nada entendiam de medicina. Tentaram até
mesmo impedir que a mulher fosse transferida, pois havia medo de contaminação.
Em 1891, uma nova companheira era recebida no hospitalzinho, era Teresa
Anna Maule. Em 1895, as três iniciaram a Congregação das Irmãzinhas da
Imaculada Conceição, fazendo seus votos e escolhendo como hábito, uma túnica
preta com um cinto celeste, representando a Imaculada Conceição, segundo relato
de Besen (2002).
Após os votos, as três irmãs Amábile, Virginia e Teresa, deixaram seus
nomes antigos passando a chamar-se: Irmã Paulina do Coração Agonizante de
Jesus, Irmã Matilde da Imaculada Conceição e Irmã Inês de São José.
Para a sobrevivência da Congregação, Souza (2010) afirma que, as irmãs
contavam com ajuda de toda a comunidade, mas foi com muito sacrifício que Madre
Paulina conquistou o sucesso em sua empreitada religiosa. Em pouco tempo eram
tantas as adesões ao convento que foi necessário ampliar a Casa de Nova Trento,
além abrir outras casas para a congregação.
Conforme afirma Besen (2002), em 1900, a congregação já possuía 20
religiosas, organizando missões em Santa Catarina e no Paraná, sendo que em
1903, Madre Paulina recebe e aceita um convite para ir a São Paulo. Para
acompanhá-la Madre Paulina convoca as Irmãs Luiza e Serafina, além da postulante
Josefina, a única que falava muito bem o português.
Pouco letrada e com dificuldades de se comunicar em português, procurou
assessorar-se de boas auxiliares. Seria inclusive uma forma de angariar
31. 31
maiores fundos para manter as casas de Vígolo e Nova Trento, já que
havia muitas adesões ao Convento e muitos doentes e necessitados para
cuidar (SOUZA, 2010, p. 67)
Após muitas dificuldades iniciais, a congregação se firmou e fundou em São
Paulo, o Asilo Sagrada Família, a Santa Casa de Misericórdia de Bragança Paulista,
a Casa de Saúde Dr. Homem de Mello e a Santa Casa de Misericórdia de São
Carlos do Pinhal e, como seu trabalho aumentou muito, Madre Paulina se viu
impedida de objetivando dedicar-se ao acompanhamento das obras em Nova Trento
(BESEN, 2002).
A vida em São Paulo não foi fácil e, por conta de uma série de intrigas e por
ordem do Bispo, Madre Paulina deixa de ser a Superiora da Congregação e é
segregada para Bragança Paulista, para, segundo Souza (2010, p. 73/74), “viver e
morrer como súdita”.
Madre Paulina voltou à Casa Geral da Congregação, no bairro do Ipiranga, na
cidade de São Paulo, e ali permaneceu até a sua morte no dia 09 de julho de 1942,
aos 77 anos, decorrente do alto grau de diabetes, após a amputação do braço direito
e da cegueira, sendo que sua santidade não demorou a surgir.
3.3.1 A Beatificação e a Canonização
De maneira geral, beatificação significa que o reconhecimento por intermédio
da igreja católica a aqueles que encontram-se no paraíso (beato) e que recorrem a
orações em que são feitas pelos cristãos.
O processo de beatificação refere-se ao reconhecimento institucional da
Igreja de que a pessoa está em uma condição paradisíaca e, desse modo,
pode interceder pelos outros. Na prática há uma autorização para que os
fiéis solicitem por meio da prece esta intercessão (GIL & GIL FILHO, p
2010, p. 119).
Ela ocorre após a realização de uma análise sobre a vida do candidato, onde
a igreja ressalta pontos em que possam demonstrar a santidade dessa pessoa e
encaminha à Congregação para as Causas dos Santos, onde inicia-se o processo
de analise de virtudes “heróicas” do candidato.
32. 32
Em seguida é realizada uma perícia com o intuito de certificar-se de que há a
existência de milagres para que assim o “candidato” seja beatificado e, se
confirmada a existência do milagre, ele será considerado beato pelo Papa.
Já a canonização é uma sentença definitiva e oficial da santidade de Madre
Paulina, heroína da vida cristã e se pode fazer culto público, em toda a Igreja.
