1) O documento comemora 10 anos do Espaço Solidário, um centro que acolhe idosos em Mãe Luiza.
2) Nos anos 90, o Projeto Amigos da Comunidade, ligado ao Centro Sócio Pastoral, reduziu a taxa de mortalidade infantil na região de 60 por mil para 10-14 por mil.
3) O documento celebra a vida e a dignidade dos idosos no Espaço Solidário e homenageia o Padre Sabino, fundador do centro.
2. Foto: Adriano Costa
Em seus 30 anos de carreira o artista plástico
Marcelus Bob homenageia os 10 anos de
existência do Espaço Solidário.
3. Índice
02 - EDITORIAL
03 - APRESENTAÇÃO 03
04 - CAPA: Espaço Solidário
04 - Dez por mil
04
O Projeto Amigos da Comunidade, reduziu o nível de
mortalidade infantil, que era na ordem de 60 por mil.
06 - 10 anos de muita história
14
Desde 2001, o centro acolhe, idosos moradores, alguns
que passam o dia, de segunda a sexta-feira, e outros
que frequentam a casa para participar de atividades
específicas.
07 - Os conceitos de velhice
Compreender melhor essa etapa da vida e refletir a
nossa relação com ela.
08 - As casas que habitam
A relação intrínseca entre os idosos, suas moradas e as
marcas deixadas ao longo do tempo.
12 - Ensinamentos
O legado dos idosos para a nossa formação humana.
14 - VELHICE EM VERSOS
16
16 - FATOS E FOTOS
20 - GENTE DO ESPAÇO 20
22 - VISÕES SOBRE O ESPAÇO
23 - ESPAÇO & CIA
24 - DESPEDIDA
A casa que abriga a nossa velhice.
22
24
4. EDITORIAL Casa de taipa, o marco das
lembranças dos nossos idosos.
Cheiro de barro molhado, fumaça
do candeeiro, retrato de santos
Comecei a fazer parte da história do na parede, criançada sentada no
ESPAÇO SOLIDÁRIO no dia 09 de outubro chão batido esperando a
Foto: Adriano Costa
comida...
de 2008, quando fui nomeado pároco da Um passado vivo nos olhares dos
Paróquia Nossa Senhora de Lourdes pelo idosos!
Arcebispo D. Matias Patrício de Macedo. Obrigado pelo presente!
Comigo chegou também o Pe. Marcelo
Cezarino, que havia sido ordenado dois dias
antes, ou seja, no dia 07. Passamos a morar
em Mãe Luiza, na casa do Padre Sabino.
No meu primeiro contato com o EXPEDIENTE
ambiente do Espaço Solidário, logo me
Diretoria do Centro Sócio Pastoral
chamou a atenção a alegria dos moradores, Presidente
o carinho dos funcionários e a arrumação do Pe. Robério Camilo da Silva
ambiente. Aos poucos fui compreendendo o Vice presidente Idosos Diaristas
Ion de Andrade Abílio Soares da Silva
nível de humanização alcançado pelo Equipe Alice Bezerra da Silva Rodrigues
conjunto todo. Chamou a atenção a grande Josélia Silva dos Santos Ana Maria de Araújo Caetano
vontade de viver de todos os moradores, Edilsa Gadelha do Nascimento Carmelita Alves de Lima
Loyse M. R. M. de Andrade Damião Francisco dos S.
expressa na filosofia de vida da dona Francisca Etelvina de Araújo Elino Galvão do Nascimento
Nenen, que dizia que matava a morte todos Francisca da Silva
Diretor de Redação Francisco Alves Sobrinho
os dias. Ela tem razão. Cada dia vivido é Luiz Marinho Júnior Hilda C. da Silva
uma vitória. Aprendi a olhar para o Espaço Idalina Leite da Silva
Solidário como sendo um oásis, um espaço Diretor de Arte e Diagramação João Felix da Silva
Adriano Costa da Silva José Ribamar Simplício
da esperança, da vida. O tempo foi Josefa Leonardo de Moura
passando e, na convivência com o bairro, fui Projeto Gráfico Josefa Matias da Silva
me surpreendendo com o aumento da Adriano Costa da Silva Maria Emilia do Nascimento
Maria Dias Santos da Silva
violência, principalmente entre a juventude. Revisão Maria da Paz Assunção
Fui refletindo sobre o contraste visível: Aparecida Fernandes Maria do Carmo da Silva
enquanto o idoso quer viver, parte da Maria da Cruz Euflazino
Revisão Final Maria Dias Santos da Silva
juventude está se matando, seja com o Luiz Marinho Júnior Maria Juraci Rodrigues
alarmante índice de assassinatos entre os Maria Julia de Moura
jovens com menos de 25 anos ou pelo Entrevistas Maria Olivia Santos Gomes
Luiz Marinho Júnior Maria das Dores Ciriaco
grande envolvimento com as drogas. Outro Rosimere Vasconcelos (DRT/RN 590) Maria de Lourdes Aparecida
dia, depois do assassinato de dois jovens, Maria de Lourdes Costa da Silva
Fotografias Maria de Lourdes Ferreira
uma idosa me disse: “Padre, eu acho que Adriano Costa da Silva Maria de Lourdes Silvestre
daqui a pouco só vai ter gente velha no Frank Swatman Maria Madalena de Jesus
nosso bairro, pois os jovens estão se Loyse M. R. M. de Andrade Maria Nazaré da Silva
Luiz Marinho Júnior Maria Mercedes da Silva
matando”. Tenho refletido muito sobre isso. Nicole Miesher Marina Vital da Silva
Nossa luta continua para que todos tenham Neuza Ferreira da Silva
vida em abundância como pede Jesus. Capa Odete Silva de Farias
Adriano Costa da Silva Pascoal Barracho de Medeiros
Pedro Matias do Nascimento
Pe Robério Camilo da Silva Impressão Regina Felipe de Santana
Pároco Edú Gráfica Renato Batista de Oliveira
Severina Dantas da Silva
Colaboradores Severina Luiza
Márcio Ribeiro da Silva Tereza Rodrigues da Costa
Silvania Maria da Conceição
Funcionários do Espaço Solidário
Tiragem Adriana de Queiroz Xavier
1.000 exemplares Aildo Saraiva Peixoto
Anísio Roberto de Assis
Idosos Moradores Célia Maria Oliveira da Silva
Ana Maria da Silva, 64 Dayana do Nascimento Vieira de Assis
Ana Hilda Pereira da Silva, 77 Deygreson Rodrigo Soares da Silva
Alaíde Maria da Silva, 87 Francisca Darc Bezerra
Cornélia Otacília da Silva, 82 Gilson da Cruz
Damião Domingos da Silva, 71 Ieda Maria de Souza
Edite Dantas Correia, 80 Iraneide de França Borges
Francisca Maria da Silva, 77 José Carlos Euflausino
Jorge Moreira, 75 Joseane Costa da Silva
João da Cruz de Souza, 76 Joseane Domingos da Silva Gomes
Jovelina Severiano da Silva, 80 Luana Cibely Leandro dos Santos
Padre Robério é pároco da Paróquia Josefa Cardoso da Silva, 98 Luciene Santos da Rocha
José Alves de Farias, 77 Lucileide Barbosa da Silva
Nossa Senhora de Lourdes, José Carvalho, 82 Luiza Belarmino de Oliveira
presidente do Centro Sócio Pastoral Luiz Silvestre, 72 Maria de Fátima da Silva
Luiz dos Santos, 62 Maria Elizabeth de Sousa
Nossa Senhora da Conceição e Maria Auxiliadora Saraiva de Brito, 87 Marly do Nascimento
coordenador do setor das Pastorais Maria Francisca Quirino da Costa, 64 Nágma Lima de Oliveira
Maria de Lourdes Rodrigues, 74 Nailda Soares Ferreira
Sociais da Arquidiocese de Natal/RN. Maria Gasparina da Costa, 72 Patrícia Rodrigues da Silva
Paulo Germano, 89 Quitéria Maria de Jesus
Rita Felipe Dantas, 81 Rosileide Maria de Jesus Costa
Sebastiana de Pontes, 89 Simone Kelly Gomes
Vicência Maria do Nascimento, 85
02 ESPAÇO EM AÇÃO - 2011
5. APRESENTAÇÃO
Celebrar a vida
Dez anos de solidariedade contínua.
