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江連浩
ANTÓNIO CONCEIÇÃO JÚNIOR
ANTÓNIO CONCEIÇÃO JÚNIOR
4 5
PISTAS
E vieram as Leis da Física e Homens que se puseram a desenhar, repartindo, cada qual a seu
modo, na extensão da superfície, marcas de ação submetida a leis tão finas e tão secretas que
se não alcançam, batizando-se acaso.
Porém, o que aos humanos se apresenta gerado por acidente, é criação inevitável da mace-
ração do tempo e do rigor das Leis da Matéria que, em silencioso labor, se expande numa
variedade infinita, mas sempre coerente.
É então a oportunidade da ação do olhar, retalhando e registando, escolhendo e projetando,
abrindo-se às analogias formais, à significação analógica e ao sentido poético – à forma en-
quanto perceção para lá do visível, reencontrando reminiscências, sinais de identificação, pa-
recenças, alusões, sintomas de ações múltiplas de matéria sobre matéria, fluidos sobre sólidos,
camadas, fissuras.
Agreguem-se vocábulos que vêm abrir-nos à decifração do mistério e do encanto, num esforço
de aproximação a uma correspondência, insuficiente mas sugestiva, entre formas e palavras,
umas e outras tornadas substância – matéria imaterializada! – do sentir, do ver e do represen-
tar:
Mapas, deltas, ossos, areias, detritos, fraturas, esboroamentos, sulcos: tudo marcas - indecifrá-
veis umas, explícitas outras - a testemunhar origens e estatuto reconhecíveis, numa exibição
de razão de ser assaz desnecessária talvez, mas ainda assim contextualizadora, apoiando um
entendimento da natureza própria do processo de trabalho desse ser imenso que escreve por
linhas direitas com a mão implacável de intempéries sujeitas às leis secretas do caos, reorga-
nizado pela sensibilidade com que humanamente tudo vemos, medimos, fixamos e queremos
sentir.
Rios negros, gelo flutuante, ilhas, pele, fragmentações, taças ou pontes, poeiras, muros de pe-
dra solta, rugas: vestígios do labor oculto, quotidiano, silencioso e perseverante desse artista
de rua, sem nome nem entrevistas, atuante sub-reptício à espera da gloriosa ascensão a que
talvez só a sensibilidade do fotógrafo (vindo de outro mundo) o pode elevar e fazer permane-
cer. Não porque a luz lhe falte ou a presença seja escassa, mas porque se faz de uma dimensão
impalpável. Agindo microscopicamente, reagindo ao impacto das tensões e das variações de
temperatura, ou simplesmente porque é, de sua índole, alma e produto de um Trânsito que
se compõe de múltiplos fatores menosprezados e anónimos, mas aos quais se deve a particu-
laridade da sua expressão, a especificidade da sua estética, simplesmente aguardando que a
6 7
Olhar para esta série de fotografias implica reconhecer-lhe uma certa qualidade abstracta,
semelhante a muita da pintura feita na senda do Abstraccionismo lírico ou mesmo expressio-
nista. Todavia, e pelo contrário, existe nela uma essência intrinsecamente concreta.
Esta observação advém do facto destas imagens serem, na verdade, inspiradas numa realidade
bastante mundana: passadeiras da estrada de alcatrão. Mas por afirmá-las mundanas não po-
deremos dizer que são fruto da banalidade. São superfície mas que afirma na aparência toda
a sua profunda complexidade.
A visão que as trouxe à luz do dia provem de uma eterna curiosidade perante o mundo que
nos rodeia. Esta atitude permite trabalhar com o Real como uma ferramenta criativa, por um
lado e, por outro, estar permissivo a sua eterna reinvenção. Trata-se de mostrar que aquilo
que todos vemos não é uma realidade única, unívoca ou consensual mas sim proveito de
múltiplas perspectivas. A reminiscência mencionada por António Andrade advém deste facto.
Desta maneira não é apenas o olhar do criador que é proveniente de uma eterna curiosidade
mas também o nosso, o de observadores que, perante o que vemos e de acordo com as nossas
próprias “bases de dados” , imaginamos um conjunto diverso de situações, desde montanhas
a rios, e por aí adiante. Lembro-me a este respeito da altura em que era criança e viajava de
carro olhando pela janela para as nuvens que, para mim, faziam figuras de animais. E, ainda,
para o estranho facto de que mais ninguém via as mesmas figuras que se desenhavam no meu
olhar...