A canonização diz respeito à atribuição do grau de Santo a alguém que já
era Beato. O processo de canonização, hodiernamente, é a reafirmação do
poder da Igreja e parte da sua política em seu afã de evangelização
através de referências carismáticas locais (GIL & GIL FILHO, 2010, p. 119).
A peça principal em um processo de canonização é a do postulador, que é
uma espécie de advogado de defesa do candidato à santificação, e, no caso de
Santa Paulina foi indicada como postulante a teóloga Célia Cadorin, uma
catarinense de Nova Trento, integrante da Congregação das Irmãzinhas da
Imaculada Conceição (BESEN, 2002).
Em recorte extraído do encarte publicado pelo Jornal de Santa Catarina na
semana da canonização a própria Irmã Célia destaca:
A canonização é um incentivo para sermos católicos de verdade. Acredito
que essa busca vai aumentar com a canonização, porque todos nós
podemos ser santos. Eu também imagino que Nova Trento se tronará um
grande cento de evangelização, por ser o lugar onde a Madre viveu. Penso
que a cidade deve se orgulhar disso, mas deve tomar cuidado para não se
perder em vaidades. O povo deve saber que nada é maior que a santidade.
Em 1982, Irmã Célia foi destacada pela ordem para trabalhar em tempo
integral na causa da canonização e hoje é a maior especialista brasileira nessa área.
O processo de canonização de Santa Paulina foi iniciado em 03 de setembro
de 1965, sendo que a Canonização ocorreu somente no dia 19 de maio de 2002, no
Vaticano.
O que garantiu a beatificação e a canonização de Santa Paulina foi o
reconhecimento de dois milagres autênticos, ocorridos no Brasil. O primeiro foi a
cura da catarinense Eluiza Rosa de Souza, que desenganada após a perda do de
um filho que ainda encontrava-se no útero, sobreviveu. O segundo foi a cura da
acreana Iza Bruna Vieira de Souza, de uma doença rara e incurável no cérebro.
33. 33
Foi reconhecida como milagrosa a cura instantânea, perfeita e duradoura da
senhora Eluiza, de doença muito complexa: morte do feto, após a sétima gravidez e
sua retenção intra-uterina por alguns meses; extração com instrumento e revisão do
útero, seguida de grande hemorragia por coagulopatia de consumo, chamada
afibrinogenemia.
A cura fora atribuída a Madre Paulina do Coração Agonizante de Jesus. A
Madre foi invocada com orações feitas publicamente pelos familiares e
pelas Irmãs Enfermeiras, Irmãzinhas da Imaculada Conceição que
trabalhavam no Hospital e Maternidade de São Camilo da cidade de
Imbituba – SC (GIL & GIL FILHO, 2010, p. 119).
Em 18 de fevereiro de 1989, o Papa João Paulo II promulgou o Decreto sobre
o Milagre apresentado pela Postulação para obter a solene Beatificação de Madre
Paulina do Coração Agonizante de Jesus.
Um dos momentos mais emocionantes da visita do Papa João Paulo II ao
Brasil, em 1991, aconteceu em Florianópolis, durante a beatificação de Madre
Paulina.19
Para um público de 60 mil pessoas, entre familiares da beata, religiosos,
políticos e fiéis, o papa afirmou durante a homilia20:
Soube ela converter todas as suas palavras e ações num contínuo ato de
louvor a Deus. Sua conformidade com a vontade de Deus levou-a a uma
constante renúncia de si mesma, não recusando qualquer sacrifício para
21
cumprir os desígnios divinos.
O segundo milagre foi a cura de Iza Bruna, que nasceu com má formação no
cérebro e, após ser operada para corrigir o problema, teve o corpo necrosado,
entrou em coma e teve várias paradas cardíacas. A criança, já sem possibilidade de
sobrevivência foi batizada e, o padre e avó pediram a intercessão de Madre Paulina,
para a cura, o que acabou ocorrendo. Este fato aconteceu em 1992, tendo sido
comprovado o milagre somente no ano de 2000.
Ainda de acordo com o encarte publicado pelo Jornal de Santa Catarina:
19
Disponível em: http://www.abril.com.br/noticia/diversao/no_229808.shtml. Acesso em 17 out 2011.