Cada minuto preenchido do mesmo conteúdo:
solidariedade. É verdade. No Espaço que o
Padre Sabino idealizou e viabilizou em Mãe
Luiza, para responder às necessidades dos
idosos, existe algo diferente. Não se trata
apenas de mais uma casa de longa
permanência, nem tão pouco um abrigo para
idosos. É um espaço para a vivência da
Solidariedade. É um verdadeiro espaço de
Centro Sócio convivência. Lá, o cuidador também é
cuidado. Tudo é celebração, porque a vida é
vivida com muita intensidade. Seguindo a
metodologia da participação, os moradores
Centro Sócio Pastoral Nossa Senhora da Conceição, são parte ativa, grandes colaboradores; tudo
situado em Mãe Luiza, existe desde 1983 e foi fundado pelo é resolvido na famosa roda de conversa,
Pe. Sabino Gentili. Iniciou suas atividades com cursos quando a vida é partilhada e respeitada.
Dignidade acima de tudo, gerando qualidade,
profissionalizantes e uma escolinha de alfabetização para e tudo isso alimentado pela força
crianças, a Escola Espaço Livre, e com cursos de transformadora do Evangelho, que é o amor.
alfabetização para adultos. Seguiu seu caminho com ações Por isso, nestes dez anos de existência,
na área da saúde da criança, com o Projeto Amigos da celebramos a vida, na sua maturidade
Comunidade, com a construção da Casa Crescer, de segundo carregada de experiências enriquecidas na
partilha, descarregadas nas lembranças;
turno para jovens, com a urbanização da favela do Sopapo e, celebramos a vida não como um peso, mas
finalmente, com o Espaço Solidário com muita intensidade, alimentada pela
Ao longo destes vinte e oito anos, o Centro esteve à alegria da vitória cotidiana. Parabéns, Padre
frente da organização de diversos seminários comunitários Sabino, pela bonita atitude de amar o próximo;
esta festa chega ao céu e daqui escutamos
em Mãe Luiza. Os vários seminários discutiram a infância, a sua gargalhada de satisfação; escutamos
saúde, a adolescência, a mobilização política e o você dizer não mais: “tá compreendendo?”
desenvolvimento do bairro. Cada vez que um seminário era mas, vocês compreenderam. Parabéns a
organizado, uma nova atividade do Centro surgia. todos os que fazem O ESPAÇO; à
Dizia o Pe. Sabino que o Centro deveria cumprir a administração, aos funcionários, voluntários,
moradores e diaristas por mostrarem a beleza
missão e ser a instituição meio, através da qual a credibilidade da convivência na diversidade. Não basta
da Igreja Católica poderia ser oferecida à comunidade para deixar a vida me levar. Tenho que viver e não
levantar os caídos e ser fermento para a organização do povo; ter a vergonha de ser feliz.
um espaço instituído para ajudar a resolver os problemas da
comunidade.
A história do Centro continua e, atualmente, na gestão
Dedicatória
do Pe. Robério, temos novos desafios. O espírito de ação e
trabalho, entretanto, continua o mesmo. Hoje comemoramos Ao padre Sabino (In Memorian),
os 10 anos do Espaço Solidário e, logo, logo, pela eterna presença.
comemoraremos a concretização do Ginásio Poliesportivo da Aos idosos, pela vivência
Escola Dinarte Mariz, que trará mais espaços de esporte, compartilhada.
lazer e cultura para a comunidade.
O Centro Sócio-Pastoral continua presente na
comunidade e vai onde há maiores necessidades.
Foto: Nicole Miesher
ESPAÇO EM AÇÃO - 2011 03
6. CAPA: Espaço Solidário
Assim se passaram
dez anos
Não me pergunte pela minha idade, porque tenho todas as idades. Eu tenho
a idade da infância, da adolescência, da maturidade e da velhice”.
Cora Coralina.
Projeto Amigos da Comunidade
| Ion de Andrade
A
s ações na área da saúde do Centro Sócio pensar em saídas possíveis. A partir do projeto, a
Pastoral se iniciaram de maneira mais mortalidade no bairro passou a cair, alcançando
sistematizada com o Projeto Amigos da números que passaram a girar entre 10 e 14 por mil.
Comunidade, no início dos anos 90. Este montado O principal grupo de causas reduzido foi o das
projeto foi montado para en- diarréias, que correspondiam à
frentar os níveis muito elevados época a praticamente metade dos
de mortalidade infantil no bairro, óbitos, seguidos das pneumonias.
da ordem de 60 por mil. “O Projeto Amigos Ao longo dos dez anos de
No projeto, um grupo de 10 da Comunidade, funcionamento do projeto,
visitadoras de saúde visitava reduziu o nível de assistimos a uma redução
todas as gestantes e crianças progressiva dos problemas
com menos de um ano, com
mortalidade infantil, relacionados à saúde materno-
visitas temáticas mensais. Elas que era na ordem de infantil e, simultaneamente,
discutiam com as mães sobre 60 por mil para 10 fomos acompanhando o
aleitamento materno, diarreias e por mil” crescimento dos problemas na
reidratação, pneumonias, área da saúde dos idosos. Por
vacinas, alimentação no primeiro esta época, o programa de
ano de vida, dentre outras e se agentes comunitários de saúde foi
dentre outras e se tornavam referência para as agentes comunitários de saúde foi implantado no
mães no que toca às questões de orientação à bairro, o que representou, embora não com os
saúde. mesmos métodos, uma responsabilização do poder
No grupo, tínhamos reuniões semanais para público pela atenção à saúde neste nível.
discutir cada caso mais preocupante e pensar em A análise dos fatos e o diálogo com a
04 ESPAÇO EM AÇÃO - 2011
7. O encontro com
idosos e famílias
em dificuldade
| VISITADORAS: Elizabeth Sousa,
Francisca Darc de Assis,
Joseane Gomes, Nailda Ferreira,
Marli do Nascimento e
Simone Kelly Gomes
R
efletindo sobre a situação dos
idosos em nossa comunidade, nós
visitadoras que trabalha-mos
hoje no Espaço Solidário, con-cluimos: a
maioria dos idosos morava em casa e
eram bem cuidados, mas tínhamos que
ter um olhar para os que estavam em
dificuldades.
Passamos a visitar os idosos em
situação de risco. Começamos a escutá-
los e prestar atenção a cada situação.
Alguns idosos se queixavam de
que, quando se ficava velho, não se tinha
mais nem ouvidos nem voz. Outros
moravam sozinhos. Muitos tinham que
cuidar de netos sem a menor condição de
fazê-lo.
Nós começamos a nos tornar
confidentes, ouvindo queixas e lamentos.
Muitos idosos reclamavam que ninguém
conversava com eles. Um senhor chegou
a perguntar: “será que idoso é
contagioso?”