Para que não percamos esta reinvenção criativa da Vida em torno, bastará que continuemos a
olhar para o Mundo com o olhar fresco de uma criança. No caso específico destas fotografias
elas alertam-nos para o facto de todos nós passarmos inúmeras vezes pelas estradas e passa-
deiras de uma cidade agitada sem dar crédito às marcas que estão debaixo dos nossos pés.
Em António Conceição Júnior estes tornam-se leitmotivs que fazem do pormenor um objecto
artístico.
Curioso será observar que nos singelos detalhes de um pavimento, aqui recortado e isolado
do seu contexto, o microcosmos se torna macroscosmos e vice-versa. Estas fotografias podem,
assim, tornar-se imagens cósmicas que lembram o caos algo ordenado das formações das ga-
láxias ou das estrelas. Quase nos arriscamos a designá-las como ideográficas, próximas do ar-
quétipo outrora presente nas manifestações artísticas arcaicas e pré-históricas, mais próximas
do contemporâneo que poderíamos adivinhar. Aqui encontramo-nos, igualmente, na imensa
descubram, mostrem e valorizem.
Enquadramentos e reenquadramentos, rotações, confrontos lado a lado, são outras tantas pos-
sibilidades de labor e contemplação, diferente modo de dar a ver a obra ignorada do supremo
artista, reinventando-a pela passagem transfiguradora para o colo manipulador de outro supor-
te e de outro destino. Sai-se do plano da realidade dita concreta, para o da intencionalidade
poética. Dar a ver o lido – relendo-o e partilhando a fruição das parcelas selecionadas, frações
de uma totalidade inalcançável - para que outros rejubilem com a novidade do ainda não per-
cecionado. E espreitando assim, em refrescante deleite, mais um mundo novo.
António Andrade
8 9
maravilha do abstracto, aberto às múltiplas interpretações do visível.
Como afirma Paul Klee, a Arte não reproduz o visível, antes torna visível...
Desta forma, no momento em que estas obras fazem alusão ao chão, elas estão, também, a
falar-nos do seu oposto, como se, e de acordo com o Tao, o todo estivesse incluído em tudo.
“ Assim na terra como no céu”...
Um último aspecto decorrente da observação desta série é a alusão à memória e, em última
instância, ao Tempo. Este talvez seja o grande denominador destas trabalhos. Onde vemos o
que poderiam ser começos de formações celestes estão, na verdade, as marcas de um desgaste
das várias passagens de transeuntes que, nos seus passos, carregam consigo as inúmeras vivên-
cias pessoais e, simultaneamente, o testemunho de uma cidade em mudança. Deparamo-nos,
assim, com a verdadeira originalidade destas imagens. Não é apenas nos edifícios em ruínas e
nas transformações urbanísticas de grande porte que assistimos à passagem do tempo na urbe.
É em todos estes pormenores (aos quais ninguém parece dar valor) que existem as camadas
da história. E é na atitude do artista que estas se reinventam, ao mesmo tempo que se conser-
vam.
Não sendo tábuas rasas, estão na iminência do palimpsesto, prontas para uma nova escrita.
Carla de Utra Mendes
10 11
12 13
And the Laws of Physics came, and the men who began drawing came, dividing
upon the extension of the surface, each in their own way, marks of action subjec-
ted to laws so rarefied and secret as to be inscrutable and designated as chance.
However, what appears to the human eye as generated by accident is the una-
voidable creation of the maceration of time and the rigour of the Laws of Mat-
ter, which in its silent labour expands into infinite, albeit ever coherent, variety.
Then comes an opportunity for the action of gaze, sectioning and registering, choosing and
projecting, opening itself up to formal analogies, to analogical signification and to poetic me-
aning – opening up to form as perception beyond the visible, reencountering reminiscences,
signals of identification, resemblances, allusions, symptoms of multiple actions of matter over
matter, of fluids over solids, of layers and fissures.
To these is added the lexicon that opens unto the deciphering of the mystery and enchantment,
in an effort to come closer to a correspondence, insufficient if suggestive, between forms and
words that both transform into substance – immaterialized matter! – of feeling, seeing and re-
presenting:
Maps, deltas, bones, sands, detritus, fractures, crumblings, furrows:
A host of marks – some undecipherable, others explicit – testifying to recognizable origins
and status, perhaps in a rather unnecessary display of raison d’être, but nevertheless offering a
context, supporting an understanding of the nature itself of the work process of that immense
being that operates in mysterious ways with the iron fist of storms ruled by the secret laws of
chaos, that is reorganized by the sensibility through which we humanly see (and want to feel),
measure and determine everything.