20
Homilia é uma preleção dada no decorrer da missa após a leitura do Antigo e do Novo Testamento,
e antes da recitação do Credo. Tem a função de explicitar a fé, o significado dos vários elementos
litúrgicos, também em relação à situação dos presentes, para que o encontro com Deus se torne
consciente para todos.
21
Disponível em: http://www.abril.com.br/noticia/diversao/no_229808.shtml. Acesso em 17 out 2011.
34. 34
[...] a intercessão de Madre Paulina na cura da menina foi comprovada pelo
Vaticano no dia 14 de dezembro de 2000, depois de oito anos de
investigação. Durante esse tempo a menina passou por vários testes e
exames médicos. Hoje ela vive bem sem nenhuma sequela.
No dia 7 de julho de 2001, o Papa João Paulo II promulgou o Decreto sobre o
milagre apresentado pela Postulação para obter a Canonização da Beata Paulina do
Coração Agonizante de Jesus.
A culminância desse processo se dá com a Canonização, no dia 19 de maio
de 2002, no Vaticano. Neste dia, em sua homilia na Praça de São Pedro, o Papa
João Paulo II ressaltou a importância dos santos na vida dos cristãos pelo fato deles
indicarem o caminho "da nossa esperança de santidade". Destacou também a luz
que Santa Paulina tinha na "generosa correspondência às graças divinas" tornando-
se, assim, "premiada por uma constante inclinação para Deus, desejado, conhecido,
louvado e amado".
3.4 O JORNAL DE SANTA CATARINA
O Jornal de Santa Catarina (Santa) nasceu da iniciativa dos empresários
blumenauenses Wilson de Freitas Melro e Caetano Deeke de Figueiredo, nas
antigas dependências de uma fábrica de chapéus, em Blumenau.
Com seu lançamento, em 22 de setembro de 1971, iniciou-se uma nova etapa
no jornalismo impresso de Santa Catarina, sendo o primeiro jornal do estado a ser
impresso com equipamentos off-set, que permitia oferecer um produto mais limpo e
ilustrado para competir com os diários da capital e Joinville, usuários de antigas
rotoplanas22.
No primeiro editorial23, a promessa de integração através da informação na
tentativa de alcançar todos os municípios do Estado de Santa Catarina:
Na jornada que hoje iniciamos, não mediremos esforços para promover a
integração e a união deste Estado de Santa Catarina. [...] Santa Catarina
22
Antigas prensas rotativas.
23
JORNAL DE SANTA CATARINA. Blumenau: edição 1, 22 de setembro de 1971, p. 2.
35. 35
tem sido definido como um conglomerado de ilhas. A missão que nos
impomos neste momento é a de estabelecer uma ponte que, unindo estas
ilhas, forme uma opinião pública comum.
O Jornal de Santa Catarina começa a circular, quase que simultaneamente às
primeiras transmissões de televisão no Estado, a TV Coligadas24, ocasião em que o
governador de Santa Catarina, Colombo Machado Salles acionou as máquinas,
dando início à impressão da primeira edição em formato standard.
Uma equipe de 40 jornalistas deu comando à redação do Jornal de Santa
Catarina, num montante de 200 funcionários. Cerca de 20 profissionais foram
trazidos de Porto Alegre, “onde os cursos de Jornalismo da Universidade Federal e
da Universidade Católica já tinham 20 anos de tradição”. Com eles, vieram técnicos
em fotografia, fotógrafos, gráficos e operadores de rotativa. Era um projeto muito
ousado para a época (FERNANDES, 2005, p. 9).
Prosseguindo com seu pioneirismo, o Santa iniciou uma rede de sucursais e
correspondentes em todo o Estado e, para acelerar o processo de produção da
notícia, foi implantada uma fotocopiadora por computador e, também, a transmissão
de informações via teletipo e telefax, além de serviços de agências internacionais.
O Jornal de Santa Catarina viveu momentos áureos como a conquista de dois
prêmios ESSO de Jornalismo25, no início da década de 1980, porém, após
sucessivas crises, o Jornal de Santa Catarina foi vendido, em 1992, para a Rede
Brasil Sul de Comunicação (RBS), grupo multimídia gaúcho, sediado em Porto
Alegre.