Observamos que alguns idosos
passavam a dormir na sala ou no corredor
comunidade foi demonstrando à equipe a necessidade de para deixar o espaço para filhos ou netos.
mudarmos o foco e de termos uma ação focada na atenção ao Passamos também a escutar as
idoso. O envelhecimento da população em Mãe Luiza foi famílias. Muitas com preocupações por
revelando problemas diversos como solidão, ausência de não poder dar toda atenção ao idoso.
famílias ou de relações sociais e afetivas e até mesmo caos de Outras com mágoas de um passado de
exploração e violência contra idosos. relações difíceis. Uma visitadora lembra
que a filha de uma idosa perguntou: “Só
Este conjunto porque mãe tem cabelos brancos que
de coisas foi o motor tenho que esquecer o que me fez
da criação do Espa- passar?!”
ço Solidário, e a Nessa convivência de partilha e
maioria das visitado- aconselhamento, foi preciso, em alguns
ras de saúde do pro- momentos, tomar medidas, colocar
jeto Amigos da alguns idosos em Instituição fora de Mãe
Comunidade foi Luiza, sabendo que isso representava
incorporada à nova uma ruptura e um distanciamento da terra
iniciativa do Centro, que eles tinham conquistado a duras
penas.
que antecipou, na Foi por essas problemáticas que,
leitura sobre os aos poucos, o sonho foi nascendo! Mãe
Dr. Ion Andrade é pediatra e
problemas de Mãe Luiza precisava de um espaço que
sanitarista por vocação, geriatra
Luiza, a necessida- pudesse acolher o seu idoso, um espaço
por destino. Acompanha as
de de cuidados para que pudesse ajudar a fortalecer relações.
atividades do Centro há mais de
os nossos idosos.
vinte anos.
ESPAÇO EM AÇÃO - 2011 05
8. CAPA: Espaço Solidário
Espaço Solidário
O
Espaço Solidário foi se
10 anos
construindo na urgência
de dar uma resposta aos
idosos da comunidade. Ele
pretende proporcionar qualidade
de vida, assegurando direitos,
quer ser um espaço de
de muita história!
de muita história! aprendizagem permanente de
2001 - 2011 reflexão sobre questões do
| Loyse de Andrade envelhecimento e aspira a ser um
elo entre idosos, familiares,
N
o Brasil, como no mundo, a população idosa vem comunidade e sociedade.
crescendo. Nos anos 70, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro Desde 2001, o centro fun-
de Geografia e Estatística ela correspondia a ciona nas modalidades de
3,1% da população. Em 1995, o número Instituição de Longa Per-
subiu para 4,9% e hoje chega a 10,4 %. manência, Centro Dia e
Os cálculos indicam que até 2050, 30 % Centro de Convivência. Ele
das pessoas no país terão 60 anos ou “Os cuidados e acolhe, hoje, 24 idosos
mais. Proporção quase 3 vezes maior carinhos inspiram moradores, 15 a 20 idosos
que a dos dias de hoje. segurança; a inserção que passam o dia, de se-
Em Mãe Luiza, a realidade não é gunda a sexta, e mais uma
diferente. Em 2000, as pessoas a cima nas tarefas média de 30 idosos que
de 60 anos representava 6,9% da popu- domésticas favorece a frequentam a casa para
lação (1117 idosos). A média na época, sensação de participar de atividades es-
era bem inferior a média nacional, pro- pecíficas. Entre eles, 12%
vavelmente devido à situação de exclu-
pertencimento”
têm menos de 60 anos,
são social sofrida pelos moradores do 30% têm entre 60 e 70
bairro. Hoje a situação mudou. Os da- anos, 32% entre 71 e 80
dos do IBGE 2010 apontam para uma anos e 26% têm acima de
dos do IBGE 2010 apontam para uma média acima da média 80 anos.
nacional. Os idosos do bairro representam 10,8% da população Hoje contamos com uma
(1622 idosos). Esses novos dados revelam a permanência dos equipe de trabalho de 27 pessoas,
idosos na comunidade e aponta para um exílio dos mais jovens. cuja maioria consta de moradores
A expectativa de vida no país aumentou e passou de 70 anos do bairro.
em 1999 a uma média de 73,1de vida no país aumentou e passou de O idoso que freqüenta diária
70 anos em 1999 a uma média de 73,1 anos em 2009. As mulheres ou ocasionalmente o Espaço
têm quase 10 anos a mais de mulheres têm quase 10 anos a mais de Solidário busca ampliar os seus
esperança de vida que os homens (elas vivem em media até 77 espaços de convivência. Os
anos, enquanto eles, até 69,4 anos).
cuidados e carinhos inspiram
O Brasil avançou muito nas políticas públicas voltadas para as
segurança; a inserção nas tarefas
questões da velhice, porém ainda há muito a fazer. O Estatuto do
domésticas favorece a sensação
Idoso, Título I, Artigo 3, afirma: É obrigação da família, da
de pertencimento; as reuniões e
comunidade, da sociedade e do poder publico assegurar ao idoso
passeios semanais incentivam a
com absoluta prioridade, a efetivação do direito a vida, à saúde, à
alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, participação e a cidadania; a fisio-
à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência terapia, terapia ocupacional, pis-
familiar e comunitária. cina, massagem e cuidados
Sabemos também quantas famílias são vulneráveis e individuais fortalecem a auto esti-
privadas de direitos. Compartilhamos com as famílias e os idosos as ma; o acompanhamento à saúde
alegrias da convivência e as angústias que o envelhecimento pode previne e ajuda a viver com digni-
provocar numa estrutura familiar já fragilizada. dade; as festas e encontros inte-
Sabemos que, hoje, menos de 1% da população de idosos gram; as missas e celebrações
mora em Instituição de Longa Permanência. confortam.
06 ESPAÇO EM AÇÃO - 2011
9. Os conceitos de velhice
que permeiam o Espaço Solidário
| Idosos e equipe
O
Espaço Solidário está Observou-se que por ser otimista do seu passado,
sempre buscando com- uma fase perto do fim da vida, a relatando, aos poucos, também
preender melhor essa velhice nos remete à morte e as alegrias dos bons momentos
etapa da vida que é a velhice. Em constatamos o medo que certos lembrados.
reunião, tentamos refletir sobre a idosos sentem, principalmente ao Ao refletir sobre esse fato,
nossa relação com a velhice. anoitecer. Percebemos também pensamos que quando pessoas
como nós, cuidadores, têm um espaço de carinho,
Breve relato: precisamos lidar com esse acolhida e participação, quando
se tornam confiantes e seguras
Lembramos do Padre por se sentirem amparadas, elas
Sabino que nos dizia que têm maiores condições de
trabalhávamos antes de tudo, “ A velhice é repensar (reconstruir) o seu pas-
com pessoas, com gente cuja somente a sado de forma mais leve.
trajetória de vida os fez chegar à Pensando a própria velhice,
velhice. Trabalhamos com continuação de os idosos acreditam que é um
cidadãos de direitos. uma vida que privilégio ter se chegado a essa
O nosso trabalho visa ao idade, mesmo se, às vezes,
bem estar do idoso, queremos durou, ela é a vida queriam poder voltar no tempo.
que ele possa continuar no que toda” Comentam sobre os aspectos
gosta e no que quer na medida do difíceis da velhice, como as
possível. limitações e perdas de toda
A equipe se coloca como ordem que chegam com maior
sensível às necessidades do intensidade nessa fase.