Dark rivers, floating ice, islands, skin, fragmentations, cups or bridges, dust, loose stonewalls,
wrinkles: traces of the occult, quotidian, silent, persevering work of that street artist, nameless
and unacknowledged, who acts surreptitiously while awaiting the glorious ascension to which
perhaps only the sensibility of the photographer (coming from another world) can elevate him
to and establish him in. Not because the light is lacking, or its presence is slight, but because
light is made of an intangible dimension. Acting microscopically, reacting to the impact of the
tensions and temperature variations, or merely because it is by nature the soul and product of a
Transit composed of multiple, underestimated and anonymous factors to which it nevertheless
owes the particularity of its expression, the specificity of its aesthetics, as it simply awaits to be
CLUES
14 15
To look at this series of photographs implies acknowledging in it a certain abstract quality, akin
to much of the painting made in the wake of lyrical, or even expressionist Abstractionism. Ho-
wever, and in contradistinction, there is in it an intrinsically concrete essence.
This observation issues from the fact that these images are, in actuality, inspired by a rather
mundane reality: the lines of zebra crossings on tar roads. But while calling them mundane we
cannot say that they come out of banality. They are surface, but one that affirms, in appearance,
its full and profound complexity.
The vision that brought them up to daylight ensues from an eternal curiosity vis-à-vis the world
surrounding us. On the one hand, such attitude allows working with the Real as a creative tool
and, on the other, being open to its eternal reinvention. What is at stake is to show that what
we all see is not a single, univocal or consensual reality, but rather the consequence of multiple
perspectives. The reminiscence that António Andrade speaks of is a consequence of this fact.
Thus, it is not only the gaze of the creator that ensues from an eternal curiosity but ours as well,
the gaze of the viewers, who when faced with what they see and according to their own ‘data-
bases’ imagine a varied set of situations, from mountains to rivers and so forth. In this regard,
I recall being a child travelling by car and looking out of the window to the clouds that, to my
eyes, morphed into animal shapes. And I recall the strange fact that no one else saw the same
shapes that drew themselves before my eyes...
So as not to loose this creative reinvention of the Life that surrounds us it suffices to keep
looking at the World with the fresh gaze of a child. In the specific case of these photographs,
we are alerted to the fact that we have all walked countless times over the roads and zebra
crossings of a hectic city without noticing the marks under our feet. In António Conceição Jú-
nior these become leitmotivs that transform detail into an art object.
It is curious to observe that in the simple details of a pavement, that here has been cut out and
isolated from its context, microcosm becomes macrocosm and vice-versa. Therefore, these
photographs may become cosmic images reminiscent of the somewhat ordered chaos of galac-
tic formations or stars. We would almost dare calling them ideographic, close to the archetype
that was once present in the archaic and pre-historical artistic manifestations, which are much
closer to contemporaneity than we might have guessed. Here we also find ourselves immersed
in the immense wonder of abstraction, open to the multiple interpretations of the visible.
discovered, shown and valued.
Framings and re-framings, rotations, parallel confrontations, series of possibilities for labour
and contemplation, a different way of exposing the ignored work of the supreme artist, rein-
venting it through a transforming passage into the manipulating lap of another support and
another destiny.
One exits the plane of so-called concrete reality to enter the plane of poetic intentionality. To
expose what has been read – re-reading it and sharing the fruition of the selected sections, the
fractions of an unreachable totality – so that others may rejoice in the novelty of that which is
yet to be perceived; thereby glimpsing, in refreshing delight, one more new world.
António Andrade
16 17
As Paul Klee says, Art does not reproduce the visible; rather, it makes visible…
Thus, in the moment in which they allude to the ground these works are also speaking to us of
their opposite, as if, in accordance to the Tao, the whole permeated everything. ‘On Earth as it
is in Heaven’...
A final aspect that results from observing this series is the allusion to memory and, ultimately,
to Time, which is perhaps the common denominator in these works. Where we see what might
be the beginnings of celestial formations stand, in fact, the marks of an erosion caused by pe-
destrians, whose steps carry in them innumerable personal experiences and, simultaneously,
the testimony of a changing city. We are thus confronted with the true originality of these ima-
ges. It is not only in ruined buildings and in large-scale urban transformation that we witness
the passage of time in the city. It is in all these details (which no one seems to cherish) that
the layers of history exist. And it is the attitude of the artist that reinvents and at the same time
preserves them.