A partir deste momento o Jornal Santa Catarina, que tinha uma proposta de
abrangência estadual, volta-se editorial e comercialmente para a região dos Vales,
formada por 65 municípios nos Alto e Médio Vales do Itajaí, Vale do Rio Tijucas,
Vale do Itapocu e Litoral Centro-Norte Catarinense.
24
A TV Coligadas, Canal 3, foi a primeira emissora de TV instalada em Santa Catarina. Fundada
pelos empresários Wilson de Freitas Melro, Caetano Deeke de Figueiredo e Flávio Rosa, em 2 de
setembro de 1969. As transmissões englobavam a cidade de Blumenau e arredores, além de e
retransmitir a programação da Rede Globo. Porém, quando foi concretizada a instalação da TV
Catarinense em Florianópolis, a TV Coligadas se filiou à Rede Tupi, até sua compra pelo Grupo
RBS, em 1980.
25
O Jornal de Santa Catarina conquistou dois prêmios ESSO de Jornalismo, nos quais se destacou o
nome de Luiz Antonio Soares. Durante sua atuação no jornal, conquistou o prêmio na categoria
individual, com reportagens relacionadas à defesa da Ponte do Salto, ameaçada de demolição, e o
outro em equipe, pela cobertura da enchente do rio Itajaí-Açu em 1983 (SIEMMAN, 2004, p.95).
36. 36
Ele foi informatizado e, dois anos depois, passando a circular em cadernos
coloridos. Já, em 1996, ele passa a ser o primeiro jornal online do Estado, podendo
ser acompanhado, desde então, via internet. O serviço pioneiro, no entanto, não foi
aproveitado com afinco para explorar as ferramentas do webjornalismo.
Em 1997, modificações no projeto gráfico deram maior espaço para a região
dos Vales e dois anos após, o Santa acompanha uma tendência mundial de jornais
standard, ficando mais estreito. Em novembro de 2000, estréia a edição de fim de
semana (sábado e domingo), a Revista do Santa, o Guia da Tevê e três novos
cadernos temáticos sobre empregos e carreiras, imóveis e veículos.
Em 2002, no mês de setembro, as estruturas comerciais do Santa e do Diário
Catarinense – jornal sediado em Florianópolis, pertencente ao Grupo RBS – são
unificadas. Com isto, as equipes comerciais dos dois jornais, incluindo as sucursais,
passam a comercializá-los igualmente. Em maio de 2003, o Santa passa por uma
nova modernização do projeto gráfico e editorial, dando-lhe mais páginas coloridas,
mais notícias por página e novos colunistas.
Em setembro de 2004, o Santa passou pela mais significativa mudança de
sua história: deixou o formato standard e passou a circular em formato tablóide 26.
Segundo o Departamento de Marketing do jornal, a mudança acompanha uma
tendência mundial, que está sendo chamada de tabloidização.
Além do formato, a pesquisa também indicou outras mudanças importantes de
conteúdo, que já foram adotadas pelo jornal, juntamente com a mudança de formato.
3.5 JORNALISMO ESPECIALIZADO
Quando o volume de informações trata de assuntos de interesse a um
determinado grupo de pessoas, é possível criar um novo meio de informação. É
nisso que se baseia o jornalismo especializado, que é a abordagem aprofundada
sobre temas de interesse para públicos específicos.
26
Formato de jornal que mede a metade do tamanho de uma jornal standard, cerca de 37,5 cm x 60
cm, o tablóide surgiu em meados do século XX, e suas notícias são mais resumidas e exclamativas
do que nos jornais tradicionais. A palavra tablóide é proveniente do termo em inglês “tabloid”.
37. 37
O jornalismo especializado é a materialização das formações ideológicas,
sendo, por isso, determinado por elas, o texto é unicamente um lugar de
manipulação consciente, em que o homem organiza, da melhor maneira possível, os
elementos de expressão que estão a sua disposição para veicular o seu discurso
(FIORIN, 1997).
O jornalismo especializado, além de representar a sociedade, a constitui.