idoso, tentando atender suas precisamos lidar com esse Os idosos lembram o
demandas numa troca de sentimento. quanto as alegrias e o sofri-mento
relações (pensar o idoso como Sentimos às vezes o desejo da vida fizeram deles o que são
sujeito). O nosso trabalho está de ver uma vida se terminar por hoje. Relatam a impor-tância das
todo voltado para que o idoso ter se tornada difícil e sofrida. Um relações de afeto e carinho
possa ter uma vida digna e plena. desejo que nos remete ao colocadas como indis-pensáveis
As dificuldades que en- sentimento de compaixão, de para se viver bem.
contramos ao lidar com a velhice querer saber o outro em paz. Segundo toda equipe do
é, às vezes, o descompasso que 10 anos de história permite Espaço Solidário: A velhice é
existe entre os desejos de inde- fazer algumas consta-tações: somente a continuação de uma
pendência e as possibilidades Moradores do Espaço vida que durou, ela é a vida toda.
reais que têm certos idosos. Fa-to Solidário que vieram amargos, É a vida inteira! Feita de expe-
que faz com que os cuidados contando histórias de vida duras riências positivas e negativas que
sejam interpretados como e sofridas, passaram ao longo do muito ensinaram.
imposição ou autoritarismo. tempo de convivência, a fazer
Observou-se que por ser uma leitura mais positiva, mais
uma fase perto do fim da vida, a otimista do seu passado,
velhice nos remete à morte e relatando, aos poucos, também
ESPAÇO EM AÇÃO - 2011 07
10. CAPA: Espaço Solidário
A
o pensar os 10
anos do Espaço
Solidário, casa
que ampara a velhice,
imaginamos resgatar as
casas que abrigaram
toda a trajetória de vida
dos idosos.
Acabamos nos
encantando com os
relatos dos idosos sobre
as casas de sua
infância. E foi ao longo
das conversas que
surgiu a ideia de cons-
truir um marco que
pudesse fazer a ponte
entre passado e pre-
sente.
“(Re) construímos
juntos em mutirão a casa
da nossa infân-cia!”
Ela devia ser de
taipa, com um teto de
palha, porta e janela.
Muitos idosos vi-
giaram a construção,
alguns pisaram o barro!
Discutimos o que não
podia faltar na casa!
Aqui está ela! “A
casa da nossa infância
dentro da casa da nos-
sa velhice! Símbolo de
nossa raiz e identida-
de.”
Foto: Luiz Marinho
Fecha –se o ciclo!
08 ESPAÇO EM AÇÃO - 2011
11.
12. CAPA: Espaço Solidário
As casas que habitam nossas lembranças e corações
de vara ou madeira com um col- saco bem limpo. cer ou num buraco a céu aberto,
chão (feito de junco) e um penico de Atrás das casas, tinha sem-pre feito no fundo do quintal, prote-gido
barro ou de ágata, debaixo da cama. uma latada (puxado coberto com apenas por alguns pedaços de
Havia também um cabide de parede palhas de coqueiro, sobre duas madeira para a acomodação de
para pendurar as rou-pas em uso e forquilhas e três linhas) feita para quem precisasse usar.
uma mala grande ou um baú de proteger o jirau de varas onde se Na maioria das casas, cos-
madeira, para as roupas limpas e lavava toda a louça, numa bacia de tumavam criar um cachorro vira-
reservadas para as ocasiões alumínio ou aguidá² de barro. Um lata, que era como da família. Este
distintas (feira, missa ou festa). E torno (uma espécie de suporte de ajudava nas caçadas e tomava
em algumas casas, quando suas madeira enfiado na parede) para conta da casa, dando conta de
donas eram mais vaidosas, o baú pendurar todo tipo de tralha (corda, quem chegava ou saía. Geralmen-
servia para guar-dar os enfeites e arreios, cangalha...). A jarra com te, tinham nomes de peixes
cuidados femini-nos, tais como água para lavar a louça da casa e os (Tubarão, Tainha, Baleia), salvo
brincos, trancelim¹, pulseira pés de todos, antes de dormir. apenas Duke para os machos e
(folheados a ouro, vindos do O banheiro – quando tinha – Tuninha para as fêmeas.
Juazeiro e Canindé), colar e era de palhas de coqueiro no meio do “Na casa de nossa infância”
diadema. E também vaselina Zezé, quintal. Em algumas casas, era uma pouco se brincava. Nestas as
água de cheiro, baton, ruge e pó de brincadeiras aconteciam junto com
arroz (tudo comprado na feira) para as obrigações. No roçado, ajudando
o embelezamento das patroas o pai no cuidado da la-voura, na
(como os homens se refe-riam as mata, juntando a lenha para fazer os
suas mulheres respei-tosamente) e “ Cheirava a barro feixes, no rio ou ca-cimba,
das mocinhas. buscando água para abas-tecer os
O último vão da casa era a molhado no inverno, potes e jarras da casa. Dormia-se e
cozinha e um reservado, uma es- quando chovia; a flor acordava-se cedo, daí não se tinha
pécie de despensa, munida de um tempo para brin-cadeiras. Salvo
jirau pendurado no teto para guar- de Benedita, quando se ia a alguma quermesse
dar a mistura (todo e qualquer tipo maracujá e jasmim ou para um grupo escolar da cidade
de carnes). Nesta se achava o fo- em que se morava (o que só alguns
gão, que quando não era no chão, na primavera ” puderam frequentar).
feito com três pedras e uma trem-pe
em cima para por as panelas de O cheiro da nossa infância
barro, era feito em cima de um jirau
P
onde podia se colocar até três bocas ara finalizar, lembraram-se
com trempes. Embaixo destes era uma peça única (um retângulo ou do cheiro “da casa de nossa
guardava-se a lenha para o uso um quadrado também de chão de infância”. Cheirava a barro
diário. A lenha para abastecer o fogo areia onde se colocava madeira ou molhado no inverno, quando chovia;
era pega no mato. Os pais iam para então algumas pedras que resolviam a flor de Benedita, maracu-já e
as matas, cortavam a lenha com o problema); em outras, era dividido jasmim na primavera; a chá de
foice e transportavam-na em feixe em duas partes. Uma para o banho, alecrim, capim santo, louro e ci-
sobre a cabeça, em carroça ou no onde eram coloca-dos uma jarra e dreira no outono; a mangaba,
lombo dos burros (jegue), arrumado um caneco e, na outra, uma latrina maçaranduba, canjarana, araçá,
nos cambitos. Os mantimentos (espécie de bojo sanitário feito de manga, goiti, jaca e cambuí no ve-
menos perecíveis eram guardados barro). Esta era a realidade das rão; a mingau de araruta, ave de
num caixote amarrado com corda ou casas mais urbanas. Nas casas do arribação, nambu e piaba assada na
com peia de couro, e o cadeado era i n t e r i o r, p r i n c i p a l - m e n t e a s brasa, galinha caipira torrada na
um nó. A louça de barro ou de ágata ribeirinhas, o banho acon-tecia no rio panela de barro, feijão verde com
era acomodada numa tábua grande ou lagoa, onde também era lavada maxixe e coentro cozido na água e
do lado oposto, um pouco acima do toda a roupa da casa. E quando não no sal, café torrado no caco, cocada
fogão, ao alcance da mão. E um existia latrina, as necessidades eram e bala de coco em todas as
pote com água limpa para beber e feitas no mato, durante o dia, e, à estações...
cozinhar, coberto com um pano de noite, num pinico de barro ou ágata
saco bem limpo. cujos dejetos se atiravam no mato,
Atrás das casas, tinha logo ao amanhe-cer ou num buraco a
sempre uma latada (puxado coberto
¹Trancinha. Fio ou cordão delgado de ouro.