Because they are not blank slates, they stand at the verge of the palimpsest ­– ready for a new
writing.
Carla de Utra Mendes
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TRANSITOS BOOK

  • 3. 4 5 PISTAS E vieram as Leis da Física e Homens que se puseram a desenhar, repartindo, cada qual a seu modo, na extensão da superfície, marcas de ação submetida a leis tão finas e tão secretas que se não alcançam, batizando-se acaso. Porém, o que aos humanos se apresenta gerado por acidente, é criação inevitável da mace- ração do tempo e do rigor das Leis da Matéria que, em silencioso labor, se expande numa variedade infinita, mas sempre coerente. É então a oportunidade da ação do olhar, retalhando e registando, escolhendo e projetando, abrindo-se às analogias formais, à significação analógica e ao sentido poético – à forma en- quanto perceção para lá do visível, reencontrando reminiscências, sinais de identificação, pa- recenças, alusões, sintomas de ações múltiplas de matéria sobre matéria, fluidos sobre sólidos, camadas, fissuras. Agreguem-se vocábulos que vêm abrir-nos à decifração do mistério e do encanto, num esforço de aproximação a uma correspondência, insuficiente mas sugestiva, entre formas e palavras, umas e outras tornadas substância – matéria imaterializada! – do sentir, do ver e do represen- tar: Mapas, deltas, ossos, areias, detritos, fraturas, esboroamentos, sulcos: tudo marcas - indecifrá- veis umas, explícitas outras - a testemunhar origens e estatuto reconhecíveis, numa exibição de razão de ser assaz desnecessária talvez, mas ainda assim contextualizadora, apoiando um entendimento da natureza própria do processo de trabalho desse ser imenso que escreve por linhas direitas com a mão implacável de intempéries sujeitas às leis secretas do caos, reorga- nizado pela sensibilidade com que humanamente tudo vemos, medimos, fixamos e queremos sentir. Rios negros, gelo flutuante, ilhas, pele, fragmentações, taças ou pontes, poeiras, muros de pe- dra solta, rugas: vestígios do labor oculto, quotidiano, silencioso e perseverante desse artista de rua, sem nome nem entrevistas, atuante sub-reptício à espera da gloriosa ascensão a que talvez só a sensibilidade do fotógrafo (vindo de outro mundo) o pode elevar e fazer permane- cer. Não porque a luz lhe falte ou a presença seja escassa, mas porque se faz de uma dimensão impalpável. Agindo microscopicamente, reagindo ao impacto das tensões e das variações de temperatura, ou simplesmente porque é, de sua índole, alma e produto de um Trânsito que se compõe de múltiplos fatores menosprezados e anónimos, mas aos quais se deve a particu- laridade da sua expressão, a especificidade da sua estética, simplesmente aguardando que a
  • 4. 6 7 Olhar para esta série de fotografias implica reconhecer-lhe uma certa qualidade abstracta, semelhante a muita da pintura feita na senda do Abstraccionismo lírico ou mesmo expressio- nista. Todavia, e pelo contrário, existe nela uma essência intrinsecamente concreta. Esta observação advém do facto destas imagens serem, na verdade, inspiradas numa realidade bastante mundana: passadeiras da estrada de alcatrão. Mas por afirmá-las mundanas não po- deremos dizer que são fruto da banalidade. São superfície mas que afirma na aparência toda a sua profunda complexidade. A visão que as trouxe à luz do dia provem de uma eterna curiosidade perante o mundo que nos rodeia. Esta atitude permite trabalhar com o Real como uma ferramenta criativa, por um lado e, por outro, estar permissivo a sua eterna reinvenção. Trata-se de mostrar que aquilo que todos vemos não é uma realidade única, unívoca ou consensual mas sim proveito de múltiplas perspectivas. A reminiscência mencionada por António Andrade advém deste facto. Desta maneira não é apenas o olhar do criador que é proveniente de uma eterna curiosidade mas também o nosso, o de observadores que, perante o que vemos e de acordo com as nossas próprias “bases de dados” , imaginamos um conjunto diverso de situações, desde montanhas a rios, e por aí adiante. Lembro-me a este respeito da altura em que era criança e viajava de carro olhando pela janela para as nuvens que, para mim, faziam figuras de animais. E, ainda, para o estranho facto de que mais ninguém via as mesmas figuras que se desenhavam no meu olhar... Para que não percamos esta reinvenção criativa da Vida em torno, bastará que continuemos a olhar para o Mundo com o olhar fresco de uma criança. No caso específico destas fotografias elas alertam-nos para o facto de todos nós passarmos inúmeras vezes pelas estradas e passa- deiras de uma cidade agitada sem dar crédito às marcas que estão debaixo dos nossos pés. Em António Conceição Júnior estes tornam-se leitmotivs que fazem do pormenor um objecto artístico. Curioso será observar que nos singelos detalhes de um pavimento, aqui recortado e isolado do seu contexto, o microcosmos se torna