Esse tipo de leitura proporciona aos leitores a busca de resposta e da compreensão
de dúvidas, que surgem através da própria teia de interesses existentes na
sociedade.
É por meio da especialização que se fortalecem os laços entre editor e leitor,
dando a este a sensação de pertencer a um grupo que compartilha suas mesmas
ideias, que lhe ajuda a formar suas opiniões e seu senso crítico.
Em se tratando de jornalismo especializado o gênero do jornalismo religioso,
ganhou espaços principalmente na última década nas diversas formas de mídia, seja
impressa, on-line, radiofônica ou televisiva. Um dos fatores que fez com que esse
gênero jornalístico crescesse foi justamente o crescimento significativo de novas
religiões.
No âmbito do discurso religioso, especificamente, o sujeito do enunciado é
o próprio Deus, situado como referente do enunciado, cabendo ao
pregador a função de destinador da mensagem sagrada (CAMPOS, 1997,
81).
Com este aumento da diversidade religiosa no país, cresceu também o
numero de veículos de mídia que passaram a conduzir programas relacionados a
temas religiosos. Também muitas destas novas religiões adquiriram espaços
midiáticos, o que lhes deu força, descobrindo-se uma nova forma de evangelizar.
Redes de televisão como a TV RECORD27 é um exemplo destes
acontecimentos que, além da televisão, também possuem espaço em rádios e
jornais impressos, para divulgar e difundir suas doutrinas.
No que se refere à religião católica, não é de hoje que esta religião tem poder
na mídia, principalmente em anúncios oficiais e também nas transmissões de cultos
e missas. No entanto, no jornalismo impresso, no Brasil um dos momentos que mais
27
Rede Record de Televisão
38. 38
se veiculou matérias ligadas a religião católica foi no ano que Santa Paulina foi
canonizada.
A pesquisadora verificou que o jornalismo religioso, uma das vertentes do
jornalismo especializado, possui pouca literatura para embasamento cientifico, e,
está, aos poucos, ganhando espaço através de trabalhos acadêmicos, a tendência,
é que ele se desenvolva com o passar dos anos.
Esta pesquisa busca contribuir para este crescimento, embora o veículo
analisado não seja de cunho religioso, o assunto abordado foi um dos
acontecimentos mais importantes para a comunidade adepta a religião católica.
3.6 CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE
Neste tópico serão esclarecidos alguns pontos importantes sobre os critérios
de noticiabilidade, considerados pelos meios de comunicação, as diretrizes que
atribuem aos fatos sua importância.
Vários são os critérios de noticiabilidade existentes em uma redação de jornal.
Isto é, existem diversos motivos para que seja dado enfoque de uma maneira ao
invés de outra, para que se utilize determinada fonte e não outra, para que seja
publicada esta notícia e não àquela.
Pena (2006) analisa a questão descrevendo que a separação das tarefas é
uma das rotinas que ajuda a organizar o trabalho e os valores-notícia são utilizados
para sistematizar o trabalho na redação.
Wolf (1995, p. 196) adverte que:
[...] os valores notícia são critérios de seleção dos elementos dignos de
serem incluídos no produto final, desde o material disponível até a redação.
São qualidades dos acontecimentos, ou da construção jornalística, cuja
presença ou cuja ausência os recomenda para serem incluídos num
produto informativo. Quanto mais um acontecimento exibe essas
qualidades, maiores são suas possibilidades de ser incluído.
Os chamados valores/notícia modificam ao longo de tempo, e em diferentes
sociedades e empresas jornalísticas. No processo de produção das notícias, se
39. 39
estabelece rotinas profissionais que, em certo ponto, fazem com que o trabalho se
torne condicionado ao dia-a-dia de jornalistas e repórteres (WOLF, 1995).
Já, conforme Souza (2002, p. 13):
A notícia só se esgota no momento do seu consumo, já que é nesse
momento que ela produz efeitos e passa a fazer parte dos referentes da
realidade. Esses referentes são à parte da realidade que formam a imagem
que os sujeitos constroem da realidade. Por isso, a construção de sentido
para uma notícia depende da interação perceptiva, cognoscitiva e até
afetiva que os sujeitos com ela estabelecem.