²Alguidar: vasilha de barro ou metal, rasa, em forma de tronco ou cone invertido, muito usada em cerimônias religiosas de origem africana.
10 ESPAÇO EM AÇÃO - 2011
14. CAPA: Espaço Solidário
| relato da equipe
N
ós, da equipe do Espaço sos. Todos nós colocamos que
Solidário, refletimos, em aprendemos a enfrentar e lutar
reuniões, sobre o legado pela vida com toda sua dificulda-
dos idosos para a nossa forma-ção de. Que não devemos nos abater e
humana. que, mesmo com toda a adver-
Alguns falam da admiração sidade, temos que compartilhar o
que sentem por certos idosos que temos de bom com as outras
quando observam a vontade que pessoas. Aprendemos a ter mais
eles têm de viver. Às vezes, mes- paciência com as debilidades dos
mo muito debilitados, curtem mo- outros, a ter mais paciência
mentos como um banho, um conosco também.
simples pentear de cabelo, um A nossa convivência com os
cheiro de comida, uma demons- idosos alargou nossa percepção
tração de carinho, superando as- da vida, aprendemos a nos alegrar
sim limitações. mais.
Outros falam da agressi- Somos muito gratos a cada
vidade de certos idosos, forma de um dos idosos pela contribuição a
expressão que motivou a equipe a nossa formação humana.
aprender a interagir sem medo e
com respeito.
Temos certa satisfação ao
Nossos desafios
ver idosos que não aceitam tudo e
O
revidam quando se sentem agre-
didos. Gostamos de ver idosos s desafios são muitos, pois
buscando ao máximo sua inde- manter a Casa na direção
pendência, mesmo com importan- que pretendemos, exige
tes dificuldades visuais. dedicação permanente.
Gostamos de ver idosas que O Espaço Solidário, com
dividem com outros o que têm de seus inúmeros atores (equipe,
melhor (poesia, cordel, canto, idosos, colaboradores variados,
receita, mas também carinho, comunidade, etc.), vive em relação
preocupação, cuidado...) permanente com a diversidade
A relação com os idosos da humana em todos os seus
casa é tão intensa que há momen- espaços. Nós não queremos
tos em que não sabemos se so- somente aprender a tolerância e
mos nós que cuidamos deles ou se respeitar as diferenças, queremos:
são eles que cuidam de nós. Incorporar as diferenças,
Quando temos dificuldades fazer delas novas possibilidades
em lidar com um idoso, tentamos para que possamos crescer na
transformar a experiência negati- diversidade, pois segundo
va em aprendizagem. Taramarca (2005), é somente na
Muito se poderia dizer so-bre diversidade que se constrói a
o que aprendemos com os ido-sos. nossa humanidade!
To d o s n ó s c o l o c a m o s q u e
12 ESPAÇO EM AÇÃO - 2011
16. VELHICE EM VERSOS
Poemas
Um lugar bom de viver Um lindo cantinho O Dia do Idoso Uma mãe macho
| ALUNOS DA CASA CRESCER | ALUNOS DA CASA CRESCER | Mª de Lourdes C. da Silva | Mª de Lourdes C. da Silva
Giovanna Michele Santos, 13 anos Francisco Bartolomeu Lopes, 14 anos
Jonathan Cardoso Ferreira, 13 anos Leandro José do Nascimento, 14 anos Peço ao Espírito Santo
Sayonara Gomes da Silva, 14 anos Marcel Mendes, 14 anos
Thiago Alexandre, 15 anos Como é boa a nossa velhice Ele me dá guia e luz
Na nossa terceira idade Com a força de Jesus
Ajudar no meu trabalho
Depois de coroa achada
O Espaço Solidário O bem eu procuro e acho
Com essa vida avançada Os filhos pra mãe é tudo
Se encontra em Mãe Luiza Nos dias de hoje Para nós elas fazem festa Só penso no seu futuro
Fundado em 2001 Os idosos têm que merecer Foi embora todo estresse Porque sou uma mãe macho
Para abrigar nossa bisa Um lindo cantinho Nós sentimos mais segurança
Para se fortalecer Pra chegar lá não tem pressa Onze filhos pra criar
Lá vivem muitos idosos Pelo o pai abandonados
Porém alguns não moram lá Esse cantinho tem coisas A mãe estava presente
Vivendo sempre ao seu lado
Alguns passam o dia Para se admirar As vezes eu falava alto
E sua família vão lhes buscar Piscina e um jardim Como foi bom este estatuto Era o meu desabafo
E amigos a encantar O idoso vive melhor Exausta e com sofrimento
O ambiente é muito rico Francisca já fez 80 Sempre sendo uma mãe macho
Fresco e arejado Os idosos à espera É uma tataravó
Gosta de viajar só Eu faço o que estou dizendo
Pois de natureza De amigos, familiar E digo o que estou fazendo
Ele está rodeado No pátio do Espaço É lúcida que admira
Dá inveja pra família Filho tu siga meus passos
A conversar e descansar Sempre o que prometo eu faço
Como é forte a minha avó
Sua comida é variada Digo a Deus muito abrigado
Peixe, frango ou carne Essa imagem Nós nunca passamos fome
assada Também nunca fomos errado
Nos chamou muita atenção
Porque sou uma mãe macho
Feita com carinho Ao irmos visitar Viva nós da terceira idade
Pelas pessoas da casa Essa instituição Viva quem criou esse dia Ô meu Deus muito obrigado
Viva a nós de Mãe Luiza Por tudo que tens nos dado
Um lugar bom de viver Chama-se Espaço Solidário Vivendo com alegria Por Jesus fomos criado
E também de se morar Esse grande coração Os filhos podem entender
Viva nossa superiora
E toda hora agradecer
Os idosos passam boa parte Um cantinho especial Muita paz pra elas todas A Lourdes que estava ao lado
do tempo Na nossa memória e na do Deus anda em nossa guia O melhor que eles merecem
No pátio a descansar ancião. Será que somos vencedoras? Porque tem uma mãe macho
Com a Altura da Idade a Casa se Acrescenta
| Fernando Echevarría, in “Figuras”
Foto: Adriano Costa
Com a altura da idade a casa se acrescenta.
Não é que aumente a quantidade ao espaço.
Mas, sendo mais longínquos, o desapego pensa
maior distância quando se fica a olhá-lo.
Ou, se quiserem, uma realeza
se instala à volta dessa altura de anos,
de forma a que os objectos apareçam
na luz de quase já nem os amarmos.
Então a casa distende-se na intensa
inteligência de estarmos
a ver as coisas amarem-se a si mesmas.
Ou com a forma a difundir seu espaço.
FOTO: http://www.babelmatrix.org/works/hu/Echevarr%C3%ADa,_Fernando
14 ESPAÇO EM AÇÃO - 2011
17. Cordel
Alice de nossas vidas A comadre não sabia
Um detalhe importante:
No exercito brasileiro
Procurou o capitão
A marinha brasileira
Não gostou do visual
| Wilson Palá
O danado do peru Pedindo-lhe sem rodeio Remanejou as famílias
Mancava a todo instante A ordem de permissão Do habitat natural
E a sua perna torta Para poder se mudar Vindo pra Mãe Luiza
Em mil novecentos e trinta Era a prova relevante. Usando o caminhão. Como destino final.
Alice Palá nasceu.
Eram 04 de agosto A perna do tal peru E no dia combinado Alice comprou uma casa
Quanto o fato aconteceu. Já estava enterrada E como foi prometido Com a indenização.