macroscosmos e vice-versa. Estas fotografias podem, assim, tornar-se imagens cósmicas que lembram o caos algo ordenado das formações das ga- láxias ou das estrelas. Quase nos arriscamos a designá-las como ideográficas, próximas do ar- quétipo outrora presente nas manifestações artísticas arcaicas e pré-históricas, mais próximas do contemporâneo que poderíamos adivinhar. Aqui encontramo-nos, igualmente, na imensa descubram, mostrem e valorizem. Enquadramentos e reenquadramentos, rotações, confrontos lado a lado, são outras tantas pos- sibilidades de labor e contemplação, diferente modo de dar a ver a obra ignorada do supremo artista, reinventando-a pela passagem transfiguradora para o colo manipulador de outro supor- te e de outro destino. Sai-se do plano da realidade dita concreta, para o da intencionalidade poética. Dar a ver o lido – relendo-o e partilhando a fruição das parcelas selecionadas, frações de uma totalidade inalcançável - para que outros rejubilem com a novidade do ainda não per- cecionado. E espreitando assim, em refrescante deleite, mais um mundo novo. António Andrade
  • 5. 8 9 maravilha do abstracto, aberto às múltiplas interpretações do visível. Como afirma Paul Klee, a Arte não reproduz o visível, antes torna visível... Desta forma, no momento em que estas obras fazem alusão ao chão, elas estão, também, a falar-nos do seu oposto, como se, e de acordo com o Tao, o todo estivesse incluído em tudo. “ Assim na terra como no céu”... Um último aspecto decorrente da observação desta série é a alusão à memória e, em última instância, ao Tempo. Este talvez seja o grande denominador destas trabalhos. Onde vemos o que poderiam ser começos de formações celestes estão, na verdade, as marcas de um desgaste das várias passagens de transeuntes que, nos seus passos, carregam consigo as inúmeras vivên- cias pessoais e, simultaneamente, o testemunho de uma cidade em mudança. Deparamo-nos, assim, com a verdadeira originalidade destas imagens. Não é apenas nos edifícios em ruínas e nas transformações urbanísticas de grande porte que assistimos à passagem do tempo na urbe. É em todos estes pormenores (aos quais ninguém parece dar valor) que existem as camadas da história. E é na atitude do artista que estas se reinventam, ao mesmo tempo que se conser- vam. Não sendo tábuas rasas, estão na iminência do palimpsesto, prontas para uma nova escrita. Carla de Utra Mendes
  • 7. 12 13 And the Laws of Physics came, and the men who began drawing came, dividing upon the extension of the surface, each in their own way, marks of action subjec- ted to laws so rarefied and secret as to be inscrutable and designated as chance. However, what appears to the human eye as generated by accident is the una- voidable creation of the maceration of time and the rigour of the Laws of Mat- ter, which in its silent labour expands into infinite, albeit ever coherent, variety. Then comes an opportunity for the action of gaze, sectioning and registering, choosing and projecting, opening itself up to formal analogies, to analogical signification and to poetic me- aning – opening up to form as perception beyond the visible, reencountering reminiscences, signals of identification, resemblances, allusions, symptoms of multiple actions of matter over matter, of fluids over solids, of layers and fissures. To these is added the lexicon that opens unto the deciphering of the mystery and enchantment, in an effort to come closer to a correspondence, insufficient if suggestive, between forms and words that both transform into substance – immaterialized matter! – of feeling, seeing and re- presenting: Maps, deltas, bones, sands, detritus, fractures, crumblings, furrows: A host of marks – some undecipherable, others explicit – testifying to recognizable origins and status, perhaps in a rather unnecessary display of raison d’être, but nevertheless offering a context, supporting an understanding of the nature itself of the work process of that immense being that operates in mysterious ways with the iron fist of storms ruled by the secret laws of chaos, that is reorganized by the sensibility through which we humanly see (and want to feel), measure and determine everything. Dark rivers, floating ice, islands, skin, fragmentations, cups or bridges, dust, loose stonewalls, wrinkles: traces of the occult, quotidian, silent, persevering work of that street artist, nameless and unacknowledged, who acts surreptitiously while awaiting the glorious ascension to which perhaps only the sensibility of the photographer (coming from another world) can elevate him to and establish him in. Not because the light is lacking, or its presence is slight, but because light is made of an intangible dimension. Acting microscopically, reacting to the impact of the tensions and temperature variations, or merely because it is by nature the soul and product of a Transit composed of multiple, underestimated and anonymous factors to which it nevertheless owes the particularity of its expression, the specificity of its aesthetics, as it simply awaits to be CLUES