Neste sentido Lage (2001, p. 95) explana que para construir um texto é
preciso escolher os dados e organizá-los, de acordo com a importância das
informações ali descritas, definindo “critérios de avaliação formal, considerando
constatações empíricas, pressupostos ideológicos e fragmentos de conhecimento
científico”.
É importante saber analisar as notícias e fazer uma avaliação correta dos
acontecimentos para conseguir a qualidade da informação, visando atingir um
público ainda maior.
No momento em que as redações são bombardeadas por informações, a
imprensa tende a atribuir valores e critérios para selecionar o que é mais
importante para o interesse público e social. A partir dessa associação, o
valor/notícia passa a ser a tônica para escolher qual notícia causa a maior
repercussão (TRAQUINA, 2005, p. 5)
Os valores-notícia são divididos de diversas formas e não são fixos, se
combinando sempre, no intuito de preparar a análise de modo a definir como um
acontecimento acaba virando notícia.
De acordo com Wolf (1995, p. 175), a noticiabilidade é
[...] o conjunto de elementos, através do qual, o órgão informativo controla
e gere a quantidade e o tipo de acontecimentos, entre os quais há que
selecionar as notícias.
Os acontecimentos transformam-se em notícias após serem analisados pela
equipe de uma redação, e depois de constatado o que realmente é relevante para se
divulgar. Sobre o tema Wolf (1995, p.191) ensina que notícia é:
40. 40
[...] o produto de um processo organizado que implica uma perspectiva
prática dos acontecimentos, perspectiva essa que tem por objetivo reuni-
los, fornecer avaliações, simples e diretas acerca de suas relações e fazê-
lo de modo a entreter os espectadores.
De acordo com Márcia Amaral, existem três importantes valores-notícia para
a produção da informação: entretenimento, proximidade e a utilidade pública
(AMARAL, 2006).
Esclarece Wolf (1995) que os valores-notícia de seleção estão ligados ao
modo que jornalistas utilizam para escolher os fatos que serão considerados
notícias.
Estes critérios procedem de admissões implícitas ou de exposições relativas a
dois subgrupos de critérios: os substantivos, classificados de acordo com o grau de
importância do fato envolvido e o grau de interesse do público, e com a avaliação
dos acontecimentos, de acordo com sua importância, exemplo: morte, notoriedade,
proximidade, relevância, novidade, tempo, notabilidade, inesperado, conflito ou
controvérsia, infração, e escândalo; e os contextuais, relacionados com a produção
da notícia, representados pela disponibilidade, equilíbrio, visualidade, concorrência,
e dia noticioso.
Os valores-notícias de construção, segundo Wolf (1995) relacionam-se com a
qualidade de produção da notícia, como o fato será apresentado, ressaltando o que
deve ser revelado ou omitido. Não estão divididos em grupos e representam a
simplificação, amplificação, relevância, personalização, dramatização, e
consonância.
Já Sousa (2002, p. 95) observa que
[...] talvez devido a essa multiplicidade de forças conformativas, os critérios
de noticiabilidade não são rígidos nem universais. Frequentemente são
esquivos, opacos, contraditórios, mudam ao longo do tempo e têm diversas
naturezas.
Então, baseando-se em estudos feitos por Fernandes28, que buscava a
praticidade para as redações, utilizou-se o seguinte quadro das principais categorias
28
FERNANDES, Mario Luiz. A força da notícia local: a proximidade como critério de noticiabilidade.
Disponível em: http://encipecom.metodista.br/mediawiki/images/4/40/GT1-16_-
_A_forca_da_noticia_local-Mario.pdf. Acesso em: 29 set 2011.
41. 41
de noticiabilidade, sendo que os destaques em negrito identificam a denominação
dada pelos autores a estas categorias:
Autor Categorias de noticiabilidade
Carrol Warren Elementos básicos da notícia: atualidade, proximidade,
proeminência, curiosidade, conflito, suspense, emoção,
conseqüências.
Fraser Bond (1962) Valor notícia: oportunidade, proximidade, tamanho, importância.
Elementos de interesse da notícia: interesse próprio, dinheiro,
sexo, conflito, o incomum, culto do herói e da fama, expectativa,
interesse humano, acontecimentos que afetam grandes grupos
organizados, disputa, descoberta e invenção, crime.