Nas terras de Goianinha Misturada com as penas A gurizada embarcou Da beira do mar saiu
Essa menina cresceu. Num buraco na estrada. Pro destino decidido Não por sua decisão.
Alice, porém provou Sabendo que em Natal E veio subir o morro
Uma criança sapeca, Que a comadre foi a ladra. Nada estava garantido. Pra completar a missão.
Resolvida e animada
Falava com todo mundo, E da sua esperteza Na praia de areia preta A entrada em Mãe Luiza
Não tinha medo de nada Zé Bernardo já sabia Chegou a família inteira Foi um tanto triunfal
E quando moça, mostrava Pois vivia a visitá-la Construíram um casebre Parecia comitiva
Que era determinada. No local de moradia Em uma vila praieira De um dia especial
Sendo o Zé bonitinho Feito de vara e barro Treze filhos era o legado
De exemplo, vou contar: Seu companheiro e guia. E pedaços de madeira. Daquele jovem casal.
Quando sua mãe, Chiquinha,
Sentiu falta de um peru Zé Bonitinho ficou E bem na praia do pinto No bairro de Mãe Luiza
Só duvidou da vizinha Por Alice apaixonado. Ergueram o novo lar Wilton, porém chegou
Mas não podia provar Quando ia visitá-la Zé Bernardo já estava Fechando a procriação
A certeza ela não tinha. Levava José de lado No instituto a trabalhar Daquela mãe que gerou
E o coração de Alice Ajudando o pedreiro Catorze filhos legítimos
Quando que D. Alice Por José foi despertado. Erguer o museu do mar. Onde só um não vingou.
Com a sua esperteza
Foi procurar no lixo Casaram em quarenta e nove Alice dentro de casa Zé Bernardo e Alice
Para provar com certeza Começando a nova vida. Cuidava dos seus rebentos: Com muita simplicidade
Que a comadre vizinha Com poucos bens e recursos Em primeiro a saúde; Ajudaram a construir
Estava com safadeza. E só a certeza da ida Segundo o alimento Partes da sociedade
Pra uma nova geração Em seguida ela insistia Com 82 parentes
Ainda não concebida. Buscar o conhecimento. Com suas diversidades.
Os primeiros nove filhos Nessa rotina diária Nasceram 14 filhos,
Nasceram em Goianinha: Tentavam sobreviver. 33 netos geraram
Severino, Lourdes e Neco, A família ia crescendo 28 os bisnetos
Dorinha, Cacau e Sinha, Com vontade de viver. Logo se apresentaram
Lindalva, Lúcia e Peta No bairro de Areia Preta E 07 tataranetos
Formavam a primeira linha. 04 filhos iam crescer. As gerações completaram.
No ano sessenta e cinco Veio Manoel Maria Alice determinou
O destino era Natal. Chamado de Severino. Até as forças perder
Foram quase retirantes Logo depois vem Antonio E a cada um que gerou
Em busca da capital Fuçando o seu destino Nunca deixou de atender
Para melhorar de vida E Betinha aparece Até o último dia
Como meta principal. Com o lado feminino. Que veio a falecer.
Zé Bernardo vem na frente Inda da praia do pinto Em 21 de agosto
Pro trabalho garantir. Wilson vem encarnar Desse ano corrente
A família ficou lá Foi o último a nascer D. Alice desencarna
Sem como poder partir. Naquele belo lugar Frágil mas consciente
Alice bem decidida De dunas altas e brancas
Alice Palá de Souza A solução foi provir. Entre a mata e o mar.
Dizendo no seu olhar
Que sempre estará presente.
04/08/1930 - 21/08/2011
ESPAÇO EM AÇÃO - 2011 15
18. FATOS E FOTOS
RASTROS DE
Conhecendo o Parque da Cidade
Na praia da Redinha “velha”
Visita ao Parque das Dunas
16 ESPAÇO EM AÇÃO - 2011
19. CONVIVÊNCIA
Iate Clube Natal
Reunião semanal no Espaço Solidário
Apreciando a vista no Norte Shopping
ESPAÇO EM AÇÃO - 2011 17
20. FATOS E FOTOS
RASTROS DE
Vista do Iate Clube
Passeio em Ponta Negra
Aquário de Natal em Santa Rita
18 ESPAÇO EM AÇÃO - 2011
21. CONVIVÊNCIA
Mirante da Redinha
Pôr-do-sol na Pedra do Rosário
Entardecer no Potengi
ESPAÇO EM AÇÃO - 2011 19
22. GENTE DO ESPAÇO
Parafraseando o quadro de entrevistas Gente do Morro, presente no jornal Fala Mãe Luiza,
periódico de responsabilidade do Centro Sócio que também compartilhou com a comunidade
esses 10 anos de Espaço Solidário, apresentamos o Gente do Espaço. Emprestamos do Fala
duas entrevistas, uma de Maria da Conceição Varela, já falecida, e outra de Jovelina da Silva,
80. Ambas moradoras do centro de convivência compartilharam conosco suas experiências
de vida e vivência comunitária.
“Eu nasci na era 18 no dia de Nossa lá bem mocinha... Sempre gostei muito de com menino nos braços logo cedo. Acho que a
Senhora. Já sabe o dia, não é?” É a resposta criança. Quando morei no Rio de Janeiro bagunça nas ruas é maior, tem muita gente
que dona Nenê tem pra quem deseja saber trabalhei numa creche uns nove meses e lá me fazendo besteira a noite na rua. Mas o povo
suas origens. Maria da Conceição Varela, perguntaram. – Você prefere cuidar de nênia ou hoje é mais sabido.
conhecida como Nenê desde criança, tem 82 menino? Aí eu respondi: – O que vier eu tomo
anos. Ela nasceu em Pedro Velho-RN, mas conta! A freira chefe riu e disse: – Ah! Você é das
morou em Várzea e Nova Cruz, também na terras de Lampião, por isso é tão valente! É... Futuro
região Agreste. quem chegava lá no sul, vindo do Norte era
Apesar de muita lucidez, ela não tem certeza chamado assim. Perdi minha mãe cedo, eu não MVC: É ter confiança em Deus e trabalhar que
de quando veio morar em Mãe Luíza, conta me lembro dela, sei que chamava-se Joana e a gente vence. Hoje é tudo mais fácil. Quando
que morou na Rua Oeste, no Alecrim e de morreu de parto no 25º filho. Eu sou uma das eu era criança a gente tinha que plantar e
acordo com as contas, faz mais de 30 anos derradeiras e fui criada por 3 gênios, primeiro arrancar batata, milho, arroz e feijão na roça, e
que está em Mãe Luiza, na casa que divide pelo irmão mais velho, Severino, bebia e batia a gente via onça pintada bem pertinho...
com o sobrinho Eduardo – 38 anos, o qual na gente, depois por Pedro (irmão) e por último naquele tempo não tinha nem energia elétrica.
cuida desde os quatro meses de idade. por Chico que era Cabo da Polícia. Uma vez estava com meus irmãos assando
Com muito bom humor ela cativa todos que a Nunca fui à escola e as rimas que sei foi meu castanha e brincando no mato, aí o fogo tomou
visitam contando suas histórias da juventude irmão Pedro que lia pra mim e eu decorei. Ele conta de um canavial, saímos correndo
junto aos irmãos e nas casas onde trabalhou. aprendeu a ler com mamãe. aperreados e um dos irmãos nem foi pra casa,
Além dos serviços domésticos fazia mandado, fugiu com medo de apanhar. O dono das canas
foi lá em casa reclamar a papai, que lhe
levava encomendas. ”Eu gostava de sair, Deus respondeu: - Agora já queimou, o senhor
andava ligeiro, num instante eu ia e voltava.”