  • 8. 14 15 To look at this series of photographs implies acknowledging in it a certain abstract quality, akin to much of the painting made in the wake of lyrical, or even expressionist Abstractionism. Ho- wever, and in contradistinction, there is in it an intrinsically concrete essence. This observation issues from the fact that these images are, in actuality, inspired by a rather mundane reality: the lines of zebra crossings on tar roads. But while calling them mundane we cannot say that they come out of banality. They are surface, but one that affirms, in appearance, its full and profound complexity. The vision that brought them up to daylight ensues from an eternal curiosity vis-à-vis the world surrounding us. On the one hand, such attitude allows working with the Real as a creative tool and, on the other, being open to its eternal reinvention. What is at stake is to show that what we all see is not a single, univocal or consensual reality, but rather the consequence of multiple perspectives. The reminiscence that António Andrade speaks of is a consequence of this fact. Thus, it is not only the gaze of the creator that ensues from an eternal curiosity but ours as well, the gaze of the viewers, who when faced with what they see and according to their own ‘data- bases’ imagine a varied set of situations, from mountains to rivers and so forth. In this regard, I recall being a child travelling by car and looking out of the window to the clouds that, to my eyes, morphed into animal shapes. And I recall the strange fact that no one else saw the same shapes that drew themselves before my eyes... So as not to loose this creative reinvention of the Life that surrounds us it suffices to keep looking at the World with the fresh gaze of a child. In the specific case of these photographs, we are alerted to the fact that we have all walked countless times over the roads and zebra crossings of a hectic city without noticing the marks under our feet. In António Conceição Jú- nior these become leitmotivs that transform detail into an art object. It is curious to observe that in the simple details of a pavement, that here has been cut out and isolated from its context, microcosm becomes macrocosm and vice-versa. Therefore, these photographs may become cosmic images reminiscent of the somewhat ordered chaos of galac- tic formations or stars. We would almost dare calling them ideographic, close to the archetype that was once present in the archaic and pre-historical artistic manifestations, which are much closer to contemporaneity than we might have guessed. Here we also find ourselves immersed in the immense wonder of abstraction, open to the multiple interpretations of the visible. discovered, shown and valued. Framings and re-framings, rotations, parallel confrontations, series of possibilities for labour and contemplation, a different way of exposing the ignored work of the supreme artist, rein- venting it through a transforming passage into the manipulating lap of another support and another destiny. One exits the plane of so-called concrete reality to enter the plane of poetic intentionality. To expose what has been read – re-reading it and sharing the fruition of the selected sections, the fractions of an unreachable totality – so that others may rejoice in the novelty of that which is yet to be perceived; thereby glimpsing, in refreshing delight, one more new world. António Andrade
  • 9. 16 17 As Paul Klee says, Art does not reproduce the visible; rather, it makes visible… Thus, in the moment in which they allude to the ground these works are also speaking to us of their opposite, as if, in accordance to the Tao, the whole permeated everything. ‘On Earth as it is in Heaven’... A final aspect that results from observing this series is the allusion to memory and, ultimately, to Time, which is perhaps the common denominator in these works. Where we see what might be the beginnings of celestial formations stand, in fact, the marks of an erosion caused by pe- destrians, whose steps carry in them innumerable personal experiences and, simultaneously, the testimony of a changing city. We are thus confronted with the true originality of these ima- ges. It is not only in ruined buildings and in large-scale urban transformation that we witness the passage of time in the city. It is in all these details (which no one seems to cherish) that the layers of history exist. And it is the attitude of the artist that reinvents and at the same time preserves them. Because they are not blank slates, they stand at the verge of the palimpsest ­– ready for a new writing. Carla de Utra Mendes
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