Luiz Amaral (1969) Atributos fundamentais: atualidade, veracidade, interesse
humano, amplo raio de influência, proximidade, raridade,
curiosidade.
J. Galtun e M. Ruge Critérios de noticiabilidade: momento do acontecimento,
(1965) intensidade ou magnitude, inexistência de dúvidas sobre o seu
significado, proeminência social dos envolvidos, proeminência
das nações envolvidas, surpresa, composição tematicamente
equilibrada do noticiário, proximidade, valores sócio-culturais,
continuidade.
Mar de Fontcuberta Interesse do público: atualidade, proximidade, proeminência,
(1993) conflito, conseqüências.
Mario Erbolato (1978) Critérios de notícia: proximidade, marco geográfico, impacto,
proeminência (ou celebridade), aventura e conflito,
conseqüências, humor, raridade, progresso, sexo e idade,
interesse pessoal, interesse humano, importância, rivalidade,
utilidade, política editorial do jornal, oportunidade, dinheiro,
expectativa ou suspense, originalidade, culto de heróis,
descoberta e invenções, repercussão, confidências.
Natalício Norberto Valor notícia: interesse pessoal (dinheiro, sexo, solidariedade);
(1969) interesse pelo próximo; proximidade; o incomum (conflito, crimes,
expectativa, objetividade); tamanho; importância; oportunidade.
Nilson Lage (2001) Critérios de avaliação: proximidade, atualidade, identificação
social, intensidade, ineditismo, identificação humana.
P. J. Shoemaker (1991) Critérios de noticiabilidade: oportunidade, proximidade,
importância, impacto ou consequência, interesse, conflito ou
controvérsia, negatividade, freqüência, dramatização, crise,
desvio, sensacionalismo, proeminência das pessoas envolvidas,
novidade, excentricidade, singularidade.
Teun A. van Dijk (1990) Valores jornalísticos: novidade, atualidade, pressuposição,
consonância, relevância, desvio e negatividade, proximidade.
Analisando os dados acima, será realizada a conceituação de alguns dos
critérios considerados mais importantes para a presente pesquisa, classificados em
ordem alfabética para facilitar a leitura.
Amplificação: é um critério muito corriqueiro em fatos de grande repercussão
nos quais se generalizam sentimentos. Conforme destaca Traquina (2005, p. 91)
“quanto mais amplificado é o acontecimento, mais possibilidades tem a notícia de
42. 42
ser notada, quer seja pela amplificação do ato, do interveniente ou das supostas
consequências do ato”;
Consonância: um determinado fato torna-se mais visível, se estiver
precedido de outros fatos anteriores, de modo que possa ser destacado dos outros.
Segundo Traquina (2005, p. 93) “quanto mais a notícia insere o acontecimento numa
narrativa já estabelecida, mais possibilidade a notícia tem de ser notada”.
Dia noticioso: Traquina (1995) afirma que existem determinados dias em que
poucos assuntos tornam-se realmente importantes, sendo necessário dar-lhes
visibilidade, ou seja, existem dias que fatos que teriam pouca importância
conseguem adquirir status de primeira página;
Disponibilidade: de acordo com Traquina (1995) este critério se verifica no
momento em que existe a facilidade de se realizar uma cobertura jornalística. Ainda
conforme o autor, o acontecimento deve ser estudado para conferir se vale a pena a
cobrir tal fato, uma vez que não é possível mencionar todos os fatos;
Dramatização e Emoção: estes critérios nos remetem a uma evidência para
os aspectos emocionais e conflitais do acontecimento. Conforme Sodré e Ferrari
(1986), os expedientes discursivos típicos da narrativa sustentam-se na ação e no
detalhamento dos fatos, transformando o leitor em testemunha do ocorrido.