Há cerca de um ano, depois de sofrer uma manda cortar e levar pra o engenho e ta
MVC: Deus é tudo, é meu pai, é tudo... Uma resolvido. Dessa vez a gente não apanhou.
queda D. Nenê sente dificuldades para andar, ocasião estava numa casa de pessoas crentes
porque uma perna ainda dói muito, mas Mas eu sempre fui muito medonha.
fazendo aquela ladainha. Eles me cercaram pra
movimenta-se dentro de casa com a ajuda de tentar me converter e aceitar Jesus, ai eu disse
alguém. D. Nenê passa a maior parte do tempo
bem atrevida, empurrando eles... – Chega pra sentada. Segundo ela sua maior distração
lá, eu estou aqui porque Jesus consentiu que eu atualmente é contar histórias.
As histórias viesse, se ele não quisesse eu não existia!
MVC: “Me distraio assim, contando história,
MCV: Ah! Tem tantas... mas vou contar passo mais o tempo. Sou aposentada, não
umas... Eu trabalhei 16 anos na casa de uma Os dias atuais
faço quase nada... mas já trabalhei muito em
família muito conhecida aqui, os Farache. casa de gente grande, como os Alves, Marinho
Cheguei lá pra ser babá, depois a cozinheira MVC: De uns tempos pra cá tudo mudou, as
meninas hoje crescem mais rápido e é tudo com e Farache... mas hoje eles nem dão conta da
foi embora, ai eu fiquei cozinhando. Cheguei lá gente.”
bem mocinha... Sempre gostei muito de menino nos braços logo cedo. Acho que a
criança. Quando morei no Rio de Janeiro bagunça nas ruas é maior, tem muita gente
trabalhei numa creche uns nove meses e lá me fazendo besteira a noite na rua. Mas o povo hoje
Conceição Varela
20 ESPAÇO EM AÇÃO - 2011
23. Jovelina Severiano da Silva, 77, Cacimba do Pinto na praia para buscar Melhorias
conhe-cida na comunidade como “Maria água doce. Eu vinha com duas latas de
água no lombo ou trazia nos barris em “Depois de muito tempo, quando já
Bala-bá”, moradora do Espaço Solidário, cima de um burro, ficávamos lá até as havia chegado muita gente por aqui,
fala sobre a sua caminhada no processo dez horas da noite. Quando chegava colocaram uma caixa d'água e mais
de construção do bairro. em casa bebia, dava ao burrinho, tarde a luz elétrica. Então, começou a
tomávamos banho e então, botava o melhorar por que foram botando
animal para dormir”. escola, igreja e o posto. Não tem um pé
Chegada “Eu vendia água para o povo que vivia de castanholas perto do posto da
morrendo de sede. Uma carga de água Guanabara? Fui eu que plantei”.
“Eu vim da minha terra (Picuí/PB) pra cá valia dois mirreis, e não era só eu que “Hoje apesar de ter muita gente que
em 1942, só tinha mato e dois barracos vendia não, tinha outras pessoas que já não presta, Mãe Luiza é bom e melhor
de palha. Na época não tinha posto de morreram como Galego, Geraldo e do que antes. Eu tenho um filho e
saúde, escola, energia elétrica e nem Miguel. Vendia muita água, e foi com netos, quero que eles trabalhem e todo
água encanada. As casas eram muito dia encomendo eles a Deus”.
esse dinheiro que eu fiz uma casinha.
distantes, era só a mata virgem. A casa
Também tinha seu Zé Verdureiro que
que eu morei onde hoje é a Atalaia é a BATE-BOLA
ainda está vivo, o povo chamava ele
casa de “Galego” que foi amigo do meu
assim porque ele vendia verdura”.
marido”. AMOR:
“Luiza era a moradora mais velha, ela “Quando alguém adoecia ia para o Casamento
criava cabra e morava perto da Cacimba Hospital dos Pescadores na Ribeira, lá ALEGRIA:
do Pinto, fazia os partos das mulheres da também pegávamos o remédio, se não Trabalhar
época. Era uma pessoa muito boa, por tivesse a gente usava remédio caseiro. PASSADO:
Eu sei fazer remédio caseiro. Durante a Viagem a Brasília
isso aqui se chama Mãe Luiza”. CONQUISTA:
noite era tudo escuro, não tinha luz
Ser conhecida no bairro
Luta e resistência elétrica. Na época não tinha segurança PRESENTE:
nem soldado, mas tinha o juizado de É bom
“A maior dificuldade sempre foi menores que vinha pegar as crianças TRISTEZA:
conseguir água. Nós íamos até a que ficavam pela rua”. A morte de minha irmã
Cacimba do Pinto na praia para buscar CANTINHO BOM:
Melhorias Espaço Solidário
água doce. Eu vinha com duas latas de
Jovelina
Severiano
ESPAÇO EM AÇÃO - 2011 21
24. VISÕES SOBRE O ESPAÇO
Descortinando a Convivência
| Luiz Marinho Júnior
“Deixa de manha de noite e de dia, toda criança diz que tudo é seu
Hei, menino! Hei, menina! Larga disso, lagartixa
Que nessa ciranda o mundo inteiro é meu, é seu, é meu, é seu...”
Palavra cantada
R
efletir sobre a velhice junto com as crianças e adolescentes da Casa Crescer e da Escola
Espaço Livre, está sendo um transpor de estereótipos, um quebrar de paradigmas
construídos por nossa sociedade altamente focada na ilusão da juventude eterna.
Promover esse debate e troca de experiências, contribuirá sem dúvidas para a construção de um
novo olhar e percepção por parte dessa geração que já percebemos mais aberta ao diferente.
Ao longo desses dez anos de Espaço Solidário, vários foram os momentos em que as
escolas se fizeram presentes no convívio dos idosos. Seja em saraus preparados especialmente
pelas crianças com mamulengos, poesias e músicas, apresentados no pátio do Espaço Solidário,
ou em visitas dos próprios idosos a Casa durante os festejos juninos, aberturas das olimpíadas e
mostras culturais, esse relacionamento se estreita e fortalece laços.
Transformar conceitos, repensar, não é algo fácil. Em certa discussão, percebemos que a
idéia de um abrigo de idosos ainda assusta muitos dos nossos jovens. Para alguns, esses locais
seriam espaços de abandono, lugar de morte e esquecimento. Contudo, após uma longa visita as
dependências do Espaço Solidário e conhecimento de sua rotina, várias percepções mudaram.
“Gostei de conhecer o Espaço Solidário.
limpo, agradável e bem organizado. Quero morar lá
quando for idoso. É um lugar de paz e muito amor”.
Carlos Eduardo Bezerra, 13, aluno da Casa
Crescer.
Para a Casa Crescer e Escola Espaço Livre,
não basta discutir ou visualizar o idoso como algo
distante da realidade jovem. É preciso oportunizar
esse encontro. Promover as sensações visuais,
táteis e auditivas. Descortinar uma convivência que
se faz necessária. Afinal, os índices mostrados pelo
IBGE demonstram que a população idosa no Brasil
só aumenta, e em Mãe Luiza não é diferente.
Aprender a encarar a velhice, na atualidade, como
parte constituinte de um ciclo de vida deve ser algo
natural e dialético.
Ter feito parte desses 10 anos de Espaço
Solidário nos deixa muito orgulhosos, pois sentimos
fazer parte dessa grande construção humana
desenvolvida pelo Centro Sócio em busca de uma
comunidade mais digna e igualitária em todos os
Ilustração produzida por Ivo Gabriel, 6, aluno
sentidos. da Escola Espaço Livre.
22 ESPAÇO EM AÇÃO - 2011
25. ESPAÇO & CIA
Amigos & Parceiros
Como falar do Espaço Solidário sem lembrar da equipe,
amigos e parceiros?
N
ossa equipe é uma turma dedicada e comprometida que ao longo dos anos vêm
THE AMEROPA FOUNDATION crescendo e se aperfeiçoando. Participou ativamente da construção do Espaço
Solidário, refletindo e repensando suas práticas, procurando se apropriar
BASEL - SUIÇA
melhor das questões do envelhecimento. Um grupo que busca superar suas limitações
no cotidiano e sem o qual não seria possível uma comemoração tão bonita e
significativa. Lembramos das famílias que apóiam, questionam e se fazem
presente nos cuidados com os idosos. Pensamos com carinho em seu Martins
(Marcos Antonio Martins) que há anos trabalha como voluntário consertando quase
que semanalmente nossas “cansadas” máquinas de lavar, em dona Dadá (Idalina Leite
da Silva) e dona Hilda (Hilda C. da Silva) costureiras da comunidade que ajustam,
costuram e transformam as roupas dos idosos e em Neide (Edneide Batista de Lima)
que confecciona os bolos (diet e ligth) deliciosos e lindos das nossas festas.
Não podemos esquecer Iracy Garcia, que durante vários anos cuidou das
idosas da comunidade com exercícios e alongamento, de Iara Lopes que alegrava as
nossas reuniões semanais e da profª Maria do Socorro Nunes que promove até hoje
ensaios para embelezar nossas festas
Como seria o Espaço Solidário sem os nossos médicos que nos
acompanham há tanto tempo: Dr. Ion Andrade, Dr. Francisco de Assis, Dra Fátima
Jorge, Dr. Hilton Vilas Bôas, Dr. Iedson Marques do Nascimento, Dr. João Luiz Câmara
da Silva, Dra Lígia Cerqueira, Dra Denise Dantas e, mais recentemente, Dra Lucia
Milena Coelho, Dra Célia Maria de Souza, e Dra Regina Maria Oliveira de Miranda, nos
dando segurança e tranquilidade para lidar com a saúde do nosso idoso.
Association des Recordamos com carinho da família de dona Crinaura Cavalcanti, e da família
Amis de Mãe Luiza
Suisse do Dr. Álvaro Pires, sempre por perto, atentos às nossas necessidades, Grupo de
Oração Peregrinas de Nossa Senhora na pessoa de Nina Rosa Câmara de Macedo
com os bingos anuais que já ajudaram tanto o Espaço Solidário com portas novas,
colchões, ventiladores, e recentemente, as calhas.
Somos gratos a Rede Mais DaTerra na pessoa de Eugênio Pacelli de
Medeiros que diariamente, há anos, vem deixar o nosso pão de cada dia e a Kitanda do
Lucas na pessoa de Luiz Antonio Bentes que também vem deixar semanalmente frutas
e verduras de qualidade!
Agradecemos as inúmeras pessoas anônimas que vêm deixar pão, fraldas,
cestas básicas, produtos de higiene pessoal, dentre outros, apoiando o trabalho e
atendendo concretamente as necessidades da casa e a Margarida Maria Medeiros que
presenteie sempre os idosos com colônias e perfumes.
Que bom que nos fins de semana diversos grupos religiosos e outros vêm
viver e compartilhar momentos com os idosos do Espaço Solidário!
E os nossos convênios e parcerias com as Universidades FARN (Faculdade
para Desenvolvimento do Rio Grande do Norte), UNP (Universidade Potiguar) e UFRN
(Universidade Federal do Rio Grande do Norte, além do IFRN (Instituto Federal do Rio
Grande do Norte), que contribuem de muitas maneiras, inclusive com estudantes de
fisioterapia e enfermagem, interagindo de maneira positiva com os idosos.
Lembramos também da nossa parceria com a Prefeitura Municipal do Natal,
pois o Espaço Solidário está prestando serviço de proteção social especial de alta
complexidade, sendo reconhecido como política de assistência na modalidade de
serviço de acolhimento institucional.
E os nosso amigos da Suíça, Alemanha e Itália. Quantos jovens e adultos já
passaram em Mãe Luiza se encantando e deixando suas marcas? Ao longo de toda
trajetória do Centro Sócio Pastoral se juntaram a nós contribuindo ativamente na
concretização dos nossos sonhos, colaborando na construção de um mundo mais
justo, mais humano.
ESPAÇO EM AÇÃO - 2011 23
26. DESPEDIDA
A casa que abriga
| Loyse de Andrade
A NOSSA VELHICE
E
m várias reuniões, refletimos sobre o significado que o
Espaço Solidário tem para todos nós, tanto os moradores
quanto para os que aqui passam o dia.
Vimos o quanto gostamos desta casa, dos idosos
presentes e de todos que aqui trabalham.
Alguns, de nós, falaram que não tinham mais como
continuar morando sozinhos. Outros, que estavam doentes e que
não tinham ninguém que pudesse cuidar deles.
Comentamos: “aqui é melhor que lá na minha casa!”
Falamos da comida e do tratamento. “Quando me
chamam para tomar banho, eu saio toda cheirosa, perfumada e a
pele toda encerada!” comentou Vivência.
Seu José conta: “É o seguinte, ela (a casa) está na vida da
gente. Eu vivia andando pra lá e pra cá, aqui eu descanso as
pernas.”
Para a maioria de nós, pensamos o Espaço Solidário
como sendo nossa casa.
Foi aqui, que encontramos carinho e apoio.
Outros, que passam o dia no ES, dizem ter duas casas, e
para um Damião, o Espaço é melhor, porque ele não briga com
ninguém.
Carmelita comenta que quando vê a Kombi chegar
passando para pegá-la, já fica feliz.
Ao nos perguntarmos: Essa é a casa da nossa velhice?
Rita respondeu: “aqui é muito bom, mas eu vou levando a vida,
deixando a velhice pra lá ! Não penso na velhice.”
Lurdes relata: “cheguei morrendo e estou viva!”
Jorge, olhando para todos nós, disse: “a velhice está aqui!
Um andando, outro caindo e a gente vai vivendo! A gente se sente
no meio de uma família!”
José Carvalho brinca: “não me sinto velho, sou um garoto
usado!”
Claro que falamos de nossas desavenças, das brigas
entre nós e com a equipe, do nosso sofrimento de, às vezes, não
poder fazer as coisas sozinhos.
Falamos também que a casa nem sempre corresponde às
nossas expectativas. Alguns queriam que se fizesse mais para se
poder voltar a andar, para se poder comer o que se quer, sem
sempre pensar em dieta!
Ao passar esses anos todos compartilhando a
realidade da casa, podemos dizer que aos poucos a casa foi
entrando “na vida da gente.” Hoje muitos entre nós a
percebemos como nossa.
Quando se fala que o Espaço Solidário é a casa aonde
terminaremos os nossos dias, comentamos que preferimos ver a
casa como sendo um espaço de celebração da vida.
Peçamos a Deus para abençoar a todos nós.
24 ESPAÇO EM AÇÃO - 2011
27. Foto: Adriano Costa
Mural grafitado por
Carlos Augusto da Silva Dantas
para a área verde do Espaço Solidário.