Significância e Expectativa: para Souza (2005, p. 31) “quanto mais intenso
ou relevante for um acontecimento, quanto mais pessoas estiverem envolvidas ou
sofrerem consequências, quanto maior for a sua dimensão, mais probabilidade de se
tornar notícia”;
Notabilidade: este é um critério que fala sobre a qualidade de um fato, não
basta ser importante, deve ser visível. Traquina (2005, p. 79) define esse valor-
notícia como a qualidade de ser visível, de ser tangível, nos dando a idéia de que o
trabalho jornalístico atual está mais voltado à cobertura dos acontecimentos, do que
à problemática;
Notoriedade: critério relacionado com a importância do personagem principal
do fato. Para Traquina (2005, p.79), “a notoriedade do ator principal do
acontecimento é fundamental para a comunidade jornalística”;
Novidade e Fato inédito: a novidade é um tema muito admirado pelos
jornalistas. É o novo e o inédito que mais atraem a atenção do leitor/telespectador;
43. 43
Número de pessoas envolvidas: quanto mais pessoas envolvidas em um
acontecimento, maior a importância atribuídas a este acontecimento pelos
jornalistas. Wolf (1995) esclarece que quando há um grande número de pessoas
envolvidas em um acontecimento, os jornalistas acabam atribuindo importâncias às
noticias;
Personalização: para Traquina (2005, p. 93) “personalizar, entendemos por
valorizar as pessoas envolvidas no acontecimento acentuar o fator a pessoa”;
Proximidade: para Traquina (2005, p. 94), “Outro valor-notícia fundamental
da cultura jornalística é a proximidade, sobretudo em termos geográficos, mas
também em termos culturais”, e, segundo Sousa (2005, p. 31) “proximidade pode
assumir várias formas: geográficas, afetiva e cultural”, explicando que a proximidade
do leitor com o local onde o fato ocorreu desperta o interesse do público e o atrai
para o fato;
Relevância: quanto mais o fato faz sentido e tem importância, mais chance
de ser notado ao tornar-se notícia, De acordo com Traquina (2005, p. 93) “este
valor-notícia responde à preocupação de informar o público dos acontecimentos que
são importantes, porque têm impacto sobre a vida das pessoas”;
Tempo: Traquina (2005, p. 80) destaca que o “tempo em si”, no qual se
acompanha o desenrolar de um acontecimento e seu impacto, aparecendo na
cobertura jornalística sob dois outros aspectos: atualidade e data específica;
Visualidade: refere-se a parte visual da matéria. Traquina (1995) explica que
quanto melhor visualmente o material, melhor a recepção da notícia.
44. 44
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
4.1 MODALIDADE DE PESQUISA
A pesquisadora optou por fazer a análise de conteúdo através da
categorização, empregando os critérios de noticiabilidades. Primeiramente foi feito o
levantamento bibliográfico sobre o tema, em seguida a pesquisa foi dividida em três
etapas, procurando responder: Quantas matérias foram publicadas? Quantas foram
manchetes de capa? Quais os principais assuntos abordados? E quais os critérios
de noticiabilidades encontrados com maior frequência?
Na primeira etapa foi feita análise mensal dos assuntos abordados. Na
segunda, foi selecionada de cada mês, uma matéria destaque, levando em
consideração a relevância e importância da informação contida. E por último, foi
realizada a análise das matérias de capas.
Os métodos utilizados foram: pesquisa quantitativa, qualitativa e também a
análise de conteúdo através dos critérios de noticiabilidades. Para sintetizar e
demonstrar com clareza os dados da presente pesquisa utilizou-se gráficos.
Conforme Fonseca Júnior (2005), a análise de conteúdo é uma técnica que se
refere às ciências humanas e sociais, destinada à verificação de fenômenos
simbólicos por meio de distintas técnicas de pesquisa.
Herscovitz (2007, p. 126/127) define a análise de conteúdo como
[...] método de pesquisa que recolhe e analisa textos, sons, símbolos e
imagens impressas, gravadas ou veiculadas em forma eletrônica ou digital
encontrados na mídia a partir de uma amostra aleatória ou não dos objetos
estudados com o objetivo de fazer inferências sobre seus conteúdos e
formatos, enquadrando-os em categorias previamente, mutuamente
exclusivas e passíveis de replicação.
Assim, pode-se definir a análise de conteúdo como um modelo de coleta de
dados e preparo do conhecimento, através da dedução, elaborada através de
análise.
Para Bardin (1977, p. 42) a análise de conteúdo é